II-288 REDUÇÃO DE SULFATO EM REATOR ANAERÓBIO DE BATELADAS SEQÜENCIAIS CONTENDO BIOMASSA IMOBILIZADA EM CARVÃO VEGETAL
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1 II-288 REDUÇÃO DE SULFATO EM REATOR ANAERÓBIO DE BATELADAS SEQÜENCIAIS CONTENDO BIOMASSA IMOBILIZADA EM CARVÃO VEGETAL Ariovaldo José da Silva () Graduado em Tecnologia Sanitária - modalidade Saneamento pela Unicamp. Mestre em Hidráulica e Saneamento pela Escola de Engenharia de São Carlos Departamento de Hidráulica e Saneamento (EESC/SHS/USP). Doutor em Hidráulica e Saneamento (EESC/SHS/USP). Aline Cardoso Tavares (2) Graduanda em Engenharia Civil pela Escola de Engenharia de São Carlos (EESC/USP). Aluna de Iniciação Científica do Departamento de Hidráulica e Saneamento da Escola de Engenharia de São Carlos Departamento de Hidráulica e Saneamento (EESC/SHS/USP). Arnaldo Sarti () Graduado em Engenharia Química pela Universidade Federal de São Carlos. Mestre em Hidráulica e Saneamento pela Escola de Engenharia de São Carlos Departamento de Hidráulica e Saneamento (EESC/SHS/USP). Doutor em Hidráulica e Saneamento (EESC/SHS/USP). Pesquisador (pós-doutorando) da Escola de Engenharia de São Carlos Departamento de Hidráulica e Saneamento (EESC/SHS/USP). Eugênio Foresti Graduado em Engenharia Civil pela Universidade de São Paulo (USP). Mestre pela Escola de Engenharia de São Carlos (EESC/USP). Doutor pela Escola de Engenharia de São Carlos (EESC/USP). Pós-Doutorado na University of Newcastle Upon Tyne, TYNE, Inglaterra. Professor Titular da Escola de Engenharia de São Carlos Departamento de Hidráulica e Saneamento (EESC/SHS/USP). Endereço () : Rua 9A (Nove A), 6, casa Vila Nova Rio Claro - SP - CEP: Brasil - Tel: (9) ariovaldo_silva@terra.com.br RESUMO A utilização de reatores anaeróbios empregando bactérias redutoras de sulfato é alternativa para tratamento de águas residuárias com a finalidade de remoção de sulfato. Em reatores anaeróbios, as bactérias redutoras de sulfato interagem sintroficamente e competitivamente com bactérias acidogênicas e arqueas metanogênicas. A compreensão dessas interações é importante para a aplicação de processos biológicos anaeróbios com o objetivo de remoção de sulfato em águas residuárias. Reatores anaeróbios operados em bateladas seqüenciais estão sendo extensivamente estudados para o tratamento de águas residuárias diversas. Todavia, o desempenho desses reatores depende das propriedades de granulação do lodo, necessária para a efetiva retenção da biomassa no reator. A imobilização dos microrganismos em suportes inertes tem sido aplicada por eliminar as incertezas quanto a granulação do lodo, melhorar a retenção de biomassa e eliminar a etapa de sedimentação, diminuindo o tempo de ciclo dos sistemas chamados de reatores anaeróbios operados em bateladas seqüenciais convencionais. Pesquisas utilizando carvão vegetal como material suporte, em reatores anaeróbios com biomassa imobilizada, demonstraram que esse tipo de material é ideal para adesão de bactérias redutoras de sulfato. Portanto, neste trabalho avaliou-se o processo de biodessulfatação de água residuária com três relações DQO/[SO 4 2- ] distintas:,2 (condição A),, (condição B), e,4 (condição C) utilizando-se um reator anaeróbio com biomassa imobilizada em carvão vegetal, operado em bateladas seqüenciais. As interações entre bactérias redutoras de sulfato, bactérias acidogênicas, e arqueas metanogênicas foram analisadas por meio de modelação cinética, considerando as principais vias metabólicas para degradação de matéria orgânica por esses microrganismos. As eficiências médias em redução de sulfato tratando água residuária sintética nas condições A, B, e C foram: 98% (±%), 96% (±2%), e 4% (±4%), respectivamente. a modelação cinética foi uma importante ferramenta para avaliação das rotas de consumo de substratos orgânicos envolvendo bactérias redutoras de sulfato, bactérias acidogênicas e arqueas metanogênicas. PALAVRAS-CHAVE: Remoção de sulfato, redução de sulfato, reator anaeróbio, carvão vegetal. ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental
