CHIARA LUBICH E A CULTURA DA FRATERNIDADE



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CHIARA LUBICH E A CULTURA DA FRATERNIDADE MARIA JOSÉ DANTAS 1 - UFS As mudanças na forma de se escrever a História, possibilitam que o historiador busque novas maneiras de investigação e novos objetos de pesquisa. Dentre os enfoques investigativos, vem ganhando força os estudos biográficos que têm sido facilitados principalmente pelos pressupostos teóricos baseados na Nova História Cultural, uma abordagem que valoriza aspectos ligados ao pessoal, ao familiar e até mesmo ao íntimo das pessoas. No que diz respeito aos estudos ligados especificamente ao cotidiano de mulheres na sociedade, segundo Viñao (2004), a questão do gênero tem posto sobre a mesa a voz de uma parte não a única silenciada da história: a voz de uma parte na qual o subjetivo tem tido uma especial importância como refúgio forçado, muitas vezes, pela exclusão do âmbito do público. E isso tem se destacado nas últimas décadas. Da década de 1980 para cá, surgiram grupos de trabalho, programas de pósgraduação, dissertações e teses que têm se empenhado em realizar tanto pesquisas que incluem a categoria gênero como fundamental para a interpretação, quanto aquelas que têm por objeto a mulher e as particulares relações que estabelece, seja no espaço das fábricas, das empresas, das famílias ou das escolas. (GALVÃO & LOPES, 2001, p. 69) A História da Educação através de seus pesquisadores tem contribuído no sentido de estudar a vida de pessoas, homens e mulheres, intelectuais e educadores que contribuíram ou contribuem de alguma forma na questão educativa. Galvão e Lopes (2001) fazem referência à maneira como a História da Educação aborda estas questões. No caso específico da biografia, ela é definida por Borges (2001) como uma espécie de história que tem por objeto a vida de uma só pessoa. Neste sentido, esse estudo sobre Chiara Lubich e a Cultura da Fraternidade, tem por objetivo mostrar como se evidencia a prática cultural dessa personalidade contemporânea, tendo como suporte teórico dois conceitos fundamentais de Roger Chartier, apropriação e representação. Em outras palavras, pretende-se descrever a apropriação que se faz dos seus escritos e a representação apresentada por alguns autores que escrevem sobre ela, além de depoimentos recentes de algumas personalidades a seu respeito. Para Roger Chartier, apropriação visa a uma história social dos usos e das interpretações, relacionadas às suas determinações fundamentais e inscritos nas práticas específicas que os produzem (2002, p.68). Ou seja, o processo de apropriação nada mais é do que a maneira como cada leitor se apropria da leitura de um impresso, projetando nela as suas idéias e a sua interpretação, é a via de acesso à compreensão da leitura e da escrita. Com relação à representação, para Chartier é a exibição de uma presença, a apresentação pública de uma coisa ou de uma pessoa (2002, p.74). Quando o leitor se apropria de alguma informação veiculada em um impresso, ele constrói uma representação daquela realidade, formula uma imagem para si mesmo ou para outros. É através do processo de apropriação que o leitor constrói as representações. É na busca da compreensão desse processo que esse estudo se desenvolve. Meu primeiro contato com escritos de Chiara Lubich aconteceu na década de 1990, quando visitando uma biblioteca, casualmente encontrei o livro Chiara, uma biografia escrita pelo pastor batista Edwin Robertson em 1978 e publicada em português em 1979. Essa foi uma das primeiras biografias escritas sobre ela. De lá para cá, alguns outros autores escreveram sobre Chiara, tanto que esse trabalho poderia correr o risco de se tornar

