ESTUDO DA MICROESTRUTURA E PROPRIEDADES DO METAL DE SOLDA DEPOSITADO POR ELETRODOS REVESTIDOS IMPERMEÁVEIS DO TIPO BAIXO HIDROGÊNIO 1



Documentos relacionados
Eletrodos Revestidos Impermeáveis do Tipo Baixo Hidrogênio (Low hydrogen impermeable covered electrodes)

Avaliação da influência do teor de polímero sobre as propriedades do metal de solda produzido com eletrodos impermeáveis. Resumo

- Bibliografia Recomendada

ANÁLISE COMPARATIVA DOS PROCESSOS DE SOLDAGEM ARAME TUBULAR E ELETRODO REVESTIDO NA SOLDAGEM DO AÇO API 5LX - GRAU 70

Desenvolvimento de Eletrodos Revestidos do Tipo Baixo Hidrogênio Impermeáveis. (Low Hydrogen Impermeable Covered Electrode Development)

Engenheiro Químico, Gerente Industrial ELBRÁS Eletrodos do Brasil Ltda.

DESENVOLVIMENTO E ANÁLISE DE ARAMES TUBULARES TIPO BÁSICO COM POLÍMEROS COMO INGREDIENTE DO FLUXO

Curso de Engenharia de Produção. Processos de Fabricação

Qualificação de Procedimentos

INFLUÊNCIA DOS GASES DE PROTEÇÃO EMPREGADOS NO PROCESSO MIG/MAG SOBRE AS PROPRIEDADES MECÂNICAS DO METAL DE SOLDA

Desenho e Projeto de Tubulação Industrial

Soldabilidade de Metais. Soldagem II

Influence of Austenitizing Temperature On the Microstructure and Mechanical Properties of AISI H13 Tool Steel.

SOLDAGEM POR ARCO SUBMERSO

EFEITO DA ESTRUTURA BAINÍTICA EM AÇOS PARA ESTAMPAGEM

ARAME PARA SOLDA MIG GERDAU A MELHOR OPÇÃO PARA INDÚSTRIAS

PROPRIEDADES MECÂNICAS DE METAL DE SOLDA DE AÇO DE EXTRA ALTA RESISTÊNCIA PARA REPAROS DE COMPONENTES DE AMARRAÇÃO DE PLATAFORMAS

SOLDAGEM DO AÇO API 5LX - GRAU 70 COM ARAME TUBULAR AWS E-81T1-Ni1 E ELETRODO REVESTIDO AWS E-8010-G.

Comparação entre Tratamentos Térmicos e Método Vibracional em Alívio de Tensões após Soldagem


0,8 0,9 1,0 1,2 1,32 1, ROSETADO AWS A 5.18 ER70S-6 0,15 0,15 0,15 0,03

ÍNDICE CORROSÃO E MEDIDAS DE PROTEÇÃO ESPECIFICAÇÃO DE AÇOS, LIGAS ESPECIAIS E FERROS FUNDIDOS (Módulo I)... 4 ACABAMENTO DE SUPERFÍCIE...

1.OBJETIVO. Os principais objetivos da prática de soldagem com eletrodo revestido são:

Título: TREFILAÇÃO DE ARAME ATRAVÉS DE FIEIRAS E ANÉIS

INFLUÊNCIA DO PROCESSO E DOS PARAMETROS DE SOLDAGEM SOBRE O CICLO TERMICO EM JUNTAS SOLDADAS DE AÇOS ARBL.

