Quadro legal 5. TRABALHO E EMPREGO A Constituição Portuguesa estipula (CRP, art.º 58º), que incumbe ao Estado garantir o direito ao trabalho assegurando a igualdade de oportunidades na escolha da profissão ou género de trabalho e condições para que não seja vedado ou limitado, em função do sexo, o acesso a quaisquer cargos, trabalho ou categorias profissionais. O artigo 22º do Código do Trabalho (Lei nº 99/2003, de 27 de Agosto), garante o direito à igualdade de oportunidades e de tratamento no acesso ao emprego, à formação e promoção profissionais e às condições de trabalho. A Lei nº 9/2001, de 21 de Maio, veio reforçar os mecanismos de fiscalização e punição das práticas laborais discriminatórias em função do sexo. Pela Lei nº 99/2003, de 27 de Agosto (Código do Trabalho), considera-se como contra-ordenação muito grave, a circunstância da trabalhadora ou candidata a emprego ser prejudicada ou privada de qualquer direito, em razão do sexo, ou a existência de qualquer prática discriminatória, directa ou indirecta, em função do sexo. Situações de assédio são consideradas, igualmente, como contra-ordenações muito graves. Toda a exclusão ou restrição de acesso ao emprego, actividade profissional e formação em função do sexo, é considerada como uma contra-ordenação muito grave. Medidas de acção positiva - o artigo 25º do Código do Trabalho, determina que não são consideradas discriminatórias as medidas de carácter temporário concretamente definido de natureza legislativa que estabeleçam uma preferência em função, entre outras, do sexo, imposta pela necessidade de corrigir uma situação factual de desigualdade que persista na vida social e que tenha o objectivo de assegurar o exercício, em condições de igualdade, do que se encontra previsto na legislação laboral. A Lei nº 35/2004, de 29 de Julho, que regulamenta a Lei nº 99/2003, de 27 de Agosto, estabelece a definição de discriminação indirecta, a qual existe quando uma disposição, critério ou prática aparentemente neutra seja susceptível de colocar pessoas numa posição de desvantagem em relação a outras, em razão, por exemplo, do sexo, estado civil ou situação familiar. Em situações de qualquer prática discriminatória cabe a quem alegar a discriminação fundamentá-la, incumbindo ao empregador provar que as diferenças de condições de trabalho não assentam em nenhum dos factores de discriminação previstos na lei (ónus da prova). Pela Resolução do Conselho de Ministros n.º 183/2005, de 28 de Novembro, foi aprovado o Programa Nacional de Acção para o Crescimento e o Emprego 2005-2008 (PNACE), em que as questões da igualdade de oportunidades assumem uma 1
perspectiva transversal com abordagem específica na aproximação do ciclo de vida. O Plano Nacional de Emprego (2005-2008) elenca diversas linhas de intervenção no âmbito da prioridade Promover a igualdade de oportunidades no mercado de trabalho entre homens e mulheres. Essas linhas de intervenção são operacionalizadas com a aplicação de diversos instrumentos que se encontram enunciados. Alguns dados significativos Indicadores de carácter geral (2006): emprego feminina dos 15 aos 64 anos 62,3 emprego masculina dos 15 aos 64 anos 73,8 actividade feminina 47,7 actividade masculina 58,2 desemprego feminina 9,0 desemprego masculina 6,5 da população activa 46,6 do emprego 45,9 do desemprego 54,5 Fontes: Aspectos Estruturais do