CARACTERIZAÇÃO DOS ISOLADORES ELÉTRICOS CERÂMICOS DESCARTADOS PELAS REDES DE DISTRIBUIÇÃO DE ELETRECIDADE E COMPARAÇÃO COM PRODUTOS SIMILARES SEM USO.

Documentos relacionados
A INCORPORAÇÃO DE PÓ DE EXAUSTÃO EM MASSA CERÂMICA ATOMIZADA TIPO SEMIGRÊS

UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA CENTRO DE CIÊNCIAS TECNOLÓGICAS DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA MECÂNICA TÉCNICAS DE ANÁLISE

XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO

RELAÇÃO DO TEMPO DE SINTERIZAÇÃO NA DENSIFICAÇÃO E CONDUTIVIDADE ELÉTRICA EM CÉLULAS À COMBUSTÍVEL. Prof. Dr. Ariston da Silva Melo Júnior

CARACTERIZAÇÃO DA GRANALHA DE AÇO RECUPERADA DO RESÍDUO DE ROCHAS ORNAMENTAIS POR SEPARAÇÃO MAGNÉTICA

Resultados e Discussões 95

SOUZA, C.S. a*, ANTUNES, M.L.P. a, DALLA VALENTINA, L.V.O. b, RANGEL, E.C. a, CRUZ, N.C. a. a. UNESP, Sorocaba, São Paulo

SOLIDIFICAÇÃO/ESTABILIZAÇÃO DE LODO GALVÂNICO EM BLOCOS DE CONCRETO PARA PAVIMENTAÇÃO (PAVERS)

Espectometriade Fluorescência de Raios-X

Reciclagem do Lodo da Estação de Tratamento de Efluentes de uma Indústria de Revestimentos Cerâmicos. Parte 2: Ensaios Industriais

CORROSÃO EM MEIO DE DIESEL DO AÇO CARBONO REVESTIDO COM COBRE. Danielle Cristina Silva (Universidade Estadual do Centro-Oeste - Brasil)

XIX Seminário Nacional de Distribuição de Energia Elétrica. SENDI a 26 de novembro. São Paulo - SP - Brasil

PREPARAÇÃO DE AMOSTRAS DE CERÂMICAS PARA OBSERVAÇÃO MICROESTRUTURAL

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA DOS MATERIAIS SETOR DE MATERIAIS

Mestrado Integrado em Engenharia do Ambiente Laboratórios de Ciências do Ambiente I Módulo: Minas. Trabalho realizado a 16 de Abril de 2015

COLETA SELETIVA VIDRO

3º Encontro Sobre Sustentabilidade no Setor Elétrico

RELATÓRIO FINAL DE INSTRUMENTAÇÃO F 530 BALANÇA A BASE DE PIEZOELÉTRICOS

A VARIAÇÃO DOS PREÇOS DO MATERIAL SELETIVO COMERCIALIZADO NO BRASIL

Disciplina MAF 2130 Química Aplicada Turma A02

APROVEITAMENTO SUSTENTÁVEL DE RECURSOS NATURAIS E DE MATERIAIS RECICLÁVEIS NA INOVAÇÃO QUÍMICA DE COMPÓSITOS POLIMÉRICOS

Incorporação de Embalagens Pós-Consumo de Poliestireno Expandido (EPS) na Produção de Blocos de Concreto

MÉTODO DE TESTE PARA RESISTÊNCIA QUÍMICA :

ULTRA-SOM MEDIÇÃO DE ESPESSURA PROCEDIMENTO DE END PR 036

INFLUÊNCIA DA GRANULOMETRIA E TEMPERATURA DE QUEIMA SOBRE O GRAU DE DENSIFICAÇÃO DE ARGILAS DA REGIÃO DE MARTINÓPÓLIS SP

BLOCOS DE VEDAÇÃO COM ENTULHO

Metalurgia & Materiais

UTILIZAÇÃO DE RECICLADOS DE CERÂMICA VERMELHA

DUREZA DE CORPOS SINTERIZADOS Por Domingos T. A. Figueira Filho

ANÁLISE PRELIMINAR DO POSSÍVEL METEORITO DE SÃO MAMEDE PB

CARACTERÍSTICAS E APLICAÇÕES DE LODOS DE ANODIZAÇÃO DE ALUMÍNIO. Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) , Florianópolis, SC

