VETERINÁRIA EM FOCO. Revista de Medicina Veterinária o. Vol. 8 - N 2 - Jan./Jun ISSN

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1 VETERINÁRIA EM FOCO Revista de Medicina Veterinária o Vol. 8 - N 2 - Jan./Jun ISSN Presidente Augusto Ernesto Timm Neto Vice-Presidente Joseida Elizabete Timm Reitor Marcos Fernando Ziemer Vice-Reitor Valter Kuchenbecker Pró-Reitor de Administração Levi Schneider Pró-Reitor de Graduação Ricardo Prates Macedo Pró-Reitor Adjunto de Graduação Pedro Antonio González Hernández Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação Erwin Francisco Tochtrop Júnior Pró-Reitor de Extensão e Assuntos Comunitários Ricardo Willy Rieth Capelão Geral Gerhard Grasel VETERINÁRIA EM FOCO Disponível eletronicamente no site Indexadores AGROBASE - Base de Dados da Pesquisa Agropecuária (BDPA), CAB Abstracts, LATINDEX Comissão Editorial Prof. Ms. Carlos Santos Gottschall Prof. Dr. Luís Cardoso Alves Prof. Dr. Sérgio José de Oliveira Conselho Editorial Prof. Dr. Adil K. Vaz (Univ. Estadual de Lages) Prof. Dr. Angelo Berchieri Jr. (UNSSP - Jaboticabal) Prof. Dr. Antonio Bento Mancio (UFMG) Prof. Dr. Carlos Tadeu Pippi Salle (UFRGS) Prof. Dr. Cesar H. E. C. Poli (UFRGS) - Profa. MSC. Cristine Bastos Dossin Fischer (ULBRA) Prof. Dr. Eduardo Malschitzky (ULBRA) Prof. Dr. Emerson Contesini (UFRGS) Prof. Dr. Francisco Gil Cano (Univ. Murcia/ Espanha) Prof. Dr. Franklin Riet-Correa (UFPEL) Prof. Ms. João Sérgio Coussirat de Azevedo (ULBRA) Prof. Dr. Joaquim José Ceron (Univ. Murcia/Espanha) Prof. Dr. Julio Otávio Jardim Barcellos (UFRGS) Profa MSC Maria Inês Witz (ULBRA) Prof. Dr. Luiz Alberto Oliveira Ribeiro (UFRGS) Prof. Dr. Luiz Cesar Fallavena (ULBRA) Profa. MSC Maria Helena Amaral (CRMV/RS) Profa. MSC. Maria Inês Witz (ULBRA) Profa. Ms. Mariangela da Costa Allgayer (ULBRA) Prof. Dr. Paulo Ricardo Loss Aguiar (ULBRA) Prof. Dr. Renato Silvano Pulz (ULBRA) Dra. Sandra Borowski (FEPAGRO) Prof. Dr. Victor Cubillo (Univ. Austral do Chile) Prof. Dr. Waldyr Stumpf Junior (EMBRAPA) Secretaria do Curso de Medicina Veterinária ULBRA - Av. Farroupilha, Canoas - Prédio 14 - Sala 126 CEP: Fone/fax: (51) secagrarias@ulbra.br Carlos Gottschall: carlosgott@cpovo.net Sergio Oliveira: serjol@terra.com.br Editora da ULBRA Diretor - Astomiro Romais Coordenador de periódicos - Roger Kessler Gomes Capa - Everaldo Manica Ficanha Editoração - Roseli Menzen Endereço para permuta Universidade Luterana do Brasil Biblioteca Central - Setor Aquisição Av. Farroupilha, Prédio 05 CEP: Canoas/RS, Brasil bibpermuta@ulbra.br Solicita-se permuta We request exchange On demande l'échange Wir erbitten Austausch Matérias assinadas são de responsabilidade dos autores. Direitos autorais reservados. Citação parcial permitida com referência à fonte. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação - CIP V586 Veterinária em foco / Universidade Luterana do Brasil. Vol. 1, n. 1 (maio/out. 2003)-. Canoas : Ed. ULBRA, v. ; 27 cm. Semestral. ISSN Medicina veterinária periódicos. I. Universidade Luterana do Brasil. CDU 619(05) Setor de Processamento Técnico da Biblioteca Martinho Lutero

2 Sumário 107 Editorial Artigos científicos 108 Utilização da progesterona, injetável ou impregnada em dispositivo intravaginal, na indução da ciclicidade de novilhas previamente a estação de acasalamento Carlos Santos Gottschall; Paulo Ricardo Loss Aguiar; Marcos Rosa de Almeida; Jéssica Magero; Fábio Tolotti; Hélio Hadke Bittencourt; Yara Bento Pereira Suñé 121 Fatores de crescimento envolvidos no desenvolvimento de folículos pré-antrais Viviane Bento da Silva; Carmem Estefânia Serra Neto Zúccari; Eliane Vianna Costa e Silva 132 Efeitos da interação entre aflatoxicoses e doença infecciosa bursal sobre níveis de enzimas de função hepática, colesterol e triglicerídeos em frangos de corte Adriana Borsa; Aguemi Kohayagawa; Lígia Pedroso Boretti; Mere Erica Saito 143 Parasitismo gastrintestinal e aspectos do manejo de avestruzes (Struthio camelus) de pequenas propriedades do Rio Grande do Sul, Brasil Mary Jane T. de Mattos; Vera Sardá Ribeiro; Sandra Márcia Tietz Marques 152 Diagnóstico bacteriológico de diversas patologias de cães e gatos e verificação da suscetibilidade a antimicrobianos Marília Scartezzini; Denise de Moura Cordova; Diane Alves de Lima; Jeniffer Carolina Jaques da Silva; Sérgio J. de Oliveira 158 Cistos de íris em um canino: relato de caso Luciana Vicente Rosa Pacicco de Freitas; Luciane de Albuquerque; Paula Stieven Hünning; Bernardo Stefano Bercht; João Antonio Tadeu Pigatto 165 Desvio portossistêmico adquirido em cão: relato de caso Carla Pezzi Koeche; Júlio Cesar Hahn de Aragão; Daiane de Oliveira Negreiros 105

3 182 Uso da pilocarpina no tratamento da síndrome de Sjögren em um cão: relato de caso Camila Zinn Arend; Fabiana Quartiero Pereira; Ana Júlia Andrade Coelho 197 Aspectos clínicos e patológicos de hemangiossarcoma em cães: estudo de 62 casos Vanessa Perlin Ferraro de Ávila; Anamaria Telles Esmeraldino; Maria Inês Witz 205 Sarcoma de aplicação em felinos: revisão de literatura Priscilla Domingues Mörschbächer; Tuane Nerissa Alves Garcez; Emerson Antonio Contesini 215 Normas editoriais

4 Editorial A revista Veterinária em Foco tem sido editada a cada semestre, contando com artigos científicos de diversos pesquisadores de Universidades brasileiras. O material para publicação é previamente analisado e adequado às normas da revista, de modo a manter a qualidade exigida desde o início da série. A periodicidade tem sido possível desde o ano de 2003, portanto são 15 números já editados, contemplando as mais diversas áreas de atuação da Medicina Veterinária. A revista demonstrou assim que é plenamente justificável sua existência, considerando-se a confiança dos pesquisadores nos resultados obtidos através da divulgação de trabalhos que têm contribuído na prática da clínica veterinária de pequenos e grandes animais e também para serviços laboratoriais. Assim, neste número deixamos nosso profundo agradecimento aos nossos colaboradores e leitores, pois eles têm sempre contribuído durante todos estes anos, permitindo que tenhamos sempre artigos em lista de espera realizando assim boa seleção dos conteúdos. Comissão Editorial

5 Utilização da progesterona, injetável ou impregnada em dispositivo intravaginal, na indução da ciclicidade de novilhas previamente a estação de acasalamento Carlos Santos Gottschall Paulo Ricardo Loss Aguiar Marcos Rosa de Almeida Jéssica Magero Fábio Tolotti Hélio Hadke Bittencourt Yara Bento Pereira Suñé RESUMO Avaliaram-se as taxas de prenhez e de inseminação em novilhas pré-púberes tratadas com progesterona previamente a estação de acasalamento. Foram utilizadas 221 novilhas de corte acasaladas aos 2 anos (144 animais) e 3 anos (77 animais) de idade, sendo submetidas respectivamente aos seguintes tratamentos: P4_5 ml = 5 ml (50 mg) de progesterona injetável (39 vs 0 novilhas); P4_8 ml = 8 ml (80 mg) de progesterona injetável (38 vs 30 novilhas); Sinc_3º uso = dispositivo intravaginal de progesterona de terceiro uso por 8 dias (29 vs 27 novilhas); Testemunha = novilhas sem tratamento hormonal (28 vs 20 novilhas). Os tratamentos foram realizados juntamente com avaliação do ECC e pesagem dos animais 42 dias antes do início da estação de acasalamento. A estação iniciou com aplicação de PGF2α em todos os animais, sendo inseminados após detecção de estro durante 5 dias, sete dias após a inseminação todos os animais foram submetidos a repasse com touros. As taxas de prenhez e de inseminação das novilhas de 2 anos para os grupos P4_5 ml, P4_8 ml, Sinc_3º uso e Testemunha foram, respectivamente: 38,5%, 55,3%, 56,4% e 50,0% (P>0,05); 5,1%, 5,3%, 5,2% e 0,0% (P>0,05). As taxas de prenhez e de inseminação das novilhas de 3 anos para os grupos P4_8 ml, Sinc_3º uso e Testemunha foram, respectivamente: 66,7%, 77,8% e 70,0% (P>0,05); 50,0%, 55,6% e 45,0% (P>0,05). As taxas de prenhez e de inseminação totais para novilhas de 2 e 3 anos foram, respectivamente: 50,0% e 71,4% (P<0,05); 4,2% e 50,6% (P<0,05). Os tratamentos com progesterona não foram efetivos na indução da puberdade nas novilhas de 2 e 3 anos de idade. Entretanto, novilhas de 3 anos apresentaram taxas de prenhez e de inseminação maiores do que novilhas de 2 anos. O peso corporal e o ECC tiveram efeito positivo em novilhas de Carlos Santos Gottschall é Médico Veterinário. Mestre em Zootecnia. Doutorando em Ciência Animal (PPG- UFRGS). Professor do Curso de Medicina Veterinária/ULBRA. carlosgott@cpovo.net Paulo Ricardo Loss Aguiar é Médico Veterinário. Doutor em Ciência Animal. Professor do Curso de Medicina Veterinária/ULBRA. Marcos Rosa de Almeida, Jéssica Magero e Fábio Tolotti são Acadêmicos do Curso de Medicina Veterinária/ ULBRA Bolsista PROICT/ULBRA. Hélio Hadke Bittencourt é Estatístico, Mestre em Sensoriamento Remoto e Professor Assistente do Departamento de Estatística da PUCRS. Yara Bento Pereira Suñé é Engenheira Agrônoma. Mestre em Zootecnia (UFRGS). 108Veterinária em Foco Veterinária Canoasem Foco, v.8 v.8, n.2, jan./jun. p jan./jun. 2011

6 3 anos, sendo estas mais pesadas e com taxas de prenhez e de inseminação superiores às novilhas de 2 anos. Palavras-chave: Novilhas. Pré-púberes. Progesterona. Use of progesterone, injectable or impregnated in intravaginal device, in the induction of cyclicity in prepubertal heifers before of the breeding season ABSTRACT The pregnancy and insemination rates were evaluated in prepubertal heifers treated with progesterone before of the breeding season. Were evaluated 221 heifers with 2 (144 animals) and 3 years (77 animals) old of age, respectively distributed to the following treatments: P4_5 ml = 5 ml (50 mg) progesterone injectable (39 vs 0 heifers); P4_8 = 8 ml (80 mg) progesterone injectable (38 vs 30 heifers); Sinc_3º use = intravaginal device progesterone of third use for eight days (29 vs 27 heifers), Control = heifers without hormonal treatment (28 vs 20 heifers). The hormonal treatments were did with assessment ECC and weighing of the animals 42 days before the mating season. The breeding season started with the application of PGF2a in all animals, the heifers were inseminated after detection of estrus for 5 days. Seven days after insemination began the bull remained in all animals. The pregnancy and insemination rates of heifers of two years old for the groups P4_5 ml, P4_8 ml, Sinc_3º use and Control were, respectively: 38.5%, 55.3%, 56.4% and 50.0% (P>0.05), 5.1%, 5.3%, 5.2% and 0.0% (P>0.05). The pregnancy and insemination rates of heifers of three years old for the groups P4_8 ml, Sinc_3º use and Control were, respectively: 66.7%, 77.8% and 70.0% (P>0.05), 50.0%, 55.6% and 45.0% (P> 0.05). The pregnancy and insemination rates total for heifers of 2 and 3 years old were, respectively: 50.0% and 71.4% (P<0.05), 4.2% and 50.6% (P <0 05). Treatments with progesterone were not effective in induction puberty in heifers of two and three years old. However, heifers of three years had pregnancy and insemination rates higher than heifers of two years old. Body weight and BCS had a positive effect in heifers of three years old, these heifers had more weight and higher pregnancy and insemination rates than heifers of two years old. Keywords: Heifers. Prepuberal. Progesterone. INTRODUÇÃO A atividade de cria possui características econômicas inferiores a outras atividades da pecuária de corte. Neste contexto, a redução da idade para o primeiro serviço das novilhas e taxas de prenhez elevadas são fundamentais para a manutenção econômica da bovinocultura de corte (AZAMBUJA, 2003). A utilização de estratégias de manejo para antecipar a puberdade da novilha, objetiva torná-la apta à reprodução o mais cedo possível e aumentar o seu condicionamento fisiológico para que os resultados reprodutivos sejam superiores (AZEREDO, 2008). O tratamento hormonal previamente a estação de acasalamento pode promover efeitos benéficos em novilhas pré-púberes (HALL et al., 1997). Diversos estudos investigaram os efeitos da progesterona na indução da puberdade em novilhas (GONZALES-PADILHA et al., 1975; PATTERSON et al., 1990; PFEIFER et al., 2008). Segundo Patterson (1990), a elevação da concentração sérica de progesterona 109

7 é necessária para que a atividade luteal seja normalizada. Sugere-se que a progesterona tenha a função de regular a liberação de LH através da redução da retroalimentação negativa do estrógeno sobre o hipotálamo (RASBY et al., 1998). Segundo Claro Júnior et al. (2010), a quantidade de progesterona administrada pode promover respostas diferentes sobre a indução da ciclicidade e do desenvolvimento folicular. Conforme os autores a alta concentração de progesterona pode promover bloqueio na liberação do LH em novilhas acíclicas. Conforme Azeredo (2008), o uso de protocolos hormonais com o intuito de induzir a puberdade de novilhas deve ter indicação quando outros pré-requisitos básicos ao manejo pré-acasalamento forem preenchidos. O manejo nutricional é um ponto fundamental para que novilhas atinjam resultados satisfatórios quando submetidas ao acasalamento (SILVA et al., 2005). A novilha atinge a puberdade quando o seu peso corporal alcança 60-65% do peso da vaca adulta da mesma composição racial (SAWYER et al., 1991). Vários pesquisadores demonstraram a importância do peso corporal para obtenção de taxas de prenhez superiores em novilhas de corte (PEREIRA NETO; LOBATO, 1998; MORAES et al., 2005; GOTTSCHALL et al., 2006). O objetivo deste trabalho foi avaliar a resposta reprodutiva de novilhas de corte pré-púberes, tratadas com progesterona injetável ou com progesterona impregnada em dispositivos intravaginais previamente usados, antecedendo o início da estação de acasalamento. Buscou-se avaliar também, o efeito do peso corporal e do escore de condição corporal (ECC) associados ao desempenho reprodutivo das novilhas. MATERIAL E MÉTODOS O trabalho foi realizado em uma propriedade particular situada no município de Lavras do Sul. Foram utilizadas 221 novilhas de corte mestiças, sendo 144 novilhas acasaladas aos 2 anos e 77 novilhas acasaladas aos 3 anos de idade. Os animais eram oriundos de cruzamento entre raças britânicas (Hereford e Angus) e zebuínas acasaladas aos 2 anos e 3 anos de idade. O experimento aconteceu entre o período de 1 de novembro de 2010 e 12 de fevereiro de Os animais de ambas as idades foram submetidos ao manejo nutricional com o objetivo de atingir cerca de 300 kg até a estação de acasalamento. Os animais de 2 anos tiveram alimentação baseada em campo nativo e pastagem cultivada de azevém durante o inverno, enquanto os animais de 3 anos tiveram alimentação baseada exclusivamente em campo nativo. Os grupos experimentais foram formados 42 dias antes do início da estação de acasalamento. Novilhas de 2 anos formaram os seguintes grupos: P4_5 ml, 39 novilhas foram tratadas com 5 ml (50 mg) de progesterona injetável (Afisterone Hertape Calier); P4_8 ml, 38 novilhas foram tratadas com 8 ml (80 mg) de progesterona injetável (Afisterone Hertape Calier); Sinc_3º uso, 29 novilhas foram tratadas com dispositivo intravaginal de progesterona de 3º uso por 8 dias (Sincrogest 1,0g de progesterona Ouro Fino); Testemunha, 28 novilhas não receberam nenhum tipo de tratamento hormonal 110

8 previamente a estação de acasalamento. Novilhas acasaladas aos 3 anos formaram os seguintes grupos: P4_8 ml, 30 novilhas foram tratadas com 8 ml (80 mg) de progesterona injetável (Afisterone Hertape Calier); Sinc_3º uso, 27 novilhas foram tratadas com dispositivo intravaginal de progesterona de 3º uso por 8 dias (Sincrogest 1,0g de progesterona Ouro Fino); Testemunha, 20 novilhas não receberam nenhum tipo de tratamento hormonal previamente a estação de acasalamento. Por ocasião da formação dos grupos experimentais, os animais foram submetidos a avaliação do escore de condição corporal (ECC) na escala de 1 a 5 (LOWMAN, 1976) e a pesagem. A estação de acasalamento teve duração de 58 dias, iniciando no dia 12 de dezembro de 2011 e terminando em 08 de fevereiro de Todos os animais foram submetidos à inseminação artificial no início da estação de acasalamento. No primeiro dia da estação foi administrado 375µg de cloprostenol sódico intramuscular em todos os animais, sequencialmente os animais foram submetidos a observação do comportamento estral e inseminação após 12 horas, durante cinco dias. Após 7 dias do término da inseminação, os animais foram submetidos ao repasse com touros na proporção de 1:30. Os touros foram previamente submetidos ao exame andrológico. O diagnóstico de gestação foi realizado através de palpação retal, 60 dias após o término da estação de acasalamento. As variáveis analisadas referentes a cada grupo tratamento foram: taxa de prenhez, definida como a porcentagem de fêmeas prenhes após o repasse de touros, dividida pelo total de fêmeas do experimento; taxa de inseminação, definida como a porcentagem de fêmeas que foram inseminadas após a manifestação do estro, dividida pelo total de fêmeas do experimento. O peso corporal médio e o escore de condição corporal (ECC) médio foram relacionados com a resposta reprodutiva (vazia e prenhe) e com a realização da inseminação artificial (não e sim) em ambas as idades. Para fins de análise, as informações de cada animal foram agrupadas conforme o grupo tratamento, a resposta reprodutiva (vazia e prenhe) ou a realização da inseminação artificial (não e sim), a partir da idade dos animais (2 ou 3 anos de idade). A análise estatística foi feita a partir do software SPSS Os resultados obtidos no experimento foram analisados por meio de análise de variância, teste de correlações, teste t Student e qui-quadrado através do software SPSS Interações possíveis entre as variáveis foram testadas. RESULTADOS E DISCUSSÃO Na Tabela 1 pode ser observado que não houve diferença entre os grupos tratamento e testemunha, demonstrando que o tratamento com progesterona não foi efetivo na antecipação da puberdade e na elevação das taxas de prenhez das novilhas manejadas (P>0,05). Entretanto, resultados distintos foram observados entre as idades; novilhas de 2 e 3 anos obtiveram, respectivamente, 50,0% e 71,4% de prenhez (P<0,05) (Tabela 1). Segundo Hall et al. (1997), a puberdade é definida como o momento em que ocorre a primeira ovulação juntamente com a manifestação estral seguida pelo desenvolvimento 111

9 de um corpo lúteo funcional. Conforme Patterson et al. (1990), novilhas necessitam uma elevação dos níveis plasmáticos de progesterona para que ocorra o desenvolvimento da atividade luteal normal, acarretando assim o início da puberdade. O objetivo do tratamento com progesterona é regular a liberação de LH através do declínio pré-puberal da retroalimentação negativa do estradiol sobre o hipotálamo (RASBY et al., 1998). Conforme Anderson et al. (1996) a elevação prévia da progesterona proporciona o aumento na liberação pulsátil de LH, diminuindo o número de receptores para estrógeno no hipotálamo. Neste contexto, Rasby et al.(1998) observaram que a função luteal foi induzida em 55% das novilhas tratadas com progesterona. Azeredo (2008) realizou um tratamento priming com progesterona e progestágeno em novilhas de meses de idade previamente a inseminação em tempo fixo. O autor observou um total de 48,0% de prenhez ao final da estação de acasalamento, não havendo diferença entre os grupos tratamento e controle. Claro Júnior et al. (2010) estimularam fêmeas Nelore pré-púberes com meses de idade utilizando dispositivos intravaginais de progesterona (1,9 g) de 1º uso ou de 4º uso. Os autores observaram aumento nas taxas de prenhez ao início da estação de acasalamento para os grupos tratamento em relação ao grupo controle (sem suplementação de progesterona). Além disso, os autores relatam que novilhas pré-púberes tratadas com dispositivo de 4º uso tiveram melhor desenvolvimento folicular do que novilhas tratadas com dispositivo de 1º uso. Conforme Claro Júnior et al. (2010), a maior quantidade de progesterona presente no dispositivo de 1º uso pode ter prejudicado a secreção de LH e o desenvolvimento folicular. As taxas de prenhez ao final do acasalamento foram 72,6%, 83,5% e 83,7%, respectivamente para, grupo controle, dispositivo de 1º uso e dispositivo de 4º uso. Pfeifer et al. (2008) observaram que novilhas pré-púberes tratadas com dispositivo de progesterona (1,9 g) apresentaram maior desenvolvimento folicular e taxa de ovulação do que novilhas pré-púberes que não foram tratadas. Segundo os autores, 50% das novilhas que receberam progesterona ovularam em até 5 dias após a remoção do dispositivo de progesterona, 7,1% das novilhas controle ovularam neste mesmo período. TABELA 1 Taxas de prenhez conforme a idade de novilhas submetidas a diferentes tratamentos com progesterona para a indução da puberdade. Tratamento Taxa de Prenhez Novilhas 2 Anos Taxa de Prenhez Novilhas 3 Anos N % N % P4_5 ml (15/39) 38,5 a - - P4_8 ml (21/38) 55,3 a (20/30) 66,7 a Sinc_3º uso (22/39) 56,4 a (21/27) 77,8 a Testemunha (14/28) 50,0 a (14/20) 70,0 a Total (72/144) 50,0 x (55/77) 71,4 y a; valores na mesma coluna, seguidos por letras iguais, não diferem estatisticamente (P>0,05). x,y; valores na mesma linha, seguidos por letras distintas, diferem estatisticamente (P<0,05). 112

10 Conforme observado na literatura, outras fontes de progesterona são utilizadas na indução da puberdade em novilhas, como implantes auriculares subcutâneos e progestágeno oral (SHORT et al., 1976; HALL et al., 1997). Estes autores ressaltam o efeito positivo da progesterona na ativação do eixo hipotálamo-hipofisário-gonadal em novilhas pré-púberes, ativando a ciclicidade reprodutiva destes animais. Gonzales- Padilha et al. (1975) demonstraram que novilhas tratadas somente com progesterona injetável não tiveram a indução do comportamento estral e também não alteraram o perfil da concentração sérica de LH e FSH. Entretanto, os autores relatam que a adição de estrógeno ao tratamento com progesterona promove melhores resultados do que a progesterona isolada. TABELA 2 Taxa de inseminação conforme a idade de novilhas submetidas a diferentes tratamentos com progesterona para a indução da puberdade. Tratamento Taxa de Inseminação Novilhas 2 Anos Taxa de Inseminação Novilhas 3 Anos N % N % P4_5 ml (2/39) 5,1 a - - P4_8 ml (2/38) 5,3 a (15/30) 50,0 a Sinc_3º Uso (2/39) 5,1 a (15/27) 55,6 a Testemunha (0/28) 0,0 a (9/20) 45,0 a Total (6/144) 4,2 x (39/77) 50,6 y a; valores na mesma coluna, seguidos por letras iguais, não diferem estatisticamente (P>0,05). x,y; valores na mesma linha, seguidos por letras distintas, diferem estatisticamente (P<0,05). Neste trabalho a antecipação da puberdade foi determinada pela detecção de estro e inseminação artificial dos animais nos diferentes grupos avaliados. Na Tabela 2 verifica-se que a taxa de inseminação não demonstrou efeito em nenhum grupo tratamento com diferentes fontes de progesterona e nem no grupo testemunha (P>0,05). Entretanto, houve diferença na taxa de inseminação entre as duas idades trabalhadas, 50,0% e 71,4% para novilhas de 2 e 3 anos de idade respectivamente (P<0.05) (Tabela 2). Hall et al. (1997) verificaram que novilhas pré-púberes tratadas com implante auricular contendo progestágeno por 5 dias, manifestaram mais estro após a retirada do implante do que novilhas não tratadas, 82% e 9% respectivamente. Conforme os autores, a idade parece influenciar a eficácia da progesterona na indução da puberdade da novilha. Este fato pode estar relacionado ao maior período que animais mais velhos têm em comparação aos animais mais jovem para atingirem o desenvolvimento corporal e a maturidade sexual desejada. Claro Júnior et al. (2010) observaram que novilhas tratadas com progesterona tiveram maiores taxas de detecção de estro nos primeiros 7 dias da estação de 113

11 acasalamento, 19,5%, 42,6% e 39,3% respectivamente para, grupo controle, dispositivo de 1º uso e dispositivo de 4º uso. Rasby et al. (1998) verificaram em novilhas tratadas somente com dispositivo intravaginal de progesterona (1,9 g) 37% de comportamento estral durante 22 dias. Azeredo (2008) observou que novilhas pré-púberes tratadas com dispositivo intravaginal com 1,0g de progesterona tiveram maior manifestação estral (94,1%) do que as novilhas tratadas com progestágeno (70,6%) e as novilhas controle (50,0%). TABELA 3 Relação entre a resposta reprodutiva (vazia ou prenhe) de novilhas com 2 e 3 anos de idade, o ECC médio (Escala 1-5), o peso médio (kg) e a taxa de inseminação (%). Idade Resposta Reprodutiva N % ECC médio (Escala 1-5) Peso médio (kg) Taxa de Inseminação (%) 2 Anos Vazia 72 50,0 a 2,62 a 265,88 a 2,8 a Prenhe 72 50,0 a 2,68 a 268,43 a 5,6 a Total ,65 267,15 x 4,2 x 3 Anos Vazia 22 28,6 A 2,43 A 279,23 A 22,7 A Prenhe 55 71,4 B 2,65 B 302,64 B 61,8 B Total ,58 295,95 y 50,6 y a; valores na mesma coluna, seguidos por letras iguais, não diferem estatisticamente (P>0,05). A, B; valores na mesma coluna, seguidos por letras iguais, diferem estatisticamente (P 0,05). x,y; valores na mesma coluna, seguidos por letras distintas, diferem estatisticamente (P<0,05). Na Tabela 3, verifica-se que novilhas de 2 anos de idade demonstraram igualdade percentual entre vazias e prenhes, 50,0% e 50,0% respectivamente (P>0,05). Entretanto, novilhas de 3 anos demonstraram diferença estatística entre vazias e prenhes, 28,6% e 71,4% respectivamente (P<0,05). Relacionando o escore de condição corporal (ECC) e o peso corporal das novilhas 42 dias antes do início da estação do acasalamento com a resposta reprodutiva (vazia ou prenhe) (Tabela 3), pode ser observado que novilhas de 2 anos não demonstraram diferença estatística para ECC (2,62 e 2,68) e peso corporal médio (265,88kg e 268,43kg), respectivamente (P>0,05). A taxa de inseminação para novilhas de 2 anos (2,8% e 5,6%) também não demonstrou diferença estatística entre novilhas vazias e prenhes (P>0,05) (Tabela 3). Entretanto, estas relações referentes às novilhas de 3 anos de idade foram estatisticamente diferentes. Novilhas de 3 anos vazias ou prenhes apresentaram diferença estatística para ECC (2,43 e 2,65) e peso corporal médio (279,23kg e 302,64kg), respectivamente (P<0,05) (Tabela 3). A taxa de inseminação para novilhas de 3 anos (22,7% e 61,8%) também não demonstrou diferença estatística entre novilhas vazias e prenhes (P<0,05) (Tabela 3). Azeredo (2008) observou efeitos semelhantes aos descritos neste trabalho, novilhas que emprenharam foram mais pesadas em relação às novilhas vazias, 255,5kg 114

12 e 243,1kg, respectivamente. O autor observou a mesma diferença quando comparou os pesos obtidos ao final da estação reprodutiva, ou seja, novilhas prenhes continuaram mais pesadas do que as vazias, mesmo ao final do entoure. Silva et al. (2005) não observaram diferença de pesos entre as novilhas prenhes e vazias. Gottschall et al. (2006) não observaram diferença no peso corporal de novilhas prenhes ou vazias, acasaladas aos meses ou aos meses de idade. Entretanto, os autores relatam uma faixa de peso mínimo crítico superior aos apresentados neste trabalho (14-15 meses = 305,9kg e meses = 330,0kg). Segundo o estudo de Azeredo (2008), houve relação significativa entre peso corporal antes do início da estação de acasalamento e o status ovariano nas novilhas. Rao et al. (1986) encontraram relação positiva entre peso corporal e prenhez em novilhas submetidas a sincronização de estro e ovulação para inseminação artificial. Moraes et al. (2005) observaram o mesmo efeito em novilhas com 2 anos de idade, o peso médio das novilhas prenhes foi maior do que das vazias, 306kg e 291kg respectivamente. Segundo Sawyer et al. (1991), faz-se necessário que novilhas atinjam o peso corporal mínimo (65% do peso corporal da vaca adulta) para que resultados satisfatórios sejam alcançados. A afirmativa de Sawyer et al. (1991) corrobora com os resultados apresentados neste trabalho, onde novilhas com menor peso corporal apresentam menores índices reprodutivos do que novilhas mais pesadas. Apesar de serem idades diferentes, vale ressaltar que houve diferença estatística para o peso corporal médio entre novilhas de 2 e 3 anos de idade, respectivamente, 267,15kg e 295,95kg (P<0,05) (Tabela 3), possivelmente este fato refletiu sobre os parâmetros reprodutivos. Silva et al. (2005) observaram que novilhas aos 24 meses (350,6kg) tiveram maiores taxas de prenhez do que novilhas aos 18 meses (286,7kg), respectivamente, 86,7% e 52,2%. Silva (2003) observou resultados semelhantes, novilhas com peso médio de 301kg e 264kg, obtiveram taxa de prenhez de 73,3% e 26,7%. Pereira Neto e Lobato (1998) trabalhando com novilhas de 24 meses de idade e pesando 329,9kg obtiveram 87,1% de prenhez. Beretta e Lobato (1996) trabalhando com novilhas de corte acasaladas aos meses com peso de 351,7 kg obtiveram 100% de prenhez. Gottschall et al. (2006) observaram taxas de prenhez de 87,7% e 94,7% para novilhas acasaladas aos meses e meses de idade com, respectivamente, 305,9kg e 330,0kg de peso corporal. Segundo Hall et al. (1997), novilhas que se tornam púberes antecipadamente, concebem mais cedo e têm maior produção em suas vidas. Entretanto, os autores ressaltam que novilhas mais velhas e com maior peso corporal, têm desenvolvimento folicular superior podendo proporcionar maiores respostas reprodutivas. A taxa de inseminação foi inferior para novilhas de 2 anos em relação às de 3 anos, 4,2% e 50,6% respectivamente (P<0,05) (Tabela 3). Assim como a taxa de prenhez ao final do entoure, 50,0% e 71,4% para novilhas de 2 e 3 anos respectivamente (P<0,05) (Tabela 4). 115

