da resistência ao cisalhamento destes materiais, com e sem condicionamento ácido do esmalte, após 48 horas e 10 dias; verificação da influência do período dos ensaios mecânicos sobre a resistência ao cisalhamento; avaliação dos modos de descolagem e a presença de fraturas no esmalte, após os ensaios mecânicos. MATERIAL E MÉTODOS Avaliação da força de adesão Utilizaram-se nesse experimento terceiros molares, superiores e inferiores não irrompidos extraídos de pacientes, por motivos ortodônticos ou por falta de espaço dos mesmos no arco dentário. Após as exodontias, os dentes foram limpos com o auxílio de uma lâmina de bisturi n o 15, lavados com água destilada deionizada e conservados em solução de formol a 2%, com ph 7,0, à temperatura ambiente. Para seleção, os espécimes foram examinados a olho nu, sendo descartados os que apresentaram trincas, manchas ou qualquer imperfeição. Vinte e quatro horas antes do início do experimento, os mesmos foram removidos da solução de formol a 2%, lavados e imersos em água destilada deionizada. Após a seleção, os molares foram distribuídos aleatoriamente em três grupos conforme o quadro a seguir. A metodologia descrita a seguir foi fundamentada em dois trabalhos, um descrito por Marra 32, em 1998 e outro por Simplício 52, em 2000, com algumas combinações que foram empregadas neste trabalho. Adaptou-se uma fita adesiva com um orifício de 4mm de diâmetro na superfície vestibular, lingual ou palatina dos molares, obtido por meio de um alicate perfurador (Fig. 1), posicionado para se expor, assim, somente a área de colagem (Fig. 2). A fita adesiva perfurada foi adaptada à superfície dentária com auxílio de um brunidor, evitando-se o extravasamento do material utilizado na colagem, entre a fita adesiva e o dente, que poderia influenciar nos testes de ensaio mecânico. Sobre esta fita adesiva, com uma cera rosa aquecida, foi fixada uma matriz de teflon (Fig. 3), material não aderente, confeccionada previamente nas seguintes dimensões: 4mm de diâmetro interno, altura de 3,2mm nos lados proximais e 2,2mm nos lados superior e inferior, com sua base curva acompanhando a superfície dos molares. GRUPO NO. DE DENTES MATERIAL ADESIVO I 30 Concise Ortodôntico II 30 Fuji ORTHO LC Com condicionamento ácido Fuji ORTHO LC III 30 Sem condicionamento ácido Quadro 1 Distribuição dos grupos, segundo o emprego dos materiais adesivos. FIGURA 1 Alicate perfurador delimitando a área de colagem na fita adesiva. FIGURA 2 Fita adesiva perfurada adaptada à superfície dentária dos molares. FIGURA 3 Matriz de teflon utilizada para receber o material de colagem. R Dental Press Ortodon Ortop Facial 45 Maringá, v. 8, n. 6, p. 43-61, nov./dez. 2003
Avaliação in vitro do padrão de descolagem na interface de fixação de materiais adesivos ortodônticos ao esmalte de dentes inclusos: resistência ao cisalhamento após 48 horas e 10 dias Após a adaptação coincidente da luz da matriz com o orifício da fita adesiva, e também da curvatura da base com a superfície dentária, a completa estabilização da matriz foi complementada com adição de cera rosa aquecida (Fig. 4). Nesta matriz, inseriu-se o material adesivo, onde este foi fixado à superfície dentária exposta previamente. Os procedimentos de inserção do material adesivo foram conduzidos seguindo-se as recomendações dos fabricantes, quanto ao proporcionamento e manipulação, obedecendo-se a seguinte seqüência: 1) lavagem - Após a adaptação da matriz, em todos os grupos, realizou-se a lavagem com água destilada deionizada, por meio de seringa hipodérmica; 2) secagem - Feita a lavagem, a superfície foi seca com jato de ar, livre de umidade, por dez segundos; 3) condicionamento ácido do esmalte - A área delimitada nos grupos experimentais I e II foi condicionada com ácido fosfórico a 37%, sob a forma de gel, por trinta segundos, enquanto no grupo III não foi realizado nenhum tratamento do esmalte além da irrigação com água destilada deionizada; 4) lavagem após o condicionamento - Em todos os grupos foi realizada essa lavagem com água destilada deionizada, por quinze segundos, mesmo no grupo