Antologia Diário do Escritor Iniciante
No fundo, todos temos necessidade de dizer quem somos e o que é que estamos a fazer e a necessidade de deixar algo feito, porque esta vida não é eterna e deixar coisas feitas pode ser uma forma de eternidade. - Saramago
Um lugar legal. Onde ideias se encontram, se unem e se desenvolvem, muitas vezes transformando sonhos aparentemente perdidos em fatos absolutos. Todos temos o objetivo de dividir nosso mundo com os demais. Transmitir um pouco da nossa fé em dias melhores. Acho que aqui é um lugar de encontro até mesmo de si próprio, onde por alguns instantes deixamos o tédio mundano de fora e nos transformamos em personagens das histórias de cada um. Aqui, nós estamos em casa. Quem chegar fica à vontade! A casa é nossa. Iran Cunha Em um grupo de leitura geralmente compartilhamos nossas ideias sobre mundos já construídos nos livros. O que torna esse grupo mágico é porque aqui nós conhecemos o mundo que existe na cabeça de cada um. Karoline Queiroz Nenhuma aventura é uma aventura de verdade sem amigos. Da mesma forma que aventura alguma começa sem um primeiro passo. Essa é a nossa aventura. Aqui, agora, e até o fim do nosso sonho. Ou até onde quer que ele nos leve... Bentancourt Valdez
Antologia Diário do Escritor Iniciante
INDICE Amor em Vermelho... Bentancourt Valdez Assassinato à Sangue Frio... Luke Campos Pesadelo... Juliana W. Viegas Viva Lá Revolución... Pedro Paulo Patricia de Stripper... Antonio Neto Caminho Para a Esperança... J.M Oliveira Prisioneiros do Desejo... Isabelle Neves A Ira dos Anjos... Paula Gonçalo
Amor em Vermelho
A noite de um domingo qualquer num bairro qualquer do subúrbio, mais quente que o normal, enquanto um casal discutia em um andar qualquer de um prédio qualquer. Mais perto, berros, sons de luta, cerâmica quebrando, e de repente uma mulher irrompe em gritos de dor, quando o marido começa a subjugá-la e queimá-la com bitucas de cigarro, socos e chutes. Sempre onde não haveria marcas no dia seguinte. Jane era uma bela mulher, no auge de seus bem cuidados quarenta anos, com seus olhos ultrajantemente negros, sua boca carnuda e lábios vermelhos mesmo sem maquiagem, cabelos de um negro profundo, com cachos que não precisam de escova alguma, mesmo quando acordam envoltos em sua beleza rebelde e selvagem. Suas curvas bem alinhadas e desenvolvidas e sua voluptuosidade de mulher feita. Jane era uma bela mulher... Que tivera a má sorte de casar-se com um homem violento, que sempre voltava bêbado para casa, e a violentava quando estava embriagado, o que significava um sofrimento todas as noites. Sempre acordava com dores, mas nenhuma marca para provar à polícia que sofrera abuso, então a tortura continuava, noite após noite, até o fim de sua vida. Ou até a noite em que percebeu que já tivera o suficiente... O marido sempre guardava sob o travesseiro um revólver, calibre 38, para se defender caso algum assaltante tivesse a coragem de tentar roubar seu apartamento. E numa daquelas noites de bebedeira, em meio ao ato, com os lençóis jogados no chão, suas curvas desesperadas e enlouquecedoras no ápice do prazer, quando seu marido estava quase lá, ela pousou a mão sobre o travesseiro dele, enquanto Loan ainda se derramava dentro dela, pegou a arma com força, apontou para a têmpora do desgraçado, e disparou. Um som seco e retumbante, que deve ter acordado toda a vizinhança, e então ele se
derramou em sangue e miolos sobre ela, enquanto sua semente ainda escorria por entre as coxas de Jane... A última coisa de que ela se lembrava daquilo, antes de a polícia chegar e começar a fazer perguntas sobre o suicídio, que ela argutamente arquitetara, era a sensação que veio depois de o sangue do marido quase lavá-la. Ela havia gostado... *** Departamento de polícia, policial Jhones falando - disse o agente ao telefone, enquanto recebia sua décima ligação dos repórteres da cidade. O bairro inteiro havia se tornado uma bagunça depois daquele incidente de algumas semanas atrás. Aquele suicídio parecia cada vez mais assustador e grotesco, não importava de onde o policial olhasse. Um homem casado, morto com uma bala na cabeça, disparada por ele mesmo após pegar sua arma debaixo do travesseiro, durante o ato sexual... Quem seria louco o suficiente, ou que mulher no mundo treparia tão mal a ponto de um homem querer se matar? Esse era o pensamento, meio engraçado, meio funesto que inundava sua mente naquelas últimas semanas. Não era necessário recorrer a uma investigação mais minuciosa, pois dois dias depois, fora encontrada uma carta de suicídio numa das gavetas da mesinha de cabeceira do casal, dizendo que Loan Ashford não queria mais saber daquela vida, que sua mulher era uma vagabunda e que ele somente não tinha provas para isso, e que havia decidido despedir-se da vida lavando os pecados de sua esposa com sangue. O sangue dele... Definitivamente, todo aquele trabalho não merecia uma primeira página, mas ganhou do mesmo jeito. A desculpa dos jornalistas era de que a cidade nunca tinha visto um ato como aquele, então mesmo o esforço dos policiais em fazer aquela ligeira investigação merecia uma primeira página.