2 INTRODUÇÃO A utilização de reatores anaeróbios empregando bactérias redutoras de sulfato (BRS) é uma alternativa promissora no tratamento de águas residuárias com a finalidade de remoção de sulfato. O sulfeto gerado no processo de biodessulfatação pode ser, posteriormente, oxidado a enxofre elementar que, por sua vez, pode ser recuperado e reutilizado na agricultura ou por indústrias de diversos segmentos. Reatores anaeróbios operados em bateladas seqüenciais (ASBR) estão sendo extensivamente estudados para o tratamento de diversas águas residuárias. Esses reatores funcionam em regime intermitente, em ciclos constituídos de quatro estágios: enchimento, reação, sedimentação e descarte. O desempenho do ASBR convencional depende das propriedades de granulação do lodo, necessária para a efetiva retenção da biomassa no reator (Zaiat et al., 2). A imobilização dos microrganismos em suportes inertes elimina as incertezas quanto a granulação do lodo, melhora a retenção de biomassa e elimina a etapa de sedimentação, diminuindo o tempo de ciclo dos sistemas chamados de ASBR convencionais (Zaiat et al., 2). Ratusznei et al. (2) propuseram e testaram o reator anaeróbio operado em bateladas seqüenciais contendo biomassa imobilizada (ASBBR) em espuma de poliuretano. Em reatores anaeróbios, as bactérias redutoras de sulfato interagem sintroficamente e competitivamente com bactérias acidogênicas (BA) e arqueas metanogênicas (AM). A compreensão dessas interações é importante para a aplicação de processos biológicos anaeróbios com o objetivo de remoção de sulfato em águas residuárias. A utilização de modelos cinéticos possibilita a compreensão das principais vias de utilização de substratos orgânicos em reatores anaeróbios operando com cultura mista de microrganismos, especialmente, em presença de sulfato (Silva, 25). Estudos de adesão microbiana revelaram que carvão vegetal é bom material suporte para adesão de BRS (Silva et al., 22). Dessa forma, o objetivo deste trabalho foi avaliar o desempenho de um ASBBR contendo biomassa imobilizada em carvão vegetal (CV) tratando três relações DQO/[SO 4 2- ] distintas:,2 (condição A),, (condição B), e,4 (condição C). As interações entre BRS, BA e AM foram analisadas por meio de modelação cinética, considerando as principais vias metabólicas das BRS. MATERIAIS E MÉTODOS Reator O ASBBR em escala de bancada foi confeccionado em acrílico, com diâmetro interno de 22 mm e altura de 258 mm, resultando em volume total de litros (Figura ). No interior havia um cesto de aço inox perfurado para acondicionamento de cubos de carvão vegetal com cm de aresta, caracterizado no Centro de Caracterização e Desenvolvimento de Materiais (CCDM) - Laboratório de Análise de Materiais Particulados da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). A área superficial e a porosidade determinada para o CV foi,52 m 2.g - e 42,5%, respectivamente. O reator operou em ciclos de 24 horas, no interior de câmara com temperatura controlada a (±2)ºC e sob agitação mecânica com freqüência de rpm definida por estudo hidrodinâmico, realizado para determinação do tempo de mistura. A agitação foi proporcionada por um agitador marca Fisaton, modelo 7D, com dois impelidores tipo turbina com diâmetro de 6 cm alocados no interior de um cilindro confeccionado em chapa de aço inox perfurada, evitando, dessa forma, o contato com as partículas de carvão. ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 2
