A UTILIZAÇÃO DE ÁGUAS PLUVIAIS PARA FINS NÃO POTÁVEIS EM HABITAÇÃO UNIFAMILIAR DE BAIXA RENDA

Documentos relacionados
Aproveitamento de água de chuva Cristelle Meneghel Nanúbia Barreto Orides Golyjeswski Rafael Bueno

TH 030- Sistemas Prediais Hidráulico Sanitários

MANUAL DE INSTALAÇÃO

MANUAL DE INSTALAÇÃO

Saneamento Urbano II TH053

Aproveitamento de água de chuva em áreas urbanas para fins não potáveis - Requisitos

PHD 313 HIDRÁULICA E EQUIPAMENTOS HIDRÁULICOS

TRATAMENTO DE EFLUENTES P/ REUSO & Engo. Ricardo Teruo Gharib 2012

Saneamento Urbano TH419

IV Congresso Baiano de Engenharia Sanitária e Ambiental

IMPLANTAÇÃO DE UM SISTEMA DE CAPTAÇÃO DE ÁGUA DA CHUVA NA FACULDADE CNEC FARROUPILHA Sustentabilidade e Cidadania

CERTIFICAÇÃO LEED. Prof. Fernando Simon Westphal Sala

Sistemas de Aproveitamento de Água da Chuva. Daniel Costa dos Santos Professor do DHS/UFPR

Voluntário do projeto de pesquisa PIBIC e Acadêmico do curso de Engenharia Civil da Unijuí. 3

Resumo. Introdução. Metodologia. Palavras-chave: Reúso. Águas Cinzas. Esgoto.

Unidade: Instalações prediais de coleta e condução de águas. Unidade I: pluviais

Proposta de implantação de sistema de reuso de água pluvial para uso em um lava rodas Claudia Azevedo Karine de Andrade Almeida Virginia Guerra Valle

IMPORTÂNCIA DO REÚSO DE ÁGUAS E DO APROVEITAMENTO DA ÁGUA DE CHUVA ÁGUA = RECURSO VITAL E FINITO!!! Má distribuição; Poluição; Desperdícios; Vazamento

SEGURANÇA JURÍDICA E REGULAMENTAÇÕES AMBIENTAIS

CÂMARA MUNICIPAL DE CONTAGEM

TH 030- Sistemas Prediais Hidráulico Sanitários

CONTRIBUIÇÃO DA CAPTAÇÃO DA ÁGUA DE CHUVA AO SISTEMA DE ABASTECIMENTO URBANO

Aula 01:Instalações Prediais- Esgotos Sanitários- Introdução. Professora: Msc. Maria Cleide Oliveira Lima

Reutilização das Águas Pluviais RESUMO

APROVEITAMENTO DA ÁGUA DE CHUVA

ANEXO V Memorial descritivo do Espaço Inovação

GESTÃO DE ÁGUA EM SERVIÇOS DE SAÚDE. Jonas Age Saide Schwartzman Engenheiro Ambiental Instituições Afiliadas SPDM (11)

Universidade Federal do Espírito Santo

Componentes de instalação do sistema

RESERVATÓRIO EM POLIETILENO

Aproveitamento de água de chuva Prof. Ana Cristina Rodovalho Reis- IH 2 PUC Goiás. 1

Sistemas Prediais de Águas Cinzas. Prof. Daniel Costa dos Santos

ESTIMATIVA DE APROVEITAMENTO DE ÁGUA PLUVIAL PARA FINS NÃO POTÁVEIS: ESTUDO DE CASO NA UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA LOCALIZADA EM ARARUNA - PB

ANALYSIS OF SIMULATION METHOD TO SIZING RAINWATER TANKS IN SINGLE-FAMILY HOUSES

Filtro para até 600 m² de telhado. useaguadechuva.com

ESTUDO DA VIABILIDADE DE UM SISTEMA DE APROVEITAMENTO DE ÁGUA PLUVIAL PARA FINS NÃO POTÁVEIS EM UM SUPERMERCADO

cada vez mais difícil satisfazer as necessidades de todos os setores.

