SÍNTESE COMENTADA. Regulamento Nacional de Registro e Transferência de Atletas de Futebol Confederação Brasileira de Futebol



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Transcrição:

SÍNTESE COMENTADA Regulamento Nacional de Registro e Transferência de Atletas de Futebol Confederação Brasileira de Futebol A Confederação Brasileira de Futebol editou em 13 de janeiro de 2015, por meio da Resolução da Presidência nº 01/2015, o Regulamento Nacional de Registro e Transferência de Atletas de Futebol, que entrou em vigor na mesma data. Tal Regulamento trouxe uma série de mudanças no futebol brasileiro, influenciando diretamente na condução e gestão do esporte, além de acarretar desdobramentos jurídicos importantes quanto ao registro e transferência de atletas profissionais e não profissionais. Abaixo, seguem pontuados os pontos mais relevantes da nova regulamentação: I. Prazo do Contrato de Formação Anteriormente, a legislação em vigor não trazia limitação de duração do prazo do chamado contrato de formação, a não ser quanto à idade dos atletas 1. Entretanto, conforme o art. 2º do Regulamento, foi fixado prazo máximo de duração de 3 anos para o vínculo desportivo entre atleta não profissional e clube. Além disso, foram incluídas no Regulamento as obrigações da CBF, em obediência à legislação da FIFA, de emissão do Passaporte Desportivo do atleta. II. Prazo do Contrato Especial de Trabalho Desportivo de Atletas Menores A CBF internalizou, de forma bastante escorregadia, a normativa da FIFA a respeito da limitação de duração do contrato de trabalho de menores de 18 anos. O art. 7º, parágrafo único, afirmou que permanecerá sendo possível firmar com os atletas menores o contrato de trabalho pelo prazo de 5 (cinco) anos 2. Entretanto, em caso de litígio submetido à FIFA, prevalecerá a regra desta, que é a duração máxima de 3 anos. Sendo assim, o clube conseguirá defender internamente os contratos celebrados 1 Art. 29, 4 o da Lei 9.615/98 2 Vide nota 01. A v. Br ig a d e i r o F a r ia L im a, 1. 4 6 1, 9 º a n d a r, c o n j. 9 4 ( T o r r e S u l) J a r d im P a u l i s ta n o S ã o P a u l o S P 0 1 4 5 2 0 0 2 T e l + + 5 5 1 1 2 3 3 7-6 6 3 7 F a x + + 5 5 1 1 2 3 3 7-6638 w w w. c s m v. c o m. b r

com menores por 5 anos, mas estará desprotegido em caso de litígio envolvendo clubes estrangeiros. III. Cessão de Direitos Econômicos a Terceiros (Third-Party Ownership - TPO) Trata-se do grande foco do Regulamento. O art. 10 e 12, combinados com os artigos 66 e 67, internalizaram a legislação da FIFA, replicando o conteúdo dos arts. 18bis e 18ter do RSTP que baniram o chamado TPO. Ficou proibido, portanto, a partir de 1º de maio de 2015, que quaisquer clubes ou jogadores celebrem um contrato com um terceiro por meio do qual este terceiro obtenha o direito de participar, parcial ou integralmente de um valor de transferência pagável em razão da futura transferência dos direitos de registro de um atleta de um clube para outro, ou pelo qual se ceda quaisquer direitos em relação a uma futura transferência ou valor de transferência, sob pena de sanção pela Justiça Desportiva Brasileira ou pelo Comitê Disciplinar da FIFA. O Regulamento definiu terceiro como quaisquer outras partes que não sejam os dois clubes participantes da transferência do atleta ou qualquer outro clube ao qual o atleta tenha sido registrado anteriormente. Os contratos de cessão de direitos econômicos anteriores a 31 de dezembro de 2015 permanecem válidos até o término de sua vigência e os contratos celebrados entre 1 o de janeiro de 2015 e 30 de abril de 2015 poderão viger por apenas um ano. De qualquer forma, todos os contratos existentes, para serem válidos, deverão ser registrados na CBF até 30 de abril de 2015. O clube que deixar de cumprir as normas estabelecidas no Regulamento ficará impedido de registrar e transferir atletas enquanto perdurar o descumprimento, sem prejuízo da cumulativa aplicação de multa prevista no artigo 191 3 do CBJD. IV. Número de Transferências por Temporada A CBF finalmente solucionou o imbróglio quanto ao número de transferências possíveis para um atleta durante a temporada, que ficou definida como o período de 01 de janeiro a 31 de dezembro de cada ano: - o atleta somente poderá estar registrado por três (3) clubes durante a temporada; 3 Multa, de R$ 100,00 (cem reais) a 100.000,00 (cem mil reais), com fixação de prazo para cumprimento da obrigação. -2-