em que não foi preconizado condicionamento; 5) secagem pós-condicionamento Nos três grupos, foi realizada rigorosa secagem da área de colagem, com jato de ar comprimido, por dez segundos. Nos grupos II e III, após a secagem total da superfície exposta, esta foi umedecida com água destilada deionizada, aplicada por meio de um pincel descartável Microbrush; 6) aplicação de adesivo (resina fluida) - No grupo I, aplicou-se uma fina camada de adesivo, com um pincel descartável, seguindo-se as recomendações do fabricante. Nos grupos II e III não foi aplicado nenhum tipo de adesivo, somente o umedecimento da área; 7) inserção do material dentro da matriz de teflon - Após a manipulação, sempre seguindo as orientações do fabricante, pequenas porções de material foram inseridas, preenchendo por completo a matriz de teflon, onde foram pressionadas firmemente com as espátulas plásticas de manipulação, para assegurar o total preenchimento da matriz, evitando possíveis falhas, bolhas e facilitando a remoção de excessos antes da polimerização do material. As amostras dos grupos II e III foram expostas a uma fonte de luz halógena, de intensidade 600mW/cm 2, por quarenta segundos, utilizando-se um aparelho fotopolimerizador; 8) após a polimerização inicial dos materiais, os dentes permaneceram por dez minutos em condições ambientais, para a polimerização subsequente, quando então foi removida a matriz, cortando-se o tubo de teflon com uma lâmina de bisturi n o 11, restando somente o material aderido à superfície dentária (Fig. 5). Todos os procedimentos descritos foram realizados em ambiente com temperatura de 21±2 o C. Após os procedimentos de fixação do material adesivo ao dente, os corpos-de-prova foram confeccionados e armazenados imersos em água destilada deionizada e mantidos em estufa a 37±2 o C por 48 horas ou 10 dias, quando foram submetidos aos ensaios mecânicos laboratoriais. Para a padronização do posicionamento do dente e a direção de aplicação da força na interface material adesivo/superfície dentária, utilizou-se um molde de alumínio, composto de duas partes. A primeira foi constituída por um tubo cilíndrico de 14mm de altura, com diâmetros externo e interno de 19 e 15mm, respectivamente, com sua base fechada com alumínio, medindo 32mm de diâmetro e 15mm de altura. A outra parte, com forma tubular cilíndrica, também fabricada em alumínio, apresentava 15mm de altura, com diâmetro total e interno de 25 e 19mm, respectivamente, com sulcos de retenção na porção interna do tubo. Na primeira parte do molde, a porção interna foi preenchida com cera utilidade, onde R Dental Press Ortodon Ortop Facial 46 Maringá, v. 8, n. 6, p. 43-61, nov./dez. 2003
FIGURA 4 Matriz de teflon fixada com cera rosa aquecida, sobre a fita adesiva, com sua luz coincidente com o orifício de 4mm da fita. FIGURA 5 Material adesivo de colagem fixado ao dente, após a polimerização e remoção da matriz de teflon. A B FIGURA 6 Moldes de alumínio composto por duas partes. Base preenchida com cera utilidade (A), e a segunda parte adaptada (B), para receber o dente com o material adesivo colado a ele. o dente foi posicionado pela parte radicular, e sobre este conjunto, adaptou-se a segunda parte do molde (Fig. 6). A padronização do posicionamento dos dentes neste molde foi guiada por um esquadro (Fig. 7) criado para esta finalidade, onde se posicionou a interface dente/material adesivo perpendicularmente à base de alumínio (Fig. 8). Após esta etapa, a segunda parte do molde de alumínio foi preenchida com resina acrílica autopolimerizável até a porção cervical do dente, ficando assim toda a parte radicular incluída na resina, restando somente a porção coronária exposta (Fig. 9A). Após a polimerização da resina, removeu-se a primeira parte do molde, a segunda parte foi invertida e também preenchida totalmente com resina acrílica (Fig. 9B). Para facilitar a separação das duas partes do molde, a superfície externa da primeira foi lubrificada com vaselina sólida. O dente foi assim posicionado para que a força vertical aplicada na interface dente/material adesivo incida paralelamente a esta interface, criandose então uma tensão de cisalhamento pura nesta área. O conjunto formado, após a inserção da R Dental Press Ortodon Ortop Facial 47 Maringá, v. 8, n. 6, p. 43-61, nov./dez. 2003