CALHA PET CONSTRUÇÃO DE CALHAS DE GARRAFA PET PARA APROVEITAMENTO DA ÁGUA DA CHUVA E REDUÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS

COMUNICAÇÃO TÉCNICA Nº Aproveitamento de água de chuva no meio urbano: aspectos técnicos e legais

TÉCNICO EM EDIFICAÇÕES INSTALAÇÕES HIDROSSANITÁRIAS AULA 05

CAPTAÇÃO DE ÁGUA DA CHUVA EM ZONA RURAL ESTUDO DE CASO

ID 246 CAPTAÇÃO E REUSO DE ÁGUAS PLUVIAIS EM EDIFICAÇÕES RESIDENCIAIS. Maria Cristina Rizk

Estudo da viabilidade econômica da captação de água de chuva em residências da cidade de João Pessoa

ESTUDO DE VIABILIDADE DA CAPTAÇÃO DE ÁGUAS PLUVIAIS NO IFPE CAMPUS CARUARU

PHD 0313 Instalações e Equipamentos Hidráulicos

DEVELOPMENT OF COMPUTER PROGRAM FOR SCALING SYSTEMS OF PARTIAL UTILIZATION OF RAIN WATER FOR POTABLE PURPOSES IN RESIDENTIAL BUILDINGS

1. INTRODUÇÃO E JUSTIFICATIVA

IV-046 POTENCIALIDADE DE REÚSO RESIDENCIAL UTILIZANDO FONTES ALTERNATIVAS DE ÁGUA

Instalações Prediais Hidráulico-Sanitárias: Princípios Básicos para Elaboração de Projetos

Dr. Joel Avruch Goldenfum Professor Adjunto IPH/UFRGS

INSTALAÇÕES HIDRÁULICAS PREDIAIS

APROVEITAMENTO DA ÁGUA DE CHUVA EM ESCOLA MUNICIPAL DE SANTA MARIA-RS 1 RAINWATER CATCHMENT IN MUNICIPAL SCHOOL OF SANTA MARIA-RS

ESTUDO DAS METODOLOGIAS DE DIMENSIONAMENTO DE RESERVATÓRIOS DE ÁGUA DE CHUVA

Legislações voltadas ao uso racional e à conservação da água

Casa Eficiente a. Aproveitamento de águas pluviais

Captação de água de chuva e armazenamento em cisterna para uso na produção animal

Sistemas Prediais de Águas Pluviais

MÉTODOS DE DIMENSIONAMENTO E SIMULAÇÃO PARA RESERVATÓRIOS DE ÁGUA PLUVIAL

USOS DADOS A ÁGUA DAS CISTERNAS DA COMUNIDADE DE LAGINHA MUNICÍPIO DE PRATA, PB.

Prof. Me. Victor de Barros Deantoni

Instalações Hidráulicas e o Projeto de Arquitetura 9ª edição

INTRODUÇÃO INTRODUÇÃO INTRODUÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ DEPARTAMENTO DE CONSTRUÇÃO CIVIL CONSTRUÇÃO CIVIL IV

AC FILTRO COLETOR DE ÁGUA DA CHUVA MANUAL DE INSTRUÇÕES E INSTALAÇÃO APLICAÇÃO PARA TELHADOS DE ATÉ 500m²

DETERMINAÇÃO DO BALANÇO HÍDRICO COMO PARTE DO ESTUDO DE VIABILIDADE DE UM SISTEMA DE APROVEITAMENTO DE ÁGUA PLUVIAL EM ESTABELECIMENTO INDUSTRIAL

1 INSTALAÇÕES PREDIAIS DE ÁGUA FRIA

"REAPROVEITAMENTO DE ÁGUA PLUVIAL NA INDÚSTRIA TUDOR MG DE BATERIAS LTDA"

DIAGNÓSTICO DA UTILIZAÇÃO DE CISTERNAS PARA ARMAZENAMENTO DE ÁGUAS PLUVIAIS NO SERTÃO PARAIBANO

TH 030- Sistemas Prediais Hidráulico Sanitários

ÁGUAS PLUVIAIS INSTALAÇÕES HIDROSANITARIAS

AMBIENTAL MS PROJETOS EQUIPAMENTOS E SISTEMAS

ANÁLISE COMPARATIVA DE MÉTODOS DE DIMENSIONAMENTO DE RESERVATÓRIO DE APROVEITAMENTO DA ÁGUA DE CHUVA

TÍTULO: COMPARAÇÃO METODOLÓGICA PARA DIMENSIONAMENTO DE RESERVATÓRIOS DE APROVEITAMENTO DE ÁGUA DE CHUVA

XIV SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE CIÊNCIAS INTEGRADAS DA UNAERP CAMPUS GUARUJÁ. Necessidades Energéticas e Consequências Ambientais

XIV SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE CIÊNCIAS INTEGRADAS DA UNAERP CAMPUS GUARUJÁ. Necessidades Energéticas e Consequências Ambientais.