redundante, apresentando acontecimentos que muitos já abordaram se não fosse a importância dessa mulher no âmbito civil, cultural e religioso. Assim, serão evidenciados alguns fatos ligados à sua contribuição no aspecto cultural, visto que estas poucas páginas são insuficientes para um estudo profundo da vida dessa personalidade. AS ORIGENS Chiara, nasceu em 22 de janeiro de 1920 na cidade de Trento, norte da Itália, dois anos após o fim da primeira Guerra Mundial. Seu nome de batismo é Sílvia Lubich e assim foi batizada na igreja de Santa Maria Maggiore, que ficava nas proximidades do apartamento onde nascera e onde por muito tempo seus pais moraram. Seu pai se chamava Luigi e era socialista, mais tarde, sob a influência dos filhos, retomou a freqüência à Igreja (LUBICH, 1991, p.33). A mãe Luigia, segundo Lubich (1991) era uma mulher muito piedosa. Os pais se conheceram na tipografia do jornal Il Popolo, onde trabalhavam ele era o chefe da seção tipográfica e ela tipógrafa, neste jornal que era o órgão dos socialistas trentinos (...) tiveram quatro filhos: Gino o mais velho, Sílvia, a segunda, depois Lilliana e Carla (LUBICH, 1991, p.34). Não encontrei muitos dados sobre o período de Sílvia na escola primária, apenas que era uma menina muito estudiosa, não muito interessada em jogos. (ROBERTSON, 1979, p. 16). Ela nunca gostou de falar sobre si, deveriam ser outros a falar sobre mim (LUBICH, 1991, p.36). Ao ser interrogada sobre quem é Chiara, ela respondeu: Para mim é difícil, custa-me bastante ter que responder a esse tipo de pergunta. Na verdade, se eu tive e tenho uma razão de ser, é pelo fato de ter sido um instrumento, sempre inútil e infiel, na edificação de uma obra de Deus. E sabe-se que, uma vez realizada uma obra, olha-se para esta, e não para o instrumento que a fez (...) (LUBICH, 1991, p. 31). Sílvia decidiu ser professora e conseguiu terminar o curso com médias excelentes, mas sempre tinha grande interesse e dedicação pelos estudos em filosofia, tanto que se matriculou na Universidade de Veneza, mas a Segunda Guerra Mundial a impediu de continuar. No entanto, sua busca pela verdade jamais foi acadêmica. Via a verdade em termos de vida. (ROBERTSON, 1979, p.18). Com 18 anos, foi nomeada para o seu primeiro encargo numa escola primária que se localizava, na Província de Trento, em uma pequena aldeia chamada Castello d Ossana. Sua escola era uma ampla sala caiada, adornada de quadros coloridos. As idades dos alunos variavam, encontrando-se ali juntos, os quatro primeiros cursos primários. Como meta principal de seu ensino não estava antes de tudo, as diversas disciplinas, mas, o relacionamento com as crianças. (ROBERTSON, 1979, p.21). Suas lembranças sobre o período em que trabalhou como professora, estão bem vivas: Eu lecionei em várias escolas: em dois lugares da região de Trento, dando aulas para uma ou mais classes, e depois, nos arredores da cidade, num instituto para órfãos (LUBICH, 1991, p.42). Silvia participou da Ação Católica, era muito ativa e tinha um cargo diretivo. Em 1939 participou de um encontro da Ação Católica em Loreto. Foi nesse lugar que ela encontrou a sua vocação (ROBERTSON, 1979, p.27). Em uma entrevista concedida a Franca Zambonini, ela mesma narra essa parte muito importante de sua história: 2

Eu me encontrava em Loreto, no santuário de Nossa Senhora. Eu tinha vindo até aquela cidade para participar de um congresso de estudantes católicas. Estávamos no ano de 1939. Eu ainda não sabia o que o Senhor iria pedir de mim e não me preocupava com isso. A primeira vez que entrei na casa de Nazaré, que é envolvida por uma igreja-fortaleza, fui invadida por uma grande emoção. Não tive tempo de me perguntar se era historicamente correto considerar aquela casa como sendo a que havia hospedado a Sagrada Família em Nazaré. Encontrei-me ali sozinha, mergulhada naquele grande mistério, com as lágrimas que me caíam continuamente (...) a meditar sobre tudo o que poderia ter acontecido ali: o anúncio do anjo a Maria, a vida dos três: Jesus, Maria e José... Com veneração eu tocava aquelas pedras e paredes, revendo, com a imaginação, São José construindo aquela casa. Parecia-me ouvir a voz do menino Jesus; eu o via atravessar a sala. Olhava aquelas paredes, privilegiadas por terem ecoado nelas a voz e os cantos de Maria. (...) Era contemplação, era oração, era de certo modo uma convivência com os três. Finalmente o congresso se concluiu com a celebração da missa, justamente naquela grande igreja apinhada de gente. Eu participava com todo o fervor. De repente, compreendi: encontrei a minha estrada, e muitas pessoas haveriam de segui-la. (LUBICH, 1991, p. 45) Voltando para Trento, Sílvia encontrou um sacerdote que lhe perguntou como tinha sido a viagem a Loreto e ela respondeu: Encontrei a minha estrada. Qual? continuou perguntando o matrimônio?. Não, respondi. A virgindade em meio ao mundo?. Não. Entrar