O QUE LEVA O SUJEITO A CRER?

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1 UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO DE PSICOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICANÁLISE MESTRADO Pesquisa e Clínica em Psicanálise MARIA CECILIA GARCEZ O QUE LEVA O SUJEITO A CRER? SUJEITO E CRENÇA NA PSICANÁLISE Dissertação de Mestrado RIO DE JANEIRO, DEZEMBRO DE 2005.

2 O QUE LEVA O SUJEITO A CRER? SUJEITO E CRENÇA NA PSICANÁLISE MARIA CECILIA GARCEZ Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Psicanálise da Universidade do Estado do Rio de Janeiro como requisito parcial para obtenção do Título de Mestre em Psicanálise. Orientador: Marco Antonio Coutinho Jorge RIO DE JANEIRO, DEZEMBRO DE 2005.

3 AGRADECIMENTOS A Marco Antonio Coutinho Jorge, pela orientação acolhedora e respeitosa, que me ajudou a delinear o caminho de minha pesquisa e a trilhá-lo dentro da fidelidade aos fundamentos da psicanálise. Ao Padre Paulo Roberto Gomes, pela sensibilidade de sua escuta e confiança no nosso trabalho. A Claudia Moraes Rego que, com seu profundo conhecimento de Freud e Lacan, foi uma interlocutora importante nas discussões sobre crença e psicanálise. A Julio Cesár Dourado Mafra, que me auxiliou com seu vasto conhecimento da língua francesa e com seu apoio. A Anna Carolina Lo Bianco, pela presença atuante na qualificação e valiosas sugestões para o encaminhamento de nosso trabalho. Aos colegas do Projeto Travessia, pela troca de experiências e pelo rico aprendizado. A Doris Rinaldi, pelo incentivo que despertou o desejo de uma maior aproximação do tema. A Julia Leite, pela disponibilidade de uma leitura atenta e palavras sempre tranqüilizadoras. Aos meus pais e minha irmã, pela admirável capacidade de, mesmo longe, estarem sempre por perto. A minha filha Marina que, ao longo desta jornada de trabalho, deu provas de grande maturidade. Aos meus analisandos, que me ensinaram a respeitar suas crenças e inspiraram esta pesquisa.

4 RESUMO A presente dissertação tem como objetivo uma discussão sobre a crença a partir das contribuições de Freud e de Lacan. Ao partir do reconhecimento da sua presença no social, particularmente no discurso religioso, tomamos como desafio avançar do campo do fenômeno para um exame do lugar da crença no âmbito da estrutura psíquica. Propomos uma aproximação entre crença e transferência e, em seguida, abordamos sua presença no processo inaugural de simbolização do sujeito. Por último, damos ênfase especial à articulação da crença com o mecanismo da Verleugnung e analisamos sua distinta participação nas estruturas clínicas. Palavras-chave: crença; sujeito; transferência; estrutura; Verleugnung RÉSUMÉ Cette dissertation a comme objectif une discussion sur la croyance à partir des contributions de Freud et Lacan. En reconnaîssant la présence de la croyance au niveau social, surtout dans le discours réligieux, nous nous mettons au défi d avancer dans le champ de ce phénomène pour réaliser un examen de l importance de la croyance dans le domaine de la structure psychique. Ensuite, nous proposons une approche entre la croyance et le transfert pour aborder la présence de la croyance dans le processus inaugural de symbolisation du sujet. Finalement, nous mettons un accent spécial sur l articulation de la croyance avec le mécanisme de la Verleugnung pour analiser sa participation distincte à chaque structure clinique. Mots clé: croyance; sujet; transfert; structure; Verleugnung

5 SUMÁRIO INTRODUÇÃO CAPÍTULO 1: A CRENÇA E A CLÍNICAPSICANALÍTICA A crença nas palavras A crença e a transferência A prática clínica com sujeitos religiosos...32 CAPÍTULO 2: A CRENÇA E A CONSTITUIÇÃO DO SUJEITO A crença primária: a Bejahung A crença e o juízo A operação de alienação e separação...47 CAPÍTULO 3: A CRENÇA E AS ESTRUTURAS CLÍNICAS A crença no falo A crença e a neurose...60

6 3.3.- A crença e a perversão A crença e a psicose...74 CONCLUSÃO BIBILIOGRAFIA CAPÍTULO 1- A crença e a clínica psicanalítica 1.1. A crença nas palavras Em 1890, em um artigo intitulado "Tratamento psíquico (tratamento da alma)", escrito como contribuição para um manual de medicina, Freud aborda o poder mágico das palavras no tratamento dos fenômenos patológicos da vida anímica. Escolhemos iniciar nossa dissertação fazendo referência a esse escrito tão inicial da obra freudiana em razão deste trazer o germe do que será um dos principais conceitos e eixo fundamental do trabalho psicanalítico. É preciosa sua indicação de que a cura depende, exclusivamente, da crença nas palavras e que estas possuem um poder milagroso. A associação entre crença e milagre não nos parece absolutamente estranha pois, afinal, como diz o ditado: a fé move montanhas. O que nos parece notável é a clareza de Freud acerca da existência das curas milagrosas pela força mágica das palavras. Afirma sem rodeios:

