sexta-feira, 2 de setembro de 2011 Quinhentismo

Transcrição

1 Quinhentismo

2 Três vertentes Literatura informativa - escrivães Literatura de viagens - viajantes Literatura jesuítica jesuítas

3 Literatura informativa 1500: A carta de Pero Vaz de Caminha escrita a D. Manuel Certidão de nascimento achamento Arquivo nacional da Torre do Tombo Tome Vossa Alteza minha ignorância por boa vontade, a qual bem certo creia que, para aformosentar nem afear, aqui não há de pôr mais do que aquilo que vi e me pareceu.

4 Pardos, nus, sem coisa alguma que lhes cobrisse suas vergonhas. Traziam arcos nas mãos, e suas setas. Vinham todos rijamente em direção ao batel. E Nicolau Coelho lhes fez sinal que pousassem os arcos. E eles os depuseram. Mas não pôde deles haver fala nem entendimento que aproveitasse, por o mar quebrar na costa. Somente arremessou-lhe um barrete vermelho e uma carapuça de linho que levava na cabeça, e um sombreiro preto [ ]. E outro lhe deu um ramal grande de continhas brancas, miúdas que querem parecer de aljôfar, as quais peças creio que o Capitão manda a Vossa Alteza. E com isto se volveu às naus por ser tarde e não poder haver deles mais fala, por causa do mar.

5 Observações Exotismo Procura de metais Evangelização

6 1530 chegada de Martim Afonso de Sousa 1534 D. João III e D. Manuel criação das capitanias hereditárias

7 Literatura de viagens Em 1548 primeiros escravos Algumas obras: 1. Tratado da Terra do Brasil (1537) e História da Província de Santa Cruz a que vulgarmente chamamos de Brasil (1576) Pero de Magalhães Gândavo 2. Diário da navegação, de Pero Lopes de Souza (1530) 3. Diálogos das grandezas do Brasil (1618), Ambrósio Fernandes Brandão 4. Diálogo sobre a conversão do gentio, Pe. Manuel da Nóbrega Capa do livro de Pero Magalhães Gândavo

8 8. Meu cativeiro entre os selvagens do Brasil (1557), Hans Staden - Brasil: preso dos Tupinambás em Ubatuba - Deboche dos índios: - Previsões o salvam!

9 Em seguida, as mulheres, sobretudo as velhas, que são mais gulosas de carne humana e anseiam pela morte dos prisioneiros, chegam com água fervendo, esfregam e escaldam o corpo a fim de arrancar-lhe a epiderme; e o tornam tão branco como na mão dos cozinheiros os leitões que vão para o forno. Logo depois o dono da vítima e alguns ajudantes abrem o corpo e o esquartejam com tal rapidez que não faria melhor um açougueiro ao esquartejar um carneiro. E então - incrível crueldade - assim como os nossos caçadores jogam a carniça aos cães para torná-los mais ferozes, esses selvagens pegam os filhos, uns após outros, e lhes esfregam o corpo, os braços e as pernas com o sangue inimigo a fim de torná-los mais valentes. Em seguida, todas as partes do corpo, inclusive as tripas depois de bem lavadas, são colocadas no moquém, (ver ilustração), em torno do qual as mulheres, principalmente as velhas gulosas, se reúnem para recolher a gordura que escorre pelas varas dessas grandes e altas grelhas de madeira. Em seguida exortam os homens a procederem de modo que elas tenham sempre tais petiscos e lambem os dedos e dizem iguatu, o que quer dizer "está muito bom!"

10 9. História de uma viagem feita à terra do Brasil (1578- publicação 1611), Jean de Léry É útil, entretanto, que ao ler sobre semelhantes barbaridades, os leitores não se esqueçam do que se pratica entre nós. Em boa e sã consciência acho que excedem em crueldade aos selvagens os nossos usurários (agiotas) que, sugando o sangue e o tutano, comem vivos órfãos, viúvas e outras criaturas miseráveis, que prefeririam sem dúvida morrer de uma vez a definhar assim lentamente.

11 Literatura Jesuítica ou Catequética Companhia de Jesus Obediência Inácio de Loyola

12 Padre José de Anchieta - Poemas de devoção - Dicionários (tupi e português) - Gramática - Autos Teatro para índio ver

13 Padre Anchieta Concepção teocêntrica Versos redondilhos Temática religiosa e moral Teatro alegórico Textos: Arte da gramática da língua mais usada na costa do Brasil (1595) Cartas, informações, fragmentos históricos dos sermões (1554/1594) De Beata Virgine Dei Matre Maria (longo poema) Poemas (português, latim, espanhol e tupi) Teatro: autos (Na festa de São Lourenço)

