CONSELHO REGULADOR DELIBERAÇÃO N.º 79/CR-ARC/2017. de 17 de outubro

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1 CONSELHO REGULADOR DELIBERAÇÃO N.º 79/CR-ARC/2017 de 17 de outubro Assunto: Deliberação do Conselho Regulador da ARC, na sequência da missão de fiscalização realizada à Tiver Rádio DIA, a 25 de setembro de No exercício das suas funções de regulação e de supervisão dos órgãos de comunicação social que operam sob a jurisdição do Estado de Cabo Verde e no cumprimento das suas atribuições estatutárias, a Autoridade Reguladora para a Comunicação Social realizou, no dia 25 de setembro do corrente ano, uma visita de fiscalização à Televisão Independente de Cabo Verde Tiver, sita na Praceta Tiver, Terra Branca, cidade da Praia, com o objetivo de fiscalizar o cumprimento das leis, dos regulamentos e dos requisitos técnicos aplicáveis no âmbito das suas competências. Durante a visita de fiscalização efetuada a este serviço de programa televisivo, que é operado pela Sociedade de Comunicação para o Desenvolvimento, Tiver, S.A, e em conformidade com o relatório final da missão apresentado a este Conselho, constatou-se que a operadora e o respectivo serviço de programas continuam em incumprimento da deliberação da ARC relativa à visita de fiscalização efetuada no ano transato, no que diz respeito às exigências estabelecidas no nosso ordenamento jurídico, particularmente: 1. Registo na ARC A Lei da Comunicação Social (doravante LCS), aprovada pela Lei n.º 70/VII/2010, de 16 de agosto, estipula que estão sujeitos a registos junto do serviço integrado no departamento governamental da comunicação social todas as empresas e órgão de comunicação social. No seu Artigo 40.º, a mesma lei estipula que O registo das empresas e órgãos de comunicação social referidos no artigo anterior é obrigatório e de acesso público e é regulado por diploma especial. Deliberação n.º 79/CR-ARC/ Página 1 de 8

2 Por seu turno, a Lei de Registo das Empresas e Meios de Comunicação Social, aprovada pelo Decreto-Lei n.º 45/2004, de 2 de novembro, consagra na alínea d) do seu Artigo 2.º que estão sujeitos a registo os operadores radiofónicos e respectivos canais ou serviços de programas. No Capítulo IV da mesma lei (Artigos 29.º a 33.º), indica-se os procedimentos, elementos, condições e requisitos para o registo dos operadores radiofónicos. Com a aprovação dos Estatutos da ARC através da Lei n.º 8/VIII/2011, de 29 de dezembro, esta Autoridade passou, nos termos da alínea e) do seu n.º 3 do Artigo 22.º, a ser a entidade competente para proceder aos registos previstos na lei, podendo para o efeito realizar auditorias para fiscalização e controlo dos elementos fornecidos. O n.º 1 do Artigo 24.º da Lei de Televisão e Serviços Audiovisuais a Pedido, doravante LTVSAP, é claro ao estabelecer que os operadores de televisão e de serviços audiovisuais a pedido devem promover o respectivo registo junto da ARC. De acordo com o estabelecido no Artigo 84.º da LTVSAP, a inobservância do dever acima referido constitui contraordenação leve, punível com coima de $00 a $00. Contudo, até à presente data, nem a operadora Sociedade de Comunicação para o Desenvolvimento, Tiver, S.A., nem o serviço de programas Tiver, promoveu o seu registo na ARC, nos termos da lei. 2. Divulgação dos proprietários e relação dos acionistas De acordo com o n.º 1 do Artigo 29.º da Lei da Comunicação Social (doravante LCS), as empresas e os órgãos de comunicação social devem proceder à divulgação pública da identidade dos seus proprietários ou seus associados, sócios ou cooperadores, ou das pessoas coletivas suas proprietárias. O mesmo, segundo os números 2 e 3 do mesmo artigo, deve ser feito na II Série do Boletim Oficial, no início de cada ano civil, ou sempre que houver alteração na titularidade do direito de propriedade. O serviço de programas Tiver não tem divulgado a identidade dos seus proprietários nos termos e para efeitos do referido artigo, estando assim em incumprimento. Deliberação n.º 79/CR-ARC/ Página 2 de 8