7 Agora começamos a compreender a 'mágica' das palavras. As palavras são, sem dúvida, o mais importante meio pelo qual um homem busca influenciar outro; as palavras são um bom método de produzir mudanças mentais na pessoa a quem são dirigidas e por isso já não parece enigmático afirmar que a magia da palavra pode eliminar fenômenos patológicos, ainda mais aqueles que, por sua vez, tem sua raiz em estados anímicos. 1 A "fé" das pessoas na palavra do Outro justifica o sucesso dos curandeiros, pois não há dúvida de que eles são capazes de produzir condições psíquicas propícias à recuperação de seus pacientes. Os milagres obtidos através da crença religiosa são também tratados por Freud como algo que de fato ocorre, pois é possível encontrá-los em todos os períodos da história. Estas curas milagrosas não acontecem só com as doenças ditas psíquicas, que têm como base a imaginação e por isto, supostamente, estariam mais sujeitas às influências externas. Freud reconhece a existência de milagre também na cura de estados patológicos de origem orgânica, que até então não apresentaram resultados por qualquer tratamento médico. Isso seria explicado pelo que ele denomina de "poder psíquico". Tendo como hipótese a ação de uma força mental sobre a manifestação da doença, considera que, também, a expectativa esperançosa (será que poderíamos chamála de fé?) é capaz de ocasionar os mais notáveis efeitos tanto no aparecimento quanto no desaparecimento de doenças físicas. Diz-nos: Tudo ocorre naturalmente; na verdade, o poder da fé religiosa é reforçado neste caso por diversas forças pulsionais genuinamente humanas" 2. Freud ressalta que o fator que mais intensifica a crença religiosa é a influência grupal. O poder psíquico pode ser enormemente magnificado pelo grupo. Mas, há outro fator, de cunho narcísico, que pode intensificar a fé religiosa: trata-se do desejo de ser escolhido, uma vez que a graça divina só é obtida por poucos. Assim, ele diz: "Toda vez que tantas forças poderosas se conjugam, não podemos surpreender-nos se em algumas ocasiões se alcança realmente a meta" 3. 1 FREUD,S., Tratamento psíquico (tratamento da alma) (1890), AE: vol. I, p.123; ESB: vol. VII, p.306 (o grifo é nosso) 2 idem, AE: vol. I, p , ESB: vol. VII, p idem., AE: vol. I, p.122, ESB: vol. VII, p.304.

8 A palavra "milagre" significa acontecimento admirável, espantoso, ocorrência que não se explica pelas leis da natureza. Se não há como explicar o milagre pela lógica, qual seria, então, sua estrutura? A partir de uma leitura lacaniana, poderíamos pensar que este estado de encantamento seria provocado pela crença em um Outro de quem tudo se espera. Como vimos, a força deste apelo conduz ao movimento de alcançá-lo. Assim, a crença revela, como nos aponta Eduardo Vidal, a expressão do significante em ação 4. A crença em milagres não nos parece de modo algum surpreendente, pois a renúncia 5 aos desejos impossíveis é resultado de um árduo trabalho. A psicanálise não cessa de indicar que o ato de renunciar é problemático e tem conseqüências psíquicas importantes. É muito difícil para o sujeito, como aponta Freud, abdicar de um prazer já experimentado, pois: Na realidade, nunca renunciamos a nada; apenas trocamos uma coisa por outra. O que parece ser uma renúncia é, na verdade, a formação de um substituto ou sub-rogado. 6 Sem pretender aprofundar, no presente estudo, o tema da hipnose, devemos reconhecê-la como reveladora de uma posição de sujeito diante da palavra do Outro. Esta técnica, utilizada por Freud nos primórdios de sua prática clínica e posteriormente abandonada, tem como característica mais interessante a exigência de uma atitude particular da parte do paciente: trata-se da relação do hipnotizado com seu hipnotizador. Não é por acaso que Freud faz um paralelo entre esta situação de extrema devoção e a relação da criança com seus amados pais, bem como com a relação amorosa, que envolve uma entrega plena. Diz ele: A conjunção de estima exclusiva e obediência crédula pertence, geralmente, aos traços característicos do amor. 7 Betty Milan, em seu ensaio sobre o tema do amor, ressalta que, na relação amorosa, a dúvida está excluída, pois a crença é fundamental para sua existência. O amor não seguiria o preceito de São Tomás de Aquino ver para crer. Como ilustração, a autora menciona o conhecido caso da senhorita francesa que foi 4 VIDAL,A.E., Um encontro singular com a Acrópole, Revista da Escola Letra Freudiana, n.6, p Encontramos, no dicionário Aurélio, algumas definições da palavra renúncia: não querer, rejeitar, recusar, desistir de, abdicar, descrer de, renegar. Chama nossa atenção o fato da palavra estar referida a um afastamento voluntário, mas forçoso. Freud observa que o ser humano não renuncia jamais suas satisfações. A renúncia, portanto, não encerra a questão e não é sem efeitos. 6 FREUD,S., O criador literário e o fantasiar (1907), AE: vol. IX, p.128 ; ESB: vol. IX, p.151.

9 flagrada, pelo seu companheiro, nos braços de outro. Ao tentar negar diante deste a evidência da situação, usa um surpreendente argumento : Vejo que você já não me ama, acredita mais no que vê do que em mim. 8 Freud irá valorizar o amor de um modo absolutamente particular, sustentando na demanda amorosa um dos pilares da técnica analítica: a transferência. Em Psicologia das massas e análise do eu, no capítulo intitulado Estar amando e a hipnose, Freud menciona alguns casos nos quais há uma tal devoção do eu para com o objeto, que a crítica exercida pelo super-eu silencia. O objeto passa a ocupar o lugar de ideal e o sujeito pode ser levado tanto a um estado de fascinação como de servidão. O enigma do poder exercido pelo hipnotizador é, assim, esclarecido: o "hipnotizado" realiza a fantasia de onipotência, através da identificação com este, colocado no lugar de senhor, diante do qual se torna escravo. É possível que, justamente, por admitir a presença e a força de tal entrega no campo da transferência, Freud não deixe de considerar o amor transferencial como um obstáculo ao trabalho da análise. Ao abandonar a prática da hipnose e da sugestão, que encara como uma espécie de tirania, de violência contra o paciente, Freud a coloca como incompatível com os novos pressupostos da psicanálise. Roudinesco comenta que Freud excluiu expressamente esse "rito fascista" 9 por se tratar de um bárbaro abuso de poder. 10 Consideramos que a psicanálise oferece uma experiência que, ao contrário de hipnotizar o sujeito, visa revelar justamente aquilo que já o hipnotiza desde sua própria constituição, ou seja, sua alienação fundamental. Se o poder do analista é resultante da própria transferência amorosa, cabe a este a responsabilidade de saber utilizá-lo como um meio facilitador da emergência do inconsciente do analisando. Trata-se de um trabalho que exige do analista uma extrema fidelidade à ética. Quando a experiência do inconsciente, estimulada pela situação analítica, não está articulada com os conceitos fundamentais que sustentam sua prática, o analista corre o risco de ocupar um lugar originário, ou seja, apoiado nos poderes ocultos de um chefe. Um outro risco, apontado por Marco 7 FREUD,S., Tratamento psíquico (tratamento da alma) (1890), AE: vol. I, p.127; ESB: vol. VII, p MILAN,B., O que é amor (1983), Brasiliense, p ROUDINESCO,E.,Pour une politique de la psychanalyse (1977), p ROUDINESCO,E., História da psicanálise na França, a batalha de cem anos (1989), vol. 1, RJ, p.215.