14 A Santa Inês Cordeirinha linda, como folga o povo porque vossa vinda lhe dá lume novo! Padre Anchieta Cordeirinha santa, de Iesu querida, Vossa santa vinda o diabo espanta Por isso vos canta, com prazer, o povo, porque vossa vinda lhe dá lume novo. Nossa culpa escura fugirá depressa, pois vossa cabeça vem com luz tão pura. Vossa formosura honra é do povo, porque vossa vinda lhe dá lume novo. 14

15 Barroco Arte da Contrarreforma Arte do seiscentismo Portugal Brasil

16 Contexto histórico 1517: Reforma 1540: Companhia de Jesus 1563: Contrarreforma 16

17 Contexto histórico 1517: Reforma 1540: Companhia de Jesus 1563: Contrarreforma Influências do Renascimento (materialismo, paganismo, sensualismo) X princípios religiosos 16

18 Piero da Cortona: Glorificação de Urbano VIII, Afresco. Palazzo Barberini, Roma 17

19 Bernini: Baldaquino da Basílica de São Pedro, , Roma (bronze e mármore, 30m) 18

20 Culto dos contrastes: claro x escuro carne x espírito pecado x perdão juventude x velhice erotismo x espiritualidade Fusionismo Racional/irracional Místico/lógico 19

21 Dualismo - desequilíbrio Nasce o Sol e não dura mais que um dia, Depois da Luz se segue a noite escura, Em tristes sombras morre a formosura, Em contínuas tristezas a alegria. Porém se acaba o Sol, por que nascia? Se formosa a Luz é, por que não dura? Como a beleza assim se transfigura? Como o gosto da pena assim se fia? as no Sol, e na Luz, falte a firmeza, Na formosura não se dê constância, E na alegria sinta-se tristeza. Começa o mundo enfim pela ignorância, E tem qualquer dos bens por natureza A firmeza somente na inconstância. Gregório de Matos 20

22 Dualismo - desequilíbrio Nasce o o Sol Sol e e não não dura mais que que um um dia, dia, Depois da Luz se segue a noite escura, Em tristes sombras morre a formosura, Em contínuas tristezas a alegria. Porém se acaba o Sol, por que nascia? Se formosa a Luz é, por que não dura? Como a beleza assim se transfigura? Como o gosto da pena assim se fia? Mas no no Sol, Sol, e na e na Luz, Luz, falte falte a a firmeza, Na formosura não se dê constância, E na alegria sinta-se tristeza. Começa o mundo enfim pela ignorância, E tem qualquer dos bens por natureza A firmeza somente na inconstância. Gregório de Matos 20

23 Feísmo exploração da miséria humana A vós, divinos olhos, eclipsados De tanto sangue e lágrimas abertos, Pois para perdoar-me estais despertos E, por não condenar-me estais fechados Pessimismo Depreciação da vida terrena (por oposição à vida celeste) 21

24 22

25 Conflito: eu X mundo fé X razão 22

26 Conflito: eu X mundo fé X razão Instabilidade do ser das coisas 22

27 REBUSCAMENTO Cultismo jogo de palavras e sensações (Gongorismo) Conceptismo jogo de ideias (Quevedismo)

28 Cultismo "O todo sem a parte não é o todo; A parte sem o todo não é parte; Mas se a parte o faz todo, sendo parte, Não se diga que é parte, sendo o todo. Gregório de Matos 24

29 Conceptismo "Para um homem se ver a si mesmo, são necessárias três coisas: olhos, espelho e luz. Se tem espelho e é cego, não se pode ver por falta de olhos; se tem espelho e olhos, e é de noite, não se pode ver por falta de luz. Logo, há mister luz, há mister espelho e há mister olhos." Pe. Antônio Vieira 25

30 Conceptismo - por silogismo 26

31 Conceptismo - por silogismo Premissa maior: O amor infinito de Cristo salva o pecador. Premissa menor: Eu sou um pecador. Conclusão: Logo, eu espero salvar-me. 26

32 Barroco em Portugal D. Francisco Manuel de Melo (poesia) Sóror Mariana Alcoforado (cartas - epistolografia) Pe. Manuel Bernardes (lendas e anedotas) Antônio José da Silva - Teatro de Costumes Pe. Antônio Vieira 27

33 Barroco no Brasil Prosopopéia, Bento Teixeira Obra de caráter encomiástico e laudatório (Jorge de Albuquerque Coelho e Duarte) Poema épico (oitava-rima, 94 estrofes, versos decassílabos) Maneirista (à maneira de Camões) 28

34 Plano cultural na colônia Academia Brasílica dos Esquecidos ( ) Academia Brasílica dos Renascidos (1759) Academia dos Felizes ( ) Academia dos Seletos (1752) 29