3 Na esteira do acima referido, dispõe o Artigo 6.º da LTVSAP, particularmente nos números 2, 3 e 4, que os operadores de televisão que revestem a forma de sociedade anónima devem publicar, no sítio eletrónico do respectivo órgão de comunicação, a relação dos titulares e dos detentores de participações no seu capital social, a composição dos seus órgãos de administração e de gestão e a identificação do responsável pela orientação e pela supervisão do conteúdo das suas emissões. O n.º 3 do artigo acima referido dispõe que a relação dos titulares e dos detentores de participações no seu capital social deve ser discriminada por percentagens. Da consulta feita ao sítio não constam as informações acima referidas, tampouco foram supletivamente comunicadas à ARC, como manda o n.º 4 do Artigo 6.º da LTVSAP, pelo que o operador em causa e o respectivo serviço de programas incorrem em contraordenações, tipificadas como muito graves e puníveis com coima que variam de $00 a $00 e suspensão da respectiva licença (alínea a) do n.º 1 do Artigo 86.º da LTVSAP). 3. Publicação do relatório e auditoria das contas de demonstração de resultados Por imposição legal, os operadores de televisão estão obrigados a publicar, num jornal de expansão nacional e até ao fim do primeiro semestre de cada ano (até junho), o relatório e contas de demonstração dos resultados líquidos, onde se evidencie a fonte dos movimentos financeiros derivados de capitais próprios ou alheios, bem como proceder à auditoria externa das contas (n.º 5 do Artigo 21.º da LTVSAP). Até o momento (outubro de 2017), desconhece-se que a operadora e o respectivo serviço de programa tenham promovido a auditoria externa às suas contas de Além do mais, não foi feita a devida publicação do relatório e contas de demonstração dos resultados referentes ao ano económico de 2016, em nenhum dos jornais da praça, o que constitui contraordenação grave, punível com coima de $00 a $00, nos termos da alínea a) do n.º 1 do Artigo 85º da Lei da Televisão. 4. Divulgação do Estatuto Editorial Reza o n.º 1 do Artigo 30.º da LCS que Todos os órgãos de comunicação social informativos devem adoptar um estatuto editorial que defina claramente a sua orientação e os seus objetivos, Deliberação n.º 79/CR-ARC/ Página 3 de 8

4 e inclua o compromisso de assegurar o respeito pelos princípios deontológicos e pela ética profissional, assim como pela boa-fé dos leitores devendo, conforme determina o n.º 3 do mesmo artigo ser divulgado no início de cada ano civil para informar o público da sua manutenção. No caso dos operadores de televisão, a obrigação de adotar um estatuto editorial deriva das imposições cominadas do disposto nos artigos 38.º e 39.º da LTVSAP e, em caso de incumprimento, são consideradas contraordenações graves, puníveis nos termos do disposto na alínea a) do n.º 1 do Artigo 85.º da Lei de LTVSAP. A Tiver não tem divulgado o seu estatuto editorial no início de cada ano civil, incumprindo assim o disposto no referido artigo. 5. Diretor Os órgãos de comunicação social têm, nos termos do Artigo 24.º da Lei de Comunicação Social, um Diretor que define a sua orientação, determina o seu conteúdo e assegura a sua representação perante as autoridades. Este serviço de programa não tem a figura do Diretor como dispõe o artigo supra referido. 6. Jornalista habilitado É considerado jornalista, nos termos do número 1 do Artigo 4.º do Estatuto do Jornalista (doravante EJ) ( ) o indivíduo que, em regime de ocupação principal, permanente e remunerada, devidamente credenciada pela entidade competente, exerça funções da seguinte natureza: ( ) a) Jornalística, em regime de contrato de trabalho, em empresa jornalística ou órgão de comunicação social; b) De direção de publicação periódica editada por empresa jornalística, de serviço de informação de comunicação social, desde que tenha anteriormente exercido, por período não inferior a cinco anos, qualquer função de natureza jornalística; c) Jornalística, em regime liberal, desde que tenha formação superior específica na área da Comunicação Social; d) De correspondente, em território nacional ou estrangeiro, em virtude de contrato de trabalho com um órgão de comunicação social. O Artigo 6.º, também do mesmo diploma, com epígrafe Títulos profissionais, é claro ao dispor, primeiro no seu número 1 que, É condição do exercício da profissão de jornalista a Deliberação n.º 79/CR-ARC/ Página 4 de 8

