CARACTERIZAÇÃO DA COMUNIDADE NATIVA DE FUNGOS MICORRÍZICOS ARBUSCULARES E ATRIBUTOS QUÍMICOS DO SOLO ASSOCIADOS AO MANEJO DE PASTAGENS EM TOCANTINS

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1 CARACTERIZAÇÃO DA COMUNIDADE NATIVA DE FUNGOS MICORRÍZICOS ARBUSCULARES E ATRIBUTOS QUÍMICOS DO SOLO ASSOCIADOS AO MANEJO DE PASTAGENS EM TOCANTINS Camila Viera da Silva 1 ; José Geraldo Donizetti dos Santos 2 1 Aluno do Curso de zootecnia; Campus de Araguaína; cvsillva@gmail.com PIBIC/CNPq ; 2 Orientador, professor adjunto do curso de zootecnia; Campus de Araguaína; jgsanttos@uft.edu.br; RESUMO O objetivo com este estudo foi efetuar a caracterização morfológica das comunidades de FMAs e quantificar os atributos químicos do solo em três áreas de pastagem (pastagem degrada, pastagem recuperada via integração com agricultura, pastagem recém-implantada) e em cerrado nativo. Esporos de FMAs foram extraídos de 100 cm3 de solo, montados em lamina e identificados em microscópio. Também foram determinados os teores de P, Ca, Mg, K, H+Al e o ph do solo. Os atributos do solo foram marcadamente influenciados pelo manejo do solo, observando os menores teores de nutrientes no cerrado nativo e uma melhoria da fertilidade do solo na área que foi recuperada por integração lavoura pecuária. As áreas apresentaram um número reduzido de espécies de FMAs, no entanto, as áreas dominadas por gramíneas apresentaram maior riqueza destes fungos. A espécie mais frequente foi a S. Pellucida e houve dominância do gênero Acaulospora,o qual tende a dominar nos solos de baixo ph. Palavras-chave: micorriza arbuscular; atributos do solo; fertilidade; INTRODUÇÃO A pecuária brasileira tem como base as pastagens, cultivadas ou nativas, sendo que aproximadamente metade desta área se encontra na região do bioma Cerrado Os solos sob Cerrado são naturalmente de baixa fertilidade, ácidos e possuem baixos teores de matéria orgânica. A capacidade produtiva desses solos é reduzida em função do nível do manejo utilizado, sendo que o sistema inadequado e intensivo de uso e manejo pode alterar negativamente atributos físicos, químicos e biológicos, ocasionar degradação e perda da qualidade do solo (Goedert, 2001). Além dos atributos químicos, os atributos biológicos também são bons indicadores da qualidade do solo, pois respondem bem às alterações impostas pelo uso e manejo (Moreira & Siqueira, 2006). Dentre esses atributos biológicos do solo destaca-se um grupo específico de fungos, os fungos micorrízicos arbusculares (FMAs), devido a sua importância na relação simbiótica que desenvolvem

2 com a maioria das plantas superiores, benefício para a nutrição mineral das plantas em solos de baixa fertilidade, dentre outros benefícios (Smith & Read, 1997). O objetivo com este trabalho foi caracterizar morfologicamente as comunidades de fungos micorrízicos arbusculares obtidas na primeira fase de estudo, além de quantificar os atributos químicos do solo, em áreas de pastagens e cerrado tocantinense. MATERIAL E MÉTODOS O presente trabalho foi desenvolvido na Universidade Federal do Tocantins UFT/EMVZ, campus de Araguaína (Análises laboratoriais). Foram estudadas três áreas de pastagem com capim do gênero Brachiaria, ambas com diferentes sistemas de manejo: uma pastagem degradada, uma pastagem bem manejada, uma pastagem que passou por recuperação via integração lavoura-pecuária, além de uma área de Cerrado nativo como referência. Estas áreas estão situadas na Fazenda Brejinho, município de Pedro Afonso - TO, à cerca de 250 km de Araguaína. O solo das áreas estudadas é um LATOSSOLO VERMELHO AMARELO, o qual foi amostrado na profundidade de 0-10 cm, utilizando-se um esquema de caminhamento em w. Cerca de 100 cm 3 de solo foram utilizados para a extração dos esporos dos FMAs, de acordo com metodologia descrita em Colozzi-filho e Balota (1994). Os esporos foram agrupados de acordo com suas características morfológicas (ex. tamanho e cor) e montados em lâminas contendo álcool polivinílico e lactoglicerol (PVLG) e com PVLG + Melzer (1:1). Os FMAs foram identificados, de acordo com as características morfológicas dos esporos (INVAM ( em microscópio composto com aumentos entre 100x e 400x. Além da identificação dos esporos de FMAs, foram quantificados vários atributos químicos do solo. Foram determinados os teores de P, Ca, Mg, K, H+Al e o ph do solo, segundo metodologia da EMBRAPA (1997). Em seguida, foi calculada a capacidade de troca catiônica (CTC) pela fórmula [SB + (H + Al)], onde SB = Ca + Mg + K e saturação por bases pela formula V = [(SB/CTC)x100]. Os dados foram submetidos à análise de variância e teste de média (teste de t a 5% de confiança). RESULTADOS E DISCUSSÃO Serão apresentados os dados das profundidades de e cm, em caráter complementar. Diversos dos atributos químicos do solo estudados foram marcadamente influenciados, sob efeito do manejo da pastagem e também sob a área de vegetação nativa de cerrado (Tabela 1). Sob

