Francis Lacerda MUDANÇAS CLIMÁTICAS E IMPACTOS NO ARARIPE

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Transcrição:

Francis Lacerda MUDANÇAS CLIMÁTICAS E IMPACTOS NO ARARIPE

Introdução O recém divulgado relatório do IPCC AR5 sobre a base científica das mudanças climáticas conclui, com acima de 90% de confiança, que o aquecimento global dos últimos 50 anos é causado pelas atividades humanas. O Nordeste é vulnerável às mudanças climáticas atuais e mais ainda às que se projetam para o futuro.

Concentração de Dioxido de Carbono Reconstrução (registros paleoclimaticos-gelo) Observações Manua Loa Desde o início da chamada Revolução Industrial (meados do século XIX), a concentração de dióxido de Carbono (CO2) na atmosfera incrementou sistematicamente. Desde 1957 pesquisadores observam concentrações de CO2 no Observatório Mauna Loa, no Havaí.

Concentração de Dióxido de Carbono e Mudança na temperatura do ar Mostras de ar no gelo Antártico evidenciam concentração de CO2 e a temperatura do ar desde 160,000 a.c. ate a atualidade.

TEMPERATURAS EXTREMAS EM ARARIPINA PE (1965 2005)

Numa Atmosfera mais aquecida... Precipitações pluviométricas mais intensas e episódicas Veranicos e ondas de calor mais frequentes Aumento do escoamento superficial e a captação de recursos hídricos...

Numa Atmosfera mais aquecida... Solos sem cobertura vegetal: Lixiviar/empobrecer o solo. Assorear os leitos dos cursos d água e os reservatórios. Menor disponibilidade de umidade no solo devido a menor infiltração e maior temperatura.

El Niño, As projeções climáticas Mostram evidências De fenômenos climáticos mais severos próximos 100 anos. Como intensificação dos extremos de secas e enchentes que ocorrem durante os episódios de El Niño.

Dias Microrregião de Araripina 110 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 105 102 95 94 93 81 11 10 9 10 10 11 7 8 6 6 7 6 Ouricuri Santa Cruz Feitoria Ipubi Bodoco Campo Santo Postos Pluviométricos Duração Média dos Veranicos Dias sem chuva Número Médio de Veranicos

Aumento da temperatura do ar (media de 16 modelos de IPCC AR4) em relação a 1980 1999.

Mudanças da precipitação (mm/dia), umidade do solo (%), runoff (kg/m2s) e evaporação (mm/dia) temperatura do ar (%) global para o período 2090 2099, relativo to 1980 1999. Media de 16 modelos globais do IPCC AR4

Mudanças de dias com chuva intensa e dias secos consecutivos (mm/dia), em nível global para o período 2090 2099, relativo to 1880 1999. Media de 16 modelos globais do IPCC AR4. cenário A1B

Anomalias regionais da temperatura (ºC) de 6 modelos de IPCC TAR

Anomalias regionais da chuva (mm/dia) de 6 modelos de IPCC TAR mm/dia mm/dia

Índice CDD (dias secos consecutivos) presente (1961-90) e futuro (2071-2100) HadRM3 1961-90 2071-2100, B2 2071-2100, A2 OBSV Aumento na freqüência de dias secos consecutivos ate 2100 Redução na freqüência de dias secos consecutivos entre 1961-2000

Mudanças nas vazões dos rios (%) para o período de 2041-2060 relativo a 1900-70. Media de 16 modelos de Cenário A1B Reduções de ate 15-20% nas vazões do Rio São Francisco

mm * 100 50 0-50 -100-150 Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Deficiência Excedente Retirada Reposição

Impactos Severos nos Recursos Hídricos do Nordeste. Tendência a aridização da região semi-árida do Nordeste até final do Século XXI

Impactos Severos nos Recursos Hídricos do Nordeste. Tendência a aridização da região semiárida do Nordeste até final do Século XXI

Sumário Indicativo de mudança nos padrões e distribuição das precipitações e temperatura com tendências de clima mais quente e seco. Simulações c/ balanço hídrico apresenta uma tendência de extensão da deficiência hídrica por praticamente todo o Ano tendência a aridização ou desertificação (Araripina e Caruaru). As projeções de extremos climáticos indicam aumento nos extremos de temperatura, na ocorrência de veranicos e de chuvas intensas, no Nordeste do Brasil.

Há tendência de aumento dos dias consecutivos secos, tamanho médio e máximos veranicos. Os resultados encontrados sugerem que estudos sobre a frequência de ocorrência dos veranicos sejam incorporados às metodologias dos zoneamentos agrícolas e riscos climáticos. Há tendências de aumento das temperaturas máximas e diminuição das temperaturas mínimas da precipitação pluviométrica, diminuição da umidade do solo e aumento do déficit hídrico anual. A alta correlação dos veranicos com os padrões globais atmosféricos e oceânicos mostra a importância do uso dos cenários futuros de mudanças climáticas globais e regionais, considerando a atual alteração do ciclo hidrológico no Sertão do Araripe.

As atuais tendências de redução das chuvas no Sertão é um alerta para se repensar os programas de convivência com a seca e buscar alternativas para produção agrícola e pecuária em Pernambuco, como um todo, privilegiando os produtos nativos, naturalmente adaptados as condições de estresses térmicos e hídricos. É necessário e urgente repensar o modelo de desenvolvimento adotado, para adoção de soluções viáveis que permitam minimizar os efeitos do aquecimento global, principalmente nas áreas onde encontram-se as populações mais pobres, que inevitavelmente serão as mais impactadas, pelos extremos climáticos.

francis.lacerda@ipa.br Obrigada!