para o convento?. Não. Aquela pequena casa de Loreto havia revelado ao meu coração algo de misterioso, mas seguro: era uma quarta estrada. Quarta estrada que mais tarde vi concretizada, segundo o modelo da Sagrada Família, por meio de uma convivência de pessoas virgens e casadas, todas completamente doadas a Deus, embora de modo diferente; isto é o Focolare 2. (LUBICH, 1991, p. 46) Em 1943, Sílvia lecionou durante algum tempo no Instituto para Órfãos, que era mantido pelos padres Capuchinhos. Lá ela aprofundou o conhecimento sobre São Francisco e Santa Clara de Assis (em italiano Chiara), e entrou para a Ordem Terceira de São Francisco. Após ter lido uma biografia de Santa Clara, ficou atraída pela escolha radical que esta santa faz de Deus e resolveu adotar o seu nome. O MOVIMENTO DOS FOCOLARES No dia 07 de dezembro de 1943, véspera da festa da Imaculada Conceição, em meio aos bombardeios da Segunda Guerra Mundial, em uma manhã fria e chuvosa, Chiara consagrou-se inteiramente a Deus. Só ela e seu confessor sabiam sobre esse fato. Ela fez voto de castidade perfeita e perpétua. Esse dia será considerado a data de nascimento do Movimento dos Focolares (LUBICH, 2003, p.437). Um movimento de espiritualidade que nasceu no âmbito católico, mas atualmente possui abertura ecumênica, diálogo inter-religioso e intercultural. Está difundido em 186 países dos cinco continentes. Segundo Chiara, alguém começou a chamar assim as pequenas comunidades e o nome ficou, caía muito bem para nós.(lubich, 1991, p.79) Chiara dava aulas particulares para algumas alunas e aos poucos foi explicando para elas aquela sua decisão. Juntamente com aquelas companheiras, fez a descoberta de Deus como o TUDO de suas vidas, o único Ideal 3 que não passa e entenderam que deviam 3

deixar de lado sua dor pessoal - a casa, os pais - para assumir as dores da humanidade, representada ali pelos pobres, pelos mutilados, pelos sem-teto, doentes e vítimas da então Segunda Guerra. Assim, enquanto famílias perdiam os parentes, escolas desmoronavam, casas eram destruídas, aquelas jovens, abdicaram dos seus ideais para ajudar as pessoas, colocando em risco até mesmo suas próprias vidas em meio aos bombardeios. Chiara amava muito seus familiares, mas após o bombardeio na noite do dia 13 de maio de 1944, onde quase toda a cidade foi destruída, seus pais precisavam abandonar a casa onde moravam, mas ela tinha se consagrado a Deus e se sentia no dever de não se afastar de Trento. Tinha também aquele pequeno grupo que estava surgindo. Então como fazer? Não queria abandonar seus familiares. E lembrou-se de uma frase que aprendeu na escola: O amor tudo vence! (LUBICH, 1991, p. 44). E para ela, venceria também aquela situação difícil. Assim, viu os pais que partiram para as montanhas e voltou para a cidade, as ruas estavam vazias, as árvores arrancadas, tudo revirado. Fui procurar pelas minhas companheiras, para ver se ainda estavam vivas. Encontrei-as todas salvas. (LUBICH, 1991, p. 47). Começaram a morar em um pequeno apartamento na praça Cappuccini, ali foi o primeiro focolare, uma casa onde conviviam pessoas virgens e consagradas, segundo o modelo da casinha de Loreto. Elas liam o Evangelho e ajudavam a muitos que precisavam de roupas, remédios, comida. Assim teve início o Movimento dos Focolares, baseado no ideal de fraternidade, unidade e solidariedade. A Experiência de amor concreto vivida entre aquelas primeiras pessoas era muito forte e muitos outros jovens começaram a aderir àquele grupo. Desde o seu surgimento, o Movimento esteve voltado para o campo social, isso porque a sua mola propulsora sempre foi o amor. A experiência vivida naquele período, de colocar em comum bens materiais e espirituais contribuiu para o desabrochar da primeira comunidade em torno dos Focolares. Uma comunidade onde se podia dizer como os primeiros cristãos não havia nenhum indigente entre eles 4 uma comunidade cujo aspecto se apresentava harmonioso diante da sociedade. Chiara Lubich, propõe um estilo de vida baseado no Evangelho, enfocando principalmente o mandamento do amor mútuo, sublinhado na prática por uma concretização da comunhão entre os seus membros, tanto uma comunhão de bens materiais, como comunhão de experiências, de necessidades. No que diz respeito aos meios de comunicação, sempre