DISSOLUÇÃO DA FERRITA DELTA EM AÇO INOXIDÁVEL ENDURECIDO POR PRECIPITAÇÃO

AVALIAÇÃO DAS PROPRIEDADES MECÂNICAS DE UM AÇO FUNDIDO DE BAIXO CARBONO, COMO FUNÇÃO DA SEQUÊNCIA DE PROCESSOS DE TRATAMENTO TÉRMICO E SOLDAGEM

SOLDAGEM DOS METAIS CAPÍTULO 9 SOLDAGEM COM ELETRODO REVESTIDO

Trabalho Prático N o :. Técnica Operatória da Soldagem SMAW

TRATAMENTOS TÉRMICOS DOS AÇOS

4.Materiais e métodos

Rodas Microligadas: Estudo e aplicação nas ferrovias da Vale

REFINO DE GRÃO ATRAVÉS DE TRATAMENTO TÉRMICO SEM MOVIMENTAÇÃO DE MASSA

8º CONGRESSO IBEROAMERICANO DE ENGENHARIA MECANICA Cusco, 23 a 25 de Outubro de 2007

MICROESTRUTURA E TENACIDADE DO AÇO API 5LX GRAU 70 SOLDADO COM ARAME TUBULAR AWS E-81T1-Ni1 E ELETRODO REVESTIDO AWS E-8010-G

Soldagem de manutenção II

TENACIDADE AO IMPACTO DO METAL DE SOLDA DO AÇO API X70 SOLDADO COM ARAME TUBULAR AWS E-81T1-Ni1

Soldagem de Aço Inox Utilizando Arco Gasoso com Tungstênio (GTAW ou TIG)

INFLUÊNCIA DO TRATAMENTO DE VIBRAÇÃO NAS TENSÕES RESIDUAIS GERADAS NA SOLDAGEM A LASER DE AÇOS ARBL E IF

UERJ CRR FAT Disciplina ENSAIOS DE MATERIAIS A. Marinho Jr

INFLUÊNCIA DOS PARÂMETROS DE SOLDAGEM NA MICROESTRUTURA DA ZONA AFETADA TERMICAMENTE - ZAT DA JUNTA SOLDADA DE UM AÇO DE ALTA RESISTÊNCIA

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA MECÂNICA. Dissertação de Mestrado

UNIVERSIDADE SANTA. Objetivo Metodologia Introdução. Método Experimental Resultados Experimentais Conclusão Grupo de Trabalho

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU ENGENHARIA DE SOLDAGEM

COLETÂNEA DE INFORMAÇÕES TÉCNICAS AÇO INOXIDÁVEL SOLDAGEM DE AÇOS INOXIDÁVEIS. Introdução

CONCEITOS. Prof. Roberto Monteiro de Barros Filho. Prof. Roberto Monteiro de Barros Filho

Inspeção Visual e Dimensional de Eletrodos e Estufas Duração: 60 minutos

SOLDAGEM A LASER DE AÇOS ESTRUTURAIS

1 Qual dos documentos apresentados a seguir não necessita ser mantido sob a responsabilidade do Inspetor de Soldagem?

PROGRAMA DE MANUTENÇÃO INDUSTRIAL POR SOLDAGEM

AVALIAÇÃO DA RESISTÊNCIA À CORROSÃO DE AÇOS INOXIDÁVEIS SUBMETIDAS A CICLOS DE FADIGA TÉRMICA.

Curso de Engenharia de Produção. Processos de Fabricação

Aplicação de Técnicas de Processamento e Análise de Imagem na Análise Automática da Quantidade e do Tamanho do Grão em Imagens Metalográficas

Radiologia Industrial. Radiografia de Soldas. Agenda. Tubulações e Equipamentos 23/08/2009. Walmor Cardoso Godoi, M.Sc.

Trabalho Prático N o :. Técnica Operatória da Soldagem GMAW

INVESTIGAÇÃO DA INFLUENCIA DA GEOMETRIA DO CHANFRO NAS PROPRIEDADES MECÂNICAS DE JUNTAS SOLDADAS DE UM AÇO ARBL

DETERMINAÇÃO DO TEOR DE UMIDADE E DENSIDADE BÁSICA PARA ESPÉCIES DE PINUS E EUCALIPTO

TRATAMENTOS TÉRMICOS: EFEITO DA VELOCIDADE DE RESFRIAMENTO SOBRE AS MICROESTRUTURAS DOS AÇOS ABNT 1045

INFLUÊNCIA DO TEMPO DE SOLUBILIZAÇÃO NA RESISTÊNCIA A TRAÇÃO DE UM AÇO INOXIDÁVEL DUPLEX. 1 UNIFEI - Universidade Federal de Itajubá

