INFLUÊNCIA DO CLIMA SOBRE O RENDIMENTO DO TRIGO NO RIO GRANDE DO SUL INFLUENCE OF CLIMATE ON WHEAT YIELDS IN RIO GRANDE DO SUL STATE, BRAZIL

Documentos relacionados
INFLUÊNCIA DOS FENÔMENOS EL NIÑO E LA NIÑA SOBRE O RENDIMENTO DO TRIGO NO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

INFLUÊNCIA DOS FENÔMENOS EL NIÑO E LA NIÑA SOBRE O RENDIMENTO E A NECESSIDADE DE IRRIGAÇÃO DO ARROZ IRRIGADO NA REGIÃO DE PELOTAS (RS)

INFLUÊNCIA PLUVIAL NA CULTURA DE TRIGO NA REGIÃO NORTE DO RIO GRANDE DO SUL.

MODELOS DE ESTIMATIVA DE RENDIMENTO DE SOJA E DE MILHO NO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL RESUMO

QUEBRAS DE SAFRA DE TRIGO NO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL: UM ESTUDO DE CASO

Climatologia da Precipitação no Município de Igarapé-Açu, PA. Período:

Modelagem espacial do tempo de florescimento de milho plantado na safrinha considerando o zoneamento de risco climático

ESTIMATIVA DE HORAS DE FRIO PARA AS REGIÕES DA SERRA DO SUDESTE E DA CAMPANHA NO RIO GRANDE DO SUL

IMPACTOS DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS NO TOTAL ANUAL DE HORAS DE FRIO 7,2ºC NO ESTADO DE SANTA CATARINA.

ESTUDO DA TENDÊNCIA TEMPORAL DA PRECIPITAÇÃO EM PRESIDENTE PRUDENTE - SP. Vagner Camarini ALVES 1 RESUMO

DISPONIBILIDADE DE RADIAÇÃO SOLAR EM SANTA MARIA, RS 1 AVAILABILITY OF SUNLIGHT IN SANTA MARIA, RS

INFLUÊNCIA DO EL NIÑO OSCILAÇÃO SUL (ENOS) SOBRE AS CONDIÇÕES CLIMÁTICAS, NO PERÍODO DE OUTUBRO A MARÇO, NA REGIÃO DE PELOTAS-RS.

Relação entre a precipitação pluvial no Rio Grande do Sul e a Temperatura da Superfície do Mar do Oceano Atlântico

SISTEMA DE MONITORAMENTO AGROCLIMÁTICO DA REGIÃO DE DOURADOS, MS. Palavras-chave: suporte à decisão, agrometeorologia, estação meteorológica.

A INFLUÊNCIA DE ALGUMAS VARIÁVEIS ATMOSFÉRICAS A EXTREMOS DE PRODUTIVIDADE DE TRIGO NO RIO GRANDE DO SUL.

ASSOCIAÇÃO ENTRE GERMINAÇÃO NA ESPIGA EM PRÉ-COLHEITA E TESTE DE NÚMERO DE QUEDA EM GENÓTIPOS DE TRIGO

ESTIMATIVA DA TEMPERATURA DO AR COM BASE EM FATORES GEOGRÁFICOS PARA DIGITALIZAÇÃO DE MAPAS TEMATICOS DO RIO GRANDE DO SUL

ESTIMATIVA DA EVAPOTRANSPIRAÇÃO POTENCIAL NO BRASIL

ÉPOCAS DE SEMEADURA DE MAMONA CONDUZIDA POR DUAS SAFRAS EM PELOTAS - RS 1

Calibração e validação da produtividade agrícola municipal para cultura da soja na região sul do Brasil simuladas através do modelo sarrazon

ESTIMATIVAS DAS TEMPERATURAS MÁXIMAS E MÍNIMAS ABSOLUTAS DO AR NO ESTADO DE SANTA CATARINA

PROFUNDIDADE, VISANDO ANTECIPAÇÃO DA SEMEADURA DE CULTURAS DE VERÃO NO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL.

