intervenção de terceiros.
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- Mirella de Sequeira Porto
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1 Intervenção de terceiros Vimos, segundo o art. 506 do NCPC, que a sentença faz coisa julgada às partes em as quais é dada, não prejudicando terceiros. Todavia, existe a possibilidade destes serem atingidos de forma reflexa pela coisa julgada, razão pela qual se justifica o seu ingresso no processo, desde que tenham interesse ou vínculo jurídico no processo. A tal fenômeno processual dá-se o nome de intervenção de terceiros Conceito Portanto, trata-se da possibilidade de um terceiro ingressar no processo, assumindo a condição de parte, desde que demonstre interesse jurídico ligado à relação jurídica material discutida. A intervenção de terceiros repercute: na esfera subjetiva pois amplia as partes. na esfera objetiva pois amplia o objeto do processo, agregando pedido novo, formulado pelo terceiro interveniente. Justamente por isso NÃO CABE intervenção de terceiros: nos Juizados (artigo 10, Lei 9.099/95) na ADI, ADC e ADPF, pois são processos objetivos, onde se discute apenas direito em tese, e não direito subjetivo das partes Espécies São espécies ou modalidades de intervenção de terceiros previstas no NCPC: a) Assistência (arts. 119 a 124); b) Denunciação da lide (arts. 125 a 129); c) Chamamento ao processo (arts. 130 a 132); d) Incidente de desconsideração da personalidade jurídica (arts. 133 a 137); e e) Amicus Curiae (art. 138) Características A intervenção de terceiros pode ser provocada ou espontânea, a depender se a iniciativa é de uma das partes do processo ou do próprio terceiro. Seguindo essa linha de raciocínio, pode-se dizer que, enquanto a assistência é uma espécie de intervenção de terceiro espontâneo, todas as demais modalidades são intervenções provocadas.
2 50 Interessante notar que, quando o terceiro intervém, ele ingressa em um dos pólos do processo como uma parte a mais, coadjuvante à parte original, formando um litisconsórcio ulterior Da Assistência (arts. 119 a 124) A assistência é uma intervenção espontânea, que pode ocorrer em qualquer dos pólos do processo (ativo ou passivo) e em qualquer fase do processo, fundada em interesse jurídico 1 (e não econômico, social ou corporativo). Divide-se em duas espécies: assistência simples(arts. 121 e 122) => é aquele que intervém para auxiliar o assistente na busca pela vitória no processo, por manter com ele uma relação jurídica conexa àquela posta em juízo, sofrendo os efeitos da sentença por via reflexa. Assim, o interesse do terceiro é indireto, ou seja, não é vinculado diretamente ao mérito da causa Ex: sublocatário. Os poderes do assistente simples são mais limitados, pois, embora possa reforçar os argumentos do assistido, requerer provas e recorrer, não pode se opor à transação, à desistência, à renúncia ou ao reconhecimento do pedido feito pela parte principal. É considerado como parte meramente auxiliar. assistência litisconsorcial (arts. 123 e 124) => considera-se assistente litisconsorcial aquele que intervém no processo assumindo condição de parte, em litisconsórcio unitário ulterior com a parte principal (chamada de assistida), sempre que a sentença influir na relação jurídica entre ele e o adversário do assistido. Aqui o interesse do terceiro é direto, isto é, o assistente defende um direito que lhe é próprio, pois se trata na verdade de um co-legitimado que, por algum motivo, não iniciou o processo como parte. Ex: a esposa, que autorizou o marido a mover ação real imobiliária, decide depois ingressar no feito. Ao contrário do assistente simples, seus poderes não são limitados na medida em que detém interesse próprio. Portanto, o assistente litisconsorcial pode assumir posição contrária ao do assistido que desiste, renuncia, confessa, transige do recurso. 1 As pessoas jurídicas de direito público, quais sejam, a União, Estados, DF, Municípios respectivas autarquias e fundações públicas, poderão, nas causas cuja decisão passa ter reflexos, ainda que indiretos, de natureza econômica, INTERVIR, independentemente da demonstração de interesse jurídico. (artigo 5º, caput e parágrafo único da Lei 9469/97). A doutrina considera essa forma de intervenção anômala, pois se dispensa o interesse jurídico. Para Athos G. Carneiro, não se trata de intervenção de terceiros, mas de intervenção da pessoa jurídica de direito público como amicus curiae, que, diante da complexidade técnica ou política da causa, intervém para dar um suporte maior à decisão do juiz. Essa intervenção não é para ser assistente, mas para auxiliar o juízo, elucidando os fatos.
