APLICAÇÃO DA ULTRASSONOGRAFIA NA AVALIAÇÃO DA GLÂNDULA MAMÁRIA DE RUMINANTES

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Transcrição:

APLICAÇÃO DA ULTRASSONOGRAFIA NA AVALIAÇÃO DA GLÂNDULA MAMÁRIA DE RUMINANTES Ariane Dantas 1, Eunice Oba 2, Murilo G. S. Charlier 3, Vânia M. V. Machado 4 1 Doutoranda em Biotecnologia Animal (FMVZ) UNESP de Botucatu dantas.vet@gmail.com 2 Docente da FMVZ (UNESP de Botucatu) euniceoba@fmvz.unesp.br 3 Docente da FMVZ (UNIUBE de Uberaba) mucharlier@hotmail.com 4 Docente da FMVZ (UNESP de Botucatu) vaniamvm@fmvz.unesp.br 1. INTRODUÇÃO Em rebanhos leiteiros, o conhecimento dos aspectos relacionados principalmente ao desenvolvimento da glândula mamária é fundamental, uma vez que o crescimento e diferenciação do tecido mamário são fatores importantes e determinantes aos índices produtivos do rebanho (AKERS, 2002). Dessa forma, a ultrassonografia, técnica de diagnóstico por imagem, já consagrada na medicina humana, entretanto, de uso crescente na medicina veterinária (CARVALHO et al., 2009), apresenta-se como uma importante ferramenta de avaliação da glândula mamária de vacas, cabras, ovelhas e búfalas (FASULKOV et al., 2012). De posse de informações, quanto a avaliação in vivo da estrutura mamária e valores de referência para interpretação dessas informações, se poderá conhecer e acompanhar o desenvolvimento da glândula em tempo real, apresentando implicações importantes e pioneiras na área de produção de animais leiteiros (SZENCZIOVÁ, I.; STRAPÁK, 2012). Assim, esta revisão por objetivo descrever um breve histórico da utilização dos exames ultrassonográficos da glândula mamária de ruminantes, no que diz respeito às suas vantagens e aplicações, além de identificar relatos atuais na literatura sobre esse assunto. 2. DESENVOLVIMENTO O úbere é uma glândula epitelial exócrina, semelhante a outras, tais como, salivares e sudoríparas, e formado por duas estruturas principais: O parênquima, referindo-se ao tecido glandular secretor, e o estroma, representado pelo tecido adipose. A estrutura e função da glândula mamária estão diretamente relacionadas à biologia da

lactação (DUKES, 1996). Durante seu desenvolvimento total, a glândula mamária de ruminantes passa por fases distintas: nos primeiros 2 meses ocorre crescimento isométrico, com taxa de crescimento proporcional ao desenvolvimento do corpo e do segundo mês até a puberdade a glândula mamária cresce de forma alométrica, sendo a taxa de crescimento 2 vezes superior ao desenvolvimento do corpo, durante este período ocorre intenso alongamento e ramificações dos ductos primários e o desenvolvimento do tecido adiposo é crescente (ROWSON et al., 2012). Após a puberdade, o crescimento da glândula mamária ocorre de forma isométrica, retornando o crescimento alométrico ao longo da gestação e lactação. Em ruminantes, a principal fração do desenvolvimento da glândula mamária ocorre na puberdade e gestação, principalmente do parênquima mamário. O crescimento e diferenciação do epitélio glandular durante os períodos de puberdade e gestação são fatores importantes e determinantes da área total do epitélio secretor e, consequentemente, da produção de leite (ROWSON et al., 2012). Portanto, para que o desempenho e, consequentemente, a eficiência produtiva de animais leiteiros possam ser melhorados, é fundamental compreender o desenvolvimento e diferenciação mamária. Nesse sentido, tem-se buscado métodos alternativos de pesquisa que reduzam o tempo e o custo das análises, bem como permita a avaliação in vivo dos animais, de forma não invasiva e em tempo real. A ultrassonografia mamária representa uma ferramenta de importância significativa na área de investigação da fisiologia animal, permitindo a obtenção de avaliações mais completas (CARVALHO et al., 2009). Na ultrassonografia, ondas sonoras de frequência superior a 20KHz são emitidas por um transdutor em pulsos contínuos sobre os tecidos. As interfaces dos tecidos refletem as frequências, parte delas retorna ao transdutor e, posteriormente, são processadas de modo a gerar imagens em tons de cinzas (PEIXOTO et al., 2010). É um método preciso, seguro, de fácil execução e relativamente de baixo custo. Além disso, permite a obtenção de informações em tempo real da estrutura analisada.

