GERMINAÇÃO E DESENVOLVIMENTO IN VITRO DE ARAÇÁ (Psidium guineense Swart) Martins, L.A.R. (1) ; Barreto, L.M. (1) ; Barbosa, R.M. (1) ; Ferreira, M.F.S (2) ; Fontes, M.M.P. (2) liliana_arm15@hotmail.com (1) Aluno de Ciências Biológicas da Universidade Federal do Espírito Santo - UFES, Vitória - ES, Brasil; (2) Docente do Departamento de Ciências Biológicas da Universidade Federal do Espírito Santo - UFES, Vitória - ES, Brasil, CNPq, FAPES. RESUMO O gênero Psidium está entre os mais importantes para a produção de frutos. Dentre as espécies do gênero, Psidium guineense vem adquirindo grande interesse comercial, em virtude das suas propriedades nutricionais e farmacêuticas. Porém, pesquisas relacionadas ao desenvolvimento in vitro dessa espécie são escassas. Este trabalho teve como objetivo avaliar a germinação e o desenvolvimento in vitro de sementes de P. guineense em três diferentes meios de cultura. Após desinfestação superficial com lavagem em hipoclorito de sódio, as sementes foram inoculadas em tubos de ensaio contendo três diferentes meios de cultura para germinação, MS, MS½ e AAS (sem vitaminas e sais), acrescidos de sacarose e ágar. As seguintes variáveis foram avaliadas: porcentagem de germinação e contaminação, número de folhas, altura da parte aérea da plântula, comprimento da raiz e biomassa fresca e seca. As médias foram submetidas à análise de variância e Teste de Tukey 5%. O número de sementes germinadas foi maior no meio AAS, enquanto o Meio MS proporcionou melhores resultados em relação ao número de folhas e tamanho de raiz e o Meio MS ½ propiciou desenvolvimento de plantas mais alta. Palavras-chave: Meios de Cultura, Myrtaceae.
INTRODUÇÃO As frutas nativas do Brasil apresentam grande potencial para exploração econômica e podem constituir-se em nova alternativa para mercados que anseiam por novidades (RIBEIRO, 2007). Além da possibilidade de exploração para consumo in natura, podem ser utilizadas pela agroindústria. Mais recentemente, essas espécies também vêm despertando a atenção da indústria farmacêutica, pois suas frutas são ricas em vitaminas e em substâncias antioxidantes, dentre outras que podem ser extraídos das folhas e de outras partes da planta (FRANZON, 2012). Para isso é fundamental o desenvolvimento de tecnologias de produção e a adoção de estratégias que possibilitem torná-las conhecidas ao público consumidor (RIBEIRO, 2007). Uma espécie que vem despertando grande interesse da indústria tanto alimentícia quanto farmacêutica é a Psidium guineense, mais conhecido como araçá. Esta espécie apresenta potencial para exploração econômica devido à boa aceitação de seus frutos para consumo in natura, pelo elevado teor de vitamina C, quatro vezes maior que as frutas cítricas, além da alta capacidade de frutificação, resistência a doenças e pragas (exceto à mosca das frutas) e dispersão, que indica adaptação a diferentes ambientes (RASEIRA, RASEIRA, 1996). Entretanto, pesquisas relacionadas aos aspectos do cultivo in vitro dessas espécies ainda são incipientes. 2
A germinação de sementes in vitro é uma das técnicas que podem ser utilizadas para a produção de mudas ou como ponto de partida para a obtenção de explantes sadios para posterior repicagem. A partir da germinação in vitro é possível alcançar altas taxas de multiplicação, independente de condições climáticas, variações estacionais e de fatores bióticos, tais como agentes polinizadores, dispersores ou patogênicos (ANDRADE et al., 2000). Os testes de germinação in vitro tem auxiliado os programas de melhoramento genético oferecendo soluções originais que podem resultar na otimização do tempo e na qualidade dos cultivares a serem lançados por esses programas (ANDRADE, 2002). Porém, pesquisas relacionadas a germinação e ao desenvolvimento in vitro dessa espécie são escassas. Nesse sentido, o objetivo do presente trabalho foi verificar o efeito de diferentes meios de cultura, baseados em Murashige e Skoog (1962), na germinação das sementes e no desenvolvimento das plantas de Psidium guineense Swart. MATERIAL E MÉTODOS Sementes de Psidium guineense foram coletadas na Área Experimental da Universidade Federao do Espírito Santo (UFES) e o experimento foi 3
