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Marcelo Arruda Calabria Melville & Bathrust (Duas Ilhas) 5 2ª edição 2013
Marcelo Arruda Calabria Copyright 2012 by Marcelo Arruda Calabria Direitos desta edição: MARCELO ARRUDA CALABRIA Projeto Gráfico MARCELO ARRUDA CALABRIA Marcelo_calabria@terra.com.br Responsabilidade pela revisão: Revisão Gramatical e Ortográfica de Livros Calabria, Marcelo Arruda, 1945 Melville & Bathrust / Marcelo Arruda Calabria Perse, 2013, vi, 321 p.: 21 cm ISBN: 978-85-7828-286-8 1. Literatura Nacional. I. Título. CDD B869.3 Proibida a reprodução total ou parcial. Os infratores serão processados na forma da lei. Marcelo Arruda Calabria 6
Este livro é dedicado a todos aqueles que, pela Liberdade, lutam pela vida. 7
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Capítulo I Londres, Aeroporto Heathrow, 15 de junho, 2018 Sexta-feira - 03:30 O comandante Dowsley recebeu a autorização do Centro de Controle de Heathrow para decolagem. O Airbus A-460 se encontrava posicionado na cabeceira da pista, com os motores ligeiramente acelerados. A escuridão da noite mostrava a cabine iluminada apenas pelos instrumentos do painel e a silhueta dos dois pilotos em destaque. À frente do aparelho, os faróis realçavam um pequeno curso na pista e as luzes azuis de delimitação prosseguiam fisicamente paralelas, mas opticamente convergentes até o final da pista. Era uma noite limpa, com estrelas, e o infinito para ser mergulhado. O copiloto Evens concluía uma minuciosa checagem dos instrumentos, tendo em vista o que havia acontecido com o sistema de controle de velocidade da aeronave anterior, quando, inexplicavelmente, este sistema tornou-se inconstante, permitindo uma variação na velocidade, sem que houvesse qualquer comando do piloto, e um pequeno aumento da temperatura dos motores. Esta situação forçou a interrupção do voo para Bangkok e o seu retorno para o aeroporto de Heathrow, em Londres, para avaliação da aeronave e averiguações. Após seis horas e meia de inspeções e testes no sistema de comando e controle do avião, nada foi detectado para que fossem justificadas estas distorções de velocidade e temperatura. 9
Marcelo Arruda Calabria Entretanto, por medida de segurança, a aeronave foi recolhida para o hangar da companhia e outro aparelho foi disposto para o voo 8877. O voo 8877 fazia, assim, sua segunda decolagem do aeroporto de Heathrow, exatamente às 03:30, com destino a Sydney, na Austrália, com uma parada em Bangkok. Agora, com a autorização de decolagem confirmada, o comandante acelerou os motores e sentiu a aeronave se deslocar na pista, ganhando velocidade à medida que o combustível era injetado para os motores. Quando atingiu a velocidade ideal, os profundores foram acionados, o avião levantou o nariz e iniciou a subida noite adentro. O trem de pouso foi recolhido e os flaps ajustados. O aparelho obedeceu com perfeição aos comandos aplicados. Era um voo com escala em Bangkok, portanto, com onze horas e vinte e cinco minutos de duração para esta primeira etapa. A hora prevista para o pouso no aeroporto Suvamabhumi, em Bangkok, estava determinada para as 19:25, hora local. A rota foi estabelecida de forma idêntica a anterior e a subida continuou gradativa e equilibrada. O céu estava limpo e os ventos surgiam segundo os padrões de regularidade. Lá embaixo, as luzes da cidade eram ligeiramente ofuscadas pelo fog londrino, mas ainda se identificavam as vias e os faróis dos automóveis nas estradas. O comandante fez os ajustes finais nos comandos e comentou com o copiloto: Não sei se é minha impressão, talvez influenciado pelo que passamos, mas estou sentindo a aeronave mais leve. É como se nós não necessitássemos de tanta propulsão para impulsionar o aparelho. Ainda estamos com a lotação completa, não estamos? Estamos sim, com o mesmo número de passageiros: 460. Inclusive, os compartimentos de carga também estão cheios. Mas, pelo que estou observando, todos os instrumentos estão mostrando 10