5 habilitação com respectivo título, o qual é emitido e renovado pela Comissão de Carteira Profissional, nos termos da lei e, depois, no seu número 2, que Nenhuma empresa ou órgão de comunicação social pode admitir, ou manter ao seu serviço como jornalista, quem não se encontre devidamente habilitado com o respectivo título. Dispõe o n.º 1 do Artigo 48.º da LTVSAP que As entidades que exercem a atividade de televisão devem apresentar, durante os períodos de emissão, serviços noticiosos regulares, assegurados por jornalistas profissionais. A Tiver não conta com nenhum jornalista habilitado com carteira profissional, em violação do n.º 2 do artigo 6.º do EJ e, concomitantemente, os seus serviços noticiosos não são coordenados e assegurados por jornalistas profissionais, transgredindo o disposto no Artigo 48.º da LTVSAP. 7. Equiparados sem cartão de identificação Conforme o n.º 3 do Artigo 20.º do Estatuto do Jornalista são equiparados a jornalistas profissionais os repórteres de imagem e os editores de infografias, devendo os mesmos possuir um cartão de identificação próprio, emitido nos termos do regulamento da carteira profissional de acordo com o n.º 1 do Artigo 24.º do mesmo diploma. Os quatro operadores de câmara de serviço de programas televisivo - Tiver não possuem cartão de identificação, infringindo, assim, o n.º 1 do Artigo 24-º do EJ. 8. Estagiários sem título provisório O Estatuto do Jornalista dispõe, no n.º 1 do Artigo 7.º que o acesso à profissão de jornalista inicia-se com um estágio obrigatório, a concluir com aproveitamento, com a duração de seis meses em caso de licenciatura na área de Comunicação Social, e de doze meses, nos restantes casos referindo no n.º 3 do seu Artigo 22.º que o jornalista estagiário deve possuir um título provisório que, para todos os efeitos, equivale à carteira profissional. A Tiver conta no seu quadro com mais de quatro jornalistas estagiários, mas nenhum deles está na posse do respectivo título provisório, em incumprimento das disposições legais supra. Deliberação n.º 79/CR-ARC/ Página 5 de 8

6 9. Produção nacional Segundo a alínea m) do Anexo ao Alvará atribuído à sociedade Tiver Televisão Independente de Cabo Verde, S.A., esta operadora deve reservar à produção nacional uma percentagem do seu tempo de emissão, dentro dos horários de maior audiência, um tempo nunca inferior a 45%. De acordo com a análise feita à grelha de programação e o visionamento de um dia de gravação, a produção nacional não atinge os 45% do tempo de emissão da Tiver, estando o operador em incumprimento do alvará. 10. Identificação e registo de programas Os serviços de programa devem, de acordo com o n.º 1 in fine do Artigo 49.º da LTVSAP, organizar um registo donde constem as identidades do autor, produtor e do realizador dos seus programas. Não obstante os programas da Tiver terem as respectivas fichas técnicas e artísticas, esse serviço de programa não organiza o registo como dispõe o Artigo 49.º da LTVSAP. 11. Gravação das emissões O serviço de programas também não tem assegurado a gravação e conservação de todos os programas que emite, após a sua difusão por um prazo mínimo de 120 dias, o que contraria o estipulado no n.º 3 do Artigo 49.º da LTVSAP e do n.º 2 do Artigo 61.º da LCS, segundo o qual As estações de radiodifusão ou de televisão ficam obrigadas a conservar e a manter em arquivo as gravações dos programas emitidos pelo prazo mínimo de cento e vinte dias, para efeitos de eventual necessidade de sua utilização como prova em tribunal. Assim, e em conformidade: No exercício das competências que lhe foram atribuídas pelos seus estatutos (Lei n.º 8/VIII/2011, de 29 de Dezembro), em particular o de fiscalizar o cumprimento das leis, regulamentos e requisitos técnicos (alínea c) do n.º 3 do Artigo 22.º) e de assegurar o Deliberação n.º 79/CR-ARC/ Página 6 de 8