Avaliação in vitro do padrão de descolagem na interface de fixação de materiais adesivos ortodônticos ao esmalte de dentes inclusos: resistência ao cisalhamento após 48 horas e 10 dias FIGURA 7 Esquadro para guiar o posicionamento do dente nos moldes de alumínio. resina acrílica no tubo de alumínio, foi imerso em água fria para dissipar o calor resultante da autopolimerização da resina acrílica. Após esta etapa, os corpos-de-prova foram armazenados imersos em água destilada deionizada e mantidos em estufa a 37±2 o C por 48 horas ou 10 dias, quando se submeteram aos ensaios mecânicos laboratoriais. Os corpos-de-prova foram submetidos a ensaio mecânico de cisalhamento (Fig. 10), com o objetivo de avaliar a força de adesão dos mesmos. Realizaram-se os testes em uma máquina universal Kratos (Fig. 11) para ensaio mecânicos, com a velocidade de ensaio de 0,5mm/min. As cargas de ruptura foram registradas em Kilogramaforça (Kgf) e convertidos em MegaPascal (MPa). Terminados os ensaios de cisalhamento, os cilindros de materiais adesivos foram armazenados juntamente com os dentes para posterior análise do padrão de descolagem. Avaliação do padrão de descolagem A colagem ortodôntica pressupõe a firme união entre o esmalte dentário e a base de um acessório ortodôntico, tendo como agente de união o adesivo. Portanto, as descolagens podem ocorrer devido a fraturas adesivas, nas interfaces esmalte/adesivo ou acessório/adesivo; fraturas coesivas ocorridas no esmalte, no material adesivo ou no acessório; ou ainda uma combinação de fraturas adesivas e FIGURA 8 Posicionamento da interface material/dente perpendicularmente à base do molde. coesivas. Após a descolagem, as áreas de colagem foram examinadas, e classificadas de acordo com o Índice de Adesivo Remanescente (IAR) proposto por Årtun, Bergland 2 em: Índice 0 = nenhum remanescente de adesivo sobre o dente; Índice 1 = menos de 50% de adesivo remanescente no dente; Índice 2 = mais de 50% de adesivo permaneceu no dente; Índice 3 = todo o adesivo permaneceu sobre o dente. Também foram avaliados os tipos de fratura conforme sua ocorrência, utilizando-se a classificação empregada por Marra 32, acrescidos de mais dois escores possíveis, divididos em: 1) adesiva na interface material/esmalte (a); 2) fratura de esmalte (e); 3) adesiva na interface material/esmalte associada à fratura coesiva no material (a/c); 4) adesiva na interface material/esmalte associada à fratura de esmalte (a/e); 5) fratura coesiva no material (c); 6) fratura coesiva no material associada à fratura de esmalte (c/e). Nova avaliação, tanto do Índice de Adesivo Remanescente, quanto da classificação de Marra 32 modificada, foi realizada uma semana após a primeira R Dental Press Ortodon Ortop Facial 48 Maringá, v. 8, n. 6, p. 43-61, nov./dez. 2003
A FIGURA 9 Confecção do corpo-de-prova, vazando-se resina acrílica autopolimerizável na parte superior, até a região cervical (A), e na parte apical dos molares, preenchendo por completo o cilindro de alumínio (B). B FIGURA 10 Ensaio de cisalhamento. FIGURA 11 Máquina universal para testes KRATOS. para se observar o erro do método e, nos casos discordantes, uma terceira avaliação foi realizada. A observação de fraturas de esmalte também foram registradas a olho nú. Tais fraturas foram consideradas como sendo parciais quando parte do esmalte foi removida da superfície dentária após o teste de cisalhamento, e como totais, quando todo o esmalte na interface esmalte/adesivo foi fraturado, permanecendo aderido ao cilindro de material adesivo. Planejamento estatístico Foram analisados: a) os valores da resistência ao cisalhamento (MPa) para a avaliação do efeito dos fatores material de colagem e/ou tratamento do esmalte dentário, nos dois períodos avaliados, b) os valores do Índice de Adesivo Remanes- R Dental Press Ortodon Ortop Facial 49 Maringá, v. 8, n. 6, p. 43-61, nov./dez. 2003