TESTE DE MODELOS DE ESTIMATIVA DE RENDIMENTO DE ARROZ IRRIGADO PARA O RIO GRANDE DO SUL

ESTIMATIVA DA TEMPERATURA DO AR PARA OS ESTADOS DE MATO GROSSO SUL, MATO GROSSO, GOIÁS E TOCANTINS A PARTIR DO USO DE IMAGENS DE RADAR.

OCORRÊNCIA DE DOENÇAS EM GIRASSOL EM DECORRÊNCIA DA CHUVA E TEMPERATURA DO AR 1 RESUMO

EFEITOS DE FRENTES FRIAS NO COMPORTAMENTO CLIMÁTICO DO MUNICÍPIO DE VITÓRIA (ES)

IMPACTO DO FENÔMENO ENOS NO RENDIMENTO DE GRÃOS DE CANOLA, NO BRASIL THE ENSO PHENOMENON IMPACT ON CANOLA GRAIN YIELD IN BRAZIL

ESTUDO DE VARIABILIDADE DAS PRECIPITAÇÕES EM RELAÇÃO COM O EL NIÑO OSCILAÇÃO SUL (ENOS) EM ERECHIM/RS, BRASIL.

CORRELAÇÃO DO ACÚMULO DE HORAS DE FRIO ENTRE DUAS ESTAÇÕES AGROCLIMATOLÓGICAS SITUADAS EM DIFERENTES POSIÇÕES GEOGRÁFICAS NO MUNICÍPIO DE PELOTAS-RS

ANÁLISE DA PRECIPITAÇÃO E DO NÚMERO DE DIAS DE CHUVA NO MUNICÍPIO DE PETROLINA - PE

ANÁLISE AGROMETEOROLÓGICA DA SAFRA DE SOJA 1998/99, EM PASSO FUNDO, RS

Análise das precipitações em alguns municípios de Mato Grosso do Sul

XII Congresso Brasileiro de Meteorologia, Foz de Iguaçu-PR, 2002

VARIAÇÃO ESPAÇO-TEMPORAL DA EVAPOTRANSPIRAÇÃO DE REFERÊNCIA NO ESTADO DO CEARÁ

I Workshop Internacional Sobre Água no Semiárido Brasileiro Campina Grande - PB

GUIA CLIMA: SISTEMA DE MONITORAMENTO AGROMETEOROLÓGICO DE MATO GROSSO DO SUL

Análise Agrometeorológica da safra de trigo 2009, em Passo Fundo,RS

PRODUTIVIDADE ATINGÍVEL EM FUNÇÃO DAS ÉPOCAS DE SEMEADURA PARA SOJA NA REGIÃO SUL DO BRASIL

ANÁLISE DA DISTRIBUIÇÃO DA FREQUÊNCIA DE PRECIPITAÇÃO EM DIFERENTES INTERVALOS DE CLASSES PARA ITUPORANGA SC

PREENCHIMENTO DE FALHAS EM SÉRIE DE DADOS PLUVIOMÉTRICOS DE URUGUAIANA (RS) E ANÁLISE DE TENDÊNCIA

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA PROGRAMA DE DISCIPLINA

Climatologia das chuvas no Estado do Rio Grande do Sul

UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO SEMI-ÁRIDO PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM IRRIGAÇÃO E DRENAGEM

Modelagem estatística da ocorrência de granizo no município de São Joaquim/SC

ESTIMATIVAS DA RADIAÇÃO LÍQUIDA EM SUPERFÍCIE GRAMADA EM JABOTICABAL (SP) RESUMO

RISCO DE PERDAS POR ESTRESSE CLIMÁTICO NA PRODUÇÃO DE LEITE NO RIO GRANDE DO SUL 1

2. ALTERAÇÕES NAS PRECIPITAÇÕES OBSERVADAS NA REGIÃO DE MANAUS - AM. MOTA, M. R.; FREITAS, C. E. C. & BARBOSA, R. P.

Sistemas de observações

EFEITO DE DIFERENTES PERÍODOS DE SOMBREAMENTO NO DESENVOLVIMENTO DE PLANTAS DE TRIGO. RESUMO

RELAÇÃO ENTRE O ÍNDICE OSCILAÇÃO SUL (IOS) E A PRECIPITAÇÃO NO RIO GRANDE DO SUL 1. INTRODUÇÃO

Apresentado no XV Congresso Brasileiro de Agrometeorologia 02 a 05 de julho de 2007 Aracaju SE

ANÁLISE DAS CONDIÇÕES CLIMÁTICAS PARA O CULTIVO DO MILHO, NA CIDADE DE PASSO FUNDO-RS.

