Direito de propriedade
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- Maria do Pilar Veiga Caetano
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1 FACULDADE DE DIREITO DA UNIVERSIDADE NOVA DE LISBOA Direito de propriedade Uma análise económica ao direito português Josefina Carreira, n.º 2451
2 Sumário 1. Enquadramento legal; 2. Modo de aquisição; 3. Defesa da propriedade; 4. Extinção do direito de propriedade; 5. Importância do registo; 6. Pontos a reter. 1. Enquadramento legal; O direito de propriedade está plasmado e regulado no Código Civil, no TÍTULO II - Do direito de propriedade. Logo, a sua relevância jurídica é evidente, como direito real por excelência. Deste direito sobressai a sua tendente plenitude, uma vez que a propriedade abrange todos os direitos sobre a coisa (geralmente), a sua elasticidade, já que o direito à partida vai alargar-se ao máximo de faculdades possíveis, consoante haja ou não outros direitos reais sobre determinada coisa. Acrescente-se que o direito de propriedade geralmente não tem prazo. Artigo 1305.º (Conteúdo do direito de propriedade) O proprietário goza de modo pleno e exclusivo dos direitos de uso, fruição e disposição das coisas que lhe pertencem, dentro dos limites da lei e com observância das restrições por ela impostas. Todavia, isto não significa que o direito de propriedade seja absoluto, como veremos adiante. Num sentido extrajurídico, nem faria sentido, já que a vida em sociedade o impede que assim seja. É também no seguimento desta constatação que se evoca o princípio da publicidade para que sejam passíveis de conhecimento por outros sujeitos e para segurança do comércio jurídico. A publicidade, embora não seja essencial à validade do negócio jurídico que constitui o direito, é requisito de eficácia relativamente a terceiros e concretiza-se através do Registo predial e de coisas móveis de valor considerável. Artigo 5.º Oponibilidade a terceiros 1 - Os factos sujeitos a registo só produzem efeitos contra terceiros depois da data do respectivo registo. No entanto, quando o proprietário de um automóvel, por exemplo, faz uso do seu automóvel, em princípio à vista de todos, está já espontaneamente a dar publicidade ao seu direito sobre o carro. Em oposição, o registo público deste direito corresponderá a uma publicidade provocada.
3 2. Modo de aquisição: como se adquire o direito de propriedade? O direito português prevê determinados modos de aquisição do direito de propriedade, conforme estipula o art.º 1316º: Por contrato (compra e venda; doação) Sucessão por morte incentivo à constituição de património. Por usucapião Por ocupação (art.1318.º) Por achamento (arts.1323.º e 1324.º) Artigo 1323.º (Animais e coisas móveis perdidas) 1. Aquele que encontrar animal ou outra coisa móvel perdida e souber a quem pertence deve restituir o animal ou a coisa a seu dono, ou avisar este do achado; se não souber a quem pertence, deve anunciar o achado pelo modo mais conveniente, atendendo ao valor da coisa e às possibilidades locais, ou avisar as autoridades, observando os usos da terra, sempre que os haja. 2. Anunciado o achado, o achador faz sua a coisa perdida, se não for reclamada pelo dono dentro do prazo de um ano, a contar do anúncio ou aviso. 3 -Restituída a coisa, o achador tem direito à indemnização do prejuízo havido e das despesas realizadas, bem como a um prémio dependente do valor do achado, no momento da entrega, calculado pela forma seguinte: até ao valor de (euro) 4,99, 10%; sobre o excedente desse valor até (euro) 24,94, 5%; sobre o restante, 2,5%. 4. O achador goza do direito de retenção e não responde, no caso de perda ou deterioração da coisa, senão havendo da sua parte dolo ou culpa grave. Tendo em conta a análise das hipóteses colocadas em aula, verifica-se que as soluções adoptadas pelo nosso direito, partindo da regra da propriedade originária, incentivam uma protecção e procura adequadas, pelo menos por parte do proprietário. Artigo 1324.º (Tesouros) 1. Se aquele que descobrir coisa móvel de algum valor, escondida ou enterrada, não puder determinar quem é o dono dela, torna-se proprietário de metade do achado; a outra metade pertence ao proprietário da coisa móvel ou imóvel onde o tesouro estava escondido ou enterrado. 2. O achador deve anunciar o achado nos termos do n.º 1 do artigo anterior, ou avisar as autoridades, excepto quando seja evidente que o tesouro foi escondido ou enterrado há mais de vinte anos.
