Apostila 2015. Literatura e Gramática. Professora: Áurea LÍNGUA PORTUGUESA - 2º ANO - ENSINO MÉDIO TÉCNICO 2015 1



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Transcrição:

Apostila 2015 Literatura e Gramática Professora: Áurea LÍNGUA PORTUGUESA - 2º ANO - ENSINO MÉDIO TÉCNICO 2015 1

SUMÁRIO SUMÁRIO... 1 OBJETIVOS PEDAGÓGICOS... 8 Literatura... 8 Gramática... 8 Romantismo... 9 Contexto histórico... 9 Os Sofrimentos do Jovem Werther... 9 EXERCÍCIO... 10 Características do Romantismo... 11 EXERCÍCIOS... 12 ROMANTISMO EM PORTUGAL... 14 Contexto Histórico:... 14 Autores e obras:... 14 Almeida Garret (1799 1854)... 14 NÃO TE AMO Almeida Garrett... 15 ROMANTISMO NA EUROPA... 16 Alexandre Herculano (1810 1877)... 18 Camilo Castelo Branco (1825 1890)... 18 AMOR DE PERDIÇÃO (fragmento)... 19 ROMANTISMO NO BRASIL... 21 PRODUÇÃO LITERÁRIA DO ROMANTISMO BRASILEIRO... 22 POESIA:... 22 1ª GERAÇÃO Nacionalista... 22 Principais autores:... 22 Gonçalves de Magalhães... 22 Gonçalves Dias... 22 GONÇALVES DIAS CANÇÃO DO EXÍLIO... 22 EXERCÍCIOS... 23 2ª GERAÇÃO Ultrarromântica... 24 Álvares de Azevedo... 24 ADEUS, MEUS SONHOS... 24 EXERCÍCIO... 25 Casimiro de Abreu... 25 Fagundes Varela:... 25 LÍNGUA PORTUGUESA - 2º ANO - ENSINO MÉDIO TÉCNICO 2015 2

Junqueira Freire... 25 3ª GERAÇÃO: Social, liberal ou condoreira... 26 Castro Alves... 26 VOZES D ÁFRICA... 26 EXERCÍCIOS... 28 PROSA O ROMANCE ROMÂNTICO NO BRASIL... 30 Joaquim Manuel de Macedo... 30 A MORENINHA (FRAGMENTO)... 30 O SARAU... 31 EXERCÍCIOS... 31 José de Alencar... 32 Romance indianista... 32 Romance histórico... 32 Romance urbano... 32 Romance regionalista... 32 IRACEMA (FRAGMENTO)... 33 EXERCÍCIOS... 33 SENHORA (FRAGMENTO)... 34 EXERCÍCIOS... 35 Mais autores:... 35 Bernardo Guimarães... 35 Franklin Távora:... 35 Visconde de Taunay... 35 TRANSIÇÃO PARA O REALISMO... 36 A figura da mulher... 36 O Amor... 36 Autor e obra... 37 Manuel Antônio de Almeida... 37 MEMÓRIAS DE UM SARGENTO DE MILÍCIAS... 37 REALISMO/ NATURALISMO... 39 Distinções entre Realismo e Naturalismo... 40 Características do Realismo... 40 Características do Naturalismo:... 41 EXERCÍCIOS... 41 REALISMO/ NATURALISMO EM PORTUGAL... 44 LÍNGUA PORTUGUESA - 2º ANO - ENSINO MÉDIO TÉCNICO 2015 3

PROSA... 44 Eça de Queirós (1845 1900)... 44 O PRIMO BASÍLIO... 45 ESTUDO DO TEXTO... 46 POESIA... 47 Antero de Quental (1842 91)... 47 O PALÁCIO DA VENTURA... 47 ESTUDO DO TEXTO... 48 REALISMO/ NATURALISMO NO BRASIL... 49 CONTEXTO HISTÓRICO... 49 Principais autores do Realismo/Naturalismo brasileiro:... 50 Aluísio de Azevedo... 50 ESTUDO DO TEXTO... 51 Raul Pompéia... 52 O ATENEU... 52 ESTUDO DO TEXTO... 53 Machado de Assis... 54 DOM CASMURRO... 55 ESTUDO DO TEXTO... 56 OS CONTOS DE MACHADO DE ASSIS... 58 EXERCÍCIOS... 58 PARNASIANISMO... 60 Características do Parnasianismo:... 60 Principais autores:... 61 Olavo Bilac... 61 RIO ABAIXO... 61 ESTUDO DO TEXTO... 62 MAIS AUTORES - EXERCÍCIOS... 63 Alberto de Oliveira... 64 Raimundo Correia... 65 SIMBOLISMO... 66 Contexto histórico:... 66 Características do Simbolismo:... 66 SIMBOLISMO EM PORTUGAL... 67 Principais autores:... 67 LÍNGUA PORTUGUESA - 2º ANO - ENSINO MÉDIO TÉCNICO 2015 4

Antônio Nobre... 67 Camilo Pessanha (1867 1926)... 67 Eugênio de Castro (1869 1944)... 68 UM SONHO... 68 ESTUDO DO TEXTO... 69 SIMBOLISMO NO BRASIL... 70 Principais autores simbolistas:... 70 Cruz e Sousa... 70 VIOLÕES QUE CHORAM... 71 ESTUDO DO TEXTO... 72 Alphonsus de Guimaraens... 73 SUBSTANTIVO... 75 Classificação Semântica... 75 GÊNERO: MASCULINO E FEMININO... 75 EXERCÍCIO... 76 Substantivo: Outras particularidades:... 77 EXERCÍCIOS... 77 NÚMERO: SINGULAR E PLURAL... 78 Plural dos substantivos compostos... 78 EXERCÍCIOS... 79 GRAU: AUMENTATIVO E DIMINUTIVO... 81 EXERCÍCIOS... 81 MAIS EXERCÍCIOS REVISANDO SUBSTANTIVO E SUAS FLEXÕES... 83 ADJETIVO... 84 Classificação dos adjetivos:... 84 Adjetivos pátrios... 84 Locução adjetiva... 86 FLEXÃO DE GÊNERO:... 86 FLEXÃO DE NÚMERO:... 87 FLEXÃO DE GRAU... 87 EXERCÍCIOS... 88 ARTIGO... 91 Classificação dos artigos:... 91 EXERCÍCIOS... 92 NUMERAL... 95 LÍNGUA PORTUGUESA - 2º ANO - ENSINO MÉDIO TÉCNICO 2015 5

Classificação dos numerais:... 95 Emprego e leitura dos numerais... 96 EXERCÍCIOS... 97 PRONOME... 99 1. Pronomes Pessoais:... 99 2. Pronomes Possessivos... 100 3. Demonstrativos:... 101 4. Indefinidos:... 101 5. Relativos... 102 6. Interrogativos... 102 EXERCÍCIOS... 102 COLOCAÇÃO PRONOMINAL... 104 Próclise:... 104 Mesóclise:... 104 Ênclise:... 104 EXERCÍCIOS... 105 VERBO... 106 Flexão (número e pessoa)... 106 Modo... 106 EXERCÍCIOS... 107 Tempo... 108 Conjugação de verbos regulares: paradigmas de 1ª, 2ª e 3ª conjugação:... 108 MODO INDICATIVO... 108 MODO SUBJUNTIVO... 110 MODO IMPERATIVO... 111 EXERCÍCIOS... 112 Vozes do verbo... 113 EXERCÍCIOS... 113 Formas nominais do verbo... 114 Particípio... 114 Gerúndio... 114 Infinitivo... 114 Locução Verbal... 115 MODO INDICATIVO... 116 MODO SUBJUNTIVO... 117 LÍNGUA PORTUGUESA - 2º ANO - ENSINO MÉDIO TÉCNICO 2015 6