desenvolvido no Laboratório de Citogenética e Cultura de Tecidos Vegetais do Centro de Ciências Agrárias da UFES, em Alegre. As sementes foram previamente desinfestadas com imersão em álcool 70% por 1 minuto e lavagem em hipoclorito de sódio acrescido com Tween 20 durante 20 minutos, finalizando com 3 lavagens em água destilada. Para a inoculação das sementes foram utilizados 3 diferentes meios de cultura: (1) meio MS (MURASHIGE e SKOOG, 1962), (4,3g/L); (2) meio MS½, com 50% da concentração padrão de sais (2,15g/L) e (3) meio AAS, constituído somente de água destilada. Todos os meios foram acrescidos de sacarose (30g/L), solidificados com ágar (7g/l) e o ph foi ajustado para 5,7 ± 0,1. Todo material foi esterilizado em autoclave a 120º C e 1.1 Kgf./ cm 2. As sementes foram mantidas em sala de cultivo sob iluminação artificial com luz branca do tipo luz do dia (tubos fluorescentes), com fluência de 1,6 W/ m2, fotoperíodo diário de 16 horas e temperatura a 25 ± 2 C. O experimento foi conduzido em um delineamento inteiramente casualizado (DIC), em um esquema fatorial 3x1 (três meios de culturavariável MS, variável MS½ e variável AAS- e um genótipo). Esse esquema foi realizado com quatro repetições e a unidade experimental 4
foi constituída de seis tubos de ensaio, cada um com uma semente, totalizando 72 tubos. O experimento foi avaliado após o período de 60 dias quanto ao número de sementes germinadas e percentagem de contaminação, presença de raiz, comprimento da raiz, número de folhas, altura da parte aérea da plântula, biomassa fresca e seca. As médias obtidas de todos os parâmetros avaliados foram submetidas à análise de variância e Teste de Tukey 5%. Os dados não foram submetidos ao teste de normalidade e o trabalho foi realizado com os valores puros. Para efeito de cálculo os indivíduos contaminados foram considerados como não germinados. As análises foram realizadas no programa Genes (CRUZ, 2008). RESULTADOS E DISCUSSÃO A taxa de contaminação das culturas foi de 8% no meio MS, 20% no meio MS½ e 0% no meio AAS. O Meio MS ½ apresenta menor concentração de sais quando comparado com o MS, portanto mais disponibilidade de água, proporcionando uma maior proliferação de fungos. A maior porcentagem de germinação (88%) foi obtida no tratamento MS e AAS. Já a menor taxa (84%) foi alcançada no meio MS ½. Segundo Kerbauy (2008), a água é um dos fatores mais importantes na 5
germinação, estando envolvida em todas as etapas do crescimento da planta. Sua absorção ocorre exclusivamente em virtude da diferença de potencial hídrico entre o interior da semente e o meio onde ela se encontra. A alta taxa de germinação no meio AAS e MS pode ter ocorrido em virtude dessa maior disponibilidade de água livre quando comparado com o meio MS ½.Os valores médios individuais da taxa de contaminação e de germinação das sementes encontram-se na Tabela 1. Por meio do teste de Tukey foi possível observar que não houve diferença significativa entre os diferentes parâmetros avaliados para o desenvolvimento in vitro de Psidium guineense. O tratamento com AAS e MS proporcionaram melhores resultados em relação ao número de folhas, tamanho da raiz e altura da plântula, enquanto o meio MS½ apresentou os valores mais baixos em relação a essas variáveis, como mostrado na tabela 2. 6
Em relação a biomassa fresca e seca o meio MS apresentou resultados mais satisfatórios, quando comparado aos outros meios, sendo o MS½ aquele que apresentou valores mais baixos. Os valores para esta variável analisada quando submetida aos diferentes tratamentos encontram-se na Tabela 3. As plântulas nos diferentes meios de cultura podem ser observadas na Figura 1. 7