13 TABELA 4 Relação entre a inseminação (não e sim) de novilhas com 2 e 3 anos de idade, o peso médio (kg), o ECC médio (Escala 1-5) e a taxa de prenhez (%). Idade Inseminadas N Peso Médio (kg) ECC Médio (Escala 1-5) Taxa de Prenhez (%) 2 Anos Não ,04 a 2,66 a 49,3 A Sim 6 269,83 a 2,50 a 66,7 B Total ,15 2,65 50,0 x 3 Anos Não ,68 a 2,47 a 55,3 A Sim ,77 a 2,69 b 87,2 B Total ,95 2,58 71,4 y a; valores na mesma coluna, seguidos por letras iguais, não diferem estatisticamente (P>0,05). a,b; valores na mesma coluna, seguidos por letras distintas, diferem estatisticamente (P>0,05). A, B; valores na mesma coluna, seguidos por letras iguais, diferem estatisticamente (P<0,05). x,y; valores na mesma coluna, seguidos por letras distintas, diferem estatisticamente (P<0,05). Na Tabela 4, verifica-se que quando as novilhas de ambas as idades foram categorizadas conforme a realização da inseminação (não ou sim), o peso médio corporal e o ECC não diferiram estatisticamente (P>0,05). Entretanto, as taxas de prenhez foram distintas entre novilhas inseminadas ou não inseminadas. Novilhas de 2 anos não inseminadas e inseminadas obtiveram, respectivamente, 49,3% e 66,7% de prenhez (P<0,05). Novilhas de 3 anos não inseminadas e inseminadas obtiveram, respectivamente, 55,3% e 87,2% de prenhez (P<0,05). Conforme Simpson et al. (1998), o peso corporal e a condição corporal são fundamentais para a determinação da idade à primeira concepção de novilhas, estando relacionados diretamente com a nutrição. Segundo dados obtidos em estação meteorológica da região de Lavras do Sul (Tabela 5) (SOUZA s.d.), cidade em que ocorreu o trabalho experimental, os índices pluviométricos foram reduzidos nos meses prévios e iniciais à estação de acasalamento (outubro, novembro e dezembro) do biênio Na Tabela 5 nota-se que o biênio teve uma média do total acumulado mensal, inferior ao biênio A média para o total acumulado mensal dos meses de outubro, novembro e dezembro, refletiu a média total, com valores de 318,8mm e 30,8mm, respectivamente para e Este fato pode ter interferido negativamente sobre a manifestação de estro e inseminação dos animais. Embora as novilhas de 2 anos tenham sido manejadas sobre pastagem de azevém durante o inverno, esta não apresentou disponibilidade suficiente para permitir ganhos de peso compatíveis com o peso mínimo crítico. Resultando em um baixo peso ao início da estação de acasalamento (267,15kg) do biênio

14 TABELA 5 Índices pluviométricos entre os meses de julho a março dos biênios e da região de Lavras do Sul. Período Total acumulado mensal (mm) Total acumulado mensal (mm) Julho 72,5 282,5 Agosto 181,0 50,0 Setembro 348,5 179,5 Outubro 139,0 21,5 Novembro 604,0 35,0 Dezembro 213,5 36,0 Janeiro 180,0 123,9 Fevereiro 185,5 84,0 Março 22,5 85,0 Média Total 216,3 99,7 Fonte: Souza (s.d.). Na Tabela 6 nota-se que o ECC teve relação positiva com peso corporal em ambas as idades (P<0,05). Os resultados referentes às novilhas de 3 anos demonstraram que o ECC teve relação positiva com a resposta reprodutiva dos animais (P<0,05). À medida que aumentou o ECC aumentaram também as taxas de inseminação e as taxas de prenhez, sendo os maiores valores referentes às novilhas com ECC 3,0, 80,0% e 85,0% respectivamente. Estes resultados demonstram que o ECC pode ser um bom preditor da resposta reprodutiva em novilhas. Silva et al. (2005) observaram que novilhas mais jovens e com menor peso corporal apresentaram menor ECC do que novilhas mais velhas e pesadas. Semmelmann et al. (2001) também observaram resultados semelhantes, o ECC de novilhas prenhes foi, em média, 0,11 superior ao ECC de vazias. Entretanto, Silva et al. (2005) ressaltam que o ECC é um parâmetro de menor relevância na avaliação do desenvolvimento corporal de novilhas em crescimento, tornando a visualização das diferenças na condição corporal mais difícil, por isso, não encontrando em alguns momentos relações entre ECC e o desempenho reprodutivo. Outro aspecto a ser ressaltado é a relação do ECC com o peso corporal. O ECC é um escore avaliativo independente do valor do peso corporal. Novilhas necessitam um peso mínimo para obterem resultados reprodutivos satisfatórios (SAWYER et al., 1991), verificasse na Tabela 6 que apenas uma novilha de 2 anos atingiu o peso mínimo necessário. Desta forma, apesar da relação positiva encontrada entre ECC e peso corporal, não houve relação entre ECC e a taxa de inseminação e prenhez nas novilhas de 2 anos. 117

15 TABELA 6 Relação entre o ECC (Escala 1-5) de novilhas com 2 e 3 anos de idade, o peso médio (kg), a taxa de inseminação (%) e a taxa de prenhez (%). Idade ECC Médio (Escala 1-5) N Peso Médio (kg) Taxa de Inseminação (%) Taxa de Prenhez (%) 2 Anos 2, ,38 a 12,5 a 37,5 a 2, ,59 b 4,7 a 47,7 a 3, ,45 c 2,0 a 55,1 a 3, ,00 d 0,0 a 100,0 a Total ,15 4,2 50,0 3 Anos 2, ,14 a 14,3 a 14,3 a 2, ,86 b 44,0 b 74,0 b 3, ,00 c 80,0 c 85,0 c Total ,95 50,6 71,4 a; valores na mesma coluna, seguidos por letras iguais, não diferem estatisticamente (P>0,05). a, b, c, d; valores na mesma coluna, seguidos por letras iguais, diferem estatisticamente (P<0,05). CONCLUSÕES Os tratamentos com progesterona não foram efetivos na indução e antecipação da puberdade nas novilhas de 2 e 3 anos de idade. Novilhas de 3 anos apresentaram taxas de prenhez e de inseminação maiores do que novilhas de 2 anos. As taxas de prenhez para ambas as idades tiveram influência da inseminação, novilhas inseminadas obtiveram maiores taxas de prenhez do que novilhas não inseminadas. O peso corporal mostrouse fundamental para obtenção de respostas reprodutivas superiores; novilhas de 3 anos foram mais pesadas e obtiveram taxas de prenhez e de inseminação superiores. O ECC apresentou relação positiva com peso corporal em ambas as idades, ou seja, quanto maior o ECC, maior foi o peso corporal. O ECC não demonstrou efeito positivo para taxas de inseminação e de prenhez em novilhas de 2 anos. Em contrapartida, novilhas de 3 anos apresentaram este efeito. Esta relação foi possível devido ao maior peso corporal das novilhas de 3 anos e a interação do ECC com o peso corporal dos animais. REFERÊNCIAS ANDERSON, L.H.; McDOWELL, C.M.; DAY, M.L. Progestin-induced puberty and secretion of luteinizing hormone in heifers. Biology of Reproduction, v.54, n.5, p , AZAMBUJA, P.S. Sistemas alimentares para o acasalamento de novilhas aos 14/15 meses de idade. Dissertação de Mestrado. Porto Alegre, Universidade Federal do Rio Grande do Sul

16 AZEREDO, D.M. Alternativas para indução da ovulação e do estro em novilhas de corte peripúberes. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Ciências Veterinárias, Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, BERETTA, V.; LOBATO, J.F.P. Efeitos da ordem de utilização de pastagens melhoradas no ganho de peso e comportamento reprodutivo de novilhas de corte. Revista Brasileira de Zootecnia, v.25, p , CLARO JÚNIOR, I. et al. Reproductive performance of prepubertal Bos indicus heifers after progesterone-based treatments. Theriogenology, v.74, n.6, p , GONZALES-PADILHA, E.; NISWENDER, G.D.; WILTBANK, J.N. Puberty in beef heifers. II. Effect of injections of progesterone and estradiol-17β on serum LH, FSH and ovarian activity. Journal of Animal Science, v.40, p , GOTTSCHALL, C.S. et al. Influências das relações entre o ganho médio diário de peso, a idade e o peso no primeiro acasalamento no desempenho reprodutivo de novilhas de corte acasaladas aos 14 e 24 meses. Revista Ceres, v.53, n.307, p , HALL, J.B. et al. Effect of age and pattern of gain on induction of puberty with a progestin in beef heifers. Journal of Animal Science, Savoy, v.75, n.6, p , jun LOWMAN, B.G.; SCOTT, N.; SOMERVILLE, S. Condition scoring beef cattle. Edinburgh: The East of Scotland College of Agriculture, p. (Bulletin, 6). MORAES, J.C.F.; LEAL, P.R.J.; JAUME, C.M. et al. Critérios para seleção de novilhas de corte de rebanhos comerciais criadas sob condições extensicas. 16º Congresso Brasileiro de Reprodução Animal. Goiânia-GO. Anais..., p.1, PATTERSON, D.J.; CORAH, L.R.; BRETHOUR, J.R. Response of prepubertal Bos Taurus and Bos indicus x Bos Taurus heifers to melengestrol acetate with or without gonadotropin-releasing hormone. Theriogenology, v.33, n.3, p , PEREIRA NETO, A.O.; LOBATO, J.F.P. Efeitos da ordem de utilização de pastagens nativas melhoradas no desenvolvimento e comportamento reprodutivo de novilhas de corte. Revista da Sociedade Brasileira de Zootecnia, v.27, p.60-65, PFEIFER, L.F.M. et al. Efeitos da progesterone exógena no desenvolvimento folicular e taxa de ovulação em novilhas pré-puberes. Acta Scientiae Veterinariae, v.36 (Suplemento 2), RAO, A.V.N.; RAO, A.N.; VENKATRAMAIAH. Induced puberty in prepruberal zebu heifers treated with norgestomet and pregnant mare serum gonadotropin. Theriogenology, v.26, n.1, p.27-36, RASBY, R.J. et al. Luteal function and estrus in peripubertal beef heifers treated with an intravaginal progesterone releasing device with or without a subsequent injection of estradiol. Theriogenology, v.50, p.55-63, SAWYER, G.J.; BARKER, D.J.; MORRIS, R.J. Performance of young breeding cattle in commercial herds in the south west of western Australia. 1. Liveweight, body condition, conception and fertility in heifers. Australian Journal of Experimental Agriculture, v.31, p , SEMMELMANN, C.E.N.; LOBATO, J.F.P.; ROCHA, M.G. Efeito de sistemas de alimentação no ganho de peso e desempenho reprodutivo de novilhas Nelore acasaladas aos meses. Revista Brasileira de Zootecnia, v.30, n.3, p ,

17 SHORT, R.E. et al. Induced or synchronized puberty in heifers. Journal of Animal Science, v.43, n.6, SILVA, M.D. Desempenho reprodutivo de novilhas de corte acasaladas aos 18 ou 24 meses de idade. Dissertação de Mestrado. Porto Alegre, Universidade Federal do Rio Grande do Sul. 107p SILVA, M.D.; BARCELLOS, J.O.J.; PRATES, E.R. Desempenho reprodutivo de novilhas de corte acasaladasa aos 18 ou aos 24 meses de idade. Revista Brasileira de Zootecnia, v.34, n.6, p , SIMPSON, R. B. et al. A. Average daily gain, blood metabolites, and body composition at first conception in hereford, senepol, and reciprocal crossbred heifers on two levels of winter nutrition and two summer grazing treatments. Journal of Animal Science, v.76, p , SOUZA, N. Indices Pluviométricos. Disponível em: < index.php?secao=periodopluviometrico&idsubsecao=43>. Acesso em 13 jul Recebido em: mar Aceito em: maio

18 Fatores de crescimento envolvidos no desenvolvimento de folículos pré-antrais Viviane Bento da Silva Carmem Estefânia Serra Neto Zúccari Eliane Vianna Costa e Silva RESUMO O ovário dos mamíferos é constituído por milhares de folículos pré-antrais, entretanto cerca de 90% deles nunca atingem a maturidade, sendo seu uso uma alternativa para os programas de reprodução assistida como a produção in vitro de embriões. Porém, um dos fatores limitantes ao emprego de folículos pré-antrais como doadores de ovócitos é a escassez de informações sobre os fatores que regulam as diferentes etapas da foliculogênese. Apesar do desenvolvimento de folículos antrais ter sido amplamente descrito, informações concernentes à fisiologia dos folículos préantrais envolvendo os fatores que promovem a ativação dos folículos primordiais e o mecanismo responsável pelo crescimento de folículos primários e secundários, é pouco conhecido. Acreditase que o desenvolvimento destes folículos independe das gonadotrofinas, mas é influenciado por fatores intraovarianos, como kit ligand (KL) ou fator de células tronco (SCF), fator de crescimento e diferenciação-9 (GDF-9), proteínas morfogenéticas ósseas (BMP-15), fator de crescimento semelhante à insulina-1 (IGF-1), fator de crescimento fibroblástico (FGF), fator de crescimento de queratinócitos (KGF), fator de crescimento do endotélio vascular (VEGF), fator de crescimento epidermal (EGF), peptídeo intestinal vasoativo (VIP) e ativina, dentre outros. Desta forma, a presente revisão aborda os mecanismos de controle da fase pré-antral, com foco nos fatores de crescimento envolvidos no desenvolvimento in vitro de folículos pré-antrais. Palavras-chave: Fatores intraovarianos. Folículo primordial. Foliculogênese. Growth factors involved in the development of preantral follicles ABSTRACT The mammalian ovary consists of thousands of preantral follicles, but approximately 90% of these never reach maturity, being its use an alternative for the programs of assisted reproduction as in vitro production of embryos. But a major factor limiting the use of preantral follicles as an oocyte donor in these programs is the lack of information about the factors that regulate the different stages of folliculogenesis. Despite the development of antral follicles has been widely described, information concerning the physiology of preantral follicles, factors that promote the activation of primordial follicles and the mechanism responsible for the growth of primary and secondary follicles, is little known. However, it is believed that the development of these follicles is not dependent on gonadotrophins but it is influenced by intraovarian factors Viviane Bento da Silva é Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal. FAMEZ/UFMS. Avenida Senador Felinto Müller, 2443, Bairro Ipiranga. Campo Grande/MS, Brasil. CEP Caixa Postal biobento@yahoo.com.br Carmem Estefânia Serra Neto Zúccari e Eliane Vianna Costa e Silva são Profas. Dras. do Programa de Pós- Graduação em Ciência Animal. FAMEZ/UFMS. s: zuccari@nin.ufms.br; licsilva@nin.ufms.br Veterinária em Foco Veterinária Canoas em Foco, v.8 v.8, n.2, jan./jun. p jan./jun

19 such as kit ligand (KL) or stem cell factor (SCF), growth differentiation factor-9 (GDF-9), bone morphogenetic protein (BMP-15), growth factor-1 insulin-like (IGF-1), fibroblast growth factor (FGF), growth factor keratinocyte (KGF), endothelial growth factor (VEGF), epidermal growth factor (EGF), vasoactive intestinal peptide (VIP) and activin. In this sense, this review highlights the mechanisms controlling the preantral, with main focus on growth factors involved in the in vitro development of preantral follicles. Keywords: Intraovarian factors. Primordial follicle. Folliculogenesis. INTRODUÇÃO O tecido ovariano apresenta uma pequena quantidade de folículos antrais. Dessa forma, seu aproveitamento em programas de reprodução assistida limita o número de gametas femininos disponíveis, assim como a disseminação do material genético de reprodutoras superiores (CUSHMAN et al., 2002). Uma alternativa é a utilização dos folículos pré-antrais presentes aos milhares nos ovários, os quais podem ser recuperados e criopreservados ou cultivados (TELFER, 1996). Portanto, torna-se necessário o estudo da foliculogênese a fim de se compreenderem os mecanismos e fatores envolvidos in vivo nesse processo, para seu emprego no desenvolvimento destes folículos in vitro. A foliculogênese inicia-se com a ativação dos folículos primordiais, processo no qual saem do estádio de quiescência para iniciarem seu crescimento. Porém, os mecanismos que controlam esse processo e a continuidade do crescimento folicular ainda são pouco conhecidos. Sabe-se que em mamíferos o crescimento folicular contínuo é controlado tanto por hormônios gonadotróficos e somatotróficos, como por fatores de crescimento que agem de forma autócrina ou parácrina (MARTINS et al., 2008). Nesse contexto, a identificação e a compreensão das diferentes substâncias envolvidas na promoção do crescimento de folículos pré-antrais são aspectos importantes para subsidiar o desenvolvimento de um sistema de cultivo eficiente que desencadeie este processo in vitro (DEMEESTERE et al., 2005). Com o objetivo de facilitar a compreensão da foliculogênese, serão abordados aspectos relacionados à ação de fatores de crescimento envolvidos na sua ativação e maturação. DESENVOLVIMENTO A foliculogênese compreende o processo de formação, crescimento e maturação folicular, iniciando com o folículo primordial e culminando com o estádio de folículo pré-ovulatório (SAUMANDE, 1981). O ovócito, por sua vez, não é um mero receptor de ações parácrinas oriundas das células vizinhas na fase pré-antral e durante a foliculogênese. Ele participa ativamente na indução da proliferação e diferenciação das células da granulosa (GILCHRIST et al., 2004). Para tanto, a comunicação intercelular é proporcionada por processos citoplasmáticos trans-zonais (TZP) e pela secreção de mediadores parácrinos. 122

20 Os TZPs são extensões das células da granulosa que penetram através da zona pelúcida e atingem a membrana do ovócito, onde junções do tipo gap permitem o transporte bidirecional de moléculas reguladoras (ALBERTINI et al., 2001). Já a comunicação parácrina entre ovócito e células da granulosa, embora também bidirecional, é mediada por vários fatores de crescimento, produzidos por ambos os tipos celulares, como kit ligand (KL) ou fator de células tronco (SCF), fator de crescimento e diferenciação-9 (GDF-9), proteínas morfogenéticas ósseas (BMP-15), fator de crescimento semelhante à insulina-1 (IGF-1), fator de crescimento fibroblástico (FGF), fator de crescimento de queratinócitos (KGF), fator de crescimento do endotélio vascular (VEGF), fator de crescimento epidermal (EGF), peptídeo intestinal vasoativo (VIP) e ativina, dentre outros (FIGUEIREDO et al., 2002). Fatores que afetam o crescimento de folículos pré-antrais in vitro Kit ligand (KL) ou fator de células tronco (SCF) O KL é derivado das células da granulosa e seu receptor c-kit é expresso pelo ovócito e células da teca (MAYERHOFER et al., 1997), um excelente exemplo de como as interações parácrinas entre ovócito e células somáticas controlam muitos aspectos da formação e desenvolvimento folicular. Trabalhos realizados com ovários de diferentes espécies mostram que o KL e o c-kit são importantes para a migração, proliferação e sobrevivência de células germinativas primordiais (ZAMA et al., 2005), crescimento e sobrevivência do ovócito (JIN et al., 2005), proliferação das células da granulosa (OTSUKA; SHIMASAKI, 2002), manutenção da competência meiótica (ISMAIL et al., 1997), recrutamento de células da teca e regulação da esteroidogênese (HUTT et al., 2006). Em estudo com caprinos, Silva et al. (2006a) relataram a presença da proteína e do RNAm para o KL, expressos nas células da granulosa, em todos os estádios de desenvolvimento folicular, bem como no corpo lúteo, superfície do epitélio ovariano e tecido medular. A importância da interação c-kit/kl para as fases iniciais da foliculogênese pré-antral foi demonstrada por estudos em que a neutralização do receptor c-kit, por imunização ou mutação inativadora do gene, interrompeu o desenvolvimento folicular (KISSEL et al., 2000). Fator de crescimento e diferenciação-9 (GDF-9) O GDF-9 é uma proteína homodimérica, secretada pelo ovócito, pertencente à família dos fatores de transformação do crescimento TGF-β (CHANG et al., 2002). Em ratas promove o crescimento de folículos primários e a proliferação de células da teca (NILSSON; SKINNER, 2002), enquanto em humanos estimula a manutenção da viabilidade folicular, a proliferação de células da granulosa e a sobrevivência e progressão dos folículos ao estádio secundário, após 7 dias de cultivo (HREISSON et al., 2002). 123

21 Wang e Roy (2004) demonstraram que 10 ng/ml de GDF-9 influenciam a expressão do KL e estimulam o crescimento de folículos primordiais, sendo que em altas doses (200 ng/ml) aumentam a proporção de folículos secundários de hamster. Já em camundongos a deleção do gene GDF-9 causou infertilidade, com foliculogênese bloqueada no estádio primário (DONG et al., 1996). O RNAm para o GDF-9 tem sido localizado em ovócito de bovino, ovino (BODENSTEINER et al., 1999) e caprino (SILVA et al., 2004b). A sua expressão em ovócitos de folículos primordiais de ovelhas e cabras levantou a hipótese de que o GDF-9 é essencial para a ativação de folículos primordiais e seu subsequente desenvolvimento. Proteína morfogenética óssea-15 (BMP-15) Estudos in vitro têm demonstrado que a BMP-15 promove a proliferação das células da granulosa e estimula o desenvolvimento de folículos primordiais e primários em roedores, ou seja, é um importante regulador da mitose das células da granulosa e do desenvolvimento folicular inicial (FORTUNE, 2003). As vias de sinalização do KL, BMP-15 e GDF-9 interagem e se modulam reciprocamente. Enquanto a BPM-15 estimula a expressão do KL, este inibe a expressão da BMP-15, enquanto o GDF-9 parece inibir a expressão do KL nas células da granulosa (JOYCE et al., 2000). O bloqueio da sinalização c-kit/kl, em sistema de cocultivo de células da granulosa e ovócitos, suprimiu a proliferação das células da granulosa induzida pela BMP-15, sugerindo que a BMP-15, via ativação do KL, induz a produção de mitógenos ovocitários, dentre eles o GDF-9 (OTSUKA; SHIMASAKI, 2002). Sendo assim, propôs-se a hipótese de que o desenvolvimento folicular pré-antral seria iniciado pela interação do KL com a BMP-15, enquanto que o GDF-9 seria secretado posteriormente por ovócitos inteiramente crescidos para promover proliferação das células da granulosa e modular a ação do KL (SHIMASAKI et al., 2003). Fator de crescimento semelhante à insulina-1 (IGF-1) Em ovários de suínos e roedores o IGF-1 tem sido localizado nas células da granulosa de folículos antrais saudáveis (ZHOU et al., 1996), estando seu receptor presente em células da granulosa de folículos primários, secundários e antrais (MONGET et al., 1989). O IGF-1, adicionado durante o cultivo in vitro de folículos pré-antrais, estimulou o crescimento folicular em humanos (LOUHIO et al., 2000) e bovinos (GUTIERREZ et al., 2000). Em ovinos estimula a proliferação das células da granulosa de pequenos folículos (1-3 mm), mas não de folículos grandes (> 5 mm), por outro lado, estimula a secreção de progesterona pelas células da granulosa apenas de folículos grandes (MONGET; BONDY, 2000). 124

22 Em ratos, o IGF-1 aumentou significativamente o diâmetro folicular e o conteúdo de DNA. A análise desses folículos, pela microscopia eletrônica de transmissão, mostrou que as microvilosidades entre ovócito e células da granulosa, como as junções gap entre células foliculares aumentaram quando os mesmos foram cultivados na presença de IGF-1, sugerindo que este fator de crescimento promove a manutenção da integridade funcional dos folículos (ZHAO et al., 2001). Fator de crescimento fibroblástico (FGF) O FGF influencia o desenvolvimento folicular sendo o FGF-2 (FGF básico) o mais investigado. O FGF-2 é importante na regulação de várias funções como mitose (ROBERTS; ELLIS, 1999), esteroidogênese (VERNON; SPICER, 1994) e diferenciação das células da granulosa (ANDERSON; LEE, 1993). Van Wezel et al. (1995), trabalhando com ovário bovino, localizaram o FGF-2 nos ovócitos de folículos primordiais e primários, em células da granulosa e da teca de folículos pré-antrais em crescimento e antrais. Os receptores para FGF-2 estão localizados, principalmente, na camada das células da granulosa (WANDJI et al., 1992). Em bovinos, após 6 dias de cultivo in vitro, o FGF-2 (50 ng/ml) promoveu o aumento da multiplicação das células da granulosa e do diâmetro folicular (WANDJI et al., 1996). Em caprinos, Matos et al. (2006) relataram que 50 ng/ml de FGF-2, durante 5 dias de cultivo, preservaram a viabilidade folicular e o aumento significativo dos diâmetros ovocitário e folicular. Fator de crescimento de queratinócitos (KGF) O KGF é produzido pelas células mesenquimais, faz parte da família dos FGF, conhecido como FGF-7, estimula a mitose das células epiteliais (FINCH et al., 1989) e atua por meio de seus receptores do tipo FGFR-2. Estudos têm documentado que o KGF é produzido pelas células da teca de folículos antrais e influencia o crescimento das células da granulosa (PARROT; SKINNER, 1998). Outros trabalhos demonstraram que este fator também estimula o desenvolvimento folicular, pois, quando os ovários de ratas de 4 dias de idade foram cultivados na presença de 50 ng/ml, houve um aumento na transição dos folículos primordiais para primários (SKINNER, 2005). Fator de crescimento do endotélio vascular (VEGF) O VEGF é um dos responsáveis pela angiogênese folicular, pois atua estimulando a mitose de células endoteliais e aumenta a permeabilidade vascular (REDMER; REYNOLDS, 1996). 125

23 As gonadotrofinas, em ratas, estimulam a produção de VEGF pelas células da granulosa (KOOS, 1995), enquanto em humanos esse fator é sintetizado pelas células da teca e granulosa (YAMAMOTO et al., 1997), sendo expressos nelas seus receptores Flk-1 e Flk-1/KDR. SO-YOUNG et al. (2006) demonstraram que o cultivo in vitro durante 24 horas, em 50 ng/ml de VEGF, antes da criopreservação das células da granulosa de ratas, reduziu os danos pela inibição da apoptose. A administração de 500 ng/ml, diretamente nos ovários de ratas, aumentou significativamente, após 48 horas, a proporção de folículos primários e secundários pequenos (DANFORTH et al., 2001). Já em bovinos, o VEGF (10 ng/ml) estimula a transição de folículos primários para secundários, após 10 dias de cultivo (YANG; FORTUNE, 2007). Fator de crescimento epidermal (EGF) A proteína EGF tem sido encontrada no ovócito e células da granulosa de folículos nos estádios iniciais e avançados de desenvolvimento (suíno SINGH et al., 1995; caprino SILVA et al., 2006b), enquanto o receptor EGF (EGF-R) está localizado na membrana celular das células da granulosa, teca e intersticiais e, no ovócito, em todos os estádios de desenvolvimento folicular (CARPENTER, 1999). Estudos mostraram que o EGF estimula a proliferação das células da granulosa de folículos pré-antrais, a transição de folículos suínos do estádio primário para secundário (MORBECK et al., 1993), o aumento do diâmetro de folículos préantrais de bovinos (GUTIERREZ et al., 2000) e promove a ativação de folículos primordiais ovinos e a manutenção da viabilidade por até 6 dias em cultivo (ANDRADE et al., 2005). O EGF (10 ng/ml) adicionado ao meio de cultivo de folículos pré-antrais suínos inibiu a apoptose das células da granulosa e levou a um aumento da formação do antro (MAO et al., 2004). Quando usado em caprinos o EGF (50 ng/ml) preservou a viabilidade ovocitária (ZHOU; ZHANG, 2005) e, numa concentração mais elevada (100 ng/ml), teve efeito benéfico sobre o crescimento de ovócitos de folículos primários (SILVA et al., 2004a). Peptídeo intestinal vasoativo (VIP) O VIP é considerado um neuropeptídeo que já foi identificado em fibras nervosas de folículos ovarianos de roedores (AHMED et al., 1986) e bovinos (HULSHOF et al, 1994). Estudos têm demonstrado que o VIP está envolvido na regulação da esteroidogênese (ZHONG; KASSON, 1994), promove o acúmulo de AMPc (HEINDEL et al., 1996), a maturação ovocitária (APA et al., 1997) e a sobrevivência das células da granulosa por inibição da apoptose (LEE et al., 1999). 126