MODO IMPERATIVO... 118 EXERCÍCIOS... 118 ADVÉRBIO... 122 Locução adverbial:... 122 Classificação dos advérbios:... 122 Advérbios interrogativos:... 123 Graus do advérbio:... 123 Palavras denotativas:... 123 EXERCÍCIOS... 124 CONJUNÇÃO... 126 Locução conjuntiva:... 126 CONJUNÇÕES COORDENATIVAS... 126 CONJUNÇÕES SUBORDINATIVAS:... 127 EXERCÍCIOS... 128 PREPOSIÇÃO... 132 Locução Prepositiva:... 132 Combinação ou contração:... 132 Preposição mais preposição:... 132 EXERCÍCIOS... 133 CLASSES DE PALAVRAS... 134 SUBSTANTIVO:... 134 ADJETIVO:... 134 ARTIGO:... 134 NUMERAL:... 134 PRONOME:... 134 VERBO:... 134 ADVÉRBIO:... 134 PREPOSIÇÃO:... 134 CONJUNÇÃO:... 135 INTERJEIÇÃO:... 135 EXERCÍCIOS... 135 Referências... 138 LÍNGUA PORTUGUESA - 2º ANO - ENSINO MÉDIO TÉCNICO 2015 7

OBJETIVOS PEDAGÓGICOS Literatura Reconhecer a relevância da Literatura de Língua Portuguesa para a construção do imaginário social e dos valores pessoais; Elucidar questões sobre as relações Brasil e Portugal no campo da Literatura; Conhecer os maiores autores de cada época e o contexto histórico; Conhecer as diferenças entre conto, novela e romance. Discutir e interpretar obras literárias famosas a partir da crítica literária. Gramática Identificar e reconhecer as classes gramaticais; Compreender os conceitos gramaticais por meio dos textos; Analisar as palavras isoladamente e no texto com a finalidade de compreender a estrutura da Língua Portuguesa; Reconhecer os processos de elaboração e articulação do discurso oral e escrito. LÍNGUA PORTUGUESA - 2º ANO - ENSINO MÉDIO TÉCNICO 2015 8

LITERATURA Romantismo Você se considera uma pessoa romântica? O que vem a ser Romantismo: um movimento ou um conjunto de ações que uma pessoa tem para com seu par? É preciso diferenciar romantismo e Romantismo. Vejamos: Contexto histórico Sempre houve temperamento e sensibilidade romântica. O estado de alma romântico pode ser encontrado em qualquer época, caracterizando-se pelo amor à natureza, a personalidade sonhadora, a fé, a liberdade, o saudosismo e a emoção. No século XIX esse temperamento era tão forte que caracteriza um estilo de época: o Romantismo. A palavra-chave em fins do século XVIII e no início do século XIX era Liberdade. O Romantismo rompe com a tradição clássica e abre caminho para a modernidade. O novo público consumidor, de origem burguesa, não mais aceitando os padrões clássicos que indicavam uma concepção estática do mundo, dita novos valores: o apego às tradições nacionais, o gosto pelas lendas e narrativas de origem medieval e pelo heroísmo; o sacrifício e o sangue derramado, que evocavam o recente passado revolucionário, e a afirmação das nacionalidades. No Brasil, o Romantismo reveste-se de um marcante conteúdo nacionalista e de exaltação dos elementos nacionais, pois corresponde ao nosso momento de luta pela emancipação política e de afirmação da nossa nacionalidade. A literatura é utilizada como arma de ação política e social, através da poesia revolucionária e abolicionista. Todos os movimentos que sucederam o Romantismo e revelam rebeldia e recusa de tudo quanto possa tolher a liberdade criadora são, de certo modo, uma continuidade dele. Assim, este movimento é um passo importante rumo à modernidade. Para saber mais: O Romantismo teve origem na Alemanha e na Inglaterra do século XVIII, espalhando-se para a França, Itália e demais países da Europa. Os Sofrimentos do Jovem Werther (1774) é um romance de Johann Wolfgang von Goethe. Marco inicial do romantismo, considerado por muitos como uma obra-prima da literatura mundial, é uma das primeiras obras do autor, de tom autobiográfico - ainda que Goethe tenha cuidado para que nomes e lugares fossem trocados e, naturalmente, algumas partes fictícias acrescentadas, como o final. acesse: www.starnews2001.com.br/literatura.html Johann Wolfgang von Goethe Os Sofrimentos do Jovem Werther (1774) Luise Seidler (1811) LÍNGUA PORTUGUESA - 2º ANO - ENSINO MÉDIO TÉCNICO 2015 9

EXERCÍCIO 1. O livro de Goethe é construído a partir de cartas que Werther, um jovem escritor e pintor, escreve a um amigo. Por meio delas, fica-se sabendo da chegada do jovem a um vilarejo alemão, do despertar de sua paixão não correspondida por Carlota. Carlota casa-se com Alberto, e Werther torna-se amigo do casal, o que acentua ainda mais sua frustração amorosa e acaba por leva-lo ao suicídio. Leia, a seguir, uma das cartas escritas depois de já estar perdidamente apaixonado: 30 de agosto Infeliz! Não és um tolo? Não te enganas a ti mesmo? Porque te entregas a esta paixão desenfreada, interminável? Todas as minhas preces dirigem-se a ela; na minha imaginação não há outra figura senão a dela, e tudo que me cerca somente têm sentido quando relacionado a ela. E isso me proporciona algumas horas de felicidade até o momento em que novamente preciso separar-me dela! Ah, Wilhelm!, quantas coisas o meu coração desejaria fazer! Depois de estar junto dela duas ou três horas, deliciando-me com sua presença, suas maneiras, a expressão celestial de suas palavras, e todos os meus sentidos pouco a pouco se tornaram tensos, de repente uma sombra turva meus olhos, mal consigo ouvir, sinto-me sufocado, como se estivesse sendo estrangulado por um assassino, meu coração bate estouvadamente, procurando acalmar os meus sentidos atormentados, mas conseguindo apenas aumentar a perturbação Wilhelm, muitas vezes nem sei se ainda estou nesse mundo! E em outros momentos - quando a tristeza não me subjulga e Carlota me concede o pequeno conforto de dar livre curso as minhas mágoas, derramando lágrimas abundantes sobre suas mãos tenho necessidade de afastar-me, de ir para longe, e então me ponho a errar pelos campos. Nessas horas, sinto prazer em escalar uma montanha íngreme, em abrir caminho num bosque cerrado, passando por arbustros que me ferem, por espinhos que me dilaceram a pele! Sinto-me um pouco melhor então. Um pouco! E quando então, cansado e sedento, às vezes fico prostrado no caminho, no meio da noite, a lua cheia brilhando sobre minha cabeça, quando na solidão do bosque busco repouso no tronco retorcido de uma árvore, para aliviar meus pés doloridos, e então adormeço, na meia-luz, mergulhando num sono inquieto Ah, Wilhelm!, nessas horas de solidão de uma cela, o cilício e o cíngulo de espinhos seriam um bálsamo para minha alma sequiosa! Adeus! Somente o túmulo poderá libertar-me desses tormentos. J. W. Goethe a. Qual é o estado de espírito da personagem segundo as informações contidas no texto? b. O escapismo ou desejo de evasão é uma constante nos textos românticos. Manifesta-se na busca da natureza, na fuga para o passado próximo (a infância) ou distante (a Idade Média), o sonho ou a fantasia e a morte. Identifique, na carta, manifestações de escapismo. LÍNGUA PORTUGUESA - 2º ANO - ENSINO MÉDIO TÉCNICO 2015 10