- o atleta que já tenha atuado por dois (2) outros clubes durante a temporada, em quaisquer das competições nacionais do calendário anual coordenadas pela CBF, não pode atuar por uma terceira entidade, mesmo que esteja regularmente registrado; - as copas regionais e os certames estaduais constituem exceção e não serão computados para fins dos limites de atuação e de registro. Por fim, como já vinha ocorrendo, com vistas a solucionar imbróglios futuros relativos à inscrição e regularidade de atletas, o art. 13, 4º, expressamente atribuiu aos clubes a responsabilidade pelo controle da condição regulamentar de seus atletas. V. Pré-Contrato O pré-contrato é um dos temas de maior impacto no Regulamento. Entretanto, foi regulado de forma inconsistente. O art. 24 do Regulamento internalizou a famosa regra do art. 18.3 do RSTP da FIFA, por meio da qual é possível celebrar um pré-contrato com outro clube quando faltarem menos de 6 (seis) meses para o término do contrato de trabalho com o clube detentor do vínculo do atleta 4. Adicionalmente, o Regulamento trouxe a necessidade de notificação ao clube detentor do vínculo sobre o início de tratativas para contratação do atleta, sob pena de multa de R$ 50.000,00 em caso de descumprimento desta obrigação, sem prejuízo das demais sanções aplicáveis na Justiça Desportiva. Entretanto, o Regulamento não mencionou se o pré-contrato, sem a notificação do clube detentor do vínculo do atleta, é inválido, ou se apenas há aplicação da sanção. Portanto, presume-se que a não notificação do clube detentor do vínculo gerará apenas a multa, mas não prejudicará a validade do documento. VI. Rescisão por Justa Causa Desportiva Por meio do novo Regulamento foi internalizado o art. 15 do RSTP da FIFA, que permite aos atletas rescindirem o contrato de trabalho por Justa Causa Desportiva. Trata-se de tema extremamente controverso, e que gerará diversas discussões judiciais. De acordo com o Regulamento, caso um atleta, no decorrer da temporada, tenha participado de menos de 10% dos jogos oficiais de seu clube, poderá ser requerida a rescisão de seu contrato de trabalho, após 15 dias contados da última partida oficial 4 A matéria era anteriormente regulada, em âmbito nacional, pelo art. 462 e seguintes do Código Civil e, em âmbito internacional, pelo art. 18.34 do RSTP da FIFA. O primeiro não trazia limitação de prazo para a celebração do pré-contrato, enquanto o segundo era a base legal para a aplicação do conhecido período de seis meses de antecedência para a assinatura de um pré-contrato. -3-

realizada pelo clube na temporada. Vale destacar que somente os atletas que tenham qualidade técnica similar ou superior aos demais atletas do time titular de seu clube e que tenham terminado seu período de formação poderão pleitear a rescisão por Justa Causa Desportiva 5. Não obstante, cumpre repisar que, de acordo com o art. 15 do RSTP, os casos serão analisados individualmente e poderão gerar compensação financeira em favor do clube, ainda que sanções desportivas não sejam aplicadas em face do atleta. VII. Transferência Nacional de Atleta Não Profissional Conforme o art. 29 da Lei Pelé, o clube formador tem direito a assinar com o atleta o primeiro contrato de trabalho e proceder com este a renovação deste primeiro contrato. Com as novas regras do Regulamento, de maneira complementar, ficou estabelecido que o atleta não profissional é livre para se filiar ao clube que desejar. Entretanto, caso haja um pedido de transferência, o clube formador terá o direito de oferecer um contrato de formação ou o primeiro contrato de trabalho, no prazo de 15 dias. O atleta, por sua vez, tem 15 dias para responder, sendo o silêncio interpretado como recusa; havendo a recusa, será processada a transferência, mediante o pagamento da indenização descrita na Lei Pelé. Importante destacar que o pagamento é condição sine qua non para o registro do atleta, de modo que se trata de mecanismo de proteção ao clube formador bastante profícuo. Vale destacar ainda que (i) passou a ser expressamente vedada a transferência temporária de atleta não profissional; e que (ii) quando da transferência definitiva, o vínculo com o novo clube não pode ser superior a 3 anos (tal norma contradiz o artigo 7º do próprio Regulamento e o art. 29 da Lei Pelé). VIII. Cessão Temporária Uma prática muito comum nos empréstimos de atletas agora foi vedada pelo art. 33 do Regulamento, que torna nula e sem efeito a inclusão de cláusulas que limitem, condicionem ou onerem a livre utilização do atleta cedido. Em outras palavras, não poderão ser incluídas disposições contratuais que estabeleçam multa ao clube cessionário por utilizar contra o clube cedente o jogador cedido. 5 Há outros fatores que devem ser levados em consideração para caracterização da Justa Causa Desportiva, tais como, mas não se limitando a, posição do jogador, eventuais lesões e suspensões e quaisquer outras situações que possam justificar desportivamente a não utilização do atleta regularmente. -4-

