Rebuscamento: reflexo do dilema em que vivia o homem

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Tiago Carneiro Mangueira
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2 CONTEXTO HISTÓRICO Concílio de Trento Ocorre a censura eclesiástica às ciências e cultura em geral O Brasil destaca-se como produtor de cana-de-açúcar Desenvolvimento de uma arte de contrastes e oposições (antítese) Subjetivismo

3 CARACTERÍSTICAS

4 Rebuscamento: reflexo do dilema em que vivia o homem Preferências por temas opostos: espírito e matéria, perdão e pecado, bem e mal, céu e inferno. Tudo isso gerava a preocupação com a brevidade da vida (carpediem)

5 A vós correndo vou, Braços sagrados, Nessa cruz sacrossanta descobertos: Que para receber-me estais abertos E por não castigar-me estais cravados Ardor em firme coração nascido; Pranto derrado por belos olhos; Incêndio disfarçado em mares de água Rio de neve convertido em fogo - Gregório de Matos -

6 ...porque outro mar copioso Largando dos meus olhos a corrente, Lhe formará meu pranto saudoso Jacinto Freire de Andrade

7 SÍMBOLOS QUE TRADUZEM A EFEMERIDADE, A INSTABILIDADE DAS COISAS Entre essas ondas claras, duvidosas, Levai ao largo mar, com curva vela, Tristes queixumes, lágrimas queixosas... - Francisco Rodrigues Lobo -

8 Uso freqüente de frases interrogativas Porém, se acaba o Sol, por que nascia? Se tão formosa é a Luz, por que não dura? Como a beleza assim se transfigura? Gregório de Matos

9 CULTISMO Valorização de forma e imagem, jogo de palavras, uso de metáforas, hipérboles, analogias e comparações. Manifesta-se uma expressão da angústia de não ter fé. " Ofendi-vos, Meu Deus, é bem verdade, É verdade, Senhor, que hei, delinqüido Delinqüido vos tenho e ofendido, Ofendido vos tem minha maldade..." Gregório de Matos

10 CONCEPTISMO Valorização do conteúdo/conceito, jogo de idéias através do raciocínio lógico. Há o uso da parábola com finalidade mística e religiosa. "Para um homem se ver a si mesmo, são necessárias três coisas: olhos, espelho e luz. Se tem espelho e é cego, não se pode ver por falta de olhos; se tem espelho e olhos, e é de noite, não se pode ver por falta de luz. Logo, há mister luz, há mister espelho e há mister olhos." Pe. Antônio vieira

11 TEMAS MAIS FREQÜENTES: Fugacidade da vida e das coisas; Tempo: agente de morte e dissolução; Arrependimento; Narração de cenas Morte, "Goza, expressão goza da flor trágicas; da mocidade. máxima Que da o tempo trata a Erotismo; toda ligeireza efemeridade das E imprime em toda a Misticismo; flor sua pisada. coisas; Gregório de Matos. Apelo à religião; Castigo- decorrência do pecado.

13 Autor de sátiras de extrema irreverência o que fez com que fosse degregado para Angola. Vocabulário forte, não poupava qualquer camada social em suas sátiras. Contraste entre o pecado e o perdão, o antagonismo (religioso) que vive o homem barroco

Se pois como Anjo sois dos meus altares, Fôreis o meu custódio, e a minha guarda, Mas vejo que por bela e por galharda, Posto que os

14 À mesma Dona Ângela Anjo no nome, Angélica na cara. Isso é ser flor e anjo juntamente. Ser Angélica flor e anjo florente, Em Livrara quem, senão eu de em diabólicos vós se uniformara? azares. Se pois como Anjo sois dos meus altares, Fôreis o meu custódio, e a minha guarda, Mas vejo que por bela e por galharda, Posto que os anjos nunca dão pesares, Sois anjo que me tenta e não me guarda. Quem vira uma tal flor, que não a cortara, Do verde pé, da rama, florescente; E quem um Anjo vira tão luzente Que por seu Deus o não idolatrara?

A vós correndo vou, braços sagrados, Nessa A vós, cruz pregados sacrossanta pés, por descobertos, não deixar-me, Que, A vós, para sangue receber-me, vertido, estais para ungir-me, abertos, E, A vós,

15 A vós correndo vou, braços sagrados, Nessa A vós, cruz pregados sacrossanta pés, por descobertos, não deixar-me, Que, A vós, para sangue receber-me, vertido, estais para ungir-me, abertos, E, A vós, por não cabeça castigar-me, baixa, pra estais chamar-me. cravados. Buscando o Cristo Crucificado um Pecador com Verdadeiro A vós, divinos lado patente, olhos, Arrependimento quero eclipsados unir-me, De A tanto vós, cravos sangue preciosos, e lágrimas quero cobertos, atar-me, Pois, Para para ficar perdoar-me, unido, atado estais e firme. despertos, E, por não condenar-me, estais fechados. P O E S I A R E L I G I O S A

16 Pica-Flor A uma freira que satirizando a delgada fisionomia do poeta lhe chamou "Pica-Flor". Se Pica-Flor me chamais, Pica-Flor aceito ser, Mas resta agora saber, Se no nome que me dais, Metei a flor que guardais No passarinho melhor! Se me dais este favor, Sendo só de mim o Pica, E o mais vosso, claro fica, Que fico então Pica-Flor

17 Pe. Antônio Vieira Nasceu em Lisboa, mas mudou-se cedo com a família para a Bahia. Nomeado Pregador Real e Tribuno da Restauração Incumbido de missões secretas na França e na Holanda. Esteve no Maranhão, chefiando a missão jesuítica. Sua ação foi decisiva para a promulgação da Lei da Liberdade dos Índios. Preso pela Inquisição,permaneceu recluso 03 anos. Conseguiu que Clemente X o isentasse da Inquisição. Passou os últimos dezesseis anos de sua via na Bahia, organizando suas obras para publicação. Morreu em Salvador em 18 de julho de 1697.

18 O Olhar sobre a Vida Concreta Inúmeros outros sermões desse padre jesuíta partem de alusões religiosas para comentar criticamente aspectos da sociedade brasileira ou portuguesa, mostrando sua profunda relação com a vida pública. Implacável inimigo dos corruptos, fulminou-os no Sermão do bom ladrão, apresentado diante de D. João IV, em 1655.

19 Não são só ladrões - diz o Santo os que cortam bolsas ou espreitam os que se vão banhar, para lhe colher a roupa; os ladrões que mais própria e dignamente merecem este título são aqueles a quem os reis encomendam os exércitos e legiões, ou o governo das províncias, ou a administração das cidades, os quais já com manha, já com força, roubam e despojam os pobres. Os outros ladrões roubam um homem, estes roubam cidades e reinos; os outros furtam debaixo de seu risco, estes sem temor, nem perigo; os outros, se furtam, são enforcados, estes furtam e enforcam.

20 Diógenes que tudo via com mais aguda vista que os outros homens, viu que uma grande tropa de varas (juízes) e ministros de justiça levavam a enforcar uns ladrões e começou a bradar: "Lá vão os ladrões grandes enforcar os pequenos." Ditosa Grécia que tinha tal pregador! Quantas vezes se viu em Roma ir a enforcar um ladrão por ter furtado um carneiro, e no mesmo dia ser levado em triunfo um cônsul ou ditador por ter roubado uma província.

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