Características do Romantismo Individualismo e subjetivismo: os românticos viam o mundo unicamente por meio do seu mundo interior. A 1ª pessoa (eu) é constante. Nacionalismo deu-se da seguinte maneira: o O culto da Idade Média pelos europeus, na qual se encontravam os elementos formadores da nacionalidade de cada povo: os heróis das cruzadas, as damas, os monges, as lendas, as crenças e tradições; o Indianismo, que, no Brasil, devido à ausência de um passado medieval, foi um dos elementos de sustentação do sentimento nacionalista, acentuado com a proximidade da Independência; O culto da natureza, que, supervalorizada, não só constitui um refúgio não contaminado pela sociedade, como também é uma forma de exaltação da terra brasileira. Para os românticos, a natureza é fonte de inspiração e está intimamente vinculada aos sentimentos do poeta. Saudosismo: da infância, do passado, da pátria, dos entes queridos, etc. Sonho: que permite a criação de um mundo pessoal e idealizado. A consciência da solidão: crença de que são incompreendidos. A idealização da mulher e do amor: Somando espiritualismo e temperamento sonhador, o poeta romântico reveste a mulher de sua aura angelical, tornando-a uma figura poderosa e inacessível. Exagero: somado à instabilidade e à ânsia de evasão, provocou o chamado mal-do-século, que se caracterizava por ser o estado de espírito de vários românticos que se entregaram a uma excessiva melancolia e solidão e um grande pessimismo que os conduziu à exaltação da morte. O sobrenatural, o mórbido, a noite e o mistério da existência estão presentes nos textos dos poetas da geração do mal-do-século. Byronismo: inspirado na vida e na obra de Lord Byron, poeta inglês. Estilo de vida boêmio, voltado para vícios, bebida, fumo, podendo estar representado no personagem ou na própria vida do autor romântico. O byronismo é caracterizado pelo narcisismo, pelo egocentrismo, pelo pessimismo, pela angústia. São palavras freqüentes no universo romântico: luar, amor, noite, saudade, verde, ilusão, pranto, dor, suspiro, virgem, rosa, coração, sonhos, noite, lágrima, etc. Compare as características do Romantismo com as do Arcadismo: Romantismo Predomínio da Emoção Subjetivismo Nacionalismo Valorização da cultura popular Natureza mais real, que interage com o eu lírico Sentimentalismo; estados de alma tristes e melancólicos Arcadismo Predomínio da Razão Objetivismo Universalismo; nativismo Imitação da Cultura Clássica Natureza como pano de fundo para os idílios amorosos Busca do equilíbrio, racionalismo LÍNGUA PORTUGUESA - 2º ANO - ENSINO MÉDIO TÉCNICO 2015 11

EXERCÍCIOS 1. Identifique a característica romântica predominante em cada um dos seguintes textos: a) Eu sei como este mundo ri d escárnio, Deste aéreo sonhar da fantasia. Eu sei... P ra cada crença de nossa alma, Ele tem uma frase de ironia... Ah! Deixai-me guardar o meu segredo: Deste riso cruel eu tenho medo... b) Quem és tu, quem és tu, vulto gracioso, Que te elevas da noite na orvalhada? Tens a face nas sombras mergulhada... Sobre as névoas te libras vaporoso... c) Uma noite, eu me lembro... ela dormia Numa rede encostada molemente... Quase aberto o roupão... solto o cabelo E o pé descalçado no tapete rente. d) Por isso, ó morte, eu amo-te e não temo: Por isso, ó morte, eu quero-te comigo. Leva-me à região da paz horrenda Leva-me ao nada, lava-me contigo. e) Sonho me às vezes rei, nalguma ilha, Muito longe, nos mares do oriente, Onde a noite é balsâmica e fulgente E a lua cheia sobre as águas brilha... LÍNGUA PORTUGUESA - 2º ANO - ENSINO MÉDIO TÉCNICO 2015 12

2. Leia a canção de Lulu Santos e aponte as relações que ela estabelece com o Romantismo. Levante hipóteses sobre a escolha do título e do conteúdo da composição; liste as características do movimento romântico e tire exemplos do texto. O Último Romântico Lulu Santos Faltava abandonar a velha escola Só falta te querer Tomar o mundo feito coca-cola Te ganhar e te perder Fazer da minha vida sempre Falta eu acordar O meu passeio público Ser gente grande E ao mesmo tempo fazer dela Prá poder chorar... O meu caminho só Único Me dá um beijo, então Aperta a minha mão Talvez eu seja Tolice é viver a vida O último romântico Assim, sem aventura... Dos litorais Desse Oceano Atlântico... Deixa ser Pelo coração Só falta reunir Se é loucura então A zona norte à zona sul Melhor não ter razão... Iluminar a vida Já que a morte cai do azul... LÍNGUA PORTUGUESA - 2º ANO - ENSINO MÉDIO TÉCNICO 2015 13

ROMANTISMO EM PORTUGAL As datas que marcam o início e o fim do Romantismo português são: 1825 publicação do poema narrativo Camões, de Almeida Garret, em que o autor faz uma biografia sentimental do grande poeta renascentista português. 1865 ocorrência da questão Coimbrã, uma polêmica intelectual que envolveu escritores românticos e escritores novatos. Contexto Histórico: Portugal não se isolou dos demais países europeus no que diz respeito às transformações sociopolíticoeconômicas que se seguiram à Revolução Francesa. Merecem destaque as seguintes ocorrências: a) substituição da monarquia absolutista pelo liberalismo; b) vinda da família real para o Brasil, em 1808, fugindo da invasão francesa; c) Independência do Brasil, com reflexos na economia portuguesa, visto que a burguesia perdeu um importante mercado de exportação; d) Constituição portuguesa de 1822, de caráter liberal. Nesse contexto ocorreram as primeiras manifestações do Romantismo português, período em que merecem destaque Almeida Garret, Alexandre Herculano, Camilo Castelo Branco e Júlio Dinis. Autores e obras: Almeida Garret (1799 1854) João Batista da Silva de Almeida Garret nasceu no Porto e morreu em Lisboa. Formou-se em direito pela Universidade de Coimbra. Viu-se obrigado ao exílio na Inglaterra quando a Constituição de 1822 foi abolida por um golpe comandado pela aristocracia portuguesa. Além de escritor, fundou pelo menos quatro jornais e exerceu intensas atividades parlamentares e diplomáticas Seu relacionamento adúltero com a viscondessa da Luz parece ter inspirado Folhas caídas, seu principal livro de poemas. Obras: Poesia: Camões (1825) publicado em Paris, a primeira edição omitia, por razões políticas, o nome do autor; Dona Branca (1826); Folhas caídas (1853), Prosa: Viagens na minha terra (1846); O Arco de Santana (em dois volumes: 1845 e 1850). Teatro: Frei Luís de Sousa (1844). Almeida Garret é considerado o mais importante autor romântico português. Além de ter renovado o teatro com Frei Luís de Sousa, estimulou o nacionalismo, despertando o gosto pela tradição popular, que incorporou, sobretudo nos romances. Dentre os poemas escritos por Almeida Garret, podemos destacar aqui um poema em que o espírito romântico aparece de maneira bastante evidente. Vejamos: LÍNGUA PORTUGUESA - 2º ANO - ENSINO MÉDIO TÉCNICO 2015 14