3 cerrado predominaram os menores valores de ph, teor de nutrientes e matéria orgânica do solo (MOS) e os maiores teores de alumínio. Outro aspecto importante é o aumento do teor de fósforo no solo, na camada de 0-10 cm, sob integração lavoura pecuária (ILPD) e pastagem nova, em relação à pastagem degradada. Dentre as áreas de pastagem, a recém-implantada após anos de agricultura apresentou o menor teor de MOS, mesmo assim superior ao cerrado. Estes resultados evidenciam a melhoria da fertilidade e dos estoques de carbono do solo devido à integração entre agricultura e pecuária e renovação da pastagem, principalmente o fósforo. Todas as áreas estudadas apresentaram riqueza de espécies de fungos micorrízicos arbusculares, apesar da diferença no tempo de implantação da pastagem, do manejo empregado e da interferência antrópica em algumas áreas (Tabela 2). Tabela 1. Análise química do solo em função do sistema de manejo da pastagem e cerrado nativo. Áreas ATRIBUTOS* PROFUNDIDADE CERRADO ILPD PDEGRAD PNOVA aA 5.9cC 5.5bB 5.3bB PH aA 5.6bB 5.6bB 5.0aA aA 5.1bA 5.3bA 4.9aA aA 17.4bB 5.4aA 33.7cB aA 12.0bB 4.8aA 5.6aA P aA 2.2aA 2.2aA 2.2aA aA 0.2bC 0.1aA 0.2bC K abA 0.1bB 0.0aA 0.1bB aA 0.0aA 0.0aA 0.0aA aA 4.8cC 2.9bB 2.5bB Ca aA 3.0cB 2.9cB 1.2bA aA 1.0bcA 1.5cA 0.5abA aA 2.1cC 1.5bB 1.1bB Mg aA 1.1cB 1.5cB 0.6bA aA 0.6bA 0.5bA 0.2abA cB 0.0aA 0.1aA 0.3bA Al cAB 0.2aA 0.2aAB 0.6bB bA 0.4aB 0.4aB 0.7bB abB 3.4aA 5.4cA 5.2bcB H+Al aAB 5.5bB 4.5abA 5.4bB aA 5.0cB 4.7bcA 3.9bA aA 7.1cC 4.6bB 3.8bB S aA 4.4cB 4.6cB 2.0bA aA 1.2bcA 2.1cA 0.1abA aC 10.5cB 10.0cC 9.1bC CTC aB 9.9dB 9.2cB 7.4bB aA 6.6cA 6.8cA 4.8bA aA 67.5cC 46.3bB 41.8bB V% aA 44.7cB 41.2cB 26.5bA aA 24.8bcA 31.3cA 8.7abA aB 4.0dC 3.7cC 3.2bC M.o aB 3.6dB 3.2cB 2.6bB aA 2.6cA 2.5cA 2.2bA Médias seguidas pela mesma letra minúscula na linha e maiúscula na coluna são iguais pelo teste de t a 5% de confiança. * P Fósforo (mg dm -3 ); K Potássio, Ca Cálcio, Mg Magnésio, Al Alumínio,