10 Antonio Coutinho Jorge 11, está situado no próprio contexto da produção teórica: o distanciamento do referente clínico (a fala do analisando e sua escuta) teria, como conseqüência, teorizações científicas mais próximas do discurso metafísico. Em uma de suas várias cartas dirigidas ao amigo e pastor Pfister, Freud opõe-se radicalmente à incitação a uma transferência ilimitada e questiona essa postura com um certo grau de ironia: E agora imagine que eu dissesse a um doente: Eu, Sigmund Freud, Professor titular, perdôo-o de seus pecados. Que inconveniência, no meu caso! Mas o que se aplica aqui é a lei segundo a qual a análise não se satisfaz com um sucesso de sugestão, mas procura a origem e a justificação da transferência. 12 A posição de Freud sobre a importância da transferência começa a se definir cedo em sua obra. Ele reconhece que o papel fundamental da influência sobre o psíquico não é privilégio dos médicos, ainda que, muitas vezes, estes adquiram reputação divina, pois, originalmente, o poder de curar estava nas mãos dos sacerdotes. A tentativa de produzir condições mentais propícias à recuperação dos doentes era uma das mais importantes influências terapêuticas dos povos antigos. Para reforçar seus efeitos, outros procedimentos eram utilizados: banhos purificadores, fórmulas (poções mágicas), evocações de sonhos oraculares. Em A questão da análise leiga, Freud estabelece uma sutil diferenciação entre a magia e a utilização da palavra para fins terapêuticos: Seria mágica se surtisse efeito um pouco mais rapidamente. Um atributo essencial de um mágico é a rapidez poder-se-ia dizer a subtaneidade de sucesso. Mas os tratamentos analíticos levam meses e mesmo anos: mágica tão lenta perde seu caráter miraculoso. E incidentalmente não desprezamos a palavra. Afinal de contas, ela é um instrumento poderoso; é o meio pelo qual transmitimos nossos sentimentos a outros, nosso método de influenciar outras pessoas. As palavras podem fazer um bem indizível e causar terríveis feridas. Sem dúvida no começo foi o ato e a palavra veio depois; em certas circunstâncias ela significou um progresso da civilização quando os atos 11 JORGE,M.A.C., A psicanálise entre ciência e religião (1995), in: ROPA, Daniela e PASSOS,Marci Dória (orgs.), Anuário Brasileiro de Psicanálise, n.3, Rio de Janeiro, Relume Dumará, Cartas entre Freud e Pfister ( ), carta de , p.182.

11 foram amaciados em palavras. Mas originalmente a palavra foi magiaum ato mágico; e conservou muito de seu antigo poder. 13 O primado da linguagem na constituição do sujeito da psicanálise nos remete ao preceito básico do Evangelho de São João, que afirma que no princípio era o Verbo. A problemática da entrada do sujeito na linguagem foi formulada por Freud através de um mito. Em Totem e tabu, ele utiliza a construção mítica da existência de uma horda primitiva em que os filhos se reúnem para assassinar o pai totêmico. É somente após esse ato, ou seja, após um crime, que se dá a possibilidade de fundação da sociedade, da religião e dos preceitos morais. A partir deste, surge a proibição do incesto e do homicídio, representando a emergência da Lei. Como observamos anteriormente, em 1926 Freud mantém a visão de que a substituição do ato pela palavra tem um caráter essencialmente positivo, pois revela a ascendência do simbólico sobre os impulsos irracionais. A citação no princípio era o ato, contudo, aparentemente contradiz o valor da palavra (do verbo). Este aparente paradoxo pode ser desfeito ao lançarmos um olhar mais cauteloso para esta complexa questão. No mito do parricídio, Freud vincula a fundação da cultura, ou seja, a constituição da ordem humana, a um assassinato 14. A morte do pai primordial, temido e invejado, está relacionada a sua posição de onipotência, caracterizada pelo exclusivo poder de desfrutar de todas as mulheres. Uma vez expulsos desta organização (horda primeva), os filhos se unem e, em conjunto, matam o pai. A partir da construção ficcional deste ato de violência, o que Freud pontua é que a lei simbólica se instaura, ou seja, o pai morto passa a ser representado por algo sagrado: o totem. Se os irmãos renunciam ao lugar do pai e ao desejo incestuoso pela mãe para não matarem um aos outros, este lugar permanece privilegiado, como aponta Freud: Após terem-se livrado dele, satisfeito o ódio e posto em prática os desejos de identificarem-se com ele, a afeição que todo esse tempo tinha sido recalcada estava fadada a fazer-se sentir e assim o fez sob a forma de remorso.(...) O pai morto tornou-se mais forte do que o fora vivo. 15 É o sentimento de culpa que estabelece a passagem da natureza à cultura: ao invés de vigorar o poder despótico e absoluto, institui-se a Lei da ordem simbólica. Cresce o valor do pai após sua morte e Lacan assinala, com muito propósito, que, sem o pai morto nada pode ser arquitetado. Como efeito do parricídio, os filhos não caem na esbórnia, mas, ao contrário, ficam interditados e, com isso, passa a vigorar a palavra, que possibilita a operação da lei como mediadora das relações humanas. Segundo uma leitura lacaniana poderíamos dizer que o mito de Totem e tabu representa o momento de entrada do significante (do Verbo), capaz de ordenar os demais significantes. O pai assassinado retorna como significante, indicando seu lugar na estrutura psíquica e os filhos, por sua vez, herdam o significante o Nome do Pai. O mito, cuja estrutura de ficção tem um compromisso com a verdade, faz supor que, no inicio, havia um pai todopoderoso, mas que foi preciso prescindir dele. Se Freud recorre a um mito, é porque tal origem não é alcançável, ou seja, trata-se de um ponto de falta que só possível de ser dito através de uma construção ficcional. Eduardo Vidal acrescenta: 13 FREUD, S., A questão da análise leiga (1926), AE: vol. XX, p ; ESB: vol. XX, p Ao valorizar o ato, Lacan dá um passo essencial no que se refere à direção da clínica, estabelecendo os fundamentos e as operações do ato analítico. Em , dedica um seminário a este tema e privilegia a passagem do psicanalisante ao psicanalista. Certamente, a importância desta questão merece um desenvolvimento, que pretendemos deixar para o futuro. Devemos, contudo, realçar os efeitos do ato, uma vez que este aponta para um lugar de impasse, de encontro com o real e da emergência do novo, e que, como nos lembra Anna Carolina LO BIANCO: [...] não é comandado pelo sujeito nem resultado da vontade de um eu. ( O horror do ato, in: O estranho na clínica psicanalítica:vicissitudes da subjetividade, 2001, p.21).