NÃO TE AMO Não te amo, quero-te: o amor vem d'alma. E eu n'alma tenho a calma, A calma do jazigo. Ai! não te amo, não. Almeida Garrett Não te amo, quero-te: o amor é vida. E a vida nem sentida A trago eu já comigo. Ai, não te amo, não! Ai! não te amo, não; e só te quero De um querer bruto e fero Que o sangue me devora, Não chega ao coração. Não te amo. És bela; e eu não te amo, ó bela. Quem ama a aziaga estrela Que lhe luz na má hora Da sua perdição? E quero-te, e não te amo, que é forçado, De mau, feitiço azado Este indigno furor. Mas oh! não te amo, não. E infame sou, porque te quero; e tanto Que de mim tenho espanto, De ti medo e terror... Mas amar!... não te amo, não. 1. Crie um vocabulário com as palavras que você não conhece. Em seguida, consulte um dicionário para elucidá-las. 2. Explique a diferença de amar e querer, de acordo com o poema de Garret. LÍNGUA PORTUGUESA - 2º ANO - ENSINO MÉDIO TÉCNICO 2015 15

ROMANTISMO NA EUROPA Ascensão do Romance Ainda não há respostas inteiramente satisfatórias para muitas das perguntas genéricas que qualquer pessoa interessada nos romancistas de inícios do século XVIII poderia formular. O romance é uma forma literária nova? Supondo que sim, como em geral se supõe, e que se iniciou com Defoe, Richardson e Fielding, em que o romance difere da prosa de ficção do passado, da Grécia, por exemplo, ou da Idade Média, ou da França do século XVII? E há algum motivo para essas diferenças terem parecido em determinada época e em determinado local? Nunca é fácil abordar questões tão amplas, muito menos respondê-las, e neste caso elas são particularmente difíceis, pois a rigor Defoe, Richardson e Fielding não constituem uma escola literária. Na verdade suas obras apresentam tão poucos indícios de influência recíproca e são de natureza tão diversa que à primeira vista parecia que nossa curiosidade sobre o surgimento do romance dificilmente encontraria alguma satisfação além daquela oferecida pelos termos gênio e acidente,[..] 1 Na Europa do século 19, com a ascensão da burguesia, surge um novo gênero narrativo. A classe burguesa emergente, o novo público leitor, tinha a necessidade de meios mais objetivos de contar histórias. Entendia-se que o novo público demandava leituras sobre o seu cotidiano, ou seja, as histórias deveriam ter sempre uma correspondência com a realidade. Podemos entender melhor esse tópico se o compararmos com as telenovelas dos dias atuais, elas atendem à demandas sociais e não costumam inovar muito em seus enredos. Isso acontece por que há a preocupação com o público, antes da preocupação estética. Você sabe a diferença entre poema e poesia? Você seria capaz de explicar as diferenças entre romance, conto e novela? Faça uma pesquisa nos sites indicados e depois defina com suas próprias palavras 1 Watt, Ian. A ascensão do romance : estudos sobre Defoe, Richardson e. Fielding / Ian Watt ; tradução Hildegard Feist. (Câmara Brasileira do livro, SP, Brasil). LÍNGUA PORTUGUESA - 2º ANO - ENSINO MÉDIO TÉCNICO 2015 16

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Alexandre Herculano (1810 1877) Alexandre Herculano de Carvalho e Araújo nasceu em Lisboa e morreu em Valde-Lobos. São fatos importantes de sua vida o exílio na Inglaterra e na França e uma polêmica que travou com o clero, ambos decorrentes de sua participação nas lutas liberais. Juntamente com Garret, foi um intelectual que atuou bastante nos programas de reformas da vida portuguesa. Na ficção de Herculano, além de temas religiosos, predomina o caráter histórico dos enredos, voltados para A Idade Média e relacionados às origens da nação portuguesa. Obras: Poesia: A harpa do crente (1838). Prosa: a) Romance: O bobo (1843); Eurico, o presbítero (1844); O monge de Cister (1848). b) Conto: Lendas e narrativas (1851). c) Historiografia: História de Portugal (em quatro volumes, o último publicado em 1853). Eurico, o Presbítero é um livro escrito por Alexandre Herculano. Está na linha de livros do Romantismo em obra épica. O livro busca enfatizar de forma ferrenha as características ao ponto de comparar a mulher a um ser angelical, as idéias opostas estão no decorrer de toda trama, o uso freqüente da natureza para mostrar a natureza humana (sentimento bucólico), romantismo monológico (onde o amor só tem uma linha de raciocínio), idealismo platônico, conflito dos personagens é constante. (Por Roberta Laisa Dantas de Sousa - http://www.infoescola.com/livros/eurico-opresbitero/) Camilo Castelo Branco (1825 1890) Camilo Ferreira Botelho Castelo Branco nasceu em Lisboa e morreu em São Miguel de Seide. Abandonou a primeira mulher e raptou uma mulher casada, com quem passou a viver. Acusado de bigamia, foi preso. Mais tarde viveu aventuras amorosas com outra mulher casada, uma freira e uma turista inglesa. Finalmente apaixonou-se por Ana Plácido, senhora casada que seria o grande amor de sua vida. Ambos foram presos, condenados por adultério. Na prisão, Camilo escreveu Amor de perdição, obra que lhe proporcionou grande popularidade. Após terem sido absolvidos e morto o marido de Ana, os dois amantes passaram a viver juntos. Mais de trinta anos depois, em 1890, Camilo Castelo Branco suicidou-se, vencido pela cegueira. Obras: De sua vastíssima obra (poesia teatro, jornalismo, romance, conto e novela) destacam-se: Amor de perdição, Amor de salvação, A queda de um anjo, A doida do Candal. Este escritor consagrou-se como o melhor representante do Ultra-Romantismo português, principalmente pelas suas novelas de caráter passional, ou seja, histórias em que o grande assunto á a paixão. Extremamente apreciadas pelo público da época, essas novelas permitiram a Camilo viver apenas da literatura. LÍNGUA PORTUGUESA - 2º ANO - ENSINO MÉDIO TÉCNICO 2015 18

