CARACTERIZAÇÃO FÍSICA E MECÂNICA DE PELLETS PRODUZIDOS COM ADIÇÃO DE CASCA NA MADEIRA DE EUCALYPTUS UROPHYLLA

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Transcrição:

CARACTERIZAÇÃO FÍSICA E MECÂNICA DE PELLETS PRODUZIDOS COM ADIÇÃO DE CASCA NA MADEIRA DE EUCALYPTUS UROPHYLLA Nívea S. A. LIMA 1, Angélica de C. O. CARNEIRO 1, Carlos M. S. da SILVA 1, Mateus A. de MAGALHÃES 1, Fernanda B. FERREIRA 1 e Isadora S. CORRADI 1 1 Departamento de Engenharia Florestal, Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, Minas Gerais, Brasil RESUMO: O objetivo do presente estudo foi avaliar a influência da adição de casca nas propriedades físicas e mecânicas de pellets produzidos com madeira de Eucalyptus urophylla. A madeira e a casca, após serem secas ao ar livre foram reduzidas a partículas em um moinho-martelo e selecionadas entre as peneiras sobrepostas de 1 e 3mm.Os pellets foram produzidos em uma prensa peletizadora laboratorial, divididos em seis misturas de madeira de E.urophylla com adição de casca nas proporções de 0, 20, 40, 60, 80 e 100%. Para qualificação físico-mecânica dos pellets, foram determinadas a umidade de equilíbrio higroscópico em base seca, densidade a granel e dureza. Os resultados foram comparados com a norma de comercialização européia. A umidade de equilíbrio higroscópico e a dureza dos pellets aumentaram significativamente com acréscimo de casca na mistura. Já a densidade a granel variou sem apresentar uma tendência definida. Pellets de madeira de E. urophylla produzidos com adição de casca atendem a norma europeia de qualidade quanto à densidade a granel e umidade, evidenciando o seu potencial de produção e comercialização. Palavras-chave: densidade a granel, resistência, umidade. ABSTRACT: The objective of this study was to evaluate the influence of the addition of bark on physical and mechanical properties of pellets produced with Eucalyptus urophylla. The wood and the bark, after being air dried, were reduced to particles in a hammer mill and selected between overlapped sieves 1 and 3mm. Pellets were produced in a pelletizer Laboratory press, divided into six wood mixtures of E. urophylla shell with added in proportions of 0, 20, 40, 60, 80 and 100%. For physical-mechanical qualification of pellets, it was determined moisture equilibrium moisture content on a dry basis, bulk density and hardness. The results were compared with the standard European market. The moisture equilibrium moisture content and hardness of pellets increased significantly in shell increase in the mix. Bulk density varied without showing a definite trend. Pellets of E. urophylla wood produced with addition of bark attend the European standard of quality as the bulk density and moisture, demonstrating their potential for production and commercialization. Keywords: bulk density, resistance, moisture. 1. INTRODUÇÃO Os pellets de madeira são classificados como combustíveis sólidos granulados de formato regular e de alta densidade. A produção de pellets é uma tecnologia de compactação