3 Figura : Desenho do Reator Anaeróbio de Batelada Seqüencial com Biomassa Imobilizada Água Residuária Sintética A água residuária sintética (ARS) foi preparada conforme protocolo estabelecido por Torres (992), contendo, proteínas (5% da DQO), carboidrato (4% da DQO) e lipídeos (% da DQO), de maneira que resultou em DQO média igual a 94 mg.l -, 996 mg.l -, e 987 mg.l -, nas condições A, B, e C, respectivamente. Na condição A, relação DQO/[SO 4 2- ] igual a,2; a concentração média de sulfato foi igual a 288 mg.l - e nas condições B (relação DQO/[SO 4 2- ]=,) e C (relação DQO/[SO 4 2- ]=,4), as concentrações de sulfato médias foram iguais a 786 mg.l - e mg.l -, respectivamente. Procedimento Operacional O reator operou em ciclos de 24 horas (.44 min) em três períodos: enchimento ( min), reação (.42 min), e descarga ( min). Desde o primeiro até o o ciclo ( dias), adicionou-se lodo de reator anaeróbio de fluxo ascendente e manta de lodo (UASB) tratando água residuária de um abatedouro de aves, como inóculo, em concentração média de 5 mg.l -, com finalidade de formação inicial do biofilme. A partir do º ciclo, o reator foi alimentado somente com ARS. A ARS era preparada em dias alternados e mantida em geladeira (5± o C) para minimizar as reações bioquímicas fora do reator. Durante o período de enchimento, a ARS era bombeada para o ASBBR, utilizando-se bomba dosadora marca Prominent, modelo Concept. Antes de chegar ao reator a ARS passava por um trocador de calor (banho-maria) para elevar a temperatura a o C (±2 C) evitando, dessa forma, choque térmico sobre os microrganismos. Monitoramento As análises de sulfeto total (método iodométrico), ph, potencial redox, DQO, e sulfato [SO 4 2- ], foram realizadas de acordo com o Standard Methods for Examination of Water and Wastewater (APHA, 998), com freqüência de duas vezes por semana. Com a mesma periodicidade determinou-se alcalinidade de acordo com Rypley et al. (986), e ácidos totais voláteis (ATV) conforme Dilallo and Albertson (96). Quando o ASBBR apresentou estabilidade em redução de sulfato realizaram-se perfis temporais das variáveis DQO, [SO 4 2- ] e ácido acético determinado por cromatografia gasosa (Moraes et al., 2) para efeito de modelação cinética. Para eliminar a interferência do sulfeto na determinação da DQO, amostras do efluente do ASBBR foram tratadas com sulfato de zinco em excesso para precipitação do sulfeto insolúvel (ZnS), o qual era removido, posteriormente, por centrifugação e filtração em membrana de,2 µm. ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental
4 As concentrações de metano no biogás foram determinadas por cromatografia gasosa utilizando-se cromatógrafo marca Gow-Mac equipado com detector de condutividade térmica (série 5) e coluna Porapack-Q (comprimento de 2 metros, e diâmetro interno de /4 pol 8/ mesh), utilizando hidrogênio superseco como gás de arraste a vazão de ml.s -. O volume de biogás produzido foi medido por deslocamento de líquido, com ponto de captação de gás na parte superior do reator e na descarga de efluente. O efluente descarregado do reator era transferido para um garrafão de litros, deslocando o ar em direção a um frasco de mariot e, proporcionalmente, deslocando o líquido para a proveta de medição. A diferença entre o volume total de água deslocada do frasco de mariot e o volume drenado do reator correspondeu ao volume de biogás liberado juntamente com o efluente do reator (Silva, 25). Modelação cinética Para identificação das principais rotas de consumo de substratos orgânicos foi utilizado um modelo cinético envolvendo reações de primeira e segunda ordens baseado no diagrama adaptado de Colleran et al. (995) que representa a degradação de moléculas poliméricas em ambiente anaeróbio e com presença de sulfato (Figura 2). O modelo foi simplificado partindo-se da matéria orgânica (MO) representada por polímeros, monômeros e intermediários de fermentação. Ácido acético (Hac) foi considerado