AULA 3: ANÁLISE FONÊMICA EM PORTUGUÊS 1. Introdução Fonêmica

Documentos relacionados
Fonêmica. CRISTÓFARO SILVA, Thaïs. Fonética e fonologia do português: roteiro de estudos e guia de exercícios. 9. ed. São Paulo: Contexto, 2009.

APOIO PEDAGÓGICO. Fonêmica Premissas e conceitos básicos. Nívia Aniele PosLin - FALE

Objetivo, programa e cronograma da disciplina: Fonética e Fonologia do Português FLC0275

Objetivo, programa e cronograma da disciplina: Fonética e Fonologia do Português FLC0275

Fonêmica do português

REVISANDO... Articulação de consoantes e articulação de vogais. APOIO PEDAGÓGICO Prof. Cecília Toledo com

Código Nome Carga horária AT. Fonética e Fonologia da Língua Portuguesa

UNIOESTE PLANO DE ENSINO ANO DE 2017

Fonologia Gerativa. Traços distintivos Redundância Processos fonológicos APOIO PEDAGÓGICO. Prof. Cecília Toledo

Introdução à Fonologia: Traços Distintivos e Redundância

Fonética acústica: Propriedades suprassegmentais APOIO PEDAGÓGICO. KENT, Ray, READ, Charles. Análise acústica da Fala São Paulo : Cortez, 2015

fonética aula 01 SAULO SANTOS APOIO PEDAÓGICO

PLANO DE ENSINO DADOS DO COMPONENTE CURRICULAR

AVALIAÇÃO DA RELAÇÃO ENTRE TONICIDADE E DISTINÇÃO DE OCLUSIVAS SURDAS E SONORAS NO PB

LÍNGUA PORTUGUESA. Professor Bernardo Augusto. Fonética e Fonologia

A RELEVÂNCIA DA FONÉTICA/ FONOLOGIA NA APROPRIAÇÃO DA ESCRITA: ANÁLISE DE UMA ATIVIDADE DO LIVRO DIDÁTICO

Fonética articulatória. Fones consonantais

VOGAIS NASAIS EM AMBIENTES NÃO NASAIS EM ALGUNS DIALETOS BAIANOS: DADOS PRELIMINARES 1

VI SEMINÁRIO DE PESQUISA EM ESTUDOS LINGUÍSTICOS. Luiz Carlos da Silva Souza** (UESB) Priscila de Jesus Ribeiro*** (UESB) Vera Pacheco**** (UESB)

REALIZAÇÕES DAS VOGAIS MÉDIAS ABERTAS NO DIALETO DE VITÓRIA DA CONQUISTA BA

Todas as línguas do mundo têm dois tipos de estrutura: uma estrutura fonológica e uma estrutura morfossintática.

A ADAPTAÇÃO DOS SÍMBOLOS FONÉTICOS E FONOLÓGICOS DO PORTUGUÊS PARA DEFICIENTES VISUAIS

Fundamentos de Fonética. Professor: Seung Hwa Lee[s h a (l)i] 이승화 ( 李承和 ) Contato:

EXERCÍCIOS DE FONÉTICA ARTICULATÓRIA

TONICIDADE E COARTICULAÇÃO: UMA ANÁLISE INSTRUMENTAL

CLASSES DE SONS (AGRUPAMENTO DE SONS QUE PARTILHAM

Fonêmica. Seung Hwa Lee Introdução aos Estudos linguísticos I

A identificação fonêmica do discurso de estudantes brasileiros na língua russa

FONOLOGIA. [»bobu] [»bobu] este par mínimo permite-nos ver que os sons [b] e [l] têm função distintiva dentro do

Estudo das características fonético-acústicas de consoantes em coda. silábica: um estudo de caso em E/LE

Professora: Jéssica Nayra Sayão de Paula

AVALIAÇÃO INSTRUMENTAL DOS CORRELATOS ACÚSTICOS DE TONICIDADE DAS VOGAIS MÉDIAS BAIXAS EM POSIÇÃO PRETÔNICA E TÔNICA *

Lista das marcas dialetais e outros fenómenos de variação (fonética e fonológica) identificados nas amostras do Arquivo Dialetal do CLUP.