existiu uma íntima relação entre o Movimento dos Focolares e os impressos, Chiara Lubich, desde o início do Movimento via como uma exigência concreta para sua difusão e a articulação da comunicação entre os seus membros, a necessidade dos recursos da imprensa escrita. Ela nasceu e cresceu em um ambiente propício ao contato com os impressos, seus pais foram tipógrafos e um de seus irmãos tornou-se Jornalista, neste sentido, a comunicação sempre foi algo muito presente em sua vida, tanto que sempre cultivou o hábito de escrever cartas. A sede de nos sentirmos unidos foi sempre uma característica do Movimento. Desde que nasceu, uma rede densa de cartas colocava em comum entre nós o trabalho que Deus começava a fazer em nossas pessoas, um trabalho que crescia à medida que era compartilhado. (LUBICH, 2003, p.362) Com o fim da Segunda Guerra Mundial, o espírito de solidariedade permanecia vivo naquele grupo que ia crescendo cada vez mais. Aos poucos, outras pessoas eram atraídas por aquele estilo de vida, assim como famílias, sacerdotes, freiras, políticos, dentre outros. Anualmente estas pessoas se encontravam para passar um período de férias juntos nas montanhas e assim aprofundar aquela espiritualidade que estava surgindo. Esses encontros são chamados de Mariápolis 5 e inicialmente duravam dois meses. 4

Foi a partir desses momentos em grupo que Chiara teve a inspiração de fazer surgir um informativo, para além das cartas, manter informadas aquelas pessoas sobre as atividades do Movimento. Foi assim que em 14 de julho de 1956 teve início a revista Cidade Nova, um informativo quinzenal, com notícias, meditações e também com a publicação de cartas, esse impresso deveria ser o veículo de comunicação da cultura da fraternidade. O nome Cidade Nova vem justamente por conta da experiência vivida durante esses dias na Mariápolis, todos inseridos no clima de fraternidade e solidariedade. Brotava o desejo de levar ao mundo aquele mesmo espírito vivenciado naquela cidade temporária, por acreditar que se as pessoas vivessem daquela maneira se poderia construir verdadeiras cidades novas em cada ponto da terra. A cronologia do Movimento dos Focolares em síntese tem os seguintes marcos: iniciou-se em 1943 em Trento e logo depois por toda Europa, em 1948 chega a Roma. A partir de 1959, expandiu-se para a América Latina e América do Norte (em 1959 chegou ao Brasil 6 ), em 1966, foi para a África e Ásia e, em 1967 chegou à Austrália. Apesar do Movimento dos Focolares ter nascido dentro da Igreja Católica, seu Estatuto Geral foi revisado e aprovado pela Santa Sé somente em 29 de junho de 1990 7 (LUBICH, 1991, p.80). Atualmente, o Movimento dos Focolares se organiza em vários segmentos nos diferentes âmbitos sociais, tais como: Humanidade Nova 8, Famílias Novas 9, Jovens por um Mundo Unido 10, Geração Nova (gen jovens) 11, Voluntários 12, Aderentes 13, além de atingir o mundo eclesial com o movimento sacerdotal, paroquial, dos religiosos e das religiosas. No centro do Movimento se encontram os focolares, masculinos ou femininos, composto por pessoas leigas, inclusive casados, que assumem o compromisso de viver integralmente a espiritualidade da unidade e dedicam a vida totalmente a Deus. Os membros dos Focolares são mais de seis milhões de pessoas espalhadas nos cinco continentes, comprometidos em edificar um mundo mais justo, visto que o objetivo do movimento é realizar a unidade, de forma plena, atingindo todos os setores da sociedade. Nestes 48 anos, da chegada do Movimento dos Focolares no Brasil, ele conta com quase 20.000 membros e são aproximadamente 300.000 as pessoas que de norte ao sul, aderiram a esta espiritualidade nas formas mais diversas. O Movimento está presente em todos os Estados brasileiros, são 61 as casas Focolare espalhadas nas principais cidades. Chiara esteve cinco vezes no Brasil, três na década de 1960 e duas na década de 1990. Ela sempre se preocupou com toda a miséria que ronda as cidades, por isso o início do Movimento em terra brasileira, esteve mergulhado no grande desejo da solução dos mais graves problemas sociais que foram encontrados nesse país. E esse é um empenho relevante até hoje. Algumas atividades mais significativas no Brasil são a circulação da revista Cidade Nova, que desde o seu surgimento tem procurado