Propriedades do Concreto

CAPÍTULO V RESULTADOS DOS ENSAIOS IMPLANTES

Título do projeto: SOLDABILIDADE DE UM AÇO ACLIMÁVEL DE ALTO SILÍCIO PARA CONSTRUÇÃO METÁLICA COM RESISTENCIA EXTRA A CORROSÃO MARINHA

ANÁLISE DAS CARACTERÍSTICAS METALÚRGICAS DAS JUNTAS SOLDADAS COM ELETRODOS BÁSICOS E IMPERMEÁVEIS

Richard Thomas Lermen (FAHOR)

TTT VI Conferência Brasileira sobre Temas de Tratamento Térmico 17 a 20 de Junho de 2012, Atibaia, SP, Brasil

CENTRO FEDERAL DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA DE SÃO PAULO CEFET-SP. Tecnologia Mecânica

ESTUDO DAS PROPRIEDADES MECÂNICAS DE UM AÇO SAE 4140 COM ESTRUTURA BIFÁSICA

versão com máscara disponível Apresentação do Sistema

SECAGEM DE GRÃOS. Disciplina: Armazenamento de Grãos

Apresentação Inspetor de Solda MIPS Sistemas Ltda.

A Tabela 2 apresenta a composição química do depósito do eletrodo puro fornecida pelo fabricante CONARCO. ELETRODO P S C Si Ni Cr Mo Mn

RELAÇÃO ENTRE MICROESTRUTURA / TENACIDADE AO IMPACTO DO METAL DE SOLDA DO AÇO API X-70 SOLDADO POR ELETRODO REVESTIDO AWS E8010-G

Petróleo e Meio Ambiente

5 DISCUSSÃO. 5.1 Influência dos resfriadores no fundido. Capítulo 5 77

UNIVERSIDADE SALGADO DE OLIVEIRA Campus RECIFE. Curso: Engenharia de Produção Disciplina: Materiais para Produção Industrial

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS Departamento de Engenharia Metalúrgica e de Materiais

Propriedades Mecânicas dos Aços DEMEC TM175 Prof Adriano Scheid

REVESTIMENTOS DUROS RESISTENTES AO DESGASTES DEPOSITADOS POR SOLDAGEM

XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO

Tratamentos Térmicos [7]

Resultados e Discussões 95

AVALIAÇÃO DO TEOR DE FUMOS EM PROCESSOS DE SOLDAGEM AO ARCO ELÉTRICO COM ELETRODO REVESTIDO

Análise de Materiais Ltda.

SOLDAGEM EM CARGA NO GASODUTO BOLÍVIA BRASIL

SOLDAGEM DOS METAIS CAPÍTULO 8 SOLDAGEM MIG/MAG

BOLETIM TÉCNICO FIXADOR ASTM A325 TIPO 1

MATERIAIS METÁLICOS AULA 5

TECNOLOGIA DOS MATERIAIS

Conceitos Iniciais. Forjamento a quente Forjamento a frio

PROCESSOS METALÚRGICOS DE FABRICAÇÃO

DESENVOLVIMENTO DE RODA MICROLIGADA COM NIÓBIO PARA TRANSPORTE HEAVY HAUL. Eng. (MSc) Domingos José Minicucci

PROCESSOS DE SOLDAGEM

SOLDAGEM EM OPERAÇÃO EM PLANTAS DE PROCESSO

VII Seminário da Pós-graduação em Engenharia Mecânica

Apresentação Digimet Plus 5G MIPS Sistemas Ltda.

TM229 Introdução aos Materiais ENSAIOS MECÂNICOS Prof. Adriano Scheid Capítulos 6 e 8 - Callister

de diminuir os teores de carbono e impurezas até valores especificados para os diferentes tipos de aço produzidos;

INTRODUÇÃO AOS PROCESSOS METALÚRGICOS. Prof. Carlos Falcão Jr.