12 A hipótese fantástica que Totem e tabu constitui como assassinato do pai primevo tem a função de circunscrever esse ponto de falta de origem constituindo a referência mor do edifício freudiano. Sem essa referência ao pai a invenção da psicanálise dificilmente se distinguiria de um delírio. 16 O término desse escrito é surpreendente, pois Freud toma como referência a fala do personagem de Goethe 17, Fausto, a saber, no princípio era o ato 18 e estabelece um contraponto com a frase do Evangelho de São João. Se o ato está no início, isso implica em uma recusa do verbo? Entendemos que a primeira, analisada no contexto da obra poética, não se refere a uma desvalorização da palavra, mas sim a uma ruptura com o primado conferido à palavra divina. Freud admite que sua interpretação está mais marcada pela teoria de Darwin do que pela tradição religiosa e, ao recorrer ao poeta, parece apreciar a intenção do personagem de construir um universo dominado inteiramente pelo homem. Fausto também é um valioso auxílio para explicitar a idéia de que, para se atingir o objetivo desejado, uma transgressão se faz necessária: o pacto com o demônio em troca da aquisição do conhecimento e da ciência. Ou seja, é preciso que o sujeito rompa com a proteção divina, que renuncie à crença em um ser Supremo, para que tenha acesso a um mundo organizado simbolicamente do qual a ciência é um dos representantes mais excelentes. Assim, mais uma vez, agora com a ajuda de seu poeta predileto, Freud reafirma sua tese: é através de um ato de transgressão que o sujeito poderá entrar na estrutura simbólica, ou seja, na linguagem A crença e a transferência No princípio da psicanálise está o ato de Freud que, ao fundar o campo do inconsciente, também cria e ocupa o lugar de analista na transferência. 20 A partir de uma leitura lacaniana, poderíamos pensar que este estado de encantamento seria provocado pela crença em um Outro de quem tudo se espera. Como vimos, a força deste apelo conduz ao movimento de alcançá-lo. Assim, a crença revela, como nos aponta Eduardo Vidal, a expressão do significante em ação FREUD,S., Totem e tabu (1912), AE: vol. XIII, p.59; ESB: vol. XIII, p VIDAL,E., No início era o ato (1996) in: Letra freudiana, n.16: ato analítico. 17 GOETHE, J.W., Fausto, parte 1, cena 3 (1976). 18 FREUD,S., Totem e tabu (1913), AE: vol. XII, p.162; ESB: vol. XII, p É possível fazer, neste ponto, uma articulação com o mecanismo da Bejahung, operação fundante do processo de simbolização, que é sucessora da Ausstossung, ou seja, de uma expulsão inicial responsável pela demarcação de um dentro e um fora. Tais conceitos, relacionados com a hipótese da existência de uma crença primária, serão desenvolvidos no capítulo seguinte, quando discutiremos a participação da crença na constituição do sujeito. 20 Lacan faz um comentário no qual há uma referência à questão da origem. Em seu escrito Proposição de 9 de outubro de 1967, diz: No começo da psicanálise está a transferência (Outros escritos, p.252) 21 VIDAL,A.E., Um encontro singular com a Acrópole, Revista da Escola Letra Freudiana, n.6, p.29.

13 A expectativa confiante a qual contribui para a influência imediata do procedimento médico depende, por um lado, da intensidade de seu desejo de curar-se; por outro, de sua fé de que está dando os passos corretos nessa direção, vale dizer, de seu respeito geral pela arte médica, e mais, do poder que atribuiu à pessoa de seu médico e ainda pela simpatia puramente humana que o médico desperta nele. 22 O respeito e a autoridade podem ser adquiridos tanto por um analista leigo quanto por um "assistente pastoral milenar" (seelsorger 23 ) pois, segundo Freud, é perfeitamente possível que o representante religioso seja capaz de liberar seus paroquianos das inibições de sua vida cotidiana. Ao denominar a atividade analítica de "cura analítica de almas 24, pode parecer, em um primeiro momento, que Freud tem uma grande tolerância ao fato de religiosos exercerem a psicanálise. Esta não será, porém, sua posição definitiva, pois em sua correspondência com o pastor Pfister, retoma uma interessante discussão sobre a ética: Minha observação de que os analistas da minha fantasia futurista não deveriam ser sacerdotes não soa muito tolerante, isto eu admito (...) O senhor também tem razão em alertar que a análise não fornece uma nova visão de mundo. Mas ela não o necessita, pois repousa sobre a visão de mundo científica comum, com a qual a religiosa permanece incompatível.(...) A ética está fundada sobre as inevitáveis exigências do convívio humano, não sobre a ordem mundial extra-humana. 25 As revelações íntimas dificilmente são dirigidas a uma pessoa qualquer, o que justifica, podemos dizer, a existência do confessor, na religião, assim como do analista. Quando certas atitudes ou pensamentos do sujeito assumem um caráter de estranheza e provocam mal-estar, instaura-se um conflito no eu. A confissão opera proporcionando um alívio em relação ao conflito, além de reforçar os laços do sujeito com a religião, a qual ofereceria um caminho para livrá-lo do sofrimento. 26 E a psicanálise, de que lugar irá operar? 22 FREUD, S., Tratamento psíquico (tratamento da alma) (1890), AE: vol. I, p.123; ESB: vol. VII, p.305. (o grifo é nosso) 23 Seele = "alma" e sargen = "cuidar, prover, preocupar-se". Freud usa o termo Seelsorger, que significa: o religioso que cuida das pessoas de uma igreja e as dirige para Deus". Em alguns momentos de sua correspondência com o pastor Pfister, chama a este de "cura de almas". Também utiliza o substantivo Seelsorge, significando "a atividade de cuidar, aconselhar e orientar a pessoa.". Não há possibilidade de uma tradução fiel para o português, mas podemos utilizar "a cura de almas" para o processo e "o cura de almas" para a pessoa que o exerce. 24 Trata-se de uma expressão utilizada por Freud em A questão da análise leiga (1926, AE: vol. XX, p.240; ESB: vol. XX, p.291), para descrever a atividade do analista como podendo ser "pastoral", no melhor sentido da palavra. 25 Cartas entre Freud e Pfister, ( ), carta 89, p Em a História da sexualidade I a vontade de saber, Michel FOUCAULT defende a idéia de que, a partir da Idade Média, houve uma institucionalização da confissão, a qual passou a funcionar como um imperativo que visava transformar o desejo em uma obrigação de falar a verdade sobre si. Segundo o autor, o dispositivo da confissão, matriz da tradição cristã, é um dos eixos da hipótese repressiva da sexualidade, através da qual critica o modo pelo qual o cristianismo influenciou o pensamento ocidental. Associa a confissão à obediência e ao assujeitamento ao outro. A análise crítica da confissão, realizada por Foucautlt, mereceria um aprofundamento que não é nosso objetivo no momento. Também outros autores debruçaram-se sobre esse tema, entre estes: Joel

