História dos Batistas Livres

Transcrição

1 História dos Batistas Livres Pr. Kenneth Eagleton Escola Teológica Batista Livre (ETBL) Campinas, SP 2011

2 História Dos Batistas Livres Para se falar do surgimento dos Batistas Livres, é necessário primeiro falar do surgimento das igrejas Batistas. John Smyth era pregador Anglicano (Igreja da Inglaterra) que se uniu ao movimento Puritano na Inglaterra. Como a Igreja da Inglaterra não aceitou reformas reivindicadas pelos Puritanos, Smyth e sua congregação se tornaram separatistas, querendo deixar a Igreja da Inglaterra. Isto suscitou uma grande perseguição que levou a igreja inteira a se mudar para Amsterdã, na Holanda, em 1609 em busca de liberdade religiosa. Lá John Smyth se convenceu do ensino bíblico do batismo de pessoas crentes que se arrependeram e que confessam a sua fé em Jesus Cristo. Smyth e toda sua congregação de 40 membros foram batizados e nasceu a primeira igreja Batista em Esta igreja seguia os ensinos bíblicos de Jacob Arminius (Tiago Armínio), crendo na eleição condicionada à fé, na propiciação universal de Cristo, na graça resistível, e na necessidade de perseverança do crente (em oposição ao calvinismo). Em 1611/ esta igreja se dividiu e uma parte voltou à Inglaterra sob a liderança de Thomas Helwys e formou a primeira Igreja Batista em solo inglês. Estes primeiros batistas posteriormente foram conhecidos como Batistas Gerais por causa de um outro grupo de batistas que surgiu em 1633 (os Batistas Particulares ) que possuíam princípios batistas (batismo de crentes, separação de igreja e Estado, o senhorio de Cristo e forma de governo congregacional), mas que tinham uma doutrina calvinista quanto à salvação. A primeira igreja Batista em solo Americano surgiu em 1639 e era de doutrina arminiana. Assim nasceram os Batistas. O nome "Os do Livre Arbítrio" ( Free-willers em inglês) veio a ser usado como sinônimo para os Batistas Gerais desde 1659, e logo veio a ser o nome de alguns grupos que eram Batistas em sua política eclesiástica e arminianos em sua teologia. O surgimento dos Batistas Livres (Free Will Baptist, literalmente, Batistas do Livre Arbítrio ) pode ser traçado às influências dos Batistas Gerais de linha arminiana da Inglaterra que imigraram para a América do Norte. A denominação nasceu em várias frentes diferentes quase que ao mesmo tempo; mas duas destas frentes se destacam. O movimento do sul, ou de Palmer, surgiu em 1727 quando Paul Palmer, um Batista Geral, organizou uma igreja em Chowan County, na Carolina do Norte, Estados Unidos. Palmer e seus colaboradores, os primos Joseph e William Parker, logo começaram a ser chamados derrisoriamente de os Batistas do Livre Arbítrio pelos inimigos da igreja. As igrejas fundadas por Palmer e Parker acabaram aceitando o nome Batista do Livre Arbítrio. James Roach, o sucessor de Joseph Parker, assinou a primeira "Confissão de Fé dos Batistas do Livre Arbítrio" em Era quase uma cópia ao pé da letra da Confissão de Fé dos Batistas Gerais da Inglaterra escrito em Enquanto que a força do movimento Batista do Livre Arbítrio no sul se concentrava nesta época nas Carolinas (Carolina do Norte e Carolina do Sul), os Batistas do Livre Arbítrio do sul poderiam ser encontrados também nos estados de Geórgia, Alabama, Florida e Tennessee. 1 Divergência de datas nas diferentes fontes consultadas. 1