RELAÇÃO ENTRE INVENTÁRIO SEGMENTAL E TEMPLATES: ESTUDO DE CASO DE UMA CRIANÇA COM SÍNDROME DE DOWN

Características da duração do ruído das fricativas de uma amostra do Português Brasileiro

Características acústicas das vogais e consoantes

Plano de Ensino da Disciplina

A harmonização vocálica nas vogais médias pretônicas dos verbos na

O ALÇAMENTO VOCÁLICO NO FALAR BALSENSE

Aula 6 Desenvolvimento da linguagem: percepção categorial

PADRÃO FORMÂNTICA DA VOGAL [A] REALIZADA POR CONQUISTENSES: UM ESTUDO COMPARATIVO

Aula3 CONCEITOS BÁSICOS DA FONÉTICA E DA FONOLOGIA. Denise Porto Cardoso

INVESTIGAÇÃO ACERCA DOS PROCESSOS DE REESTRUTURAÇÃO SILÁBICA CVC NO PORTUGUÊS BRASILEIRO E NO INGLÊS: UMA ANÁLISE FONÉTICO-ACÚSTICA

Apresentação 11 Lista de abreviações 13. Parte I: NATUREZA, ESTRUTURA E FUNCIONAMENTO DA LINGUAGEM

O ACRE ENTRE OS GRUPOS AFRICADORES DO BRASIL. Autora: Carina Cordeiro de Melo* 1 INTRODUÇÃO

UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA - UFU INSTITUTO DE LETRAS E LINGUÍSTICA

Fonética. Primeira semana do curso de Linguística II Aula 1 Professor Alessandro Boechat de Medeiros Departamento de Linguística e Filologia

A REALIZAÇÃO DAS OCLUSIVAS [T] E [D] NA PRONÚNCIA DA ZONA RURAL DA CIDADE DE CARUARU-PE

IV - AVALIAÇÃO: provas, exercícios, elaboração de fichamentos, atividades de pesquisa e participação durante as aulas.

Aula4 TRANSCRIÇÃO FONÉTICA E FONOLÓGICA. Denise Porto Cardoso

VOGAIS NASAIS E NASALIZADAS DO PORTUGUÊS BRASILEIRO: PRELIMINARES DE UMA ANÁLISE DE CONFIGURAÇÃO FORMÂNTICA

Análise das vibrantes e líquidas laterais da língua portuguesa na fala de uma informante nativa do japonês

A grafia das consoantes biunívocas que se diferenciam pelo traço distintivo [sonoro] em textos de alunos de séries/anos iniciais

Fonética e Fonologia. Prof. Veríssimo Ferreira

RELAÇÃO ENTRE DURAÇÃO SEGMENTAL E PERCEPÇÃO DE FRICATIVAS SURDAS E SONORAS

IMPLICAÇÕES DA AMPLIAÇÃO E REDUÇÃO DO VOT NA PERCEPÇÃO DE CONSOANTES OCLUSIVAS 1

Aula2 OS TIPOS DE SONS. Denise Porto Cardoso. META Mostrar os tipos de sons da língua portuguesa produzidos pelo aparelho fonador.

Exercício 01. Nome Data. 1. Marque os segmentos consonantais que tenham a propriedade articulatória listada à esquerda (há três em cada grupo)

AS CIÊNCIAS DA LINGUAGEM 1 Leodegário A. de Azevedo Filho (UERJ e UFRJ)

Aspectos da nasalização na língua Asurini do Xingu (Tupi-Guarani)

Luciene Fernandes Bueno

O INVENTÁRIO FONÉTICO E FONOLÓGICO DOS SEGMENTOS VOCÁLICOS DA LÍNGUA URU EU WAU WAU: UMA PESQUISA PRELIMINAR

Processamento de texto escrito em Linguagem Natural para um Sistema Conversor Texto-fala. Acadêmico: Thiago M. Oechsler Orientadora: Joyce Martins

RELAÇÕES DE SIMETRIA NO SISTEMA CONSONANTAL DO PORTUGUÊS.