como intermediário no modelo para distinção das rotas de degradação de substratos orgânicos: acetogênica e não-acetogência (Figura ). Monômeros BA BRS Produtos de Fermentação BA H 2 e CO 2 BA BA BRS Acetato AM BRS AM BRS CH 4, CO 2 e H 2 S Figura 2: Rota de Degradação de Compostos Orgânicos Monoméricos em Ambiente Anaeróbio com Presença de Sulfato (Adaptado de COLLERAN, 995). MO DQO (S ) SO (S ) k A k S Hac-DQO (S 2 ) k M k S Produtos Finais k 2S Figura : Diagrama do Modelo Cinético Simplificado para Descrição das Rotas de Utilização de Substratos Orgânicos em Reatores Anaeróbios com Presença de Sulfato. Na Figura, S é a matéria orgânica quantificada na forma de DQO, exceto ácido acético, Hac-DQO ou S 2 representa a concentração de ácido acético expressa em DQO, S representa a concentração de sulfato, k A é a constante cinética da reação de primeira ordem que representa o consumo de S por BA, k S é a constante cinética da reação de segunda ordem que representa a oxidação incompleta de S por BRS, k 2S é a constante cinética da reação de segunda ordem que representa a oxidação completa de S pela via não-acetogênica, por BRS, k M é a constante cinética da reação de primeira ordem que representa o consumo de ácido acético (S2) por AM, e k S é a constante cinética de segunda ordem que representa o consumo de Hac (S2) por BRS. O modelo cinético gerou o sistema de equações diferenciais composto pelas Equações a. dcs dt = k CS k CS k CS CS k CS CS () A 2M S 2S ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 4
5 dcs dt dcs dt 2 = k CS + k CS CS k CS k CS CS (2) A S S 2S M 2 S S = k CS CS k CS CS k CS CS () No sistema de equações diferenciais, CS, CS 2, e CS representam as concentrações (mg.l - ) de S, S 2 e S, respectivamente. Esse sistema de equações diferenciais foi resolvido numericamente pelo método de Runge- Kutta de 4 a ordem, utilizando o programa desenvolvido no Microsoft Excel por Debastiani (22). Os valores iniciais das constantes cinéticas (k A, k S, k 2S, k M e k S ) foram arbitrados e, utilizando a ferramenta Solver do Microsoft Excel, foram minimizados os desvios entre os valores teóricos e os observados experimentalmente. Dessa forma, foram obtidos os valores das constantes cinéticas otimizados. Com a obtenção das constantes cinéticas obteve-se o perfil das velocidades aparentes (r ap ) de utilização de substratos orgânicos por BA, BRS e AM. RESULTADOS O ASBBR contendo biomassa imobilizada em carvão vegetal apresentou estabilidade em redução de sulfato a partir do 6 o, 6 o, e 8 o ciclos, tratando água residuária sintética (ARS) conforme as condições A, B, e C, respectivamente. Nessas condições as eficiências médias em redução de sulfato foram: 98% (±%), 96% (±2%), e 4% (±4%) e, as eficiências médias em remoção de DQO foram: 8% (±8%), 56% (±5%), e 69% (±5%), respectivamente. A Tabela apresenta os valores das variáveis monitoradas no efluente do ASBBR durante o tratamento de ARS nas três condições de relação DQO/[SO 4 2- ]:,2;,; e,4. Tabela : Valores Médios das Variáveis Monitoradas no Efluente do ASBBR. Relação DQO/[SO 2-4 ] Variáveis,2,,4 ph 7,2±,2 7,±, 8,±, Alcalinidade Total (mg.l - ) 779±99 97±8.6±222 Alcalinidade a Bicarbonato (mg.l - ) 746±94 76±.2±2 Ácidos Totais Voláteis (mg.l - ) 47±9 9±26 4±22 Sulfato (mg.l - ) 7± 26±5.5±29 Sulfeto (mg.l - ) 44±6 ±2 4±2 DQO (mg.l - ) 7±7 45±47 29±27 Remoção de DQO (%) 8±8 56±5 69±5 Remoção de Sulfato (%) 98± 96±2 4±7 Os valores de concentrações de ATV foram baixos durante o tratamento de ARS nas condições A (47 m g.l - ) e C (4 mg.l -), indicando que a matéria orgânica foi, preferencialmente, degradada pela via não acetogênica e que houve interação sintrófica entre BRS e AM acetoclásticas, as quais consumiram Hac eventualmente excretado pelas BRS que oxidam parcialmente substratos orgânicos e pelas BA. Na