ORLEA Terça-feira 3 de Abril de 2012 Edição especial sobre o Fernando Pessoa Com esta edição especial voces vão descobrir o famoso Fernando Pessoa.
" Eu sou muitos"... Fernando Pessoa ou, mais precisamente Fernando António Nogueira Pessoa nasceu numa casa do Largo de São Carlos, num dos bairros mas expandido de Lisboa, na tarde do 13 de junho de 1888. É considerado um dos maiores poetas da Língua Portuguesa, e da Literatura Universal, muitas vezes comparado com Luís de Camões. O crítico literário Harold Bloom considerou a sua obra um "legado da língua portuguesa ao mundo". É o filho de Maria Madalena Nogueira e de Joaquim Pessoa, duranto cinco anos a vida de Fernando Pessoa corre bem mas um dia de 1893 o seu pai morreu embora a sua mãe estava grávida dum segundo filho que morreu un ano depois. Em 1895, a Madalena se casa novamente com João Miguel Rosa, o cônsul de Portugal de Durban em África do Sul, onde a nova família vai instalar-se. Fernando estudo lá numa escola católica onde foi obrigado a aprender a língua inglesa, que ele escreve e fala fluentemente. Como ele estava nostálgico de Lisboa decidiu voltar, em 1905, para o seu país. Já na sua adolescência o jovem escrevia poesia e prosa em inglês, das quatro obras que publicou em vida, três são na língua inglesa. Desde 1908, dedica-se à tradução de correspondência comercial, uma actividade a que poderíamos dar o nome de "correspondente estrangeiro". Nessa profissão trabalha a vida toda, tendo uma modesta vida pública. Ao longo da vida trabalhou em várias firmas comerciais de Lisboa como correspondente de língua inglesa e francesa. Foi também empresário, editor, crítico literário, jornalista, comentador político, tradutor, inventor, astrólogo e publicitário, ao mesmo tempo que produzia a sua obra literária em verso e em prosa. Vítimo duma crise de cólica hepática na noite do 27 de novembro de 1935, Fernando Pessoa foi internado no hospital Saint-Louis-dos-francês. É aí que morre este grande poeta universal, um dos mais grandes autores do nosso século, o 30 de novembro de 1935. Suas últimas palavras são para reclamar seus óculos. Seu corpo repousa no Panthéon nacional, os Jérónimos, mas a alma dele espera-nos a todos as ruas de Lisboa.
Como poeta, desdobrou-se em múltiplas personalidades conhecidas como heterónimos, objeto da maior parte dos estudos sobre sua vida e sua obra. A cada heterónimo ele inventa a propria vida : Alvaro de Campos ; nasceu em 15 de outubro de 1890, em Tavira, no Algarve, terra da família do pai de Pessoa. Segundo conta o poeta, este heterónimo teve "uma educação vulgar do liceu; depois foi mandado para a Escócia estudar engenharia, primeiro mecânica e depois naval. Numas férias fez a viagem ao Oriente de onde resultou o " Opiário". Agora está aqui em Lisboa em inatividade ". Alto para a época (1m75, 2 centímetros mais que Fernando Pessoa), magro e "um pouco tendente a curvar-se", Campos era "um tipo vagamente de judeu português". Bissexual assumido e muito provocador, intrometia-se no namoro do seu criador com Ofélia Queirós. Ricardo Reis, nascido no Porto em 19 de setembro de 1887, estudou em colégio de jesuítas, onde aprendeu latim, e formou-se em medecina. Estudou grego por conta própriá. Em carta a um amigo, Pessoa informa que Reis "vive no Brasil desde de 1919, pois se expatriou espontaneamente por ser monárquico do Porto contra o regime republicano". Numa outra carta, define-o como um " Horácio grego que escreve em português". De fato, Reis compunha odes clássicas em que mescleva o estilo do poeta latino Horácio ao do grego Anacreonte, e também assinou essaios em defemsa de um novo paganismo. Bernardo Soares, na definição de Fernando Pessoa, era um "semi-heterónimo". Comparando-se a ele, o autor afirma : " não sendo a personalidade a minha, é, não diferente da minha, mas uma simples mutilação dela. Sou eu menos o raciocinio e a afetividade". Ajudante de guarda-livros em Lisboa, Soares escreve sobre seu cotidiano anônimo e, principalemente, sobre sua vida interior. Não sabemos onde o quando nasceu, mas em seu livro do Desassossego ele informa que perdeu mãe e pai na infância e que um tio o trouxe da provincia para Lisboa. Morava num quarto andar da Baixa lisboeta, na mesma rua onde trabalhava, num armazem de fazendas. Alberto Caeiro foi venerado como mestre pelos outros heterónimos e até por seu criador, Fernando Pessoa. Nasceu em Lisboa em 16 de abril de 1889 mas passou a vida no campo, como " guardador de rebanhos". Seu rebanho esclareceu num poema, eram seus pensamentos, e seus pensamentos eram sensações. Pouco instruido, queria ver as coisas como ela são, sem filisofia. De estatura média, louro e de olhos azuis, parecia menos frágil do que era. Morreu tubercoloso en 1915, aos 26 anos. Ricardo Reis, num prefácio inacabado escreveu : " a vida de Caeiro não pode narrar-se, pois que não a ela de que narrar. Seus poemas são o que houve nele de vida".
