Profª Drª Ana Cristina Ghisleni Profª Drª Angélica Vier Munhoz

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Transcrição:

Perspectivas analíticas sobre os desempenhos da educação básica no Rio Grande do Sul: as aproximações entre o IDEB e o contexto de atuação das escolas (2013-2015) Profª Drª Ana Cristina Ghisleni anacghisleni@gmail.com Profª Drª Angélica Vier Munhoz angelicavmunhoz@gmail.com Mestrado em Ensino Centro Universitário Univates

Analisa os indicadores de contexto disponibilizados pelo Portal do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) desde 2014, partindo do conteúdo das notas técnicas dos indicadores, passando por uma análise que verifica os limites e as possibilidades dessas elaborações e, por fim, a resposta de algumas apreensões sobre o material trabalhado

O objetivo foi problematizar o uso dos índices e dos contextos, desenhando formulações sobre as preocupações e os entendimentos acerca dos resultados da avaliação em larga escala.

Na parte final do estudo, foram agregadas informações específicas em relação ao conhecimento e o uso dos indicadores - coletadas junto a seis escolas públicas da Região do Vale do Taquari, Rio Grande do Sul (RS). Tais informações foram retiradas de uma pesquisa mais ampliada, vinculada ao Observatório de Educação (Edital 049/2012 INEP/CAPES) e ao projeto de pósdoutoramento, ambos desenvolvidos na Univates.

Ao encerrar, problematiza a avaliação pautada nos resultados e chama a atenção para a necessidade de um olhar mais ampliado à compreensão dos processos de percepção e de entendimento da avaliação em larga escala.

INEP IDEB (2014) + indicadores fatores e informações relativos à complexidade da gestão escolar, prática pedagógica inclusiva, infraestrutura básica, espaços de aprendizagens e equipamentos, organização e participação na Prova Brasil. indicadores desenvolvidos e calculados pelo INEP que versam sobre esforço e adequação da formação docente, complexidade da gestão nas escolas e seu nível socioeconômico

por um lado, lançar um olhar baseado em estudos de Sousa (2003), Sousa; Arcas (2010) e Bonamino (2002) acerca dos processos, procedimentos, contextos, limites e possibilidades das avaliações em larga escala no cenário nacional. Por outro, tensionar a lógica que as sustenta ao colocar seu foco nos desempenhos, mensurações e ranqueamentos.

Indicador do Esforço Docente, mensura o esforço empreendido pelos docentes da Educação Básica brasileira no exercício da sua profissão (BRASIL, 2014, p.1). escala de esforço docente a partir da análise de itens denominados característicos do trabalho do professor: o número de escolas em que atua, turnos, trabalho, alunos atendidos e etapas em que leciona. Os limites de tal mensuração se evidenciam na medida em que não são considerados fatores de qualidade, envolvimento com a comunidade escolar e da interferência da carga de trabalho na capacidade de planejamento, estudo e organização dos professores

Adequação da Formação do Docente da Educação Básica. Considera a formação acadêmica e a disciplina em que o professor atua, apoiando-se em dados do Censo Escolar sobre a formação desse profissional e nas obrigatoriedades de formação inicial e continuada estabelecidas pela Legislação a qualificação da docência é compreendida como a relação entre a disciplina ministrada e a formação de quem leciona

Segundo a nota técnica, a docência é compreendida como ação de ensinar aprender de sujeitos em relação a objetos de aprendizagem, mediada por práticas didáticas, com vistas ao desenvolvimento de habilidades e competências (BRASIL, 2014, p. 4). Sob esse enfoque, estabelece-se uma visão unilateral e eminentemente técnica do processo educativo e educacional, não levando em consideração outros elementos presentes nas relações pedagógicas, escolares e estabelecidas entre professores e alunos.

Indicador para mensurar a complexidade da gestão nas escolas se utiliza dos dados do Censo Escolar da Educação Básica. Dentre as 190.706 respondentes, foram consideradas as seguintes características: - porte da escola; - número de turnos de funcionamento; - complexidade das etapas de ensino oferecidas; - número de etapas/modalidades oferecidas.

Para fins de organização dos dados, foram criados seis grupos de escolas com crescentes níveis de complexidade de gestão escolar. A partir desse arranjo, somente 3,8% apresentaram complexidade de gestão mais alta (nível 6). Esse índice, entretanto, respondia por 13,9% das matrículas. Tal situação, segundo a nota técnica do indicador, reflete o fato de que níveis de complexidade de gestão mais elevados estão associados à [sic] escolas de maior porte (BRASIL, 2014, p. 4).

