O sermão do monte. Mateus 7.1-6

Transcrição

1 O sermão do monte Mateus Introdução Estamos entrando em uma nova fase do sermão do monte. Já falamos sobre identidade cristã, influência na sociedade, hipocrisia espiritual, escolhas do cristão e a ambição dos discípulos de Cristo. Agora entramos num assunto que não poderia faltar no sermão do monte: Relacionamentos. Nessa nova fase trataremos de relacionamento nas seguintes direções: (ver slides). Quando lemos o sermão do monte e vários outros textos, principalmente, do Novo Testamento, percebe-se claramente que a comunidade de Cristo não é marcada pela perfeição. A comunidade de Cristo é imperfeita. Será perfeita quando estiver reunida com Ele na glória, pois nesta ocasião, o corpo não estará mais sujeito as leis do pecado. Enquanto isso não acontece estamos na comunidade imperfeita. Nessa comunidade de imperfeitos, temos uma ferramenta que nos reorienta. A bíblia é o livro que nos faz perceber a necessidade de mudanças, e o Espírito Santo orienta no sentido da mudança. Por isso Paulo disse a Timóteo que: Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra. (1Tm ). Nesse ambiente de imperfeições surgem as tensões e os conflitos e, consequentemente, os problemas de relacionamento. Embora, as divergências tenham o seu lado positivo. Pois é necessário que haja divergências entre vocês, para que sejam conhecidos quais dentre vocês são aprovados. (1 Co 11.19) Não há dúvida de que é preciso haver divisões entre vocês para que fique claro quem são os que estão certos. (1Co 11.19) Essa fase do sermão do monte vem para nos dar um norte em nossos relacionamentos. Como devemos nos portar nessa vasta rede de interrelacionamentos?

2 1. Relacionamento entre irmãos Jesus usa um trocadilho extremamente complexo de entender e que dá margem para várias inferências, algumas boas outras distorcidas. Ele diz: Não julgueis, para que não sejais julgados. Primeiramente devemos falar de duas coisas que Jesus NÃO quis dizer nesse texto: Jesus NÃO estava ensinando contra os juízes nos tribunais. Jesus não estava ensinando que o crente deve se abster de sua faculdade crítica. Seria contraditório com a própria Bíblia pensar dessa forma. No Velho Testamento Deus constituiu juízes para julgar o povo. E aqui Jesus nãos estava falando sobre julgamento social. Da mesma forma seria incoerente pensar que o cristão não está apito a emitir um juízo sobre algum fato ocorrido. É como se estivéssemos fechando os olhos para aas faltas fingindo que não estão acontecendo. Seria um atentado contra o discernimento. Os próprios ensinamentos do sermão do monte nos chamam para o julgamento. Como posso escolher entre dois senhores, tenho que julgar. Como podemos ser diferente do mundo sem julgá-lo. Como exceder a justiça dos fariseus sem criticá-los. Como avaliar um falso profeta? Ou como classificar os cães e os porcos sem julgá-los?... As cartas de Paulo estão cheias de orientações sobre julgamento. Ele mesmo diz: Aventura-se algum de vós, tendo questão contra outro, a submetêlo a juízo perante os injustos e não perante os santos? Ou não sabeis que os santos hão de julgar o mundo? Ora, se o mundo deverá ser julgado por vós, sois, acaso, indignos de julgar as coisas mínimas? Não sabeis que havemos de julgar os próprios anjos? Quanto mais as coisas desta vida! Entretanto, vós, quando tendes a julgar negócios terrenos, constituís um tribunal daqueles que não têm nenhuma aceitação na igreja. Para vergonha vo-lo digo. Não há, porventura, nem ao menos um sábio entre vós, que possa julgar no meio da irmandade? 1 Co Apesar de eu não estar presente fisicamente, estou com vocês em espírito. E já condenei (julgou, sentenciou) aquele que fez isso, como se estivesse presente. (1 Coríntios 5:3). Não atentar para essas questões é correr o risco de tirar da igreja a sua autoridade (Mt 16.19). O que Jesus estava ensinando?

3 Embora Paulo use a palavra condenado, não me apegarei a interpretação do texto de coríntios. Certamente Paulo teve uma base contextual que precisamos entender dentro do contexto da carta. Para nós, no sermão do monte, Jesus está ensinando que não devemos nos colocar na posição de juízes que irão condenar as pessoas. A bíblia nos orienta a avaliar e julgar as ações, os comportamentos, não as pessoas. Acautelai-vos dos falsos profetas, que se vos apresentam disfarçados em ovelhas, mas por dentro são lobos roubadores. Pelos seus frutos os conhecereis. Colhem-se, porventura, uvas dos espinheiros ou figos dos abrolhos? Assim, toda árvore boa produz bons frutos, porém a árvore má produz frutos maus. Não pode a árvore boa produzir frutos maus, nem a árvore má produzir frutos bons. Toda árvore que não produz bom fruto é cortada e lançada ao fogo. Assim, pois, pelos seus frutos os conhecereis. (Mt ). Podemos nos emitir o nosso conceito baseado nos parâmetros que a Bíblia nos concede, entretanto, só Deus pode dar o veredicto final sobre a pessoa. Mesmo o nosso julgamento deve ser baseado no amor e na justiça de Deus, e não em nossa justiça. Somos falhos e não temos como condenar, até porque, nós mesmos, por vezes, nos encontramos nos mesmos erros que julgamos. Jesus está nos advertindo quanto ao comportamento de ficar procurando erros na vida das pessoas. Procurar erro na vida da pessoa nos coloca em uma posição de censurador. Isso é muito perigoso, pois como Jesus ensina Pois, com o critério com que julgardes, sereis julgados; e, com a medida com que tiverdes medido, vos medirão também. Um dia você pode estar julgando alguém, no outro é você quem pode estar no banco dos réus. A hipocrisia do julgamento condenatório é exemplificada por Jesus nessa pequena parábola da trave no olho. Como pode alguém querer tirar pequenas partículas de sujeira do olho de uma pessoa, quando ela mesma está com seus olhos tapados por grandes sujeiras. Jesus está ensinando contra a tendência fatal que temos de amplificar o erro dos outros e minimizar o nosso. Entretanto, Jesus NÃO está dizendo que não devemos denunciar o pecado na vida de outra pessoa. Isso seria contrário ao seu ensino posterior: Se teu irmão pecar contra ti, vai argüi-lo (mostrar o erro) entre ti e ele só. Se ele te ouvir, ganhaste a teu irmão. Se, porém, não te ouvir, toma ainda contigo uma ou duas pessoas, para que, pelo depoimento de duas ou três testemunhas, toda palavra se

