APLICAÇÃO DO SINAL GNSS EM ATIVIDADES NOWCASTING DE TEMPESTADES SEVERAS NO CONTEXTO DA RBMC
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- Ana Beatriz Filipe de Caminha
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1 Presidente Prudente - SP, de julho de 2017 p APLICAÇÃO DO SINAL GNSS EM ATIVIDADES NOWCASTING DE TEMPESTADES SEVERAS NO CONTEXTO DA RBMC LUIZ FERNANDO SAPUCCI 1 LUIZ AUGUSTO TOLEDO MACHADO 1 ENIUCE MENEZES DE SOUZA 2 THAMIRIS LUIZA BRANDÃO CAMPOS 3 1 CPTEC, Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, Cachoeira Paulista, São Paulo, Brasil. 2 Departamento de Estatística - Universidade Estadual de Maringá. Maringá, Paraná, Brasil; 3 Programa de Pós-Graduação em Meteorologia, INPE, Cachoeira Paulista, São Paulo, Brasil. {luiz.sapucci,luiz.machado}@inpe.br; eniucemenezes@gmail.com; thamiris.campos@cptec.inpe.br RESUMO Os estudos sobre as mudanças climáticas têm indicado um aumento na frequência dos eventos extremos de precipitação, os quais são responsáveis pelos desastres naturais mais impactantes, como as inundações e deslizamentos de encosta. As ferramentas nowcasting baseadas em observações da umidade atmosférica têm a finalidade de dar indícios da ocorrência dos mesmos e apoiar as ações de alerta e monitoramento com o objetivo de amenizar os problemas gerados à sociedade. Entre as diversas formas de quantificar o PWV (Precipitable Water Vapor), a técnica que emprega as observações efetuadas pelas redes de receptores GNSS (Global Navigation Satellite System) destaca-se por fornecer alta resolução temporal a custos relativamente baixos. Um estudo conceitual recente tem demostrado que ao contrário do que outros trabalhos afirmavam os receptores GNSS de forma isolada ( standalone ) podem ser aplicados em atividades nowcasting de eventos extremos de precipitação. Um padrão bem definido foi identificado o qual é caracterizado por uma elevação repentina do conteúdo total de vapor d água, formando uma crista antes da ocorrência de severas tempestades, denominada por GNSS-PWVjump, a qual fornece antecipadamente indicações da ocorrência desses eventos. O presente trabalho visa discutir essa nova aplicação GNSS demostrando sua eficiência e potencial no contexto da RBMC. Palavras chave: Processamento GNSS, PWV-GNSS, GOA-II, GPS-Meteorologia, projeto CHUVA. ABSTRACT - The climate change studies have indicated an increase in the frequency of the severe precipitation events, which are responsible for the natural disasters more dangerous in Brazil, as the floods and landslides. The nowcasting tools (based on humidity observations) are used to anticipate the occurrence of these events, supporting actions for monitoring and alert seeking to minimize the generated problems to society. Among the various ways of quantifying the atmospheric water vapor, the GNSS (Global Navigation Satellite System) receiver must be highlighted because it continuously provides Precipitable Water Vapor (PWV) in high temporal resolution with relatively low cost. A recent conceptual study has demonstrated that standalone GNSS receivers can be explored in nowcasting activities of extreme events of precipitation. A well-defined sharp increase in the GNSS-PWV values before the occurrence of more intense rainfall events was identified denominated by GNSS-PWV jump, which provide in advance indications of the occurrence of those events. The present work discusses this new GNSS application, evidencing the its efficiency and the future potential to use the RBMC data. Key words: GNSS data processing, GNSS-PWV, GOA-II, GPS-Meteorology, CHUVA project. 1 INTRODUÇÃO Nas atividades de previsão imediata de eventos de precipitação intensa, as quais são comumente denominadas pelo termo em inglês nowcasting, tem por principal finalidade a emissão de alertas sobre a ocorrência eminente de uma tempestade. Entre os desastres naturais, aqueles gerados pelas tempestades severas, tais como as inundações e deslizamentos de encosta são os que merecem maior atenção, pois são os que apresentam maiores ocorrências no Brasil. Nesse contexto ferramentas nowcasting eficientes na identificação