capaz de converter a biomassa vegetal em um material com melhores características de manuseio e de combustão. O mercado de pellets está relativamente consolidado em alguns países da Europa e da América do Norte, onde já possui normas específicas de qualidade para sua comercialização, como a norma DIN EN 14961-2(2011). A matéria-prima utilizada por esses países advém basicamente de biomassa residual, principalmente, de restos do processamento de pinos em serrarias. O Brasil possui um grande potencial nesse setor, apesar do cenário atual de produção e comercialização de pellets ainda ser muito incipiente no país. A razão desse otimismo está no fato do Brasil ser um dos maiores produtores agrícolas e florestais do mundo, que geram grandes volumes reaproveitáveis de resíduos, além do desenvolvido setor da eucaliptocultura que poderia atender a demanda em madeira (IBÁ, 2014). Todavia, os resíduos normalmente apresentam altos teores de cinzas, não atendendo as rígidas normas de exportação, sendo destinado apenas para o mercado interno que ainda precisa ser consolidado. No momento, a madeira de eucalipto é a única biomassa brasileira prontamente disponível, em quantidade e qualidade, para atender o mercado de pellets tanto nacional quanto internacional. Entretanto, destinar um plantio de eucalipto exclusivamente para a produção de pellets não é uma opção economicamente tão vantajosa. O custo dessa matéria-prima aumentaria os custos de produção, que aliados aos altos custos de transporte, tornariam os pellets brasileiros poucos competitivos dentro do mercado internacional e, até mesmo, dentro do próprio mercado brasileiro. A solução é utilizar misturas com os demais resíduos florestais ao invés de apenas madeira. A casca de eucalipto, que segundo Oliveira et al. (1999) pode chegar a mais de 20% da massa seca do tronco, é o resíduo com maior potencial de utilização. Pode ser obtida desde as atividades de colheita e extração até o processamento final, onde normalmente é descartada. Porém, a casca possui composição química diferente da madeira, como altos teores de extrativos e de cinzas (BRAGATO, 2010). Nesse contexto, o objetivo do presente estudo foi avaliar a influência da adição de casca nas propriedades físicas e mecânicas de pellets produzidos com madeira de Eucalyptus urophylla. 2. MATERIAL E MÉTODOS 2.1 Matéria prima Foi utilizada uma única árvore de Eucalyptus urophylla, com sete anos de idade, eliminando-se todos os galhos. O tronco foi seccionado em pequenas toras, descascado e rachado em pedaços menores em rachador de lenha RTI 01. Tanto a casca quanto a madeira foram deixadas secando separadas, ao ar livre, até atingir massa constante. Posteriormente, foram reduzidas a partículas de um moinho-martelo e selecionadas entre as peneiras sobrepostas de 1 e 3mm. 2.2 Produção dos pellets Os pellets foram produzidos em uma prensa peletizadora laboratorial da marca AmandusKahl, modelo 14-175 com capacidade para produção de 50 kg.h -1, com adaptação externa para adição de vapor. A temperatura média de peletização foi de 95ºC. Para atingir essa temperatura em menor tempo, a matriz de peletização foi pré-aquecida em óleo a 200ºC por aproximadamente

30 minutos para posterior montagem na prensa, minimizando o uso de partículas para o aquecimento. Foram produzidos pellets com seis misturas de madeira de E. urophylla com adição de casca de: T1 0%; T2 20%; T3 40%; T4 60%; T5 80%; e T6 100%. 2.3 Qualificação físico-mecânica dos pellets Para determinação da umidade de equilíbrio higroscópico, os pellets foram acondicionados a uma câmara climática a temperatura de 20ºC e umidade relativa de 65%, até massa constante. A determinação da umidade dos pellets foi feita de acordo com a norma DIN EN 14774-2 (2009), em base seca. A densidade a granel (kg/m³) da biomassa foi obtida de acordo com a norma DIN EM 15103 (2010). A determinação da dureza (kg) foi feita em um Durômetro para pellets da marca AmandusKahl. A verificação da adequação dos parâmetros obtidos foi feita comparando-se os resultados com a norma europeia de qualidade para pellets DIN EN 14961-2 (2011). 2.4 Delineamento experimental Os dados foram analisados segundo um Delineamento Inteiramente Casualizado com seis tratamentos. Os dados foram submetidos aos testes Cochran e Lilliefors para avaliar a homogeneidade e normalidade das variâncias, respectivamente. Posteriormente procedeu-se a análise de variância ANOVA e quando estabelecidas diferenças significativas, os tratamentos foram comparados entre si por meio do teste de Tukey a 95% de probabilidade. A análise foi realizada no software Statistica 12.0. 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO Na Tabela 1 estão apresentados os valores médios da qualificação físico-mecânica de pellets produzidos com diferentes proporções de madeira e casca. Tabela 1- Umidade de Equilíbrio Higroscópico (U.E.H), densidade a granel e dureza de pellets produzidos com diferentes proporções de madeira e casca. Tratamento % Casca U.E.H (%) Densidade (kg.m -3 ) Dureza (kg) 1 0 8,48 c 670,85 cd 29,68 d 2 20 8,48 c 659,64 d 37,68 bcd 3 40 8,27 c 677,60 cd 36,24 cd 4 60 9,28 b 701,12 ab 47,96 abc 5 80 10,12 a 724,54 a 49,48 ab 6 100 10,10 a 685,48 bc 58,32 a Médias seguidas de mesma letra minúscula não diferem entre linhas pelo teste Tukey a 5% de significância.