Estado do Rio de Janeiro CÂMARA MUNICIPAL DE ANGRA DOS REIS Gabinete do Vereador Chapinha do Sindicato

APROVEITAMENTO DE ÁGUAS PLUVIAIS

CISTERNA tecnologia social: atendimento população difusa

RAFARD RELATÓRIO DE FISCALIZAÇÃO TÉCNICA DOS SISTEMAS DE ÁGUA E ESGOTO DO MUNICÍPIO DE. Relatório R4 Não Conformidades

13 passos. para executar um pavimento. permeável e armazenar água da chuva

GESTÃO ÁGUAS ESTUDO DE CASO: EDIFÍCIO DE ALOJAMENTOS BLOCO E - USP SÃO CARLOS

PROJETO DE VIABILIDADE DE EQUIPAMENTO DE CAPTAÇÃO DE ÁGUA DA ÁGUA DA CHUVA PARA REUSO DOMÉSTICO

Reservatórios: 01 reservatório de 1000 litros de capacidade em fibra de vidro.

MUITO MAIS TECNOLOGIA E VERSATILIDADE PARA CUIDAR DA ÁGUA

GESTÃO RACIONAL DE RECURSOS HÍDRICOS ATRAVÉS DO SISTEMA DE REÚSO DE ÁGUAS CINZA E APROVEITAMENTO DE ÁGUAS PLUVIAIS EM CONDOMÍNIO RESIDENCIAL

Notas de Aula_08_2007

Instalações Hidráulicas/Sanitárias Água Pluvial

Onde: Q: vazão da bomba (m 3 /s); H: altura manométrica da bomba (m); P: potência da bomba (W); N: velocidade de rotação da bomba (rpm).

LEITURA E INTERPRETAÇÃO DE PROJETOS DE CONSTRUÇÃO CIVIL

TÍTULO: CAPTAÇÃO, MANEJO E USO DA ÁGUA DA CHUVA EM PRAÇAS ADAPTADAS AO CLIMA TROPICAL DE ALTITUDE NO ESTADO DE SÃO PAULO.

Prof. Me. Victor de Barros Deantoni

POTENCIAL ASSESSMENT AND FACILITIES SIZING TO RAINWATER HARVESTING FOR NON-POTABLE PURPOSES IN CURITIBA CAMPUS UTFPR ECOVILLE

Instalações Hidráulicas Prediais

ÁGUAS PLUVIAIS. d) a estabilidade da vazão de esgotos, que é muito mais crítica, no sistema separador absoluto é maior.

LISTA EXERCÍCIOS SPHS 2017 PROFESSOR DANIEL COSTA DOS SANTOS

Aula 9 Desenho de instalações hidrossanitárias: normas, simbologias e convenções

SISTEMA DE APROVEITAMENTO DE ÁGUA PLUVIAL EM EDIFÍCIOS - ESTUDO DE CASO EM UMA EDIFICAÇÃO COMERCIAL

ESTUDO DO POTENCIAL DE CAPTAÇÃO E APROVEITAMENTO DE ÁGUA DA CHUVA EM PRÉDIOS PÚBLICOS: UM PROJETO PILOTO PARA PRÉDIOS DO SEMIÁRIDO DA PARAÍBA

Transcrição:

A UTILIZAÇÃO DE ÁGUAS PLUVIAIS PARA FINS NÃO POTÁVEIS EM HABITAÇÃO UNIFAMILIAR DE BAIXA RENDA Celina Vanat de Oliveira Arquiteta. Lattes: http://lattes.cnpq.br/2126973448446338. Faculdades Ponta Grossa. Ponta Grossa-PR. Brasil. E-mail: celina_vanat@hotmail.com Luís Banaczek Engenheiro Civil. Lattes: http://lattes.cnpq.br/5893792307723962. Prefeitura Municipal de Castro. Castro PR. Brasil. E-mail: banaczek.luis@gmail.com Resumo: A utilização de água da chuva não é uma prática recente. Com a falta de água e a crescente busca por práticas sustentáveis em todas as atividades humanas, seu aproveitamento mostra-se como uma forte tendência em edificações. A água pode ser utilizada para fins não potáveis, dessa forma preservando as águas tratadas para fins mais nobres, reduzindo o tempo do ciclo da água, além do risco de enchentes. O objetivo deste trabalho é apresentar soluções para o aproveitamento pluvial de fácil instalação para edificações habitacionais de população de baixa renda na cidade de Castro-PR. A pesquisa é qualitativa através da revisão bibliográfica e coleta de dados referente à quantidade de chuva na região em estudo, descrição da edificação em estudo, o dimensionamento da área do telhado da edificação e o dimensionamento do reservatório para armazenar a água pluvial captada. Deste modo, verificou-se a possibilidade de implantação do sistema para atender suas necessidades de consumo. Palavras-chave: Águas pluviais. Reservatório. Tratamento de Água. Fins não potáveis. Cidade de Castro PR. Abstract: The use of rainwater is not a recent practice. With the lack of water and the growing search for sustainable practices in all human activities, its use is shown as a strong tendency in buildings. Water can be used for non-potable purposes, thus preserving the waters treated for nobler purposes, reducing the time of the water cycle, and the risk of flooding. The objective of this work is to present solutions for the use of easy-to-install rainwater for housing buildings of low-income population in the city of Castro-PR. The research is qualitative through the bibliographical revision and data collection regarding the amount of rainfall in the region under study, description of the building in study, the sizing of the roof area of the building and the scaling of the reservoir to store the rainwater Captured. In this way, it was verified the possibility of implantation of the system to meet its consumption needs. Keywords: rainwater. Reservoir. Water treatment. Purposes not potable. City of Castro PR Revista Técnico-Científica do CREA-PR - ISSN 2358-5420 - 10ª edição Maio de 2018 - página 1 de 13