4 3. Se o achador não cumprir o disposto no número anterior, ou fizer seu o achado ou parte dele sabendo quem é o dono, ou o ocultar do proprietário da coisa onde ele se encontrava, perde em benefício do Estado os direitos conferidos no n.º 1 deste artigo, sem exclusão dos que lhe possam caber como proprietário. 3. Defesa da propriedade Judicial (relevância da acção de reivindicação) Segundo o art.º 1311.º, o proprietário pode exigir judicialmente de qualquer possuidor ou detentor da coisa o reconhecimento do seu direito de propriedade e a consequente restituição do que lhe pertence. Este direito de reivindicação não prescreve com o tempo, mas também não prejudica os direitos já adquiridos por usucapião (art.º 1313º). Extrajudicial Artº 336º, n. 1 a) acção directa É lícito o recurso à força com o fim de realizar ou assegurar o próprio direito, quando a acção directa for indispensável, pela impossibilidade de recorrer em tempo útil aos meios coercivos normais, para evitar a inutilização prática desse direito, contanto que o agente não exceda o que for necessário para evitar o prejuízo. art.º 1320º b) Direito de tapagem art.º 1356º e segs. c) Recuperação de animais selvagens art.º 1320º, n.º 1 1. Os animais bravios habituados a certa guarida, ordenada por indústria do homem, que mudem para outra guarida de diverso dono ficam pertencendo a este, se não puderem ser individualmente reconhecidos; no caso contrário, pode o antigo dono recuperá-los, contanto que o faça sem prejuízo do outro. Outras formas de defender a propriedade incluem invadir prédio alheio para recuperar coisa que acidentalmente aí se encontre (art. 1349º, n.º 2) e ainda reparar obra defensiva de água situada em prédio alheio para evitar dano eminente (art. 1352º). A privação da propriedade (cfr. 62.º CRP, 1308.º e 1310.º CC) Nacionalização (tem como objecto empresas) Requisição (privação temporária) Confisco (de índole sancionatória) Expropriação
5 Quando a necessidade de expropriação decorra de calamidade pública ou de exigências de segurança interna, é possível recorrer a este processo de imediato. Nos casos restantes, só é possível recorrer à expropriação depois de esgotada a possibilidade de aquisição por via do direito privado, e mediante o pagamento de uma indemnização, por motivo de utilidade pública. Nos termos do art.º 3º do Código das Expropriações, estas devem limitar-se ao necessário à medida que contribuírem para o bem-estar social. Por acessão - quando com a coisa que é propriedade de alguém se une e incorpora a outra coisa que lhe não pertencia (alheia ou res nullis). 4. Como se extingue o direito de propriedade? Perda da coisa De acordo com o n.º 1 do art º do Código Civil, a propriedade dos imóveis abarca o espaço aéreo e o subsolo correspondentes à superfície da coisa, assim como o que nela esta (construído, por exemplo). Os limites materiais que se impõem a este direito pleno derivam do que a lei consagrar e de negócios jurídicos eventualmente celebrados. Desta forma, há que ter em atenção que a perda da coisa não é uma simples destruição, como ilustram o exemplos abaixo citados: A é proprietário de um monte que é arrasado por catástrofe natural. Não obstante o acontecimento, continua a haver objecto do direito de propriedade, embora com novas características físicas (o que antes era uma elevação pode passar a apresentar-se como uma superfície aplanada). Não há desaparecimento: por baixo da superfície há o subsolo de que A já era proprietário antes do desastre natural. Sendo B proprietário de uma fracção autónoma de um prédio urbano que é totalmente demolido em face de um sismo, o direito de propriedade sobre tal fracção extingue-se, à partida, já que a modificação sofrida pela coisa a torna inapta a ser objecto do direito real até ali existente. Abandono (conduta): não se refere a casos de descuido do proprietário, mas sim a um abandono propositado do titular com intuito de não mais ter essa coisa no seu património. Renúncia (negócio jurídico unilateral): o titular do direito, por negócio jurídico unilateral (que deve ser registado), renuncia de forma expressa do seu direito sobre a coisa. É um acto livre, desde que não prejudique terceiros.