AMOR DE PERDIÇÃO (fragmento) Amor de perdição é uma das mais conhecidas obras do Romantismo português. Movidos por rixas, os familiares de Simão e Teresa conseguem impedir a união dos jovens. Por ordem do pai, Teresa fica enclausurada num convento. Simão, acusado de um crime, refugia-se na casa de João da Cruz e desperta a paixão imediata de Mariana, filha de João. Mais tarde Simão é preso e, após longo processo, condenado ao degredo na Índia. Durante o processo, Simão e Teresa se comunicam apenas por cartas, entregues por uma mendiga. O trecho que vamos ler foi extraído do final da novela. Sem a menor esperança de rever Simão, Teresa envia-lhe uma carta de despedida, que o infeliz jovem vai ler no navio que o leva para a Índia. Nessa viagem, acompanha-o Mariana. A vida era bela, era, Simão, se a tivéssemos como tu ma pintavas nas tuas cartas, que li há pouco! Estou vendo a casinha que tu descrevias defronte de Coimbra, cercada de árvores, flores e aves. A tua imaginação passeava comigo às margens do Mondego, à hora pensativa do escurecer. Estrelava-se o céu, e a lua abrilhantava a água. Eu respondia com a mudez do coração ao teu silêncio, e, animada por teu sorriso, inclinava a face ao teu seio, como se fosse ao de minha mãe. Tudo isto li nas tuas cartas; e parece que cessa o despedaçar da agonia enquanto a alma se está recordando. Noutra carta, me falavas em triunfos e glórias e imortalidade do teu nome. Também eu ia após da tua aspiração, ou diante dela, porque o maior quinhão dos teus prazeres de espírito queria eu que fosse meu. Oh! Simão, de que céu tão lindo caímos! À hora que te escrevo, estás tu para entrar na nau dos degredados, e eu na sepultura. Que importa morrer, se não podemos jamais ter nesta vida a nossa esperança de há três anos?! Poderias tu com a desesperança e com a vida, Simão? Eu não podia. Os instantes do dormir eram os escassos benefícios que Deus me concedia; a morte é mais que uma necessidade, é uma misericórdia divina, uma bem-aventurança para mim. Rompe a manhã. Vou ver minha última aurora... a última dos meus dezoito anos! Abençoado sejas, Simão! Deus te proteja, e te livre de uma agonia longa. Todas as minhas angústias lhe ofereço em desconto das tuas culpas. Se algumas impaciências a justiça divina me condena, oferece tu a Deus, meu amigo, os teus padecimentos, para que eu seja perdoada. Adeus! À luz da eternidade parece-me que já te vejo, Simão! (Camilo Castelo Branco) 1. Teresa recorda-se de dois assuntos tratados por Simão em cartas anteriores. Quais assuntos? 2. Teresa almejava montar um lar com Simão. A descrição desse lar obedece a convenções bem típicas do Romantismo. Explique. LÍNGUA PORTUGUESA - 2º ANO - ENSINO MÉDIO TÉCNICO 2015 19

3. No texto ocorre a palavra céu e também a palavra eternidade. Qual dos dois termos conota a desejada experiência terrena do casal? Explique sua resposta. 4. (...) me falavas em triunfos e glórias e imortalidade do teu nome. As aspirações de Simão revelam um comportamento romântico baseado principalmente: a) na religiosidade; b) no individualismo exacerbado; c) no mal-do-século; d) na melancolia; 5. Por que Teresa encara a morte como uma bem-aventurança? 6. Identifique o autor romântico português de que trata cada fragmento: a) Toda a sua produção literária é mais consistente quando tem como base a história de Portugal. b) O caráter ultra-romântico de sua novelas e romances revela-se, sobretudo pelo sentimentalismo exagerado das personagens; c) Inaugurou o Romantismo português com um poema narrativo que é a biografia poética de um famoso poeta renascentista. 7. (...) a porta abriu-se, e um vulto negro de monja apareceu no limiar dela. (Alexandre Herculano) A presença de figuras do mundo medieval na literatura romântica portuguesa relaciona-se: a) ao mal-do-século; b) à evasão no passado histórico em busca das raízes da nacionalidade. c) à necessidade de incorporar à literatura figuras excêntricas. d) à religiosidade que marcou todo o Romantismo. LÍNGUA PORTUGUESA - 2º ANO - ENSINO MÉDIO TÉCNICO 2015 20

ROMANTISMO NO BRASIL O Romantismo brasileiro revestiu-se de um expressivo cunho nacionalista. A Independência, conquistada em 1822, reforçou a busca de elementos caracterizadores e diferenciadores de nossa nacionalidade. Daí o forte sentimento de fidelidade à pátria e às suas tradições e a criação de símbolos que pudessem ser incorporados à consciência nacional e passassem a representar o país. Entre eles, o índio, a natureza e a linguagem. São as seguintes obras que delimitam, para efeitos didáticos, o Romantismo no Brasil: 1836- Publicação de Suspiros Poéticos e Saudades, de Gonçalves de Magalhães, em cujo prefácio encontram-se algumas das diretrizes da nova estética. 1881- Publicação de Memórias póstumas de Brás Cubas, romance realista de Machado de Assis, e de O Mulato, romance naturalista de Aluísio de Azevedo. A vinda da família real para o Rio de Janeiro, em 1808, provocou uma série de mudanças no país. O Brasil deixa de ser apenas uma colônia, passa a ter mais autonomia. O militar, o comerciante, o artesão, o funcionário público, o homem de imprensa e os empregados das firmas comerciais passam a compor de forma significativa a sociedade da época. O convívio social é dinamizado pela vida dos salões e as ruas ganham uma agitação nova. A literatura conta com a avidez do público feminino e o Romantismo difunde-se com relativa facilidade. O desenvolvimento da nação foi acompanhado por um crescente sentimento anticolonialista, do qual resultou a nossa Independência, em 1922. Como não tínhamos um passado medieval, fomos buscar no índio o símbolo da raça brasileira as virtudes do homem nacional, o elemento de auto-afirmação e, de certo modo, de oposição ao português. Inspirando-se nos procedimentos do cavaleiro medieval europeu, os escritores caracterizaram o índio como um nobre, e não é difícil fazer uma analogia entre o heroísmo dos cavaleiros da Idade Média e a bravura e o destemor dos colonizadores que adentravam a selva brasileira em busca de riqueza do nosso solo. Entretanto o nacionalismo romântico e a busca do passado impediram muitas vezes uma visão objetiva da realidade brasileira, e permitiram uma fuga aos problemas do pis e do povo. A exaltação do índio, por exemplo, desviava a atenção de uma avaliação crítica da escravatura. Foi apenas a partir de 1860, com Castro Alves, que a poesia voltou-se para a realidade política e social; ligando-se às lutas pelo abolicionismo e denunciando o choque entre os símbolos e a realidade social. Francisco Goya, The Shootings of May 3, 1808 1814 (110 K) Oil on canvas, 104 3/4 x 136 Museo del Prado, Madrid LÍNGUA PORTUGUESA - 2º ANO - ENSINO MÉDIO TÉCNICO 2015 21