1 INTRODUÇÃO O aumento da população mundial de forma desordenada, e consequentemente na demanda por água potável faz o homem buscar alternativas para suprir suas necessidades. Além das mudanças da forma de consumo, com a conscientização da população e incentivo ao uso sustentável da água, devem ser incentivadas novas tecnologias, que possibilitem a utilização rotineira da água potável para fins mais nobres, como cozinhar alimentos, realização de higiene e para consumo, deixando a água não potável para fins menos nobres, como descarga em bacias sanitárias, rega de jardins e lavagem de calçadas. Dentro das práticas que racionalizam a utilização da água de acordo com a sua finalidade, estão o Reuso de Águas Cinza e a Captação de Água da chuva que, após tratamento, podem ser utilizadas para fins não potáveis. Como o uso de águas cinzas não possui padrões descritos em uma norma específica, este trabalho tratará apenas da utilização de água da chuva. Este trabalho tem por finalidade caracterizar um sistema hidráulico residencial de reaproveitamento de águas pluviais para uso não potável como: descarga em bacias sanitárias, lavagem de calçadas e rega de jardins para habitações de baixa renda. As famílias de baixa são aquelas cuja renda familiar mensal é de até 3 salários mínimos. Serão apresentados os itens mínimos necessários para utilização de água da chuva, de acordo com a NBR 15527:2007 - Água de chuva - Aproveitamento de coberturas em áreas urbanas para fins não potáveis através de um projeto simples e de fácil instalação. Além disso, os principais problemas e limitações do sistema serão elencados. A utilização de águas pluviais para fins não potáveis possui tecnologia simples e importante, que deve ser incluída nos projetos de residências sustentáveis. Diariamente, grandes quantidades de água potável são utilizadas para descarga em bacias sanitárias e lavagem de calçadas, sendo que poderia ser Revista Técnico-Científica do CREA-PR - ISSN 2358-5420 - 10ª edição Maio de 2018 - página 2 de 13

utilizada para preparo de alimentos e higiene. Com a utilização deste sistema, a água potável pode ser utilizada apenas para fins nobres e a água da chuva para fins não potáveis, assim reduzindo o tempo do ciclo da água. 2 REFERENCIAL TEÓRICO 2.1 UTILIZAÇÃO DE ÁGUAS PLUVIAIS A NBR 15527: 2007 conceitua água de chuva em seu item 3.1 como água resultante de precipitações atmosféricas coletada em coberturas, telhados, onde não haja circulação de pessoas, veículos ou animais. A captação e aproveitamento da água da chuva não é uma prática nova, existem relatos desse tipo de atividade há milhares de anos, antes mesmo da era cristã. (ANNECCHINI, 2005) Bertolo (2006) cita como principais vantagens da utilização de águas pluviais a redução do consumo de água potável e do custo de fornecimento da mesma e a melhor distribuição da carga de água da chuva no sistema de drenagem urbana, o que ajuda a controlar as cheias. Dornelles (2012) descreve que há uma tendência de crescimento do aproveitamento de água da chuva, motivado pelo enfoque ambientalista, que visa inserir a sustentabilidade em todas as atividades humanas. Segundo Silveira (2008), os critérios de qualidade para o reuso da água são baseados em requisitos de usos específicos, em considerações estéticas e ambientais e na proteção da saúde pública. 2.2 SISTEMAS DE UTILIZAÇÃO DE ÁGUA PLUVIAL O sistema de aproveitamento da água da chuva é considerado um sistema descentralizado de suprimento de água, que tem como finalidade conservar os recursos hídricos, reduzindo o consumo de água potável (KOENIG, 2003) Estes sistemas captam a água da chuva que cai sobre superfícies, direcionando-as a reservatórios de armazenamento para posterior utilização. (ANNECCHINI, 2005) Revista Técnico-Científica do CREA-PR - ISSN 2358-5420 - 10ª edição Maio de 2018 - página 3 de 13