condição B, a concentração de ATV média medida no efluente foi maior (9 mg.l - ) indicando que, nessa condição, a matéria orgânica pode ter sido parcialmente oxidada por BRS e houve inibição de microrganismos que consomem ácido acético. Considerando o equilíbrio químico para o H 2 S (Equação 4) e a constante de equilíbrio para a conversão de H 2 S a HS - igual a,5x -8 a o C (LAWRENCE E MCCARTY, 966), as concentrações de H 2 S e HS - foram estimadas a partir da concentração de sulfeto total (Tabela ). Para a condição A, os valores obtidos para essa formas de sulfeto foram: 26±7 mg.l - (59% [ST]) e 8± mg.l - (4% [ST]), respectivamente. Na condição B, tratamento de água residuária sintética com relação DQO/[SO 2-4 ] igual a,; H 2 S representou 5% da concentração de sulfeto total e, na condição C, apenas 7%, indicando predominância do sulfeto como HS -, nessa última condição. + [ HS ][ H ] k = (4) [ H S] 2 ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 5
6 O volume médio de biogás diariamente produzido durante o tratamento de ARS na condição A foi 26 ml, com,8% de metano (CH 4 ). Durante o tratamento de ARS nas condições B e C não foi detectado metano no biogás. Exames por microscopia ótica realizado em amostras do material suporte após o tratamento de ARS na condição B indicaram a presença de morfologias semelhantes a arqueas metanogênicas. Entretanto, a atividade metanogênica nessa condição pode ter sido inibida ou metano foi utilizado como doador de elétrons no processo de biodessulfatação, de acordo com a Equação 5. Na condição C a ausência de atividade metanogênica foi corroborada pelo exame da comunidade microbiana por FISH, na qual não foi detectado arqueas metanogênicas (Silva, 25). A eficiência média em remoção de DQO nessa condição (69%) indica que o processo sulfetogênico foi limitado pela disponibilidade de doadores de elétrons. 2 2 CH 4 + SO4 CO2 + S + 2H 2O (5) As vias de utilização de substratos orgânicos foram identificadas por modelação cinética. As Figuras 4, 5, e 6 apresentam o ajuste do modelo cinético utilizado aos valores das variáveis: DQO, concentração de sulfato, e ácido acético, obtidos experimentalmente, em perfis temporais. A precisão do modelo foi avaliada por teste estatístico de análise de resíduos e de valores extremos. Em todos os casos os testes não foram significativos a nível de 5% indicando similaridade entre os valores teóricos (calculados pelo modelo) e os valores experimentais. Os valores das constantes cinéticas são apresentados na Tabela 2. Concentração, mg.l Tempo, h CS (T) CS2 (T) CS (T) CS (E) CS (E) Figura 4: Ajuste do Modelo Cinético aos Valores Empíricos no Tratamento de Água Residuária Sintética com Relação DQO/[SO 4 2- ] igual a,2. Concentração (mg.l - ) Tempo (h) CS (T) CS2 (T) CS (T) CS (E) CS (E) CS (E) ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 6
7 Figura 5: Ajuste do Modelo Cinético aos Valores Empíricos no Tratamento de Água Residuária Sintética com Relação DQO/[SO 4 2- ] igual a,. Concentração, mg.l Tempo, h CS (T) CS2 (T) CS (T) CS (E) CS2 (E) CS (E) Figura 6: Ajuste do Modelo Cinético aos Valores Empíricos no Tratamento de Água Residuária Sintética com Relação DQO/[SO 4 2- ] igual a,4. Tabela 2: Constantes Cinéticas Determinadas para o ASBBR Contendo Carvão Vegetal Tratando Água Relação DQO/[SO 2-4 ] Residuária Sintética com Relação QO/[SO 4 2- ] igual a,2,,, e,4. k A k M k S k 2S k S L.mg -.h - (h - ) (h - ) L.mg -.h - L.mg -.h -,2 6,64x -2 4,8x - 5,x -4 4,x -4, 4,6x -2 n.d. 2,x -4 5,x -4,4 2,66x -2 n.d. 2,x -4 n.d. Não Determinado. O ajuste do modelo cinético aos dados experimentais indicou que, na condição de tratamento de ARS com relação DQO/[SO 4 2- ] igual a,2; a sulfetogênese foi conduzida somente por BRS oxidadoras incompletas de substratos orgânicos, as quais competiram com BA pela