INSPECTORES DE SOLDADURA SISTEMA AWS / CWI PROGRAMA DO CURSO AWS / CWI

Transcrição:

ESTUDO DA MICROESTRUTURA E PROPRIEDADES DO METAL DE SOLDA DEPOSITADO POR ELETRODOS REVESTIDOS IMPERMEÁVEIS DO TIPO BAIXO HIDROGÊNIO 1 Resumo Cláudio Turani Vaz 2 Ivanilza Felizardo 3 Alexandre Queiroz Bracarense 4 Ezequiel Caires Pereira Pessoa 5 Eletrodos revestidos básicos convencionais requerem cuidados especiais quanto armazenagem para evitar incorporação de hidrogênio ao metal de solda. Neste artigo foi avaliada a microestrutura e propriedades do metal de solda depositado por eletrodos revestidos básicos onde os aglomerantes usuais foram substituídos por polímeros com o objetivo de tornar o revestimento impermeável. O metal de solda depositado por esses eletrodos foi submetido aos ensaios de tração, impacto (Charpy entalhe V), hidrogênio difusível e avaliação metalográfica. A microestrutura do metal de solda depositado pelos eletrodos impermeáveis apresentou os constituintes e morfologia usualmente encontrados nos eletrodos convencionais. Entretanto, foi observada redução das frações volumétricas de ferrita primária de contorno de grão e de ferrita com segunda fase alinhada e aumento da fração volumétrica de ferrita acicular em comparação ao metal de solda depositado com eletrodo convencional. O teor de hidrogênio do metal de solda do eletrodo impermeável foi consideravelmente inferior ao obtido com eletrodos revestidos convencionais. Não foi observado aumento no teor de hidrogênio do metal de solda após exposição do eletrodo impermeável à umidade por longos períodos de tempo. Limites de escoamento e de resistência, alongamento e tenacidade ao impacto do metal de solda foram satisfatórios quando comparados aos mínimos requeridos para eletrodos da classe E7018. Palavras-chave: Eletrodos revestidos impermeáveis; polímeros; hidrogênio; ferrita acicular. LOW HYDROGEN IMPERMEABLE COVERED ELECTRODES: WELD METAL STRUCTURE AND PROPERTIES. Abstract Conventional basic covered electrodes require special handling and storage conditions to avoid hydrogen cold cracking. In this paper were evaluated the weld metal microstructure and properties obtained by covered electrodes where the usual binders (sodium and potassium silicates) were changed by polymers to make it impermeable. The weld metal was submitted to tension, impact (Charpy V notch)

and diffusible hydrogen testes and microstrutural evaluation. The microstructure showed the typical morphology and constituents. However, the grain boundary and aligned second phase ferrite volume fraction decreased and acicular ferrite fraction increased in comparison with same class conventional covered electrodes. The impermeable covered electrode weld metal diffusible hydrogen was considerable low in comparison with the conventional basic covered electrodes (less than 4ml/100g). The hydrogen content didn t increase after moisture exposition by long time period. The weld metal yield and tensile strength, elongation and impact toughness met the E7018 requirements. Key words: Covered electrodes, polymers, hydrogen, acicular ferrite. 1 2 3 4 5 66 Congresso da ABM. Engenheiro Metalurgista, MSc (UFMG/PPGMEC,IFMG). Engenheira Mecânica, Dr. (ELBRAS) Físico, PhD (UFMG) Engenheiro Mecânico, Dr. (IFMG).