CENTRO LUSOVENEZOLANO DE LOS VALLES DEL TUY Centro de Língua Portuguesa de Caracas INSTITUTO CAMÕES NOME:. TURMA:. [i] ilha ['iʎɐ]

Fonologia Gerativa 1

pág Anais do XVI CNLF. Rio de Janeiro: CiFEFiL, 2012.

A INCIDÊNCIA DA VIBRANTE TAP [ɾ] E DA AFRICADA PALATO-ALVEOLAR [ʤ] NOS FALARES DOS VENDEDORES AMBULANTES-CAMELÔS DE TERESINA

o verbo "IR" possui uma forma neutra; possui também formas que marcam flexões pessoais que podem ser empréstimos da forma verbal em português,

RESENHA DA OBRA FONOLOGIA, FONÉTICA E ENSINO: GUIA INTRODUTÓRIO

Processos fonológicos

O PAPEL DOS CONTEXTOS FONÉTICOS NA DELIMITAÇÃO DA TONICIDADE DE FALA ATÍPICA

A RELAÇÃO SOM E LETRA E SEUS DESVIOS NA AQUISIÇÃO DA LÍNGUA ESCRITA: UMA INVESTIGAÇÃO FONÉTICO-FONOLÓGICA: ESTUDO DE CASO

REVISITANDO OS UNIVERSAIS FONOLÓGICOS DE JAKOBSON

PALAVRAS-CHAVE: Fonologia; variação linguística; sociolinguística; ditongo.

PROCESSO DE NASALIZAÇÃO AUTOMÁTICA EM UMA VARIEDADE DO PORTUGUÊS FALADO NO RECIFE

Estrura Sublexical dos Sinais a partir de suas Unidades Mínimas Distintivas

INTERFERÊNCIAS FONÉTICO-FONOLÓGICAS DO ESPANHOL NO DISCURSO DE HISPANOFALANTES APRENDIZES DE PORTUGUÊS

COMPORTAMENTO DA FRICATIVA CORONAL EM POSIÇÃO DE CODA: UM ESTUDO VARIACIONISTA DA INTERFACE FALA E LEITURA DE ALUNOS DE DUAS ESCOLAS PESSOENSES

I SEMINÁRIO DE PESQUISA EM ESTUDOS LINGUÍSTICOS

Aula7 SISTEMA FONOLÓGICO DO PORTUGUÊS: AS VOGAIS SEGUNDO A CLASSIFICAÇÃO DA NOMECLATURA GRAMATICAL BRASILEIRA E A PROPOSTA DE MATTOSO CÂMARA JR.

SÍNDROME DE DOWN E LINGUAGEM: ANÁLISE DOS ASPECTOS APRÁXICOS NA FALA DE UMA CRIANÇA

A ELISÃO DA VOGAL /o/ EM FLORIANÓPOLIS-SC RESULTADOS PRELIMINARES

A EPÊNTESE VOCÁLICA EM POSIÇÃO DE CODA SILÁBICA FINAL POR BRASILEIROS APRENDIZES DE INGLÊS: UM ESTUDO DE CASO

APÓCOPE DO R EM PRODUÇÕES TEXTUAIS NARRATIVAS DO 7º ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL. PALAVRAS-CHAVE: Apócope, Processos Fonológicos, Produção textual

OS RÓTICOS DO PORTUGUÊS BRASILEIRO (PB) E SUA INFLUÊNCIA NA AQUISIÇÃO DO INGLÊS LÍNGUA ESTRANGEIRA (ILE)

CONSIDERAÇÕES SOBRE A ESCRITA INICIAL DE SUJEITOS ATÍPICOS

REVISÃO CONCEITOS BÁSICOS DE LINGUÍSTICA SAULO SANTOS

A NASALIDADE DAS VOGAIS EM PORTUGUÊS José Mario Botelho (UERJ e ABRAFIL)