matéria orgânica adicionada (Figura 4). O modelo cinético indicou que, no tratamento de ARS com relação DQO/[SO 4 2- ] igual a, ocorreu interação sintrófica entre BA, BRS, e interação competitiva entre AM e BRS acetoclásticas (Figura 5). Esses resultados indicam que a matéria orgânica adicionada foi, preferencialmente, oxidada a CO 2, via sulfetogênese e metanogênese, concomitantemente. Na condição C, ARS com relação DQO/[SO 4 2- ], os valores das constantes cinéticas indicaram predomínio da sulfetogênese, e que esse processo ocorreu por conta das BRS acetoclásticas (Figura 6). Os resultados obtidos na análise cinética indicaram que o processo de biodessulfatação, nesse estudo, foi mais eficiente no tratamento de ARS com relação DQO/[SO 4 2- ] igual a,. Sulfato foi reduzido a sulfeto por BRS oxidadoras incompletas de substratos orgânicos, oxidadoras completas de substratos orgânicos e acetoclásticas. As Figuras 7, 8, e 9 apresentam os perfis das velocidades aparentes (r ap ) de utilização de substratos orgânicos por bactérias acidogênicas, bactérias redutoras de sulfato e arqueas metanogênicas. ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 7
8 rap (S), mg.l -.h Tempo (h) RA RS RM RS rap (Hac), mg.l -.h - Figura 7: Velocidades de Consumo de Substratos Orgânicos no ASBBR Tratando Água Residuária Sintética com Relação DQO/[SO 4 2- ] igual a,2. Na Figura 7, RA representa a velocidade de utilização de S por BA RS representa a velocidade de utilização de S por BRS oxidadoras incompletas - RM representa a velocidade de utilização de Hac por AM RS representa a velocidade de utilização de Hac por BRS. Nessa figura pode ser observado que S foi mais rapidamente utilizado por BRS oxidadoras incompletas. AM consumiram mais rapidamente Hac do que BRS. rap (S), mg.l -.h Tempo (h) RA R2S RS rap (Hac), mg.l -.h - Figura 8: Velocidades de Consumo de Substratos Orgânicos no ASBBR Tratando Água Residuária Sintética com Relação DQO/[SO 4 2- ] igual a,. Na Figura 8, RA representa a velocidade de utilização S por BA R2S representa a velocidade de utilização de S por BRS oxidadoras completas RS representa a velocidade de utilização de Hac por BRS. S foi consumido mais rapidamente por BRS oxidadoras completas. ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 8
9 rap (S), mg.l -.h Tempo (h) RA RS rap (Hac), mg.l -.h - Figura 9: Velocidades de Consumo de Substratos Orgânicos no ASBBR Tratando Meio Sintético com Relação DQO/[SO 4 2- ] igual a,4. Na Figura 9, RA representa a velocidade de consumo S por BA RS representa a velocidade de consumo de Hac por BRS. CONCLUSÕES Nesse estudo, o ASBBR com biomassa imobilizada em carvão vegetal demonstrou ser aplicável no tratamento de águas residuárias contendo sulfato em processos biológicos anaeróbios. O processo de biodessulfatação utilizando essa configuração de reator é mais eficiente para águas residuárias com relação DQO/[SO 4 2- ] maior ou igual a,. Em casos em que a relação DQO/[SO 4 2- ] na água residuária a ser tratada for menor do que, há necessidade de fonte de carbono e doador de elétrons complementar, como, por exemplo, etanol. Nesse trabalho, a modelação cinética foi uma importante ferramenta para avaliação das rotas de consumo de substratos orgânicos envolvendo bactérias redutoras de sulfato, bactérias acidogênicas e arqueas metanogênicas. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS. APHA, AWWA, WPCF (998). Standard Methods for the Examination of Water and Wastewater, 8 th Edition, American Public Health Association, Whashington. 