14 Em duas passagens de sua obra, Freud faz referência a estas duas formas de escuta a do analista e a do padre que têm lugares diferenciados. Em 1926, sua observação é pontual: "Na confissão o pecador conta o que sabe; na análise o neurótico tem mais a dizer" 27. Doze anos depois, em um de seus últimos escritos, retoma a importância da associação livre e esclarece que esta pode proporcionar um alívio semelhante ao de uma confissão. Mas, como nos diz, não se trata do analista ocupar o mesmo lugar do confessor: Com os neuróticos, então, fazemos nosso pacto: sinceridade completa de um lado e discrição absoluta de outro. Mas há uma grande diferença, porque o que desejamos ouvir de nosso paciente não é apenas o que ele sabe e esconde de outras pessoas; ele deve dizer-nos também o que não sabe. 28 Em 1974, por ocasião de um congresso realizado em Roma, Lacan é instigado pela imprensa italiana a dar sua opinião sobre a proximidade entre a psicanálise e a confissão. Pergunta o repórter: O senhor acha que atualmente se vai ao psicanalista como antes se ia ao confessor? Lacan responde prontamente, não escondendo uma certa irritação: Não podiam deixar de me fazer essa pergunta. Essa história de confissão é conversa para boi dormir. Por que acha que as pessoas se confessam? Mas o repórter insiste: Quando se vai ao psicanalista, também se confessa. Lacan reage enfaticamente a tal afirmação: Mas de forma alguma! Isso não tem nada a ver. Na análise, começa-se por explicar às pessoas que elas estão ali para se confessar. É o começo da arte. Elas estão ali para dizer dizer qualquer coisa. 29 Percebemos, claramente, no comentário de Lacan, o resgate da marca distintiva entre a confissão e o dispositivo analítico: a regra da associação livre, usada no trabalho analítico. O analista oferece sua escuta ao sujeito que sofre uma dor psíquica e também o convida a abandonar o esforço de refrear seu pensamento, ainda que este lhe pareça desagradável ou absurdo. A regra da associação livre não valoriza o segredo, como também o destituí de um possível valor moral, não o considerando algo indesejável que deva ser eliminado. O analista opera, justamente, apostando que o sujeito tem mais a dizer e, através de sua escuta, sustenta que este fale o mais livremente possível. Embora Freud situe o processo analítico no campo científico devemos sublinhar a originalidade deste campo de saber: Na psicanálise existiu, desde o início, uma união entre curar e investigar; o conhecimento proporcionou o êxito e não era BIRMAN, em Entre cuidado e saber de si - sobre Foucault e a psicanálise (2000) e Eduardo Leal CUNHA, em A confissão: entre o assujeitamento e a cura (2003). 27 FREUD, S., A questão da análise leiga (1926), AE: vol. XX, p.177; ESB: vol. XX, p FREUD, S., Esboço da psicanálise (1938) AE: vol. XXIII, p ; ESB: vol. XXIII p LACAN, J., O triunfo da religião, precedido de Discurso aos católicos (2005), p.64.

15 possível tratar sem aprender algo de novo, nem se ganhava um esclarecimento sem vivenciar seu benéfico efeito. Nosso procedimento analítico é o único que conserva essa preciosa conjunção. Somente quando aperfeiçoamos a cura analítica de almas penetramos na vida anímica do ser humano, cujas faíscas acabamos de perceber. 30 Freud aponta uma posição teórica fundamental, que inaugura uma concepção original de sujeito: o sujeito é estruturalmente dividido e a análise opera, justamente, nesta fenda. Trata-se, então, de escutar uma fala que, para cada sujeito, contém uma verdade singular, diversa do sentido clássico da verdade. Para a psicanálise, a via da verdade se faz pelo caminho das equivocações, dos lapsos, dos tropeços, das ambigüidades da palavra. É aí que habita a verdade do desejo, é por aí que o inconsciente faz suas irrupções. Ao final do seu primeiro seminário, Lacan aponta o que é mais essencial na descoberta freudiana: Nossos atos falhos são atos que são bem sucedidos, nossas palavras que tropeçam são palavras que confessam. Eles, elas, revelam uma verdade de detrás. No interior do que se chamam associações livres, imagens do sonho, sintomas, manifesta-se uma palavra que traz a verdade. Se a descoberta de Freud tem um sentido é este - a verdade pega o erro pelo cangote, na equivocação. 31 Se saber e verdade estão dissociados, como sublinha Lacan, a ênfase da psicanálise recai não em um saber referencial ou consciente, racional, mas sobre um saber textual, presente na linguagem, residindo a verdade na própria fala do sujeito. Certamente, na medida em que não se pode dizer tudo, a fala será sempre faltosa, incompleta e a verdade, conforme assinala Lacan, sempre parcial, ou seja, não-toda. Apoiado na transferência, o trabalho psicanalítico necessitaria da crença na psicanálise para sua realização? Freud afirma que, para o sujeito fazer análise, basta que fale. 32 O enfoque que estamos privilegiando não está relacionado à transferência do paciente com a psicanálise, pois não é necessário sequer que este saiba o que é a psicanálise, mas sim com o analista. Certamente, a crença de que alguém sabe e irá lhe curar ou salvar é, sem dúvida, o que leva o sujeito a procurar um analista (ou também um confessor, ou até mesmo um vidente...). Ao pronunciar uma conferência sobre o tema da crença, em 1997, Charles Melman 33 afirma que toda crença gira em torno da idéia de que existe, em algum 30 FREUD,S., A questão da análise leiga (1926), AE: vol.xx, p.240; ESB: vol.xx, p.291. (o grifo é nosso) 31 LACAN,J., Seminário 1- Os escritos técnicos de Freud ( ), p FREUD,S., Sobre o inicio do tratamento (1913), AE: vol. XII, p ; ESB: vol. XII, p MELMAN,C., La croyance (1997), Conférence faite à Reims (mimeo).