35 Padre Antônio Vieira ( ) - ordenado em volta para Lisboa pela Restauração - império luso-católico - defensor dos cristãos-novos - defensor dos índios - defensor dos negros 30

36 V Padre Antônio Vieira ( ) Sermões e história Sermão de Santo Antônio, havendo os Holandeses querendo invadir a Bahia (1638) Sermão pelo bom sucesso das Armas de Portugal contra as de Holanda(1640) Sermão dos bons anos (1642) Sermão de Santo Antônio, tendo-se reunido Cortes (1642) Sermão de São Roque (1644) Sermão das tentações (1653) Sermão da epifania (1662) Outros, entre tantos Sermão da primeira dominga da Quaresma (1653): libertação dos indígenas Sermão de Santo Antônio aos peixes (1645): questões doutrinárias (amor mística) Sermão da sexagésima (1655): arte de pregar 31

37 V Padre Antônio Vieira ( ) Sermões e história Sermão de Santo Antônio, havendo os Holandeses querendo invadir a Bahia (1638) Sermão pelo bom sucesso das Armas de Portugal contra as de Holanda(1640) Sermão dos bons anos (1642) Sermão de Santo Antônio, tendo-se reunido Cortes (1642) Sermão de São Roque (1644) Sermão das tentações (1653) Sermão da epifania (1662) Outros, entre tantos Sermão da primeira dominga da Quaresma (1653): libertação dos indígenas Sermão de Santo Antônio aos peixes (1645): questões doutrinárias (amor mística) Sermão da sexagésima (1655): arte de pregar Sermões = edificação + intervenção política e social 31

38 Sermão XIV do Rosário (1633), pregado na Irmandade dos Pretos Em um engenho sois imitadores de Cristo Crucificado: porque padeceis em um modo muito semelhante o que o mesmo Senhor padeceu na sua cruz, e em toda sua paixão. A sua cruz foi composta de dois madeiros, e a vossa em um engenho é de três [ ] Cristo despido, e vós despidos; Cristo sem comer e vós com famintos; Cristo em tudo maltratado e vós maltrados em tudo. 32

39 Padre Antônio Vieira ( ) "Vós, diz Cristo Senhor nosso, falando com os Pregadores, sois o sal da terra: e chama-lhes sal da terra, porque quer que façam na terra, o que faz o sal.o efeito do sal é impedir a corrupção, mas quando a terra se vê tão corrupta como está a nossa,havendo tantos nela, que têm o ofício de sal, qual será ou qual pode ser a causa desta corrupção? Ou é porque o sal não salga, ou porque a terra se não deixa salgar. Ou é porque o sal não salga, e os Pregadores não pregam a verdadeira doutrina: ou porque a terra se não deixa salgar, e os ouvintes, sendo verdadeira a doutrina, que lhes dão, e não querem receber: ou é porque o sal não salga, e os Pregadores dizem uma cousa, e fazem outra, ou porque a terra se não deixa salgar e os ouvintes em vez de servir a Cristo servem a seus apetites. Não é tudo isto verdade? Ainda mal." 33

40 Gregório de Matos e Guerra( ) A cada canto um grande conselheiro. que nos quer governar cabana, e vinha, não sabem governar sua cozinha, e podem governar o mundo inteiro. 34

41 Gregório de Matos e Guerra( ) Poesia Lírica amorosa: figura angelical e tentadora A cada canto um grande conselheiro. que nos quer governar cabana, e vinha, não sabem governar sua cozinha, e podem governar o mundo inteiro. 34

42 Gregório de Matos e Guerra( ) Poesia Lírica amorosa: figura angelical e tentadora A cada canto um grande conselheiro. que nos quer governar cabana, e vinha, não sabem governar sua cozinha, e podem governar o mundo inteiro. Poesia Sacra: senso do pecado, fragilidade humana, temor diante da morte, condenação e arrependimento 34

43 Gregório de Matos e Guerra( ) Poesia Lírica amorosa: figura angelical e tentadora A cada canto um grande conselheiro. que nos quer governar cabana, e vinha, não sabem governar sua cozinha, e podem governar o mundo inteiro. Poesia Sacra: senso do pecado, fragilidade humana, temor diante da morte, condenação e arrependimento Poesia Satírica: políticos, religiosos e mulheres 34

44 Ó não aguardes, que a madura idade Te converta essa flor, essa beleza, Em terra, em cinza, em pó, em sombra, em nada 35

45 Tão cheio o corpanzil de godolhões Que o julguei por um saco de melões; vi-te o braço pendente da garganta, E nunca prata vi com liga tanta [...] Olhos cagões, que cagam sempre à porta, Me tem esta alma torta, Principalmente vendo-lhes as vidraças [...] governandor Antônio Luiz Gonçalves da Câmara Coutinho 36