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Reciclagem secundária de rejeitos de porcelanas elétricas em estruturas de concreto

A utilização dos roletes ESI no Brasil

Módulo: REFRATÁRIOS Agosto/2014

XIX CONGRESSO DE PÓS-GRADUAÇÃO DA UFLA 27 de setembro a 01 de outubro de 2010

ANALISE DE RESÍDUOS MINERAIS E ORGÂNICOS AGROINDUSTRIAIS COM O USO DA TÉCNICA DE XRF

Instalações Máquinas Equipamentos Pessoal de produção

ÁREA DE ENSAIOS ALVENARIA ESTRUTURAL RELATÓRIO DE ENSAIO N O 36555

O Secretário de Vigilância Sanitária d Ministério da Saúde, no uso de suas atribuições legais e considerando:

Separação de Misturas

A INFLUÊNCIA DO SISTEMA DE VÁCUO NAS PROPRIEDADES FÍSICAS DOS PRODUTOS DE CERÂMICA VERMELHA.

1. Objetivo Referências Condições gerais Condições específicas Inspeção 2. Tabela 1 - Características elétricas e mecânicas 4

Resumo. 1. Introdução

DETERMINAÇÃO DO TEOR DE UMIDADE E DENSIDADE BÁSICA PARA ESPÉCIES DE PINUS E EUCALIPTO

Capacidade nominal = capacidade da bateria do banco de alimentação x tensão da bateria 3,7V/aumento de tensão 5V x eficiência de conversão

DETERMINAÇÃO DO TEOR DE NEGRO-DE-FUMO EM TUBOS DE PEAD PARA ABASTECIMENTO DE ÁGUA COMPARAÇÃO ENTRE DOIS MÉTODOS

22º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental III AVALIAÇÃO DA UTILIZAÇÃO DE VIDRO COMINUIDO COMO MATERIAL AGREGADO AO CONCRETO

CADERNO DE EXERCÍCIOS 1D

POROSIMETRIA AO MERCÚRIO

CARACTERIZAÇÃO DE RESÍDUO DE PÓ DE MÁRMORE PARA APLICAÇÃO EM MATERIAIS CERÂMICOS

FICHA TÉCNICA - MASSA LEVE -

RESISTORES. Figura 1 - Resistor de Carbono

Exactidão da medição

ANÁLISE EXPERIMENTAL DA SECAGEM DE ARGILA

Processo de fabricação de cabos de alumínio com ênfase em trefilação

ESPECIFICAÇÃO TÉCNICA DISTRIBUIÇÃO

Logística Reversa: destinação dos resíduos de poliestireno expandido (isopor ) pós-consumo de uma indústria i catarinense

SOLUÇÕES FORTLEV PARA CUIDAR DA ÁGUA TANQUES

UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA UDESC CENTRO DE CIÊNCIAS TECNOLÓGICAS CCT DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA ELÉTRICA DEE

MANUAL DE ENGENHARIA

Lisina, Farelo de Soja e Milho

Cimento Portland branco

Treinamento FIBRAS ÓPTICAS. Eng. Marcelo dos Santos. Seicom Florianópolis. Abril de 2008

CAPÍTULO 5. Materiais e Métodos 97. Errar é humano. Botar a culpa nos outros, também. Millôr Fernandes (76 anos), humorista brasileiro

CONCEITOS. Prof. Roberto Monteiro de Barros Filho. Prof. Roberto Monteiro de Barros Filho

ALVENARIA ESTRUTURAL: DISCIPLINA: MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO II PROF.: JAQUELINE PÉRTILE

BT 0014 BOLETIM TÉCNICO RESINA PC 6NF_ENDURECEDOR G 130 BLUE

Núcleo de Ciências Químicas e Bromatológicas do Centro de

ESTUDO DO COMPORTAMENTO TÉRMICO DA LIGA Cu-7%Al-10%Mn-3%Ag (m/m)

Dimensionamento de Solar T. para aquecimento de Piscinas

REDUÇÃO DA ATIVIDADE DE ÁGUA EM MAÇÃS FUJI COMERCIAL E INDUSTRIAL OSMO-DESIDRATADAS

I DIAGNÓSTICO DE GERENCIAMENTO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS DE SERVIÇO DE SAÚDE EM UM HOSPITAL PÚBLICO EM BELÉM/PA

5. Limitações: A argamassa Matrix Assentamento Estrutural não deve ser utilizada para assentamento de blocos silicocalcário;

BT 0013 BOLETIM TÉCNICO RESINA FLOOR REPAIR PLUS_ ENDURECEDOR FLOOR REPAIR PLUS_ SÍLICA F-036

Recuperação de Metais Contidos em Catalisadores Exauridos.