Prognósticos e Recomendações Para o Período MAIO/JUNHO/JULHO 2007

PROBABILIDADE DE OCORRÊNCIA DE GEADA NO DESENVOLVIMENTO INICIAL DA BATATA (Solanum tuberosum, L.) CULTIVADA NA SAFRA DAS ÁGUAS NO PARANÁ 1 RESUMO

Balanço Hídrico Climatológico e Classificação Climática da Região de Sinop, Mato Grosso

Modelo de estimativa de rendimento de soja no Estado do Rio Grande do Sul (1)

VARIABILIDADE DA PRECIPITAÇÃO EM CAMPO GRANDE, MATO GROSSO DO SUL

UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO CENTRO UNIVERSITÁRIO NORTE DO ESPÍRITO SANTO PROGRAMA DE DISCIPLINA

INFLUÊNCIA DA PRECIPITAÇÃO NA PRODUÇÃO AGRÍCOLA DE MILHO E FEIJÃO (Vigna unguiculata L. Walp) NO MUNICÍPIO DE LIVRAMENTO PB, BRASIL

Aldemir Pasinato 1 Gilberto Rocca da Cunhe? Genei Antonio Dalmago 2 Anderson SantP

Pesquisa institucional desenvolvida no Departamento de Estudos Agrários-DEAg/UNIJUÍ. 2

DETERMINAÇÃO DA ÉPOCA DE PLANTIO DO GIRASSOL NA REGIÃO SUL DO RIO GRANDE DO SUL

RESPOSTA DE MILHO SAFRINHA CONSORCIADO COM Brachiaria ruziziensis À ADUBAÇÃO, EM DOURADOS, MATO GROSSO DO SUL

POSSÍVEIS IMPACTOS DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS NA DISTRIBUIÇÃO DE ÁREAS POTENCIAIS DE CULTIVO DA CULTURA DA BANANA E DA MAÇÃ NO ESTADO DE SANTA CATARINA.

Agiberela, conhecida também por fusariose, é uma

o Ministério da Agricultura e do Abastecimento implementou o Programa de Zoneamento Agrícola para dar subsídio operacional às

CARACTERÍSTICAS AGRONÔMICAS DE CULTIVARES DE ARROZ IRRIGADO E DE SEQUEIRO RECOMENDADAS PARA O MATO GROSSO DO SUL

ESTUDO DA VARIABILIDADE CLIMÁTICA NO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL, ATRAVÉS DAS REPETIÇÕES DE ANOMALIAS DE TEMPERATURAS MÍNIMAS DIÁRIAS

Variabilidade da Precipitação Pluviométrica no Estado do Amapá

DADOS AGROMETEOROLÓGICOS 2015 PRESIDENTE PRUDENTE - SÃO PAULO

MÉTODOS PARA ESTIMATIVA DA EVAPOTRANSPIRAÇÃO DE REFERÊNCIA NO ESTADO DE MINAS GERAIS

Análise Agrometeorológica Safra de Soja 2007/2008, Passo Fundo, RS

Zoneamento Agrícola Aderson Soares de Andrade Júnior

ANÁLISE DA TEMPERATURA DO AR EM AREIA - PB, EM ANOS DE OCORRÊNCIA DE EL NIÑO

OCORRÊNCIA DE MÍLDIO EM VIDEIRA NIAGARA ROSADA EM FUNÇÃO DAS CONDIÇÕES METEOROLÓGICAS E FENOLÓGICAS NA REGIÃO DE JUNDIAÍ, SP RESUMO