A umidade de equilíbrio higroscópico e a dureza dos pellets aumentaram significativamente com acréscimo de casca na mistura. Já a densidade a granel variou sem apresentar uma tendência definida, sendo a maior densidade apresentada pelos pellets feitos a partir da mistura com adição de 80% de casca. Do ponto de vista energético, a maior umidade é indesejável por apresentar correlação negativa com o potencial combustível da biomassa, já que a água reduz a quantidade total de energia que poderia ser liberada da madeira devido ao consumo energético necessário para o processo inicial de evaporação da secagem, além de aumentar os custos com transporte e armazenamento (SWITHENBANK et al. 2011). A umidade também pode prejudicar o armazenamento, contribuindo para proliferação de fungos e reduzindo a resistência mecânica dos pellets. A norma europeia de qualidade estipula valor máximo de 11,1% de umidade em base seca para os pellets de madeira, dessa forma todos os tratamentos atendem a norma. Características químicas da casca estão intimamente relacionadas com o seu poder combustível, como encontradas no estudo de BRITO & BARRICHELO (1978), no qual a casca de diferentes espécies de eucalipto apresentou maiores teores de carbono fixo, comparada à madeira, o que é desejável para utilização dos pellets. VITAL et al (1989) analisou a qualidade do carvão produzido com adição de casca de E. grandis e obteve resultados satisfatórios para o rendimento gravimétrico e em carbono fixo do carvão vegetal, mostrando mais uma possível utilidade deste resíduo. A densidade a granel variou sem uma tendência geral, mas todos os tratamentos apresentaram valores considerados elevados. A maior densidade corresponde a maior quantidade de massa e de energia por unidade de volume. Com isso, aumenta o rendimento energético durante a combustão e otimiza a logística de transporte e armazenamento. A norma europeia de qualidade de pellets exige valores mínimos de 600 kg/m³, logo todos os tratamentos obtiveram valores satisfatórios. A adição de casca influenciou positivamente no aumento da dureza dos pellets, sendo os valores médios do tratamento 100% casca praticamente o dobro dos valores do tratamento 100% madeira. A geometria e granulometria das partículas podem influenciar na resistência mecânica dos pellets. Segundo Castellano et al. (2015), partículas de menor granulometria tendem a produzir pellets mais resistentes, devido a melhor interação entre elas. Mesmo utilizando o mesmo moinho e peneira, as partículas de cascas ficaram menores, mais finas e menos duras do que as partículas de madeira, fato que facilitou a peletização, exigindo menos esforço da máquina. O aumento da dureza é vantajoso por indicar maior resistência dos pellets aos impactos mecânicos comuns durante o transporte, armazenamento e manuseio dos mesmos, diminuindo a formação de finos. 4. CONCLUSÕES Pellets de madeira de E. urophylla produzidos com adição de casca apresentam maior umidade de equilíbrio higroscópico e maior índice de dureza. De modo geral, os pellets produzidos com adição de casca de E. urophylla atenderam a norma europeia de qualidade, quanto à umidade e densidade a granel na classe A, evidenciando o seu potencial de produção e comercialização.

5. AGRADECIMENTOS Ao Departamento de Engenharia Florestal (DEF), à Universidade Ferderal de Viçosa, à FAPEMIG e ao CNPQ, 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRAGATO, J. Avaliação do potencial da casca de Eucalyptus spp. para produção de bioetanol. Tese (Doutorado em Ciências) Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz - ESALQ/USP. Piracicaba, SP. 2010. BRITO, J.O. & BARRICHELO, L.E.G. Características do Eucalipto como combustível: análise química imediata da madeira e da casca. IPEF, Piracicaba, (16): 63-70, 1978 CASTELLANO et al. Study on the effects of raw materials composition and pelletizationconditions on the quality and properties of pellets obtained from different woody and non woody biomasses. Fuel, V.139, p.629-636, 2015. DEUTSCHES INSTITUT FUR NORMUNG - DIN EN 14774-2 - Solid biofuels - Determination of moisture content - Oven dry method - Part 2: Total moisture - Simplified method. Alemanha, 2009. DEUTSCHES INSTITUT FUR NORMUNG - DIN EN 15103 - Solid biofuels - Determination of bulk density. Alemanha, 2010. DEUTSCHES INSTITUT FUR NORMUNG - DIN EN 14961-2 - Solid biofuels Fuel specifications and classes Part 2: Wood pellets for non-industrial use. Alemanha, 2011. INDÚSTRIA BRASILEIRA DE ÁRVORES IBÁ 2014. São Paulo, SP. 2014. 100 p. OLIVEIRA et al. Caracterização da madeira de sete espécies de eucaliptos para a construção civil: 1- avaliações dendrométricas das árvores. ScientiaForestalis, n.56, p.113-124, 1999. SWITHENBANK, J.; CHEN, Q.; ZHANG, X.; SHARIFI, V.; POURKASHANIAN, M. Wood would burn. Biomass and Bioenergy.V.35 (3), p.999-1007. 2011. VITAL B. R.; ANDRADE A. M.; VALENTE O. F.; CAMPOS J. C. C. Influência da casca no rendimento e na qualidade do carvão vegetal de Eucalyptus grandis. Revista do IPEF, n.41/42, p.44-49, jan./dez.1989.