16 lugar, alguém que possui um saber. 34 Segundo ele, a estrutura da crença não difere em nada da estrutura em que se baseia a transferência e tanto explica a existência do analista como a presença do vidente ou outras figuras que venham ocupar este lugar. O que está em jogo é a busca do sujeito sustentada pela crença na existência desse alguém que sabe. Melman chama a atenção para o fato de que a crença independe do grau de racionalidade e da posição social do sujeito, pois tanto o presidente da república quanto o porteiro ou o cabeleireiro podem procurar um vidente. A crença diz respeito à subjetividade de cada um, ou seja, é restrita exclusivamente à vida privada do sujeito, mas também pode comparecer na vida social, uma vez que grupos inteiros são organizados sob a partilha de uma crença comum. Um dos aspectos mais importantes realçados por Melman é de que a crença de que há alguém que sabe não é um fenômeno delirante, mas sim, uma necessidade da estrutura. A relação que cada um irá estabelecer com esta, como veremos mais adiante, é o que vai permitir a organização das neuroses. Assim, a crença só existe através da atribuição de um sujeito que possa representar esse saber, ou seja, não se trata de um saber anônimo. O analista só pode operar deste lugar, ou seja, como suporte para esta crença, possibilitando, assim, o deslizamento dos significantes inconscientes do sujeito. Não por é acaso que, ao abordar o tema da crença, Melman comente a figura da vidente, pois Freud nos oferece inúmeros exemplos de sua experiência clínica em que seus pacientes relatam terem procurado uma vidente, um astrólogo ou um grafologista. 35 O interesse maior de Freud não é, absolutamente, explorar a veracidade das previsões (aliás, curiosamente, nenhuma delas se realiza), mas sim explorar o desejo que poderia estar escondido por trás dos relatos e que sustenta a manutenção da crença da possibilidade de sua realização. Chantal Brand-Gaborit comenta o trabalho minucioso de Freud na exploração do relato das profecias de seus pacientes : Ele [Freud] assinala que, assim como a vidente pode formular alguns significantes por onde se liga o gozo de um sujeito, ela não pode nem ordená-los, nem decifrá-los. Mas isto explica, no entanto, porque os clientes ficam tão encantados mesmo que as profecias não se realizem. O arrebatamento se dá pelo fato de que significantes de sua cadeia significante lhe são dados como uma mensagem em retorno. Haverá gozo maior para um sujeito do que receber os significantes de seu gozo como vindos do Outro? 36 Poderíamos pensar, então, que a vidente tanto evoca o desejo do sujeito (e Freud não recua na tentativa de decifrálo) como também sustenta um lugar diferenciado, emprestando-se como suporte da crença de que possui um saber sobre o sujeito. Se para aquele que crê, o significado desta confiança não interessa, pois basta que confie no eleito para encarnar esse 34 Segundo nosso ponto de vista, essa formulação é um desdobramento do que Lacan coloca em termos de que nada tem fundamento para o sujeito, caso não acredite que há, em alguma parte, algo que não engane. (trata-se de uma referência à filosofia de Descartes) 35 Os três escritos principais nos quais Freud relata alguns exemplos das crenças de seus pacientes são: Psicanálise e telepatia (1921), Sonhos e telepatia (1922) e Sonhos e ocultismo (1932).

17 saber, o mesmo não deve acontecer do lado do analista, que deverá sustentar a transferência como o motor do tratamento. Comenta Lacan: o sujeito, por meio da transferência, é suposto ao saber pelo qual ele consiste como sujeito do inconsciente e é isso que é transferido ao analista, ou seja, esse saber dado que não pensa, nem calcula, nem julga, não deixando por isso de produzir efeito de trabalho. 37 O sujeito crê que o analista sabe sobre sua verdade como se este a conhecesse de antemão. Assim, a transferência não deixa de se constituir como resistência ao saber inconsciente. Como formula Elizabeth Tolipan: Ou o sujeito a-credita num sujeito suposto saber ou a-credita no inconsciente. Entretanto esta estrutura neurótica a-creditar num sujeito suposto saber tem que ser instaurada para que a análise seja um processo que vise sua liquidação. 38 O que permite ao analista sustentar a posição de colocar sua escuta à disposição de qualquer palavra que o analisando possa lhe endereçar sem atender a demanda de tudo saber? É Lacan que nos indica as condições necessárias para o analista exercer sua função: O que ele obtém, no entanto, é de um valor inestimável - a confiança de um sujeito enquanto tal, e os resultados que isto comporta pela via de uma certa técnica. Ora, ele não se apresenta como um deus, ele não é deus para seu paciente. O que significa então essa confiança? Em torno do quê ela gira? A formação do psicanalista exige que ele saiba, no processo em que conduz seu paciente, em torno do quê o movimento gira. Ele deve saber, a ele deve ser transmitido, e numa experiência, aquilo de que ele retorna. Esse ponto-pivô, é o que designo pelo nome de desejo do psicanalista. 39 A importância do desejo do analista exige um comentário, uma vez que constitui uma questão destacada na discussão dos analistas sobre sua prática. Serge André propõe uma reflexão sobre se haverá algo que corresponda, no analista, ao desejo do mestre, ao desejo do médico, ao desejo do educador ou ao desejo da histérica. 40 Em 1959, no texto A direção do tratamento, Lacan utilizou a expressão ser do analista, que, mais tarde, cede lugar a de desejo do analista. Alguns anos depois, em 1964, diz: [...] é o desejo do analista, no que ele tem de despercebido, pelo menos até hoje, por sua própria posição, é essa a última e verdadeira mola do que constitui a transferência. 41 Mas, é no final do seminário Os quatro conceitos fundamentais da psicanálise, que Lacan postula que o desejo do analista não é um desejo puro, mas sim [...] um desejo de obter a diferença absoluta, aquela que intervém quando, confrontado com o significante primordial, o sujeito vem, pela primeira vez, à posição de se sujeitar a ele. 42 Essa afirmação, embora não pareça de fácil compreensão, permite supor que o desejo do analista deva ser o de levar o sujeito até o ponto em que sua sujeição primária ao significante possa se repetir e, desta vez, ser como que escolhida pelo sujeito, ou seja, que possa decidir se realmente quer o que deseja. Segundo Laurence Bataille 43, a especificidade do desejo do analista, que o diferencia de um desejo qualquer, é o fato deste não aspirar ser objeto do desejo do seu analisante. Ao não esperar o reconhecimento de seu desejo, o analista irá impelir, com seu desejo de analista, o desejo do analisante para outro lugar. O desejo do analista é, mais uma vez, apontado como essencial, uma vez que, ao suportar a transferência, envia o sujeito ao enigma do seu próprio desejo. O analista, ao se prestar a essa experiência na qual se oferece ao amor, mas também deste se furta, estaria, como Lacan aponta, em um 36 GABORIT,C.B., Comment la croyance éclaire-t-elle la division du sujet? in: Le discours psychanalytique de la croyance, Revue de l Association Freudienne, n.24, p.213, Paris, LACAN, J., Televisão (1993), p (editora) 38 TOLIPAN,E., A estrutura da experiência psicanalítica (1991), Dissertação de mestrado, UFRJ, p LACAN,J., O Seminário, Livro 11: Os quatro conceitos fundamentais da psicanálise (1964), p (o grifo é nosso) 40 ANDRÉ, S., A impostura perversa (1995), p LACAN,J., Posição do inconsciente, in: Escritos, p LACAN,J., O Seminário, Livro 11: Os quatro conceitos fundamentais da psicanálise (1964), p BATAILLE, L., Desejo do analista e desejo de ser analista (1988), in : O umbigo do sonho, p

