A primeira missão exploratória promovida pela Cefamol à Índia foi uma oportunidade para descobrir um novo país e um novo mercado, num momento em que

Transcrição

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3 A primeira missão exploratória promovida pela Cefamol à Índia foi uma oportunidade para descobrir um novo país e um novo mercado, num momento em que o se assiste à euforia local (e não só...) pelo renascimento da Índia como economia emergente e com grandes expectativas para o futuro, depois da frustração de décadas de tentativas de desenvolvimento baseado num modelo fechado e de comando e planeamento central (mas num contexto de democracia), e quando por outro lado a indústria portuguesa de moldes sofre alguma erosão da sua rentabilidade pelo crescente dinamismo da oferta asiática, desta vez centrada na China. Existirão oportunidades na Índia para as empresas portuguesas de moldes? Será a Índia uma ameaça como exportador de moldes que venha reforçar as dificuldades já criadas pelas exportações da China? 13

4 Introdução 14 O que se encontrou permite desde já adiantar algumas primeiras respostas: - a Índia atravessa realmente um momento de grande desenvolvimento, com expectativas de renascimento industrial baseado nas competências de engenharia desenvolvidas nas décadas anteriores - a Índia será mais uma oportunidade do que uma ameaça para as empresas portuguesas de moldes, e o momento parece ser muito oportuno, em especial associado ao boom do fabrico de novos modelos de viaturas na Índia, na sequência da entrada dos grandes OEMs e da emergência de uma procura forte local baseada na nova classe média indiana - a dinâmica é dirigida ao mercado interno, e não para o mercado de exportação, e tudo indica que essa trajectória continuará nos próximos anos, dada a insuficiente oferta do sector e as expectativas de crescimento industrial nos próximos anos, gerador de grande procura de moldes e ferramentas. - o investimento estrangeiro não se faz sentir nesta área (ao contrário da China) e de um modo geral o que se encontrou foi o interesse e a expectativa de Portugal como fornecedor competitivo de moldes grandes, complexos, avançados. Ao contrário do que se tem verificado nas visitas à China, não se encontrou do lado indiano qualquer expectativa relativamente a investimento português na Índia. - a Índia continua no entanto a ser um país difícil e complexo para ocidentais, ainda muito marcado pelo aparelho de controlo e regulamentação central, e onde operar precisa de competências locais mas apesar disso parece mais acessível do que a China. Este trabalho pretende reflectir e organizar a informação sobre a Índia actual e o que se encontrou durante a missão. Tratar uma missão empresarial é tarefa ingrata, porque uma missão é sempre um espaço simultaneamente curto e longo. Curto porque é uma oportunidade limitada no tempo e no espaço para conhecer o país visitado, ainda por cima sujeita ao enviesamente que a amostra observada, certamente parcial, não deixa de reflectir. Longo porque a riqueza das observações e a subtileza e a intensidade das vivências acaba por ser de difícil registo e sistematização. Ora o objectivo deste trabalho é precisamente sistematizar a informação a recolher nas visitas a empresas e instituições indianas, que seja pertinente para a Indústria Portuguesa de Moldes e que possa contribuir como memória para a comunidade empresarial, assim como ser útil para a análise comparativa do posicionamento competitivo das Indústrias Portuguesa e Indiana de Moldes e ferramentas especiais, e poder apoiar as empresas portuguesas na sua estratégia concorrêncial naquele mercado, segundo os seus termos de referência. O trabalho organiza-se em três partes. A primeira parte é um portfolio colectivo de 101 imagens colhidas por membros da missão e que reflectem uma certa visão (parcial, certamente) da Índia actual. A segunda parte trata a realidade humana e económica da Índia actual, com ênfase sobre a indústria indiana em geral e a indústria de moldes em particular. Procura-se caracterizar a si-

5 tuação da Índia contrastando os seus dados com os da China, dos USA e de Portugal, tentando dessa forma facilitar a apreensão das realidades que estão por trás dos números e facilitar a interpretação dos indicadores. De um modo geral procura-se sempre algum paralelismo com o que está a acontecer na China a China e a Índia são dois gigantes adormecidos cujo renascimento económico marca os tempos actuais, mas as suas trajectórias são muito diferentes e provavelmente continuarão a ser no futuro, sem prejuízo de continuarem a crescer sob o ponto de vista económico e também de desenvolvimento humano e social. A terceira parte recorda (com imagens) as visitas feitas e o registo de notas conseguido. No primeiro caso (a Mahindra & Mahindra) inclui-se uma análise mais detalhada da empresa, não só pelo seu potencial como cliente da indústria portuguesa, mas também pela importância da sua trajectória como novo construtor indiano de veículos. No final sumaria-se a reunião de debriefing colectivo feita no final da missão, que por si constitui uma súmula colectiva da missão. Os comentários e as conversas estimulantes com todos os membros da missão constituíram para nós uma fonte indispensável de informação e de inspiração, conhecidas que são as nossas limitações. Por isso queremos deixar registado o nosso apreço e agradecimento a todos os companheiros desta missão. 15

6 Introdução 16 O Times of Índia, um dos melhores e mais respeitados diários indianos, publicava a 1 de Março de 2006 uma entrada que fala bem dos tempos que correm na Índia e dos sentimentos que a animam. Recorda-se que estava nessa altura em discussão o novo orçamento apresentado pelo Governo, com uma previsão de crescimento da ordem dos 8 a 10%, a que os media em geral deram grande atenção. Ao mesmo tempo o Presidente dos USA, Geroge Bush visitava a Índia (e depois o Paquistão) numa visita que claramente interpelou de uma maneira ou outra a sociedade indiana. Retomando uma foto famosa de Cartier Breson, dos anos sessenta, e que traduz melhor do que qualquer texto os paradoxos e contradições do modelo de desenvolvimento indiano nas décadas após a independência, o editorial diz que This picture was taken 40 years ago by the celebrated French photographer Henri Cartier Bresson. The caption read: Preparing for a launch at the Tumba Rocket Equatorial Launching Station, housed in a former church. A picture like this is timeless, and tells a story at many levels. It s a story of two Indias an India that is launching a rocket, and an India where a bicycle is being used to transport a vital component of the rocket. Things have come a long way, but there s still a big divide. It s also a reminder of where it all began: if India is envied today for its technological capability, a lot of it is because of the foundation that was laid decades ago. Finally, it s an image of an India that is ready to be launched as a global superpower. There s a cycle of life for everything India s is coming full circle. P.S. for George Bush: This isn t a WMD (weapon of mass destruction), but a symbol of an upwardly mobile India....