Para a coleta da água pluvial, o sistema envolve a captação, a filtração, a reservação e a distribuição. Em alguns casos é necessária a desinfecção, para a utilização de fins potáveis, com na lavagem de roupas. (JABUR, BENETTI e SILIPRANDI, 2011) As tubulações e demais componentes devem ser claramente diferenciados das tubulações de água potável. O sistema de distribuição de água de chuva deve ser independente do sistema de água potável, não permitindo a conexão cruzada de (NBR 5626). Os pontos de consumo devem ser de uso restrito e identificados com placa de advertência com a seguinte inscrição "água não potável" e identificação gráfica. 2.2.1 Área de captação A ABTN 15527 (2007) define como área de captação, a área em metros quadrados projetada na horizontal da superfície impermeável da cobertura onde a água é captada. A captação de água da chuva varia com o tamanho e a composição do telhado. Materiais macios, lisos e impermeáveis contribuem com o aumento da quantidade e qualidade da água (BERTOLO, 2006). Podem ser de telha cerâmica, de fibrocimento, de zinco, de aço galvanizado, de plástico, de vidro, de acrílico, ou mesmo, de concreto armado ou manta asfáltica (ANNECCHINI, 2005) Para Dornelles (2012), a composição da superfície altera a água apenas esteticamente, podendo trazer coloração diferenciada, não sendo um problema para fins não potáveis. Devido à poluição urbana (poluição difusa), muita sujeira é depositada nos telhados das edificações. Por isso, ao coletar a água pluvial, é necessário o descarte dos primeiros 5 minutos de água, que irão lavar o telhado e retirar os poluentes. (JABUR, BENETTI e SILIPRANDI, 2011) Revista Técnico-Científica do CREA-PR - ISSN 2358-5420 - 10ª edição Maio de 2018 - página 4 de 13

2.2.2 Sistema de Condução Conforme Dornelles (2012), a condução da água dos telhados até o reservatório é feito através de calhas e tubulações, de acordo com a NBR 10844/1989 Instalações Prediais de Águas Pluviais, que especifica o detalhamento e a forma de instalação. Nos telhados, empregam-se calhas que, conforme o detalhe arquitetônico, podem ser de cobre, PVC rígido, chapa galvanizada, fiberglass e concreto. (MACINTYRE, 2013) Pode ser instalado no sistema de aproveitamento de água de chuva um dispositivo para o descarte da água de escoamento inicial, que é a proveniente da área de captação suficiente para carregar a poeira, fuligem, folhas, galhos e detritos (NBR 15527, 2007) Segundo Annecchini (2005), deve-se evitar a entrada de folhas, gravetos ou outros materiais grosseiros no reservatório, através de telas ou grades nas calhas, pois estes poderão se decompor prejudicando a qualidade da água. Figura 1 Modelo básico e de baixo custo de captação de águas pluviais Fonte: JABUR, BENETTI e SILIPRANDI, 2011 2.2.3 Reservatório para armazenamento O armazenamento de água de chuva, de modo geral, requer volumes superiores aos necessários para armazenamento de água potável fornecida pela Revista Técnico-Científica do CREA-PR - ISSN 2358-5420 - 10ª edição Maio de 2018 - página 5 de 13

rede de abastecimento, devido à disponibilidade de chuva, que é má distribuída no tempo (DORNELLES, 2012). Segundo Annecchini (2005), os reservatórios de água de chuva podem ser enterrados, semi-enterrados, apoiados sobre o solo ou elevados. Esses reservatórios podem ser construídos de diferentes materiais, como concreto armado, alvenaria, fibra de vidro, aço, polietileno, entre outros, e podem ter diversas formas. May (2004) apresenta as seguintes recomendações para o bom funcionamento do reservatório: - evitar a incidência direta de luz solar no reservatório, para reduzir a proliferação de microorganismos; - a tampa de inspeção deve ser hermética; - a saída do extravasor deve possuir uma tela que impeça o ingresso de animais; - realizar a limpeza anualmente removendo o sedimento no fundo; - o fundo do reservatório deve ter caimento mínimo em direção à saída auxiliar de limpeza; - o reservatório e a tubulação que conduz água da chuva, devem ser identificados com placas e pintados com cor diferenciada, para identificar que a água ali contida não é potável; - o tubo de entrada deve ter um dispositivo de redução de turbulência (freio hidráulico), que evite o revolvimento do sedimento depositado no fundo do reservatório. Estes dispositivos são peças hidráulicas que direcionam o jato na direção vertical e oposta ao fundo do reservatório, fazendo com que a velocidade seja dissipada na zona superficial do reservatório. 2.2.4 Sistema de recalque Esse sistema é constituído por um conjunto de motores e bombas que são utilizados para transportar a água do reservatório de armazenamento de água de chuva, situado abaixo do nível de utilização, para um reservatório elevado que distribuirá a água por gravidade para os pontos de uso de água não potável. Em alguns casos, o reservatório de armazenamento de água de chuva situa-se logo abaixo do telhado, não sendo necessária a instalação de um sistema de recalque. (CARDOSO, 2010) 2.3 CARACTERÍSTICAS DE QUALIDADE DAS ÁGUAS Na ABNT 15527 (2007), verificamos que os padrões de qualidade devem ser definidos pelo projetista de acordo com a utilização prevista. Para desinfecção, a Revista Técnico-Científica do CREA-PR - ISSN 2358-5420 - 10ª edição Maio de 2018 - página 6 de 13