2 da severidade da tempestade assume grande importância. O monitoramento do vapor d água atmosférico, que é o combustível para os eventos naturais atmosféricos mais catastróficos, é ainda uma questão em aberto dada a deficiência das técnicas de observação de umidade presente na atmosfera. A ferramenta mais importante para a previsão de tempo é a modelagem numérica, mas para aplicações nowcasting ainda muito precisa ser melhorado para se ter resultados confiáveis e operacionalmente úteis na caracterização dos campos de umidade. Diversas metodologias observacionais têm-se apresentado como soluções para as aplicações nowcasting, tais como radares, radiômetros e outros dispositivos. O vapor d água integrado na atmosfera (PWV-Precipitable Water Vapor) embora não contemple a distribuição vertical é uma importante fonte de informação da evolução temporal dessa variável na atmosfera. As variações temporais do PWV estão associadas com concentração de nuvens, processos convectivos e principalmente com a ocorrência dos principais fenômenos atmosféricos. Entre as diversas formas de quantificar o PWV, a técnica que emprega as observações efetuadas pelas redes de receptores GNSS (Global Navigation Satellite System) (Bevis et al. 1992; Sapucci et al. 2007) destaca-se por fornecer continuamente valores com alta resolução temporal (taxa de amostragem de 1 minuto) e custos relativamente baixos. Essa técnica fornece uma fonte adicional de medidas da umidade atmosférica que, devido à importância do papel que o vapor d água desempenha na atmosfera, deve ser explorada pelas ciências atmosféricas para aplicações nowcasting de eventos de intensa precipitação. A relação entre a ocorrência de intensa precipitação e alta concentração de vapor de água atmosférico é bem conhecida e foi explorada em aplicações de nowcasting (Muller et al. 2009) usando dados de radiômetro de micro-ondas (Chan 2009; Madhulatha et al. 2013). Diversos trabalhos reportam a aplicação de receptores GNSS em conjunto com outros instrumentos para esses fins com bons resultados (Bastin et al. 2005; Bock et al. 2008; Kursinski et al. 2008; Adams et al. 2011; Brenot et al. 2014). Os resultados obtidos por Shi et al. (2015) induziram a conclusão de que os receptores GNSS de forma isolada ( standalone ) não são capazes de prever a ocorrência de eventos de precipitação. No entanto, Sapucci et al. (2016) apresentaram uma metodologia inovadora que empregou apenas dados GPS para identificar com antecedência a ocorrência de tempestades. Nesse trabalho foi feito um estudo conceitual que evidencia a existência de um padrão de comportamento nas variações do PWV-GNSS em alta resolução temporal (um minuto) que revela antecipadamente que irá ocorrer uma tempestade severa. Um padrão bem definido foi identificado que é uma elevação repentina do conteúdo total de vapor d água, formando uma crista antes da ocorrência da precipitação, a qual é muito mais intensa para as precipitações severas. Essa elevação é denominada nesse trabalho por GNSS-PWV-jump em uma referência para outra bem-conhecida ferramenta nowcasting denominada lightning jump. O presente trabalho tem o objetivo de apresentar os benefícios dessa nova aplicação GNSS evidenciando seu potencial para o monitoramento e alerta de desastres naturais associados as tempestades nos grandes centros urbanos do Brasil dentro do contexto da RBMC (Rede Brasileira de Monitoramento Contínuo dos sinais GNSS). Para isso é apresentado uma caracterização do GNSS- PWV-jump com detalhamento da área e período de estudos, bem como a metodologia de processamento utilizada. Detalhes da possível metodologia a ser empregada para a elaboração da ferramenta nowcasting usando apenas dados GNSS são apresentados e por fim é discutido como os dados da RBMC podem ser utilizados nessa nova aplicação. 