1 INTRODUÇÃO O processo de soldagem com eletrodos revestidos (SMAW) foi desenvolvido no início do século XX. Nesse processo a união é obtida pela fusão localizada através do aquecimento por um arco elétrico estabelecido entre um eletrodo revestido consumível e a peça. Mesmo sendo um processo de soldagem de menor produtividade quando comparado a soldagem MIG/MAG (GMAW) e com arames tubulares (FCAW) ele continua sendo, na atualidade, uma alternativa interessante em operações de fabricação e manutenção. Esse fato está associado, principalmente, a sua versatilidade. Os eletrodos podem ser classificados, quanto às matérias primas empregadas no revestimento, em: rutílicos, celulósicos, básicos ou oxidantes. Em soldagens onde é necessário garantir altos níveis de sanidade do metal de solda, ou seja, de grande responsabilidade, é recomendado o emprego de eletrodos do tipo básico. Sua utilização proporciona a obtenção de soldas caracterizadas por propriedades mecânicas diferenciadas e baixos teores de hidrogênio difusível (inferiores a 8ml/100g de metal depositado). Entretanto, o caráter higroscópico de alguns dos principais componentes do revestimento desse eletrodo (calcário e a fluorita), torna necessária a adoção de cuidados especiais antes de sua utilização visando evitar a incorporação de hidrogênio ao metal de solda. Esses cuidados incluem a armazenagem em condições controladas, secagem e manutenção em estufas (1). Estudos recentes realizados por Fichel et al. (2) indicaram a viabilidade técnica do emprego, na soldagem subaquática molhada, de eletrodos revestidos rutílicos onde o aglomerante tradicional foi substituído por polímeros. A utilização dessa nova tecnologia permitiu a obtenção de eletrodos com revestimento resistente à água. A redução ou eliminação total da secagem durante a fabricação desses eletrodos (conforme Figura 1) possibilitou também redução no custo de produção. Figura 1. Fluxograma de produção dos eletrodos revestidos convencionais e impermeáveis.

Os resultados satisfatórios obtidos motivaram o desenvolvimento de eletrodos impermeáveis básicos para soldagem convencional. Nessa aplicação, para eliminar uma das principais fontes de hidrogênio, é necessário garantir que o revestimento dos eletrodos apresente baixos teores de umidade (3). Vaz et al ( 4 ) desenvolveram, em escala de laboratório, um eletrodo revestido impermeável de baixo hidrogênio. Como ponto de partida foi adotada a fórmula do eletrodo revestido convencional classe E7018. Ajustes foram realizados na fórmula visando à obtenção de um consumível com características operacionais mínimas necessárias ao seu emprego. A análise metalográfica preliminar do metal de solda indicou microestrutura com morfologia e constituintes usuais. Entretanto, foi encontrada uma maior fração volumétrica de ferrita acicular que a usualmente observada no metal de solda depositado por eletrodos revestidos básicos classe E7018. O objetivo desse estudo foi avaliar o metal de solda depositado pela formulação do eletrodo revestido de melhor desempenho no estudo de Vaz et al ( 4 ). O metal de solda produzido foi submetido à análise química e metalográfica, ensaio de hidrogênio difusível, tração (visando determinar limite de escoamento, resistência e alongamento) e tenacidade ao impacto (Charpy entalhe V). 2 MATERIAL E MÉTODOS Para avaliação da estrutura e propriedades do metal de solda foram produzidos, em escala industrial, eletrodos revestidos impermeáveis utilizando a formulação de melhor desempenho do estudo de Vaz et al ( 4 ). A deposição do metal de solda para determinação da composição química foi realizada conforme proposto pela especificação AWS A5.1 (1). A análise do teor dos elementos químicos foi executada através de espectrofotometria de emissão ótica. Para a análise metalográfica, cortes transversais na parte central do cordão de solda foram executados e amostras foram retiradas. Essas foram lixadas, polidas, atacadas em Nital 2%, levadas ao microscópio ótico e fotografadas com ampliação de até 1000 vezes. Metalografia quantitativa foi realizada com o intuito de verificar o percentual de ferrita acicular no metal de solda depositado de acordo com a metodologia proposta pelo IIW (4). A dureza do metal de solda foi feita empregando o método Vickers com carga de 100g. O teor de hidrogênio difusível do metal de solda foi determinado através de cromatografia gasosa conforme AWS A4.3 (5). Ensaios foram realizados com eletrodos impermeáveis logo após sua produção e após sua exposição à atmosfera por um período de 30 dias. Como não foi monitorada a umidade relativa do ambiente durante o período de exposição, foi determinado o teor de hidrogênio do metal de solda depositado por eletrodos classe E7018 imediatamente após a realização da secagem conforme recomendado pelo fabricante e após 30 dias de exposição desses sob as mesmas condições atmosféricas do eletrodo impermeável.