critério do projetista, pode-se utilizar derivado clorado, raios ultravioleta, ozônio e outros. Em aplicações onde é necessário um residual desinfetante, deve ser usado derivado clorado tipo flutuante (de piscinas) com o uso de pastilhas de cloro. (JABUR, BENETTI e SILIPRANDI, 2011) O cloro é o desinfetante mais comum devido à sua eficiência, solubilidade em água, disponibilidade e facilidade de aplicação (BERTOLO, 2006). Há dispositivos dosadores de cloro, que podem ser instalados na entrada do reservatório, clorando a água no momento do seu ingresso, ou então, são dispositivos instalados no interior dos reservatórios, que então disponibilizam o cloro a uma taxa constante (DORNELLES, 2012) Na tabela 1, adaptada da ABNT 15527, podemos verificar as características de qualidade de águas para fins mais restritivos. Tabela 1 - Parâmetros de qualidade de água de chuva para usos restritivos não potáveis Parâmetro Análise Valor Coliformes Totais Semestral Ausência em 100 ml Coliformes Termotolerantes Semestral Ausência em 100 ml Cloro residual livre Mensal 0,5 a 3,0 mg/l Turbidez Mensal <2,0 ut, para usos menos Cor aparente Mensal <15 uh Deve prever ajuste de ph para proteção das redes de distribuição, caso necessário Mensal Fonte: NBR 15527 restritivos <5,0 ut ph de 6,0 a 8,0, no caso de utilização de aço carbono ou galvanizado 3 METODOLOGIA Do ponto de vista da abordagem da problemática, trata-se de uma pesquisa qualitativa, pois consiste na análise e interpretação das normas e de informações e dados disponíveis na literatura sobre o tema, não tendo como enfoque o uso de Revista Técnico-Científica do CREA-PR - ISSN 2358-5420 - 10ª edição Maio de 2018 - página 7 de 13

métodos e técnicas estatísticas. Também é uma pesquisa aplicada, pois objetiva gerar conhecimentos de uso prático, dirigida ao aproveitamento da água da chuva para fins não potáveis. Para Godoy (1995), na pesquisa qualitativa os fenômenos devem ser compreendidos no contexto em que ocorrem e suas análises devem privilegiar uma perspectiva integrada entre o objeto e o pesquisador. Deve-se capturar o fenômeno considerando todos os pontos relevantes e os tipos de dados coletados e analisados. A pesquisa qualitativa é uma atividade ligada ao contexto que insere o pesquisador na realidade. O pesquisador faz parte integrante do contexto de sua pesquisa e usa procedimentos metodológicos específicos. (DENZIN e LINCOLN, 1994, apud. BIROCHI, 2015) 4 EXEMPLO DE APROVEITAMENTO DE ÁGUA PLUVIAL: ESTUDO DE CASO EM CASTRO, PARANÁ A cidade de Castro situa-se a 159 km de Curitiba, tendo por Municípios limítrofes: Carambeí, Campo Largo, Cerro Azul, Doutor Ulisses. Itaperuçu, Piraí do Sul, Ponta Grossa e Tibagi, que integram a região Centro Sul do estado do Paraná. Os dados pluviométricos utilizados neste trabalho foram fornecidos pelo Instituto das Águas do Paraná da Secretaria do Meio Ambiente e Recursos Hídricos do estado do Paraná. Para captação de água de chuva por cobertura o período de retorno é de 5 anos, segundo a NBR 10844/1989. Os dados de precipitação coletados são mensais e referentes aos últimos 5(cinco) anos (2012 a 2016), como demonstrado na tabela 2. Tabela 2 Dados Pluviométricos de Castro (2012-2016) 2012 2013 2014 2015 2016 Janeiro 149,1 82,4 164,8 129,4 168,6 Fevereiro 143,5 330,5 97,3 161,7 327,6 Março 67,0 168,7 135,0 276,0 167,0 Abril 218,6 69,1 128,2 94,0 87,7 Maio 41,2 86,0 118,1 154,1 152,7 Junho 238,2 339,1 197,9 65,6 136,8 Julho 78,5 86,6 65,1 263,4 88,5 Revista Técnico-Científica do CREA-PR - ISSN 2358-5420 - 10ª edição Maio de 2018 - página 8 de 13