Aspectos ambientais da energia aplicada em reações químicas

Engenharia Diagnóstica

ENSAIOS FÍSICO-QUÍMICOS PARA O TRATAMENTO DOS EFLUENTES DO TRANSPORTE HIDRÁULICO DAS CINZAS PESADAS DA USINA TERMELÉTRICA CHARQUEADAS

TopComfort Brasilit. Temperatura agradável e muito mais conforto.

Logística e Administração de Estoque. Definição - Logística. Definição. Profª. Patricia Brecht

DURABILIDADE DAS ESTRUTURAS DE CONCRETO

4. RESULTADOS & DISCUSSÃO

Associação Paralelo Ativo e Passivo Vantagens e Benefícios

CÁLCULO DE INCERTEZA EM ENSAIO DE TRAÇÃO COM OS MÉTODOS DE GUM CLÁSSICO E DE MONTE CARLO

CURSO DE AQUITETURA E URBANISMO

Degradação de Polímeros

Manutenção e Combustível Adequados Garantia da Durabilidade de Emissões? PAP 0070

CONHECENDO ALGUNS PIGMENTOS MINERAIS DE MINAS GERAIS PARTE II

Análises de Eficiência Energética em Métodos de Controle de Vazão

Ensaios não-destrutivos

Processo de Forjamento

Doutorando do Departamento de Construção Civil PCC/USP, São Paulo, SP 2

Introdução aos Polímeros Os Plásticos e o Ambiente Módulo V

SISTEMA DE REAPROVEITAMENTO DE ÁGUA RESIDUAIS DE PROCESSOS INDUSTRIAL E ESGOTO RESIDENCIAIS POR MEIO DE TRANSFORMAÇÃO TÉRMICAS FÍSICO QUÍMICA N0.

DETERMINAÇÃO DE UMIDADE EM FARINHAS PELO EMPREGO DE MICROONDAS RESUMO

C HAVE FUSÍVEL T IPO MZ PARA DISTRIBUIÇÃO

Carga dos alimentadores

Bebida constituída de frutos de açaí e café: Uma alternativa viável

Transcrição:

CARACTERIZAÇÃO DOS ISOLADORES ELÉTRICOS CERÂMICOS DESCARTADOS PELAS REDES DE DISTRIBUIÇÃO DE ELETRECIDADE E COMPARAÇÃO COM PRODUTOS SIMILARES SEM USO. C.S. Franco 1 ; V.A. Mantovani 1 ; M. Fávero 1 ; J. Morales 2 ; H.L. Hasegawa 2 1-Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP) - Campus Sororcaba - Av. 3 de março, 511 - CEP: 18087-180 - Alto da Boa Vista - Sorocaba-SP - Email: camilasilvafranco@yahoo.com.br 2-Universidade de Sorocaba (UNISO)-Campus Cidade Universitária - Rodovia Raposo Tavares km 92,5 - CEP: 18023-000 - Cidade Universitária - Sorocaba RESUMO A manutenção das redes de distribuição de eletricidade gera uma grande quantidade de resíduos. Dentre estes, um dos mais representativos em peso são as porcelanas dos isoladores, encontrados em para-raios, chaves, isoladores. O objetivo deste trabalho foi avaliar o potencial de reciclagem de dois modelos de isoladores cerâmicos, novos e usados. Para tanto, foram submetidos a ensaios comparativos de Microscopia Eletrônica de Varredura, acoplada a Espectroscopia de Energia Dispersiva, difração de raios-x, ângulo de contato, teor de voláteis e densidade. De uma maneira geral, as amostras de cerâmica novas e usadas não apresentaram diferenças que possam ser associadas à degradação do material mediante a utilização. Isto indica que os materiais descartados e novos são bastante próximos, o que pode favorecer a reutilização e reciclagem. Palavras chaves: resíduos, isoladores, cerâmica, reciclagem. INTRODUÇÃO O desenvolvimento tecnológico aliado ao crescente consumo de bens e serviços necessitam de um rápido aumento na demanda energética. Segundo a 643