Chapas de teste para retirada dos corpos de prova destinados a realização dos ensaios de tração e impacto do metal de solda foram soldadas conforme proposto pela especificação AWS A5.1 ( 1 ) (Figura 2 ). Fonte: AWS A5.1. Figura 2. Chapa de teste para retirada de corpos de prova de tração e impacto do metal de solda. (dimensões em polegadas). 3 RESULTADOS A Tabela 1 apresenta os resultados da análise química do metal de solda depositado pelo eletrodo impermeável e pelo eletrodo E7018 padrão. São apresentados também os valores especificados para eletrodos da classe E7018. Tabela 1. Análise química em peso do metal de solda depositado pelo eletrodo impermeável. Eletrodo Eletrodo E7018 Elemento Especificação E7018* Impermeável padrão C 0,16 0,07 0,15 Si 0,67 0,55 0,75 Mn 1,29 1,40 1,6 P 0,03 0,03 0,035 S 0,01 0,01 0,035 Cr 0,03 0,02 0,2 Ni 0,01 0,01 0,3 Mo 0,01 0,01 0,3 V 0,01 0,01 0,08 Mn+Cr+V+Ni+Mo 1,35 1,45 1,75 * Valores máximos estabelecidos por norma. A Figura 3 apresenta o aspecto visual do cordão de solda depositado com o eletrodo revestido impermeável e com o eletrodo básico convencional classe E7018. Ambos cordões foram produzidos pelo mesmo soldador em nas mesmas condições de soldagem para ambos tipos de eletrodos.

(A) (B) Figura 3. Aspecto visual do cordão de solda depositado sobre chapa com eletrodo impermeável (A) e classe E7018 padrão (B). A Figura 4 apresenta a macrografia da seção transversal do cordão de solda depositado sobre chapa com eletrodo revestido impermeável, indicando as regiões transversais ao cordão onde foram realizadas análises microestruturais. Na Figura 5 são apresentadas, com ampliação de 100, 200, 500 e 1000 vezes, as microestruturas correspondentes. TC CC BC Figura 4. Macrografia do metal de solda depositado pelo eletrodo revestido impermeável. A fração volumétrica de ferrita acicular nas diferentes regiões do metal de solda é apresentada na Figura 6 e a Tabela 2 apresenta os valores das medições de dureza Vickers (HV100) desse constituinte.

Ferrita acicular (%) Figura 5. Microestrutura do metal de solda depositado pelo eletrodo revestido impermeável. Ampliação: 100, 200, 500 e 1000x. 100 90 E7018 Padrão Impermeável 80 70 60 50 40 30 20 10 0 Base do cordão Centro do cordão Topo do cordão Base do cordão Centro do cordão Topo do cordão Posição Figura 6. Fração volumétrica de ferrita acicular no metal de solda.

Tabela 2. Dureza HV100 da ferrita acicular. 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 Média 274 269 261 255 251 285 274 275 279 252 286 277 270 A tabela 3 apresenta os resultados de propriedades mecânicas (limite de escoamento, de resistência, alongamento, redução de área e tenacidade ao impacto) do metal de solda depositado com os eletrodos impermeável e E7018 convencional além dos valores exigidos pela especificação AWS (1). As superfícies fraturadas dos corpos de prova de Charpy ensaiados a -29 C e -45 C são apresentadas na figura 6. Tabela 3. Propriedades mecânicas do metal de solda (limite de escoamento, resistência, alongamento e tenacidade ao impacto). Eletrodo Eletrodo E7018 Ensaio de tração Especificação E7018 impermeável convencional* Limite de resistência 678 MPa 530-590MPa 490MPa** Limite de escoamento 554 MPa - 400MPa** Alongamento 29 % 26-30% 22%** Redução de área 67 % - Tenacidade ao impacto (Charpy entalhe V) Eletrodo impermeável Valores individuais Média Eletrodo E7018 Especificação E7018 (-30 C) 56J 62J 74J 64J 90-120J 27J** (-45 C) 30J 48J 52J 43J Não aplicável Não aplicável (*) Valores fornecidos pelo fabricante (7). (**) Valor mínimo Figura 7. Superfície de fratura dos corpos de prova de impacto (Charpy - V). No gráfico da Figura 8 são apresentados os valores de hidrogênio difusível do metal de solda dos eletrodos convencional e impermeável exatamente após a fabricação e após trinta dias de exposição à atmosfera sob as mesmas condições de temperatura e umidade relativa.