24 Ativina O papel da ativina no desenvolvimento de folículos pré-antrais é confirmado por seu efeito estimulante do crescimento folicular e proliferação das células da granulosa, ação esta dependente de sua concentração (THOMAS et al., 2003). A ativina age sinergicamente com o FSH no desenvolvimento folicular. Em ovinos, também se demonstrou que a ativina promove o crescimento de folículos pré-antrais até alcançarem o estádio de formação do antro (THOMAS et al., 2003). Trabalhos de Silva et al. (2006a) indicaram que a ativina-a é capaz de promover a manutenção da viabilidade folicular e estimular o crescimento de folículos inclusos em tecido ovariano de caprinos, bem como de folículos primários isolados. CONCLUSÃO A ativação e o crescimento de folículos pré-antrais é um processo dependente de diversos fatores, que podem agir sobre o ovócito, ou nas células da granulosa e da teca. A atividade destes fatores pode ser isolada ou combinada, e até mesmo modular o efeito de hormônios, o que demonstra que o crescimento folicular é regulado por uma complexa interação entre diversas substâncias intra e extraovarianas. Sendo assim, é imprescindível o desenvolvimento de novas pesquisas, na tentativa de elucidar os mecanismos envolvidos na foliculogênese ovariana, principalmente de espécies domésticas, visando disponibilizar ovócitos viáveis e maturos para utilização nas diferentes biotécnicas de multiplicação animal. REFERÊNCIAS AHMED, C.E.; DEES, W.L.; OJEDA, S.R. The immature rat ovary is innervated by vasoactive intestinal peptide (VIP)-containing fibers and responds to VIP with steroid secretion. Endocrinology, v.118, p , ALBERTINI, D.F. et al. Cellular basis for paracrine regulation of ovarian follicle development. Reproduction, v.121, p , ANDERSON E; LEE G.Y. The participation of growth factors in simulating the quiescent, proliferative, and differentiative stages of rat granulosa cells grown in a serum-free medium. Tissue Cell, v.25, p.49-72, ANDRADE, E.R. et al. Interactions of indole acetic acid with EGF and FSH in the culture of ovine preantral follicles. Theriogenology, v.64, p , APA, R. et al. Effect of pituitary adenylate cyclase-activating peptide on meiotic maturation in follicle-enclosed, cumulus-enclosed, and denuded rat oocytes. Biol. Reprod., v.57, p , BODENSTEINER, K.J. et al. Molecular cloning of de ovine growth/differentiation factor-9 gene and expression of growth differentiation factor-9 in ovine and bovine ovaries. Biol. Reprod., v.60, p ,

25 CARPENTER, G. Employment of the epidermal growth factor receptor in growth factorindependent signaling pathways. J. Cell Biol., v.146, p , CHANG, H.; BROWN, C.W.; MATZUK, M.M. Genetic analysis of the mammalian TGF-ß superfamily. Endocr. Rev., v.23, p , CUSHMAN, R.A.; WAHL, C.M.; FORTUNE, J.E.; Bovine ovarian cortical pieces grafted to chick embryonic membranes: a model for studies on the activation of primordial follicles. Hum. Reprod., v.17, p.48 54, DANFORTH, D.R. et al. Vascular endothelial growth factor stimulates preantral follicle growth in the rat ovary. Biol. Reprod., v.68, p , DEMEESTERE, I. et al. Impact of various endocrine and paracrine factors on in vitro culture of preantral follicles in rodents. Reproduction, v.130, p , DONG, J. et al. Growth differentiation factor-9 is required during early ovarian folliculogenesis. Nature, v.383, p , FIGUEIREDO JR; RODRIGUES, A.P.R.; AMORIM, C.A. Manipulação de oócitos inclusos em folículos pré-antrais- MOIFOPA. In: Gonçalves, P.B.D.; Figueiredo, JR; Freitas V.J.F. Biotécnicas aplicadas à reprodução animal. São Paulo: Varela, v1, p , FINCH, P.W. et al. Human KGF is FGF-related with properties of a paracrine effector of epithelial cell growth. Science, v.245, p , FORTUNE, J.E. The early stages of follicular development, p. activation of primordial follicles and growth of preantral follicles. Anim. Reprod. Sci., v.78, p , GILCHRIST, R.B.; RITTER, L.J.; ARMSTRONG, D.T. Oocyte-somatic cell interactions during follicle development in mammals. Anim. Reprod. Sci., v.82-83, p , GUTIERREZ, C.G. et al. Growth and antrum formation of bovine preantral follicles in long-term culture in vitro. Biol Reprod, v.62, p , HEINDEL, J.J. et al. Novel hypothalamic peptide, pituitary adenylate cyclase-activating peptide, regulates the function of rat granulosa cells in vitro. Biol. Reprod., v.54, p , HREISSON, J.G. et al. Growth differentiation factor-9 promotes the growth, development and survival of human ovarian follicles in organ culture. J. Clin. Endocrinol. Metab., v.87, p , HULSHOF, S.C.J. et al. Isolation and Characterization of preantral follicles from foetal bovine ovaries. Vet Quart, v.2, n.16, p.78-80, HUTT, K.; McLAUGHLIN, E.A.; HOLLAND, M.K. KL and KIT have diverse role during mammalian oogenesis. Mol. Hum. Reprod., v.12, p , ISMAIL, R,S.; DUBE, M.; VANDERHYDEN, B.C. Hormonally regulated expression and alternative splicing of kit ligand may regulate kit-induced inhibition of meiosis in rat oocytes. Dev. Biol., v.184, p , JIN, X. et al. Anti-apoptotic action of stem cell factor on oocytes in primordial follicles and its signal transduction. Mol. Reprod. Dev., v.70, p.82-90, JOYCE, I.M. et al. Comparison of recombinant growth factor-9 and oocyte regulation of Kit ligand messenger ribonucleic acid expression in mouse ovarian follicles. Biol. Reprod., v.63, p ,

26 KISSEL, H. et al. Point mutation in kit receptor tyrosine kinase reveals essential roles for kit signaling in spermatogenesis and oogenesis without affecting other kit responses. Embo J., v.19, p , KOOS, R.D. Increased expression of vascular endothelial growth/permeability factor in the rat ovary following an ovulatory gonadotropin stimulus, p. potential roles in follicle rupture. Biol. Reprod., v.52, p , LEE, J. et al. Gonadotropin stimulation of pituitary adenylate cyclase-activating polypeptide (PACAP) messenger ribonucleic acid in the rat ovary and the role of PACAP as a follicle survival factor. Endocrinology, v.140, p , LOUHIO, H. et al. The effects of insulin, and insulin-like growth factors I and II on human ovarian follicles in long-term culture. Mol. Hum. Reprod., v.6, p , MAO, J. et al. Effect of EGF and IGF-1 on porcine preantral follicular growth, antrum formation, and stimulation of granulosa cell proliferation and suppression of apoptosis in vitro. J. Anim. Sci., v.82, p , MARTINS, F. S. et al. Fatores reguladores da foliculogênese em mamíferos. Rev. Bras. Repro. Anim. v.32, n.1, p.36-49, MATOS, M.H.T. et al. Efeito do fator de crescimento fibroblástico-2 sobre o cultivo in vitro de folículos pré-antrais caprinos. Acta Sci. Vet., v.34, p.265, MAYERHOFER, A. et al. A role for neurotransmitters in early follicular development: induction of functional follicle-stimulating hormone receptors in newly formed follicles of the rat ovary. Endocrinology. v.138, p , MONGET, P.; BONDY, C. Importance of the IGF system in early folliculogenesis. Mol. Cel. Endoc., v.163, p.89-93, MONGET, P.; MONNIAUX, D.; DURAND, P. Localization, characterization and quantification of insulin-like growth factor-i-binding sites in the ewe ovary. Endocrinology, v.125, p , MORBECK, D.E.; FLOWERS, W.L.; BRITT, J.H. Response of porcine granulosa cells isolated from primary and secondary follicles to FSH, 8-bromo-cAMP and EGF in vitro. J. Reprod. Fertil., v.99, p , NILSSON, E.E.; SKINNER, M.K. Growth and differentiation factor-9 stimulates progression of early primary but not primordial rat ovarian follicle development. Biol. Reprod., v.67, p , OTSUKA, F.; SHIMASAKI, S. A negative feedback system between oocyte bone morphogenetic protein 15 and granulosa cell kit ligand, p. its role in regulating granulose cell mitosis. Proc. Natl. Acad. Sci., v.99, p , PARROT, J.A.; SKINNER, M.K. Thecal cell-granulosa cell interactions involve a positive feedback loop among keratinocyte growth factor, hepatocyte growth factor, and kit ligand during ovarian follicular development. Endocrinology, v.139, p , REDMER, D.; REYNOLDS, L. Angiogenesis in the ovary. Biol. Reprod., v.1, p , ROBERTS, R.D.; ELLIS, R.C.L.; Mitogenic effects of fibroblast growth factors on chicken granulosa and theca cells in vitro. Biol. Reprod., v.61, p , SAUMANDE, J. Ovogenèse et folliculogenèse. Rec. Méd. Vét., v.157, p

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29 Efeitos da interação entre aflatoxicoses e doença infecciosa bursal sobre níveis de enzimas de função hepática, colesterol e triglicerídeos em frangos de corte Adriana Borsa Aguemi Kohayagawa Lígia Pedroso Boretti Mere Erica Saito RESUMO Fatores de ordem infecciosa ou tóxica podem interferir no metabolismo orgânico das aves de produção agindo de forma sinérgica potencializando assim seus efeitos sobre as mesmas. Com o objetivo de avaliar os efeitos da interação entre a aflatoxicose, doença infecciosa bursal (DIB) e vacinação contra a DIB nos níveis de enzimas de função hepática AST e GGT (aspartato aminotransferase e gama glutamiltransferase), colesterol e triglicerídeos, foram avaliados semanalmente os níveis séricos destes componentes em frangos de corte de criação industrial distribuídos em cinco grupos: grupo A (controle): animais sem vacinação, desafio e aflatoxina na ração; grupo B (aflatoxina): animais somente intoxicados com 1,25 ppm de aflatoxinas na ração do primeiro ao 42 dia de vida; grupo C (vacinação): animais somente vacinados; grupo D (desafio): animais somente desafiados com o vírus da DIB; e grupo E (interação): frangos intoxicados com aflatoxina na ração do primeiro ao 42 dia de vida, vacinados no primeiro e 12 dia com vacina comercial contra a DIB e desafiados ao 14 dia com cepa de campo. Como resultados, verificouse que somente as aflatoxinas influenciaram os níveis de colesterol e das enzimas AST e GGT, provocando diminuição e aumento, respectivamente; e que a interação entre aflatoxicoses, desafio viral e vacinação provocaram hipertrigliceridemia aos 7 dias após o desafio, provavelmente devido diminuição de consumo de ração potencializado pelo desafio viral. Contudo, a partir dos 28 dias, verificou-se apenas efeito da aflatoxina sobre os níveis de triglicerídeos. Palavras-chave: Aflatoxinas. Doença de Gumboro. Triglicerídeos. Colesterol. Effects of interaction between aflatoxicosis and infectious bursal disease on enzyme levels, liver function, cholesterol and triglycerides in broilers ABSTRACT Infectious or toxic factors can interfere with the metabolism of organic poultry production acting synergistically thereby boosting its effects on them. Aiming to evaluate the effects of Adriana Borsa Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária (FAMEV) CLIMEV UFMT Cuiabá/MT. driborsa@gmail.com Aguemi Kohayagawa e Lígia Pedroso Boretti Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia FMVZ Departamento de Clínica Veterinária UNESP Botucatu/SP. Mere Erica Saito Universidade do Estado de Santa Catarina UDESC Centro de Ciências Agroveterinárias CAV Lages/SC. 132Veterinária em Foco Veterinária Canoas em Foco, v.8 v.8, n.2, jan./jun. p jan./jun. 2011

30 the interaction between aflatoxicosis, infectious bursal disease (IBD) and vaccination against DIB levels of liver function enzymes GGT and AST (aspartate aminotransferase and gamma glutamyltransferase), cholesterol and triglycerides, were assessed weekly in serum levels of these components in broiler breeding industry divided into five groups: group A (control): animals without vaccination, challenge and aflatoxin in diet, Group B (aflatoxin): animals intoxicated with only 1.25 ppm of aflatoxin in feed of the first 42 days of life, group C (vaccination) vaccinated animals only, group D (challenge) animals only challenged with the virus of DIB and group E (interaction): chickens intoxicated with aflatoxin in the ration from the first to 42 day of life, vaccinated in the first and 12th day with commercial vaccine and challenged the DIB to day 14 with field strain. The results showed that only aflatoxins influenced cholesterol levels and liver enzymes AST and GGT, resulting in decrease and increase, respectively, and that the interaction between aflatoxicosis, vaccination and viral challenge led to hypertriglyceridemia 7 days after challenge, probably due decreased intake potentiated by viral challenge. However, after 28 days, there was only effect of aflatoxin on the levels of triglycerides. Keywords: Aflatoxins. IBD. Cholesterol. Triglycerides. INTRODUÇÃO A criação intensiva de frangos de corte busca o pico de produtividade em condições máximas de desenvolvimento genético e manejo. No entanto, surgem diversos desafios expondo os lotes a quedas na produção. Estes desafios podem estar relacionados simplesmente a aspectos de manejo técnico ou podem ser de ordem tóxica ou infecciosa. Após ingeridas, as aflatoxinas são absorvidas no trato gastrintestinal e biotransformadas primariamente no fígado, o qual é órgão alvo da aflatoxicose nas aves. Os animais acometidos sofrem importantes alterações no metabolismo hepático afetando o metabolismo das gorduras (TUNG et al., 1972). De acordo com Bernardino (2000) e Van Den Berg (2000), a doença infecciosa bursal (DIB), também conhecida como doença de Gumboro, provocada por um agente viral, é considerada uma das principais enfermidades infecciosas em aves, causando prejuízos intensos, particularmente em sua forma subclínica. Embora tenha como alvo principal a bursa de Fabrício, podem ocorrer alterações em outros órgãos, tais como baço, timo, rim e fígado (LEY et al., 1983). Triglicerídeos e colesterol são componentes analisados nos testes de avaliação do metabolismo lipídico. O lipídeo padrão do organismo é o triglicerídeo, que constitui, em média, 95% de toda a gordura que existe no corpo. O colesterol é constituinte fundamental na estrutura das membranas celulares, síntese de ácidos biliares e hormônios esteroides (RIEGEL, 1996). Na medida em que o organismo está processando uma certa quantidade de gordura que tomou como alimento, os triglicerídeos ingeridos são hidrolisados e organizados em unidades lipoproteicas denominadas quilomicras (QM), sendo desta forma absorvidos pelo sistema linfático tendo assim acesso ao plasma. Além disso, a síntese de gorduras (lipogênese) ocorre no tecido adiposo e fígado, que são os tecidos lipogênicos que existem no organismo, sintetizando triglicerídeos que são 133

31 secretados na corrente sanguínea para a utilização em outros tecidos (RIEGEL, 1996; MARZZOCO; TORRES, 1999). Porém, nas aves, a lipogênese ocorre apenas no fígado; o tecido adiposo funciona apenas como reservatório lipídico (O HEA; LEVEILLE, 1969; TUNG et al., 1972; LEVEILLE et al., 1975). Desta forma, alterações nos processos enzimáticos que regulam a síntese hepática podem ocasionar distúrbios no metabolismo das gorduras. Interações entre agentes tóxicos e infecciosos na avicultura industrial podem ser responsáveis por grandes perdas produtivas. Poucos estudos foram realizados avaliando os efeitos destas interações (GIAMBRONE et al., 1978; CHANG; HAMILTON, 1982; BORDIN, 1995). Tendo em vista a importância do estudo das variáveis fisiopatológicas no contexto de doenças com disseminada ocorrência na avicultura em geral, o objetivo deste trabalho foi avaliar os efeitos da interação entre a aflatoxicose subaguda e doença infecciosa bursal no metabolismo das gorduras em frangos de corte de criação industrial. MATERIAL E MÉTODOS Foram utilizados 800 frangos de corte, machos, linhagem comercial. Para cada grupo de 160 aves foram ministrados os seguintes tratamentos: grupo A (controle): aves sem receber vacinação para DIB, com ração isenta de aflatoxina e sem inoculação viral; grupo B: aves vacinadas para DIB no primeiro e décimo-segundo dia de vida, com ração isenta de aflatoxina e sem inoculação viral; grupo C : aves sem receber vacinação para DIB, com ração isenta de aflatoxina, desafiados com cepa de campo da DIB, ao 14 dia de vida; grupo D: aves sem receber vacinação, recebendo ração com 1,25 ppm de aflatoxinas do 1 ao 42 dia de vida, sem inoculação viral; grupo E: aves vacinadas para DIB no primeiro e décimo-segundo dia de vida, recebendo ração com 1,25 ppm de aflatoxinas do 1 ao 42 dia de vida, desafiadas com cepa de campo da DIB, ao 14 dia de vida. As rações consideradas isentas de aflatoxinas foram analisadas previamente no Lamic 1. O delineamento experimental foi o inteiramente casualizado, sendo utilizadas cinco repetições e 7 momentos (7, 14, 18, 21, 18, 35 e 42 dias de vida). Cada repetição era formada por um número variável de aves (unidades experimentais), conforme a idade das mesmas, devido à necessidade de obtenção de quantidade suficiente de soro para o processamento das análises. Para tanto, eram realizados pools de amostras de soro para cada idade. Assim, aos sete dias de idade, foram usadas 10 aves por amostra, aos 14, cinco, aos 21 e 28 dias, três, e aos 35 e 42 dias, duas, totalizando 125 aves. A utilização de 160 aves para cada grupo experimental foi necessária considerando-se índices normais de mortalidade de frangos em criações industriais em até 4% (LANA, 2000). 1 LAMIC, Centro de Ciências Rurais, Universidade Federal de Santa Maria/RS. 134

32 Os frangos foram criados em galpão experimental dividido em boxes de acordo com o tratamento ministrado. Aqueles pertinentes aos grupos submetidos à inoculação viral foram transferidos para isoladores de pressão negativa (Isolador PN300 LNF Comércio e Indústria) em infectório, no dia da inoculação (14 dias de vida), sendo mantidas neste local até o término do experimento, no 42 dia. As aves receberam ração comercial de acordo com as exigências nutricionais por faixa etária (NRC, 1994) e água ad libitum. As rações comerciais foram previamente analisadas pelo Lamic, não sendo detectadas outras micotoxinas presentes. As aflatoxinas utilizadas nas rações dos grupos experimentais foram produzidas no Departamento de Medicina Veterinária Preventiva da Universidade Federal de Santa Maria no Lamic, segundo técnica de Shotwell et al. (1966) modificada por West et al. (1973). A incorporação à ração foi realizada em misturador de premix por 10 minutos. Após a mistura, as amostras de ração ficaram contendo 1,25 ppm de aflatoxinas (B 1 =69,64%, B 2 = 0,56%; G 1 = 29,22% e G 2 =0,48%) de acordo com resultados de análises realizadas no Lamic. Para o desafio viral, foi utilizada uma amostra variante de vírus de campo isolada por Kondo (1998) e classificada pelo laboratório Simbios 22, conforme técnica proposta por Jackwood & Jackwood (1994), como pertencente ao grupo molecular 15. A dose infectante (DIE 50 ) foi de 10 3,0 por ave, por via oral, baseando-se em diversos trabalhos que utilizaram doses que variam de DIE 50 de 10 2,0 a 10 4,0 (LUCIO; HITCHNER, 1980; SALAZAR et al., 1995). A vacinação contra a DIB foi realizada com vacina comercial 3, cepa intermediária, no primeiro e 12 dia de idade (via sub-cutânea e oral, respectivamente), por ser este o esquema vacinal utilizado na região. As colheitas de sangue realizadas nos momentos mencionados foram realizadas por punção da veia ulnar, utilizando-se seringas e agulhas de calibre 25X7 descartáveis, acondicionando-se em frascos de vidro sem anticoagulante para a obtenção do soro. Avaliou-se a função hepática das aves analisadas por meio de dosagem das enzimas de função hepática AST e GGT, as quais foram determinadas por método colorimétrico utilizando-se kit comercial 4. O metabolismo das gorduras foi avaliado por meio da dosagem de colesterol e triglicerídeos no soro, determinados pelo mesmo método, porém utilizando-se outra marca de kit comercial 5. Os resultados foram submetidos à análise de variância pelo teste F e as médias comparadas pelo teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade (BANZATTO; KRONKA, 1995). 2 Simbios Biotecnologia Porto Alegre/RS. 3 Laboratório Merial Saúde Animal. 4 CELM Cia. Equipadora de Laboratórios Modernos, São Paulo. 5 BIOCLIN Químico Básica Ltda. Belo Horizonte/MG. 135

33 RESULTADOS As alterações referentes aos níveis de triglicerídeos foram observadas aos 18, 21 e 28 dias de idade (4; 7 e 14 dias após o desafio viral), não apresentando variações antes ou após este período (Tab.1). TABELA 1 Níveis de triglicerídeos (mg/dl) no soro de aves controle (grupo A), intoxicadas com aflatoxina (grupo B), somente vacinadas (grupo C), somente desafiadas com vírus (grupo D) e na interação entre desafio, vacinação e aflatoxina (grupo E). Valores entre parênteses indicam a variabilidade dos níveis encontrados. Grupos Idade (Dias) A 21.8 a ± a ± ,0 c ± ,2 b ±6.9 12,0 b ±4.5 45,0 a ± ,6 a ±7.8 (15-32) (7-32) (12-44) (8-27) (4-17) (14-77) (49-66) B 16.2 a ± a ± ,8 b,c ±6.4 6,9 b ±2.3 37,5 a ±7.2 25,6 a ±2.7 61,8 a ±10.4 (5-47) C 16.6 a ±15.9 (7-52) 29.0 a ±18.4 (30-44) 25,4 c ± 11.3 (5-11) 17.4 b ±6.7 (30-49) 24,0 ab ±17.1 (22-29) 15,8 a ±2.9 (54-80) 56,2 a ±9.0 (4-44) (7-52) (16-45) (8-27) (6-46) (12-20) (42-65) D ,4 ab ± ,0 b ±7.3 31,0 ab ± ,4 a ±7.4 51,0 a ±11.2 E 14.4 a ± a ±7.7 (18-99) 65,8 a ±20.2 (14-34) 58,5 a ±24.4 (12-46) 23,0 ab ±12.4 (30-42) 42,2 a ±13.2 (40-68) 56,6 a ±12.0 (3-30) (6-23) (43-92) (24-93) (10-39) (22-59) (45-59) a,b médias seguidas de letras diferentes diferem estatisticamente pelo teste de Tukey a 5%. Aos 18 dias de idade, o grupo E apresentou níveis de triglicerídeos superiores aos grupos A, B e C (controle, intoxicadas por aflatoxinas e somente vacinadas, respectivamente), não apresentando, contudo, diferenças em relação ao grupo D (somente desafiado), o qual por sua vez não revelou diferenças em relação ao grupo B, indicando que tanto a aflatoxicose como o desafio viral interferiram no metabolismo dos triglicerídeos. Aos 21 dias, observou-se provável efeito sinérgico entre aflatoxicoses, vacinação e desafio viral, detectando-se no grupo E níveis de triglicerídeos superiores a todos os grupos; porém aos 28 dias de idade, verificou-se que somente o grupo B apresentou níveis superiores ao controle, não havendo diferenças entre este e os demais grupos. Como não houve diferenças entre o grupo E o controle, verificou-se que somente o efeito da aflatoxina interferiu em relação a este parâmetro. Em relação ao colesterol, observaram-se alterações aos 21, 28 e 35 dias de idade (Tab.2). 136

34 TABELA 2 Níveis de colesterol (mg/dl) no soro de aves controle (grupo A), intoxicadas com aflatoxina (grupo B), somente vacinadas (grupo C), somente desafiadas com vírus (grupo D) e na interação entre desafio, vacinação e aflatoxina (grupo E). Valores entre parênteses indicam a variabilidade dos níveis encontrados. Grupos Idade (Dias) A 45.0± ± ± a ± a ± a ± ±22 (42-48) B 39.6±9.0 (86-114) 62.3±7.0 ( ) 176.2±172.7 ( ) b ±25.2 (90-140) 57.4 c ±25.3 ( ) 91.8 b ±14 (33-69) 89.6±44 (29-52) C 94.2±69.9 (56-72) 86.6±32.6 (77-482) 206.4±71 (41-96) a ±30.5 (26-85) a ±33.1 (84-116) a ±, 21.2 (31-144) 105.2±33.5 (32-208) (44-121) ( ) D ±45.2 ( ) a ±21.5 (66-150) a ±, 29.4 (86-139) a, ± 6 (71-154) 73.8±20.5 E 110.8± ±19.0 ( ) 140.4±43.2 ( ) 46.9 b ±5.5 (62-143) 69.2 b ±, 18.2 ( ) a ±, 10.6 (58-102) 115.6±42.3 (44-198) (53-102) (92-187) (41-55) (52-99) ( ) (78-168) a,b médias seguidas de letras diferentes diferem estatisticamente pelo teste de Tukey a 5%. Aos 21 dias de idade, ocorreu redução dos níveis séricos de colesterol nos grupos intoxicados (B e E) em comparação aos outros grupos; no entanto, como os grupos C e D (grupos somente vacinado e somente desafiado, respectivamente) não tiveram diferença significativa em relação ao controle, verificou-se que somente a aflatoxina possa ter influenciado neste parâmetro. Aos 28 dias, novamente não houve diferença significativa entre o grupo controle e os grupos C e D, indicando que o efeito da vacinação ou do desafio viral não tiveram influência sobre este parâmetro também nesta idade, contudo observaram-se níveis reduzidos de colesterol nos grupos B e E em relação ao controle; sendo que, ainda, o grupo D e E não tiveram diferenças entre si; indicando desta forma, o efeito somente da aflatoxina. Aos 35 dias de idade, verificou-se que o grupo B apresentou níveis inferiores somente ao grupo controle, não tendo diferenças em relação aos outros grupos; como os grupos C, D e E não tiveram diferenças em relação ao controle, é provável que somente as aflatoxinas tenham influenciado no metabolismo do colesterol nesta idade. Em relação aos resultados das análises das enzimas de função hepática aspartato aminotransferse (AST) e gama glutamiltransferase (GGT), verificou-se que somente houve alterações aos 18 e 21 dias de idade, respectivamente aos 7 e 14 dias após o desafio viral (Tabela 3). Não foram observadas alterações em relação à enzima ALT entre os diferentes tratamentos. 137

35 TABELA 3 Níveis de aspartato aminotransferase (AST) e gama glutamiltransferase (GGT) em U/I no soro de aves controle (grupo A), intoxicadas com aflatoxina (grupo B), somente vacinadas (grupo C), somente desafiadas com vírus (grupo D) e na interação entre desafio, vacinação e aflatoxina (grupo E) aos 18 e 21 dias de idade. Valores entre parênteses indicam a variabilidade dos níveis encontrados. Grupos Idade (Dias) AST GGT AST GGT A ± ± 7.64 b ± 60.3ª ± 3.9 ( ) B ± 57.7 (6-23) ± 10.8ª ( ) ± 41.3 b (9-17) ± 4.5 ( ) C ± 35.7 (14-42) ± 5.7 b (95-130) ± 12.3ª b (14-26) ± 1.9 ( ) D ± 11.8 (10-25) ± 3.8ª b ( ) ± 40.6ª b (11-16) 18.6 ± 4.7 ( ) E ± 43.3 (12-21) ± 3.9ª b ( ) ± 19.0 b (16-27) ± 3.6 ( ) (12-21) (98-142) ( 13-23) a,b médias seguidas de letras diferentes na coluna diferem estatisticamente pelo teste de Tukey a 5%. Aos 18 dias de idade observou-se que o grupo B (aflatoxinas) apresentou os níveis da enzima gama glutamiltransferase (GGT) superiores aos demais, contudo, sem diferenças significativas em relação aos grupos D e E, os quais, por sua vez não tiveram diferenças em suas médias em relação ao grupo controle. Verifica-se assim que, o vírus, a aflatoxicose ou a associação entre vírus, aflatoxicose e vacinação podem causar alterações nos níveis da enzima GGT, mas não a vacinação isoladamente. Aos 21 dias verificou-se que os grupos B e E apresentaram níveis da enzima AST (aspartato aminotransferase) significativamente inferiores ao controle, porém sem diferenças em relação aos grupos C e D, os quais por sua vez não apresentaram diferenças em relação ao controle. Desta forma, observou-se que a aflatoxina foi responsável pela diminuição dos níveis de AST nesta idade. DISCUSSÃO O estudo dos mecanismos das ações tóxicas das aflatoxinas torna-se difícil pela diversidade de seus efeitos. Determinar que ação é crítica na citotoxicidade e quais efeitos são secundários é uma tarefa difícil; porém o fígado é considerado como principal órgão alvo (VIEIRA, 1995). Diversas pesquisas ao longo dos anos analisaram o comportamento dos níveis de colesterol durante a aflatoxicose, concluindo que, mesmo em pequenas dosagens, a intoxicação por aflatoxina provocou uma redução desses níveis (MAURICE et al., 1983; HUFF et al., 1986; GIROIR et al., 1991; RAINA et al., 1991; MANI et al., 1993, 138

36 SHUKLA; PACHAURI., 1995, SANTURIO et al., 1999; FRANCISCATO, 2006). Os resultados de nossas pesquisas aos 21, 28 e 35 dias concordaram com estes autores, observando-se hipocolesterolemia nestas idades e, ainda, aumento dos níveis da enzima AST aos 18 dias e redução dos níveis de AST aos 21 dias, evidenciando lesão hepática. Na doença infecciosa bursal, embora possa ocorrer lesão hepática, a mesma foi considerada como transitória (LEY et al., 1983). No presente estudo, observou-se que o vírus ou a aflatoxicose podem ter causado aumento dos níveis da enzima GGT, a qual pressupõe a proliferação de ductos biliares, lesão típica de aflatoxicoses, porém o desafio viral não exerceu influência sobre os níveis séricos de colesterol, o que se opõe aos resultados encontrados na literatura, que por sua vez divergem entre sí. Ley et al. (1983) verificaram níveis reduzidos de colesterol no terceiro dia após o desafio viral, sugerindo consequência de lesão hepática; enquanto Panigrahy et al. (1986) e Saukas (1993) encontraram aumento dos níveis, cinco dias após o desafio, levantando a hipótese de hipoproteinemia pelo menor consumo de ração ou menor absorção de nutrientes. A variação entre os resultados apresentados acima e os obtidos no presente estudo pode ser devido à variação antigênica das diferentes cepas virais utilizadas nos experimentos, pois os vírus de campo da doença infecciosa da bursa, pressionados com o grau de imunização, começaram a sofrer mutações (BERNARDINO, 2000). Desta forma, a patogenicidade pode variar de acordo com a cepa viral, o que se refletirá nas lesões, sinais clínicos e até mortalidade dos lotes. A cepa viral utilizada no presente experimento foi classificada como pertencente ao grupo molecular 15 (G15), tendo sido relatada por Lunge et al. (1997) e geralmente relacionada com casos subclínicos da doença, cuja patogenicidade depende do manejo adotado e de outros fatores associados (BERNARDINO, 2000). Dentre os trabalhos pesquisados, os níveis séricos de triglicerídeos variaram: Giroir et al. (1991) e Panigrahy et al. (1986) não observaram alteração neste parâmetro em aves intoxicadas por aflatoxinas; enquanto Huff et al. (1986) e Santurio et al. (1999) encontraram níveis aumentados. Na presente pesquisa, observaram-se alterações dos níveis de triglicerídeos aos 18, 21 e 28 dias de idade. Aos 18 dias de idade, verificou-se que tanto a aflatoxicose quanto o desafio viral provocaram aumento desses níveis; aos 21 dias, observou-se efeito sinérgico entre aflatoxicose, desafio viral e vacinação; porém aos 28 dias, verificou-se que somente o efeito da aflatoxina interferiu em relação a este parâmetro. A hipertrigliceridemia observada, provocada tanto pela aflatoxicose como pelo desafio viral (4 dias após o desafio) como pela interação entre os agentes aos 21 dias (7 dias após o desafio), pode ser devido a uma possível diminuição do consumo de ração (não mensurada no presente experimento), pois de acordo com Marzzoco e Torres (1999), em condições de baixa ingestão calórica, há o estímulo para a degradação dos triglicerídeos que estão nos tecidos adiposos a fim de suprir a demanda energética dos tecidos, ocorrendo assim a hidrólise dos triglicerídeos com consequente liberação de ácidos graxos na corrente sanguínea e, por conseguinte, aumento de seus níveis, detectados 139