2. COLLERAN, E., FINNEGAN, S., LENS, P. (995). Anaerobic treatment of sulphate-containing waste streams. Antonie van Leeuwenboek 67, p DEBASTIANI W.G. (22). Resolução numérica utilizando o método Runge-Kutta 4 em Microsoft Excel DILALLO, R., ALBERTSON, E. (96). Volatile acids by direct titration. Journal WPCF, p LAWRENCE, A.W., MCCARTY, P.L. (966). The effects of sulfides on anaerobic treatment. Air and Water Pollut Int J., p MORAES, E. M., ADORNO, M. A. T., ZAIAT, M., FORESTI, E. (2). Determinação de ácidos voláteis por cromatografia gasosa em efluentes de reatores anaeróbios tratando resíduos líquidos e sólidos. Anais, Vol. II da Oficina e Seminário Latino Americano sobre Digestão Anaeróbia, Recife/Pe. 7. RATUSZNEI, S. M., RODRIGUES, J. A. D., CAMARGO, E. F. M., ZAIAT, M., BORZANI, W. (2) Feasibility of a stirred anaerobic sequencing batch reactor containing immobilized biomass for wastewater treatment. Bioresource Technology, 75 (2): RYPLEY, L. E, BOYLE, W. C., CONVERSE, J. C. (986). Improved alkalimetric monitoring for anaerobic digestion of high-strength wastes. Journal of Water Pollution Control Federation 58, p SILVA, A. J., HIRASAWA, J. S., VARESCHE, M. B., FORESTI, E., ZAIAT, M. (22). Evaluation of support materials for the immobilization fo sulphate-reducing bactéria and methanogenic archaea. ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 9
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PERFIL DE DECAIMENTO DA CONCENTRAÇÃO DE ÁCIDOS GRAXOS VOLÁTEIS EM UM REATOR UASB UTILIZADO PARA O TRATAMENTO DE ESGOTO SANITÁRIO E OPERANDO SOB DIFERENTES TEMPOS DE DETENÇÃO HIDRÁULICA Patrícia Procópio
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II083 ESTUDO DA DESNITRIFICAÇÃO EM REATOR COMPARTIMENTADO PARA TRATAMENTO DE ESGOTO PROVENIENTE DE INDÚSTRIA DE TINTAS E VERNIZES Márcio Nemer Machado Sassim (1) Engenheiro Sanitarista formado pela Universidade
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ACOMPANHAMENTO DA PARTIDA DE REATOR UASB ATRAVÉS DA ATIVIDADE METANOGÊNICA ESPECÍFICA AME Antônio Ricardo Mendes BARROS (1); Silvânia Lucas dos SANTOS (2); Francisca Socorro PEIXOTO (3); Heraldo Antunes
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II-311 DESTRUIÇÃO DE AZO-CORANTES COMERCIAIS EM EFLUENTES TÊXTEIS POR PROCESSO FOTOCATALÍTICO Karen Márcia Rodrigues Paiva (1) Graduada em Química Industrial, pela Universidade Estadual da Paraíba, UEPB
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23º Congresso Brasileiro de Engenaria Sanitária e Ambiental X-005 - ALTERNATIVA DE AUTOMAÇÃO DE BAIXO CUSTO PARA SISTEMAS EXPERIMENTAIS EM ESCALA PILOTO PARA TRATAMENTO DE ESGOTO SANITÁRIO Katt Regina
USO DE BACTÉRIAS REDUTORAS DE SULFATO NO TRATAMENTO DE EFLUENTES CONTENDO SULFATO E METAIS
USO DE BACTÉRIAS REDUTORAS DE SULFATO NO TRATAMENTO DE EFLUENTES CONTENDO SULFATO E METAIS Flávia Romero de Oliveira Bolsista de Inic. Científica, Biologia, Univercidade Marise Costa de Mello Co-orientadora,
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22º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 14 a 19 de Setembro 2003 - Joinville - Santa Catarina III-129 - CARACTERIZAÇÃO GRÁFICA-ANALÍTICA DO PROCESSO DE BIOESTABILIZAÇÃO ANAERÓBIO DE
AVALIAÇÃO DA OPERAÇÃO EM REGIME HIDRÁULICO TRANSIENTE DE REATOR UASB E FILTROS ANAERÓBIOS RESUMO
AVALIAÇÃO DA OPERAÇÃO EM REGIME HIDRÁULICO TRANSIENTE DE REATOR UASB E FILTROS ANAERÓBIOS Luciana Sanches, Carlos Augusto L. Chernicharo, Marcos von Sperling e Ronaldo Tâdeu Pena Departamento de Engenharia
OPERAÇÃO DE UM REATOR ANAERÓBIO DE LEITO EXPANDIDO, EM ESCALA REAL, TRATANDO ESGOTO SANITÁRIO SEM UNIDADE PARA RETENÇÃO PRELIMINAR DE SÓLIDOS
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III-043 TRATAMENTO BIOLÓGICO CONJUGADO DE PERCOLADO E ESGOTO SANITÁRIO EM REATOR UASB
III-43 TRATAMENTO BIOLÓGICO CONJUGADO DE PERCOLADO E ESGOTO SANITÁRIO EM REATOR UASB Maria da Conceição Silva Lima (1) Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente pelo PRODEMA (UFPB/UEPB). Tecnóloga Química
INFLUÊNCIA DO ph NO TRATAMENTO DE LIXIVIADO DE ATERRO SANITÁRIO POR PROCESSO DE STRIPPING DE AMÔNIA.