Mercado de Trabalho, Observatório do Emprego e Formação Profissional e Estatísticas do Emprego (média anual 2006), INE. Emprego Em 2006 era a seguinte a condição perante o trabalho das mulheres portuguesas com mais de 15 anos (em milhares): Activas 2 602,9 Empregadas 2 369,8 Desempregadas 233,1 Estudantes 394,4 Domésticas 588,9 Reformadas 898,0 Outras inactivas 177,9 Fonte Inquérito ao Emprego (média anual, 2006), INE. A taxa de actividade por grupos etários, comparativamente com os homens, era a seguinte: Grupo etário Mulheres Homens 15-24 38,7 46,6 25-34 86,6 92,8 2
35-44 84,7 94,6 45-64 61,7 78,3 65 e mais 13,2 24,6 Entre os países da União Europeia, Portugal está entre os que apresentam mais elevada participação feminina na actividade profissional, conforme se constata no quadro seguinte. Deve assinalar-se, ainda, que nos países que ultrapassam Portugal no que se refere à taxa de actividade feminina (entre os 15 e os 64 anos), a percentagem de mulheres com emprego a tempo parcial é, de modo geral, bastante mais elevada que no nosso país. Eram os seguintes os valores, no 3º Trimestre de 2005: Estados-Membros actividade feminina (15-64 anos) Emprego a tempo parcial em % do emprego total (15 anos e mais) Bélgica 59,5 40,1 República Checa 62,7 8,5 Dinamarca 76,3 33,2 Alemanha 67,0 43,1 Estónia 66,2 8,4 Grécia 54,7 9,2 Espanha 58,2 22,7 França 64,4 30,4 Irlanda 62,1 22,4 Itália 49,6 24,8 Chipre 62,3 14,0 Letónia 64,8 9,7 Lituânia 64,7 9,0 Luxemburgo - - Hungria 55,4 5,9 Malta 37,0 21,2 Holanda 70,1 75,0 Áustria 66,3 39,3 Polónia 59,1 14,9 Portugal 68,1 15,9 Eslovénia 66,6 10,6 Eslováquia 61,2 4,1 Finlândia 73,0 17,2 Suécia 76,9 37,8 Reino Unido 69,0 42,5 Fonte: EUROSTAT, Statistiques en bref, Population et Conditions Sociales 6/2006 A estrutura do emprego segundo a situação na profissão era a seguinte, em 2006: Situação na profissão Mulheres Homens 3
Por conta de outrem 1 825,1 77,0 2 072,9 74,3 46,8 Por conta própria como isolado 412,6 17,4 478,8 17,2 46,3 Por conta própria como empregador 75,7 3,2 204,3 7,3 27,0 Familiar não remunerado e outros 56,4 2,4 33,6 1,2 62,7 2 369,8 100,0 2 789,7 100,0 45,9 A estrutura do emprego segundo a profissão era: Profissão Mulheres Homens Quadros superiores da administração pública, dirigentes e quadros superiores de empresa 130,4 5,5 266,8 9,5 32,8 Especialistas das profissões intelectuais e científicas 256,4 10,8 192,2 6,9 57,2 Técnicos e profissionais de nível intermédio 205,2 8,7 247,5 8,9 45,3 Pessoal administrativo e similares 301,9 12,7 191,1 6,9 61,2 Pessoal dos serviços e vendedores 507,6 21,4 235,2 8,4 68,3 Agricultores e trabalhadores qualificados da agricultura e pescas 275,2 11,6 284,0 10,2 49,2 Operários, artífices e trabalhadores similares 214,8 9,1 800,0 28,7 21,2 Operadores de instalações e máquinas e trabalhadores da montagem 77,4 3,3 333,5 11,9 18,8 Trabalhadores não qualificados 398,3 16,8 212,2 7,6 65,2 Forças Armadas 2,6 0,1 27,2 1,0 8,7 2 369,8 100,0 2 789,7 100,0 45,9 Os empregados por conta de outrem, quanto ao vínculo laboral, repartiam-se da seguinte forma: Tipo de vínculo Mulheres Homens Sem termo 1 428,8 78,3 1 668,0 80,4 46,1 Com termo 315,8 17,3 318,3 15,4 49,8 Outros 80,5 4,4 86,6 4,2 48,2 1 825,1 100,0 2 072,9 100,0 46,8 Empregados, segundo a duração do trabalho e o sexo: Duração do trabalho Mulheres Homens Feminização 4