37 pela dosagem sérica. Aos 28 dias, não mais se observou o efeito do vírus, provavelmente devido às condições experimentais de manejo controladas, não permitindo desta forma a exacerbação de seus efeitos. CONCLUSÕES O desafio viral não exerceu efeitos sobre os níveis de colesterol, porém refletiu-se em aumento dos níveis de triglicerídeos em associação com a aflatoxicose. A aflatoxicose, por sua vez, influenciou tanto nos níveis de colesterol como triglicerídeos nas aves analisadas. REFERÊNCIAS BANZATO, D.A.; KRONKA, S.N. Experimentação agrícola. 3.ed. Jaboticabal : FUNEP, BERNARDINO, A. Painel Gumboro: Experiência Brasileira. In: Conferência Apinco de ciência e tecnologia avícolas, 2000, Campinas, SP. Anais. Campinas: 2000.p BORDIN, E.L. Aspectos patológicos das micotoxicoses em aves diagnóstico diferencial. In: SIMPÓSIO INTERNACIONAL SOBRE MICOTOXINAS E MICOTOXICOSES EM AVES. 1995, Curitiba, PR. Anais. Curitiba: p CHANG, C.; HAMILTON, P.B. Increased severity and new symptons if infectious bursal disease during aflatoxicosis in broiler chickens. Poultry Sc., v.61, p , DONALDSON, W.E.; TUNG, H.T.; HAMILTON, P.B. Depression of fatty acid synthesis in chick (Gallus domesticus) liver by aflatoxin. Comp. Biochem. Physiol. v.41b, p , FRANCISCATO, C. et al. Concentrações séricas de minerais e unções hepática e renal de frangos intoxicados com aflatoxina e tratados com montmorilonita sódica. Pesq. Agropec. Bras., v.41, n.11, p , GIAMBRONE, J.J. et al. Interaction of aflatoxin with infectious bursal disease infection in young chickens. Avian Diseases, v.22, n.3, p , GIROIR, L.E. et al. The individual and combined toxicity of kojic acid and aflatoxin in broiler chickens. Poultry Sc., v.70, p , HUFF, W.E. et al. Progression of aflatoxicosis in broiler chickens. Poutry Sc., v.65, p , JACKWOOD, D.J., JACKWOOD, R.J. Infectious bursal disease viruses: molecular differentiation of antigenic subtypes among sertype 1 viruses. Avian dis., v.38, p.531-7, KONDO, N. Alterações histopatológicas em bolsas de fabricius de frangos vacinados contra doença infecciosa bursal (DIB) e submetidos à infecção experimental por vírus de campo p. Dissertação (Mestrado em Clínica Veterinária) Universidade Estadual Paulista, Botucatu, LANA, G.R.Q. Avicultura. Campinas: Ed. Rural, p. 140

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40 Parasitismo gastrintestinal e aspectos do manejo de avestruzes (Struthio camelus) de pequenas propriedades do Rio Grande do Sul, Brasil Mary Jane T. de Mattos Vera Sardá Ribeiro Sandra Márcia Tietz Marques RESUMO Este trabalho determina a prevalência de parasitos gastrintestinais em avestruzes criadas com propósito comercial em pequenas propriedades no estado do Rio Grande do Sul e analisa o perfil dos criatórios. Foram coletadas amostras fecais de 452 aves de 14 criatórios e avaliadas pelos métodos de Willis-Mollay, de Hoffmann, Pons e Janer e de Baermann modificado. O perfil das propriedades foi obtido com entrevista baseada em questionário. Os resultados apontaram que todas as propriedades apresentaram animais parasitados. A prevalência de aves parasitadas foi de 66,4% (300/452), das quais 12,3% (37/300) apresentaram infecção simples e 87,7% (263/300) infecção mista. A maior ocorrência foi 86,2% para ovos de Heterakis spp., 25,3% de Ascaridia sp., 4,6% de Capillaria spp. e 4,4% de ovos de Porrocecum spp. Foram registrados também ovos de Hymenolepis spp., Codiostomum spp. e os protozoários Isospora spp. e Balantidium spp. Pelo método de Baermann todas as amostras apresentaram resultado negativo. Conclui-se que as avestruzes são portadoras assintomáticas de infecção gastrintestinal. Registra-se pela primeira vez o diagnóstico de Capillaria spp. e Hymenolepis spp. em avestruzes no Brasil e Balantidium spp. no estado do Rio Grande do Sul. Palavras-chave: Avestruz. Struthio camelus. Diagnóstico parasitológico. Prevalência. Gastrointestinal parasites and some aspects of ostrich (Struthio camelus) farming in smallholdings in Rio Grande do Sul, Brazil ABSTRACT This study evaluates the prevalence of gastrointestinal parasites in female ostriches commercially bred in smallholdings in the state of Rio Grande do Sul, southern Brazil, and also assesses the characteristics of rearing facilities. Fecal samples were collected from 452 ostriches Mary Jane T. de Mattos e Vera Sardá Ribeiro são Médicas Veterinárias, Professoras Associadas do Departamento de Patologia Clínica Veterinária da Faculdade de Veterinária, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Porto Alegre/RS. Sandra Márcia Tietz Marques é Médica Veterinária, PhD, Laboratório de Helmintoses do Departamento de Patologia Clínica Veterinária da Faculdade de Veterinária da UFRGS. Endereço para correspondência: Faculdade de Veterinária, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Av. Bento Gonçalves, 9090, Bairro Agronomia, CEP: , Porto Alegre/RS. Fone: (51) smtmuni@hotmail.com; sandra.marques@ufrgs.br Veterinária em Foco Veterinária Canoas em Foco, v.8 v.8, n.2, jan./jun. p jan./jun

41 belonging to 14 farms and were assessed by the following methods: Willis-Mollay, Hoffmann, Pons and Janer, and modified Baermann. The characteristics of the smallholdings were determined using an interview questionnaire. Results reveal infected animals in all smallholdings. The prevalence of infected ostriches was 66.4% (300/452), of which 12.3% (37/300) had simple infection and 87.7% (263/300) had mixed infection. The highest rate was obtained for eggs of Heterakis spp. (86.2%), followed by Ascaridia sp. (25.3%), Capillaria spp. (4.6%) and Porrocecum spp. (4.4%). Eggs of Hymenolepis spp., Codiostomum spp., Isospora spp. and Balantidium spp. were also detected. All samples yielded negative results in the modified Baermann method. It may be concluded that female ostriches are asymptomatic carriers of gastrointestinal infection. Capillaria spp. and Hymenolepis spp. were diagnosed for the first time in Brazil whereas Balantidium spp. was first reported in the state of Rio Grande do Sul. Keywords: Ostrich. Struthio camelus. Parasitological diagnosis. Prevalence. INTRODUÇÃO A avestruz (Struthio camelus) pertence ao grupo de aves ratitas, apresentando quatro subespécies. São criadas com sucesso em países como o Canadá, Estados Unidos da América, Europa, Israel e Austrália, e suportam bem temperaturas muito baixas e muito altas, significando uma ótima capacidade de adaptação (COOPER, 2000). A estrutiocultura é uma alternativa à agricultura porque a avestruz apresenta boa conversão alimentar, com carne vermelha de alta qualidade, gosto e textura similar à carne bovina, porém com baixo teor de gordura, além de outros produtos comercializáveis como o couro, óleo, plumas, ovos e cascas de ovos (MARINHO et al., 2004). O interesse pela estrutiocultura no Brasil surgiu desde 1994, com as primeiras importações de animais que deram início à formação do plantel atual. O rebanho brasileiro de avestruzes tem crescido de maneira intensa, pois o país oferece boas características naturais como clima, alimentos, mão de obra e infraestrutura para fácil adaptação destas aves (SAITO et al., 2008). O plantel brasileiro apresenta atualmente cerca de exemplares, distribuído em todas as regiões, sendo o segundo maior produtor de avestruzes do mundo (MUNIZ, 2009; OLIVEIRA et al., 2009) com crescimento entre 2004 e 2005 de duas vezes e meio em relação à quantidade de criadores, aumentando a densidade média das criações em 42% necessitando, entretanto, de mais informações quanto aos aspectos de manejo nutricional e sanitário (BARBOSA et al., 2007). As infecções parasitárias são prevalentes nos plantéis e acarretam perdas produtivas e econômicas (OLIVEIRA et al., 2009). A maior parte dos parasitos referidos no avestruz encontra-se nas penas e no trato gastrintestinal e são relatados em várias regiões do mundo, com pesquisas crescendo a partir do ano Identificação de espécies ocorrentes e análises experimentais já identificaram 29 espécies de parasitos nas avestruzes (KAWAZOE, 2000; SOTIRAKI et al., 2001; PONCE GORDO et al., 2002; CANARIS; GARDNER, 2003; MUSHI et al., 2003; FOREYT, 2005; IBRAIM et al., 2006; EDERLI et al., 2007; ESLAMI et al., 144

42 2007; PESENTI et al., 2008; BATISTA et al., 2008; EDERLI; OLIVEIRA, 2008; SOLEIRO, 2009; FAGUNDES, 2009; McKENNA, 2010; MENDONÇA et al., 2010). As helmintoses se destacam como importantes causadoras de doenças, sendo algumas espécies responsáveis por taxas de mortalidade de até 50% entre filhotes (BONADIMAN et al., 2006). A verminose pode não ser acompanhada de sinais clínicos característicos como diarreia, perda de peso, anorexia, baixa conversão alimentar, anemia e morte, o que torna ainda mais importante a análise de fezes (PONCE GORDO et al., 2002; FOREYT, 2005; BONADIMAN et al., 2006). O objetivo deste trabalho foi determinar a prevalência de parasitos gastrintestinais em avestruzes de diversos plantéis de pequenas propriedades do Rio Grande do Sul e subsidiar a orientação veterinária para o controle sanitário, bem como traçar o perfil destas propriedades. MATERIAL E MÉTODOS As propriedades que participaram do projeto de avaliação de parasitoses gastrintestinais foram 14 criatórios comerciais de 11 municípios do estado do Rio Grande do Sul. Questionário para determinar as condições de criação, manejo e estrutura física das propriedades foi respondido, no formato entrevista, pelo responsável da propriedade ou na ausência dele, pelo encarregado das rotinas com os animais. As informações foram agrupadas e analisadas em percentagem. Os criatórios são localizados nos municípios de Camaquã, Glorinha, Gravataí, Morungava, Nova Santa Rita, Palmares do Sul, Porto Alegre, Rio Pardo, São Sebastião do Caí, Taquara e Viamão. Foram amostradas 452 avestruzes adultas, e suas fezes foram coletadas do ambiente após a defecação, acondicionadas em sacos plásticos etiquetados e identificados, conservadas em isopor com gelo, sendo encaminhadas ao Laboratório de Helmintoses da Faculdade de Veterinária da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). As amostras foram fracionadas e processadas por três técnicas para visualização e identificação de ovos, cistos, oocistos e/ou larvas infectantes: 1- A técnica de Willis- Mollay é um teste qualitativo baseado no princípio da flutuação de ovos, oocistos e cistos em soluções de densidade elevadas (d=1.200), como o cloreto de sódio; 2- A técnica de Hoffmann, Pons e Janer é um teste qualitativo, baseado no princípio da sedimentação espontânea para a detecção de ovos e larvas de nematoides e trematoides gastrintestinais, com a vantagem de recuperar, sobretudo ovos pesados que são sedimentados e escapam à visualização quando se emprega a técnica de flutuação em sal; 3- A técnica de Baermann modificada objetiva o isolamento e a identificação de larvas de nematoides nas fezes e baseia-se no princípio do termotropismo, hidrotropismo e geotropismo das larvas, neste caso a detecção de larvas pulmonares. Todas as técnicas coproparasitológicas foram executadas segundo as metodologias descritas por Hoffmann (1987). Todas as amostras foram submetidas à microscopia óptica, com aumento de 10X e 20X. Para a identificação e diferenciação morfológica das formas parasitárias foi consultado Foreyt (2005). 145

43 RESULTADOS A prevalência de avestruzes parasitadas foi de 66,4% (300/452). Todas as propriedades amostradas apresentaram avestruzes parasitadas, quatro (28%) apresentaram infecção simples, sendo identificados ovos de Heterakis spp.. Em três propriedades (21%) a frequência de exames positivos foi de 100%. A distribuição percentual das aves parasitadas e os parasitos identificados nos exames coprológicos encontra-se representada na Tabela 1. TABELA 1 Resultado dos exames coproparasitológicos de avestruzes de 14 criatórios de 11 municípios do estado do Rio Grande do Sul, região sul do Brasil. Município Avestruzes Amostras positivas (%) Gêneros parasitários identificados Camaquã (100%) Porrocecum spp., Heterakis spp., Ascaridia sp. Glorinha (77%) Balantidium spp., Heterakis spp., Hymenolepis spp. Glorinha (75%) Balantidium spp., Heterakis spp. Viamão (75%) Heterakis spp. Gravataí (100%) Heterakis spp., Balantidium spp., Ascaridia sp. Porto Alegre (73%) Heterakis spp., Balantidium spp., Ascaridia sp. Palmares (35%) Heterakis spp., Balantidium spp., Ascaridia sp., Capillaria spp., Isospora spp.,codiostomum spp. Morungava (100%) Heterakis spp., Ascaridia sp. Taquara 11 9 (82%) Heterakis spp., Ascaridia sp. Morungava 14 1 (2%) Heterakis spp. Porto Alegre (76%) Heterakis spp., Ascaridia sp. Rio Pardo (42%) Heterakis spp., Ascaridia sp. São Sebastião do Caí (80%) Heterakis spp. Nova Santa Rita 6 2 (3%) Heterakis spp. TOTAL (66.4%) No comparativo das técnicas diagnósticas executadas a maior sensibilidade (90%) de resultados positivos foi a técnica de flutuação (Willis-Mollay). O método de Baermann apresentou resultado negativo para todas as amostras processadas. Todas as propriedades amostradas nesta investigação criam avestruzes como atividade secundária, não sendo esta a principal fonte de renda. As raças predominantes são African Black, Blue Neck e cruzamentos indefinidos. O perfil das propriedades foi: 40% delas trabalham com ciclo completo, 30% criam aves com até 24 meses, 10% criam animais com mais de 24 meses, 10% criam filhotes 146

44 e adultos e 10% criam jovens e adultos. As propriedades, na sua maioria, permitem que as avestruzes mantenham contato com outras espécies animais. As aves são alocadas em duplas ou trios, e separadas em jovens e adultas. A ração é fornecida no cocho duas vezes ao dia, o suplemento alimentar é fornecido na fase de reprodução e a água disponível provém de poço artesiano sem tratamento. As características do manejo sanitário apontadas pelas respostas ao questionário são: as aves não passam por quarentena quando chegam à propriedade, 20% dos criatórios fazem restrição à entrada de visitantes, 20% executam controle de roedores com veneno e 10% utilizam gatos, 20% já administraram anti-helmíntico, 10% monitoram seus rebanhos através de exames parasitológicos e de sangue e a maioria dos animais recebe tratamento para ectoparasitos. No item biossegurança, nenhuma propriedade conta com pedilúvio ou rodolúvio. DISCUSSÃO Esta investigação apontou que todos os criatórios apresentavam aves com algum tipo de infecção parasitária, mesmo não sendo relatados casos de diarreia ou morte de animais. A presença de endoparasitos em todas as propriedades corrobora os resultados apontados nos dados gerais de manejo sanitário das propriedades, onde somente 20% já administraram anti-helmíntico às avestruzes, nenhuma propriedade executa quarentena na introdução dos animais e 10% avaliam verminoses por exames parasitológicos, além de que há falta de cuidados quanto à biossegurança, como a inexistência de pedilúvio ou rodolúvio. Como há dificuldade em reconhecer animais enfermos, segundo Huchezermeyer (2000) e Kawazoe (2000) e evidenciado nesta investigação, a execução de exames parasitológicos nos plantéis determina tomada de decisão para a administração de drogas permitindo a redução e/ou eliminação da infecção, impedindo a contaminação do ambiente e transmissão entre os lotes. Huchezermeyer (2000) descreve que existe dificuldade em reconhecer animais enfermos, devido à falta de histórico clínico, uma vez que avestruzes doentes não demonstram alterações de comportamento para não chamar a atenção de predadores, tendendo a se comportarem naturalmente até que sua energia chegue ao limite, morrendo subitamente No Brasil, embora em grande expansão, a estrutiocultura carece de dados investigativos de doenças parasitárias, e os poucos relatos apresentam dados diversificados. Em todas as propriedades houve a presença de ovos de ascarídeos. Esta investigação apontou uma prevalência alta de Heterakis spp. (86,2%) nas avestruzes, cuja infecção é relevante por se tratar de um helminto no qual os ovos eliminados com as fezes permanecem viáveis e resistentes nas fezes e no solo por longos períodos. Também foram diagnosticados os ascarídeos dos gêneros Ascaridia sp. e Porrocecum spp. em 25,3% e 4,4%, respectivamente das amostras fecais analisadas. 147

45 Para o estado do Rio Grande do Sul, Pesenti et al. (2008) diagnosticaram Libyostrongylus (L.) douglassii e L. dentatus com prevalências de 82,35% e 79,41%, respectivamente, e espécimes de Codiostomum struthionis em 5,8% de avestruzes abatidas em frigorífico, enquanto Oliveira et al. (2009) diagnosticaram através de exames parasitológicos somente o gênero Libyostrongylus (Ordem Strongylidae) em todas as avestruzes adultas, utilizando a metodologia da centrífugo-flutuação com sulfato de zinco. Resultados positivos em exames fecais ou necropsia são registrados em outros estados brasileiros. Ederli et al. (2007) analisaram amostras fecais destas aves no Rio de Janeiro, resultando em 90% de prevalência para Codiostomum (C.) struthionis enquanto Carvalho et al. (2008) identificaram C. struthionis em 80% (24/30) das avestruzes em Rondônia. Um estudo conduzido por Batista et al. (2008), em criações de avestruzes no estado do Espírito Santo, apontou a presença de Isospora spp. e Baylisascaris spp. com graus de eliminação de ovos variando de elevado a mínimo, porém as aves se encontravam em boas condições de saúde, de higiene e manejo, semelhantes a este resultado. Soleiro (2009) diagnosticou C. struthionis e Blastocystis spp. em avestruzes adultas de criatórios comerciais no Rio de Janeiro e sem apresentarem sinais clínicos sugestivos de infecção parasitária. Num estudo similar, porém em outros criatórios, e abrangendo outros municípios do Rio de Janeiro, Fagundes (2009) diagnosticou C. struthionis em 85,94% das aves adultas e em 97,72% das aves da mesma faixa etária a presença de estruturas parasitárias de protozoários, com identificação dos gêneros Blastocystis, Entamoeba e Cryptosporidium, presentes em infecções simples ou mistas. Investigações efetuadas em outros países também mostram a diversidade da fauna parasitológica albergando avestruzes de todas as faixas etárias. Ponce Gordo et al. (2002) relataram prevalência inferior a 1% de C. struthionis em avestruzes de fazendas da Espanha e Portugal. Na Nigeria, Ibrahim et al. (2006) avaliando aves em 7 fazendas, detectaram 17.1% de ovos de nematoides e 6.7% de oocistos de Eimeria spp. em aves adultas, cuja prevalência geral foi de 32%, com 14.9% de nematoides em 4 propriedades e 11,6% em 6 propriedades. Eslami et al. (2007) avaliaram parasitos gastrintestinais em 5 fazendas de criação comercial no Iran. O resultado apontou a presença de L. douglasii com 55% e 25%, em duas propriedades, respectivamente, além de Heterakis dispar e oocistos de Eimeria spp. (em uma fazenda), semelhante a este estudo, entretanto em maior percentual. Poucos oocistos do gênero Eimeria foram detectados, e conforme Eslami et al. (2007) não foram suficientes para executar a esporulação, como neste trabalho. No caso dos coccídeos, a contaminação pode ocorrer principalmente pelo manejo sanitário inadequado. O protozoário Balantidium spp. foi detectado nesta pesquisa em 5 propriedades (35,7%) enquanto na investigação de Sotiraki et al. (2001) foi diagnosticado em 74,1% das avestruzes, em 20 fazendas na Grécia, enquanto nas 14 propriedades aqui investigadas foi de 12% (36/300). A patogênese de Balantidium sp. em aves é incerta, porém é agente parasitário de caráter zoonótico. 148

46 O ideal para o controle sanitário de verminose consiste em que as avestruzes devem ser tratadas antes de serem transferidas para outras propriedades. As propriedades deveriam ter no seu planejamento um local de quarentena, no qual as avestruzes possam ficar por um período de 5 semanas, promovendo a destruição das fezes, execução de exames parasitológicos e tratamento anti-helmíntico, preconizado por McKenna (2010). As medidas de higiene efetuadas de maneira correta, assim como o manejo destas aves e desparasitação regular são fundamentais na prevenção e combate das parasitoses. O ideal seria que houvesse o diagnóstico coproparasitológico e posteriormente uma terapia de desparasitação em intervalos pré-determinados e repetições subsequentes periódicas (BATISTA et al., 2008) o que via de regra não ocorre nas propriedades aqui amostradas. No Brasil, o valor de mercado das aves vivas, bem como seu preço na forma de proteína, para consumo da população é bem valorizado. O preço de cortes nobres de carne de avestruz está em torno de US$ 17 dólares e outros cortes valem cerca de US$ 8,85 dólares (MUNIZ, 2009). Portanto, melhor condição sanitária dos rebanhos de avestruzes colabora para o incremento de ganho. Além disso, os proprietários dos criatórios não mantêm um controle administrativo adequado de seus plantéis, não existindo o conhecimento de ganho de peso e conversão alimentar, e consequentemente não sabem da relação sanidade versus retorno financeiro. Isto é importante, pois a tecnificação, com qualidade genética e sanitária tem vantagem mercadológica. CONCLUSÃO A presença de infecção parasitária ocorreu em avestruzes de todos os criatórios amostrados, cujas aves eram portadoras assintomáticas. Esta investigação registra pela primeira vez o parasitismo por Hymenolepis spp. e Capillaria spp. em avestruzes no Brasil e de Balantidium spp. no estado do Rio Grande do Sul. REFERÊNCIAS BARBOSA, C. A. et al. Panorama da cadeia de estrutiocultura no Brasil. Anais do XLV Congresso da Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural. Londrina (PR) BATISTA, A. M. B. et al. Parasitismo intestinal em avestruzes (Struthio camelus australis Linnaeus, 1786) da região sul do estado do Espirito Santo, no ano de Revista Portuguesa de Ciências Veterinárias, v. 103, p , BONADIMAN, S. F. et al. Occurence of Lybiostrongylus sp. (Nematoda) in ostriches (Struthius camelus Linnaeus, 1758) from the north region of the state of Rio de Janeiro, Brazil. Veterinary Parasitology, v.137, p , CANARIS, A.G.; GARDNER, S.L. Bibliography of Helminth Species Described from African Vertebrates In: Albert G. Canaris e Scott Lyell Gardner; 101p Disponível em: 149

47 CARVALHO, H.F. et al. Identificação de nematódeos em avestruzes (Struthio camelus) em diferentes criatórios na região de Ji-Paraná (RO). In: Anais do VI Salão de Iniciação Científica, 2008, Ji-Paraná, Rondônia. Ciência e Consciência, volume único, COOPER, R. G. Manegment of ostrich (Struthio camelus) ticks. Would s Poultry Science Journal, v.56, p.33-44, EDERLI, N. B. et al. Ocorrência de Codiostomum struthionis Horst, 1885 (Nematoda: Strongylidae) em cecos de avestruzes (Struthio camelus Linnaeus, 1758). In: XX Congresso Brasileiro de Parasitologia, 2007, Recife. Resumos. [CD-ROOM], EDERLI, N.B.; OLIVEIRA, F. C. R. Balantidium sp. in ostriches (Struthio camelus L., 1758) in the State of Rio de Janeiro, Brazil. Revista Brasileira de Parasitologia Veterinária, v.17, p , ESLAMI, A. et al. Gastrointestinal parasites of ostrich (Struthio camelus domesticus) raised in Iran. Iranian Journal of the Veterinary Research, v.8, n.1, série 18, p.80-82, FAGUNDES, T. F. Ocorrência e sazonalidade de parasitos gastrintestinais em avestruzes (Struthio camelus) de faixas etárias em uma criação no município de Areal/RJ. Dissertação (Mestrado em Medicina Veterinária), Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, p. FOREYT, W. J. Parasitologia veterinária manual de referência. São Paulo: Roca, p. HUCHEZERMEYER, F. W. Doenças de Avestruzes e outras Ratitas. Funep, Jaboticabal, São Paulo, Brasil p. HOFFMANN, R. P. Diagnóstico de parasitismo veterinário. Sulina, São Paulo p. IBRAHIM, U. I. et al. Endoparasites and associated worm burden of captive and freeliving ostriches (Struthio camelus) in the semi-arid region of north eastern Nigeria. International Journal of Poultry Science, v.5, p , KAWAZOE, U. Coccidiose. In: Berchieri Jr., A.; Macari, M. Doenças das Aves. Facta, Campinas, São Paulo, p , MCKENNA, P. An Updated Checklist of Helminth and Protozoan Parasites of Birds in New Zealand Disponível em: MARINHO, M. et al. Determinação da microflora do trato gastrointestinal de avestruzes (Struthio camelus) criados na região noroeste do estado de São Paulo, submetidas a necropsia. Arquivos do Instituto Biológico de São Paulo, v.71, p , MENDONÇA, J. F. P. et al. Ostrich (Struthio camelus) gastric diseases in Minas Gerais, Brazil, from 1997 to Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, v.62, p , MUNIZ, L. R. Estrutiocultura Brasileira: foco na exportação Disponível em: MUSHI, E. Z. et al. A note on endoparasites of wild ostriches (Struthio camelus) in the Mokolodi Nature Reserve, Gaborone, Botswana. Journal of South African Veterinary Association, v.74, p.22-23,

48 OLIVEIRA, C. B. et al. Tratamento de helmintoses em avestruzes (Struthios camelus Linnaeus, 1758). Revista Brasileira de Zoociências, v.11, p , PESENTI, T. C. et al. Prevalência, abundância e intensidade media de nematoides em Struthio camelus Linnaeus, 1758 (Struthioniformes: Struthionidade) do Rio Grande do Sul. In: Anais do XVII CIC, X Enpos, Conhecimento sem Fronteiras, p. PONCE GORDO, F. et al. Parasites from farmed ostriches (Struthio camelus) and rheas (Rhea americana) in Europe. Veterinary Parasitology, v.107, p , SAITO, A. S. et al. Libyostrongylus douglassii em Struthio camelus (avestruz). Revista Científica Eletrônica de Medicina Veterinária, v.4, n.11, SOLEIRO, C. A. Parasitos gastrintestinais de avestruzes (Struthio camelus) de diferentes idades e sua ocorrência nas épocas seca e chuvosa em um criatório do Município de Itaboraí, Estado do Rio de Janeiro. Dissertação (Mestrado em Medicina Veterinária), Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, p. SOTIRAKI, S. T. et al. Gastrointestinal parasite in ostriches (Struthio camelus). The Veterinary Record, v.148, n.3, p.84-86, Recebido em: jun Aceito em: ago

49 Diagnóstico bacteriológico de diversas patologias de cães e gatos e verificação da suscetibilidade a antimicrobianos Marília Scartezzini Denise de Moura Cordova Diane Alves de Lima Jeniffer Carolina Jaques da Silva Sérgio J. de Oliveira RESUMO Foram recebidos no laboratório de Bacteriologia e Micologia do Hospital Veterinário da Universidade Luterana do Brasil, no período de maio de 2008 a maio de 2009, 342 materiais de cães e gatos para realização de exame bacteriológico e antibiograma. Destes, foram analisados os resultados de antibiogramas de bactérias isoladas de diferentes patologias, entre as quais 77 casos de cistites, 116 casos de ferimentos, e 149 casos de otites. Os microrganismos isolados com maior frequência foram Staphylococcus sp., Pseudomonas sp., Proteus sp., Bacillus cereus. Escherichia coli., Enterococcus sp. e Streptococcus sp. Nos casos de cistite predominou o isolamento de Staphylococcus sp., Enterococcus sp., Escherichia coli. e Enterobacter sp e Streptococcus sp. Nos casos de otites foram isolados Staphylococcus sp. com maior frequência, seguidos de Pseudomonas sp e Bacillus cereus. Nos casos de ferimentos predominaram isolamentos de Staphylococcus sp, Escherichia coli., Enterococcus sp. Enterobacter sp e Streptococcus sp. Foram utilizados 17 antimicrobianos nos testes de difusão em agar. Entre os microrganismos cultivados, Enterococcus sp. apresentou resistência ao maior número de antimicrobianos testados. Palavras-chave: Diagnóstico bacteriológico. Patologias em cães e gatos. Suscetibilidade a antimicrobianos. Bacteriologic diagnosis of different pathologies of dogs and cats, antimicrobial susceptibility tests ABSTRACT Samples for bacteriological tests (n=342) were processed in the Laboratory of Bacteriology and Micology of the Veterinary Hospital (ULBRA University), from May 2008 to May This paper shows the results of antimicrobial susceptibility tests in bactéria isolated from diseases in dogs and cats: otitis (n=149), injuries (n=116) and cistitis (n=77). Marília Scartezzini é Médica Veterinária Residente de Doenças Infecciosas e Parasitárias, do Hospital Veterinário da ULBRA, Canoas, RS. serjol@terra.com.br Denise de Moura Córdova, Diane Alves de Lima e Jeniffer Carolina Jaques da Silva são alunas do Curso de Medicina Veterinária de ULBRA, estagiárias do Laboratório de Bacteriologia e Micologia do HV. Sérgio J. de Oliveira é Médico Veterinário, Doutor, professor orientador, responsável pelo Laboratório de Bacteriologia e Micologia do HV, Curso de Medicina Veterinária, ULBRA Canoas/RS. 152Veterinária em Foco Veterinária Canoasem Foco, v.8 v.8, n.2, jan./jun. p jan./jun. 2011