18 programa de televisão, mais próximo do santo? Ao fazer tal comparação, Lacan utiliza um neologismo que remete à idéia de que o lugar do analista é de dejeto pois, assim como o santo, não faz nenhuma caridade, mas sim, descaridade. 44 A questão da con-fiança, depositada na pessoa do analista, nos leva a avançar na direção de uma aproximação entre a crença e a transferência uma vez que, como vimos, esta pode ser dirigida a qualquer um que ocupe um lugar especial para o sujeito. Assim, não podemos afirmar que a situação analítica abarque todo o fenômeno da transferência. Sua produção, na cena analítica, admite que é preciso que haja, fora desta, condições que a possibilitem. É, no entanto, a psicanálise que se ocupará de dar uma direção única para a transferência: não responder à demanda amorosa e escutar o sujeito com o compromisso ético de conduzi-lo a precisar sua posição frente ao seu próprio desejo. O "sujeito suposto saber", conceito criado por Lacan para descrever esta função fundante da transferência, pode ser encarnado em quem quer que seja, analista ou não. Se o estabelecimento da transferência é necessário para que uma análise se inicie, esta não é motivada pelo analista e nem este pode dar conta do que a condiciona. Mas a função do analista é saber utilizá-la e, para isso, é necessário que ocupe o lugar do sujeito suposto saber, o que não é fácil: exige "talento", como indica Lacan, em "A terceira" 45. O manejo da transferência pelo analista é um ponto fundamental. Em "A dinâmica da transferência", Freud fala da impossibilidade de tratar de alguém "in absentia ou in effigie" 46, indicando que é na cena analítica que o analisando irá reproduzir diante do analista uma parte importante da história de suas relações afetivas. Através da transferência, o analisando não só informa sobre si mesmo, mas também atua (agieren) diante do analista, possibilitando o acesso à informações que, de outra forma, não seria possível. A hipótese de Freud remete à existência de clichês estereotípicos prontos a serem repetidos ao longo da vida do sujeito e que revelam sua maneira de conduzir-se na vida erótica. Mais tarde, irá reafirmar sua posição quanto à importância da relação do analisando com o analista: O neurótico põe-se a trabalhar porque deposita crédito no analista e neste crê porque adota uma particular atitude afetiva para com a pessoa do analista. 47 Freud sublinha que o campo da transferência deve ser valorizado e cuidadosamente zelado pelo analista, pois: A única dificuldade realmente séria que o analista tem que enfrentar reside no manejo da transferência. 48 Melman 49 também aponta as dificuldades que a transferência pode trazer para o processo de análise, uma vez que está diretamente ligada à problemática da crença. Assim, há pessoas que parecem inaptas à transferência pelo fato da crença não se produzir, mas há também um outro aspecto clínico da questão: são situações em que o analisando não quer renunciar à crença da existência de um sujeito possuidor do saber que o anima. Neste caso, a situação pode levar ao prolongamento da análise, ou, ao contrário, resultar em uma ruptura súbita da relação com o analista, sob a forma de uma grande decepção. O 44 LACAN, J., Televisão (1993), p Il décharite é uma palavra constituída pela condensação de déchet (dejeto) com charité (caridade), cujo sufixo dé (des) alude à ação contrária. Assim, é possível compreender esse neologismo da seguinte maneira: o analista é um santo que faz descaridade bancando o dejeto. 45 LACAN.J., La tercera (1974), p FREUD, S., A dinâmica da transferência (1912), AE: vol. XII, p.105 ; ESB: vol. XII, p FREUD, S., A questão da análise leiga (1926), AE: vol. XX p.210; ESB: vol. XX, p.255. (o grifo é nosso) 48 FREUD, S., Observações sobre o amor de transferência (1914), AE: vol. XII, p.163; ESB: vol. XII, p MELMAN,C., La croyance (1997), Conference faite à Reins (mimeo)