PRODUÇÃO LITERÁRIA DO ROMANTISMO BRASILEIRO POESIA: A poesia romântica divide-se em três gerações. Embora cada uma delas possua características próprias, é bastante acentuada a interpenetração e a transferência de características de uma geração à outra. 1ª GERAÇÃO Nacionalista Características: Nacionalismo, aversão à influência portuguesa (lusofobia), religiosidade misticismo, indianismo. Temas: o índio, a saudade, o amor impossível. Principais autores: Gonçalves de Magalhães: Embora voltado para a poesia religiosa, como deixa transparecer em Suspiros poéticos e saudades, continuou a cultivar a poesia indianista de caráter nacionalista. Suas poesias são fracas, segundo a crítica literária; sua importância advém do fato de ter sido o introdutor do Romantismo no Brasil. Gonçalves Dias: Antônio Gonçalves Dias nasceu em 10 de agosto de 1823, no sítio Boa Vista, em terras de Jatobá, a 14 léguas de Caxias. Aos 41 anos morreu em um naufrágio do navio Ville Bologna próximo a região de Baixos dos Atins no município de Tutóia, próximo aos Lençóis maranhenses, em 3 de novembro de 1864. Apesar de ser Advogado de formação é conhecido muito mais como Poeta. GONÇALVES DIAS CANÇÃO DO EXÍLIO Natureza e saudade se entrelaçam em suas obras. A nostalgia, o retorno ao passado e a exaltação da pátria também caracterizam a sua obra. As lamentações pelo amor impossível, os anseios, as inquietações, os desencantos caracterizam o lirismo amoroso desse autor, que muitas vezes se identifica com a atitude de vassalagem do trovador medieval. O indianismo dominou a sua obra: idealizou o indígena, ressaltando seu sentimento de honra e nobreza de caráter; descreveu o índio como um herói, procurando torná-lo símbolo de toda uma raça, capaz de categorizar o brasileiro em face do europeu; exaltou a natureza em que viviam os selvagens e procurou interpretar a psicologia do índio brasileiro. LÍNGUA PORTUGUESA - 2º ANO - ENSINO MÉDIO TÉCNICO 2015 22

CANÇÃO DO EXÍLIO Minha terra tem palmeiras, Onde canta o sabiá; As aves, que aqui gorjeiam, Não gorjeiam como lá. Nosso céu tem mais estrelas, Nossas várzeas têm mais flores, Nossos bosques têm mais vida, Nossa vida mais amores. Em cismar sozinho, à noite, Mais prazer encontro eu lá; Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá. Minha terra tem primores, Que tais não encontro eu cá; Em cismar sozinho, à noite Mais prazer encontro eu lá; Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá. Não permita Deus que eu morra, Sem que eu volte para lá; Sem que desfrute os primores Que não encontro por cá; Sem qu inda aviste as palmeiras, Onde cata o Sabiá. Vocabulário: Cismar ficar absorto em pensamentos. Primor beleza, encanto. EXERCÍCIOS 1. O poema se constrói com a oposição aqui e lá. Identifique a que locais se refere e o que fica explícito nessa comparação? 2. O olhar do poeta ora se volta para os céus da pátria (estrelas), ora para o solo (flores). Que elemento pode ser considerado como intermediário entre esses dois modos de olhar? 3. De que maneira o poeta expressa o seu sentimento nacionalista? LÍNGUA PORTUGUESA - 2º ANO - ENSINO MÉDIO TÉCNICO 2015 23

4. Para o poeta, a pátria distante é plural, o que é expresso pela repetição do advérbio mais. Em que verso o poeta expressa que esta natureza plural acaba por contagiar a maneira de viver e de ser romântica? 2ª GERAÇÃO Ultrarromântica Características: Individualismo, pessimismo, mal-do-século, morbidez, noturnismo. Temas: a dúvida, o tédio, a orgia, a infância, o medo de amar, o sofrimento. Principais autores: Álvares de Azevedo: Sua obra, influenciada também pela sua personalidade adolescente, revela ambigüidade, indecisão: ora aspira aos amores virginais e idealiza a mulher; ora descreve-a erotizada e degradada. Brumas, visões, sonhos e sentimentalidade cedem lugar muitas vezes ao realismo humorístico, ao cinismo e à irreverência. Revelando uma dúbia inclinação pela mãe e pela irmã, a imagem punitiva da mãe talvez tivesse contribuído para a sua oscilação entre o erotismo e a moralidade. Foi o poeta que mais se deixou contagiar pelo mal-do-século: a temática do tédio e da morte, o ceticismo e o culto do funéreo atravessam todas as suas obras; a angústia, a descrença e o satanismo estão presentes até mesmo no lirismo amoroso, no qual o amor e a felicidade se mostram como coisas inatingíveis. ADEUS, MEUS SONHOS Adeus, meus sonhos, eu pranteio e morro! Não levo da existência uma saudade! E tanta vida que meu peito enchia Morreu na minha triste mocidade! Misérrimo! Votei meus pobres dias À sina doida de um amor sem fruto, E minh alma na treva agora dorme Como um olhar que a morte envolve em luto. Que me resta, meu Deus? Morra comigo A estrela de meus cândidos amores, Já que não levo no meu peito morto Um punhado sequer de murchas flores! (Álvares de Azevedo) Vocabulário: Votar dedicar, devotar; Sina destino, sorte; Cândido -puro, ingênuo. Álvares de Azevedo [escultura em bronze, com pedestal em granito e bronze de1907], do escultor Amadeo Zani Busto localizado no Largo São Francisco em São Paulo - SP LÍNGUA PORTUGUESA - 2º ANO - ENSINO MÉDIO TÉCNICO 2015 24

EXERCÍCIO 1. Que palavras e expressões do poema caracterizam o chamado mal-do-século? 2. Identifique a causa principal do desejo de morrer manifestado pelo eu-lírico. 3. Um dos sonhos do eu-lírico é o da realização amorosa. Entretanto, ao utilizar a metáfora estrela, na última estrofe, revela a impossibilidade de realizar o seu sonho. Explique essa afirmação. 4. Identifique os versos que repetem a idéia do vazio interior que deixa o eu-lírico sem motivações para a vida. Casimiro de Abreu: dois temas marcam as suas obras: o saudosismo (da pátria, da família, do lar, da infância) e o lirismo amoroso. Em sua poesia lírico-amorosa encontramos a imagem da mulher meiga e idealizada. Sua oscilação entre a sentimentalidade e os impulsos eróticos o conduz a uma malícia mascarada, fruto do temor de transgredir os limites da moralidade do seu tempo e da necessidade de descrever sentimentos e situações adolescentes, mais imaginativas que reais. Ambos os temas são marcados pelo pessimismo decorrente do mal-do-século. Fagundes Varela: Cultivou temas de todas as gerações: o pessimismo, a morbidez, a natureza, a poesia amorosa, além de mostrar-se contrário à monarquia e à escravidão. Escreveu também poemas religiosos, de inspiração bíblica, apesar de criticar a Igreja da época. Junqueira Freire: Sua obra tem pouca importância estética e é marcada pelo sentimento religioso, o erotismo frustrado e a obsessão pela morte. LÍNGUA PORTUGUESA - 2º ANO - ENSINO MÉDIO TÉCNICO 2015 25