3 Estas áreas ficaram sob a influencia dos Batistas do Livre Arbítrio à medida em que os Batistas do Livre Arbítrio das Carolinas começaram a migrar para o sul e o oeste, em território pioneiro. A segunda origem foi o movimento do norte, ou de Randall, que se iniciou com uma igreja organizada por Benjamin Randall em 30 de junho de 1780 em New Durham, estado de New Hampshire. Randall havia se convertido em 1770 após ouvir o último sermão de George Witfield (que morreu no dia seguinte). Randall se afiliou a uma igreja Congregacional em 1773, mas saiu dois anos mais tarde por não concordar com a prática do batismo infantil. Ele e alguns amigos íntimos se retiraram da igreja Congregacional em maio de 1775 e se filiaram à igreja Batista em Berwick, Maine, em Outubro de A igreja de Berwick, como a maioria das igrejas Batistas na Nova Inglaterra nesta época, era calvinista. Randall logo começou a questionar a doutrina da predestinação que encontrou ali e começou a se pronunciar não somente a respeito do livre arbítrio do homem em matéria de salvação, mas também a respeito da sua crença na expiação universal de Cristo. Ele foi duramente criticado e logo foi excomungado pela igreja de Berwick por sua adesão aos princípios arminianos. Dali ele foi fazer parte de um grupo de Batistas em New Durham, New Hampshire, que o tinham convidado em Março de 1778 e eventualmente estabeleceu a primeira igreja Batista do Livre Arbítrio no norte em Randall começou a pregar a sua doutrina do livre arbítrio em todo o New Hampshire e Maine e logo outras igrejas Batistas do Livre Arbítrio foram iniciadas. Foram organizadas associações de igrejas, escolas, um jornal, uma gráfica e editora e agencias de missões estrangeiras (1833) e de missões nacionais (1834). Cem anos após o seu nascimento no norte, a denominação tinha igrejas com membros, 4 institutos, 6 faculdades e 4 seminários. Os dois movimentos Batistas Livres (Free Will Baptist) ensinavam a gratuidade da graça, da salvação e o livre arbítrio, apesar de não existir uma ligação oficial entre os dois. O movimento do norte se expandiu mais rapidamente e se estendeu para o oeste e sudoeste. Em houve uma fusão entre esta organização e a denominação dos Batistas do Norte (Northern Baptist), com doutrina calvinista, perdendo-se 857 igrejas (de um total de cerca de 1.100) e todo o patrimônio da denominação, inclusive várias faculdades. Em 28 de dezembro de 1916, representantes das igrejas que não se juntaram à fusão formaram a Associação Cooperativa Geral das Igrejas Batistas Livres (Cooperative General Association of Free Will Baptists). As igrejas Batistas Livres do sudeste dos Estados Unidos, descendentes do movimento Palmer, tinham mostrado um relacionamento fraternal com os do movimento Randall no norte e no oeste, mas a questão da escravidão e a Guerra Civil dos Estados Unidos ( ) impediram uma união formal entre os dois movimentos. As igrejas do movimento Palmer tinham se organizado em várias associações desde bem cedo e finalmente se organizaram em uma única associação, a Conferência Geral (General Conference), em Estas últimas igrejas não foram afetadas pela fusão no norte. Agora que os remanescentes do movimento Randall tinham se organizado na Associação Cooperativa Geral e os do movimento Palmer na Conferência Geral, era inevitável que a fusão entre estas duas correntes ocorresse. Em 5 de novembro de 1935 em Nashville, no 2

4 Tennessee, representantes destes dois grupos se reuniram e organizaram a Associação Nacional dos Batistas Livres dos Estados Unidos. Esta associação adotou o Manual de Fé e Prática dos Batistas Livres que descreve as doutrinas básicas, a fé e as práticas que têm caracterizado os Batistas Livres através dos anos. Este documento serve como guia para uma comunhão denominacional em que contam mais de igrejas em 42 estados americanos e cerca de igrejas em 15 países estrangeiros (2010) afiliados a Comunhão Internacional das Igrejas Batistas Livres. Existem ainda outras igrejas Batistas Livres iniciadas por grupos de Batistas Livres não afiliados a Comunhão Internacional (Haití, Chili, Costa Rica, Romênia, Libéria, Filipinas, Bangladesh e Guiné) e parceirias com igrejas Batistas de linha arminiana em locais como a Ucrânia, Rússia, Cazaquistão e outros países da Ásia Central. No mesmo ano em que a Associação Nacional dos Batistas Livres dos Estados Unidos foi formada (1935), uma junta de Missões Estrangeiras da Associação também foi organizada. A senhorita Laura Belle Barnard foi a primeira missionária comissionada por esta junta e enviada para abrir um campo missionário na Índia (1935). Em 1936 Thomas Willey e família foram enviados ao Panamá. Por razões políticas tiveram que deixar o Panamá e se transferiram para Cuba em Na década de 50 foram abertos trabalhos nos países de Japão, Costa do Marfim (África), e Brasil. Na década de 60 foi reaberto o trabalho no Panamá e depois no Uruguai. Na década de 70 foi a vez de França e Espanha. Depois do ano 2000 foram abertos os campos da Coréia do Sul e da Bulgária. As igrejas iniciadas nestes países começaram a enviar missionários para outros países, o que tem resultado em novas igrejas em Nepal, Senegal, China, Pakistão, Iran e Kênia, elevando o número de países com igrejas Batistas Livres para pelo menos 30. A Comunhão Internacional das Igrejas Batistas Livres ( foi fundada em 1995 com o objetivo de unir as igrejas Batistas Livres do mundo inteiro com o propósito de identificação, comunhão e edificação e encorajamento mútuos com o objetivo de melhor cumprir a Grande Comissão de evangelizar e estabelecer igrejas entre todos os povos. A Comunhão se reune em plenária a cada 3 anos, sendo a próxima reunião marcada para o Brasil em Os Batistas Livres no Brasil Em outubro de 1957 o Pr. Thomas Willey e sua esposa Mabel, missionários norteamericanos em Cuba, vieram ao Brasil em viagem de pesquisa e preparação para o envio de missionários pela Junta de Missões ao Estrangeiro da Associação das Igrejas Batistas Livres dos Estados Unidos (National Association of Free Will Baptsits). Durante esta visita, contatos importantes foram feitos; entre eles com um pastor brasileiro, Waldemar Daminelli, na cidade de Campinas, estado de São Paulo, que iniciava uma nova igreja ainda não organizada. Em 2 de janeiro de 1958 chegava ao Brasil o primeiro missionário, Dave Franks, para trabalhar em solo brasileiro. Pouco tempo depois foi firmado um acordo entre a Missão Batista Livre e Waldemar Daminelli para que a igreja que este último iniciara em Campinas se filiasse aos Batistas Livres. Esta foi a primeira igreja Batista Livre no Brasil, organizada em 3