2 CARACTERIZAÇÃO DO GNSS-PWV-JUMP As evidências que mostram que o sinal GNSS pode ser aplicado na previsão de tempestades já são investigadas a mais de uma década, iniciandose nos trabalhos de Sapucci (2005), que por falta de um experimento adequado de coleta de dados os resultados não foram animadores. Com a realização do projeto temático da Fapesp denominado CHUVA (Cloud processes of the main precipitation systems in Brazil: A contribution to cloud resolving modeling and to the GPM (GlobAl Precipitation Measurement)) (Machado et al. 2014) foi criado um ambiente de pesquisa apropriado para um estudo mais apurado do assunto, pois uma rede de receptores GNSS foi utilizada em conjunto com outros equipamentos destinados a medir e caracterizar os processos precipitantes. As campanhas de coleta de dados do projeto CHUVA foram realizadas em diversas regiões do Brasil focadas nos principais sistemas precipitantes. Os dados usados nessa pesquisa foram coletados na
3 região de São José dos Campos, campanha essa denominada CHUVA-VALE, a qual teve como foco os processos precipitantes associados à convecção profunda. A Figura 1 mostra a disposição dos sítios onde foram coletados os dados de precipitação e a localização do Receptor GNSS. Para a medir a precipitação foram usados um Radar banda X e um disdrometro. Figura 1 Localização espacial dos sítios onde se encontrava o Radar Banda X (Estação UNIV), o receptor GNSS e o disdrometro (estação IEAV). Dos dados GNSS, apenas os dados GPS foram aqui utilizados em um pós-processamento utilizando-se do software GOA-II (Gregorius, 1996) e efemérides precisas fornecidos pelo JPL (Jet Propulsion Laboratory). Estimativas do ZTD foram geradas a cada um minuto e dados meteorológicos de temperatura e pressão foram utilizados para converter em estimativas do PWV, geradas a cada um minuto usando o modelo de Temperatura Média troposférica específico para essa região (Sapucci, 2014). Mais informações sobre o processamento dos dados GPS, bem como os dados de precipitação utilizados podem ser obtidas em Sapucci et al. (2016). A Figura 2 mostra casos típicos que exemplificam o comportamento de PWV antes dos eventos de precipitação que ocorreram nos dias 317, 326 e 341 de O evento observado no dia 341 foi um dos eventos mais fortes registrado durante o experimento CHUVA Vale. Antes do início da precipitação, o GNSS-PWV apresenta vários pulsos que ocasiona um aumento na concentração de vapor, gerando um salto (PWV jump). Esse aumento evolui até que se alcance um valor máximo e depois ocorre um período de diminuição, formando uma crista no GNSS-PWV, na qual depois de alguns minutos observa-se a intensificação da precipitação. Figura 2 Serie temporal dos valores do GNSS-PWV (pontos pretos) e da porcentagem da área de precipitação em torno do receptor GNSS (barras verticais na base da figura) observadas pelo Radar banda X na campanha CHUVA-VALE para os dias 317 (a) 326 (b) e 341 (c) de Uma possível explicação desses jumps na série do PWV são os eventos ondulatórios provenientes de ondas de gravidade geradas pela convecção (Lindzen and Tung 1976) alimentada pela convergência de umidade das regiões vizinhas. Esse processo se mantem até atingir um máximo onde há a saturação e inicia a conversão do estado de vapor para água líquida de nuvem, reduzindo o vapor d água disponível na atmosfera. Essa redução caracteriza a diminuição brusca do PWV, mesmo antes da intensificação da precipitação. A conversão do vapor d água para a água líquida modifica o meio dielétrico onde a refratividade é induzida pelo deslocamento de carga (Solheim et al., 1999). Enquanto a refratividade de vapor d água é devido à natureza polar da molécula de água, o atraso de fase no sinal GNSS induzido pela água líquida (hidro meteoros) é proporcional à permissividade elétrica do meio dielétrico formado, e consequentemente, muito mais baixo do que o atraso gerado pelo vapor d água. O PWV atinge um mínimo, após o máximo da precipitação, e algumas vezes, posteriormente observa-se um aumento devido aos processos de evaporação da água precipitada. Obviamente, há vezes em que o comportamento da série do PWV não obedece completamente ao padrão descrito, em função das inúmeras condições de contorno do sistema, contudo o jump antes dos eventos de precipitação é inegavelmente evidente. Esse padrão de comportamento da série do GNSS-PWV antes da precipitação não é exclusivo