6 5. Importância do registo: É no Código do Registo Predial que se reitera o fundamento do princípio da publicidade da situação jurídica dos prédios (rústicos e urbanos): a segurança do comércio imobiliário. Regra geral, há um prazo de 30 dias para que os sujeitos intervenientes procedam ao registo. Caso não o façam no prazo referido, devem entregar o emolumento em dobro (art.º 8º - D n.º 1). Tal como já foi referido, o registo predial português é um sistema de natureza pública. De facto, não há incentivo privado na sua constituição, face aos custos de manutenção e à necessidade de uniformidade nos registos e claro, da sua publicidade. Localmente, são as conservatórias do Registo Predial a terem a cargo esta função, estando ligadas a um serviço central comum, a Direcção Geral de Registos e Notariado, dependente do Ministério da Justiça. 6. Pontos a reter Tal como seria economicamente expectável, o direito de propriedade consagrado no direito português inclui tanto direito de posse como de transferência. Não é, porém, um direito absoluto, na medida em que colida com restrições legais e na eventualidade de gerar externalidades. Atendendo aos benefícios gerados pelo reconhecimento deste direito, nomeadamente o incentivo ao trabalho, ao desenvolvimento, à conservação e à manutenção do bem em causa, o sistema jurídico acaba por comportar os custos ligados ao enforcement da propriedade punir, fiscalizar, manter um sistema de registos, e permitir a negociação e consequente estabelecimento de direitos com alguma margem de liberdade negocial. Um direito de propriedade completo e bem definido transmite confiança aos seus titulares e evita, assim, a ocorrência de disputas e o sobre-investimento em actividades de protecção. Quando se fala de direitos sobre coisas encontradas pela primeira vez, o Código prevê, no caso dos tesouros, que quem descobre torna-se proprietário de metade do achado, enquanto a outra metade pertence ao proprietário da coisa móvel ou imóvel onde o tesouro estava escondido ou enterrado, premiando a procura individual a mais eficiente e, em simultâneo, beneficiando o titular do direito sobre a coisa onde o tesouro se encontrava. O legislador admite, desta feita, o direito de propriedade como incentivo à procura da coisa. No que toca a coisas perdidas, tenha-se em consideração que a situação óptima do ponto de vista socioeconómico é, nos casos em que o proprietário pode procurar o bem perdido, a regra da propriedade original (devolução) acrescida de uma recompensa para terceiro que a encontre. Ora a nossa lei estipula que nestas situações pode o antigo dono recuperá-los, contanto que o faça sem prejuízo do outro. Se não houver recompensa em jogo, apesar de o investimento em procura por parte do proprietário ser o adequado, há um subinvestimento por parte de terceiros, que nada têm a ganhar com isso. Tratando-se de descoberta acidental, a regra da propriedade original prevalece no sistema português, em
7 reconhecimento do não investimento na procura (foi um acaso) e evitando a necessidade de superprotecção. A lei vem ainda reiterar a importância de um sistema público de registos, regulado especialmente pelo Código do Registo Predial, cujas vantagens garantia de uniformidade do registo e desincentivo ao roubo superam os custos administrativos desta empresa. A expropriação existe para situações precisas e restritas, numa demonstração de que a compra e venda é mais eficiente por haver troca voluntária, pelo que o processo de expropriação deve suceder somente nos casos em que o Custo de Oportunidade de determinada troca seja elevado. A compensação exigida legalmente ao Estado vem reequilibrar o bem-estar do proprietário visado. Posto tudo isto, a lei portuguesa protege o direito de propriedade e promove, com esta consagração, a eficiência da protecção e procura de bens, incentivando a constituição de património e garantindo a segurança do comércio jurídico. Consultas efectuadas: Legislação (Código Civil, Código do Registo Predial, Código das Expropriações, CRP) DUARTE, Rui Pinto; Curso de Direitos Reais, Principia, SHAVELL, Steven, "Economic Analysis of Property Law" (2002). Harvard Law School John M. Olin Center for Law, Economics and Business Discussion Paper Series. Paper
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