3 51 Ademais, o assistente litisconsorcial fica submetido aos efeitos da coisa julgada (ao contrário do assistente simples que sofrerá apenas uma eficácia preclusiva da intervenção), só podendo discutir o que ficou decidido, em futura demanda processo, quando se tratar das exceções previstas no art. 123 do NCPC Da Denunciação da Lide (arts. 125 a 129) É uma ação secundária, de natureza condenatória, ajuizada em face de um terceiro, no curso de outra ação condenatória principal, com o objetivo de garantir, caso venha a perder a demanda, o direito de regresso contra ele nos mesmos autos. EXEMPLO: - A comprou um carro de B, que foi apreendido, por ter sido clonado; - A move uma ação de indenização contra B; - B denuncia da lide à C (terceiro), que lhe vendeu o veículo; - São duas demandas: a de A x B e a de B x C. Atenção: só haverá necessidade de se julgar a denunciação se o denunciante restar sucumbente na ação principal. Nesse caso, o denunciado, que até então litigava ao seu lado com vistas à vitória, passa a ser seu réu a partir de então 2. A denunciação da lide pode decorrer de: - direito resultante da evicção (inciso I, art. 125) é o exemplo acima citado. Cuidado: Só se admite uma única denunciação da lide sucessiva promovida pelo denunciado contra o seu sucessor imediato ( 2º); ou seja, só cabem no máximo 2 denunciações no processo. Por outro lado, não é cabível a denunciação da lide per saltum, ou seja, aquela feita não ao alienante imediato, mas a qualquer um dos alienantes anteriores (por conta da revogação do art. 456 do CC pelo art , II do NCPC). - direito a indenização em ação regressiva (inciso II, art. 125) abrange todos os casos em que o réu, vencido no processo, poderá voltar-se contra aquele que, pela lei 3 ou contrato 4, terá que indenizá-lo pelos prejuízos decorrentes da sua sucumbência. 2 Interessante notar que o denunciado será, em relação à parte adversária do denunciante, um legitimado extraordinário, defendendo direito alheio em nome próprio, já que não tem qualquer vínculo ou relação jurídica com ele; e, em relação ao denunciante, um litisconsorte unitário, porque ou ambos ganham ou perdem, e, futuramente, seu réu, como já dito.
4 52 A denunciação da lide é uma opção da parte, consoante o 1º do art. 125 (fim à antiga celeuma trazida pelo CPC de 73, que dizia ser obrigatória ). Isso significa que quem não faz a denunciação pode exercer o direito de regresso em uma ação autônoma Do Chamamento ao Processo (arts. 130 a 132) É uma intervenção provocada apenas pelo réu quando este na qualidade de devedor solidário, pretender que os co-obrigados sejam também declarados responsáveis na mesma sentença. Justifica-se pelo vínculo existente solidariamente passiva entre o réu-chamante e o terceiro- chamado. Consequência: formação de um litisconsórcio facultativo passivo simples. O objetivo é a obtenção de um título judicial (sentença) para que aquele que saldou a dívida possa exigi-la, na sua integralidade, do(s) devedor(es) solidário(s) nos mesmos autos (art. 132) Do Incidente da Desconsideração da Personalidade Jurídica (arts. 133 a 137) Consiste no reconhecimento judicial, mediante requerimento da parte ou do MP, de que os bens dos sócios ou administradores da pessoa jurídica respondam pelas dívidas ou obrigações da empresa demandada, desconsiderando provisoriamente a personalidade jurídica desta e permitindo o ingresso no processo dos sócios, garantindo-lhes o contraditório e a ampla defesa (art. 135). A desconsideração inversa também foi expressamente prevista pelo NCPC ( 2º do art. 133): busca-se patrimônio do sócio na pessoa jurídica, permitindo o ingresso desta quando aquele estiver sendo demandado (Ex: em ações de divórcio quando o marido mistura seus bens, cuja meação a esposa tem direito, no patrimônio da empresa, escudando-se por detrás desta). Importante considerar que o que o NCPC regulamenta é o procedimento para que a desconsideração seja efetuada, mas, como bem aponta o 1º do art. 133, os requisitos para admissão estão estabelecidos pela lei material (ex.: art. 50, CC teoria maior: deve-se provar o abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de finalidade ou confusão 3 Exemplo de obrigado pela lei a indenizar o denunciante => o Estado, que vier a perder uma demanda de reparação de danos, pode denunciar o servidor que, em seu nome, acabou praticando o ilícito (art. 37, parágrafo 6º, CF; e art. 43, CC). 4 Exemplo de obrigado pelo contrato a indenizar o denunciante => o segurado, que perde a demanda de reparação de danos acidente de veículo, poderá denunciar a seguradora, que, pelo contrato de seguro, deverá reembolsá-lo dos prejuízos sofridos com a sucumbência.
5 53 patrimonial; e art. 28, 5º, CDC teoria menor: tais elementos são presumidos em favor do consumidor, que é hipossuficiente). Não cabe desconsideração de ofício; ela depende de requerimento da parte ou do MP, quando intervém como fiscal da ordem jurídica (art. 133, caput). É cabível em qualquer fase do processo do processo de conhecimento, incluindo as fases de cumprimento de sentença e recursal, e no processo de execução, os quais ficarão suspensos enquanto o incidente não é analisado e decidido (por decisão interlocutória, contra a qual cabe agravo de instrumento; e se for decisão do relator, caberá agravo interno). De acordo com o 4º do art. 134, o requerimento de desconsideração deve ser fundamentado e feito por petição interlocutória, pois, caso contrário, se for feito junto com o pedido principal na petição inicial, dispensa-se logicamente a instauração do incidente, não havendo que se falar em intervenção de um terceiro, mas sim de citação do sócio ou da pessoa jurídica como réus (art. 134, 2º) Do Amicus Curiae (art. 138) É o amigo da Corte, do tribunal, ou seja, é alguém que intervém para auxiliar o órgão jurisdicional na solução do conflito, que fornece elementos para que este decida de forma melhor. São fundamentos para a intervenção do amicus curiae: - relevância da matéria; - especificidade do tema objeto da demanda; - repercussão social da controvérsia. Exemplos de intervenção no STF: pesquisa com células tronco, aborto de fetos anencéfalos, punição criminal pela publicação de livros de apologia ao nazismo, ensino religioso em escolas públicas, programa Mais Médicos, biografias não autorizadas, importação de pneus usados, etc. Podem ser amicus curiae: - pessoa natural, - pessoa jurídica, - órgão despersonalizado, - entidade especializada. O amicus curiae deve ter representatividade adequada. A atuação pode ser determinada de ofício pelo julgador ou requerida pela parte ou pelo próprio amicus curiae.
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