4 para os casos mais intensos, pois os mesmos são também observados em casos de precipitação menos intensa (Sapucci et al. 2016). No entanto, observa-se que a intensidade dessas oscilações (jumps) é maior nas precipitações mais intensas. A análise de wavelet realizada em Sapucci et al. (2016) indica que as oscilações na escala de tempo de 32 a 64 minutos é que são associadas com a mais intensa ocorrência de chuva e sugere que os saltos de GNSS-PWV estão, para os casos de tempestades avaliadas, concentrados nessa escala de tempo e mostra que esse padrão pode ser explorado para aplicações nowcasting. intervalo de tempo da série de precipitação observada pelo radar. 3. GNSS-PWV COMO INDICADOR DE EVENTOS EXTREMOS DE PRECIPITAÇÃO Embora o padrão do GNSS-PWV antes da precipitação descrito na seção anterior seja bem definido, a sua utilização como um sinal para a ocorrência de fortes tempestades não é simples. Com os dados disponíveis diversos estudos foram feitos levando em consideração a intensidade das precipitações. A utilização de apenas um limiar máximo da derivada do GNSS-PWV como utilizado por Iwabuchi et al., (2006) e Shi et al. (2015) não é suficiente para prever as fortes precipitações, pois na natureza os processos responsáveis pela manutenção da água precipitável suspensa na atmosfera são mais complexos, altamente não lineares, o que gera na série uma sucessão de pulsos com crescimento e curto período de retração. Esses pulsos estão associados com a conversão de vapor em água líquida no interior das nuvens impulsionado pela advecção de umidade de outras regiões em um processo de convergência. A intensidade desses pulsos e retração posterior ao mesmo é que está associada com a intensidade da precipitação. Portanto, o que sinaliza a ocorrência de uma tempestade não é uma derivada máxima apenas, mas a distribuição de frequência das derivadas positivas e negativas antes da ocorrência da precipitação. Isso foi feito por Sapucci et al (2016) cujos resultados foram avaliados dividindo o conjunto de eventos de precipitação em três terciles de intensidade. Os períodos sem chuva ou com chuvas de fraca intensidade (tratados como outros casos) foram avaliados e comparados com os terciles. A figura 3 mostra uma adaptação dos resultados encontrados nesse trabalho visando favorecer a discussão sobre a utilização de um receptor GNSS para aplicações nowcasting. As derivadas foram calculadas a cada minuto com o Δt de 6 minutos, pois é esse o Figura 3. Histograma de frequência das derivadas do GNSS-PWV 60 minutos antes dos eventos de precipitação observados pelo radar banda X no experimento CHUVA-VALE (Adaptada de Sapucci et al. 2016). Os resultados da Figura 3 mostram claramente que com a intensificação das precipitações as derivadas nulas (próximas à zero) diminuem significativamente e há um aumento das derivadas positivas de menor intensidade. A moda para o caso das precipitações intensas fica próxima à zero enquanto que para as precipitações mais severas a moda fica próxima de +1 kg m 2 h -1. Observa-se também um aumento significativo das derivadas mais intensas tanto negativa como positiva para os casos dos eventos severos de precipitação. As derivadas positivas mais intensas (maiores que +9,5 kg m 2 h -1 ) estão associados com o GNSS-PWV jump. Enquanto que as intensas derivadas negativas nos casos dos eventos mais severos de precipitação estão associadas com a diminuição da água precipitável disponível devido a precipitação e pela conversão de vapor para água líquida. Observe que para os casos de precipitação mais intensa as derivadas negativas menores que -9,5 kg m 2 h -1 são muito mais frequentes. Esses resultados permitiram que alguns critérios fossem definidos para a elaboração da ferramenta de nowcasting baseada somente em dados GNSS. Sapucci et al. (2016) apontam que (a) o crescimento das derivadas positivas do GNSS-PWV em comparação com as negativas, nas quais o valor médio dessa variação nos últimos 60 minutos antes das tempestades atinge valores positivos e (b) simultaneamente observa-se um crescimento da quantidade das derivadas do GNSS-PWV acima de +9,5 kg m -2 h -1. Os resultados