7 cumprimento das normas reguladoras da atividade de comunicação social (alínea k) do Artigo 7.º); E verificado que esse operador de televisão e o seu serviço de programa não sanaram muitas das irregularidades detetadas na missão de fiscalização de 2016 e que foram objeto de determinações proferidas pela ARC, por Deliberação n.º 33/CR-ARC/2016; Constatando que vários deveres e obrigações, estabelecidos nas normas legais em vigor, estão por cumprir; O Conselho Regulador, reunido na sua 21.ª sessão ordinária, no dia 17 de outubro de 2017, deliberou, por unanimidade, notificar a Sociedade de Comunicação para o Desenvolvimento, Tiver, S.A., na qualidade de proprietária e o seu serviço de programa, para que, no prazo de 30 dias: a) Solicitem o registo da Sociedade de Comunicação para o Desenvolvimento, como operadora de televisão, e da Televisão Independente de Cabo Verde Tiver, como seu serviço de programa televisivo, junto da ARC; b) Divulguem a identidade do seu proprietário, como determina o Artigo 29.º da LCS, e façam publicar no seu sítio na internet a relação dos seus acionistas, discriminados por nome e percentagem de participação no capital social, em conformidade com o disposto no Artigo 6.º da LTSAP; c) Promovam a auditoria e a subsequente publicação do relatório e contas relativos ao exercício económico de 2016, em conformidade com o estabelecido no n.º 5 do 21.º da LTSAP. d) Passem, doravante, a divulgar, no início de cada ano civil, o seu Estatuto Editorial, de acordo com o n.º 3 do Artigo 30.º da LCS; e) Designem um Diretor ou responsável pela orientação e supervisão dos conteúdos do serviço de programa televisivo TIVER, nos termos e de acordo com o disposto no Artigo 24.º da LCS e do Artigo 38.º e números 2 e 4 do Artigo 40.º, ambos da LTVSAP; Deliberação n.º 79/CR-ARC/ Página 7 de 8

8 f) Instem os seus jornalistas, estagiários e equiparados editores e operadores de imagem a requererem junto da Comissão de Carteira Profissional de Jornalistas os respectivos títulos profissionais, cumprindo assim o n.º 2 do Artigo 6.º do Estatuto do jornalista; g) Reservem, nos horários de maior audiência, 45% do tempo de emissão à produção nacional em cumprimento da alínea m) do Anexo ao alvará; h) Organizem registo em fichas artísticas e técnicas, onde constem as identidades do autor, produtor e do realizador nos termos do n.º 1 do Artigo 49.º da LTVSAP; i) Envidem esforços no sentido de garantir que as emissões do serviço de programas, Tiver, sejam gravadas e conservadas pelo prazo mínimo de 120 dias, como determinam o n.º 2 do Artigo 61.º da LCS e o n.º 3 do Artigo 13.º da Lei da Rádio, para efeitos de eventual necessidade de sua utilização como prova em Tribunal. Esta Deliberação é de caráter vinculativo, nos termos previstos no Artigo 59.º dos Estatutos da ARC, aprovados pela Lei n.º 8/VIII/2011, de 29 de dezembro. Cidade da Praia, 17 de Outubro de 2017 O Conselho Regulador, Arminda Pereira de Barros, Presidente Maria Augusta Évora Tavares Teixeira Alfredo Henriques Mendes Dias Pereira Jacinto José Araújo Estrela Karine de Carvalho Andrade Ramos Deliberação n.º 79/CR-ARC/ Página 8 de 8