INFLUÊNCIA DO ph NO TRATAMENTO DE LIXIVIADO DE ATERRO SANITÁRIO POR PROCESSO DE STRIPPING DE AMÔNIA. Edilma Rodrigues Bento Dantas 1 Graduanda em Engenharia Sanitária e Ambiental pela Universidade Estadual
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III-268 - ESTUDO DO PROCESSO DE STRIPPING DE NITROGÊNIO AMONIACAL EM LIXIVIADOS DE ATERROS SANITÁRIOS Maria Luciana Dias de Luna (1) Bacharel em Química Industrial. Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente.
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II-353 - TRATAMENTO CONJUGADO DE ESGOTO DOMÉSTICO E LIXIVIADO DE ATERRO SANITÁRIO EM REATORES ANAERÓBIOS DE MANTA DE LODO Priscila Liane Biesdorf Borth (1) Engenheira Ambiental pela Universidade Estadual
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2 o CONGRESSO BRASILEIRO DE ENGENHARIA SANITÁRIA E AMBIENTAL APLICABILIDADE DO REATOR ANAERÓBIO DE FLUXO ASCENDENTE COM MANTA DE LODO PARA O TRATAMENTO DE DEJETOS DE SUÍNOS Gersina Nobre da R. C. Junior
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22º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental
22º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 14 a 19 de Setembro 03 - Joinville - Santa Catarina II-084 - TRATAMENTO ANAERÓBIO TERMOFÍLICO DE EFLUENTE SINTÉTICO DE INDÚSTRIA DE CELULOSE
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APLICAÇÃO DE REATOR ANAERÓBIO EM BATELADAS SEQUENCIAIS PARA TRATAMENTO DE DRENAGEM ÁCIDA DE MINA CASTRO NETO, E.S. 1, AGUIAR, A.B.S. 2, RODRIGUEZ, R.P. 3, SANCINETTI, G.P. 4 1 Universidade Federal de Alfenas
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II-054 - EFEITO DO PH, RELAÇÃO DQO/SULFATO E FONTE DE CARBONO NA BIORREMEDIAÇÃO DE DRENAGEM ÁCIDA DE MINAS (DAM) SINTÉTICA SOB CONDIÇÕES ÁCIDAS EM REATOR UASB Karl Wagner Acerbi Engenheiro Ambiental pela
Titulo do Trabalho APLICAÇÃO DO COAGULANTE TANINO NO TRATAMENTO DA VINHAÇA EM ph NEUTRO
Titulo do Trabalho APLICAÇÃO DO COAGULANTE TANINO NO TRATAMENTO DA VINHAÇA EM ph NEUTRO Nome do Autor (a) Principal Vitor Amigo Vive Nome (s) do Coautor (a) (s) Maria Cristina Rizk, Pedro Miguel Alves
PALAVRAS-CHAVE: Atividade metanogênica específica, AME, bioaumento, lixiviado de aterro sanitário.
III-209 AVALIAÇÃO DA ATIVIDADE METANOGÊNICA ESPECÍFICA (AME) EM REATOR ANAERÓBIO EM BATELADA COM BIOAUMENTO PARA O TRATAMENTO DE LIXIVIADO DE ATERRO SANITÁRIO Maria Carolina Vieira da Rocha Bióloga pela
CONSIDERAÇÕES SOBRE O USO DE MODELOS DE SIMULAÇÃO NO PROJETO DE REATOR ANAERÓBIO HORIZONTAL DE LEITO FIXO
CONSIDERAÇÕES SOBRE O USO DE MODELOS DE SIMULAÇÃO NO PROJETO DE REATOR ANAERÓBIO HORIZONTAL DE LEITO FIXO Marcelo Zaiat (1) Engenheiro Químico e Mestre em Engenharia Química pela Universidade Federal de
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