5 obtidos ainda são baseados em estudos de casos e ainda muito é preciso para a definição da ferramenta nowcasting. Um ponto mais importante é avaliar se os dados GNSS processados em tempo real usando efemérides preditas são capazes de reproduzir esses mesmos padrões antes de eventos severos de precipitação. Uma nova avaliação usando uma base de dados de tempestades mais numerosa, obtidas com os experimentos do CHUVA, deve ser realizada para determinar a eficiência dessa técnica como uma ferramenta nowcasting. Estudos para efetivar essa avaliação estão sendo realizados na continuidade dessa linha de pesquisa dentro do contexto do projeto SOS-CHUVA (Machado, 2015). 4. POTENCIAL DA RBMC EM ATIVIDADES NOWCASTING DE DESASTRES NATURAIS No que se refere as estações meteorológicas junto as estações GNSS, a RBMC possui atualmente uma sub-rede denominada RBMC-MET, que possui estações meteorológicas ligadas diretamente nos receptores GNSS. A figura 4 mostra a distribuição espacial das estações da RBMC com essa característica e demostra o potencial já disponível para essa nova aplicação GNSS. Essas estações meteorológicas são frutos de projetos de pesquisa voltados para a potencialização das redes de receptores GNSS para as aplicações em meteorologia no Brasil, tais como os projetos GNSS-SP (Monico 2006) e SIPEG (Vitorello 2008). Observa-se que há diversas estações dessa rede que já possuem transmissão de dados em tempo real na rede RBMC-IP (estações com círculos azuis na figura 4), e que, portanto, atendem também esse prérequisito. Em uma abordagem visionária dessa nova aplicação GNSS ao usar futuramente os dados da RBMC, é necessário caracterizar adequadamente os pré-requisitos para tal. Um pré-requisito para essa aplicação é a disponibilidade de estações meteorológicas de qualidade (valores de pressão melhores do que 0,3 hpa) junto aos receptores GNSS ou em locais próximos, no qual se tenha acesso aos dados por elas coletados e que se conheça com precisão (+/- 1 m) o desnível entre a antena GNSS e a tomada de pressão do barômetro. Ainda não se tem uma avaliação conclusiva se apenas dados do ZTD, que não precisam de dados meteorológicos, são capazes de antecipar a ocorrência das tempestades. Um outro ponto importante é a transmissão dos dados (GNSS e dados meteorológicos) em tempo real para um centro de processamento. Esse pré-requisito é limitante dada a necessidade de links de internet de alto desempenho. No entanto, se considerar que essa aplicação é mais relevante para os locais onde há grande densidade demográfica, como os grandes centros urbanos, isso deixa de ser uma limitação pois nesses locais as conexões de internet são mais adequadas. Uma outra peça chave nesse processo é um centro de processamento dos dados que os recebendo em tempo real deva trabalhar continuamente gerando as estimativas do GNSS- PWV e calculando o histograma das derivadas de forma operacional initerruptamente. Esses índices devem ser enviados por canais diretos e redundantes para os centros tomadores de decisão na emissão de alertas e monitoramento das áreas de riscos. Figura 4. Distribuição espacial das estações da RBMC que possuem estações meteorológicas nelas integradas (triângulos). No que se refere ao centro operacional de processamento de dados em tempo real há duas possíveis estratégias. Na primeira cada centro regional de meteorologia se responsabiliza por processar os dados GNSS e monitorar o GNSS- PWV jump e junto com a defesa civil age nas atividades locais de mitigação dos efeitos de desastres naturais associados com os eventos de