regularidade em todos os sistemas respondeu Evens. O comandante continuou com a expressão de preocupação. O que havia ocorrido com o avião anterior não teve diagnóstico e, assim, ele teria de ter maior atenção até que a aeronave atingisse o voo de cruzeiro. Fez uma rápida checagem dos indicadores dos instrumentos para confirmar que tudo estava em ordem. Antes que Evens dissesse alguma coisa, o rádio chamou e ele atendeu. Era do controle de APP, solicitando os dados para a rota do voo. Respondeu a todas as informações solicitadas e, em seguida, acionou o botão para liberação da tripulação para dar início ao serviço de bordo. Neste momento, a porta da cabine se abriu e Valerie perguntou: Alguma coisa para vocês? Café, água, refrigerante? Um copo-d água, sem gás, cai bem disse o comandante. Para mim também, Valerie acrescentou Evens. Valerie era uma comissária de experiência, de seus 37 anos, em torno de 1,67m, cabelos castanhos, longos e cacheados, olhos verdes, nariz afilado, boca pequena, tudo isto reunido para formar uma bela mulher. Francesa, nascida em Nice, era simpática e disposta. Valerie era sempre motivo de satisfação para os comandantes que tinham o privilégio de tê-la como chefe da equipe de comissários de bordo. Além do francês, ela falava inglês, espanhol e um pouco de português, mas o suficiente para atendimento aos passageiros. Estava ali porque fora requisitada, extraoficialmente, para substituir Françoise que, de última hora, ficou impedida de fazer a viagem por problemas pessoais. Fechou a porta da cabine e se dirigiu à copa. Apanhou dois copos, encheu-os com água e voltou para a cabine. Colocou-os em cima do console, na bandeja entre os pilotos, e se retirou, deixando um leve perfume no ar. Foi o comandante quem fez o comentário: 11
Marcelo Arruda Calabria São esses detalhes que nos deixam perturbados. Olhou rapidamente para Evens e abriu um sorriso. Concordo plenamente. E digo mais: E como faz bem a saúde! Por falar nisso, cadê Françoise, comandante? Não era ela que deveria estar aqui conosco? Puxa vida, Evens! Ela me ligou ontem, dizendo que o pai falecera de enfarto e ela estaria providenciando o enterro e todas as ações com o seguro social da mãe dela. Por isso, solicitei a inclusão de Valerie para assumir o comando das comissárias neste voo. Eu me esqueci de comunicar esta alteração ao Setor de Pessoal da British, para que eles procedessem a substituição de Françoise por Valerie na programação de viagem. Mas temos quase doze horas para fazê-lo. Ainda há tempo. Lembre-me de fazer esta comunicação assim que fizermos um contato com o Centro. Evens fez um rápido aceno com a cabeça, pegou o copod água, tomou um gole e colocou-o sobre a bandeja. Algo de diferente chamou sua atenção: viu que a água apresentava uma leve trepidação na sua superfície. Ficou observando o fenômeno com mais atenção, percebendo que pequeníssimas bolhas apareciam na superfície como se fosse água com gás. Achou estranho o que via e perguntou: Esta água está mesmo com a superfície trepidando ou se trata de água com gás, comandante? Dowsley olhou para o seu copo com atenção e respondeu: Nós pedimos água sem gás, não foi? Bom! Acho isto muito esquisito. Se não for gás, do que se trata, então? Trepidação? É esta uma das características dos líquidos quando submetidos a oscilações. Mas por quê? indagou Evens. Em seguida, apertou o botão para chamar a comissária. Diga, comandante disse Valerie, abrindo a porta da cabine. 12
Você nos serviu água com ou sem gás, Valerie? Sem gás, comandante. Foi assim que vocês pediram, não foi? A garrafa está aqui no balcão e é mesmo sem gás. OK. Tudo bem disse o comandante. Valerie tornou a fechar a porta da cabine. O comandante disse em seguida: Tudo indica que é trepidação mesmo, Evens. Será que estamos com algum problema de vibração nos motores? Olhe, comandante, todos os instrumentos estão indicando normalidade. O comandante deu um gole na água, verificou o altímetro e viu que já estavam a quase oito mil metros. A velocidade indicava 780km/h. Disse: A água está com o sabor normal. Já estamos na hora de iniciarmos o nivelamento da aeronave. Mais três mil metros e atingiremos o que está no plano de voo. O problema é que nada justifica esta vibração. A velocidade, embora esteja oscilando um pouco, tende a se estabilizar. Na