difundir através de seus artigos, a cultura da fraternidade entre os seus leitores; A Escola Magnificat no Maranhão, que inserida em uma experiência de reforma agrária, alfabetiza e forma os alunos para uma vida em comunidade e solidariedade; O Polo Empresarial Spartaco em São Paulo, que testemunha uma experiência peculiar de economia solidária; A Ação de Promoção Humana na Ilha Santa Terezinha em Recife; a Escola Santa Maria em Igarassu PE; Escola Aurora e Jardim Margarida em Vargem Grande Paulista SP. A revista Cidade Nova adere prontamente à proposta pedagógica do Movimento dos Focolares, que consiste na dimensão de formar o indivíduo para a vida em sociedade, para ser construtor de unidade no espaço onde está inserido, formar o homem-relação com o outro. Essa prática educativa tem contribuído mundialmente para a formação da pessoa humana e da sociedade. A revista tem sido desde os seus primeiros números, propagadora de conceitos educativos baseados em valores evangélicos, bem como na dimensão de fraternidade e 5

solidariedade, visto que sempre existiu no impresso a preocupação com a formação do leitor, tanto no campo da religiosidade, como no físico, moral e educativo. UMA CULTURA A cultura da fraternidade permeia o Movimento dos Focolares. Essa cultura penetra na sociedade através de várias maneiras: da revista Cidade Nova - um impresso que nasceu no âmbito católico, é uma revista de variedades e também pode ser considerada uma revista cultural, porque se faz o veículo de comunicação da cultura da fraternidade; através do folheto mensal Palavra de Vida 14 que é distribuído para milhões de pessoas no mundo inteiro; essa cultura entra na política através do Movimento Político pela Unidade 15 ; entra na economia através da Economia de Comunhão 16 ; entra no campo da educação, da arte, da medicina e das diversas áreas do conhecimento, através do Movimento Humanidade Nova. Entra nos diversos setores da sociedade através de programas de rádio e Tv; além disso está surgindo uma Universidade Instituto Superior Sophia que tem como tarefa comunicar essa cultura, formar alunos e professores para a cultura de fraternidade. Ou seja, muitas pessoas que não conhecem a estrutura do Movimento, têm a possibilidade de viver segundo essa proposta cultural. O termo cultura costumava se referir às artes e às ciências. Depois, foi empregado para descrever seus equivalentes populares música folclórica, medicina popular e assim por diante. Na última geração, a palavra cultura passou a se referir a uma ampla gama de artefatos (imagens, ferramentas, casas e assim por diante) e práticas (conversar, ler, jogar). (BURKE, 2005, p.43) Neste sentido, no Movimento dos Focolares existe uma cultura que se diferencia da cultura existente na sociedade. A cultura de estar juntos, que tem como base a frase de Jesus Onde dois ou mais estiverem reunidos no Meu nome, Eu estarei no meio deles. 17, a cultura na maneira de falar, na maneira como as pessoas se dispõem a escutar, no modo de fazer comédias, de decorar os ambientes, dentre outros. Mas a beleza dessa cultura consiste na abertura ao diálogo com pessoas das diferentes culturas. Certa vez fizeram a seguinte pergunta a Chiara: Somos um grupo de pessoas que crêem na igualdade, na solidariedade, na fraternidade e em todos aqueles valores primários do homem, que o tornam um com os outros homens. Convictos de que a unidade só pode ser construída com o reconhecimento e o respeito pela identidade cultural de cada membro da sociedade, como se deve posicionar o Movimentos dos Focolares no diálogo com mulheres e homens de culturas diferentes? (LUBICH, 2003, p. 410) E ela respondeu: é preciso posicionar-se na abertura máxima, mas não para fazer um ato de caridade! Colocamo-nos na abertura máxima para nos enriquecer. Por que queremos a presença de vocês no nosso Movimento? Porque sabemos que nele vocês portam valores que sentimos necessidade de que sejam colocados em evidência. (LUBICH, 2003, p. 411). Isso confirma que o Movimento está aberto ao diálogo com as diversas culturas e religiões. RECONHECIMENTOS E HOMENAGENS 18 6