6 tempestades. Essa estratégia evitaria o fluxo de dados a longa distância e seria mais eficiente na manutenção e correção das falhas tanto na coleta dos dados como na metodologia nowcasting proposta. A segunda estratégia seria através de um grande centro nacional de processamento dos dados, o qual se responsabilizaria pelo processamento e envio das informações para os agentes locais. O EMBRACE (Programa de Estudos e Monitoramento Brasileiro do Clima Espacial) do INPE já tem estado envolvido nessa tarefa, em uma estratégia semelhante para as aplicações de assimilação de dados no CPTEC-INPE e por isso é um natural candidato para a operacionalização dessa atividade. Sabe-se que esse programa tem desenvolvido diversas atividades operacionais para o clima espacial e tem implementado mecanismos eficientes para trabalhar de forma ininterrupta e com redundância de processos como forma de segurança da informação. Além disso, atualmente todos os dados da RBMC já estão sendo enviados para o EMBRACE o que facilitará a operacionalização dessa ferramenta nowcasting quando disponível. Com relação ao uso eficiente dessas informações, para as atividades nowcasting em uma estratégia nacional o Centro de Monitoramento e Alerta de Desastres Naturais (CEMADEN) é o melhor agente para essa função, uma vez que é fruto de uma ação do governo federal buscando dar a sociedade uma resposta para a crescente demanda por um sistema de previsão de ocorrência de desastres em áreas suscetíveis em todo o Brasil. Esse centro tem uma estratégia eficiente de comunicação com os centros regionais e a defesa civil no envio de alertas a respeito de eventos severos e desastres naturais que pode ser explorada. A melhor estratégia entre as duas apresentadas dependerá das iniciativas locais em explorar os dados da RBMC para minimizar os efeitos das tempestades na sociedade. Espera-se que essa nova aplicação seja suficientemente eficiente a ponto de evidenciar a importância da manutenção da mesma, traduzindo em um melhor apoio local e com isso os custos dessa atividade sejam minimizados. 5 CONCLUSÕES Esse trabalho discutiu os benefícios e as limitações do uso dos sinais GNSS coletados pelos receptores da RBMC como uma ferramenta nowcasting de eventos severos de precipitação. Um trabalho recente tem demonstrado que antes dos eventos mais intensos há um padrão característico que antecipa a ocorrência das tempestades e, portanto, podem ser utilizados como um gatilho para emitir alertas sobre possíveis desastres naturais associados com esses fenômenos. Essa nova aplicação GNSS associada com as redes ativas de receptores já implantados nos grandes centros apresenta-se com grande potencial para as aplicações nowcasting com impacto significativo para a sociedade e com baixo custo de implementação. Como as redes ativas já existem para outros propósitos a aplicação para nowcasting é apenas adicionada e quase nada é preciso ser modificado na infraestrutura tanto de coleta como de processamento, o qual faz dessa técnica bastante promissora. AGRADECIMENTOS Os autores agradecem as pessoas que de forma direta ou indireta estiveram envolvidas na coleta dos dados na campanha CHUVA-VALE em São José dos Campos. Essa pesquisa tem sido financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), Processos números 2009/ (Projeto temático CHUVA) e 2015/ (Projeto temático SOS-CHUVA). Agradecimentos também são devidos ao projeto SIPEG (CT-PETRO PETROBRAS e INPE) (Processo número: ) que forneceu os receptores GNSS usados nesse experimento. REFERÊNCIAS ADAMS, D. K., R. M. S. FERNANDES, E. R. KURSINSKI, J. M. MAIA, L. F. SAPUCCI, L. A. T. MACHADO, I. VITORELLO, J. F. G. MONICO, K. L. HOLUB, S. I. GUTMAN, N. FILIZOLA, AND R. A. BENNETT. A dense GNSS meteorological network for observing deep convection in the Amazon. Atmosph. Sci. Lett., 12, , doi: /asl BASTIN, S., C. CHAMPOLLION, O. BOCK, P. DROBINSKI AND F. MASSON. On the use of GPS tomography to investigate water vapor variability during a Mistral/sea breeze event in southeastern France, Geophys. Res. Lett., 32, L05808, doi: /2004gl BEVIS, M. G., S. SUSINGER, T. HERRING, C. ROCKEN, R. A. ANTHES, AND R. WARE. GPS Meteorology: Remote of Atmospheric Water Vapor Using the Global Positioning System. J. Geophys. Res., 97, D14, , doi: /92JD BOCK, O., M. N. BOUIN,E. DOERFLINGER, P. COLLARD, F. MASSON, R. MEYNADIER, S. et al.