50 Staphylococcus sp were the most prevalent, followed by Enterococcus sp, E. coli, Pseudomonas sp, Bacillus cereus, Streptococcus sp and Proteus sp. In cases of cistitis were isolated mainly Staphylococcus, Enterococcus, Enterobacter sp, E. coli and Streptococcus sp. In otitis, it was shown more prevalence of Staphylococcus sp, followed by Pseudomonas sp and Bacillus cereus. In cases of injury, were predominantly isolated Staphylococcus sp, Enterococcus sp, E. coli, Enterobacter sp and Streptococcus sp. Agar diffusion tests were performed with 17 antimicrobials. Enterococcus sp showed higher patterns of resistance... Keywords: Bacteriologic diagnosis. Pathologies of dogs and cats. Antimicrobial susceptibility tests. INTRODUÇÃO No Hospital Veterinário da Universidade Luterana do Brasil (ULBRA) são realizados exames clínicos e laboratoriais nas diversas espécies de animais domésticos. As patologias mais diagnosticadas em cães e gatos têm sido otites, cistites e ferimentos. Os exames laboratoriais realizados no Laboratório de Bacteriologia e Micologia do HV-ULBRA têm sido importantes como complementares e auxiliares ao diagnóstico e tratamento de doenças e compreendem exames bacteriológicos com antibiograma e micológicos. No período de maio de 2008 a maio de 2009 foram realizados 594 exames bacteriológicos no Laboratório, compreendendo casos de otite, infecções urinárias, ferimentos, secreções, abscessos, em pequenos e grandes animais. Este artigo visa relatar e discutir os resultados obtidos em casos de otites, cistites e ferimentos, dos quais foram isoladas bactérias e foram realizados antibiogramas como auxiliar no tratamento de algumas patologias em cães e gatos, no período citado. MATERIAIS E MÉTODOS Os materiais para exame consistiram em swabs obtidos de secreções em casos de otite, conjuntivite, dermatite, abscessos, secreções nasais, amostras de urina e outras. Foram coletados de cães e gatos apresentando as diversas patologias, e examinados no HV-ULBRA, no período de maio de 2008 a maio de No presente relato são avaliados apenas os antibiogramas referentes a microrganismos isolados de casos de otite, cistite e ferimentos, que foram os mais frequentes. Os materiais foram inoculados em placas de Agar sangue com 8% de sangue ovino, em placas de agar MacConkey e caldo BHI (Brain Heart Infusion), incubados a 37 ºC por 24 horas. Nos casos de otite e também em alguns casos de dermatite (quando solicitado pelo médico veterinário ou quando observado características típicas) foi realizado pesquisa da levedura Malassezia sp. através de exame direto em lâmina corado pelo método de Gram, além da realização de exames bacteriológicos. 153

51 As colônias bacterianas foram identificadas através da visualização em placa (morfologia de colônia, presença ou ausência de hemólise, e em microrganismos gram negativos fermentação ou não de lactose), coloração de gram, testes rápidos (catalase, oxidase, coagulase) e testes de indol, utilização de citrato, ureia, fermentação de açúcares (glicose, sacarose, maltose, dulcitol, trehalose, manose) VM/VP, SIM e fenilalanina (COWAN, 1997; OLIVEIRA, 2000). Após a identificação, as bactérias foram submetidas a teste de suscetibilidade a antimicrobianos pelo método de difusão em disco, utilizando placas de Mueller Hinton (OLIVEIRA, 2000). Os testes foram realizados frente aos antimicrobianos: amoxicilina, amoxicilina com ácido clavulânico, amicacina, cefalexina, azitromicina, ceftazidima, ciprofloxacina, doxiciclina, enrofloxacina, gentamicina, neomicina, polimixina B, tobramicina, cefoxitina, nitrofurantoína, norfloxacina, sulfazotrim, cefaclor, penicilina e cloranfenicol. RESULTADOS Os resultados são apresentados nas tabelas 1, 2, 3 e 4. TABELA 1 Ocorrência de bactérias nas diferentes patologias em cães e gatos. Bactérias Cistite Otite Ferimentos Total Staphylococcus SP Enterococcus SP E. coli Enterobacter sp Corynebacterium sp Streptococcus SP Pseudomonas SP Proteus sp B. cereus Bacillus sp Klebsiella sp Pasteurella sp Neisseria sp Total

52 TABELA 2 Suscetibilidade a antimicrobianos (50% ou mais no antibiograma*) dos casos de cistite. Antimicrobianos Staphylococcus Enterococcus E. coli Corynebacterium Amicacina S R S R Amox+ac.clavulânico S S R R Amoxicilina R S R NT Azitromicina R R R R Cefaclor S R S NT Cefalexina S R R R Cefoxitina S R S R Ceftazidima S R S R Ciprofloxacina R R S R Doxiciclina S R R S Enrofloxacina R R R R Gentamicina R R S R Neomicina R R S R Nitrofurantoína S S S R Norfloxacina NT S NT NT Polimixina S R S NT Sulfazotrim R R NT NT Tobramicina S R S R S: suscetível; R: resistente; NT: não testado (*) Resultados suscetível ou resistente (S ou R) em pelo menos 50% dos casos, aos antimicrobianos relacionados na tabela. TABELA 3 Suscetibilidade a antimicrobianos (50 % ou mais dos casos de otites). Antimicrobianos Staphylococcus Enterococcus Pseudomonas Proteus B.cereus Amicacina S R S S S Amox+ ac. clavulânico S S R R R Amoxicilina R S R R R Azitromicina S R R R S Cefaclor S R R S R Cefalexina S R R R R Cefoxitina S R R S S Ceftazidima S S S S S Ciprofloxacina S S S R S Cloranfenicol S NT R R S Doxiciclina S R R S S Enrofloxacina S S S S S Gentamicina S R S S S Neomicina R R R S S Polimixina S R S R R Sulfazotrim S S R S R Tobramicina S R S S S S: suscetível; R: resistente; NT: não testado 155

53 TABELA 4 Suscetibilidade a antimicrobianos (50 % ou mais dos casos de ferimentos). Antimicrobianos Staphylococcus Enterococcus Streptococcus E. coli Enterobactéria Amicacina S R R S S Amox+ ac. clavulânico S S S R R Amoxicilina R S S R R Azitromicina R R S R R Cefaclor S R S R R Cefalexina S R S R S Cefoxitina S R S S R Ceftazidima NT R S S S Ciprofloxacina R S S R R Cloranfenicol NT NT NT NT NT Doxiciclina R R S R R Enrofloxacina R R S R R Gentamicina S R R S R Metronidazol R NT NT R R Neomicina R R R S R Polimixina S R S S S Tobramicina R R R S S S: suscetível; R: resistente; NT: não testado DISCUSSÃO E CONCLUSÃO Analisando-se a Tabela 1 observa-se que predominaram casos de otite, com 149 isolamentos de bactérias, seguidos de ferimentos (116 isolamentos) e cistite (77 isolamentos). Em artigo publicado por Azevedo et al. (2003) os autores também constataram maior frequência de casos de otite em pequenos animais pacientes do HV da ULBRA. Santos et al. (2005) relataram os resultados de 524 antibiogramas de bactérias isoladas de diferentes patologias em cães e gatos no período de 2002 a Ocorreram otites em 408 casos, cistites em 83 e dermatites em 82 pacientes. Analisando os resultados de antibiogramas no presente trabalho, Enterococcus sp apresentaram-se 100% resistentes à amicacina, neomicina, gentamicina, polimixina, tobramicina e ás cefalosporinas. Isto também foi observado por Scartezzini (2008). Verificou-se que todas as bactérias isoladas foram suscetíveis á enrofloxacina em casos de otite (Tabela 3). Na Tabela 1 observa-se que Bacillus cereus foi isolado de 16 casos de otite, não sendo esta bactéria considerada importante na ocorrência desta doença e não foram registrados casos nos relatos de Azevedo et al. (2003) e Santos et al. (2005). Esta ocorrência deve merecer observações em próximos casos de otite, no sentido de aprimorar a colheita de material para exame, obtendo-se a certeza de que as bactérias não são apenas contaminantes sem função no processo patológico. Ferian et al. (2007) observaram maior incidência de infecções urinárias em caninos machos do que em fêmeas. Os autores sugerem que a ampla utilização de antibióticos como as quinolonas tenha contribuído para a seleção de bactérias resistentes, pois 156

54 obtiveram 50% de resistência à enrofloxacina. No presente trabalho também se verificou maior número de ocorrência de infecções urinárias em machos (25 cães e 25 gatos), comparado ao que ocorreu em fêmeas (26 caninos e 1 felino). Ao contrário do que ocorreu em otites, em casos de cistite as bactérias apresentaram resistência a enrofloxacina (Tabela 2), à semelhança das observações de Ferian et al. (2007), o mesmo ocorrendo nos casos de ferimentos (Tabela 4), com exceção de Streptococcus spp que foram suscetíveis. Azevedo et al. (2003) observaram que amostras de Pseudomonas sp foram suscetíveis á enrofloxacina e ciprofloxacina, o mesmo constatando-se no presente relato (Tabela 3). Através dos resultados de antibiogramas, conclui-se que devem ser incluídos nos testes os seguintes antimicrobianos, em casos de otite em cães: amicacina, ciprofloxacina, enrofloxacina, gentamicina e tobramicina. AGRADECIMENTOS Os autores agradecem ao trabalho realizado pela Técnica em Bacteriologia Jane M. Brasil, do Laboratório de Bacteriologia e Micologia, do HV, ULBRA Canoas/RS. REFERÊNCIAS AZEVEDO, J. S. et al. Suscetibilidade a antimicrobianos, de bactérias isoladas de diversas patologias em cães e gatos. Veterinária em Foco, Canoas/RS, v.1, n.1, p.77-87, COWAN, S. T. Cowan and Steel s Manual for Identification of medical Bacteria. 2.ed. Cambridge University Press, Cambridge, 1977, 238p. FERIAN, P. E. et al. Estudo clínico, laboratorial e microbiológico de infecções urinárias em cães 14 casos. Acta Scientiae Veterinariae. 35: s581-s582, OLIVEIRA, S. J. Microbiologia Veterinária. Guia Bacteriológico Prático. 2.ed. Canoas: Editora da ULBRA, 2000, 237p. SCARTEZZINI, M. Bactérias multirresistentes a antimicrobianos no ambiente hospitalar. Trabalho de Conclusão do Curso de Medicina Veterinária, ULBRA, Canoas/RS, 2008, 66p. SANTOS, M. R. et al. Suscetibilidade a antimicrobianos, de bactérias isoladas de diversas patologias em cães e gatos. Veterinária em Foco, Canoas/RS, v.2, n.2, p , Recebido em: abr Aceito em: jul

55 Cistos de íris em um canino: relato de caso Luciana Vicente Rosa Pacicco de Freitas Luciane de Albuquerque Paula Stieven Hünning Bernardo Stefano Bercht João Antonio Tadeu Pigatto RESUMO Os cistos de íris são estruturas em forma de vesícula, preenchidas por fluido e circundadas por epitélio pigmentado. Normalmente possuem formato oval, podem ser únicos ou múltiplos e localizam-se na câmara anterior ou posterior do olho. São descritos em humanos, cães, gatos e cavalos. Os cistos geralmente crescem lentamente em tamanho e se rompem, depositando pigmento no endotélio da córnea ou na íris. Devem ser diferenciados de neoplasias da íris ou do corpo ciliar. O diagnóstico é confirmado, na maioria dos casos, utilizando a transiluminação. Quando os cistos não causam alteração ocular, como opacidade da córnea ou aumento da pressão intraocular, não há necessidade de serem removidos. Porém, recomenda-se ao proprietário, o retorno do animal a cada seis meses para reavaliação oftálmica. Palavras-chave: Cistos de íris. Úvea. Caninos. Iris cysts in a canine: Case report ABSTRACT Iris cysts are vesicle-shaped structures filled with fluid and surrounded by pigmented epithelium. Typically they have oval shape, may be single or multiple and are located in the anterior or posterior chamber of the eye. They are described in humans, dogs, cats and horses. The cysts usually grow slowly in size and then rupture, depositing pigment on the endothelium of the cornea or iris. It should be differentiated from neoplasms growing from the iris or ciliary body. Transillumination is usually sufficient to perform the differential diagnosis. If the cysts Luciana Vicente Rosa Pacicco de Freitas é Médica Veterinária, Mestranda do Programa de Pós-Graduação Ciências Veterinárias da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Luciane de Albuquerque é acadêmica de Medicina Veterinária, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Paula Stieven Hünning é Médica Veterinária, Mestranda do Programa de Pós-Graduação Ciências Veterinárias da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Bernardo Stefano Bercht é Médico Veterinário, Mestrando do Programa de Pós-Graduação Ciências Veterinárias da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). João Antonio Tadeu Pigatto é Médico Veterinário, Doutor, Professor Adjunto, Departamento de Medicina Animal, Faculdade de Veterinária da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Endereço para correspondência: Prof. João A. T. Pigatto Av. Bento Gonçalves, Bairro Agronomia. Porto Alegre, RS pigatto@ufrgs.br 158Veterinária em Foco Veterinária Canoas em Foco, v.8 v.8, n.2, jan./jun. p jan./jun. 2011

56 aren t causing ocular problems such as corneal opacity or increased intraocular pressure, they don t need to be removed. It is recommended the return of the animal every six months for ophthalmic review. Keywords: Iris cysts. Uvea. Canines. INTRODUÇÃO A úvea, também denominada de trato uveal, é composta por íris, corpo ciliar e coroide. A íris é responsável por controlar a quantidade de luz que penetra no olho e o corpo ciliar altera a distância de focalização, produz o humor aquoso e é importante na regulação da pressão intraocular. Distúrbios da íris podem, assim, estar associados com alterações visuais e na pressão intraocular. Doenças inflamatórias da úvea, tanto locais como decorrentes de uma alteração sistêmica, podem causar dor grave e alterar a função pupilar (GELATT, 2003; SLATTER, 2005). Cistos de íris são estruturas em forma de vesícula, preenchidas por fluido e circundadas por epitélio pigmentado, sendo formadas no epitélio pigmentado posterior da íris. Normalmente possuem formato oval, sendo localizados na câmara anterior ou posterior do olho. São mais comuns em caninos e ocorrem ocasionalmente em felinos e equinos (GEMENSKY-METZLER; WILKIE; COOK, 2004; SAROGLU; ALTUNATMAZ; DEVICIOGLU, 2004). Os cães das raças Golden e Labrador Retrievers, Boston Terrier e Dogue Alemão são mais predispostos a desenvolverem essa afecção (RIIS, 2002; SLATTER, 2005). Os cistos uveais podem ser congênitos ou adquiridos, no entanto, a etiologia das formações císticas adquiridas ainda é desconhecida. São reportados como sendo desenvolvidos após trauma ocular ou inflamação intraocular (COLLINS; MOORE, 1999; MASSA et al., 2002; RIIS, 2002). O principal diagnóstico diferencial deve ser feito em relação ao melanoma intraocular ou a tumores epiteliais do corpo ciliar (RIIS, 2002; GELATT, 2003; SLATTER, 2005; TEIXEIRA; BARROS; BARROS, 2009). Durante o exame oftálmico, os cistos uveais podem ser usualmente diferenciados de tumores, uma vez que a membrana dos cistos é geralmente transparente devido ao fato de ser formada por uma única camada de células. Os tumores são geralmente sólidos e não transparentes e também podem causar inflamação, hifema e aumento da pressão intraocular. Os cistos de íris podem ser distinguidos de neoplasias pigmentadas por transiluminação (GELATT, 2003; SLATTER, 2005). Os cistos de íris geralmente não causam problemas clínicos e não necessitam tratamento. Caso o cisto uveal esteja limitando a visão, este pode ser aspirado através de centese da câmara anterior, ser rompido através de laser de diodo ou então ser removido por criocirurgia (RIIS, 2002; GELATT, 2003; HALLER et al., 2003; GEMENSKY-METZLER; WILKIE; COOK, 2004; BREAUX; GRAHN; CULLEN, 2005; SLATTER, 2005). 159

57 Embora a ocorrência não seja considerada rara, poucos são os relatos encontrados na literatura sobre cistos de íris. Neste sentido, objetiva-se relatar um caso de múltiplos cistos de íris em um canino. RELATO DO CASO Um canino de oito anos de idade, da raça Boxer, macho, foi encaminhado ao Serviço de Oftalmologia Veterinária do Hospital de Clínicas Veterinárias da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, apresentando histórico de estruturas ovoides intraoculares há seis meses. Ao exame oftálmico, observaram-se inúmeros cistos de íris pigmentados no olho direito, flutuando na parte ventral da câmara anterior (Figura 1). O exame oftálmico incluiu avaliação dos reflexos pupilares, teste da lágrima de Schirmer, oftalmoscopia binocular indireta com lâmpada de fenda, tonometria digital de aplanação, e prova da fluoresceína. Os valores do teste lacrimal de Schirmer I foram de 18 e 20 mm/min, nos olhos direito e esquerdo, respectivamente. Já os valores da tonometria digital de aplanação foram de 20 e 21 mmhg, nos olhos direito e esquerdo, respectivamente. O teste da fluoresceína apresentou-se negativo em ambos os olhos. FIGURA 1 Cistos de íris em um cão. Observam-se inúmeros cistos de íris pigmentados flutuando na parte ventral da câmara anterior. DISCUSSÃO Os cistos de íris podem acometer cães de todas as raças, porém a literatura ressalta como as mais predispostas o Golden e Labrador Retrievers, Boston Terrier e Dogue Alemão, de idade adulta a idosos (RIIS, 2002; SLATTER, 2005). No caso apresentado, constatou-se a presença de inúmeros cistos de íris flutuando na parte ventral da câmara anterior em um cão da raça Boxer, com oito anos de idade. Em cães das raças Dogue Alemão e Golden Retriever, os cistos são herdados de 160

58 forma recessiva e um grande número de cistos pode se formar e empurrar a base da íris para frente, causando glaucoma secundário por estreitamento do ângulo iridocorneano (SLATTER, 2005). De acordo com o estudo histopatológico retrospectivo de Deehr e Dubielzig (1998), 13 do total de 25 casos de cães da raça Golden Retriever que apresentavam glaucoma, possuíam concomitantemente, cistos iridociliares. No cão do presente relato, os cistos não estavam deslocando a íris para frente, o que não ocasionou a presença de glaucoma. Os cistos de íris podem se desenvolver em decorrência de traumas ou inflamação ocular crônica, podendo também ter origem congênita, tendo seu início de desenvolvimento já no estágio embrionário (COLLINS; MOORE, 1999; SAPIENZA; DOMENECH; PRADES-SAPIENZA, 2000; MASSA et al., 2002; RIIS, 2002). De acordo com Breaux, Grahn e Cullen (2005), não há relatos de cistos uveais decorrentes de trauma cirúrgico em cães. O animal do presente caso não apresentava histórico de trauma nem de inflamação ocular crônica, suspeitando-se que nesse paciente os cistos possuíssem origem congênita. Os cistos uveais podem ser únicos ou múltiplos. Estes emergem do epitélio posterior da íris e do epitélio do corpo ciliar, sendo geralmente esféricos e podem encontrar-se aderidos ou soltos. Na câmara anterior, eles podem se aderir à íris ou ao endotélio corneano, ocasionalmente bloqueando o eixo visual e a pupila. Cistos vazios aparecem como áreas pigmentadas aderidas ao endotélio corneano (RIIS, 2002; GELATT, 2003; SLATTER, 2005; TEIXEIRA; BARROS; BARROS, 2009). No presente relato, o cão apresentava cistos múltiplos, esféricos e soltos na câmara anterior, não havendo a interferência destes no eixo visual. A dilatação da íris facilita o diagnóstico de cistos de íris localizados na câmara posterior (DEEHR; DUBIELZIG, 1998). A coloração varia de quase transparente à escuramente pigmentado. Os cistos localizados na câmara anterior são geralmente mais pigmentados e usualmente caem ou flutuam na parte ventral da câmara anterior. Na maioria dos casos, os cistos encontram-se presentes na câmara anterior ou na posterior, porém, eles também podem se localizar na câmara vítrea (RIIS, 2002; GELATT, 2003; SLATTER, 2005). No entanto, no presente relato, observou-se a presença de cistos somente na câmara anterior, e estes apresentavam pigmento de coloração marrom. Os cistos uveais, geralmente, crescem lentamente em tamanho e se rompem, depositando pigmento no endotélio da córnea ou na íris, o que demonstra a evidência de sua existência (BREAUX; GRAHN; CULLEN, 2005; SLATTER, 2005). No caso clínico relatado os cistos apresentavam uma evolução lenta, tendo iniciado seu aparecimento havia seis meses e não se encontravam rompidos. 161

59 Os cistos de íris devem ser diferenciados de neoplasias crescendo a partir da íris ou do corpo ciliar. Normalmente, a transiluminação é suficiente para realizar o diagnóstico diferencial. As neoplasias uveais consistem de tecido sólido localizado na íris ou no corpo ciliar. O diagnóstico diferencial primário a ser considerado é o melanoma de úvea. Melanomas intraoculares geralmente induzem alterações como uveíte, glaucoma e hifema, são sólidos e não podem ser transiluminados. Em cães, os melanomas intraoculares raramente causam metástase, porém seu grande crescimento pode gerar inflamação e perda da visão (RIIS, 2002; GELATT, 2003; SLATTER, 2005; TEIXEIRA; BARROS; BARROS, 2009). No presente relato, a biomicroscopia indireta com lâmpada de fenda permitiu a transiluminação das estruturas císticas e verificou-se que se tratava de cistos de íris, os quais eram translúcidos e não apresentavam consistência sólida. A remoção dos cistos de íris é indicada nos seguintes casos: quando há um grande número de cistos presente com potencial para formação de glaucoma ou interferência na visão; quando há presença de edema corneano formado pelo contato dos cistos com o endotélio; quando há obstrução pupilar prejudicando a visão; quando ocorre pressão intraocular elevada ou grande número de cistos presente, deslocando a íris para frente e quando múltiplos cistos colapsam e os debris obstruem a trama trabecular ou então causam uveíte (DEEHR; DUBIELZIG, 1998; MASSA et al., 2002; RIIS, 2002; SLATTER, 2005). No caso clínico apresentado, os cistos de íris não estavam causando nenhuma alteração ocular, não tendo sido necessária a remoção destes. Se os cistos uveais não estão causando danos através do contato com o endotélio da córnea ou não estão obstruindo a visão ou o ângulo iridocorneano, não há a necessidade de tratamento. No entanto, quando o tratamento é requerido, os cistos podem ser removidos através de uma pequena cânula, a qual é inserida através do limbo e o conteúdo do cisto é então aspirado, sob controle microcirúrgico (SLATTER, 2005). Outras opções de tratamento para a remoção dos cistos são a criocirurgia e a fotocoagulação a laser (HALLER et al., 2003; SLATTER, 2005). Animais que possuem cistos de úvea que não estejam causando doenças oculares concomitantes devem ser monitorados a cada seis meses. É aconselhável fotografar as formações císticas para comparar com futuros exames oftálmicos. Há relatos de cistos uveais associados a glaucoma em Golden Retrievers e em Dogues Alemães (SAPIENZA; DOMENECH; PRADES-SAPIENZA, 2000). No presente caso, as formações císticas foram fotografadas para posterior acompanhamento do paciente em reavaliações. Conforme o estudo de Gemensky-Metzler, Wilkie e Cook (2004) foi utilizado um laser semicondutor de diodo para esvaziar e coagular cistos uveais anteriores, em quatro cães, nove cavalos e sete gatos. Todos os cistos eram de tamanho e número suficientes para prejudicar a visão, causar danos ao endotélio ou aumentar 162

60 a pressão intraocular. Este estudo concluiu que esta é uma técnica segura, efetiva, simples e não invasiva, com mínimas complicações e cuidados pós-operatórios. No caso clínico relatado, não houve necessidade de remoção dos cistos de íris, pois estes não estavam causando nenhuma alteração ocular, como opacidade da córnea ou aumento da pressão intraocular. Recomendou-se ao proprietário, o retorno do animal a cada seis meses para reavaliação oftálmica. Após este período de seis meses, o paciente foi avaliado novamente e os cistos de íris continuavam sem causar alteração ocular. CONCLUSÃO Com base nos resultados obtidos, pode-se concluir que os cistos de íris, apesar de raros, ocorrem em cães, devendo ser incluídos no diagnóstico diferencial de outras afecções intraoculares. Além disso, geralmente não alteram a visão, não necessitando de tratamento nestes casos. REFERÊNCIAS BREAUX, C.; GRAHN, B. H.; CULLEN, C. L. Diagnostic Ophthalmlogy. Canadian Veterinary Journal, v.46, p , COLLINS, K. C.; MOORE, C. P. Diseases and surgery of the canine anterior uvea. In: DEEHR, A, J.; DUBIELZIG, R. R. A histopatological study of iridociliary cysts and glaucoma in Golden Retrievers. Veterinary Ophthalmology, v.1, p , GELATT, K. N. (ed.). Veterinary Ophthalmology. 3.ed. Philadelphia, Lippincott Williams & Wilkins, p.776, GELATT, K.N. Doenças e Cirurgia da Úvea Anterior do Cão. In:. Manual de Oftalmologia Veterinária. Manole, Cap. 9, p , GEMENSKY-METZLER, A. J.; WILKIE, D. A.; COOK, C. S. The use of semiconductor diode laser for deflation and coagulation of anterior uveal cysts in dogs, cats and horses: a report of 20 cases. Veterinary Ophthalmology, v.7, n.5, p , HALLER, J. A. et al. Surgical management of anterior chamber epithelial cysts. American Journal of Ophthalmology, v.135, p , MASSA, K. L. et al. Causes of uveitis in dogs: 102 cases ( ). Veterinary Ophthalmology, v.5, p.93-98, RIIS, R. C. Iris and Ciliary Cysts. In: (ed.). Small Animal Ophthalmology Secrets. Hanley & Belfus, p , SAPIENZA, J. S.; DOMENECH, F. J. S.; PRADES-SAPIENZA, A. Golden retriever uveitis: 75 cases ( ). Veterinary Ophthalmology, v.3, p , SAROGLU, M.; ALTUNATMAZ, K.; DEVICIOGLU, Y. A case of anterior iris cyst in an Akbash dog. Veterinary Medicine Czech, v.49, n.9, p ,

61 SLATTER, D. Úvea. In:. Fundamentos de Oftalmologia Veterinária. Roca, Cap. 12, p , TEIXEIRA, A. D.; BARROS, L. F. M.; BARROS, P. S. M. Afecções da Túnica Vascular. In: LAUS, J. L. Oftalmologia Clínica e Cirúrgica em Cães e Gatos. São Paulo, Roca, p.107, Recebido em: out Aceito em: fev

62 Desvio portossistêmico adquirido em cão: relato de caso Carla Pezzi Koeche Júlio Cesar Hahn de Aragão Daiane de Oliveira Negreiros RESUMO Os desvios portossistêmicos (DPS) são distúrbios circulatórios do fígado e se apresentam como vasos anômalos que permitem que o sangue drenado do sistema digestório entre diretamente na circulação sistêmica, sem passar primeiramente pelo fígado. Dessa forma, toxinas normalmente metabolizadas e removidas pelo fígado permanecem na circulação, ocasionando efeitos deletérios ao organismo como alterações neurológicas e urinárias. DPS ocorrem como anomalias congênitas ou adquiridas, sendo que nesse último caso se desenvolvem secundariamente a doenças hepáticas e à hipertensão portal, ocorrendo como vasos múltiplos. Foi atendido no Hospital Veterinário da ULBRA um canino macho, sem raça definida, com dois anos, apresentando aumento de volume abdominal e alterações comportamentais. Ao exame clínico, evidenciou-se distensão abdominal, desidratação moderada e sinais de encefalopatia hepática, como midríase e ataxia. Exames sanguíneos revelaram anemia, leucocitose, trombocitopenia e hipoalbuminemia. Na urinálise constatou-se impregnação por bilirrubina e cristais de urato de amônia; na biopsia hepática, vacuolização, fibrose periportal e infiltrado de neutrófilos; na ultrassonografia abdominal, ascite, bexiga com parede espessada e sedimento ecogênico, renomegalia, microhepatia com diminuição de visualização dos vasos hepáticos e vascularização anômala próximo à veia porta. O líquido abdominal foi classificado de transudato. Com base nos sinais clínicos e nos exames realizados, concluiu-se que o paciente era portador de DPS adquirido. Nesses casos, a ligadura cirúrgica está contraindicada e o tratamento é baseado no manejo medicamentoso e alimentar. Após correção do quadro inicial de encefalopatia hepática e ascite, implementou-se terapia conservativa, fazendo-se uso de protetores hepáticos, suplementos minerais e vitamínicos e dieta com restrição de proteína. O animal permanece com o quadro estabilizado e segue com acompanhamento quinzenal. DPS é uma afecção na qual está presente um conjunto complexo de sinais e sintomas, no caso de adquirido, não há tratamento que possibilite a cura completa do animal. O tratamento medicamentoso é paliativo e objetiva oferecer qualidade de vida ao animal, podendo controlar os sinais clínicos por dois ou três anos. Palavras-chave: Hipertensão portal. Microhepatia. Encefalopatia hepática. Carla Pezzi Koeche é Coordenadora Clínica do Hospital Veterinário ULBRA Canoas/RS. Júlio Cesar Hahn de Aragão é estudante de graduação em Medicina Veterinária ULBRA Canoas/RS. Daiane de Oliveira Negreiros é estudante de graduação em Medicina Veterinária UFRGS Porto Alegre/RS. Veterinária em Foco Veterinária Canoas em Foco, v.8 v.8, n.2, jan./jun. p jan./jun