MULHER TRAUMATIZADA APÓS SUICÍDIO DO MARIDO EM PLENO ATO SEXUAL. Era o que diziam os tabloides, ao menos em sua maioria. Não é como se tivesse sido a intenção deles, mas aquela manchete havia adquirido um leve tom de piada, e a graça de toda a bagunça cairia nas costas de quem? Do Oficial Jhones, que teria que reportar ao chefe de polícia, o que não seria nada agradável... *** Alguns meses haviam se passado desde o incidente com o marido, e Red Jane, como era chamada naquele bar que sempre frequentava, já nem lembrava mais de todo o furor da imprensa em sua porta. Lembrava-se apenas da dor que as cicatrizes em seus pulsos e da leve marca que a corda queimara em seu pescoço traziam. Aquela dor de não entender o que era, e porque tinha gostado tanto daquela sensação. Mas aquilo era passado, assim como as cicatrizes, que já não passavam de leves resquícios de algo que havia ido embora com ele... Era domingo, e o Eva s Nest, bar aonde todos os grandalhões da máfia iam para bebericar e falar de negócios longe dos ouvidos pagos da polícia, onde detetives particulares iam jogar e chafurdar em pistas para seus diversos casos, e jornalistas iam para buscar algum furo de reportagem, mas ela ia somente para beber, e ver os outros beberem. Geralmente, ao menos durante a semana, quando apenas seguia sua rotina de vida, trabalhando e guardando dinheiro para suas roupas, maquiagens e acessórios, coisa que toda mulher adoraria fazer (com exceção do fato de trabalhar), nem que fosse simplesmente para fazer inveja às amigas ou manter a autoestima elevada. Mas alguns domingos eram especiais, pois ela adentrava ao bar como uma artista de cinema sobre um tapete vermelho, atraindo a
atenção de todos os figurões, jornalistas e detetives, enfim, de todos os homens que tinham as cabeças no lugar. Era domingo, e ela ia ao bar para encontrar alguém a quem seduzir, com sua cinta-liga, vestido levemente decotado, sua estola de pele (esta um presente de algum admirador que lhe enviara secretamente, como prova de sua estima), cigarros caros e sua maquiagem, ultrajante que chegava a ser de tão sexy. Naquela noite seus lábios pareciam ainda mais vivos e vermelhos, suas curvas delineadas pelo vestido levemente apertado, sempre nos lugares certos, suas pernas, longas e bem torneadas que se moviam como duas serpentes, prontas para agarrar o primeiro homem que se jogasse aos seus pés. Ela estava deslumbrante, e havia um homem em especial no balcão, que parecia não ter notado direito isso, ou por não se importar, ou por estar bêbado demais para prestar atenção em qualquer coisa que não fosse seu copo... Era ele quem ela queria... Não precisou de muito esforço desta vez, pois assim que ela acariciou sua gravata e ele olhou para cima, caiu de amores e seguiu-a para fora. *** O cheiro de álcool impregnava cada molécula dele, quase a embriagando por contágio, mas ela estava determinada a fazer daquela, a melhor noite de toda a vida daquele bêbado idiota. Quando ele tocou as curvas de sua cintura, pronto para beijá-la, ela já o sentia duro entre as pernas, enquanto ela envolvia-o em seus braços e ele tirava seu vestido tropegamente, com mãos cegas. Todas as roupas foram ao chão, devagar, sedutoras, enquanto ela o jogava na cama e dançava, balançando-se, deslizando para lá e para cá, como uma voluptuosa víbora, prestes a dar o bote, avançando para mais