3ª GERAÇÃO: Social, liberal ou condoreira Características: aprofundamento do espírito nacionalista, do liberalismo, da poesia social e da política. Temas: a escravidão, a república, o amor erótico. Castro Alves: duas vertentes marcam suas obras: a poesia social e a poesia lírica. Sua poesia social caracterizava-se pelos temas abolicionistas e de libertação dos povos; incorpora o negro, de forma definitiva, na literatura, apresentando-o como herói e como um ser amoroso, ativo, sofredor, esperançoso, oprimido e lutador. Ao contrário dos outros românticos, sua poesia lírico-amorosa parece resultar em grande parte da experiência real e não apenas da imaginação. São poemas que traduzem esperança, euforia, desespero, saudade, pressentimento da morte, exaltação da natureza e um sensualismo erótico, expresso por palavras recorrentes como seios, cabelos, perfumes, etc. VOZES D ÁFRICA Castro Alves (fragmentos) Deus! Ó Deus! Onde estás que não respondes? Em que mundo, em qu estrela tu t escondes Embuçado nos céus? Há dois mil anos te mandei meu grito, Que embalde desde então corre o infinito... Onde estás, Senhor Deus? Qual Prometeu tu me amarraste um dia Do deserto na rubra penedia - Infinito: galé!... Por abutre me deste o sol candente, E a terra de Suez foi a corrente Que me ligaste ao pé... (...) Cristo! Embalde morreste sobre um monte... Teu sangue não lavou de minha fronte A mancha original. Ainda hoje são, por fado adverso, Meus filhos alimária do universo, Eu pasto universal... LÍNGUA PORTUGUESA - 2º ANO - ENSINO MÉDIO TÉCNICO 2015 26

Hoje em meu sangue a América se nutre - Condor que transformara-se em abutre, Ave da escravidão, Ela juntou-se às mais... irmã traidora Qual de José os vis irmãos outrora Venderam seu irmão. Basta, Senhor! De teu potente braço Role através dos astros e do espaço Perdão p ra os crimes meus!... Há dois mil anos... eu soluço um grito... Escuta o brado meu lá no infinito, Meu Deus! Senhor, meu Deus!!... 1. O fragmento desse poema de Castro Alves fala a) da religiosidade do povo africano c) da escravidão do povo africano b) da exploração do território africano d) da história do povo africano 2. O eu-lírico do poema é a África personificada. Nas duas primeiras estrofes do fragmento o interlocutor do eu-lírico é a) Prometeu b) Deus c) abutre d) Suez 3. No verso Que embalde desde então corre o infinito..., a palavra destacada tem o sentido de a) inutilmente b) rapidamente c) lentamente d) isoladamente 4. O grito dado Há dois mil anos pelo eu-lírico é em favor a) de Cristo b) de José c) da América d) dos seus filhos 5. Ao mencionar o personagem mitológico Prometeu, o eu-lírico estabelece uma relação a) de oposição b) de afetividade c) de semelhança d) de animosidade 6. No verso Condor que transformara-se em abutre, temos a figura de linguagem a) metáfora b) antítese c) metonímia d) catacrese 7. Quando se refere à América, o eu-lírico expressa a) um elogio b) um questionamento c) uma lamentação d) uma acusação LÍNGUA PORTUGUESA - 2º ANO - ENSINO MÉDIO TÉCNICO 2015 27

EXERCÍCIOS 1. Que ano e que obra assinalam, didaticamente, o início do Romantismo brasileiro? 2. Com que elementos os românticos brasileiros expressavam o sentimento nacionalista? A fauna, a flora são representativas? 3. Que elemento representava as virtudes do homem nacional, o símbolo da raça brasileira, de auto-afirmação de nossa nacionalidade e, de certo modo, de oposição ao português? 4. Com qual poeta observa-se o choque entre os símbolos românticos e a realidade nacional? 5. Preencha corretamente a que geração romântica pertence os autores abaixo: a) Castro Alves: b) Gonçalves Dias: c) Álvares de Azevedo: d) Gonçalves de Magalhães: e) Casimiro de Abreu: f) Junqueira Freire: g) Fagundes Varela: 6. Quais as principais características da 1ª geração? 7. Quais as principais características do Ultra-Romantismo? LÍNGUA PORTUGUESA - 2º ANO - ENSINO MÉDIO TÉCNICO 2015 28

8. Qual poeta que mais se deixou contagiar pelo chamado mal-do-século? 9. O texto seguinte é um fragmento de um poema de Fagundes Varela. Que características do Ultra-Romantismo podemos encontrar nestes versos? Não te apavore o aspecto das tumbas. Esta boca sarcófaga que a terra Aqui a nossos pés abriu medonha Não é engolir-nos. O nosso cálix de abundantes dores Não transbordou ainda. Tua missão, minha harpa, é grande, é grande: Sangremo-nos à morte. Aos túmulos, aos túmulos, minha harpa! 10. Identifique a característica romântica marcante neste fragmento do poema Meus oito anos, de Casimiro de Abreu. Oh! dias da minha infância! Oh! meu céu de primavera! Que doce a vida não era Nessa risonha manhã! Em vez das mágoas de agora, Eu tinha nessas delícias De minha mãe as carícias E os beijos de minha irmã! 11. Como é caracterizada a poesia de Castro Alves? LÍNGUA PORTUGUESA - 2º ANO - ENSINO MÉDIO TÉCNICO 2015 29

PROSA O ROMANCE ROMÂNTICO NO BRASIL A urbanização da cidade do Rio de Janeiro, agora transformada em corte, criando uma sociedade consumidora representada pela aristocracia rural, profissionais liberais e jovens estudantes, todos em busca de entretenimento, o espírito nacionalista a exigir uma cor local para os romances, e na a mera importação ou tradução de obras estrangeiras, o jornalismo vivendo seu primeiro grande impulso e a divulgação em massa de folhetins; o avanço do teatro nacional: estes são alguns fatos que explicam o aparecimento e o desenvolvimento do romance no Brasil. Respondendo às exigências do público leitor, surgem romances que giram em torno da descrição dos costumes urbanos e amenidades do campo, ou que apresentam imponentes selvagens, personagens concebidos pela imaginação e ideologia românticas, com os quais o leitor se identifica, pois retratam uma realidade que lhe convém. Dessa forma, pela aceitação obtida junto ao público leitor, por ter moldado o gosto desse público ou correspondido às suas expectativas, convenciou-se adotar o romance A Moreninha, de Joaquim Manuel de Macedo, lançado em 1844, como o primeiro romance brasileiro. Principais autores: Joaquim Manuel de Macedo: Soube como ninguém adaptar o romance romântico europeu ao nosso ambiente, satisfazendo o público leitor da época. Retornando sempre às mesmas fórmulas, escreveu singelas histórias, cheias de sentimentalismo, cujo cenário era o meio natural e social do Rio de Janeiro e a sociedade pequeno-burguesa do século XIX. Nas ruas, nas festas públicas e nos saraus vamos encontrar suas personagens: estudantes, comerciantes, funcionários públicos, comadres, alcoviteiras e caixeiros. Suas narrativas terminam sempre com um final feliz, depois de muitos obstáculos e peripécias que vão se desfazendo até o desenlace. Suas principais obras são romances: A Moreninha, O Moço Loiro, Os dois amores. A luneta mágica; no teatro: O cego, O fantasma branco, O primo da Califórnia. A MORENINHA (FRAGMENTO) O fragmento que você vai ler pertence ao capítulo XVI do romance A moreninha, cujo enredo apresentamos em linha gerais: Um grupo de estudantes, augusto, Leopoldo, Fabrício e Felipe, resolve passar um fim de semana em casa deste último, na ilha de Paquetá. Como augusto se dizia incapaz de um compromisso amoroso duradouro, Felipe faz com ele a seguinte aposta: se Augusto ficasse apaixonado pela mesma mulher durante quinze dias ou mais, ele, Augusto, seria obrigado a escrever um romance relatando o acontecimento. Na ilha, Augusto conhece Carolina (A Moreninha), irmã de Felipe, por quem acaba se apaixonando. Mas o juramento feito a uma menina que conhecera aos treze anos, cujo paradeiro e identidade desconhecia, é um obstáculo à união dos dois. Ao descobrir que a menina de outrora era a própria Moreninha, o conflito se resolve favoravelmente. LÍNGUA PORTUGUESA - 2º ANO - ENSINO MÉDIO TÉCNICO 2015 30