ZONEAMENTO DA MAMONA (Ricinus communis L.) NO ESTADO DO PARANÁ

Processo de Poisson aplicado à incidência de temperaturas extremas prejudiciais à cultura de café no município de Machado-MG

ISSN Outubro, Boletim Agrometeorológico Fazenda Nhumirim

RELAÇÃO DA TEMPERATURA DA SUPERFÍCIE DOS OCEANOS PACÍFICO E ATLANTICO TROPICAIS E A PRECIPITAÇÃO NA MICRORREGIÃO DE ARARIPINA (SERTÃO PERNAMBUCANO)

MÉTODO DE HARGREAVES- SAMANI A PARTIR DA ESTIMATIVA DA TEMPERATURA DO AR E A PARTIR DE NORMAIS CLIMATOLÓGICAS

FÓRUM PERMANENTE DE MONITORAMENTO DE TEMPO E CLIMA PARA A AGRICULTURA NO RIO GRANDE DO SUL

BRUSONE EM LAVOURAS DE TRIGO NO BRASIL CENTRAL - SAFRA

Lat. Am. J. Sci. Educ. 3, (2016)

RELAÇÕES DE VARIÁVEIS AMBIENTAIS E METEOROLÓGICAS COM O RENDIMENTO DE GRÃOS DE CANOLA 1

ESTIMATIVA DE DURAÇÃO DO PERÍODO DE MOLHAMENTO FOLIAR NO ESTADO DE SÃO PAULO

COMPARAÇÃO DE MÉDIAS DIÁRIAS DE TEMPERATURA DO AR EMPREGANDO DIFERENTES METODOLOGIAS

DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DO MÍLDIO DA VIDEIRA (Plaplasmopara viticola) NAS CONDIÇÕES CLIMÁTICAS ATUAIS E ESTIMATIVAS DE MUDANÇAS CLIMÁTICAS GLOBAIS

CONJUNTURAL AGROPECUÁRIO

304 Técnico. Comunicado. Informações meteorológicas de Passo Fundo, RS: novembro de Aldemir Pasinato 1 Gilberto Rocca da Cunha 2.

Introdução à Meteorologia Agrícola

SIMULAÇÃO DA SÉRIE DE PRECIPITAÇÃO PLUVIOMÉTRICA MENSAL PARA FLORIANÓPOLIS (SC) ATRAVÉS DO USO DE REGRESSÃO LINEAR MÚLTIPLA. Flavio Varone GONÇALVES*

Comunicado 76 Técnico

Simulação dos Impactos das Mudanças Climáticas globais sobre os setores de Agropecuária, Floresta e Energia

DISTRIBUIÇÃO DE MÉDIAS E VARIABILIDADE DE UMA SÉRIE HISTÓRICA DE DADOS CLIMÁTICOS DIÁRIOS, PELOTAS RS.

Prognósticos e recomendações para o período

CONJUNTURAL AGROPECUÁRIO NOTÍCIAS AGRÍCOLAS

ANÁLISE DA FREQUENCIA DA PRECIPITAÇÃO DIÁRIA NO MUNICÍPIO DE ÁGUIA BRANCA ES.

Probabilidade de Ocorrência de Dias Chuvosos e Precipitação Mensal e Anual para o Município de Domingos Martins-ES

Amaldo Ferreira da Silva Antônio Carlos Viana Luiz André Correa. r José Carlos Cruz 1. INTRODUÇÃO

AS ESTIAGENS NO OESTE DE SANTA CATARINA ENTRE

Transcrição:

ISSN 0104-1347 Revista Brasileira de Agrometeorologia, Santa Maria, v. 6, n. 1, p. 121-124, 1998. Recebido para publicação em 09/10/97. Aprovado em 14/05/98. INFLUÊNCIA DO CLIMA SOBRE O RENDIMENTO DO TRIGO NO RIO GRANDE DO SUL INFLUENCE OF CLIMATE ON WHEAT YIELDS IN RIO GRANDE DO SUL STATE, BRAZIL Fernando Silveira da Mota 1 RESUMO O trabalho objetivou determinar os elementos agrometeorológicos estatisticamente correlacionados com os rendimentos médios do trigo no Rio Grande do Sul, no período 1986/95. Foi utilizado o método de análise de regressão linear múltipla e correlação parcial. Os resultados mostraram que os seguintes elementos agrometeorológicos foram significativamente correlacionados com os rendimentos: duração do período de molhamento das folhas no mês de outubro, insolação total e danos por geadas no mês de setembro e número de dias de precipitação pluviométrica no mês de novembro, apresentando um coeficiente de determinação de 0,94. Palavras-chave: trigo, clima, Rio Grande do Sul, Brasil SUMMARY An statistical analysis for the recent period 1986-95 shows that wheat yields in Rio Grande do Sul state, Brazil, are significantly correlated with the following meteorological elements: leaf - wetness duration in October; sunshine in September; frost damage in September and the number of rainy days in November. The determination coefficient of the multiple regression equation between those meteorological elements and yields was 0.94. 1 Engº Agrº, M.Sc. em Climatologia Agrícola, Livre Docente, Doutor em Ciências, Prof. Titular, (aposentado), UFPel, Pesquisador I A - CNPq, Caixa Postal 49, 96010-970, Pelotas, RS

Key words: wheat, climate, Rio Grande do Sul, Brazil INTRODUÇÃO O rendimento médio da cultura do trigo no Rio Grande do Sul, no período 1986-1995, foi de 1500kg/ha, bem superior ao da década anterior (1976/85) que foi de apenas 850kg/ha, segundo o ANUÁRIO ESTATÍSTICO DO BRASIL (1986-1995). A utilização de novas tecnologias foi responsável por este grande aumento (novas cultivares, rotação de culturas, tratamentos estratégicos com fungicidas, introdução de inimigos naturais dos pulgões). Entretanto as condições meteorológicas continuaram a ser importantes na determinação dos rendimentos médios, os quais, nos anos favoráveis chegaram a 1.850kg/ha (1992) e nos anos desfavoráveis baixaram para 1.106kg/ha (1991). Os rendimentos citados anteriormente foram obtidos no ANUÁRIO ESTATÍSTICO DO BRASIL (1986-1995), publicados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. No trigo, a resistência às geadas é pequena após a mudança fisiológica para a iniciação da inflorescência e emissão da espiga (PAULSEN, 1968). Segundo SHEEREN (1982), além da queima das folhas e estrangulamento dos colmos, o mais grave dano que a geada causa ao trigo é atingindo nos primórdios frutíferos, impedindo a formação do grão. Para o Rio Grande do Sul, foi estabelecido um índice agroclimático do dano causado por geadas, de acordo com a temperatura mínima absoluta registrada no abrigo meteorológico durante o principal mês do período reprodutivo (setembro) (MOTA, 1982). De acordo com PENDLETON & WEIBEL (1965) a luz é crítica durante o espigamento e sua falta, mesmo durante períodos curtos, resulta em redução do rendimento. As precipitações elevadas durante a época de maturação e colheita determinam a diminuição do rendimento e do peso do hectolitro (SILVA, 1971; LUZ, 1982). Nas condições de clima úmido de primavera do Rio Grande do Sul, a duração do período de molhamento das folhas é de grande importância na incidência de diversas doenças e pode determinar decréscimos no rendimento do trigo. A duração do período de molhamento tem alta correlação estatística com o número de horas com umidade relativa acima de 90% (SMITH, 1956). Esta correlação foi confirmada para as condições do Rio Grande do Sul (MOTA & AGENDES, 1981). Por outro lado, o rendimento do trigo no município de Passo Fundo apresentou correlação