Hidrogênio difusível (ml/100g de metal depositado) 30 25 Impermeável Padrão E7018 20 15 10 5 0 Após fabricação 30 dias após fabricação Após fabricação 30 dias após fabricação Figura 8. Teor de hidrogênio do metal de solda dos eletrodos revestidos impermeável e convencional e classe E7018. 4 DISCUSSÃO Pode-se observar, analisando os resultados apresentados na Tabela 1, que a composição química do metal de solda depositado com eletrodos impermeáveis encontra-se dentro dos limites especificados para a classe E7018. Em comparação a composição química do metal de solda depositado com o eletrodo revestido convencional classe E7018 somente foi verificada variação no teor de carbono. Analisando a Figura 3 pode-se verificar que o aspecto visual do cordão de solda depositado pelo eletrodo impermeável é similar ao depositado pelo eletrodo classe E7018. Entretanto, durante a soldagem, foi possível observar que a abertura e a manutenção do arco com eletrodos impermeáveis foram realizadas com maior facilidade por parte do soldador quando comparado com o eletrodo revestido E7018. Tem-se que a microestrutura de um cordão de solda depositado por eletrodos revestidos do tipo básico E7018 é constituída principalmente por: ferrita acicular - AF, ferrita alotromórfica de contorno de grão PF(G) e de segunda fase alinhada - FS(A) (7). A análise do gráfico da Figura 6 permite verificar que a fração volumétrica de ferrita acicular no metal de solda depositado pelo eletrodo impermeável é superior, para regiões equivalentes do metal de solda, quando comparada a do eletrodo classe E7018. Como principal conseqüência, observa-se redução na fração volumétrica dos demais constituintes no metal de solda depositado pelo eletrodo impermeável. A presença de ferrita acicular em soldas é sempre desejável, pois esta fase está associada a uma maior tenacidade. Medidas de dureza Vickers realizadas em regiões do metal de solda onde foi observada a ocorrência de ferrita acicular indicaram coerentes com os obtidos por Babu ( 8 ). O limite de escoamento e resistência do metal de solda depositado com o eletrodo revestido impermeável encontram-se bem acima dos mínimos especificados para eletrodos classe E70XX (400 Mpa e 490 MPa respectivamente) e dos valores típicos para eletrodos E7018 informados pelo fabricante. Todavia não foi notado, quando comparado aos valores típicos do eletrodo E7018, redução no alongamento percentual. Avaliando a composição química do metal de solda poderíamos associar