Tempo completo 1 994,7 84,2 2 582,4 92,6 43,6 Tempo parcial 375,1 15,8 207,3 7,4 64,4 2 369,8 100,0 2 789,7 100,0 45,9 A distribuição de homens e mulheres por sectores de actividade era a seguinte: Actividade principal (CAE-Rev. 2.1) Mulheres Homens Agricultura, produção animal, 292,2 12,3 295,5 10,6 49,7 caça e silvicultura Pesca 1,3 0,1 14,9 0,5 8,0 Indústrias extractivas 1,4 0,1 16,2 0,6 8,0 Indústrias transformadoras 414,9 17,5 565,5 20,3 42,3 Produção e distribuição de 5,1 0,2 21,0 0,8 19,5 electricidade, gás e água Construção 25,1 1,1 527,9 18,9 4,5 Comércio por grosso e a retalho, reparação de veículos automóveis e de bens de uso pessoal e doméstico 331,6 14,0 419,7 15,0 44,1 Alojamento e restauração 171,9 7,2 108,1 3,9 61,4 (restaurantes e similares) Transportes, armazenagem e 60,8 2,5 178,8 6,4 25,4 comunicações Actividades financeiras 37,7 1,6 52,4 1,9 41,8 Actividades imobiliárias, 134,9 5,7 159,6 5,7 45,8 alugueres e serviços prestados às empresas Administração Pública, Defesa e 135,1 5,7 219,2 7,8 38,1 Segurança Social Obrigatória Educação 241,3 10,2 77,4 2,8 75,7 Saúde e acção social 270,1 11,4 59,7 2,1 81,9 Outras actividades de serviços 94,8 4,0 70,1 2,5 57,5 colectivos, sociais e pessoais Famílias com empregados 150,2 6,3 2,2 0,1 98,6 domésticos Organismos internacionais e 1,4 0,1 1,5 0,1 48,3 outras instituições extraterritoriais Total 2 369,8 100,0 2 789,7 100,0 45,9 Desemprego Em 2006 era a seguinte a estrutura do desemprego: Procura de emprego Mulheres Homens 5
À procura de 1º emprego 33,2 14,2 25,6 13,1 56,5 À procura de novo emprego 199,8 85,8 169,2 86,9 54,1 Total 233,0 100,0 194,8 100,0 54,5 desemprego 9,0 6,5 A procura do primeiro emprego afecta mais as mulheres do que os homens, o que indicia a maior dificuldade das jovens, comparativamente com os jovens, em aceder ao mercado de trabalho. Com efeito, são as seguintes as taxas de desemprego por grupos etários, segundo o sexo: Grupos etários Mulheres Homens 15-24 18,4 14,5 25-34 11,5 6,9 35-44 7,8 5,0 45 e mais 5,6 5,1 Total 9,0 6,5 Quanto à distribuição do desemprego segundo a duração da procura de emprego, por mulheres e por homens, era a seguinte: Duração da procura de emprego Mulheres Homens À procura de emprego há 113,9 49,0 91,1 47,0 55,6 menos de 12 meses À procura de emprego há 12 118,5 51,0 102,6 53,0 53,6 ou mais meses Total 232,4 100,0 193,7 100,0 54,5 desemprego 9,0 6,5 Também a estrutura do desemprego, segundo o nível de habilitação e o sexo, é significativa (dados de 2006): Desemprego registado segundo o nível de instrução Mulheres Homens Até ao Básico - 3º Ciclo 160,5 68,9 147,0 75,5 52,2 Secundário e pós-secundário 39,6 17,0 32,3 16,6 55,1 Superior 32,9 14,1 15,5 7,9 68,0 TOTAL 233,1 100,0 194,8 100,0 54,5 6
É de notar a maior representatividade das mulheres entre os desempregados com nível de instrução superior, expressando a maior dificuldade que as mulheres enfrentem no mercado de trabalho, mesmo detendo qualificações académicas de grau superior. Remunerações A remuneração média mensal de base recebida pelas mulheres em 2004 foi de 647,32, e a dos homens 808,68 1. O que significa que a remuneração média das mulheres foi 80,0% da dos homens, ou, tomando como referência a remuneração feminina, verifica-se que os homens receberam 124,9% do que receberam as mulheres. Se em vez das remunerações considerarmos os ganhos 2, a diferença é ainda mais