aeronave anterior, a instabilidade ocorreu a partir do momento em que tivemos de nivelar o avião aos sete mil metros de altitude, para aguardar a ordem de subida para os onze mil metros. Neste momento, como ainda estamos subindo, é possível que o comportamento do aparelho permaneça inalterado. Veja como está a temperatura das turbinas: apenas meio grau acima. É isso mesmo, comandante. Mais ou menos meio grau acima, mas inteiramente aceitável. Já tivemos valores maiores em outras aeronaves. O comandante não fez mais nenhum comentário. Tomou o restante da água e passou a observar o altímetro. A aeronave continuou a subida até atingir os onze mil metros. Foi feito o nivelamento e o avião iniciou o seu voo de cruzeiro. A velocidade agora era de 869km/h. O comandante deu 13
Marcelo Arruda Calabria uma olhada para o copo de Evens e verificou que a trepidação da água havia cessado completamente. Ele disse: Tudo normal agora. São 04:55. Uma hora e meia de voo. Céu limpo, sem nenhuma previsão de turbulência, pelo menos nestas próximas quatro horas. É melhor forrarmos o estômago antes que apareça alguma novidade por aí. Ao ouvir isto, Evens apertou o botão para chamar a comissária. Valerie abriu a porta e perguntou se eles queriam algo para comer. Eles fizeram o pedido e Valerie se afastou até a copa. O comandante retomou o assunto da trepidação da água e perguntou: O que faz um líquido trepidar desta forma? Será que há alguma vibração no motor que não percebemos? Você tem alguma opinião formada a respeito disto? Evens sentiu o peso da responsabilidade da resposta. Pensou um pouco e, finalmente, disse com toda a convicção que tinha sobre o assunto: Uma vibração da aeronave seria a melhor resposta. Mas, como vimos, os instrumentos mostraram que não ocorreu este fato nem nos motores nem na estrutura do aparelho. É isto que torna a coisa misteriosa. E pode haver alguma vibração que não seja identificada pela instrumentação? perguntou o comandante com certa apreensão. Tentando ser o mais objetivo possível na sua resposta, Evens disse: Uma máquina perfeita é a máquina que não produz qualquer vibração, porque toda a energia é aproveitada para a realização do trabalho a ser programado. Porém, os componentes das máquinas interagem entre si e, devido ao atrito, às forças cíclicas e outras, dissipam energia na forma de calor, ruído e 14
vibrações. E, no nosso caso, é a mesma coisa? No caso de uma turbina de avião, é imperativo se ter um bom rendimento, ou seja: baixo nível de dissipação de calor, baixo nível de ruído e baixo nível de vibração. O que altera, então, suas propriedades dinâmicas? O desgaste, uma utilização mal aplicada, a falta de manutenção, etc. Desta forma, aparece um desalinhamento nos eixos, algumas partes começam a se desgastar, os rotores tornam-se desbalanceados, as folgas aumentam e muitas outras coisas acontecem. Com isso, o rendimento cai e, consequentemente, há o aumento do nível de vibração. Essas vibrações são dissipadas pela estrutura da máquina e, no seu caminho, excitam ressonâncias e provocam esforços extras nos mancais. Tudo isso quer dizer que causa e efeito se realimentam e a máquina progride em direção a sucessivas falhas. Mas, felizmente, neste momento, nada disso se aplica ao nosso caso. Portanto, qualquer vibração que ocorra em qualquer das turbinas o sistema sentirá e responderá pelo ruído ou pela variação de temperatura. Exatamente, comandante. Para melhor entendermos nossa situação, é importante esclarecer que, para os ensaios mais complicados nos setores aeronáuticos e aeroespaciais, são usados instrumentos mais sofisticados que chegam a arquivar as especificações da máquina, os dados de referência com os resultados do ensaio inicial e os pontos de medição. Estes pontos são: a frequência, a amplitude e as características de fase dos sinais de vibração registrados. Além desses, ainda temos as condições de trabalho de quaisquer gráficos, como é o caso do gráfico de dinamismo. As técnicas foram determinadas através da utilização de sensores de deslocamentos, fundamentando-se na interferometria a laser, fato que proporciona maior confiabilidade e menor custo, e 15