Empresa de Pesquisas Energéticas do Ministério de Minas e Energia, as projeções de demanda de energia elétrica no Brasil apresentarão aumento de em média 5,2% ao ano entre 2010 e 2018 (1). Durante o serviço de manutenção das redes de distribuição de eletricidade são gerados resíduos sólidos dos mais variados tipos. Dentre os materiais descartados os isoladores cerâmicos que podem ser encontrados na forma de, pára-raios, chaves faca e chaves fusíveis, são aqueles que as técnicas de reciclagem ainda se encontram em desenvolvimento. Sendo que a moagem destes e a incorporação em concretos é um dos métodos mais pesquisados. Portanto o objetivo deste trabalho foi caracterizar os isoladores usados para avaliar o potencial de outros meios de reciclagem. MATERIAIS E MÉTODOS Foram realizadas amostragens dos isoladores cerâmicos segundo a norma ASTM D531-92 (2). Após a separação e contabilização das diferentes peças, por tamanho, modelo e cor, foi possível escolher as mais representativas de cada modelo e cor do esmalte. Análises de laboratório foram realizadas para verificar a qualidade do material usado a partir da comparação com produtos similares novos. Para tanto, amostras de porcelana com tamanho aproximado de 2 cm por 2 cm de base e x 1 cm de altura foram cortadas com o auxílio de uma serra diamantada e lavadas em banho ultrassônico com água deionizada por 20 minutos. Para a caracterização das amostras cerâmicas cinza e marrom, novas e usadas, foram utilizadas as seguintes técnicas: 1) Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV) em microscópio Quanta Inspect S (FEI) acoplado a Espectroscopia de Energia Dispersiva (EDS) INCA X-sight (Oxford) do grupo Schaeffler Sorocaba e no microscópio Philips XL-30 FEG acoplado a Espectroscopia de Energia Dispersiva (EDS) do.laboratório de Caracterização Estrutural da Universidade Federal de São Carlos; 2) Ângulo de Contato em Goniômetro Ramé-Hart, modelo 100-00 da Unesp- Sorocaba; 644

3) Densidade Relativa pela norma ASTM D 792 (3) em balança analítica com suporte estacionário para o recipiente de imersão do Laboratório de Polímeros do Grupo Schaeffler-Sorocaba; 4) Teor de voláteis seguindo a norma D 5630 (4) em forno mufla Quimis, modelo Q-318M24, da Unesp Sorocaba; 5) Difração por raios-x realizado em difratometro Siemens, modelo D 5005, com tubo de cobre com potencia de 40kVx40mA, do Departamento de Engenharia de Materiais da UFSCar. RESULTADOS E DISCUSSÃO Segundo dados fornecidos por uma concessionária distribuidora de energia elétrica, no ano de 2009 foram geradas 3,91 mil toneladas de resíduos, dos quais os resíduos cerâmicos representam 16%, na qual são inclusos os pára-raios, chavesfaca, chaves-fusível e isoladores conforme pode ser observado na Fig. 1. (a) (b) (c) (d) (e) (f) Fig. 1: Diversos tipos de isoladores cerâmicos: (a) pilar cinza, (b) pilar marrom, (c) de disco marrom, (d) cruzeta marrom, (e) roldana e (f) castanha. Um estudo preliminar mostrou que os isoladores são, basicamente, constituídos de 43% de cerâmica e 52 % de ferragem. Vale comentar que para o desenvolvimento deste estudo foram utilizados o isolador pilar de coloração cinza (Fig. 1a) e o isolador tipo castanha de coloração marrom (Fig. 1f) devido à maior disponibilidade de ambos. Verificou-se pelos resultados de ângulo de contato apresentados na Tab. 1 que as amostras cerâmicas possuem características hidrofílicas (ângulo de contato menor que 90 ). Um dos motivos para este comportamento é a presença de cadeias inorgânicas na composição química das superfícies, com maior tendência polar e por conseqüência maior afinidade pela água. Além disso, as superfícies esmaltadas das 645