Por todo trabalho desenvolvido por Chiara Lubich e pelo Movimento dos Focolares, visando difundir essa cultura da fraternidade no mundo inteiro, ela já recebeu de diversas instituições inúmeros reconhecimentos. Depois de resistir por vários anos a homenagens, ela começou a aceitá-las, vendo em todos esses prêmios e honrarias um desígnio de Deus, uma desculpa para difundir em todo o mundo o Evangelho e a sua revolução. (FARO, 1998, p.20) Prêmio Templeton para o Progresso da Religião (Londres, Inglaterra, 1977); Cruz de Santo Agostinho de Cantuária (a mais alta homenagem concedida pela Igreja Anglicana, Inglaterra, 1981 e 1996); Prêmio Casentino (conferido pelo Centro Cultural Michelangelo de Letras e Artes, Florença, Itália, 1987); Placa de Prata Santa Catarina (cidade de Sena, Itália, 1987); Prêmio Festa da Paz de Augusta (ecumênico, Augsburg, Alemanha, 1988); Prêmio Internacional São Francisco e Santa Clara de Assis (Massa Carrara, Itália, 1993); Uma Oliveira pela Paz, reconhecimento judaico (Rocca di Papa, Itália, 1995); Insígnia da Águia Ardente de São Venceslau (Trento, Itália, 1995); Placa de Ouro de São Vigílio (Trento, Itália, 1995); Cruz Bizantina (conferida pelo Patriarcado Ortodoxo de Constantinopla, Turquia, 1984 e 1995); Prêmio Autor do Ano (conferido pela União dos Editores e Livreiros Católicos Italianos, 1995); Prêmio Internacional Civilização do Amor (Rieti, Itália, 1996); Prêmio Unesco para a Educação à Paz (Paris, 1996); Turrita d Argento (Bolonha, Itália, 1997); Prêmio Europeu dos Direitos Humanos, conferido pelo conselho Europeu (Estrasburgo, França, 1998); Medalha de Honra ao Mérito USP (conferida pela Universidade de São Paulo, 1998); Ordem do Cruzeiro do Sul (conferido pelo Governo brasileiro, 1998); Cidadania honorária de Rocca di Papa, Pompéia, Rimini e Palermo (Itália); de Recife 19 (Brasil), de Chacabuco, e o título de visitante ilustre de Buenos Aires (Argentina). TÍTULOS DOUTOR HONORIS CAUSA CONFERIDOS A CHIARA LUBICH 20 Ciências Sociais (Universidade Católica de Lublin, Polônia, 1996); Comunicação Social (Universidade São João, Bancoc, Tailândia, 1997); Sagrada Teologia (Universidade Católica Fu Jen, Taipe, Taiwan, 1997); Sagrada Teologia (Universidade Católica de Santo Tomás, Manila, Filipinas, 1997); Ciências Humanas (Universidade do Sagrado Coração Connecticut, EUA, 1997); Filosofia (Universidade João Batista de La Salle, Cidade do México, 1997); Título de Doutor h.c. conferido por unanimidade em 13 disciplinas (Universidade de Buenos Aires, Buenos Aires, 1998); Humanidades Ciências da Religião (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo 1998); Economia (Universidade Católica de Pernambuco, Recife, 1998); Economia e Administração (Universidade de Piacenza, Itália, 1999); Psicologia (Universidade de Malta, 1999); Pedagogia (Catholic University of América, Washington, 2000). Esse doutorado em Pedagogia foi um reconhecimento pela contribuição do Movimento à formação da pessoa e da sociedade no campo da educação. Para Chiara (2003) a finalidade do processo educativo, deve ser entendida como a mesma finalidade de Jesus: "que todos sejam um" 21, uma unidade profunda e sincera entre Deus e os homens. Para ela, como a 7

unidade tem sido uma necessidade dos tempos, está implicada em todos os planos do agir humano uma ação educativa coerente com as exigências da unidade. As motivações para realizar essa proposta são de natureza religiosa, mas segundo Lubich (2003) "seus efeitos no plano educacional são extraordinários". Para ela, mais do que palavras, são um novo caminho para a educação, cujos alicerces se solidificam no exercício contínuo de compreensão, do respeito e do diálogo. Chiara Lubich desempenha um relevante papel como construtora da unidade nos diversos setores da sociedade. Um reconhecimento brasileiro pelo seu trabalho de promoção da unidade entre os povos, através do diálogo inter-religioso, foi o doutorado em Humanidades, concedido pela PUC/SP, em 1998. Chiara consegue reunir junto a si católicos, mulçumanos, judeus, anglicanos, budistas. Em suas diversas viagens pelo mundo, ela encontra importantes personalidades ligadas a todas essas religiões e com todas elas mantém profundos diálogos. Dentre esses momentos, ela destaca o encontro com os budistas no Japão 12 mil membros da associação Rissho Kosei-kai no seu grande templo em Tóquio; encontro com uma comunidade islâmica - 3 mil muçulmanos afro-americanos na Mesquita de Harlem em Nova York; encontro com a terceira maior comunidade judaica do mundo em Buenos Aires.