A PALATALIZAÇÃO DA FRICATIVA ALVEOLAR /S/ EM INGLÊS COMO L2 POR FALANTES DO DIALETO DO BREJO PARAIBANO

ESTUDO FONÉTICO-EXPERIMENTAL DA INFLUÊNCIA DA PAUSA NA DURAÇÃO DE VOGAIS ACOMPANHADAS DE OCLUSIVAS SURDAS E SONORAS *

Capítulo1. Capítulo2. Índice A LÍNGUA E A LINGUAGEM O PORTUGUÊS: uma língua, muitas variedades... 15

O que revelam os textos espontâneos e um ditado com palavras inventadas sobre a grafia das consoantes róticas

O PORTUGUÊS BRASILEIRO CANTADO

1. Revisão de pontos importantes relativos a Morfologia

INTRODUÇÃO A ESTUDOS DE FONOLOGIA DO PORTUGUÊS BRASILEIRO,

Curso: Letras Português/Espanhol. Disciplina: Linguística. Docente: Profa. Me. Viviane G. de Deus

Figura 1. A cadeia da fala (GARMAN, 1990)

REVISTA VEREDAS AMAZÔNICAS JANEIRO/JUNHO VOL. 3, Nº 1, ISSN:

Morfe, alomorfe e morfema. Luiz Arthur Pagani

Transcrição:

AULA 3: ANÁLISE FONÊMICA EM PORTUGUÊS 1. Introdução Fonêmica o Termo reservado às análises fonológicas estruturalistas americanas cf. Pike, 1947 o Objetivo: fornecer o instrumental para a conversão da linguagem oral em código escrito Análise fonêmica o Definição de sons com valor distintivo, relevantes na distinção das palavras Distinção de fonemas o Domínio da fonologia Fonética e Fonologia o Áreas da Linguística que estudam os sons das línguas Fonética: visa ao estudo dos sons da fala do ponto de vista articulatório, verificando como os sons são articulados ou produzidos pelo aparelho fonador, ou do ponto de vista acústico, analisando as propriedades físicas da produção e propagação dos sons, ou ainda do ponto de vista auditivo, parte que cuida da recepção dos sons (cf. Matzenauer, 2005:11). Fonologia: ao dedicar-se ao estudo dos sistemas de sons, sua descrição, estrutura e funcionamento, analisa a forma das sílabas, morfemas, palavras e frases, como se organizam e como se estabelece a relação mente e língua de modo que a comunicação se processe (cf. Matzenauer, 2005:11). 2. Conceitos básicos na análise fonológica dos fones Fone o Unidade sonora resultante da produção da fala o Segmentos vocálicos e consonantais encontrados na transcrição fonética 2.1. Oposição e variação: fonemas e alofones Função opositiva distintiva (oposição fonológica) o Função fonológica que permite através da substituição de um som por outro fazer o levantamento de todos os fonemas numa língua Fonemas o Sons (segmentos/elementos) que estabelecem uma relação de oposição entre si, ou seja, sons que, se 1

substituídos por outros ou se eliminados, mudam o significado das palavras (1) /t/ela, /v/ela, /s/ela, /r/ela, /ʒ/ela, /m/ela. o A transcrição dos fonemas é feita entre barras: // Variação fonológica (redundância fonológica) o Quando a substituição de um som por outro em um mesmo contexto não produz mudança de significado o Identificação não de fonemas, mas de variantes de um mesmo fonema (alofones) Alofones o Representantes fonéticos dos fonemas o Sons que não estabelecem oposição fonológica entre si (não mudam o significado das palavras) (2) ca[ɻ]ta, ca[h]ta, ca[x]ta, ca[ɾ]ta 2.2. Ambiente/contexto fonológico Constituído por um ou mais elementos que precedem ou seguem um segmento da fala: (3) Em comer, [m] se encontra em início de sílaba e em posição intervocálica, entre as vogais [o] e [e]: [o] [e] Exerce pressões estruturais sobre os segmentos o Dado som pode ser modificado pelo ambiente, tornando-se mais semelhante aos sons adjacentes a ele: (4) Em algumas variedades do português, o [d] de dia é produzido como [dʒ], ocorrendo palatalização do [d] por influência da vogal [i] Símbolos usados na marcação dos contextos e nas regras de contextualização: (traço): posição em que ocorre um segmento, cujo contexto será caracterizado pelo que o precede e pelo segmento que o segue.. (ponto): fronteira de sílaba + (sinal de mais): fronteira de morfema # (cerquilha): fronteira de palavra / (barra inclinada): indica que o que vem depois é a informação de um contexto (além de indicar que o símbolo entre // é um fonema) (flecha): mudança de um segmento em outro {} (chaves): simplificam mais de uma regra em uma única, representando formas alternativas ( ) (parênteses): elementos entre parênteses são opcionais nas regras (podem ou não estar presentes) Esquemas formais das regras de contextualização 2