5 abril de Nesta igreja começou a funcionar o primeiro instituto bíblico em Funcionou por um ano tendo 4 alunos: Laércio Miguel da Silva, Dilermando dos Santos, Israel Bjork e Emílio Pereira da Guarda. Uma clínica médica também funcionou na igreja de 1962 a 1964, para atendimento ao público carente. Além do Pastor Dave, outros missionários Batistas Livres começaram a chegar ao Brasil. Nos próximos 10 anos foram mais 9 casais e 3 moças solteiras. O primeiro casal a chegar foi Pastor Ken Eagleton com a esposa Marvis e um filho de 2 anos (Kenneth) em julho de Todos os missionários, ao chegarem ao Brasil, passavam pela escola de língua portuguesa em Campinas. Outros trabalhos foram abertos em outras cidades do estado de São Paulo: Jaboticabal (Pr. Samuel Wilkinson e Israel Carlos Bjork) em 1961 e Araras (Pr. Bobby Roberto Aycock e Laércio Miguel da Silva), Ribeirão Preto (Pr. Bobby Poole e Dilermando dos Santos) e Pirassununga (Pr. Roberto Aycock e Emílio Pereira da Guarda) em 1962 e Piracicaba (Pr. Donald Robirds) em 1965 (esta última foi posteriormente fechada). Em 1964 uma chácara, que se denominou Evangelândia, foi adquirida nas imediações de Jaboticabal para a realização de acampamentos, retiros e o funcionamento do Seminário e Instituto Bíblico (início em Março de 1965). Em meados da década de 60, o trabalho começou a expandir para outros estados. Uma igreja foi implantada em 1965 em Santana do Livramento, RS, na fronteira com o Uruguai (fechada posteriormente). Em 1970 foi a vez de Tubarão, SC, receber uma igreja (Pr. Jim Combs, Pr. John Craft e Pr. Samuel Wilkinson), mas foi fechada pouco tempo depois devido a uma enchente que praticamente destruiu a cidade em Na década de 70 o trabalho se expandiu para o estado de Minas Gerais, com abertura de igrejas em Conselheiro Lafaiete (Pr. Ernie Moisés Deeds e Pr. Dave Franks), Barbacena (Pr. Roberto Aycock e James Sturgill), Uberaba (Pr. Louis Coscia) e Uberlândia (Pr. Thomas Hughes). Na década seguinte foi aberto um trabalho na capital do estado, Belo Horizonte (Pr. Dave Franks). Nas cidades onde as primeiras igrejas tinham sido implantadas, congregações foram iniciadas em outros bairros. Além do trabalho de implantação de igrejas, a Missão Batista Livre tem se empenhado em vários outros ministérios. Seminários e Institutos Bíblicos e suas extensões têm funcionado em várias cidades. Programas de rádio também têm sido usados em várias cidades como meio de evangelismo. O Lar Nova Vida, em Araras, SP, foi iniciado por uma missionária Batista Livre (Shirley Combs) para abrigar crianças enviadas pelo juizado de menores. As igrejas têm se empenhado na evangelização das suas cidades, bem como das áreas indígenas do Brasil e até no exterior. Missionários brasileiros têm sido enviados para trabalhar com as missões Novas Tribos do Brasil, MEVA e Missão Asas de Socorro nas áreas indígenas. Outros têm sido enviados para o exterior, para países como Irlanda do Norte, Costa do Marfim, Madagascar, China e mais recentemente, Uruguai. Atualmente os Batistas Livres no Brasil contam com 26 igrejas e congregações localizadas em 11 cidades brasileiras. 4