sensível: os ganhos das mulheres representam, em média, 76,8% dos dos homens, ou, dito de outra forma, os dos homens representam 130,2% dos das mulheres. Quando se analisam as remunerações e os ganhos por níveis de qualificação verificase que, ao contrário do que muitas vezes se pensa, as diferenças não se esbatem nos níveis mais elevados da hierarquia profissional: Remunerações médias de base mensais segundo os níveis de qualificação Níveis de qualificação Remuneração média de base feminina Remuneração média de base masculina % da remuneração feminina em relação à masculina Quadros superiores 1 596,73 2 163,18 73,8 Quadros médios 1 224,36 1 422,47 86,1 Encarregados, contramestres, chefes de equipa 853,09 988,23 86,3 Profissionais altamente qualificados 998,80 1 125,67 88,7 Profissionais qualificados 572,59 643,21 89,0 Profissionais semi-qualificados 475,14 553,68 85,8 Profissionais não qualificados 422,65 471,20 89,7 Praticantes e aprendizes 411,59 432,71 95,1 Nível desconhecido 547.80 665,90 82,3 TOTAL 647,32 808,68 80,0 Fonte: Quadros de Pessoal, Outubro de 2004, DGEEP do Ministério do Trabalho e da Solidariedade Social. Ganhos médios mensais segundo os níveis de qualificação Níveis de qualificação Ganho médio feminino Ganho médio masculino % do ganho feminino em relação ao masculino Quadros superiores 1 810,00 2 473,63 73,2 Quadros médios 1 396,98 1 691,44 82,6 Encarregados, contramestres, chefes de equipa 996,84 1 196,08 83,3 Profissionais altamente qualificados 1 185,60 1 413,91 83,9 1 Quadros de Pessoal, Outubro de 2004, DGEEP do Ministério do Trabalho e da Solidariedade Social. São abrangidas todas as entidades com trabalhadores por conta de outrem, exceptuando a Administração Pública (em que são apenas considerados os trabalhadores em regime de contrato individual de trabalho), entidades que empregam trabalhadores rurais não permanentes e trabalhadores domésticos. 2 Os ganhos incluem, além da remuneração base, os prémios e subsídios regulares e a remuneração por trabalho suplementar. 7
Profissionais qualificados 668,40 783,60 85,3 Profissionais semi-qualificados 543,05 685,28 79,2 Profissionais não qualificados 480,65 567,84 84,6 Praticantes e aprendizes 468,25 500,60 93,5 Nível desconhecido 629,32 818,29 76,9 TOTAL 747,81 973,85 76,8 Fonte: Quadros de Pessoal, Outubro de 2004, DGEEP do Ministério do Trabalho e da Solidariedade Social. Algumas profissões de acesso recente das mulheres: Profissões Mulheres Total Médicas (2006) 17 224 36 550 47,1 Advogadas (2006) 12 516 25 052 50,0 Diplomatas (2005) 142 503 28,2 Magistradas Judiciais (2005) (dados provisórios) Magistradas do Min.Público (2005) (dados provisórios) 852 589 1 807 1 180 47,1 49,9 Polícia de Segurança Pública efectivos (2006) 1 466 21 592 6,8 Guarda Nacional Republicana efectivos (2005) 895 25 438 3,5 Militares (não inclui o serviço militar obrigatório)(2006) Força Aérea Exército Marinha 1 009 2 715 675 6 284 20 058 10 175 16,0 13,5 6,6 Fontes: Ordem dos Médicos, Ordem dos Advogados, Ministério dos Negócios Estrangeiros, Gabinete de Política Legislativa e Planeamento do Ministério da Justiça, Polícia de Segurança Pública, Guarda Nacional Republicana e Helena Carreiras, Igualdade de oportunidades nas Forças Armadas Portuguesas - O papel das políticas de integração de género, Comunicação apresentada no Instituto de Defesa Nacional, em 27.06.07. 8