o aumento nos limites de resistência e escoamento aos teores mais altos de silício e carbono do metal de solda depositado pelo eletrodo impermeável em comparação ao eletrodo convencional. A energia absorvida média no teste de impacto à -30 o C foi de 64J e a -45 o C foi de 43J. Esses resultados estão muito além do esperado para um metal de solda produzido por eletrodos revestidos classes E7018 (mínimo de 27J a -30 C (1) ) e E7018-1 (mínimo de 27J a -45 (1) ). Observa-se que os níveis de hidrogênio difusível encontrados no metal de solda produzido com eletrodo impermeável, tanto nos testados imediatamente após a fabricação quanto após trinta dias de exposição à atmosfera, são similares e muito inferiores aos encontrados no metal de solda produzido com eletrodos classe E7018, principalmente após exposição ao ambiente. Os valores obtidos para os eletrodos impermeáveis em ambas as condições (inferiores a 4ml/100g de metal depositado) são considerados excepcionalmente baixos para quando comparados a eletrodos básicos clássicos (geralmente inferiores a 8ml/100g de metal depositado). Destacase ainda, pelos resultados obtidos nos ensaios de hidrogênio difusível, que os eletrodos impermeáveis não necessitam de secagem em fornos e manutenção dos mesmos em estufas antes de sua aplicação. 5 CONCLUSÃO Os resultados obtidos nesse trabalho permitem afirmar que: A composição do metal de solda depositado com os eletrodos impermeáveis se encontra dentro dos limites especificados para eletrodos da classe E7018; Há uma tendência, que deve ainda ser melhor compreendida, de obtenção de microestruturas com maior quantidade de ferrita acicular (superior a 25%) em comparação ao eletrodo revestido classe E7018; Os teores de hidrogênio difusível no metal de solda produzidos com os eletrodos impermeáveis são extremamente baixos, estando abaixo dos encontrados no metal de solda depositado por eletrodos classe E7018; A exposição dos eletrodos impermeáveis por períodos de tempo relativamente longos (30 dias) sob condições adversas não proporcionou aumento no teor de hidrogênio difusível do metal de solda como foi observado no caso do eletrodo classe E7018. As propriedades mecânicas do metal de solda depositado pelo eletrodo impermeável, ou seja, limites de resistência, escoamento, alongamento e tenacidade ao impacto foram satisfatórios quando comparados aos mínimos requeridos para os eletrodos classe E7018; A energia absorvida no ensaio de impacto está coerente com a microestrutura do metal de solda. 6 AGRADECIMENTOS Os autores gostariam de agradecer ao Laboratório de Robótica, Soldagem e Simulação da UFMG, ao CNPq e a empresa ELBRAS Eletrodos do Brasil.

REFERÊNCIAS 1 AMERICAN WLEDING SOCIETY, AWS A5.1: Specification for Carbon Steel Electrodes for Shielded Metal Arc Welding, 2004 2 FICHEL, I., DALLA, A., ROS, D.A., FELIZARDO, I, TURANI, C., GONZÁLEZ, L.P., PÉREZ, M.R., PUCHOL, R.Q., PESSOA, E.C.P., BRACARENSE, A.Q. Desenvolvimento de Eletrodos Revestidos Impermeáveis. In: XXXV Congresso Nacional de Soldagem, Piracicaba, SP, 2009. 3 BAILEY, N., COE, F.R., GOOCH, T.G., HART, P. H. M., JENKINS, N., PARGETER, R.J., Welding Steels without hydrogen cracking 4 VAZ, CLAUDIO TURANI; BRACARENSE, ALEXANDRE QUEIROZ; BERNARDINA, AURECYL DALLA; PESSOA, EZEQUIEL C. P.; FELIZARDO, IVANILZA. Desenvolvimento de Eletrodos Revestidos do Tipo Baixo Hidrogênio Impermeáveis. In: XXXVI CONSOLDA, 2010, Recife. Anais... São Paulo: Associação Brasileira de Soldagem, 2010. 5 INTERNATIONAL INSTITUTE OF WELDING, IIW Doc. IX-1533-88: Guide to the light microscope examination of ferritic steel weld metals, 1988. 6 AMERICAN WELDING SOCIETY, AWS A4.3: Standard Methods for Determination of the Diffusible Hydrogen Content of Martensitic, Bainitic, and Ferritic Steel Weld Metal Produced by Arc Welding, 2006. 7 ELBRAS ELETRODOS DO BRASIL LTDA., Catálogo de eletrodos revestidos, Disponível em: http://www.elbras.com.br/tabelas/catalogo.pdf, Acesso em: 07 de abril de 2011. 8 BABU, S.S., BHADESHIA, H.K.D.H. Transition from Bainite to Acicular Ferrite in Reheated Fe- Cr-C Weld Deposits. Materials Science and Techonology, v.6, p. 1005-1019, 1990.