linear altamente significativa (R 2 = 0,83) com o número de horas com umidade relativa acima de 90 % no mês de outubro (MOTA, 1982). É finalidade deste trabalho verificar se os elementos agrometeorológicos citados anteriormente estão estatisticamente correlacionados com os rendimentos médios do trigo no Rio Grande do Sul, na década 1986/95. MATERIAL E MÉTODOS Foram utilizados os rendimentos do trigo no Rio Grande do Sul, divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no ANUÁRIO ESTATÍSTICO DO BRASIL,1986-1995. Segundo a literatura (BAYER, 1983; ROBERTSON, 1974), poucas estações meteorológicas são necessárias neste tipo de pesquisa, porque os elementos meteorológicos principais são conservativos em grandes áreas. A experiência anterior (MOTA et al., 1983) mostrou que a Estação Climatológica de São Luiz Gonzaga é uma ótima estação monitora para estudos da influência do clima sobre o rendimento dos cereais de sequeiro das regiões das Missões e Planalto do Estado do Rio Grande do Sul. Como uma estação climatológica indica o macroclima de uma região, a amostra dos dados dos rendimentos deve ser também de uma ampla região; desta forma, os modelos agroclimáticos para explicar os rendimentos somente são aplicáveis para estimar rendimentos de grandes áreas e portanto não podem ser utilizados para estimar rendimentos de microregiões ou municípios. Assim, foram utilizados os dados meteorológicos mensais da estação de São Luiz Gonzaga pertencente ao Instituto Nacional de Meteorologia. As falhas de observação de São Luiz Gonzaga foram completadas com dados das estações de Ijuí ou Santo Ângelo, ambas da Fundação Estadual De Pesquisa Agropecuária. Foram determinados os seguintes índices agrometeorológicos: duração do período de molhamento de folhas a partir da umidade relativa do ar média mensal dos meses de junho a novembro, utilizando a equação de regressão; Y = 12,10 x - 665,03 onde x é a umidade relativa média mensal. índice de dano por geadas nos meses de agosto a outubro, de acordo com o seguinte critério (MOTA, 1982): Temperatura mínima absoluta mensal

< 0,0 0 C = 3 0,0 a 0,6 0 C = 2 0,7 a 1,0 0 C = 1 > 1,0 0 C = 0 insolação total mensal (horas) nos meses de agosto a novembro; precipitação total nos meses de junho a novembro; e número de dias de precipitação pluviométrica na maturação e colheita, meses de outubro e novembro. Foram determinados os coeficientes de correlação parcial entre o rendimento e cada um dos parâmetros citados, ajustados para os demais parâmetros, bem como a regressão linear múltipla entre o rendimento e os parâmetros cujos coeficientes de correlação parcial foram superiores a 0,85, altamente significativos. Foi, ainda, verificada a existência ou não de tendência dos rendimentos no período considerado. A Tabela 1 apresenta os valores de rendimento e elementos agrometeorológicos utilizados nas análises estatísticas realizadas com a finalidade de obter estimativas dos rendimentos. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os seguintes parâmetros apresentam coeficientes de correlação parcial (r) altamente significativos e superiores a 0,85: rendimento e duração do período de molhamento de folhas no mês de outubro: r = - 0,92 rendimento e insolação total no mês de setembro: r = 0,93 rendimento e índice de dano por geadas no mês de setembro: r = - 0,89 rendimento e número de dias com precipitação pluviométrica em novembro: r = 0,86 A tendência dos rendimentos não foi estatisticamente significativa, motivo pelo qual não foi incluída na análise de regressão linear múltipla. Todos os parâmetros incluídos na regressão foram altamente significativos.

Os resultados mostraram que o rendimento do trigo pode ser estimado com a seguinte equação de regressão linear múltipla cuja análise da variação confirmou que todas as variáveis independentes nela incluídas são altamente significativas: Y = 630,93-3,73 x 1 + 6,57 x 2-162,63 x 3 + + 56,04 x 4 onde Y é o rendimento médio do trigo no Rio Grande do Sul em um determinado ano do período 1986/95, x 1 a duração (horas) do período de molhamento das folhas no mês de outubro, x 2 a insolação total (horas) em setembro, x 3 o índice de danos por geada em setembro e x 4 o número de dias de precipitação pluviométrica em novembro. Na Tabela 2 apresenta-se os valores de rendimentos observados bem como os estimados pela regressão e seus limites de confiança com 95 % de probabilidade e resíduos. Os resultados apresentam concordância com os dados encontrados na literatura (LUZ, 1982; PAULSEN, 1968; PENDLETON & WEIBEL, 1965; SCHEEREN, 1982; SILVA, 1971) e com a época de ocorrência dos subperíodos críticos do ciclo das cultivares atualmente utilizadas no Rio Grande do Sul.