Trata-se de um exame inócuo e a sedação do paciente, na maioria das vezes, não é necessária. Outras vantagens dessa técnica estão em não utilizar radiação ionizante, portanto, pode ser empregada de forma repetida, sem efeitos nocivos. Além disso, por não requerer a eutanásia do animal, permite avaliações seriadas do mesmo indivíduo sob diferentes circunstâncias (MANNION, 2006). É uma técnica indicada para aferição do tamanho, formato, contorno, ecotextura e localização de órgãos, tecidos e vasos, ou monitoramento de suas funções e também para detectar a presença de massas anormais, como tumores, sendo, portanto, considerada modalidade importante de avaliação clínica, tanto na medicina como na veterinária (MANNION, 2006). Frente a tantos benefícios, o uso da ultrassonografia faz-se particularmente interessante no estudo da glândula mamária de animais de produção, uma vez que a quantidade e qualidade do leite produzido, assim como a eficiência de sua produção, estão diretamente relacionadas ao desenvolvimento, à atividade metabólica e à saúde do úbere (AKERS, 2002). Os primeiros registros do uso da ultrassonografia na glândula mamária em animais de produção são relativamente recentes na literatura veterinária, sendo o primeiro relato científico de Caruolo e Mochrie (1967), os quais estudaram o úbere de vacas em lactação. Cartee et al. (1986) utilizaram o ultrassom para avaliação de distúrbios na secreção do leite e alterações mamárias, também em vacas. Posteriormente, diversos outros trabalhos foram conduzidos (SARATSIS; GRUNERT, 1993; SEEH; HOSPES; BOSTEDT, 1996). Embora a maioria dos estudos com o uso da ultrassonografia mamária foram realizados em vacas (BRAUN; FORSTER, 2012; FASULKOV et al., 2014; BRAGA et al., 2015), há também uma quantidade considerável de trabalhos desenvolvidos em ovelhas (ALEJANDRO et al., 2014; PETRIDIS et al., 2014; MAKOVICKÝ; MARGETÍN; MILERSKI, 2015), cabras (DÍAZ et al., 2013; DAR, et al., 2014; FASULKOV et al., 2013) e búfalas (CONSTANTE; ACORDA, 2012; KOTB; ABU- SEIDA; FADEL, 2014).

A aplicação mais comum desta técnica consiste na avaliação do crescimento de diferentes estruturas mamárias com dados da produção de leite, o número de lactações e o manejo de ordenha, que permite a obtenção de diversas informações e fatores importantes e determinantes às práticas de manejo e seleção de animais com potencial leiteiro (SZENCZIOVÁ, I.; STRAPÁK, 2012). A ultrassonografia também é bastante empregada em estudos para avaliação do estado sanitário da glândula, tanto na elaboração de diagnósticos e prognósticos, quanto no acompanhamento evolutivo de diversas alterações, como: lesões de mucosa, proliferação de tecido, hematoma, abscesso e principalmente mastite (POTAPOW et al., 2010; CONDINO et al., 2012). No entanto, com uso da ferramenta Doppler, há aumento da sensibilidade e especificidade do exame ultrassonográfico, adicionando ao método convencional a capacidade de avaliar características hemodinâmicas (CARVALHO, 2009), o que permitiu a expansão da aplicação da técnica e, consequentemente, uma avaliação mais detalhada da glândula. De acordo com Dantas (2013), a avaliação da vascularização mamária, por meio do Doppler, apresenta-se como excelente ferramenta a ser utilizada no estudo do estado funcional da glândula mamária. O efeito Doppler pode ser definido como sendo o princípio físico no qual a frequência do som varia diante da aproximação ou afastamento da fonte emissora em relação ao observador. Quando aplicado à ultrassonografia de vasos sanguíneos, as hemácias em movimento nos vasos correspondem à fonte emissora de som e o transdutor ao observador. Assim, o efeito Doppler se refere à diferença entre a frequência da onda sonora emitida pelo transdutor e a frequência dos ecos que retornam do fluxo sanguíneo em movimento (HEDRICK; HYKES; STARCHMAN, 1995). Desta forma, dependendo da modalidade do Doppler escolhido, dados qualitativos e quantitativos, arterial e venoso, podem ser obtidos. Contudo, dentre as variáveis Doppler disponíveis para avaliação, as mais estudadas têm sido os índices de resistividade e pulsatilidade, possivelmente devido a multiplicidade das informações morfológicas e

hemodinâmicas que oferecem (PETRIDIS et al., 2014). Tais índices fornecem dados que permitem descrever e determinar padrões de normalidade da perfusão sanguínea, detectar alterações vasculares e a impedância do vaso, além de determinar o estado metabólico do órgão analisado, bem como a presença de doenças (CARVALHO, 2009). No entanto, pouco se sabe sobre as características hemodinâmicas da artéria mamária de animais leiteiro durante as distintas fases de desenvolvimento. CONCLUSÃO Estudos relacionados à ultrassonografia mamária de ruminantes são relativamente recentes na literatura veterinária, contudo, apresentam implicações importantes na área de produção animal. Desse modo, pode ser utilizada como ferramenta para estudo do desenvolvimento mamário de fêmeas em diferentes estágios fisiológicos, como base de consulta para comparações entre animais saudáveis e doentes, assim como para a seleção de animais jovens com características leiteiras, possibilitando melhor retorno econômico ao produtor. REFERÊNCIAS AKERS, R. M. Lactation and the mammary gland. 1. ed. Iowa: Blackwell Publishing, 2002. 278p. ALEJANDRO, M. et al. Study of ultrasound scanning as method to estimate changes in teat thickness due to machine milking in Manchega ewes. Small Ruminant Research, Amsterdam, v. 119, p. 138-145, 2014a BRAGA, A. R. et al. Morphophysiology, disorders and the ultrasound diagnosis gland breast in cattle: Literature Review. Nucleus Animalium, Ituverava, v. 7, p. 17-29, 2015. BRAUN, U.; FORSTER, E. B-mode and colour Doppler sonographic examination of the milk vein and musculophrenic vein in dry cows and cows with a milk yield of 10 and 20 kg. Acta Veterinaria Scandinavica, Vanloese, v. 54, p. 1-5, 2012. CARTEE, R. E.; IBRAHIM, A. K.; McLEARY, D. B-mode ultrasonography of the bovine udder and teat. American Veterinary Medical Association, Schaumburg, v. 188, p. 1284-1287, 1986. CARUOLO, E. V.; MOCHRIE, R. D. Ultrasonograms of lactating mammary glands. Journal of Dairy Science, New York, v. 50, p. 225-230, 1967. CARVALHO, C. F. Ultrassonografia Doppler em pequenos animais. São Paulo: Roca, 2009. 288p.

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