Agosto 15,3 17,8 45,3 35,8 198,4 Setembro 176,9 150,0 181,9 162,0 85,9 Outubro 109,6 93,3 86,2 155,8 195,5 Novembro 67,0 93,6 171,9 207,3 98,7 Dezembro 226,5 89,7 249,7 201,6 122,1 Total (mm) 1531,4 1606,8 1641,4 1906,7 1829,5 Fonte: Instituto das Águas do Paraná O Clima Subtropical úmido, onde Castro está inserida, caracteriza-se por ter média do mês mais quente superior a 22ºC e no mês mais frio inferior a 18ºC, sem estação seca definida, verão quente e geadas menos frequentes e com a pluviosidade em torno de 1703,2 mm anuais. De acordo com estes dados, salientase que a coleta e captação da água pluvial tornam-se viável, devido à alta pluviosidade local e poucos períodos de estiagem. O aproveitamento da água da chuva, para o uso doméstico, será para as finalidades que não exigem água potável. Sendo assim, a água da chuva coletada através do escoamento do telhado e calhas de uma edificação será aproveitada posteriormente para limpeza de calçadas, pisos e carros, descargas de banheiros, jardins, entre outros, através de instalações hidráulicas adequadas. (CARDOSO, 2010) A habitação unifamiliar possui 44,22 m² de área construída composto por: sala, cozinha, banheiro, 2 dormitórios e área de serviço. A cobertura do telhado é em telha de barro tipo romana com dois panos de água. Edificação retangular (6,48 m x 6,82 m) e beiral de 80 cm em todo o perímetro da edificação. O ponto do telhado está previsto para 1,60 m. Em se tratando de uma habitação de interesse social, serão utilizados materiais e técnicas construtivas visando o baixo custo e a sustentabilidade. As calhas e condutores serão em PVC com diâmetro 100 mm. As calhas serão posicionadas nas decidas dos panos de água e em cada pano de água haverá dois condutores verticais. Em toda a extensão da calha, será instalada uma grade metálica e deste modo evitar a entrada de galhos e folhas. Os reservatórios superiores serão de 500 litros para água potável e de 500 litros para água não potável. Revista Técnico-Científica do CREA-PR - ISSN 2358-5420 - 10ª edição Maio de 2018 - página 9 de 13

A residência terá 01 (uma) cisterna de polietileno de 500 litros de água pluvial armazenada. As águas pluviais, antes de serem armazenadas na cisterna, passam por um filtro, constituído de uma tela, para retirada do material grosseiro. A cisterna apresenta o extravasor e dispositivo de descarga para a limpeza da cisterna. (JABUR, BENETTI e SILIPRANDI, 2011) O sistema de armazenamento de águas pluviais para a descarga de vasos sanitários pode estar enterrado ou apoiado no nível do chão. Deve-se recalcar a água para os pontos de utilização. (MAY, 2009) Finalizando o processo, a água sofre o processo de filtração, para a retirada das partículas de pequenas dimensões. Para um tratamento simples, utiliza-se a cloração para desinfecção da água. Um conjunto motor-bomba de 0,5 C.V. (cavalo vapor), recalca a água para o reservatório superior. No caso de falta de água pluvial, é utilizada a água potável, que possui um reservatório separado e com tubulação independente, o qual não há mistura com a tubulação de água pluvial. (JABUR, BENETTI e SILIPRANDI, 2011) A coleta de água de chuva é um sistema de fácil manuseio, custo de implantação baixo, dependendo da tecnologia utilizada e retorno de investimento rápido em regiões onde a precipitação pluviométrica é relativamente elevada e tem como desvantagem a redução de quantidade de água no que concerne a períodos de estiagem. (MAY, 2009) Em seu item 5.1, a NBR 15527 apresenta a seguinte redação: Deve-se realizar manutenção em todo o sistema de aproveitamento de água de chuva de acordo com a Tabela 3. Componente Tabela 3 Frequência de Manutenção Frequência de Manutenção Dispositivo de descarte de detritos Inspeção mensal Limpeza trimestral Dispositivo de descarte do escoamento Limpeza mensal inicial Calhas, condutores verticais e Semestral horizontais Revista Técnico-Científica do CREA-PR - ISSN 2358-5420 - 10ª edição Maio de 2018 - página 10 de 13