(LUBICH, apud FARO, 1998, p.25), dentre outros. O diálogo com os cristãos de outras denominações se faz presente, levando em consideração o que existe em comum entre eles, já com relação ao diálogo com as outras religiões e com aqueles que não têm fé, a base é a chamada regra de ouro : Faça aos outros aquilo que gostaria que os outros lhe fizessem. Essa regra está presente em todas as religiões e deveria servir como uma regra básica na convivência entre as pessoas de modo geral. Algumas impressões de personalidades que estiveram presentes na PUC/SP, durante a entrega do Diploma de Doutor honoris causa a Chiara Lubich comprovam essa realidade significativa: Para nós da PUC, este é um momento muito importante, por prestarmos reconhecimento a uma pessoa que dedica a sua vida a valores muito próximos aos nossos, aliás, idênticos: valores de justiça, verdade, solidariedade, luta pelo amor entre os homens e pelo diálogo ecumênico. (Antonio Carlos Caruso, Reitor da PUC SP), (SILVA, s/d, p. 20). A cerimônia de hoje representa um marco na história, principalmente na história brasileira, graças ao trabalho realizado por Chiara Lubich no mundo inteiro. Este é um exemplo que todos nós devemos seguir, assim colaboraremos na realização do seu objetivo, do seu ideal, que é a paz mundial, entre toda a humanidade, além das fronteiras das religiões. É algo que comove qualquer pessoa, quer ela tenha fé ou não (Sheik Armando Hussein, da Mesquita do Brasil, São Paulo), (SILVA, s/d, p. 20). Estas impressões e expressões de estima por Chiara Lubich, bem como a apropriação feita através dos seus escritos, não deixam dúvidas de que realmente ela é uma personalidade de relevo no mundo inteiro e que tem uma grande significação em cada ponto da terra para muitos líderes, tanto religiosos, como civis. Além de tudo aquilo que foi exposto neste artigo, é importante frisar que a atividade cultural de Chiara, pode ser percebida através das suas inúmeras publicações, cartas, discursos, pensamentos, frases diárias e de um número relevante de livros publicados. Concluí-se assim que Chiara Lubich, com o Movimento dos Focolares e suas diversas realizações, dão sentido e significado a uma nova prática cultural. 8

NOTAS: 1 Mestranda em Educação, pelo Núcleo de Pós-Graduação em Educação - Universidade Federal de Sergipe, sob orientação da Profa. Dra. Anamaria Gonçalves Bueno de Freitas; Membro do Grupo de Estudos e Pesquisas em História da Educação: Intelectuais da Educação, Instituições Educacionais e Práticas Escolares - do referido Núcleo e Instituição. 2 Vem do nome oficial em italiano focolari, que significa lareira, calor, fogo no lar. 3 Palavra usada desde os primórdios do Movimento para designar todo o conjunto da sua espiritualidade, que teve sua origem justamente na escolha de Deus como ideal de vida. (LUBICH, 1993, p. 186). 4 Expressão bíblica retirada do livro dos Atos dos Apóstolos, capítulo 2, versículo 44. 5 A palavra Mariápolis quer dizer Cidade de Maria. A finalidade das Mariápolis é construir aquele esboço de sociedade permeada pela prática do Mandamento Novo de Jesus (Amai-vos uns aos outros; Jo 15,17) na sociedade. (LUBICH, 1993, p.187). 6 Maiores informações consultar DANTAS, Maria José. Dos céus alpinos ao porto de Recife: Enzo Morandi (Volo) um grande vôo, muitas aventuras e páginas de Cidade Nova. Anais II Cipa Congresso Internacional sobre Pesquisa (Auto) biográfica: tempos, narrativas e ficções: a invenção de si. 10 a 14 de setembro de 2006, Salvador Bahia - Brasil. 7 A primeira aprovação do Movimento dos Focolares, ou Obra de Maria, por parte da Santa Sé data de 23 de março de 1962. Em 1964, Paulo VI aprovou sua estrutura, delineada por Chiara, e, em 1966, aprovou plenamente o Movimento. Em 1990, o Pontifício Conselho para os Leigos aprovou as modificações e atualizações dos Estatutos, contemplando seus vinte e dois setores que, com o passar do tempo, foram surgindo. Sob os auspícios de João Paulo II, foi aprovado também que a presidência do Movimento será sempre leiga e feminina. (RIBEIRO, 2006, p. 32). O mais novo Decreto de aprovação dos Estatutos do Movimento dos Focolares data de 15 de março de 2007, já sobre os auspícios do Papa Bento XVI. 8 Ramificação de amplo alcance do Movimento dos Focolares que propõe