A correlação positiva do rendimento do trigo com o número de dias de chuva em novembro é explicada através da possibilidade de que um maior número de dias de precipitação significaria uma melhor distribuição da precipitação no tempo, com chuvas menores e, portanto menos prejudiciais na época de maturação e colheita. A correlação do total de precipitação em novembro com o rendimento não foi estatisticamente significativa. As tecnologias recomendadas ou em desenvolvimento nos órgãos de pesquisa agropecuária, tais como cultivares com maior resistência às doenças e tipo de planta com maior aproveitamento da luz solar, práticas culturais como rotação de culturas e determinação da melhor época de semeadura, tem resultado em rendimentos mais elevados. Cultivares mais resistentes às geadas e à germinação na espiga, possivelmente contribuiriam para diminuir os riscos climáticos em anos com grandes períodos de molhamento de folhas em outubro, temperaturas mínimas e insolação baixas em setembro e chuvas intensas em novembro. CONCLUSÕES A variação anual do rendimento do trigo no Estado do Rio Grande do Sul, no decênio 1986/95, foi altamente correlacionada com a variação conjunta dos elementos agrometeorológicos: duração do período de molhamento de folhas em outubro; insolação total em setembro; índice de danos por geada em setembro e número de dias de chuva em novembro. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANUÁRIO ESTATÍSTICO DO BRASIL. Brasília : Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 1986-1995. BAYER, W. Agroclimatic Modeling: An Overview. In: Agroclimate Information for Development, edited by DAVID F. CUSACK, Boulder, Colorado : Westview Press, 1983, 397 p. LUZ, W.C. Efeito da precipitação pluviométrica no rendimento de duas cultivares de trigo. Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília, v. 17, n. 3, p. 351-354, 1982. MOTA, F.S. da, AGENDES, M.O. de O. Uso do higrógrafo na avaliação do período de molhamento de plantas em séries climatológicas históricas. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE

AGROMETEOROLOGIA, 2., Pelotas, RS, Anais... Pelotas : Sociedade Brasileira de Agrometeorologia/UFPel, 1981. p. 289. MOTA, F.S. da. Clima e zoneamento para a triticultura no Brasil. In: Trigo no Brasil, v. I. Campinas : Fundação Cargill, 1982. 620 p. MOTA, F.S. da, AGENDES, M.O. de O., ROSSKOFF, J.L.C. da et al. Modeling and Forecasting Brazilian Crop Yields Using Meteorological Data. In: Agroclimate Information for Development, edited by DAVID F. CUSACK, Boulder, Colorado : Westview Press, 1983, 397 p. PAULSEN, G.M. Effect of photoperiod and temperature on cold hardening in winter wheat. Crop Science, Madison, v. 8, p. 9-32, 1968. PENDLETON, J.W. e WEIBEL, R.O. Shading studies on winter wheat. Agronomy Journal, Wisconsin. v. 57, p. 292-293, 1965. ROBERTSON, G.W. World weather watch and wheat. WMO Bulletin, Geneva, v. 23, n. 3, p. 149-154, 1974. SCHEEREN, P.L. Danos de geada em trigo: avaliação preliminar de cultivares. Pesquisa Agropecuária Brasileira. Brasília, v. 17, n. 6, p. 813-818, 1982. SILVA, A.R. da. Trigo no sul de Mato Grosso. Sete Lagoas : Ministério da Agricultura / Instituto de Pesquisa Agropecuária do Oeste, 1971, 24 p. SMITH, L.P. Potato blight forecasting by 90 per cent humidity criteria. Plant Pathology, London, v. 5, n. 3, p. 83-87, 1956.