Por fim, o portal do IDEB apresenta o Indicador de Nível Socioeconômico das Escolas de Educação Básica (INSE). Trata-se da única nota técnica que apresenta referências bibliográficas de cunho analítico. As demais se debruçam tão somente sobre referência da metodologia estatística e da base legal. O INSE parte de uma premissa interessante ao considerar o monitoramento da qualidade como atividade essencial para a orientação e a avaliação das políticas públicas educacionais e das formas de gestão dos sistemas de ensino do país (BRASIL, 2014, p. 1). A proposta do indicador é conhecer as condições em que os processos de avaliação ocorrem.

o indicador estabelece, de um lado, a ligação entre a teoria social ou a política pública adotada, e o fenômeno social empiricamente estudados ou monitorado, de outro, ao mensurar e dar sentido às dimensões ou aspectos enfocados desse fenômeno (BRASIL, 2014, p. 4). São utilizados dados dos questionários contextuais do ano de 2011 (para o ano de 2013, foi realizada uma análise preditiva, considerando Bolsa Família, dependência administrativa, localização e INSE médio do município), tendo por base estudantes que responderam a mais de três indagações relativas à posse de bens, renda familiar, contratação de serviços de empregados domésticos pela família e escolaridade dos pais ou responsáveis.

Os avanços representados pelos indicadores até agora referidos respondem, em alguma medida, aos clamores expressados por vários estudiosos da avaliação em larga escala. Em termos brasileiros, a necessidade de constituição de elementos de relativização acerca dos resultados anunciados há muito se tornou frequente nas análises realizadas.

Ao lado da autoavaliação criteriosa e rigorosa, como um avanço na capacidade reflexiva sobre o trabalho escolar realizado, a necessidade de consideração de fatores preponderantes no funcionamento da escola, no trabalho do professor e na vida do aluno, figura como chave importante de análise dos resultados obtidos dentro do contexto em que se localizam. Em relação a uma apropriação sociológica da avaliação em larga escala, vários estudos partem do pressuposto de que a utilização hoje feita, baseada tão somente nos resultados advindos dos instrumentos de avaliação, é restrita. Além disso, apontam para o fato de que os formatos atualmente utilizados são omissos na compreensão dos fatores que concorrem para a configuração de determinadas realidades.

Nesse cenário, as avaliações em larga escala são compreendidas como elementos de um processo e não como a expressão inequívoca de resultados finais. Os resultados advindos das avaliações servem para traduzir em números uma realidade que há muito já era verificada nos cotidianos escolares, mas não conseguia se evidenciar de forma clara. Tal mensuração explicita e legitima as estruturas institucionais - em suas dimensões internacional, nacional e locais (no que se refere à mantenedora e às próprias escolas) - e pedagógicas.

Nesse segmento, a avaliação em larga escala pode ser compreendida como um dispositivo que fragmenta e descontextualiza o processo de ensino e aprendizagem, reduzindo-o ao mero objetivo de uniformidade e objetividade de dados que são organizados com definições prévias de critérios e que visam a resultados concretos e precisos.

Para que possamos tecer compreensões sobre os entendimentos e os significados adquiridos pelos resultados das avaliações em larga escala junto às escolas, suas equipes gestoras, professores e alunos, é necessário que busquemos ponderações que extrapolem as discussões das políticas educacionais e que agreguem elementos que problematizem a utilização dessas políticas. Se essa lógica de avaliação pode responder ao controle de eficiência da produtividade, com certeza não leva ao conhecimento de experiências de aprendizagens vividas pelos estudantes ou práticas exercidas pelos professores. Neste sentido, ao analisarmos as avaliações em larga escala, torna-se necessário também tensionarmos os dispositivos que permeiam tais estratégias, bem como investigar como tais avaliações operam e conduzem as ações pedagógicas de docentes, discentes e das instituições.

A observação acerca da existência dos indicadores de contexto, dos termos técnicos que os sustentam e da relevância questionável que eles assumem na apropriação dos resultados da avaliação em larga escala (mesmo considerando o universo das seis escolas públicas aqui pesquisadas) pode revelar a assunção de uma cultura avaliativa nos procedimentos escolares e pedagógicos. Nesse cenário, indicadores de contexto tendem a ser considerados tão somente diante de resultados adversos, consolidando uma dicotomia perversa e linear entre sucesso e fracasso.