a renovação das estruturas e setores da sociedade conforme os princípios evangélicos, dando particular ênfase à unidade. (LUBICH, 1993, p.188) 9 Ramificação de amplo alcance do Movimento dos Focolares que se dedica ao âmbito da família e de seus problemas específicos. (LUBICH, 1993, p.188) 10 Ramificação de amplo alcance do Movimento dos Focolares que envolve jovens cristãos, católicos e nãocatólicos, de várias religiões e culturas. (LUBICH, 1993, p.187) 11 São os jovens que, partilhando a espiritualidade do Movimento, se decidem a comprometer-se radicalmente com a mesma. (LUBICH, 1993, p.185) 12 Membros adultos do Movimento que voluntariamente (isto é sem um compromisso formal de especial consagração) se comprometem de modo total na realização de seus objetivos, atuando em meio à sociedade. São os principais animadores do Movimento Humanidade Nova. (LUBICH, 1993, p.190) 13 Pessoas que aderem à espiritualidade do Movimento sem se engajarem formalmente nas suas estruturas. 14 Uma frase do Evangelho escolhida para ser meditada e vivida por um período determinado. Atualmente, esse comentário é mensal, impresso além da revista em noventa e cinco línguas e idiomas, com uma tiragem de cerca de três milhões e quatrocentas mil cópias. 15 Surgido em 1996 e já difundido em vários países da Europa e da América Latina, especialmente no Brasil, visa promover uma política de comunhão. 16 Projeto Econômico surgido em 1991, é caracterizado por um forte senso social. Inspira a gestão de centenas de empresas em todos os continentes, que se empenham em repartir os eventuais lucros para reinvestimentos, para ajudar as pessoas necessitadas, e para apoiar iniciativas que desenvolvem a cultura da partilha. 17 Expressão bíblica encontrada no Evangelho de São Mateus, capítulo 18, versículo 20. 18 Informações contidas no impresso coordenado por SILVA, Eliana M. Marques da & EGMAN, Mario. Chiara Lubich uma vida pela unidade. Publicação do Movimento dos Focolares. (s/d). 19 Primeira cidade brasileira onde a espiritualidade do Movimento dos Focolares chegou. 20 Informações contidas no impresso coordenado por SILVA, Eliana M. Marques da & EGMAN, Mario. Chiara Lubich uma vida pela unidade. Publicação do Movimento dos Focolares. (s/d). 21 Expressão bíblica encontrada no Evangelho de São João, capítulo 17, versículo 21. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BORGES, Vavy Pacheco. O historiador e seu personagem: algumas reflexões em torno da biografia. In: Revista Horizontes. Bragança Paulista. V. 19, p.01-10. Jan./dez. 2001. 9

BURKE, Peter. O que é História Cultural? Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005. CHARTIER, Roger. A História Cultural: entre práticas e representações. Lisboa, Difel 1987.. A Beira da Falésia: a história entre incertezas e inquietude. Porto Alegre: Ed. Universidade / UFRGS, 2002. DANTAS, Maria José. Dos céus alpinos ao porto de Recife: Enzo Morandi (Volo) um grande vôo, muitas aventuras e páginas de Cidade Nova. Anais II Cipa Congresso Internacional sobre Pesquisa (Auto) biográfica: tempos, narrativas e ficções: a invenção de si. 10 a 14 de setembro de 2006, Salvador Bahia - Brasil. FARO, José Antonio. Chiara Lubich no Brasil. In: Revista Cidade Nova. Vargem Grande Paulista, SP, nº6, junho de 1998, p. 19-32. GALVÃO, Ana Maria de Oliveira; LOPES, Eliane Marta Teixeira. História da Educação. Rio de Janeiro, DP&A, 2001. LUBICH, Chiara. Ideal e Luz: Pensamento, Espiritualidade, Mundo Unido. São Paulo: Brasiliense; Vargem Grande Paulista, SP: Cidade Nova, 2003.. Buscai as coisas do alto. São Paulo: Cidade Nova, 1993.. A aventura da unidade. São Paulo: Cidade Nova, 1991. VIÑAO, Antonio. Relatos e relações autobiográficas de professores e mestres. In: MENEZES, Maria Cristina. Educação Memória e História: possibilidades, leituras. Campinas, SP: Mercado de Letras, 2004. RIBEIRO, Sandra Ferreira (Org.). Ginetta: uma pioneira do Ideal da Unidade. Vargem Grande Paulista, SP: Editora Cidade Nova, 2006. ROBERTSON, Edwin. Chiara. São Paulo, Cidade Nova, 1979. SILVA, Eliana M. Marques da & EGMAN, Mario. Chiara Lubich uma vida pela unidade. Publicação do Movimento dos Focolares. (s/d) SILVA, Eliana M. Marques da. O Brasil recebe Chiara Lubich. Publicação do Movimento dos Focolares. (s/d) FONTE ELETRÔNICA: www.focolare.org 10