cerâmicas possuem aditivos inorgânicos, que colaboram com a diminuição ainda maior do seu ângulo de contato, o que também foi constatado (6). Tab 1: Resultados de ângulo de contato para as amostras de esmalte de isoladores cerâmicos. Amostra Ângulo de contato ( ) Cerâmica cinza (esmalte) Cerâmica marrom (esmalte) Nova 58,97 ± 2,06 Usada 47,95±2,23 Nova 42,29 ± 5,02 Usada 89,04±10,89 As diferenças entre as amostras novas e usadas não podem ser consideradas significativas a ponto de serem explicadas por degradações ocorridas durante o uso como, por exemplo, a presença de micro-trincas superficiais, o que resultaria na diminuição do ângulo de contato. Como a amostra marrom usada apresentou ângulo de contato superior à da nova, provavelmente estas variações observadas nos resultados são provenientes de diferenças nos materiais e fabricantes. A Tabela 2 apresenta resultados do teor de voláteis e da densidade relativa das amostras de cerâmicas marrom e cinza, nova e usada. Tab 2: Resultados de teor de voláteis resultantes do ensaio de perda ao fogo e densidade relativa para as amostras de cerâmica. Amostra Cinza Marrom Cinza Marrom nova nova usada usada Teor de voláteis, % (p/p) 0,34 0,24 0,07 0,30 Densidade relativa (g/cm 3 ) 2,35 2,35 2,35 2,35 Verificam-se pelos resultados da Tabela 2 que o teor de cinzas da amostra usada é ligeiramente superior quando comparada com o da amostra nova, porém tal escala pode ser considerada dentro do desvio da balança. Os difratogramas de raios-x, apresentadas na Figura 2, mostram níveis apreciáveis de ruído (background), o que sugere a presença de fases amorfas (vítreas) provenientes da reação de sinterização do SiO 2 e de fundentes (Na e K 646

principalmente). Este fato também dá indicio da sinterização ser realizada via fase líquida que confere elevada densidade a ausência de porosidade que são características apreciáveis para as cerâmicas destinadas a produção de isoladores. Fato confirmado a não existência de poros abertos pelo ensaio de porosidade aparente e densidade aparente. Fig 2: Espectro obtido por difração de raios-x para as quatro amostras cerâmicas. Observa-se pela Figura 2 que foram detectadas as fases quartzo, silimanita e mulita em todas as amostras, tal resultado demonstra uma formulação similar e também indicam não haver diferenças entre isoladores novos e usados. A Fig. 3 apresenta micrografias de superfícies fraturadas do biscoito das cerâmicas (parte interior não esmaltada). (a) (b) (c) (d) Fig. 3: Micrografia do biscoito de amostras de cerâmica (a) marrom nova, (b) marrom usada, (c) cinza nova (d) cinza usada 647

Pela microestrutura, observam-se grãos em torno de 30μm de tamanho médio, densos e de distribuição homogênea e também poros, estes que provavelmente oriundos de grãos removidos durante a fratura. As microestruturas, tanto das amostras novas quanto das usadas não apresentam alterações significativas. Esta comparação entre materiais usados e novos não apresentaram diferenças significativas, ou a presença de algum outro elemento químico, portanto pode-se considerar que o esmalte existente protegeu a cerâmica de elementos externos. A análise química via EDS da superfície das amostras revelou que todas apresentaram silício, oxigênio, sódio, alumínio e potássio, porém em quantidades distintas. Logo, as diferenças apresentadas é um forte indício de se tratarem de produtos fabricados de matérias-primas diferentes e provavelmente por fabricantes diferentes, uma vez que a própria empresa assume a utilização de isoladores provenientes de pelo menos três fabricantes distintos, sendo uma delas no exterior. Contudo tal fator não afetará o desempenho do material desde que a formulação esteja dentro de um padrão. A Fig. 4 apresenta imagens dos esmaltes das cerâmicas e, como pode ser observada, nenhuma amostra apresentou trincas ou intrusões, representando vidrados de alta homogeneidade. Também não foram detectadas alterações entre as superfícies das amostras novas e usadas, o que indica que não houve degradação no esmalte ao longo do tempo de uso. (a) (b) (c) (d) Fig 4: Micrografia da superfície de amostras de cerâmica (a) marrom nova, (b) marrom usada, (c) cinza nova, (d) cinza usada Pela análise das microestruturas, pode se observar a formação de cristais nas amostras de isoladores marrom usado, cinza novo e no cinza usado, justamente nas superfícies das quais foi detectada a presença de zircônio. Isto sugere que os cristais formados tratam-se provavelmente de Zircão (ZrSiO 4 ), comumente encontrado em vidrados pois funcionam como opacificante e melhoram a resistência à abrasão (5). 648