63 Acquired portossystemic shunt in a dog: Case report ABSTRACT Portossystemics shunts (PS) are circulatory disorders of the liver presenting as anomalous vessels that allow drained blood of the digestive system enter directly in the systemic circulation, without passing first by the liver. Thus, toxins normally metabolized and removed by the liver remain in circulation, causing deleterious effects to the body as neurological and urinary alterations. PS occurs as congenital or acquired anomalies, in this later case develop secondary to liver disease and portal hypertension, occurring as multiples vessels. A twoyear-old, male dog, was received by the ULBRA Veterinary Hospital because it was with abdominal swelling and with abnormal behaviors. On examination, it was noted abdominal distention, moderate dehydration and signs of hepatic encephalopathy, as ataxia and mydriasis. Blood tests revealed anemia, leukocytosis, thrombocytopenia and hypoalbuminemia. The urinalysis showed saturation by bilirubin, ammoniun urate crystals. In liver biopsy was found vacuolization, periportal fibrosis and neutrophilic infiltration. Abdominal ultrasonography showed presence of ascites, bladder with thickened wall and echogenic sediment, renomegaly, microhepatia, decreased visualization of the vessels and anomalous vasculature near the portal vein. Abdominal fluid was classified as transudate. Based on clinical signs and tests, it was concluded that patient had acquired PS. In these cases, surgical ligation is contraindicated and treatment is based on nutritional and medical management. After correction of hepatic encephalopathy and ascites, conservative therapy was implemented. It has been used drugs that protect the liver, vitamin and mineral supplements with a protein restricted diet. The animal is in a stable condition and has been biweekly examined. PS a disease presented as a complex set of signs; there is no treatment that allows for complete healing of the animal that had acquired PS. Drug treatment is palliative and aims to offer life quality to the animal and can control the clinical signs for 2 or 3 years. Keywords: Portal hypertension. Microhepatia. Hepatic encephalopathy. INTRODUÇÃO O fígado desempenha papel homeostático fundamental no equilíbrio de numerosos processos biológicos (CENTER, 1997). As doenças hepáticas são geralmente progressivas e os sinais clínicos começam a surgir quando as reservas hepáticas esgotam-se e o potencial de regeneração do fígado fica comprometido (ROTHUIZEN; MEYER, 2004). Dentre as hepatopatias que acometem cães, os desvios portossistêmicos (DPS) são distúrbios circulatórios do fígado que se apresentam como vasos anômalos que permitem que o sangue portal normal que drena do estômago, dos intestinos, do baço e do pâncreas entre diretamente na circulação sistêmica, sem passar primeiramente pelo fígado (FOSSUM, 2005). Dessa forma, toxinas normalmente removidas e metabolizadas pelo fígado, sendo a principal delas a amônia, permanecem na circulação, ocasionando uma série de efeitos deletérios ao organismo (JOHNSON, 2004). Os DPS ocorrem como anomalias congênitas ou podem ser adquiridos, sendo que esses se desenvolvem secundariamente a doenças hepáticas e à hipertensão portal 166

64 (TOBIAS, 2010) e se configuram como múltiplos vasos colaterais extra-hepáticos que se desenvolvem como resposta compensatória à hipertensão portal. Estes desvios adquiridos são comunicações microvasculares afuncionais rudimentares entre as veias porta e sistêmicas, presentes em cães e gatos normais. Diante de hipertensão portal contínua, estes vasos de dilatam e funcionam, desviando o sangue para a circulação sistêmica, com pressão mais baixa, diminuindo, assim, a pressão portal (JOHNSON, 2004). Geralmente a hipertensão portal e DPS múltiplos adquiridos estão associados a distúrbios intra-hepáticos difusos, crônicos e graves, causadores de aumento na resistência intra-hepática ao fluxo sanguíneo portal. São exemplos: hepatite crônica, cirrose e fibrose hepática idiopática (JOHNSON, 2004). Os sinais clínicos da doença geralmente envolvem o sistema nervoso, o trato gastrointestinal e/ou urinário, e são decorrentes, principalmente, da incapacidade do fígado em remover do organismo substâncias deletérias como amônia, bactérias, endotoxinas, entre outras. Os sinais clínicos encontrados nos animais com DPS são altamente variáveis, porém todos resultam de encefalopatia hepática (EH) ou de impedimento funcional progressivo do fígado (JOHNSON, 2004). O diagnóstico de DPS deve levar em consideração o histórico e os sinais clínicos, além das anormalidades hematológicas e bioquímicas, bem como o resultado de exames complementares de imagem, tais como radiografia simples, ultrassonografia (US) simples ou com Doppler, cintilografia transcolônica ou portografia transoperatória de contraste positivo (WHITING; PETERSON, 1998; BUNCH, 2006; PEREIRA et al., 2008). Além disso, a idade do animal também é fator importante para o diagnóstico; animais com DPS adquiridos geralmente apresentam média de idade três anos quando do diagnóstico, ao contrário de animais com DPS congênitos, que geralmente são diagnosticados com menos de um ano de idade (BERENT; TOBIAS, 2009). O prognóstico para o DPS depende de diversos fatores, tais como estágio de progressão da doença, idade do animal ao diagnóstico, tipo de desvio e terapia a ser implementada. Em termos gerais, o tratamento clínico é paliativo e direcionado principalmente ao controle da encefalopatia hepática (EH), abordando como ponto principal o manejo nutricional. Já o tratamento cirúrgico baseia-se na oclusão ou redução do fluxo sanguíneo venoso do vaso anômalo e é o tratamento que representa melhor prognóstico (BIRCHARD, 2008), no entanto, ele é contraindicado em casos de DPS adquirido, visto que a ligadura dos vasos pode levar à hipertensão portal fatal (ROTHUIZEN; MEYER, 2004). O tratamento clínico visa controlar os sintomas causados principalmente pela encefalopatia hepática (BIRCHARD, 2008; BROOME et al., 2004). A terapia medicamentosa é baseada no uso de protetores hepáticos, suplementos vitamínicos e minerais, antibioticoterapia e principalmente manejo alimentar. Tende a corrigir os fatores precipitantes, como infecções bacterianas, alimentação rica em proteínas, anormalidades eletrolíticas e ácido-básicas, entre outros. Também favorece a redução da absorção sistêmica de toxinas produzidas pelas bactérias gastrointestinais e diminui a interação existente entre as bactérias intestinais e substâncias nitrogenadas (SWALEC, 1996). 167

65 O tratamento medicamentoso pode melhorar a qualidade de vida do animal e controlar os sintomas por até dois ou três anos. No entanto, não reverte a atrofia hepática progressiva e as suas consequências (JOHNSON, 2004). RELATO DE CASO Foi atendido no Hospital Veterinário ULBRA um canino macho, sem raça definida, de dois anos de idade. O proprietário queixava-se que o animal estava com aumento de volume abdominal havia cerca de oito dias, apatia, alterações comportamentais, tais como desequilíbrio e desorientação, e anorexia desde o dia anterior à consulta. O proprietário relatou que o animal não levantava havia dois dias e não interagia. Informou que, apesar de oferecer ração com comida caseira polenta, carne e osso, base de sua alimentação o animal não comia. A vacinação e a vermifugação não estavam em dia. O animal não era castrado e convivia com outros animais. O proprietário negou o uso de qualquer medicação por conta própria. Ao exame clínico, constatou-se mucosas hipocoradas, desidratação moderada, prostração acentuada e pronunciado aumento de volume abdominal, evidenciando ascite. Os demais parâmetros estavam dentro da normalidade, no entanto foi observado certo desconforto respiratório durante a consulta. No exame neurológico, evidenciouse midríase, estupor, alterações de marcha tais como hipermetria, ataxia e andar em círculos. Além disso, era visível a presença acentuada de ectoparasitos, como pulgas e carrapatos. Recomendou-se internação hospitalar e realizou-se colheita de sangue para exames laboratoriais e de urina para urinálise. Também foi realizada abdominocentese para a análise do líquido ascítico, o qual tinha aspecto límpido e translúcido. O animal foi encaminhado ao Setor de Tratamento, onde foi realizada aplicação de fipronil pour-on (Fiprolex ) para o controle dos ectoparasitos; venóclise da veia cefálica para administração de fluido do tipo ringer lactato de sódio; abdominocentese, sendo o volume drenado totalizado em 4,0 litros; administração de furosemida três vezes ao dia (TID) na dose de 3mg/Kg por via intravenosa e de complexo vitamínico B a base de ferro e ácido fólico (Hemolitan ), uma vez ao dia (SID), no volume de 2 ml por via oral. Esses procedimentos visaram à estabilização do quadro clínico do paciente para posterior encaminhamento ao Setor de Imagem. No exame sanguíneo, foram constatadas anemia ferropênica, ou seja, microcítica normocrômica com hematócrito 26%; leucocitose ( células/mililitro), trombocitopenia ( plaquetas/mililitro); ureia no limite mínimo (12,5mg/dl); hipoabuminemia (1,6g/dl). Os resultados das enzimas hepáticas estavam dentro dos valores de referência para a espécie. Os achados na urinálise foram impregnação por bilirrubina (+) e presença de cristais de urato de amônia (+++). O líquido abdominal foi caracterizado como transudato puro. 168

66 Na radiografia abdominal confirmou-se a microhepatia e a renomegalia. Na ultrassonografia abdominal confirmou-se a presença de líquido livre na cavidade e constatou-se que a bexiga estava com as paredes espessadas e com sedimento ecogênico (figura 1-a), bem como que os rins estavam aumentados de tamanho e com a pelve dilatada (figura 1-b). O fígado estava diminuído de tamanho, com ecogenicidade aparentemente normal e deslocado para a direita; notou-se diminuição da visualização dos vasos com vascularização anômala próximo à veia porta (figura 1-c). Na US Doppler constatou-se turbilhonamento na veia cava. FIGURA 1 Ultrassonografia abdominal. (a) Vesícula urinária. Na seta, sedimento ecogênico. (b) Rim esquerdo em renomegalia. (c) Vasos anômalos próximos à veia porta. Após análise e discussão dos resultados obtidos, suspeitou-se que o animal poderia ser portador de DPS. Como os sinais neurológicos do paciente vinham se exarcebando e eram característicos de EH, optou-se pela estabilização do paciente antes da realização de outros testes diagnósticos. Por uma semana, realizou-se fluidoterapia intensiva no animal, utilizando-se solução fisiológica 0,9% na dose de 60 ml/kg/dia e solução glicofisiológica 5%, 500ml/dia suplementando potássio (KCl) na dose de 30mEq/L de fluido administrado. No primeiro dia de tratamento, como os sinas de EH estavam mais acentuados, realizou-se enema com 1,1 ml/kg de lactulose, TID; nos demais dias, a lactulose foi admistrada por via oral na mesma dose e frequência. Também implementou-se terapia com silimarina (Legalon ) na dose de 35mg/Kg, TID; amoxicilina 15mg/Kg, via oral, duas vezes ao dia (BID), estendendo-se por 21 dias, e ampicilina, intravenosa, 20mg/Kg, TID, estendendo-se por 12 dias. Durante esse período, o animal apresentou um episódio convulsivo, o qual foi controlado com 0,5mg/Kg de diazepam intraretal. Logo no início do período de internação, observou-se que os sinais neurológicos do paciente se exacerbavam logo após as refeições, as quais eram compostas por ração comercial não terapêutica hipercalórica Hill s a/d. O animal ficava mais agressivo, comprimia a cabeça contra a parede e deambulava em círculos. Em virtude disso, o animal passou a ser alimentado com dieta caseira com baixa quantidade de proteína, 169

67 cobre e sal (Figura 2 e Figura 3), tendo os sinais de encefalopatia hepática acentuadamente diminuídos. FIGURA 2 Receita de dieta caseira para hepatopatas. Dieta com baixa quantidade de proteína, cobre e sal para manejo de doença hepática crônica 113g de queijo cottage 1 xícara de arroz cozida 1 xícara de vagem cozida 1 colher de sopa de óleo de milho Suplemento vitamínico e mineral isento de sal e pobre em cobre Gluconato ou sulfato de zinco + ácido ascórbico (agregado ao suplemento Centrum A Zinco ) Temperado com substituto de sal (alho em pó) FIGURA 3 Dieta caseira para hepatopatas. Com o paciente já em um quadro clínico estável, optou-se por realizar portografia de contraste positivo, visto ser essa uma técnica de fácil realização e de escolha para caracterizar corretamente o tipo e a localização do DPS. Na anestesia, o animal foi induzido com propofol na dose de 1mg/Kg, IV, e fentanil na dose de 2mcg/Kg, IV, em bolus; a manutenção foi com anestesia inalatória com isoflurano. Foi realizado bloqueio regional com lidocaína na linha de incisão. Realizou-se, então, celiotomia pré-retro umbilical, sendo exteriorizado o baço para localização de uma das veias esplênicas tributárias, a qual foi cateterizada para a injeção do contraste positivo. Radiografias sequenciais foram realizadas, evidenciando a presença de diversos desvios extra-hepáticos (Figura 4). A fim de se verificar a possibilidade de correção cirúrgica, realizou-se laparotomia exploratória, na qual os desvios visualizados na portografia foram identificados (Figura 5). 170

68 FIGURA 4 Esplenoportografia. As setas indicam múltiplos desvios portossistêmicos extrahepáticos com contraste iodado se distribuindo para circulação sistêmica. FIGURA 5 Laparotomia exploratória. (a) Fígado com aspecto cirrótico. (b) Vaso anômalo próximoà veia cava caudal. (c) Vaso anômalo ventrocaudal ao fígado. (d) Vasos anômalos no ligamento falciforme. 171

69 Na biópsia hepática, constatou-se vacuolização, fibrose periportal, hepatócitos viáveis e infiltrado de neutrófilos, o que demonstra avançada degeneração hepática, compatível com moderado grau de cirrose, indicando hepatopatia crônica. Em virtude de o animal apresentar sintomatologia neurológica, agregado ao fato de não ser vacinado, foi cogitada a possibilidade de infecção pelo vírus da cinomose canina. Por esse motivo, foi feito o teste comercial de imunocromatografia (BioEasy ); o resultado foi negativo. Os resultados obtidos nos exames complementares e de imagem, bem como a análise dos sinais clínicos e da resposta à terapia adotada, definiram o diagnóstico como desvio portossistêmico adquirido. Desvios portossistêmicos múltiplos adquiridos são considerados inoperáveis, visto que eles cursam com hipertensão portal. Em vista disso, optou-se por realizar tratamento clínico paliativo no paciente, por tempo indeterminado, com visitas regulares ao HV- ULBRA para realização de exames clínico e complementares, bem como de ajuste de doses de medicamentos. Foram prescritas para o paciente, diariamente, as seguinte medicações: silimarina (Legalon ) 35mg/Kg, VO, BID; ácido ursodesoxicólico (Ursacol ) 10mg/Kg VO, SID; colchicina 0,03 mg/kg, VO, SID e lactulose 1,1 ml/kg, VO, BID. Além disso, a alimentação foi baseada em ração terapêutica Hills K/D, a qual é específica para cães hepatopatas e nefropatas. Trinta dias após a alta o animal retornou ao hospital para revisão. No exame clínico, constatou-se que o paciente estava levemente desidratado e com ascite moderada; dispneia, alterações neurológicas não foram notadas. O proprietário relatou que o canídeo não apresentou mais alterações de comportamento. Novos exames colhidos mostraram que o animal estava com leucograma e plaquetograma dentro dos valores de referência para a espécie; o hematócrito, porém, ainda estava abaixo dos valores de referência, em 31%. A albumina estava no valor mínimo normal e na urinálise não foi evidenciado cristais de urato de amônia. Para o controle emergencial da ascite, optou-se pela drenagem abdominal de maneira lenta e pela reposição de fluido na dose de 60 ml/kg/hora, com adição de potássio na dose de 15mEq/L, simultaneamente ao procedimento. Para manutenção do animal, prescreveu-se furosemida na dose de 2mg/Kg, BID, associado ao uso de enalapril na dose de 0,5 mg/kg, SID. Recomendou-se a manutenção da terapia clínica e nutricional a fim de retardar a progressão da doença hepática e suas consequências. DISCUSSÃO Os DPS adquiridos provavelmente ocorrem com maior frequência do que tem sido registrado e são possivelmente consequência mais comum de hepatopatia crônica 172

70 do que se diagnostica, visto que a venografia não é rotineiramente efetuada; além disso, a observação de desvios por ocasião da cirurgia ou da necropsia fica pouco marcada devido ao distúrbio hepático primário ser mais evidente (JOHNSON, 2004). É difícil estabelecer qual a causa primária que levou à hipertensão portal secundária e, consequentemente, à formação de desvios múltiplos nesse cão. O proprietário não relatou nenhum quadro de hepatopatia anterior e nem algum fator predisponente que pudesse levar a uma hepatopatia, tais como administração de medicamentos hepatotóxicos. A biópsia hepática foi pouco esclarecedora e não apontou nenhuma possível causa, apenas confirmou degeneração de hepatócitos e fibrose periportal compatível com lesão crônica ao fígado. Os sinais clínicos, embora não específicos de DPS, foram importantes para o diagnóstico final e para a terapêutica adotada. A ascite pode ser explicada por dois mecanismos. Um deles é a diminuição no metabolismo das proteínas hepáticas, sendo a principal delas a albumina, levando a diminuição na pressão oncótica do plasma. A outra alteração envolve uma alteração na pressão vascular hepática, culminando na hipertensão que leva à ascite (WHITING; PETERSON, 1998). Esses dois mecanismos, geralmente, acontecem juntos. Os sinais neurológicos, condizentes com encefalopatia hepática, foram fundamentais para o diagnóstico. O DPS é uma das poucas moléstias hepáticas dos pequenos animais que efetivamente produz sintomas de encefalopatia hepática (JOHNSON, 2004). A manifestação da EH ocorre por consequência da diminuição de funcionalidade hepática devido ao desvio sanguíneo referente ao sistema porta, relacionada, principalmente, com hiperamonemia (BROOME et al., 2004). Pode ser caracterizada, portanto, como uma síndrome clínica de alteração do SNC, secundária à disfunção hepática (FOSSUM, 2005). A manifestação neurológica mais comum de EH é a diminuição da atividade mental e da responsividade, que variam desde depressão discreta até coma. Outros sintomas incluem demência, convulsões, letargia, alterações de comportamento (agressividade ou histeria), incoordenação locomotora, marcha obstinada, anorexia, êmese, diarreia e hipersalivação (DUARTE; USHIKOSHI, 2005). Frequentemente os animais estão deprimidos e estuporosos; parecem estar cegos, e pressionam suas cabeças contra paredes ou móveis. Os proprietários descrevem seu animal como andando nas paredes o animal anda aleatória e atordoadamente ao longo do perímetro da sala, apoiando-se na direção da parede (WHITING; PETERSON, 1998). Eventualmente os sinais podem estar relacionados à alimentação, porém, a gravidade dos sintomas nem sempre correlaciona com a gravidade da lesão hepática (DUARTE; USHIKOSHI, 2005). No canino em questão, era notável o fato de ele tornar-se mais agressivo e estuporoso após as alimentações. Os achados dos exames sanguíneos, embora inespecíficos, também contribuíram para a suspeita diagnóstica. A leucocitose normalmente observada pode estar ligada à circulação sistêmica de bactérias intestinais que, normalmente, seriam apresentadas 173

71 às células retículo-endoteliais do fígado e eliminadas através dessas células, via circulação portal. (WHITING; PETERSON, 1998). A anemia caracteriza-se por ser não-regenerativa e está presente em um terço dos pacientes. A presença de anemia pode ser decorrente da redução na produção de hemácias devido ao mau estado nutricional, baixos níveis de eritropoietina, redução na produção de transferrina devido à má utilização do ferro e também pela perda de sangue causada por coagulopatias ou hemorragias gastrointestinais. Essas hemorragias ocorrem pois o fígado é órgão que realiza a síntese da maioria dos fatores de coagulação (SWALEC, 1996). O desenvolvimento de microcitose pode estar associado ao metabolismo anormal do ferro, por um transporte prejudicado ou sequestro de ferro, ou pela ruptura tóxica das membranas das hemácias (GOODFELOW et al., 2008). Estas alterações eritrocitárias podem ser pistas diagnósticas sutis, mas importantes, num hemograma completo sob outros aspectos normal. Em relação à hipoalbuminemia constatada no exame do animal, ela pode ser explicada pelo fato de a albumina ser uma proteína importante sintetizada pelo fígado, essencial em muitas funções homeostáticas, como a manutenção da pressão oncótica coloide do plasma e como carreadora de eletrólitos e hormônios, pigmentos e drogas. A albumina representa aproximadamente 25% de toda a proteína sintetizada pelo fígado. Como a síntese da albumina tem uma prioridade relativa alta, a síntese de outras proteínas fica reduzida antes da albumina durante a doença hepática ou desnutrição proteica/calórica. A concentração de albumina diminui na doença hepática grave em decorrência da diminuição da síntese e porque a amônia (quando elevada na doença hepática) inibe a liberação de albumina pelos hepatócitos. Além disso, quando a ascite está presente, ocorre um aumento no volume de distribuição da albumina (RICHTER, 2005) Outro fator importante para o diagnóstico foram os achados da urinálise, sendo eles impregnação por bilirrubina e cristais de biurato de amônio. Presença de bilirrubina, urobilinogênio, baixa densidade específica, cálculos de ácido úrico e cristais de biurato de amônio, na urina, ocorrem com grande frequência. Dentre todas as alterações presentes na urinálise, os cristais de biurato de amônio aparecem na maioria das vezes em casos de alteração vascular nos cães e nos gatos (JOHNSON, 2004). Esses cálculos se formam pela redução da detoxificação da amônia hepática e do metabolismo do ácido úrico, que resultam em um aumento da excreção renal da amônia e do ácido úrico, e isso consequentemente leva à precipitação de cristais de biurato de amônio (SWALEC, 1996). As radiografias abdominais simples são indicadas para que se possa observar, principalmente, a presença de microhepatia, cálculos renais e/ou císticos e renomegalia (WHITING; PETERSON, 1998). Microhepatia é um achado radiológico comumente encontrado. A gordura intra-abdominal pode dificultar a análise do tamanho do fígado. O tamanho diminuído desse órgão pode ser indiretamente identificado, pois ocorre deslocamento cranial do estômago. Para que os cálculos renais, uretrais ou vesicais de urato de amônia possam ser visíveis, é necessário que eles contenham quantidades 174

72 significativas de magnésio e fosfato, caso contrário não há possibilidade de observação (JOHNSON, 2004). Os rins dos animais acometidos podem estar aumentados de tamanho, provavelmente por uma hipertrofia compensatória, pois as substâncias normalmente metabolizadas pelo fígado vão para o rim, e esse se torna sobrecarregado (ROTHUIZEN, 2001). Outro procedimento não invasivo que irá demonstrar a anatomia vascular para diagnóstico de DPS em cães é realizado através da ultrassonografia (US) (BROCKMAN et al., 1998; JOHNSON, 2004). Segundo D Anjou et al. (2007) essa técnica identifica de maneira mais confiável a presença de DPS intra-hepático em relação aos DPS extrahepáticos visto que o desvio extra-hepático pode ser ocultado pelo intestino sobrejacente, dificultando o diagnóstico (FOSSUM, 2005; BUSSADORI et al., 2008). Nesse exame é possível observar o tamanho do fígado, que na maioria dos casos se apresenta. Para uma avaliação abdominal completa, os rins e a bexiga devem ser visualizados, a fim de detectar a presença de cálculos de urato (D ANJOU et al., 2007). Carvalho (2008) indica o uso de US Doppler como método diagnóstico não invasivo, nos casos de suspeita de DPS. Com o auxílio Doppler, é possível identificar o local da comunicação através da imagem de fluxo turbulento no vaso anômalo. O mapeamento de diversos vasos sugestivos de envolvimento no desvio também pode ser feito através do Doppler. As descrições histopatológicas da morfologia hepática em cães com DPS são notavelmente similares, independentemente da presença de desvio solitário ou de múltiplos desvios (WHITING; PETERSON, 1998). Quando realizada biópsia hepática, é possível observar hiperplasia arteriolar, atrofia e vacuolização dos hepatócitos, fibrose periportal, congestão generalizada das veias centrais e sinusoides, lipogranulomas, presença de veias portas pequenas ou até mesmo ausentes e colapso lobular (JOHNSON, 2004; ISOBE et al., 2008). As duas últimas alterações indicam presença de atrofia hepática pela redução do aporte sanguíneo ao fígado e consequente perda de nutrientes, oxigênio e fatores hepatotróficos como insulina e glucagon (SWALEC, 1996). Raramente as anormalidades histopatológicas são graves o bastante para que sejam descritas como cirróticas. Os casos descritos como cirrose geralmente ocorrem em cães com desvios múltiplos. A gravidade do processo patológico nem sempre mantém boa correlação direta com o prognóstico clínico (JOHNSON, 2004). É importante fazer diagnóstico diferencial de outras doenças que cursam com alterações neurológicas, tais como cinomose canina, intoxicações, hidrocefalia, epilepsia idiopática e distúrbios metabólicos como a hipoglicemia, principalmente nos casos em que o animal se encontra em encefalopatia hepática (JOHNSON, 2004). A portografia de contraste positivo é o procedimento de escolha para caracterização do tipo e localização anatômica do DPS. Diversas técnicas de contraste positivo podem ser realizadas para um diagnóstico definitivo, como a portografia mesentérica ou jejunal, esplenoportografia, e portografia mesentérica cranial ou arterial celíaca (WHITING; 175

73 PETERSON, 1998). Para o caso em questão, optou-se por realizar a esplenoportografia. Por meio dessas técnicas, é possível, além de se evidenciar um DPS, diferenciá-lo quanto ao seu caráter congênito ou adquirido. O canídeo em questão foi diagnosticado como portador de DPS adquirido, o qual se configura como vasos colaterais extra-hepáticos que se desenvolvem como resposta compensatória à hipertensão portal. Está contraindicada a ligadura cirúrgica de DPS múltiplos adquiridos, pois a ligadura poderá resultar numa hipertensão portal fatal, visto que os desvios são resposta compensatória protetora contra a hipertensão portal (JOHNSON, 2004). Algumas literaturas recomendam a atenuação por sutura da veia cava abdominal em cães com DPS múltiplos adquiridos para o controle dos sinais de EH e da ascite. O objetivo deste procedimento consiste no aumento da pressão da veia cava caudal, até nível ligeiramente superior à pressão portal; assim, o fluxo do sangue portal é redirecionado de volta ao fígado e isto, eventualmente, poderá resultar em melhor função hepática (JOHNSON, 2004). O manejo clínico, o qual foi adotado para o animal em questão, de um paciente com DPS é indicado quando o mesmo é apresentado com EH e quando a estabilização ou o manejo são necessários antes de um tratamento cirúrgico definitivo, ou quando a cirurgia não pode ser realizada devido à localização ou tipo de anomalia vascular (BROOME et al., 2004). O objetivo é reduzir a absorção sistêmica de produtos tóxicos do trato gastrointestinal e evitar condições que predisponham à EH (HAVIG, 2002; BROOME et al., 2004). Inicialmente deve ser fornecida ao animal alimentação diferenciada, sendo essa a primeira conduta e a que mais representará sucesso no restante do tratamento. A composição dessa alimentação é baseada na restrição moderada de proteínas (BROOME et al., 2004). As proteínas vegetais são indicadas, principalmente a de soja e as de laticínios, por exemplo, queijo cottage e iogurte. As proteínas oriundas das carnes não devem ser oferecidas, pois são pouco toleradas. Os animais devem receber, de maneira individual, o limite de proteína tolerado, sem que manifestem os sintomas de EH (JOHNSON, 2004). A fonte primária de calorias deve ser, principalmente, sob a forma de derivados de carboidratos, e também de gordura (FOSSUM, 2005). A suplementação com fibras solúveis é importante, pois favorece o tratamento. Com a adição desse tipo de fibra, o animal pode começar a tolerar níveis mais altos de proteína (JOHNSON, 2004). De maneira geral, as rações comerciais terapêuticas para hepatopatas e nefropatas costumam atender a essas necessidades de animais com DPS. No entanto, dietas caseiras também são eficientes e são bem toleradas e aceitas pelos animais, como foi o caso do animal do relato. A lactulose, dissacarídeo sintético não-metabolizável, é um medicamento que deve ser empregado no tratamento dos animais com DPS que manifestam sinais clínicos de EH, pois é hidrolisada até a formação de ácidos orgânicos, aumentando 176

74 osmoticamente a perda de água fecal, além de ter a capacidade de acidificar o conteúdo colônico, pois retém a amônia no cólon sob a forma de amônio, e altera a flora bacteriana intestinal (SWALEC, 1996). A lactulose é responsável por diminuir o trânsito intestinal e reduzir a produção e absorção de amônia (BROOME et al., 2004; FOSSUM, 2005). A lactulose pode também ser considerada um probiótico, pois aumenta a capacidade lactofermentativa da população de Lactobacillus (BRUM et al., 2007). A dose recomendada dessa medicação é de 0,22 0,5ml/ kg, por via oral, sendo administrado a cada 8 a 12 horas, para que as fezes fiquem amolecidas (JOHNSON, 2004). Alguns efeitos colaterais devem ser considerados, como diarreia, vômito, anorexia e aumento da perda gastrointestinal de potássio e água (FOSSUM, 2005). Os antibióticos são empregados para reduzir a população bacteriana intestinal produtora de amônia (BROOME et al., 2004; FOSSUM, 2005). Para os animais que não se encontram em azotemia, é indicado o uso de antibióticos como amoxicilina ou ampicilina, a fim de reduzir a produção de substâncias neurotóxicas pela flora intestinal (PEREIRA et al., 2008). Nos casos em que os animais estão manifestando sinais graves de EH, como depressão do SNC ou coma, impossibilitando a administração dos medicamentos por via oral, a realização de enemas com água morna, neomicina, lactulose ou outros carboidratos, podem reduzir a morbidade (WHITING; PETERSON, 1998). Além do manejo alimentar e o do uso dos medicamentos acima citados, a sintomatologia de EH pode ser controlada através da administração de fluidoterapia, a fim de corrigir a desidratação e favorecer a excreção de amônia através da urina. A terapia com fluido intravenoso é feita para regular o equilíbrio ácido-básico, para reposição de eletrólitos, como o potássio, por exemplo, e para manutenção da glicose sanguínea. Para essa reposição deve ser evitada a solução de ringer lactato de sódio, pois pode provocar alcalose e piorar o quadro de EH no animal (WHITING; PETERSON, 1998; BIRCHARD, 2003; JOHNSON, 2004). Como foi evidenciado pela biópsia hepática do animal, a fibrose é uma sequela comum da hepatopatia crônica ativa (HCA), sua gravidade está associada com menor tempo de sobrevida e morte precoce naqueles cães que sobreviveram à primeira semana após o diagnóstico, o seu manejo é uma parte importante do tratamento de cães com HCA. A droga de escolha para reduzir a deposição adicional de fibrose e dissolver o tecido fibroso existente no fígado é a colchicina, tentando, assim, reduzir a resistência vascular intrahepática e, consequentemente, amenizar a hipertensão portal. Existem vários estudos em seres humanos com cirrose primária biliar, alcoólica e pós-hepática, que mostram que a colchicina tem efeitos benéficos nos aspectos clínicos, bioquímicos e histopatológicos e na sobrevivência. A colchicina tem sido usada com sucesso em casos de hepatite crônica com fibrose ou cirrose em cães. O mecanismo pelo qual a colchicina beneficia pacientes com hepatite crônica com cirrose não está clara, embora ela tenha efeitos antifibróticos e antiinflamatórios. A dose recomendada de colchicina 177