Figura 1- Plântulas de Psidium guineense nos meios MS (A), MS½ (B) e AAS (C) aos 60 dias de cultivo in vitro. O desenvolvimento das plântulas submetidas ao meio MS apresentou valores mais elevados em relação ao número de folhas (2,8 folhas por planta) e ao tamanho da raiz (17,23 mm) em ralação aos outros dois meios. O meio MS½ foi mais favorável ao desenvolvimento de plantas mais altas (18,91 mm). Já o meio AAS apresentou menores valores médios quando comparado aos outros meios, quando analisados os parâmetros de tamanho de raiz (13,06 mm) e altura da plântula (15,65 mm). O meio MS½ se mostrou desfavorável no parâmetro número de folhas (2,3 folhas por planta). Os valores médios de cada meio para tamanho de raiz, número de folhas e altura da plântula se encontram na Tabela 4. 8
A maior taxa de germinação foi obtida no meio AAS. Segundo Kerbauy (2008), a água é um dos fatores mais importantes na germinação, estando envolvida em todas as etapas do crescimento da planta. Sua absorção ocorre exclusivamente em virtude da diferença de potencial hídrico entre o interior da semente e o meio onde ela se encontra. A alta taxa de germinação no meio AAS pode ter ocorrido em virtude dessa maior disponibilidade de água livre quando comparado com os demais meios de cultura avaliados. CONCLUSÃO Analisando os valores obtidos em cada parâmetro, pode-se observar que o meio AAS apresentou resultados mais satisfatórios em relação á germinação das sementes. Pórem, quando analisados os valores médios do desenvolvimento das plântulas in vitro, pode-se perceber que o Meio MS apresentou 9
melhores resultados em relação ao número de folhas e tamanho de raiz e o Meio MS ½ propiciou desenvolvimento de plantas mais altas. Este fato se deve à presença de todos os componentes necessários ao crescimento da planta, que estão presentes nos dois meios anteriomente citados (Sais, vitaminas e sacarose), proporcionando desenvolvimento de plantas com características mais adequadas á propragação. Os testes de germinação e desenvolvimento in vitro apresentados no presente trabalho podem ser úteis para os programas de melhoramento genético, oferecendo soluções que podem resultar na otimização do tempo. REFERÊNCIAS ANDRADE, M.W.; LUZ, J.M. Q.; LACERDA, A.S.; MELO, P.R.A. Micropropagação da Aroeira (Myracrodruon urundeuva Fr. All). Ciência Agrotécnica. Lavras: v. 24, n. 1, p.174-80, 2000. ANDRADE, S.R.M. Princípios da Cultura de Tecidos Vegetais. 1. Ed. Planaltina: Embrapa Cerrados, p.15, 2002. CRUZ, C.D. Programa Genes Diversidade Genética. 1 ed. Viçosa, MG. Editora UFV. 1.278 p. 2008. FRANZON, R.C; RASEIRA, M.C.B. Frutíferas nativas do Sul do Brasil: espécies com potencial de aproveitamento. XXII Congresso Brasileiro de Fruticultura. Bento Gonçalves RS. Brasil. 2012. HOPPE, J. M. et. al. Produção de sementes e mudas florestais, Caderno Didático. Santa Maria, nº 1, 388 p, 2ª ed. Santa Maria, 2004. 10
KERBAUY, G.B. Fisiologia Vegetal. 2ª edição. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan. 452p. 2008. MURASHIGE, T.; SKOOG, F. A. A revised medium for rapid growth and bioassays with tabaco tissue cultures. Physiologia Plantarum, Copenhagen, v. 15, n. 3, p. 473-497, 1962. RASEIRA, M.C.B.; RASEIRA, A. Contribuição ao estudo do araçazeiro: Psidium catteyanum.pelotas. p.33-45. Embrapa/CPACT, 1996. RIBEIRO, M. F. Multiplicação e enraizamento in vitro de Araçazeiro (Psidium cattleyanum Sabine) cultivar Irapuã. Universidade Federal de Pelotas. Pelotas. Brasil. 2007. TORRES, A. C.; CALDAS, L. S; BUSO,J. A; Cultura de tecidos e transformação genética de plantas. Brasília, DF. Ministério da Agricultura e do abastecimento.v 1 Meios nutritivos, Parte II,p. 97-100; Micropropagação p. 183-260. 1998. 11