O SARAU Em um sarau todo o mundo tem que fazer. O diplomata ajusta, com um copo de champanha na mão, os mais intrincados negócios; todos murmuram e não há que deixe de ser murmurado. O velho lembra-se dos minuetos e das cantigas do seu tempo, e o moço goza todos os regalos da sua época; as moças são no sarau como estrelas no céu; estão no seu elemento; (...) daí a pouco vão outras pelo braço de seus pares, se deslizando pela sala e marchando em seu passeio, mais a compasso que qualquer de nossos batalhões da Guarda Nacional, ao mesmo tempo que conversam sempre objetos inocentes que movem olhaduras e risadinhas apreciáveis. Outras criticam de uma gorducha vovó, que ensaca nos bolsos meia bandeja de doces que vieram para o chá, e que ela leva aos pequenos que, diz, lhe ficaram em casa. Ali vê-se um ataviado dândi que dirige mil finezas a uma senhora idosa, tendo os olhos pregados na sinhá, que senta-se ao lado. Finalmente, no sarau não é essencial ter cabeça nem boca, porque, para alguns é regra, durante ele, pensar pelos pés e falar pelos olhos. E o mais é que nós estamos num sarau: inúmeros batéis conduziram da corte para a ilha de... senhoras e senhores, recomendáveis por caráter e qualidade: alegre, numerosa e escolhida sociedade enche a grande casa, que brilha e mostra em toda a parte borbulhar o prazer e o bom gosto. Entre todas essas elegantes e agradáveis moças, que com aturado empenho se esforçam por ver qual delas vence em graças, encantos e donaires, certo que sobrepuja a travessa Moreninha, princesa daquela festa. (Joaquim Manuel de Macedo) Vocabulário: Minuete (minueto) nome de antiga dança francesa e da música que acompanhava essa dança. Regalo prazer; Ataviado enfeitado, ornado; Dândi homem que se veste com extremo apuro; almofadinha; Batel pequena embarcação. Aturado constante, persistente. Donaire elegância, adorno. EXERCÍCIOS 1. Que grupo social do século XIX é focalizado pelo narrador? 2. Por que o dândi procura parecer simpático à velha senhora? 3. Que expressões do narrador revelam o critério de escolha dos convidados para o sarau? LÍNGUA PORTUGUESA - 2º ANO - ENSINO MÉDIO TÉCNICO 2015 31

4. Com base na leitura desse trecho de A Moreninha, justifique a seguinte afirmação: O romance gira em torno de frivolidades (sem valor, fútil). José de Alencar: Construiu uma obra de inspiração nacionalista, traçando um variado painel da nossa realidade. Explorou a lenda, a história, os costumes da sociedade, a política e a vida colonial. Seus assuntos eram o homem e a terra brasileira, o Brasil do campo e o das cidades. É também o maior representante do indianismo. Sua obra separa definitivamente a literatura brasileira da portuguesa, pois, se o conteúdo era nacional, a forma de expressá-lo também o era: procurava uma sintaxe brasileira, introduzindo construções tipicamente nacionais e palavras indígenas. Por ser vasta, costuma-se dividir a sua obra de ficção em quatro grupos: Romance indianista Em textos de forte conteúdo lírico e fundamentação mais lendária do que histórica Alencar faz contrastarem a ganância e a falsidade do civilizado europeu com o mito do bom selvagem, a quem dá características de fidalgo. A incorporação do vocabulário tupi e a atenção aos costumes indígenas também marcam sua prosa indianista, da qual fazem parte os romances O guarani, Iracema e Ubirajara. Romance histórico Referem-se à conquista definitiva da terra brasileira e à ambição de imigrantes e aventureiros interessados nas riquezas da nova terra. Alencar procurou também representar as nossas origens e formação como povo. As minas de prata e A guerra dos mascates são as obras que representam essa vertente. Romance urbano Trata da vida carioca de então; apresenta-nos dramas morais e tipos femininos complicados. O amor, o casamento por interesse, a sociedade patriarcal e a importância do dinheiro estão presentes nos enredos que teceu. Pertencem ao romance urbano de Alencar as obras Cinco minutos, A viuvinha, Lucíola, Diva, A pata da gazela, Sonhos d ouro, Senhora e Encarnação. Romance regionalista Traça um painel das principais regiões do país: o extremo sul, o interior fluminense, o planalto paulista e o Nordeste, fazendo uma descrição de hábitos e costumes dessas regiões em O gaúcho, O tronco do ipê, Til, O sertanejo. LÍNGUA PORTUGUESA - 2º ANO - ENSINO MÉDIO TÉCNICO 2015 32

IRACEMA (FRAGMENTO) Além, muito além daquela serra, que ainda azula no horizonte, nasceu Iracema. Iracema, a virgem dos lábios de mel, que tinha os cabelos mais negros que asa da graúna e mais longos que seu talhe de palmeira. O favo da jati não era doce como seu sorriso, nem a baunilha recendia no bosque como seu hálito perfumado. Mais rápida que a ema selvagem, a morena virgem corria o sertão pelas matas do Ipu, onde campeava sua guerreira tribo, da grande nação tabajara. O pé grácil e nu, mal roçando, alisava apenas a verde pelúcia que vestia a terra com as primeiras águas. Um dia, ao pino do sol, ela repousava em um claro da floresta. Banhava-lhe o corpo a sombra da oiticica, mais fresca do que o orvalho da noite. Os ramos da acácia silvestre esparziam flores sobre os miúdos cabelos. Escondidos na folhagem, os pássaros ameigavam o canto. Iracema saíra do banho; o aljôfar da água ainda a roreja, como à doce mangaba que corou em manhã de chuva. Enquanto repousa, empluma das penas do guará as flechas do seu arco e concerta com o sabiá da mata, pousado no galho próximo, o canto agreste. A graciosa ará, sua companheira e amiga, brinca junto dela. Vocabulário: Graúna ave preta Jati abelha jataí Ipu região do Ceará Oiticica tipo de árvore Aljôfar pérola pequena (Alencar compara as gotas d água a pequenas pérolas) Rorejar cair em gotas Mangaba um tipo de fruta muito doce Guará ave de coloração vermelho-vivo Concertar harmonizar sons Ará um tipo de papagaio (José de Alencar) EXERCÍCIOS 1. Alencar faz uma descrição de Iracema. É uma descrição física ou moral? 2. O Romantismo procura valorizar nossa fauna e nossa flora. Trata-se de uma forma de nacionalismo. Isso ocorre no texto lido? Justifique. 3. A natureza, no texto, é decorativa ou há um entrosamento, uma harmonia entre a personagem e ela? Explique. LÍNGUA PORTUGUESA - 2º ANO - ENSINO MÉDIO TÉCNICO 2015 33