75 para cães é de 0,03 mg/kg de peso vivo, uma vez ao dia. Geralmente, usa-se essa droga em conjunto ao ácido ursodeoxicólico (RICHTER, 2005). O ácido ursodeoxicólico é um ácido biliar diidroxilado natural que se acredita que tenha efeitos antiinflamatórios, imunomoduladores e coleréticos (aumenta o fluxo biliar por diminuir a viscosidade da bile). O ácido ursodeoxicólico tem sido utilizado no manejo de doenças hepáticas crônicas em seres humanos incluindo HCA, cirrose biliar primária e colangite esclerosante primária, melhorando significativamente os sintomas, parâmetros laboratoriais e o tempo de sobrevida tem sido aumentado com o uso dessa droga. A dose segura e eficaz é de 13,3 a 15,5 mg/kg, administrada uma vez ao dia ou na mesma dose dividida em duas vezes ao dia. A droga deve ser administrada junto com as refeições (RICHTER, 2005). A silimarina é uma droga hepatoprotetora com propriedades regeneradora, hipolipidêmicas, colagogas e coleréticas, facilitando a permeabilidade e excreção pelos hepatócitos. A dose recomendada é de 20 a 50 mg/kg/dia, divididas em três a quatro vezes ao dia (PAPPICH, 2009). O tratamento emergencial da ascite é raramente necessário. Ocasionalmente, entretanto, o volume de fluido ascítico é grande o suficiente para resultar em distrição respiratória, por causa da compressão do diafragma, limitando a respiração. Nesses pacientes, a paracentese pode ser útil. Os únicos outros motivos para a remoção do líquido abdominal são para facilitar a realização da biópsia hepática, percutânea, laparotomia, radiografias abdominais e para se realizar a análise diagnóstica e citológica do fluido. Quando um grande volume de fluido é removido rapidamente, o fluido intravascular é desviado para o compartimento extravascular e isso pode causar choque hipovolêmico. Embora isso seja raro, recomenda-se que, se a paracentese é necessária, o fluido deve ser removido vagarosamente e a fluidoterapia intravenosa realizada, se necessária (RICHTER, 2005). A restrição de sal, os diuréticos e as drogas inibidoras da aldosterona são usadas no controle da ascite a longo prazo. Os diuréticos devem ser utilizados com cuidado para evitar a desidratação. Pacientes com hepatopatias crônicas já estão usando sua reserva cardíaca e circulatória máxima quando a ascite está presente. No caso, optouse por utilizar a furosemida, que é um diurético de alça eficaz no controle da ascite. A furosemida deve ser utilizada com cuidado porque pode provocar perda urinária excessiva de fluidos que irá acarretar hipovolemia, antes da melhora da ascite, e também exacerbar a hipocalemia e alcalose (RICHTER, 2005). A furosemida deve ser utilizada na dose de 2 a 6 mg/kg BID (PAPPICH, 2009). Os eletrólitos devem ser mensurados periodicamente, se possível, em conjunto com a avaliação clinica. Caso a ascite persista, o enalapril deve ser adicionado na dose de 0,5 mg/kg, SID. Essas drogas são inibidoras da enzima conversora de angiotensina que diminuem a atividade do sistema renina-angiotensina-aldosterona. Devem ser utilizadas dietas apropriadas com baixo teor de sal, como a utilizada para o paciente em questão (RICHTER, 2005). 178

76 Os sinais clínicos do DPS podem ser controlados por um longo período de tempo pelo tratamento clínico, mas os animais terão uma sobrevida menor, de aproximadamente 2 meses a 2 anos; entretanto, quanto mais velho for o animal encaminhado para tratamento clínico, melhor será o seu prognóstico (FOSSUM, 2005). Os animais que recebem esse tipo de tratamento a longo prazo podem, eventualmente, apresentar sinais neurológicos (BUNCH, 2006). A terapia médica é considerada eficiente no controle da EH, mas ineficiente quanto às modificações do tropismo hepático (FAVERZANI et al., 2003). A terapia farmacológica visa diminuir os sinais clínicos, mas não resolve a causa primária e não previne maior deterioração da função hepática (WINKLER et al., 2003). O tratamento conservativo tem, portanto, como principal objetivo, propiciar boa qualidade de vida ao animal pelo maior tempo possível. CONCLUSÃO O diagnóstico correto de uma das principais consequências de hepatopatia crônica em cães, que é o DPS adquirido, é de fundamental importância para o adequado tratamento e implantação da terapia medicamentosa correta para máxima sobrevida do paciente. Dessa forma, faz-se necessário o acompanhamento clínico, laboratorial e ultrassonográfico periodicamente. Embora o tempo de acompanhamento do animal do caso em questão ainda seja curto, já foi observada melhora considerável tanto nos parâmetros clínicos quanto nos laboratoriais, mostrando, dessa forma, que o tratamento clínico conservador a base de terapia medicamentosa e nutricional pode apresentar bons resultados, oferecendo, assim, boa qualidade de vida ao paciente. REFERÊNCIAS BERENT, A.C; TOBIAS, K. M. Portosystemics vascular anomalies. Vet Clinic Small Animal, EUA, v.39, pp , BIRCHARD, S.J. Doenças do Fígado e Trato Biliar. In: BIRCHARD, S.J.; SHERDING, R. G. Manual Saunders: Clínica de Pequenos Animais. São Paulo: Roca, cap. 71, pp, BROCKMAN, D.J., et al. Unusual congenital portosystemic communication resulting from persistence of the extrahepatic umbilical vein. Journal of Small Animal Practice. England, v.39, n.5, pp ,1998. BROOME, C.J., et al. Congenital portosystemic shunts in dogs and cats. New Zeland Veterinary Journal. Palmerston North, v.52, n.4, pp.1; BRUM, A.M. et al. Utilização de probiótico e de lactulose no controle de hiperamonemia causada por desvio vascular portossistêmico congênito em um cão. Ciência Rural. Santa Maria, v.37, n.2, pp , BUNCH, S.E. Doenças hepatobiliares no cão. In: NELSON, R. W.; COUTO, C. G. Medicina Interna de Pequenos Animais. Rio de Janeiro: Elsevier, cap. 38, pp ,

77 BUSSADORI, R. et al. Transvenous coil embolisation for the treatment of single congenital portosystemic shunt in six dogs. The Veterinary Journal. Amsterdã, v.176, n.2, pp , CARVALHO, C.F. et al. Uso do ultra-som duplex Doppler no diagnóstico de shunt portossistêmico em gatos. Arq. Bras. Méd. Vet. Zootec. Belo Horizonte, v. 60, n. 1, CENTER, S. A. Fisiopatologia, diagnóstico laboratorial, e afecções do fígado. In: ETTINGER, S. J.; FELDMAN, E. C. Tratado de Medicina Interna Veterinária: Moléstias do Cão e do Gato. 4.ed. São Paulo : Manole, v.2, p , D ANJOU, M.A. The sonographyc search for portosystemic shunts. Clinical Techniques in Small Animal Practice. Saint Louis, v.22, pp , DUARTE, R.; USHIKOSHI, W.S. Encefalopatia Hepática em cães. Boletim Médico Veterinário. São Paulo, v.01, pp.57-61, FAVERZANI, S. et al. clinical, laboratory, ultrasonographic and histopathological findings in dogs affected by portosystemic shunts, following surgery or medical treatment. Veterinary Research Communications, v.27, supl.1, p , FOSSUM, T.W. Cirurgia hepática. In:. Cirurgia de Pequenos Animais. São Paulo: Roca, cap. 22, pp , GOODFELLOW, M. et al. Effect of storage on microcytosis observed in dogs with. HAVIG. Outcome of ameroid constrictor occlusion of single congenital extrahepatic portosystemic shunts in cats: 12 cases ( ). Journal of the American Veterinary Medical Association, v.220, p , ISOBE, K. et al. Histopatological characteristicsof hepatic lipogranulomas with portosystemic shunt in dogs. J. Vet. Med. Sci. Tokyo, v.70, n.2, pp , JOHNSON, S.E. Hepatopatias crônicas. In: ETTINGER, S. J.; FELDMAN, E. C. Tratado de Medicina Veterinária. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, cap. 143, pp , PAPPICH, M.G. Manual Saunders Terapêutico Veterinário. São Paulo, pp.638, PEREIRA, C.T. et al. Shunt portossistêmico: considerações sobre o diagnóstico. Clínica Veterinária. São Paulo, ano XIII, n.72, pp.28-34, portosystemic vascular anomalies. Research in Veterinary Science. v.84, n.3, pp , RICHTER, K.P. Doenças do fígado e do sistema hepatobiliar. In: TANZ, T.R. Gastroenterologia de Pequenos Animais. São Paulo: Roca, Cap 9, pp , ROTHUIZEN, J.; MEYER, H.P. Anamnese, exame físico e sinais da doença hepática. In: ETTINGER, S. J.; FELDMAN, E. C. Tratado de Medicina Veterinária. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, cap. 140, pp , SWALEC, K.M. Desvios portossistêmicos In: BOJRAB, M. J. Mecanismos da Moléstia na Cirurgia de Pequenos Animais. São Paulo: Manole Ltda., cap. 52, pp , TOBIAS, M. K. Veterinary Information Network. Disponível em: < com/proceedings/proceedings.plx?cid=wsava2005&pid=10964&o=generic> Acesso em: 08 out

78 WHITING, P.G.; PETERSON, S.L. Fígado e sistema biliar. In: SLATTER, D. Manual de Cirurgia de Pequenos Animais. São Paulo: Manole Ltda., cap. 47, pp , WINKLER, J.T. et al. Portosystemic shunts: diagnosis, prognosis, and treatment of 64 cases ( ). Journal of the American Animal Hospital Association, v.39, p , Recebido em: abr Aceito em: jun

79 Uso da pilocarpina no tratamento da síndrome de Sjögren em um cão: relato de caso Camila Zinn Arend Fabiana Quartiero Pereira Ana Júlia Andrade Coelho RESUMO A síndrome de Sjögren é uma doença inflamatória, de possível etiologia autoimune, que acomete principalmente as glândulas lacrimais e salivares, sendo a causa mais importante de ceratoconjuntivite seca em humanos. Em cães há poucos relatos na literatura. A etiologia é dita primária, quando estão presentes somente os sinais clínicos mais característicos, como xerostomia e xeroftalmia, ou secundária, quando estiver relacionada com outras doenças autoimunes como lúpus sistêmico, esclerose múltipla e artrite reumatoide. Por ser uma doença multifatorial e com sinais inespecíficos é de difícil diagnóstico. Neste trabalho, descreve-se o caso clínico de um cão com diagnóstico clínico de síndrome de Sjögren primária. O animal teve excelente recuperação após 5 semanas de tratamento com pilocarpina oral. Palavras-chave: Síndrome de Sjögren. Cão. Pilocarpina. Pilocarpine use in treatment of Sjögren s syndrome in a dog: Case report ABSTRACT The Sjögren s syndrome is an inflammatory disease, possible autoimmune disease mainly affecting the lacrimal and salivary glands, being the most important cause of keratoconjunctivitis sicca in humans. In dogs there are few reports in the literature. The primary etiology is told when they are present only the most characteristic clinical signs such as xerophthalmia and xerostomia, or secondary, when associated with other autoimmune diseases like lupus, multiple sclerosis and rheumatoid arthritis. Being a multifactorial disease with nonspecific signs and is difficult to diagnose. In this paper, it is described a case of a dog with clinical diagnosis of primary Sjögren s syndrome. The animal had an excellent recovery after 5 weeks of treatment with oral pilocarpine. Keywords: Sjögren syndrome. Dog. Pilocarpine. Camila Zinn Arend é Especialista em Cirurgia Ortopédica pela Anclivepa-SP/2009. Médica veterinária proprietária da Clínica Veterinária Pet & Gato, Rua Quintino Bocaiúva 116, Porto Alegre/RS. pet_gato@ yahoo.com.br Fabiana Quartiero Pereira é Mestre em Ciências Veterinárias com Ênfase em Oftalmologia Veterinária pela UFRGS (2010). Médica veterinária autônoma. Ana Júlia Andrade Coelho é graduada pela UFRGS/2009. Médica veterinária autônoma. 182Veterinária em Foco Veterinária Canoasem Foco, v.8 v.8, n.2, jan./jun. p jan./jun. 2011

80 INTRODUÇÃO A síndrome de Sjögren (SS) é considerada uma doença inflamatória crônica e sistêmica, de provável etiologia autoimune, que acomete as glândulas lacrimais e salivares e que, em humanos, possui ampla distribuição. Pode ser classificada como primária, quando somente as glândulas exócrinas são acometidas, ou secundária, quando está associada a doenças autoimunes, como o lúpus eritematoso sistêmico, esclerose sistêmica progressiva, dentre outras (FELBERG; DANTAS, 2006; BARBOZA et al., 2008). Nessa síndrome, ocorre uma infiltração linfoplasmocitária nas glândulas lacrimais e salivares que desencadeia um quadro de xeroftalmia e xerostomia, porém, outras glândulas exócrinas podem ser acometidas, como pâncreas, glândulas da mucosa do trato respiratório, gastrointestinal, urinário e outros sistemas. A infiltração linfocítica crônica interfere na função normal dessas glândulas, resultando em redução ou cessamento da produção e secreção de saliva e lágrima (FELBERG; DANTAS, 2006). Em humanos, além dos sinais clínicos de ceratoconjuntivite seca, os pacientes com SS podem desenvolver blefarite, blefaroespasmo e infecções na superfície ocular. Em relação às manifestações orais, há sensação de boca seca e ressecamento labial, disfagia, estomatite, halitose, anomalias do paladar, entre outros. Cerca de 60% dos doentes têm aumento de volume das glândulas salivares (COELHO et al., 2002). Em cães os sinais clínicos são semelhantes (QUIMBY et al., 2004). A síndrome já foi descrita como causa de CCS em cães, mas não ainda em gatos (STADES et al., 1999). Freitas et al. (2004) citam outros sintomas associados à SS: ressecamento nasal, fadiga, linfoadenopatia, cirrose biliar primária, nefrite intersticial, fibrose pulmonar, vasculites e neuropatias periféricas. O mesmo autor salienta que os achados oculares e orais estão sempre presentes e são os mais relevantes pra o diagnóstico. A SS também pode alterar o tecido conjuntivo esofágico (KRAUEL et al., 2006). Essa alteração leva à acalasia, ou megaesôfago, que ocorre por ausência do relaxamento adequado do esfíncter esofágico inferior, associado à desintegração gradual do plexo mioentérico, levando à hipertonicidade e peristaltismo desorganizados (DIAS, 2010). Embora comum na medicina humana, a SS ainda é de difícil diagnóstico, principalmente por ser uma doença de progressão lenta. Geralmente decorrem de 8 a 10 anos entre o aparecimento dos primeiros sintomas e o eventual diagnóstico (COELHO et al., 2002). Nenhum sinal clínico, exame laboratorial ou imunomarcador descrito até o momento é aceito isoladamente para confirmar o diagnóstico, ou detectar os períodos de atividade e remissão da doença (FELBERG; DANTAS, 2006). Por isso, diversas entidades e sociedades propõem diferentes métodos de avaliação para definir a SS, como por exemplo, os critérios de São Diego para o diagnóstico de SS (1986); os critérios de São Francisco para o diagnóstico de SS primária e SS secundária (1994) e os critérios europeus modificados pelo Grupo de Consenso Americano-Europeu (2002) (FELBERG; DANTAS, 2006). Geralmente, o diagnóstico é determinado a partir da associação entre os sinais clínicos, histórico minucioso e dados laboratoriais. Esses últimos incluem biópsia das glândulas salivares e, em menor proporção, a avaliação dos níveis séricos de autoanticorpos (FREITAS et al., 2004; FELBERG; DANTAS, 2006). 183

81 Por se tratar de uma doença com diversas manifestações clínicas, o tratamento é instituído conforme o aparecimento dos sinais. O tratamento da síndrome do olho seco é predominantemente sintomático, entretanto, em casos mais graves antiinflamatórios e secretagogos são utilizados. Podem ser utilizadas medicações tópicas e sistêmicas. Dentre as tópicas destacam-se as lágrimas artificiais, os antiinflamatórios (não hormonais, corticosteroides, ciclosporina A) e o soro autólogo. Medicações de uso sistêmico incluem ômega-3, secretagogos e antiinflamatórios (FONSECA et al., 2010). A lubrificação ocular com lágrimas artificiais deve ser realizada o mais rápido possível e os ambientes secos ou ventosos devem ser evitados (COELHO, 2002). O tratamento da xerostomia é mais difícil, sendo alternativas válidas, o uso de estimulantes salivares (cloreto de betanecol, bromexina, ácido cítrico e málico, parafina líquida, neostigmina, iodeto de potássio e pilocarpina), estimulantes mecânicos e salivas artificiais (COELHO, 2002). A higiene oral deve ser intensificada para prevenir infecções orais (FELBERG; DANTAS, 2006). Estudos demonstram que o interferon alfa, por via oral, durante algumas semanas, melhora o fluxo salivar em pacientes humanos com SS que apresentavam xerostomia. O uso sistêmico de corticosteroides melhora de forma geral todos os sintomas associados a SS, mas devido a seus efeitos colaterais, eles ficam reservados a manifestações extraglandulares da doença (COELHO, 2002; FELBERG; DANTAS, 2006). Este trabalho apresenta o relato de caso de um cão que desenvolveu sinais clínicos semelhantes aos da SS primária humana. O tratamento foi sintomático, e, mediante a suspeita de SS, administrou-se pilocarpina 1% colírio por via oral. Após cinco semanas houve remissão dos sinais clínicos. O objetivo deste trabalho é informar aos médicos veterinários a respeito da síndrome de Sjogren. Esta síndrome é multifatorial e pouco relatada em medicina veterinária. As manifestações dos sinais clínicos são comumente distintas, o que pode induzir a um diagnóstico equivocado retardando o tratamento correto. CASO CLÍNICO Paciente da espécie canina, da raça pinscher, 4 anos de idade, macho, castrado, 2,2kg de massa corporal. Recebia as vacinas convencionais anualmente, era everminado frequentemente, e não apresentava histórico de ectoparasitas. O animal foi vacinado com polivalente anual e nove dias depois iniciou tosse seca e secreção ocular bilateral. Os sinais apareceram de forma súbita. No exame clínico observou-se redução da lubrificação ocular, blefarospasmo, secreção mucopurulenta nos olhos e narinas e hiperqueratose no focinho (Figura 1). Na auscultação pulmonar não havia alterações, a hidratação estava dentro da normalidade e a temperatura corporal aferida foi de 38,2ºC. O abdômen estava visivelmente dilatado e havia moderada algia. Durante a palpação abdominal foi verificado o espessamento das alças intestinais. O proprietário não sabia informar sobre alimentação, micção e defecação, pois o animal vivia solto no pátio com outros cães, que se encontravam saudáveis e vacinados. 184

82 FIGURA 1 Cão com blefarospasmo bilateral sem sinal de epífora. Superfície nasal com ressecamento e hiperqueratose O animal foi encaminhado para radiografias torácicas e exames laboratoriais. A única alteração encontrada no hemograma foi anemia branda regenerativa. O leucograma mostrou valor absoluto de linfócitos de 1048/µl. O perfil bioquímico estava dentro da normalidade. As radiografias mostraram apenas imagem de aerofagia, sem alterações cardiopulmonares. Foi realizada uma ecografia abdominal que revelou esplenomegalia e excesso de gás no estômago. O laudo foi sugestivo de dilatação gástrica. Mediante a suspeita de síndrome da dilatação gástrica o animal foi então encaminhado à laparotomia exploratória. O plano cirúrgico foi mantido com anestesia geral inalatória. Durante a exploração do abdômen foi observado um aumento extremo do baço (Figura 2) e acúmulo de gás no estômago e alças intestinais (Figura 3). Imediatamente após a manipulação do trato gastrointestinal houve liberação de gás, fazendo com que o estômago e as alças intestinais voltassem à normalidade. A exploração foi realizada no restante do abdômen, e nenhuma outra alteração foi encontrada. O peristaltismo encontrava-se sem alterações. FIGURA 2 Baço encontrado extremamente aumentado durante a laparotomia exploratória. 185

83 FIGURA 3 Alças intestinais encontradas repletas de gás durante a laparotomia exploratória. Após a recuperação cirúrgica e anestésica o animal estava mais disposto. O abdômen estava com aspecto normal, porém o desconforto ocular e o ressecamento nasal persistiam. No dia seguinte o animal foi encaminhado à médica veterinária oftalmologista que realizou o teste lacrimal de Schirmer (TLS) cujo resultado foi de 0mm em 1 minuto em ambos os olhos. Após a prova da fluoresceína foi diagnosticada úlcera de córnea superficial e extensa em ambos os olhos. Toda a córnea e a conjuntiva bulbar superior impregnaram o corante de rosa bengala. Além disso, verificou-se que além dos olhos e do focinho, a mucosa oral também estava ressecada (xerostomia). Houve, portanto, a suspeita de doença sistêmica com repercussão ocular. Foi solicitado PCR para identificação do vírus da cinomose canina, cujo resultado foi negativo. Também foi cogitada a hipótese de síndrome de Sjögren, mas não havia ressecamento de outras mucosas. Como tratamento, o animal recebeu ciclosporina A 0,2% colírio (Ophthalmos ) a cada 12 horas, acetilcisteína 10% colírio (Ophthalmos ) a cada 08 horas, ofloxacino 0,3% colírio (Oflox ), a cada 06 horas, sulfato de condroitina 3% colírio a cada 6 horas, tropicamida 1% colírio (Mydriacyl ) a cada 6 horas (até o retorno) e ácido poliacrílico 0,3% (Refresh gel ) a cada 4 horas. O proprietário foi orientado a aguardar no mínimo 5min entre a instilação de cada colírio. Foi indicado o uso de colar elizabetano e agendadas revisões a cada 48 horas. Por via oral, foi iniciado tratamento com amoxicilina associada ao clavulanato (Synulox ) 20mg/kg a cada 12 horas por 10 dias, interferon alfa 1ml a cada 24h e Gerioox ¼ de comprimido a cada 12 horas. O animal começou a apresentar dificuldade de deglutição, regurgitação alimentar e perda de peso. Devido à xerostomia, foi instituído o uso de saliva artificial (camerlose sódica 10mg/ml Salivan ), seis vezes ao dia, principalmente antes da alimentação, alem de escovação dental diária. As úlceras corneanas estavam reduzindo lentamente. Em poucos dias 186

84 percebeu-se que a mucosa prepucial também estava ressecada, com acúmulo de esmegma na extremidade do prepúcio. O cão, também estava sem defecar a sete dias, regurgitava em quase todas as alimentações e estava perdendo peso gradualmente. Devido aos sinais de xerostomia e xeroftalmia e do ressecamento de outras mucosas, houve a suspeita de síndrome de Sjögren primária. Foi, portanto, instituído o uso de pilocarpina 1% colírio por via oral. A dose inicial foi de 3mg/kg (3 gotas). Após 30 minutos da administração, o animal mostrou salivação excessiva, lubrificação ocular e nasal (Figura 4). Também defecou fezes amolecidas (Figura 5). O efeito durou cerca de 4 horas. Após isso, todas as mucosas voltaram ao ressecamento original. A pilocarpina 1% foi sendo administrada a cada 4 horas, sendo a dose reduzida de acordo com a resposta do animal. FIGURA 4 Lubrificação nasal e ocular 30min após administração de pilocarpina 1% por via oral. FIGURA 5 Aspecto das fezes após 30min da administração de pilocarpina 1% por via oral. O paciente estava há sete dias sem defecar. Diante da xerostomia, da xeroftalmia, do ressecamento de outras mucosas e da resposta positiva após a administração oral de pilocarpina 1%, foi diagnosticada 187

85 síndrome de Sjögren primária. Após 10 dias da administração oral de uma gota de pilocarpina 1% duas vezes ao dia, a secreção nasal e ocular haviam cessado e as úlceras de córnea haviam reduzido em 90%. Entretanto, o ressecamento ocular e oral persistiam após o efeito da pilocarpina cessar. O tratamento oftálmico foi mantido, com ciclosporina A 0,2% colírio (Ophthalmos ) a cada 12 horas, ofloxacino 0,3% colírio (Oflox ), a cada 8 horas e Ácido poliacrílico 0,3% (Refresh gel ) a cada 8 horas. Como a disfagia e as regurgitações continuavam constantes, foi adicionado ao tratamento prednisona (Meticorten ) 1mg/kg vo bid. Após 3 dias do tratamento com corticoide oral o animal apresentou novas ulcerações corneanas em ambos os olhos. Não parecia haver resposta ao tratamento tópico que foi intensificado: gatifloxacino 0,03% colírio (Zymar ) a cada 2 horas, acetilcisteína 10% colírio (Ophthalmos ) a cada 4 horas, tropicamida 1% colírio (Mydriacyl ) a cada 6 horas e Ácido poliacrílico 0,3% (Refresh gel ) a cada 4 horas e ciclosporina A 0,2% colírio (Ophthalmos ) a cada 8 horas. O corticoide oral foi interrompido. No olho direito, as três pequenas úlceras evoluíram rapidamente, e, em 48 horas, já havia descemetocele (Figura 6). No olho esquerdo havia apenas uma úlcera central, mas notadamente profunda, com fluoresceína positiva. Foi indicado um flap conjuntival em 360 no olho direito e um flap de terceira pálpebra no olho esquerdo. O proprietário não autorizou o procedimento cirúrgico. Retornou 4 dias depois. O paciente estava com blefarospasmo, sendo mais intenso no olho direito, demonstrando muita dor. O olho direito estava perfurado. Havia estafiloma, hifema, edema de córnea e de conjuntiva (Figura 7). No olho esquerdo a úlcera estava mais profunda, com exposição da membrana de descemet, não retendo o corante de fluoresceína (Figura 8). O animal foi então submetido à cirurgia oftálmica, onde o bulbo do olho direito foi enucleado e no olho esquerdo foi realizado desbridamento dos bordos da úlcera, aplicação subconjuntival de 0,1ml de gentamicina 40mg/ ml (Gentatec ) e flape de terceira pálpebra. Foi prescrito gatifloxacino 0,03% colírio (Zymar ) a cada 4 horas, acetilcisteína 10% colírio (Ophthalmos ) a cada 4 horas, tropicamida 1% colírio (Mydriacyl ) a cada 6 horas (por sete dias) e ácido poliacrílico 0,3% (Refresh gel ) a cada 6 horas e ciclosporina A 0,2% colírio (Ophthalmos ) a cada 08 horas por 21 dias, até a remoção do flape. Também foi indicado limpeza dos pontos com solução fisiológica a cada 12 horas, cloridrato de tramadol (Dorless ) 2mg/kg a cada 8 horas por três dias, meloxicam (Maxicam ) 0,1mg/kg uma vez ao dia por 5 dias e amoxicilina associada ao clavulanato (Synulox ) 20mg/kg a cada 12 horas por 10 dias. Após 21 dias o flape foi removido e a córnea esquerda estava transparente, apenas com um leucoma central e pequena sinéquia anterior (Figura 9). 188

86 FIGURA 6 Córnea direita apresentando três pontos com descemetocele. Sobre uma das úlceras havia um plug de secreção purulenta (seta). A uveíte anterior é facilmente percebida pela presença de rubeosis iridis. FIGURA 7 Olho direito com estafiloma, hifema, edema de córnea e de conjuntiva. FIGURA 8 Olho esquerdo com úlcera de córnea profunda com exposição da membrana de Descemet. 189

87 FIGURA 9 Olho esquerdo com 21 dias de pós-cirúrgico.nota-se leucoma e sinéquia anterior. As regurgitações diminuíram, mas não cessaram. Por isso, foi realizada radiografia contrastada do esôfago, que revelou a presença de megaesôfago (Figura 10). FIGURA 10 Radiografia contrastada do esôfago demonstrando dilatação na porção cervical e torácica. Após 10 dias da administração oral de pilocarpina 1% a cada 12 horas, a dose foi reduzida para uma gota a cada 24 horas e após a cada 48 horas, até a retirada total na quinta semana, mediante a normalização da produção salivar e TLS com valor de 21mm/min. O ácido poliacrílico 0,3% (Refresh gel ) continuou sendo instilado a cada 6 horas e a ciclosporina A 0,2% colírio (Ophthalmos ) a cada 12 horas, até 15 dias após a remoção do flape, que coincidiu com a 5 semana do tratamento oral. Após este período foi mantida a ciclosporina A 0,2% colírio (Ophthalmos ) a cada 12 horas por três meses e o ácido poliacrílico 0,3% (Refresh gel ) eventualmente, à medida que se apresentava alguma secreção ocular. O animal passou a receber pequenas quantidades de ração seca e água, em plano elevado, 10 a 15 vezes ao dia, cessando as regurgitações. Atualmente, após oito meses, o animal não apresentou mais sinais de xerostomia e xeroftalmia (Figura 11). Eventualmente apresenta uma secreção ocular mucosa leve, e o teste de Schirmer mantém um valor médio 190

88 de 15mm/min. A alimentação fracionada em plano elevado evitou novas regurgitações. A escovação dental foi mantida diariamente. Recuperou 400g de peso corporal, dos 700g que perdeu durante o período da doença. A cada quatro meses são realizados hemograma, avaliação da bioquímica sanguínea e urinálise, e, até o momento, não foram encontradas alterações. FIGURA 11 Cão com lubrificação nasal e ocular, oito meses após o término do tratamento com pilocarpina 1% oral. DISCUSSÃO A síndrome de Sjögren (SS) pode ser classificada como primária quando somente as glândulas exócrinas são acometidas, ou secundária, quando está associada a outras doenças autoimunes como artrite reumatoide e lúpus eritematoso sistêmico (FELBER; DANTAS, 2006; BARBOZA et al., 2008). No caso descrito, houve apenas manifestações compatíveis com a SS primária: ceratoconjuntivite seca com TLS de 0mm/min e rosa bengala positivo com comprometimento córneo-conjuntival; xerostomia e ressecamento de outras mucosas, como a nasal e a genital. Além da xerostomia e da xeroftalmia, o cão apresentou inicialmente inquietação, desconforto abdominal e dilatação gástrica. Como a SS é uma condição rara na medicina veterinária, outros diagnósticos presuntivos foram cogitados. Os achados da ecografia abdominal sugeriram estar ocorrendo a síndrome dilatação gástrica-vólvulo. De acordo com Matthiesen (1998) e Fossum (2002) os sinais clínicos são: intranquilidade, abdômen distendido, esplenomegalia decorrente de rotação passiva do órgão, hipersalivação e choque hipovolêmico. Apesar do paciente não ter apresentado sinais de choque e estar com xerostomia, os demais sinais estavam presentes e bem definidos, além disso, havia grande presença de gás no estômago, detectado na ecografia. Por se tratar de uma condição emergencial, a indicação foi a laparotomia exploratória. Nos casos de dilatação gástrica, a laparotomia, com inspeção das vísceras e reposicionamento dos órgãos, deve ser realizada o mais breve possível (MATTHIESEN, 1998; COSTA et al, 191