7 The West African Monsoon observed with groundbased GPS receivers during AMMA, J. Geophys. Res., 113 (D21105) doi: /2008JD severe convective activity over southeast India using ground-based microwave radiometer observations. J. Geophys. Res., 118, doi: /2012jd018174, 2013 BRENOT, H., A. WALPERSDORF, M. REVERDY, J. VAN BAELEN, V. DUCROCQ, C. CHAMPOLLION, F. MASSON, E. DOERFLINGER, E., COLLARD, P., AND GIROUX, P.: A GPS network for tropospheric tomography in the framework of the Mediterranean hydrometeorological observatory C évennes-vivarais (southeastern France), Atmos. Meas. Tech., 7, , doi: /amt CHAN, P. W. Performance and application of a multiwavelength, ground-based microwave radiometer in intense convective weather. Meteorol. Z., 18, 3, , doi: / /2009/ GREGORIUS, T. GIPSY-OASIS II How it works. Department of Geomatics, University of Newcastle upon Tyne, 167 pp. [Available online at: IWABUCHI, T., C. ROCKEN, Z. LUKES, L. MERVAT, J. JOHNSON, AND M. KANZAKI. PPP and Network True Real-time 30 sec Estimation of ZTD in Dense and Giant Regional GPS Network and the Application of ZTD for Nowcasting of Heavy Rainfall. Proceedings of the 19th International Technical Meeting of the Satellite Division of The Institute of Navigation (ION GNS 2006), KURSINSKI, E. R., R. A. BENNETT, D. GOCHIS, S. I. GUTMAN, K. L. HOLUB, R. MASTALER, C. MINJAREZ SOSA, I. MINJAREZ SOSA, AND T. VAN HOVE. Water vapor and surface observations in northwestern Mexico during the 2004 NAME Enhanced Observing Period, Geophys. Res. Lett., 35, L03815, doi: /2007gl031404, MACHADO, L. A. T., M. A. F. SILVA DIAS, C. MORALES, G. FISCH, D. VILA, R. ALBRECHT, ET AL. The Chuva Project: How Does Convection Vary across Brazil? Bull. Amer. Meteor. Soc., 95, , doi: /BAMS-D MACHADO, L. A. T. Previsão imediata de tempestades intensas e entendimento dos processos físicos no interior das nuvens: o SOS-chuva (Sistema de observação e previsão de tempo severo). Projeto FAPESP na modalidade temático (Processo número: 2015/ ). CPTEC-INPE. Cachoeira Paulista, SP MADHULATHA, A., M. RAJEEVAN, M. VENKAT RATNAM, J. BHATE, AND C. V. NAIDU. Nowcasting MONICO. J. F. G. GNSS: investigações e aplicações no posicionamento geodésico, em estudos relacionados com a atmosfera e na agricultura de precisão. Projeto FAPESP na modalidade temático. Universidade Estadual Paulista. Presidente Prudente, SP MULLER, C. J., L. E. BACK, P. A. O GORMAN, AND K. A. EMANUEL. A model for the relationship between tropical precipitation and column water vapor. Geophys. Res. Lett., 36, L16804, doi: /2009gl039667, SAPUCCI, L. F. Estimativas do IWV utilizando receptores GPS em bases terrestres no Brasil: sinergia entre a Geodésia e a Meteorologia Universidade Estadual Paulista (UNESP), Tese de doutorado em Ciências Cartográficas SAPUCCI, L. F.: Evaluation of Modeling Water- Vapor-Weighted Mean Tropospheric Temperature for GNSS-Integrated Water Vapor Estimates in Brazil. J. Appl. Meteor. Climatol., 53, , doi: /JAMC-D SAPUCCI, L. F., L. A. T. MACHADO, J. F. G. MONICO, A. PLANA-FATTORI,: Intercomparison of Integrated Water Vapor Estimative from multi-sensor in Amazonian Regions. J. Atmos. Oceanic Technol., 24, , doi: SAPUCCI, L.F; MACHADO, L.A.T.; SOUZA, E. M.; CAMPOS, T.L.B. GPS-PWV jumps before intense rain events. Atmos. Meas. Tech. Discuss., doi: /amt , 2016 SHI, J., X. CHAOQIAN, G. JIMING AND G. YANG, Real-Time GPS precise point positioning-based precipitable water vapor estimation for rainfall monitoring and forecasting, IEEE Trans. Geosci. Remote Sens, vol.53, pp , doi: /TGRS SOLHEIM, F. S., J. VIVEKANANDAN, R. H. WARE, AND C. ROCKEN. Propagation delays induced in GPS signals by dry air, water vapor, hydrometeors, and other particulates. J. Geophys. Res., 104, , doi: /1999jd VITORELLO, I. Sistema Integrado de Posicionamento GNSS para Estudos Geodinâmicos. Projeto aprovado e em andamento com recursos da PETROBRAS. Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais - INPE/MCT. São José dos Campos
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