4 H+AL Acidez potencial, S Soma de bases e CTC Capacidade de Troca Catiônica (cmol c dm Saturação por Base (%); M.O Matéria Orgânica (%); -3 ); V% - No presente trabalho foram encontradas um total 25 espécies de FMAs pertencentes a 6 gêneros, sendo que destas cerca de 7 são de espécies ainda não descritas. Deste total, 8 espécies ocorreram na área de cerrado nativo, 10 espécies na área de pastagem nova e 13 espécies nas áreas de integração lavoura pecuária e pastagem degradada. Em estudo desenvolvido por Melloni et al (2003), em áreas de mineração em processo de recuperação, também foi verificado um número reduzido de espécies de FMAs por área. No entanto, áreas dominadas por gramíneas apresentaram maior riqueza destes fungos, confirmando os resultados aqui encontrados. Tabela 2. Espécies e morfotipos de fungos micorrízicos arbusculares identificados nas áreas estudadas. Tratamento Espécies/FMAs Pastagem nova Integração Lavoura Pecuária Cerrado nativo Pastagem degradada Acaulospora morrowiae, A. scrobiculata, Acaulospora sp1, Entrophospora sp1, Gigaspora margarita, Gigaspora sp1, Glomus sp1, Racocetra gregaria, Scutellospora heterogama, S. pellucida. Acaulospora delicata, A.lacunosa, A. laevis, A. scrobiculata, Gigaspora sp2, Glomus etunicatum, Glomus sp1, Glomus sp3, Racocetra gregaria, Scutellospora cerradensis, S. heterogama, S. pellucida, S. scutata. Acaulospora laevis, Glomus etunicatum, Glomus sp2, Glomus sp3, Scutellospora fulgida, S. pellucida, Scutellospora scutata, Scutellospora sp1. Acaulospora delicata, A. lacunosa, A. laevis, A. rugosa, A. scrobiculata, Acaulospora sp2, A. tuberculata, Glomus sp1, Glomus sp2, Glomus sp3, Scutellospora heterogama, S. pellucida, S. rubra.

5 O maior número de espécies pertencem aos gêneros Acaulospora e Glomus, com 9 espécies cada, seguido do gênero Scutellospora, com 7 espécies, Gigaspora, com 3 espécies, e por ultimo, Entrophospora e Racocetra, com apenas 1 espécie cada um. Dessa forma, conclui-se que: Os atributos químicos do solo estudados respondem ao uso do solo e manejo da pastagem em área de cerrado, tanto na camada superficial quanto em subsuperfície; Há melhoria da fertilidade do solo sob influência da integração entre agricultura e pecuária, com destaque para o teor de fósforo e matéria orgânica do solo; Após a agricultura, o maior tempo sob pastagem, em sistema de integração, contribui para a ampliação dos estoques de carbono do solo, mesmo em subsuperfície; O manejo empregado ao solo e a cobertura vegetal influenciam na riqueza de espécies de FMAs; As áreas de pastagens diferentemente manejadas apresentam maior riqueza de FMAs, enquanto que a área nativa e com ambiente mais estável apresenta um menor número de espécies; LITERATURA CITADA COLOZZI-FILHO, A.; BALOTA, E.L.. Micorrizas Arbusculares. In. HUNGRI, M.; ARAUJO, R.S.. Manual de métodos empregados em estudos de microbiologia agrícola. Brasília: EMBRAPA-SPI, p , EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA EMBRAPA. Serviço Nacional de Levantamento e Conservação do Solo. Manual de métodos de análise de solos. 2ed. Rio de Janeiro. 1997, 212p. GOEDERT, W.J. Região dos cerrados: Potencial agrícola e política para o seu desenvolvimento. Pesquisa Agropecuária Brasileira. P.1-17, International Culture Collection of (Vesicular) Arbuscular Mycorrhizal Fungi - INVAM. Disponível em: MELLONI, R; SIQUEIRA, J. O; MOREIRA, F. M. S; Fungos micorrízicos arbusculares em solos de área de mineração de bauxita em reabilitação. Pesq. agropec. bras., Brasília, v. 38, n. 2, p , fev MOREIRA, F.M. S; SIQUEIRA, J.O. Microbiologia e bioquímica do solo. 2º ed. atual. e ampl.-lavras: Editora-UFLA, 2006, 729p.: il. SMITH, S.E.; READ, D.J. Mycorrhizal simbiosis. 2.ed. New York: Academic, p.