Vale destacar ainda que caso o clube cessionário opte pela rescisão antecipada do empréstimo, ele deverá comunicar ao clube cedente para obter sua concordância, bem como arcar com os salários do atleta até a data de conclusão prevista no empréstimo. IX. Transferência Internacional O Regulamento internaliza as regras práticas de funcionamento das transferências conforme as regras da FIFA, condicionando sua efetividade à inserção de dados no sistema TMS e recebimento do Certificado de Transferência Internacional do jogador, sendo que para atletas menores de 18 anos deverão ser respeitados os termos do artigo 19 do RSTP da FIFA. As transferências internacionais deverão respeitar o período das janelas, estabelecidos pela CBF. A única exceção é para os casos em que se comprovar, mediante documento expedido por clube ou pela federação internacional envolvida, que houve a rescisão ou encerramento do contrato do atleta no exterior antes do término da janela anterior. X. Reversão e Cessão de Atividade Profissional O Regulamento permite a reamadorização do atleta profissional, desde que ele não esteja sob contrato com nenhum clube e tenham decorrido ao menos 30 dias desde sua última partida como profissional. Entretanto, caso o atleta volte se profissionalizar por outro clube no prazo de 30 meses será devida a seu antigo clube a cláusula indenizatória esportiva, conforme o art. 28, alínea b, da Lei Pelé. Para os atletas que optem pela aposentadoria, seu vínculo persistirá registrado com seu último clube pelo prazo de 30 meses, evitando assim burlar o supramencionado art. 28 da Lei Pelé. XI. Indenização por Mecanismo de Solidariedade As disposições quanto à indenização por mecanismo de solidariedade nacional, já existentes na Lei Pelé por meio do art. 29-A, passaram por regulamentação mais detalhada no Regulamento: estabeleceu-se a Câmara Nacional de Resolução de Disputas (vide item XI) como foro para disputas envolvendo o pagamento desses valores, e foram reforçadas as obrigações de o clube contratante fazer o pagamento dos valores aos clubes formadores. XII. Câmara Nacional de Resolução de Disputas O Regulamento ampliou o escopo do antigo Comitê de Resolução de Litígios, permitindo que sejam analisados: -5-

- litígios entre clubes e atletas referentes à manutenção da estabilidade contratual, sempre que tenha sido pedida uma transferência nacional e exista uma queixa de uma das partes interessadas relativamente a esse pedido, nomeadamente no que diz respeito à sua emissão, às sanções desportivas ou à compensação por rescisão de contrato; - litígios entre clube e um atleta, de natureza laboral, desde que de comum acordo entre as partes, com garantia de um processo equitativo e que respeite o princípio da representação paritária de atletas e entidades de prática desportiva; - litígios entre clubes relacionados com a compensação por formação e com o mecanismo de solidariedade; - conflitos decorrentes de decisões de entidades envolvidas com o futebol, desde que os estatutos dessas entidades assim não vedem ou expressamente o permitam; - litígios não abrangidos nos itens anteriores, relacionados direta ou indiretamente com a prática do futebol, que sejam suscetíveis de decisão arbitral. A Câmara será formada por 5 árbitros, sendo 2 indicados pela FENAPAF, 2 pelo Sindicato Nacional do Futebol e 1 Presidente, indicado pela CBF. O regulamento da Câmara deverá ser proposto pela própria Câmara e aprovado pela CBF. XIII. BID - Outra alteração relevante foi a remoção da importância do Boletim Diário da CBF. Trata-se de mais uma forma de a CBF esquivar-se de sua responsabilidade pela análise dos registros de atletas. Conforme o artigo 68 do Regulamento, a publicação do registro do atleta no BID não lhe dá condições automáticas de jogo, as quais só se adquirem se cumpridos os seguintes requisitos pelo atleta: - exigências contidas no RGC e no REC; - cumprimento de eventuais sanções impostas pela Justiça Desportiva; e - não esteja automaticamente suspenso pela exibição de cartão vermelho ou acúmulo de cartões amarelos. São Paulo, 15 de janeiro de 2015 *.*.*.* -6-

A opinião legal acima não considera ou antecipa nenhuma alteração potencial da legislação ou da jurisprudência, de modo que os autores se eximem de qualquer tipo de responsabilidade quanto à alteração no conteúdo deste documento, em razão de modificações da legislação, jurisprudência ou política da administração jusdesportiva, em relação aos fatos ora examinados, a partir da data de elaboração desta opinião legal. Ademais, os comentários ora apresentados não vinculam nenhum órgão da administração desportiva brasileira, tampouco há garantias de que o posicionamento destes órgãos ou de outros órgãos competentes sobre o tema venha a ser convergente com o posicionamento ora apresentado. -7-