89 2000; FOSSUM, 2002). A dilatação gástrica e o acúmulo de gás nas alças intestinais provavelmente tenham sido causados pela motilidade esofágica anormal e pela aerofagia, pois, de acordo com DeNovo (2003), as anormalidades da motilidade esofágica podem induzir à síndrome da dilatação gástrica-vólvulo. A aerofagia é considerada a principal causa de acúmulo de gás no estômago (MATTHIESEN, 1998). Devido à xerostomia, o paciente desenvolveu dificuldade de deglutição, o que provavelmente levou à aerofagia e a dilatação grástrica. O paciente apresentou também ceratoconjuntivite seca (CCS), úlceras de córnea e sinais respiratórios. Todos estes sinais eram compatíveis com cinomose canina de acordo com Gelatt (2003) e Slatter (2005). Na cinomose canina, além da CCS transitória, úlceras corneais graves podem se desenvolver e se tornam refratárias ao tratamento (SLATTER, 2005). O paciente estava com as vacinas atualizadas, mesmo assim foi solicitado PCR para detecção do Morbilivírus. O resultado foi negativo. Sendo a cinomose canina descartada, foi cogitada a SS primária. Em cães, já foram relatados casos de SS primária com sinais clínicos semelhantes aos relatados em humanos: xerostomia e xeroftalmia em associação, ou não, com artrite reumatoide, polimiosite e lúpus eritematoso sistêmico (QUIMBY et al., 1979). Vários estudos tentaram estabelecer critérios diagnósticos para a síndrome de Sjögren, já que não existe um diagnóstico definitivo (LIQUIDATO et al., 2002). Entretanto, de acordo com os critérios de São Francisco para o diagnóstico de SS primária e SS secundária de 1994, um quadro de xeroftalmia e xerostomia, com diagnóstico confirmado de CCS, juntamente com a biópsia da glândula salivar evidenciando sialoadenite focal com infiltração linfocitária, são evidências suficientes para o diagnóstico de SS primária (FELBER; DANTAS, 2006). No caso descrito, a biópsia da glândula salivar não foi realizada. A indicação seria a coleta do material glandular pelo método aberto, submetendo o animal novamente à anestesia geral, já que por biópsia aspirativa por agulha fina a quantidade de material seria insuficiente. Além disso, o recebimento do resultado histopatológico demoraria cerca de 20 dias. Também é relatado que a especificidade deste exame complementar é questionável. Em estudos necrópsicos foram encontrados infiltrados linfocitários focais nas glândulas salivares acessórias de indivíduos sem sinais antemorten de SS (TAKEDA; KOMORY, 1986) Kassan e Moutsopoulos (2004) relatam que, embora a biópsia da glândula salivar seja a chave do diagnóstico, critérios mais recentes permitem a classificação da SS sem a realização deste procedimento. Tendo em vista que o animal apresentava todos os sinais clínicos compatíveis com a doença, a conduta terapêutica foi baseada no diagnóstico clínico. A pilocarpina 1% oral foi instituída de acordo com a orientação de Felberg e Dantas (2006). Os autores relatam que o uso de agonistas muscarínicos por via oral, como a pilocarpina e a cevimelina, atuam nos receptores muscarínicos das glândulas estimulando a secreção salivar e lacrimal, melhorando objetiva e subjetivamente o quadro clínico e causando poucos efeitos colaterais. A secreção salivar pode aumentar 2 a 3 vezes após 15 minutos da administração da primeira dose de pilocarpina oral e se mantém por 4 horas ou mais (VIVINO et al., 1999; KASSAN; MOUTSOPOULOS, 2004). Os principais 192

90 efeitos colaterais da pilocarpina em humanos são: sudorese, fadiga, aumento da frequência urinária, tontura e náuseas (WU et al., 2006). Gelatt (2003) cita que, em cães, os sinais de reação sistêmica à pilocarpina oral são: salivação, emese, diarreia e bradicardia. Após 30 minutos da administração de 3 gotas de pilocarpina 1% por via oral, o paciente apresentou lubrificação nasal, ocular e salivação, e assim permaneceu por 4 horas, corroborando com registros na literatura. Excluindo a salivação excessiva, outros efeitos colaterais não foram observados. Neto e Sugaya (2004) enfatizam que a maior dificuldade no uso da pilocarpina não está nos efeitos colaterais, mas sim na aquisição do fármaco, que é importado a um custo elevado, e na dificuldade no ajuste da dose terapêutica. Como a formulação oral de pilocarpina não foi encontrada, o paciente recebeu a solução oftálmica por via oral, apresentando resultados positivos. A solução oftálmica de pilocarpina já foi utilizada em estudos que comprovaram a eficácia no aumento da secreção salivar (RHODUS; SCHUH, 1991; KASSAN; MOUTSOPOULOS, 2004). Em humanos a dose de pilocarpina oral efetiva é de 2,5 a 5mg por indivíduo até quatro vezes ao dia (VIVINO et al., 1999; WALL et al., 2002; KASSAN; MOUTSOPOULOS, 2004 Wu et al.; 2006). No presente caso, a dose inicial foi de 3mg/kg surtiu um efeito satisfatório e até mesmo exacerbado por 4 horas. Essa dose foi sendo ajustada de maneira subjetiva, ou seja, foi sendo reduzida gradativamente até a dose de 1 gota a cada 12 horas por 10 dias, 1 gota a cada 24 horas por 3 semanas e 1 gota a cada 48 horas até a retirada total na quinta semana. Gelatt (2003) cita a dose inicial de 1 gota de solução oftálmica de pilocarpina 2% por via oral para cada 10kg de peso para o tratamento de ceratoconjuntivite seca grave. O autor orienta que a dose deve ser aumentada até o aparecimento de efeitos colaterais e depois reduzida. Verificamos que a dose inicial de 3mg utilizada para o tratamento de SS em humanos foi uma dose alta, tendo em vista que o cão apresentava massa corporal de 1,4kg. Entretanto a dose mantida de 1mg de pilocarpina 1% a cada 12 horas por 10 dias foi adequada e não ocorreram efeitos colaterais. O tratamento oftálmico foi iniciado tão logo foi observado o aumento da secreção ocular. Com a produção lacrimal nula e a presença de úlceras de córnea foi instituída a administração tópica de ciclosporina A 0,2%, acetilcisteína 10% colírio, ofloxacino 0,3% colírio e, em um segundo momento, gatifloxacino 0,3% colírio, tropicamida 1% colírio, Ácido poliacrílico 0,3% gel oftálmico. Foi indicado o uso de colar elizabetano, entretanto o paciente sempre retornava sem o colar. As úlceras de córnea estavam regredindo lentamente até que ocorreram novas ulcerações que coincidiram com a administração oral de corticoide. A prednisona oral na dose de 1mg/kg duas vezes ao dia foi instituída como protocolo para tratamento de SS de acordo com Rusanen et al. (2007). Os corticosteroides inibem a regeneração epitelial e potencializam a ação das colagenases na córnea em até 15 vezes e aumentam o risco de infecção (SLATTER, 2005). Os efeitos colaterais dos corticoides orais sobre as úlceras de córneas não são tão acentuados como no uso tópico, mesmo assim a prednisona oral foi retirada. É provável que o paciente tenha sofrido autotraumatismo, pois o colar elizabetano não foi utilizado. Casos de CCS aguda podem apresentar-se com ulceração corneana estromal necessitando de terapia clínica agressiva, terapia cirúrgica, ou ambas (GELATT, 2003). Como o proprietário não autorizou o recobrimento conjuntival bulbar na córnea direita, ocorreu perfuração ocular e o bulbo 193

91 teve que ser removido. No olho esquerdo o flape de terceira pálpebra foi realizado com o intuito de proteção e obteve resultado satisfatório. O paciente recebeu antibióticos tópicos de amplo espectro (Ofloxacino e depois gatifloxacino) tendo em vista a gravidade da situação, pois em casos de CCS não complicada o recomendado é utilizar um colírio profilático que contenha cloranfenicol para evitar a resistência bacteriana. O ácido poliacrílico 0,3% foi utilizado como substituto lacrimal. A acetilciteína 10% colírio foi utilizada com o objetivo de minimizar o acúmulo de debris com enzimas degenerativas do colágeno, que contribuem para a inflamação e ulceração da superfície da córnea. A tropicamida 1% colírio teve a função de manter a dilatação pupilar a fim de diminuir o espasmo ciliar e a dor. Em casos de CCS a administração de atropina tópica deve ser evitada, pois exacerba o ressecamento da superfície ocular (GELLAT, 2003). O uso da ciclosporina A tópica retarda a destruição da glândula lacrimal, promove apoptose de linfócitos, suprime apoptose das células acinares e da conjuntiva e reduz a infiltração linfoplasmocitária no tecido glandular, resultando assim no aumento do lacrimejamento e no alívio dos sintomas do olho seco (FELBERG; DANTAS, 2006). Em animais responsivos ao tratamento com a ciclosporina A, o retorno funcional dos tecidos secretores têm sido demonstrado histopatologicamente (GELATT, 2003). O aumento da produção lacrimal do paciente foi devido à ação conjunta da ciclosporina A e da pilocarpina oral. Neste caso houve o retorno funcional da glândula lacrimal, pois, mesmo após a retirada da ciclosporina A, o paciente manteve uma produção lacrimal estável. Por via oral, além da pilocarpina 1% e do tratamento antimicrobiano de suporte, foi prescrito interferon alfa (Biosintética), Gerioox (Labyes) e Saliva artificial (Salivan ). Segundo Felberg; Dantas (2006), o interferon alfa, por via oral, melhora o fluxo salivar. A associação de Óleos ricos em ácidos graxos ómega 3, glucosamina, sulfato de condroitina A, vitamina E, gluconato de cobre, gluconato de zinco e selênio (Gerioox ), possivelmente auxiliam na melhora da qualidade e no aumento da quantidade lacrimal em cães (CAVALLET; WOUK, 2009). A saliva artificial é indicada para aliviar a xerostomia em pacientes humanos com a SS (FREITAS et al., 2004; NETO; SUGAYA, 2004). Neto e Sugaya (2004) descrevem que o uso da substância carboximetil celulose sódica (Salivan Apsen) é indicada para xerostomia de qualquer origem, porém não estimula a produção salivar, apenas alivia os sinais clínicos. No presente caso, o uso da saliva artificial parece ter ajudado na deglutição e ter amenizado a disfagia. Wall et al. (2002) afirmam que em pessoas com xerostomia, a perda de dentes e a presença de cáries são achados comuns, por isso, se faz necessária uma rigorosa higiene bucal. O cão recebeu escovação dental diária a fim de evitar a aderência e proliferação bacteriana. Em relação à acalasia ou megaesôfago, poucos trabalhos relacionam a condição à síndrome. Sheikh e Shaw-Stiffel (1995) descrevem que a disfagia em indivíduoas com SS são causadas pela xerostomia e pela dismotilidade esofágica. Muitos casos de acalasia são diagnosticados como idiopáticos, entretanto. Oliveira e colaboradores (2010) concluíram que a acalasia idiopática do esôfago é na verdade uma doença, provavelmente, de origem autoimune. Após o restabelecimento do fluxo salivar e do manejo da alimentação fracionada em plano elevado, o paciente não apresentou mais regurgitações. 194

92 CONCLUSÃO Apesar de algumas doenças serem raras na medicina veterinária, a hipótese diagnóstica sempre deve ser considerada. Desta forma é importante que médicos veterinários clínicos gerais e especialistas atuem de forma conjunta, para que o diagnóstico definitivo seja confirmado o mais rápido possível e assim, o paciente receba o tratamento correto. A síndrome de Sjögren é extremamente discutida na medicina humana e quase imperceptível na medicina veterinária, porém, todo clínico que se deparar com um quadro de xeroftalmia associado à xerostomia deve suspeitar da doença. REFERÊNCIAS BARBOZA, M.N.C. et al. Correlação entre sinais e sintomas de olho seco em paciente portadores da síndrome de Sjögren. Arquivos Brasileiros de Oftalmologia. v.71, n.4, p , CAVALLET, I.C.R.; WOUK, A.F.P.F. Ácidos graxos essenciais e gerioox no tratamento do olho seco induzido por cirurgia da catarata em cães. Revista Acadêmica de Ciências Agrárias e Ambientais. v.7, n.3, p , COELHO, M.C. et al. Síndrome de Sjögren primária revisão. Sociedade Portuguesa de Medicina Interna. v.9, n.3, p , COSTA, P.R.S. et al. Radicais livres no complexo dilatação/vólvulo gástrico canino revisão. Clínica Veterinária. Ano IV, n.18, p.22-25, DENOVO, R.C. Disease of the Stomach. In: TAMS, T.R. Handbook of Small Animal Gastroenterology. United State: ed. Elsevier cap.5, p FELBERG, S.; DANTAS, P.E.C. Diagnóstico e tratamento da síndrome de Sjögren. Arquivos Brasileiros de Oftalmologia. v.69, n.6, p , FONSECA, E.C.; ARRUDA, G.V.; ROCHA, E.M. Olho seco: etiopatogenia etratamento. Arquivos Brasileiros de Oftalmologia. v. 73, n.2, Disponível em: br/scielo.php?script=sci_arttex&pid=s &ing=en&nrm=iso. Acesso em: 24 set FOSSUM, T.W. Cirurgia de Pequenos Animais. São Paulo: Roca, 2002, p FREITAS, T.M.C. et al. Síndrome de Sjögren: revisão de literatura e acompanhamento de um caso clínico. Revista Brasileira de Otorrinolaringologia. v.70, n.2, p , GATES, J.; HARTNELL, G.G.; GRAMIGNA, G.D. Videofluoroscopy and Swallowing Studies for Neurologic Disease: A Primer. Radiographics. v.26,n.22, Disponível em: Acesso em 24 de setembro de GELLAT, K.N. Manual de Oftalmologia Veterinária. São Paulo: Manole, 2003.p e p KASSAN, S.S.; MOUTSOPOULOS, H.M. Clinical Manifestation and Early Diagnosis of Sjögren Syndrome. Archives of internal Medicine. v.164, n.12, p ,

93 KRAUEL, M.A. et al. Imagen de la patología esofágica en niños y adultos. Sociedad española de Radiologia Médica Disponível em: modules.php?name=posters&idcongresssection=12&d_op=viewposter&sec=&idpape r=1423&part=2&full=&papertype=2&haveportada=1&viewposter=1#top. Acesso em 26 set LIQUIDATO, B.M. et al. Aspectos do diagnóstico na síndrome de Sjögren. Revista Brasileira de Otorrinolaringologia. v. 68,n.3, p , MATTHIENSEN, D.T. Síndrome da dilatação gástrica-vólvulo. In: SLATTER, D. Manual de Cirurgia de Pequenos Animais. 2.ed. São Paulo: Manole. v.1, 1998, p NETO, C.B.; SUGAYA, N.N. Tratamento da xerostomia em pacientes irradiados na região da cabeça e do pescoço Disponível em: php/biociencias/article/viewfile/176/142. Acesso em: 28 set OLIVEIRA, G.C.; LOPES, L.R.; COELHO-NETO, J.S. Acalásia idiopática do esôfago: análise da história clínica e antecedentes na etiologia e perfil dos paciente. Arquivos Brasileiros de Cirurgia, v.23, n.1, QUIMBY, F.W. et al. A disorder of dogs resembling Sjögren s syndrome. Clinical Immunology and Immunopathology. v.12, n.4, p , RHODUS, N.L.; SCHUH, M.J. Effects of pilocarpine on salivary flow in patients with Sjögren s syndrome. Oral Surgery, Oral Medicine, Oral Pathology. v. 72, n.5,p , SHEIKH, S.H.; SHAW-STIFFEL, T.A. The gastrointestinal manifestations of Sjögren`s syndrome. American Journal Gastroenterol. n.90, p.9-14, SLATTER, D. Fundamentos de Oftalmologia Veterinária. São Paulo: Roca p STADES, F.C. et al. Fundamentos de Oftalmologia Veterinária. São Paulo: Manole, 1999, p TAKEDA, Y.; KOMORY, A. Focal lymphocytic infiltration in the human labial salivary glands: a postmortem study. Journal Oral Pathology. v.15, n.2, p.83-86, VIVINO, F.B. et al. Pilocarpine tablets for the treatment of dry mouth and dry eye symptoms in patients with Sjögren syndrome: a randomized, placebo-controlled, fixeddose, multicenter trial. P92-01 Study Group. Archives Internal Medicine. v. 159, n.2,p , WALL, G.C.; MAGARITY, M.L.; PHARM, D.; JUNDT, J.W. Pharmacotherapy of Xerostomia in Primary Sjögren s Syndrome. Medscape Today Disponível em: Acesso em: 28 de setembro de WU, C-H. et al. Pilocarpine Hydroclhoride for the Treatment of Xerostomia in Patients with Sjögren s Syndrome intaiwan A Double-blind, Placebo-controlled Trial. Journal Formos Medical Association. v.105, n.10, p , Recebido em: abr Aceito em: maio

94 Aspectos clínicos e patológicos de hemangiossarcoma em cães: estudo de 62 casos Vanessa Perlin Ferraro de Ávila Anamaria Telles Esmeraldino Maria Inês Witz RESUMO O hemangiossarcoma é uma neoplasia maligna de células endoteliais que ocorre com maior frequência nos cães. Um estudo de 62 casos de hemangiossarcoma em cães, diagnosticados por exame histopatológico, foi revisto para obtenção de dados como idade, sexo, raça, sinais clínicos, localização tumoral, descrição anatomopatológica do tumor e presença de metástase. Nesse estudo observou-se maior ocorrência da neoplasia nas fêmeas (51,61%), na raça SRD (sem raça definida) (35,48%) e na pele (41,94%). A idade média foi 9 a 10 anos, os sinais clínicos foram inespecíficos, e as metástases (11,29%) ocorreram no fígado e linfonodos. Palavras-chave: Canino. Hemangiossarcoma. Histopatologia. Metástase. Clinical and pathological aspects of hemangiosarcoma in dogs: Study of 62 cases ABSTRACT Hemangiosarcoma is a malignant neoplasm of vascular endothelial cells that occurs in dogs. A study of 62 cases of hemangiosarcoma in dogs diagnosed by histopathological examination were reviewed to obtain data such as age, sex, breed, clinical signs, tumoral localisation, anatomopathological description of the tumor and metastases. In this study we observed a higher occurrence of hemangiossarcoma in females (51,61%), mixed breed (35,48%) and skin (41,94%). The average age was 9-10 years, clinical signs were nonspecific and the metastasis (11,29%) occurred in the liver and lymph nodes. Keywords: Canine. Hemangiossarcoma. Histopathology. Metastasis. Vanessa Perlin Ferraro de Ávila é Médica Veterinária, Especialista, Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Ciências Veterinárias da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre/RS. vanessapfa@gmail.com Anamaria Telles Esmeraldino é Professora Dra. Curso de Medicina Veterinária da ULBRA. atelles@portoweb.com.br Maria Inês Witz é Professora, Msc. Curso de Medicina Veterinária da ULBRA. witzmi@gmail.com Endereço para correspondência: Vanessa Perlin Feraro de Ávila. Rua Souza Costa, 636, casa 60. CEP: , Porto Alegre/RS. vanessapfa@gmail.com Veterinária em Foco Veterinária Canoas em Foco, v.8 v.8, n.2, jan./jun. p jan./jun

95 INTRODUÇÃO O hemangiossarcoma, também chamado de angiossarcoma ou hemangioendotelioma maligno, é um tumor maligno de células endoteliais que formam massas sólidas com presença de células inflamatórias e espaços vasculares com conteúdo sanguíneo (JUBB; KENNEDY, 1963; PULLEY; STANNARD, 1990). O hemangiossarcoma ocorre com maior frequência em cães (HARGIS et al., 1992; MORRISON, 2003) adultos com idade de 9 a 10 anos (PULLEY;STANNARD, 1990), representando 2% de todos os tumores nos caninos (MORRISON, 2002a). Dentre as raças mais acometidas está o Pastor Alemão (PULLEY; STANNARD, 1990; BROWN et al., 1985), Labrador, Golden Retriever, Greyhound e Whippet (SCHULTHEISS, 2004). Já o Beagle, Bloodhound, Pointer e Dálmata são raças que desenvolvem hemangiossarcoma na derme (BROWN et al., 1985; SCHULTHEISS, 2004). Em relação à etiologia, há relatos em humanos adultos que a origem do hemangiossarcoma pode estar relacionada com a exposição ao dióxido de tório, aos arsênicos e ao cloreto de vinil (MORRISON, 2002a). Nos cães, a exposição à luz ultravioleta está associada ao surgimento de hemangiossarcoma na pele de animais com pele menos pigmentada ou que tenham rarefação pilosa (HARGIS; FELDMAN, 1991). Essa neoplasia pode ser primária em qualquer tecido, contudo origina-se mais frequentemente no baço (JUBB; KENNEDY, 1963; JONES et al., 2000), fígado, coração e tecido ósseo (JONES et al., 2000). Na pele, tem sido relatado na região prepucial e escrotal de cães (PULLEY; STANNARD, 1990). Quando o hemangiossarcoma é encontrado em múltiplas localizações como baço, fígado, coração, pele e tecido ósseo, é difícil determinar o local de origem da neoplasia e a possibilidade de origem multicêntrica pode ser considerada (PULLEY; STANNARD, 1990). Em relação à metástase, o elevado índice encontrado no hemangiossarcoma deve-se à origem desta neoplasia em células de vasos sanguíneos, proporcionando rápida disseminação de células tumorais por via hematógena e por implantação transabdominal (PAGE; THRALL, 2004). As metástases ocorrem frequentemente nos pulmões e fígado, mas podem ocorrer em qualquer local (MORRISON, 2002a). Animais com hemangiossarcoma exibem uma variedade de sinais clínicos dependendo da localização do tumor primário, presença de metástases (PULLEY; STANNARD, 1990), se houve ruptura do tumor e ou anormalidades de coagulação (MORRISON, 2002a). Frequentemente os sinais são inespecíficos e incluem fraqueza, abdômen distendido, mucosas pálidas e perda de peso (HOSGOOD, 1987; MACEWEN, 2001). Quando o tumor está localizado no 198

96 coração, pode ocorrer tamponamento cardíaco devido ao súbito escapamento de sangue para o interior do saco pericárdio (JONES et al., 2000). Podem ocorrer abafamento dos sons cardíacos na ausculta, dispneia, arritmia e insuficiência cardíaca (MORRISON, 2003). Na pele ocorre alopecia, hemorragia e ulceração (RANDALL ; LESLIE, 2002). O diagnóstico de hemangiossarcoma é feito através dos achados clínicos, laboratoriais, radiográficos, paracentese abdominal e exame histológico (BROWN et al., 1985). O hemagiossarcoma possui macroscopicamente semelhança com hematomas e hiperplasia nodular. Devido a este fato, é importante confirmar o diagnóstico antes de tomar decisões em relação a tratamento e eutanásia. A avaliação histopatológica é essencial para um diagnóstico completo e preciso (MORRISON, 2002a). Os exames laboratoriais de cães e gatos com hemangiossarcoma revelam uma variedade de anormalidades hematológicas como anemia, leucocitose neutrofílica, trombocitopenia e coagulação intravascular disseminada definida pelo aumento da degradação do fibrinogênio e prolongação do tempo coagulação (ativação parcial da tromboplastina ou pró-trombina) (NG; MILLS, 1985). A anemia é o achado mais comum e sua ocorrência pode ser devido à hemorragia intra-abdominal ou pela fragmentação de células sanguíneas e normalmente é regenerativa normocítica normocrômica, caracterizada por policromasia, anisocitose, hipocromasia, reticulocitose e presença de hemácias nucleadas no sangue periférico (MACEWEN, 2001). Em relação a exames radiográficos, a radiografia do tórax pode evidenciar metástase pulmonar, efusão no pericárdio e ou efusão pleural. Radiografia do abdômen pode evidenciar esplenomegalia e hepatomegalia (MORRISON, 2002b). A presença de efusão na cavidade abdominal pode prejudicar a imagem dos órgãos aumentados devido a pouca definição das estruturas intra-abdominais (MORRISON, 2002b). A ultrassonografia abdominal pode ser valiosa para avaliação da textura do baço, do fígado e de outros órgãos para determinar se as lesões na cavidade são características do hemangiossarcoma. As imagens das lesões podem variar, podendo ser completamente anecoicas a anecoicas com áreas hiperecoicas espalhadas por toda lesão (MORRISON, 2002a). O tratamento para hemangiossarcoma é a remoção cirúrgica do tumor. No procedimento cirúrgico deve ser respeitada uma margem de segurança de dois a três centímetros em todos os sentidos ao redor do tumor para que haja remoção total do tumor nos tecidos envolvidos (MACEWEN, 2001). O uso da quimioterapia é um adjuvante para a cirurgia, contribuindo contra o caráter metastático do hemangiossarcoma. Protocolos baseados no uso de doxorrubicina sozinha ou em associação a outros medicamentos quimioterápicos, como a vincristina, ciclofosfamida e metotrexato, são os mais utilizados (PULLEY; STANNARD, 1990; RODARSKI; NARDI, 2004). 199

97 O objetivo desse trabalho é explorar e discutir aspectos clínicos e patológicos de cães com hemangiossarcoma diagnosticados através de exame histopatológico no período de 1999 a 2009 no intuito de fornecer elementos de auxílio ao clínico de pequenos animais, uma vez que esse tumor é frequente na rotina clínica de pequenos animais. MATERIAL E MÉTODOS Realizou-se levantamento dos casos diagnosticados de hemangiossarcoma através de exame histopatológico em cães atendidos no Hospital Veterinário ULBRA Canoas-RS que foram necropsiados ou biopsiados no período de janeiro de 1999 a novembro de Foram computadas as informações sobre raça, idade, sinais clínicos, localização tumoral, descrição macroscópica e microscópica do tumor e presença ou ausência de metástase. As informações sobre as metástases foram obtidas nos registros de necropsias, exames de RX e ultrassonografia, quando existentes. As variáveis estudadas foram agrupadas e analisadas de acordo com os preceitos de estatística descritiva. RESULTADOS E DISCUSSÃO Entre janeiro de 1999 a novembro de 2009 foram diagnosticados 62 casos de hemangiossarcoma de um total 1834 casos de neoplasias em cães no hospital veterinário da ULBRA, representando um porcentual de 3,38%, valor pouco acima da estimativa descrita na literatura, que relata que este tumor representaria 2% de todos os tumores em cães (MORRISON, 2002a). Desses animais, 30 (48,38%) eram machos e 32 fêmeas (51,61%). Na literatura descreve-se uma maior incidência do tumor nos machos (PRYMAK et al., 1998). As raças mais acometidas foram SRD (sem raça definida) com 22 casos (35,48%), Cocker Spaniel 7 (11,29%), Pastor Alemão 6 (9,67%), Poodle 5 (8,06%), Dogue Alemão, Rottweiler com 3(4,83%) casos cada, Boxer com 2 (3,22%) e American Pitbull Terrier, Basset Hound, Collie, Dálmata, Fila Brasileiro, Fox Terrier, Labrador, São Bernardo, Schnauzer, Sharpei, West Highland Terrier com 1(1,61%) caso cada. Em três casos não houve a descrição da raça acometida (4,83%). A literatura refere o Pastor Alemão como a raça mais afetada (PULLEY; STANNARD, 1990; BROWN et al., 1985; MORISON,2003). No presente trabalho, o acometimento mais frequente de cães SRD deve-se provavelmente à localização do hospital veterinário na periferia da capital. A idade variou de três a 20 anos, sendo a média nove e 10 anos conforme PULLEY; STANNARD, (1990). Os sinais clínicos e aspectos clínicos identificados nas anamneses dos cães foram inespecíficos (MACEWEN, 2001) e seguem descritos 200

98 em ordem de maior ocorrência: anorexia, prostração, aumento de volume abdominal, apatia, vômito, algia abdominal, inapetência, emagrecimento progressivo, dispneia, estertores pulmonares, abafamento de som na ausculta e diarreia. O abafamento de som cardíaco na ausculta, dispneia e estertores pulmonares são decorrentes do tamponamento cardíaco devido ao súbito escapamento de sangue para o interior do saco pericárdio (JONES et al., 2000). Os achados de maior importância nos cães necropsiados além dos tumores foram: mucosas pálidas, presença de transudato na cavidade abdominal, hemoperitônio e tamponamento cardíaco. Quanto ao local primário do tumor nos caninos, a pele foi o local mais afetado, ocorrendo em 26 (41,94%) casos. O baço foi o segundo local mais afetado, com 19 ocorrências (30,65%). A forma multicêntrica (localização múltipla dos tumores) manifestou-se em oito casos (12,91%), no coração e átrio direito, foram três casos (4,84%). Outros locais registraram apenas um caso (1,61%) por local: mediastino, bexiga, região infraorbitária, ovário, omento e globo ocular. Em relação à forma multicêntrica, os neoplasmas localizaram-se no baço, fígado, rim, saco pericárdio, átrio direito, miocárdio, pulmões, adrenais, linfonodos, pâncreas e no cérebro. Os autores descrevem que o baço é o órgão mais frequentemente acometido por hemangiossarcoma (JONES et al., 2000). No presente trabalho, o maior número de ocorrência na pele pode ser devido à maior visibilidade deste órgão em relação aos órgãos internos. FIGURA 1 Hemangiossarcoma forma multicêntrica, nódulos de coloração castanha escura e aspecto hemorrágico no pulmão, saco pericárdio e epicárdio (seta). Em relação ao aspecto macroscópico dos tumores, observou-se desde um único até vários nódulos. Estes tiveram variação de tamanho de 0,5 cm a 20 cm de diâmetro. Na superfície e ao corte, apresentaram coloração castanha escura a avermelhada e áreas pardacentas ou brancacentas. A maioria apresentou consistência macia e aspecto hemorrágico, com rupturas ocasionais. A presença de cistos foi observada em dois casos, ambos com presença de líquido sanguinolento. Na pele, todos os nódulos estavam ulcerados e dois fistulados; apresentaram coloração escura e 201

99 algumas situações apresentaram sangramento. Os achados macroscópicos encontrados concordam com os descritos por PULLEY; STANNARD, (1990). FIGURA 2 Hemangiossarcoma no baço apresentando nódulos de coloração castanha escura na superfície. Os exames histopatológicos dos hemangiossarcomas apresentaram proliferação de células endoteliais imaturas formando espaços vasculares com presença ou não de células sanguíneas no seu interior. Também foi observada a presença de trombos, hemorragia, alto índice mitótico, pleomorfismo e invasividade. Quando localizado na pele, ainda observou-se ulceração com infiltração de células polimorfonucleares. Esses achados estão de acordo com PULLEY; STANNARD, (1990). FIGURA 3 Hemangiossarcoma no baço apresentando células endoteliais pleomórficas (seta). Em 7 (11,29%) dos 62 casos ocorreram metástases, sendo o fígado e linfonodos os locais afetados. Nesses casos, o tumor primário encontrava-se no baço em 5 casos e na pele em 2 casos. Quando o local primário acometido foi o baço ocorreu metástase no fígado. Quando a lesão primária ocorreu na pele, a metástase ocorreu nos linfonodos axilar e inguinal. Morrison (2002a) relata os pulmões e o fígado como os locais de maior ocorrência de metástase, porém devido à origem do hemangiossarcoma (células de vasos sanguíneos), pode ocorrer em qualquer órgão (PAGE; THRALL, 2004). 202

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