A B C A ocorre no contexto entre B e C A X / B C A passa a X no contexto entre B e C (5) /t/ [tʃ] / [i] O fonema /t/ é realizado como [tʃ] antes de vogal [i] 2.3. Pares mínimos e pares análogos Sons foneticamente semelhantes (SFS) o Compartilham um maior número de propriedades fonéticas do que se opõem por elas o Maior chance de se realizarem como variantes de um mesmo fonema Propriedade fonética o Propriedade usada para distinguir significado de palavras diferença específica entre dois sons semelhantes (6) Em português, [s] e [z] são SFS (propriedade comum: fricativas labiodentais) distintos fonemicamente pela propriedade fonética sonoridade ([s] é surda e [z] é vozeada) Sons foneticamente diferentes o Menor chance de se realizarem como variantes de um (7) mesmo fonema o Maior chance de se realizarem como fonemas diferentes Pares mínimos o Duas palavras com conjunto de sons iguais, exceto por um único som (ou propriedade fonética) diferente, no mesmo lugar, distinguindo-as o Utilizados na identificação de fonemas valor distintivo pares de palavras: [m]ata/[n]ata ca[l]o/ ca[b]o ca[r]ta/ca[ɻ]ta ambiente comum: ata ca o ca ta sons diferentes: [m] e [n] [l] e [b] [ɾ] e [ɻ] mudança de significado: sim sim não [m]ata/[n]ata e ca[l]o/ca[b]o = pares mínimos o Mudança de um som o Distinção no significado das palavras que compõem cada par o Distinção entre fonemas: /m/ e /n/; /l/ e /b/ ca[ɾ]ta/ca[ɻ]ta = não é par mínimo o Não há distinção, por mudança de som, no 3

significado das palavras que compõem o par o [ɾ] e [ɻ] são, portanto, alofones de um mesmo fonema Em suma: o [m] e [n] - sons foneticamente semelhantes (nasais), fonemas distintos pelo ponto de articulação: bilabial e dental/alveolar, respectivamente o [l] e [b] - sons foneticamente não tão semelhantes ([l] é consoante lateral dental/alveolar e [b] é consoante oclusiva bilabial sonora) e fonemas o [ɾ] e [ɻ] - sons foneticamente semelhantes (consoantes tepe e retroflexa, respectivamente, dentais/alveolares) e alofones de um mesmo fonema Pares análogos o Utilizados quando não se encontram pares mínimos o Pares de palavras com ambiente praticamente idêntico para os SFS (8) palavras: elo [ɛlʊ] /pelo [pelʊ] deixa de lado: [p] SFS: [ɛ] [e] par análogo: [lʊ] [lʊ] ambiente: [lʊ] [lʊ] elo [ɛlʊ] /pelo [pelʊ] não é um par mínimo porque, além da diferença entre [ɛ] e [e] (SFS), há a consoante [p] no início de pelo, mas não no início de elo Identificação de fonemas ou alofones por pares análogos o Busca por condicionamento que obrigue os sons a ocorrerem em contextos distintos o Inicialmente, 2 SFS dos pares análogos são considerados fonemas distintos, a não ser que haja motivo para considerá-los como alofones 2.4. Distribuição complementar e variação livre Distribuição complementar o Sons que nunca ocorrem no mesmo contexto o SFS em distribuição complementar são interpretados como alofones de um mesmo fonema o Exemplos de sons em distribuição complementar em português: [t] e [ʧ] 4