Dispositivos de desinfecção Bombas Reservatório Fonte: NBR 15527 Mensal Mensal Limpeza e desinfecção anual 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS O sistema de coleta da água pluvial para fins não potáveis não precisa necessariamente ser de alto custo de implantação, principalmente quando não se inclui o uso da água pluvial em descargas para vasos sanitários, pois neste caso, é necessária a instalação de bomba de recalque para gera carga hidráulica ao sistema. Um dos principais problemas do sistema é a manutenção da limpeza do telhado, que deve ser periódica com a remoção de contaminantes que prejudicarão a qualidade da água armazenada. A manutenção do sistema deve ser realizada como indicada na NBR 15527, de acordo com os seus componentes, caso contrário, a qualidade da água final será prejudicada. Deve-se impedir a entrada de galhos, folhas, e animais no reservatório, que, em decomposição e tem como consequência mau cheiro, coloração imprópria, além de microrganismos patogênicos. Com a utilização de material e mão de obra de qualidade, a captação de água da chuva mostra-se um método seguro de economia de água, e deve-se identificar as tubulações e ponto de consumo de água não potável para evitar acidentes. A escassez de água de qualidade para o uso de fins nobres gera a economia da água potável e uso de novas soluções individuais, sendo primordial o uso da água pluvial. 6 REFERÊNCIAS ANNECCHINI, Karla P. V. Aproveitamento da água da chuva para fins não potáveis na cidade de Vitória ES. 2005. 150 p. Dissertação (Mestrado) Programa de Pós-Graduação em Engenharia Ambiental da Universidade Federal do Espirito Santo. Vitória, 2005. Revista Técnico-Científica do CREA-PR - ISSN 2358-5420 - 10ª edição Maio de 2018 - página 11 de 13

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 15527: Água de Chuva Aproveitamento de coberturas em áreas urbanas para fins não potáveis Requisitos. Rio de Janeiro, outubro de 2007, 8 p. BERTOLO, Elizabete J. P. Aproveitamento da água da chuva em edificações. 2006. 174 p. Dissertação (Mestrado) Departamento de Engenharia Civil da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto. Porto, 2006. BIROCHI, Renê. Metodologia de estudo e de pesquisa em administração. Florianópolis: Departamento de Ciências da Administração/UFSC; [Brasilia]: CAPES: UAB, 2015. CARDOSO, Daniel Corrêa. Aproveitamento de Águas Pluviais em Habitações de Interesse Social Caso: Minha Casa Minha Vida. Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS)/Colegiado de Engenharia Civil. Feira de Santana, BA, 2010. DENZIN, N.; LINCOLN, Y. Handbook of qualitative research. Londres: Sage, 1994. DORNELLES, Fernando. Aproveitamento de água de chuva no meio urbano e seu efeito na drenagem pluvial. 2012. 219 p. Tese (Doutorado) Programa de Pós-Graduação em Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, 2012. GODOY, A. Pesquisa qualitativa: tipos fundamentais. Revista de Administração de empresas, v. 35, n. 3, p. 20-29, maio/jun. 1995. INSTITUTO DAS ÁGUAS. Relatório totais mensais de precipitação. Disponível em: <http://www.sih-web.aguasparana.pr.gov.br>. Acesso em 18 jan. 2018 JABUR, Andrea Sartori; BENETTI, Heloiza Piassa; SILIPRANDI, Elizangela Marcelo. Aproveitamento da água pluvial para fins não potáveis. In: VII Congresso Nacional de Excelência em Gestão. 2011. Disponível em <http://www.inovarse.org/sites/default/files/t11_0353_2014.pdf>. Acesso em 19 jun. 2017 KOENIG, K. Rainwater harvesting: public need or private pleasure? Water 21, London: IWA, feb, p. 56-58, 2003. MACINTYRE, Archibald Joseph. Manual de Instalações hidráulicas e sanitárias. 1 a edição. Rio de Janeiro: LTC, 2013. MAY, Simone. Estudo da viabilidade do aproveitamento de água de chuva para consumo não potável em edificações. 2004. 159 p. Dissertação (Mestrado) Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. Departamento de Engenharia de Construção Civil. São Paulo, 2004. Revista Técnico-Científica do CREA-PR - ISSN 2358-5420 - 10ª edição Maio de 2018 - página 12 de 13

MAY, Simone. Caracterização, tratamento e reúso de águas cinzas e aproveitamento de águas pluviais em edificações. 2009. Tese de Doutorado. Universidade de São Paulo. São Paulo, 2009. SILVEIRA, Bruna Q. Reuso da água pluvial em edificações residenciais. 2008. 44 p. Monografia (Especialização) Departamento de Engenharia de Materiais e Construção Civil da Escola de Engenharia da Universidade Federal de Minas Gerais. Belo Horizonte, 2008. Revista Técnico-Científica do CREA-PR - ISSN 2358-5420 - 10ª edição Maio de 2018 - página 13 de 13