CONCLUSÕES Os resultados demonstraram que não existem diferenças apreciáveis entre os isoladores novos e usados. As pequenas variações observadas nos ensaios não justificam afirmar que houve qualquer degradação no material ao longo do seu uso, em comparação com o novo. Estas provavelmente estão associadas a outros fatores como a mudanças de formulação, matéria-prima, lote, fabricante etc. Desta forma, sugere-se como primeiro procedimento a realização de testes de quebra dielétrica para confirmar se os isoladores usados ainda possuem boas condições isolantes, além de testes que avaliem outros aspectos de seu potencial de reutilização como, por exemplo, as propriedades mecânicas. Paralelamente, estudos sobre a potencial reciclagem dos materiais podem ser desenvolvidos, para tanto, os isoladores devem ter seus componentes, ou seja, a ferragem, cerâmicas e as demais partes devem ser separadas. Os ensaios não demonstraram a presença de contaminantes tóxicos nos isoladores usados, logo a moagem e a utilização destes como chamote para fabricação de outros materiais cerâmicos, e também na forma de agregados para a construção civil, pode ser considerada uma alternativa tecnicamente viável. REFERÊNCIAS: (1) EPE Empresa de Pesquisas Energéticas. 2009. Disponível em: <http://www.epe.gov.br/imprensa/pressreleases/20091222_1.pdf>acesso em 10 de maio de 2010. (2) ASTM - AMERICAN SOCIETY FOR TESTING AND MATERIALS. ASTM Standard D 3418: 2008. Standard Test Method for Transition Temperatures and Enthalpies of Fusion and Crystallization of Polymers by Differential Scanning Calorimetry. Filadélfia: ASTM, 2008. (3) ASTM - AMERICAN SOCIETY FOR TESTING AND MATERIALS. ASTM Standard D 792: 2003. Standard Test Method for Determination of the Composition of Unprocessed Municipal Solid Waste. Filadélfia: ASTM, 2003. 649

(4) ASTM - AMERICAN SOCIETY FOR TESTING AND MATERIALS. ASTM Standard D 5630: 2006. Standard Test Method for Ash Content in Plastics. Filadélfia: ASTM, 2006. (5) APARISI, J. et al. Obtenção de Recobrimentos Vidrados Brancos e Lisos, para Pavimentos Cerâmicos, a partir de Fritas Isentas de Zircônio. Cerâmica Industrial, São Carlos, v. 6, n. 4, p. 7, 2001. (6) PRETTE, A. L. G. Desenvolvimento de esmaltes cerâmicos: aplicação em isoladores elétricos de alto desempenho. 2007. 77f. Dissertação (Mestrado em Ciência e Engenharia de Materiais)-Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, SC, 2007. CHARACTERIZATION OF CERAMIC ELECTRICAL INSULATORS DISCARDED OF DISTRIBUTIOS OF ELECTRICITY AND COMPARISON WITH SIMILAR PRODUCTS WITHOUT USE. The maintenance of distribution networks for electricity generates a large amount of waste. Among these, one of the most representative weights is from porcelain, found in para-rays, braces, insulators. The aim of this study was to evaluate the recycling potential of two models of ceramic insulators, new and used. It had been subjected to comparative tests of scanning electron microscopy, coupled with Energy Dispersive Spectroscopy, x-ray diffraction, contact angle, volatile content and density. In general, samples of new and used ceramic showed no differences that might be associated of material degradation by using. This indicates that the materials discarded and new ones are very close, which may encourage the reuse and recycling. Keywords: waste, insulators, ceramics, recycling 650