O Pastor Amoroso II. Quando eu não te tinha Amava a Natureza como um monge calmo a Cristo... Agora amo a Natureza Como um monge calmo à Virgem Maria, Religiosamente, a meu modo, como dantes, Mas de outra maneira mais comovida e próxima. Vejo melhor os rios quando vou contigo Pelos campos até à beira dos rios; Sentado a teu lado reparando nas nuvens Reparo nelas melhor... Tu não me tiraste a Natureza... Tu não me mudaste a Natureza... Trouxeste-me a Natureza para ao pé de mim. Por tu existires vejo-a melhor, mas a mesma, Por tu me amares, amo-a do mesmo modo, mas mais, Por tu me escolheres para te ter e te amar, Os meus olhos fitaram-na mais demoradamente Sobre todas as cousas. Não me arrependo do que fui outrora Porque ainda o sou. Só me arrependo de outrora te não ter amado. IV. Todos os dias agora acordo com alegria e pena. Antigamente acordava sem sensação nenhuma; acordava. Tenho alegria e pena porque perco o que sonho E posso estar na realidade onde está o que sonho. Não sei o que hei-de fazer das minhas sensações, Não sei o que hei-de ser comigo. Quero que ela me diga qualquer coisa para eu acordar de novo. Quem ama é diferente de quem é. É a mesma pessoa sem ninguém. Alvaro de Campos.
Ao Longe Ao longe os montes têm neve ao sol, Mas é suave já o frio calmo Que alisa e agudece Os dardos do sol alto. Hoje, Neera, não nos escondamos, Nada nos falta, porque nada somos. Não esperamos nada E ternos frio ao sol. Mas tal como é, gozemos o momento, Solenes na alegria levemente, E aguardando a morte Como quem a conhece. Não Queiras Não queiras, Lídia, edificar no spaço Que figuras futuro, ou prometer-te Amanhã. Cumpre-te hoje, não 'sperando. Tu mesma és tua vida. Não te destines, que não és futura. Quem sabe se, entre a taça que esvazias, E ela de novo enchida, não te a sorte Interpõe o abismo? Ricardo Reis.
Desassossego 1. "O coração, se pudesse pensar, pararia." "Considero a vida uma estalagem onde tenho que me demorar até que chegue a diligência do abismo. Não sei onde me levará, porque não sei nada. Poderia considerar esta estalagem uma prisão, porque estou compelido a aguardar nela; poderia considerá-la um lugar de sociáveis, porque aqui me encontro com outros. Não sou, porém, nem impaciente nem comum. Deixo ao que são os que se fecham no quarto, deitados moles na cama onde esperam sem sono; deixo ao que fazem os que conversam nas salas, de onde as músicas e as vozes chegam cómodas até mim. Sento-me à porta e embebo meus olhos e ouvidos nas cores e nos sons da paisagem, e canto lento, para mim só, vagos cantos que componho enquanto espero. Para todos nós descerá a noite e chegará a diligência. Gozo a brisa que me dão e a alma que me deram para gozá-la, e não interrogo mais nem procuro. Se o que deixar escrito no livro dos viajantes puder, relido um dia por outros, entretê-los também na passagem, será bem. Se não o lerem, nem se entretiverem, será bem também." Bernardo Soares
Sou um guardador de rebanhos Sou um guardador de rebanhos. O rebanho é os meus pensamentos E os meus pensamentos são todos sensações. Penso com os olhos e com os ouvidos E com as mãos e os pés E com o nariz e a boca. Pensar numa flor é vê-la e cheirá-la E comer um fruto é saber-lhe o sentido. Por isso quando num dia de calor Me sinto triste de gozá-lo tanto, E me deito ao comprido na erva, E fecho os olhos quentes, Sinto todo o meu corpo deitado na realidade, Sei da verdade e sou feliz. Alberto Caeiro.
Mar Português Ó mar salgado, quanto do teu sal São lágrimas de Portugal! Por te cruzarmos, quantas mães choraram, Quantos filhos em vão rezaram! Quantas noivas ficaram por casar Para que fosses nosso, ó mar! Valeu a pena? Tudo vale a pena Se a alma nao é pequena. Quem quer passar além do Bojador Tem que passar além da dor. Deus ao mar o perigo e o abismo deu, Mas nele é que espelhou o céu. Fernando Pessoa, in Mensagem
A casa de Fernando Pessoa...
Este jornal foi escrito por Ornella Badier e Léa Baltazar estudantes ao liceu François Arago na cidade de Perpignan em França.