(9) /t/ [tʃ] / [i, ɪ] (ex.: [ʧ]ia, pon[ʧ]ɪ) [t] / n.d.a. (ex.: [t]a[t]u, [t]odo, [t]emo, [t]ɛ[t]ʊ, [t]ɔrta) Variação livre o Dois ou mais sons diferentes em um mesmo ambiente, sem haver modificação no significado das palavras o Variantes livres não apresentam condicionamentos contextuais fonológicos o Exemplos em português: (10) banana [banɜnɐ] [bɜnɜnɐ] colar [kolaɾ] [kolah] [kolaɻ] advogado [adevogadʊ] [adʒivogadʊ] [adʒvogadʊ] 2.5. Neutralização e overlapping fonológico o Exemplos do dialeto português paulista: (11) a. selo [selʊ] b. zelo [zelʊ] (12) a. casa [kazɐ] b. caça [kasɐ] (13) a. pasta [pastɐ] b. pasma [pazmɐ] (14) a. vês [ves] b. voz [vɔs] o [s] e [z] são fonemas em início de sílaba inicial de palavra ou não (11) e (12), mas alofones em fim de sílaba final de palavra ou não (13) e (14) o Regra fonológica para a variação alofônica de [s] e [z]: Neutralização o SFS que ocorrem em oposição fonológica em alguns contextos, mas não em outros 5

1 (15) /s/ 1 [s] /. C surda cf. (13a), (14a) e (14b) / # [z] /. C sonora cf. (13b) Overlapping fonológico o Quando um som pode ser atribuído ora a um fonema, ora a outro o Sobreposição alofônica o Exemplo em português: Há oposição entre /s/ e /z/ em posição intervocálica e em início de palavra ver (11) e (12) Tal oposição é neutralizada em final de palavras diante de silêncio, uma vez que ocorre somente o fonema /s/ - ver (14) Porém, o fonema /s/, quando ocorre em final de palavras, diante de outra palavra que começa por vogal ou consoante sonora, apresenta como alofone não o [s], mas o [z] A atribuição de [z] ao fonema /s/, neste Também seria possível usar /S/, ao invés de /s/. /S/ é um arquifonema. Arquifonema: representa a neutralização da oposição de dois fonemas já estabelecidos em outros contextos. (14) b. voz [vɔs] (16) a. voz aguda [vɔz] b. voz grave [vɔz] c. voz fraca [vɔs] 3. Considerações finais ambiente, é um caso de overlapping fonológico: 3.1. Síntese Conceitos básicos em análise fonêmica o Fone, fonema e alofone o Ambiente/contexto fonológico o Pares mínimos e pares análogos o Distribuição complementar e variação livre o Neutralização e overlapping fonológico 3.2. Leitura obrigatória CAGLIARI, L. C. Análise fonológica: introdução à teoria e à prática, com especial destaque para o modelo fonêmico. Campinas: Mercado de Letras, 2002, p. 17-53. 6

CÂMARA JR., J. M. Estrutura da Língua Portuguesa. Petrópolis: Editora Vozes, 1970, p. 23-27. 3.3. Leituras complementares MORI, A. C. Fonologia. In: MUSSALIM, F. & BENTES, A. C. (Orgs.) Introdução à lingüística: domínios e fronteiras, v. 1, 8. ed. São Paulo: Cortez, 2008, p. 147-160. SILVA, T. C. Fonética e fonologia do português: roteiro de estudos e guia de exercícios. São Paulo: Contexto, 2001, p. 117-136. SOUZA, P. C. & SANTOS, R. S. Fonologia. In: FIORIN, J. L. (Org.) Introdução à linguistic II: princípios de análise. São Paulo: Contexto, 2005, p. 33-42. Referências bibliográficas citadas MATZENAUER, C. L. Introdução à teoria fonológica. In: BISOL, L. (Org.) Introdução a estudos de fonologia do português brasileiro, 4. ed. rev. e ampl. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2005. PIKE, K. Phonemics a technique for reducing languages to writing. Ann Arbor: The University of Michigan Press, 1947. 7