19 analista não tem que decidir sobre as crenças de seu analisando pois, evidentemente, não deve se colocar como diretor da consciência, ou inconsciência, de seu analisando. Por outro lado, deve estar avisado de que, ao longo do processo do tratamento analítico, ocorre uma passagem delicada o momento em que o sujeito se depara com a falta de saber. Do lado do analista, é a trajetória de sua análise pessoal que irá possibilitar que este empreste sua pessoa para encarnar uma suposição de saber. Deve reconhecer, ainda, que se trata de um equívoco essencial, pois o saber suposto ao analista nada mais é que o saber advindo do próprio sujeito. Se o sujeito suposto saber nada sabe, a questão do que ele tem que saber não deve ser desprezada. A posição do analista, muito mais do que a posição de saber, é uma posição de ignorância, uma ignorância douta 50. Do lado do analisando, como vimos, também há uma ignorância. Lacan fala da paixão da ignorância como componente primário da transferência 51. Esta crença constitutiva do lugar de analisando não deve ser reforçada por uma prática que responda à expectativa do sujeito de encontrar um analista-mágico e onipotente. A identificação com uma posição de saber absoluto pelo analista transformaria a prática analítica em uma teoria (ou uma teologia) que não admite a falta. Freud, ironicamente, cita a frase do cirurgião francês do século XVI, Ambroise Paré: "Fiz-lhe os curativos: Deus o curou" 52 O saber essencial do psicanalista é resultado de sua própria análise, ou seja, ele só pode sustentar que haja um sujeito que sabe sem saber que sabe, porque pôde ter acesso a este saber inconsciente. Em Análise terminável e interminável, Freud escreve sobre as condições para que um analista exerça sua atividade: Essa análise terá realizado seu intuito se fornecer àquele que aprende uma convicção firme da existência do inconsciente (...) 53. Freud usa a palavra "convicção" 54, Uberzeugung e não crença, o que nos remete a pensar no término da análise, ou seja, ao momento em que o sujeito é levado a se confrontar com a falta do Outro. Será que podemos pensar que o abandono da crença na consistência do Outro levaria o sujeito à convicção na existência do inconsciente? Como constatamos em nossa experiência clínica, a transferência permite a emergência de um saber inconsciente, sob a condição de que o analista não atenda 50 Expressão, cuja origem é de Nicolau di Cusa (sec.xv), usada por Lacan para definir um tipo de saber que consiste em conhecer seus limites. 51 Tal ignorância, diferente do desconhecimento, decorre de uma busca da verdade, o que a torna uma dimensão necessária à entrada em análise. Lacan diz: Somos nós que criamos essa situação e, portanto, essa ignorância (Lacan, Seminário 1, p.194), marcando que tal posição na fala é construída em análise. 52 FREUD,S., "Je le pansais, Dieu le guérit" - Recomendações aos médicos que exercem a psicanálise (1912), AE, vol. XII,p115; ESB, vol. XII, p FREUD,S., Análise terminável e interminável (1937) AE: vol. XXIII, p.250; ESB: vol. XXIII, p.283. (o grifo é nosso) 54 Segundo o dicionário Aurélio, a palavra convicção tanto aponta para o sentido da certeza por demonstração como para uma persuasão íntima. Curiosamente, ao consultarmos o Sigmund Freud: Index thématique raisonné alphabétique chronologique anthologique commenté de Alain DELRIEU, os verbetes crença e fé sugerem que o leitor se remeta a palavra convicção. Vale também ressaltar que a convicção no inconsciente, à qual Freud se refere como resultante do final de análise, nada tem a ver com a certeza proveniente do registro imaginário do paranóico, como veremos no capítulo III de nossa dissertação. Outra referência à palavra certeza, para além do âmbito da psicose, é oferecida por Lacan, em seu artigo O tempo lógico e a asserção da certeza antecipada, onde este relaciona a certeza com o sucesso do enodamento dos três registros, isto é, real, simbólico e imaginário.

20 à demanda que é feita pelo analisando. A ética psicanalítica implica em que o analista não ocupe o lugar daquele que sabe, sob a pena de obliterar a via de acesso ao inconsciente. A verdadeira importância da operação analítica não é a elucidação do sintoma. Defendemos a importância de buscar captar a razão pela qual o analisando crê no seu sintoma e, de maneira geral, pela qual crê no sentido e, a partir daí, no Pai, em Deus e no analista. Não há dúvida de que, quando alguém pede ajuda ao analista, acredita que seu sintoma quer dizer algo e que basta apenas decifrá-lo. 55 Mas, segundo Serge André, em A impostura perversa, a prática analítica se justifica por desfazer tal sustentação, ou seja, a crença no sentido. A transferência tende a reforçar o sentido. A depuração do sintoma só tem razão de ser quando reconhecemos que a necessidade do sentido é a própria condição do sintoma. Sem este passo fundamental, a psicanálise incorreria em uma mistificação. O analista não deve operar apenas como sujeito-que-supostamente-sabe sobre o sentido, mas sim como aquele que se presta a manter acesa a chama dessa crença (ou suposição) 56 a fim de melhor conduzí-la ao seu ponto de não-senso. É objetivo do analista, em cada caso particular, descobrir para que irá servir e se deslocar da função de intérprete para a função de causa, de objeto-causa da experiência. Nesse ponto decisivo, é o desejo do analista, mais do que seu saber, que constitui o motor e a garantia de sua prática, e será, como nos aponta Lacan, o pivô da transferência. O exercício da clínica com sujeitos religiosos vem nos apresentando múltiplas situações em que a crença se presentifica. A crença religiosa pode ancorar a subjetividade, oferecendo uma saída para o sujeito se estruturar, evitando, assim, uma desintegração, cujo efeito seria mais ameaçador que sua própria alienação. Por outro lado, verificamos que a crença pode impedir que o sujeito escreva sua própria história, uma vez que a religião, como sistema fechado de crenças, também obtura a produção da singularidade. Talvez seja por isso que Lacan sugere que o sujeito 55 No seminário RSI (lição de 21/01/75), Lacan utiliza a expressão crer no sintoma e valoriza o fato deste carregar um sentido para o sujeito, ou seja, não apenas a constatação de sua existência. É a crença no sintoma que o leva a pedir ajuda a um analista o sujeito crê que seu sintoma é capaz de dizer alguma coisa. Nessa mesma lição, Lacan aponta para duas importantes possibilidades de articulação com o verbo croire, pois, como iremos retomar mais adiante, demonstram o limiar entre a neurose e a psicose. 56 O termo suposição, segundo nosso ponto de vista, tem uma proximidade com o termo crença. Supor não leva a uma implicação necessária, não é tampouco saber. É simplesmente acreditar que vamos achar.

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