4 estabeleça. E, se ele não os atender, dize-o à igreja; e, se recusar ouvir também a igreja, considera-o como gentio e publicano.mt 18.15ss Nesse texto vemos claramente que a orientação do mestre é mostrar o erro e advertir a pessoa na tentativa de levá-la ao arrependimento. Jesus também NÃO está dizendo que cada um deve tomar conta da sua vida. O que Jesus está querendo dizer com isso então? Ele está dizendo que, em alguns casos, antes de você julgar alguém por um erro, você precisa ver se você não está cometendo a mesma coisa ou pior. Somente após tratarmos do nosso pecado é que estaremos ápto a tratar do pecado do outro. 2. O relacionamento com os cães e porcos. A primeira vista parece uma linguagem chocante, principalmente vindo de Jesus no sermão do monte logo após Ele ensinar sobre como tratar o pecado com amor. Mas, Jesus sempre foi franco e assertivo ele... Chamou Herodes de raposa Os Fariseus de sepulcro caiado e raça de víboras Aqui Jesus chama alguns seres humanos de cães e porcos. Ele está dizendo que algumas pessoas agem dessa forma. Observe que Jesus uniu dois extremos. Não devemos acusar e condenar hipocritamente, mas, não devemos fingir que nada está acontecendo ignorando as faltas e achadando que todos são iguais. Os crentes não são juízes, mas também não são simplórios. Devemos remover a trave do olho para que a visão fique mais clara e podermos e remover o cisco do olho do irmão, que, se estiver com o coração em Deus apreciará a exortação. Nem todas as pessoas lidam bem com a repreensão, criticas e correções. De acordo com provérbios é a forma de lidar com a exortação que vai diferenciar o tolo do sábio. Não repreenda o zombador (escarnecedor, vaidoso), caso contrário ele o odiará; repreenda o sábio, e ele o amará. Provérbios 9:8 As palavras cães e porcos são muitíssimo pesadas entre os judeus. Cães era o apelido dos gentios, e porco era um animal imundo aos olhos dos judeus. Jogar pérolas a esses animais se constituí uma atitude insana, pois eles mastigaram e depois de perceberem que não é comida, podem avançar contra quem os está alimentando. Pérolas e coisas santas são identificações do evangelho da salvação. O que oferecemos é muito precioso. Mas, quem são os cães e os porcos? Não

5 estamos falando de todas as pessoas, mas, existem aqueles que já ouviram tanto do evangelho, nunca entregaram a vida a Cristo e, o que é pior, se colocam no lugar de escarnecedores de Deus e de seu povo. É um pouco do que diz Pedro: Portanto, se, depois de terem escapado das contaminações do mundo mediante o conhecimento do Senhor e Salvador Jesus Cristo, se deixam enredar de novo e são vencidos, tornou-se o seu último estado pior que o primeiro. Pois melhor lhes fora nunca tivessem conhecido o caminho da justiça do que, após conhecê-lo, volverem para trás, apartando-se do santo mandamento que lhes fora dado. Com eles aconteceu o que diz certo adágio verdadeiro: O cão voltou ao seu próprio vômito; e: A porca lavada voltou a revolver-se no lamaçal. 2 Pd Jesus ensinou seus discípulos a avaliarem a hora de parar de insistir: Ao entrardes na casa, saudai-a; se, com efeito, a casa for digna, venha sobre ela a vossa paz; se, porém, não o for, torne para vós outros a vossa paz. Se alguém não vos receber, nem ouvir as vossas palavras, ao sairdes daquela casa ou daquela cidade, sacudi o pó dos vossos pés. Em verdade vos digo que menos rigor haverá para Sodoma e Gomorra, no Dia do Juízo, do que para aquela cidade. Mt Conclusão Mateus 10:16...sede, portanto, prudentes como as serpentes e símplices como as pombas. Essas palavras bem podiam resumir a postura dos cristãos. Devem ser simples em seus julgamentos, não rigorosos, mas, amorosos. Devem remover a sua própria sujeira antes de remover a do outro. Porém, deve ser prudente, saber discernir e avaliar o comportamento, e ter coragem de exortar quando necessário for. Jesus exortou, criticou, julgou, exaltou-se, chicoteou, advertiu contra o pecado, denunciou a hipocrisia, foi áspero... E mesmo assim não deixou de ser o Amor. Acho que devemos repensar esse conceito. Paz.

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