RECOMENDAÇÃO. Introdução
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- Sônia Mirella de Lacerda
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1 RECOMENDAÇÃO I Introdução 1. A edição do dia 4 de Outubro de 2007 do jornal Correio da Manhã apresentava uma reportagem sobre as distâncias percorridas por quatro utentes do Serviço Nacional de Saúde (SNS) a fim de obterem tratamentos de hemodiálise. Conforme é relatado, os quatro utentes, todos residentes no distrito de Portalegre, embora em diferentes concelhos, recebem os seus tratamentos de hemodiálise no centro de diálise SNS Sociedade Nefrológica do Sul SA, situado no Montijo, por não terem vaga no centro da área de residência, o que implica que os utentes façam uma deslocação de cerca de 600 quilómetros por cada tratamento, três vezes por semana. 2. Nos termos da alínea a) do n.º 1, e da alínea b) do n.º 2, do art. 25.º do Decreto-Lei n.º 309/2003, de 10 de Dezembro, incumbe à Entidade Reguladora da Saúde (ERS) assegurar o direito de acesso universal e igual a todas as pessoas ao serviço público de saúde, direito este que no quadro da situação relatada poderá estar a ser violado. Nesse sentido, o Conselho Directivo da ERS procedeu à abertura do processo de inquérito com o n.º ERS/076/07, com o fim de perceber se a situação de deslocação excessiva dos utentes se trata de um problema de insuficiência de oferta sem solução no contexto da actual rede de prestação de cuidados de hemodiálise da região, ou alternativamente, se é possível uma solução que resulte na diminuição das distâncias percorridas pelos utentes. 3. No contexto desse processo de inquérito, foi levada a cabo uma avaliação da situação relatada na peça jornalística, na perspectiva da defesa dos valores subjacentes às suas atribuições e competências, particularmente o da garantia do direito de acesso universal e equitativo aos serviços públicos de saúde. II Análise dos Factos 4. A ERS tem já um conhecimento relevante sobre a realidade da prestação de serviços de hemodiálise no distrito de Portalegre, por via dos trabalhos realizados no âmbito de um estudo sobre a estrutura e performance do mercado destes 1
2 serviços, e no âmbito de um parecer emitido sobre o procedimento relativo ao Concurso Público para a construção da nova unidade de hemodiálise da Unidade Local de Saúde do Norte Alentejano (ULSNA). 5. Todavia, para a análise da questão em concreto, foi necessário obter informação adicional sobre a procura de serviços de hemodiálise no distrito de Portalegre, e a disponibilidade dos centros de hemodiálise próximos ao distrito, informação esta que foi recolhida junto dos centros de hemodiálise e da ARS do Alentejo. 6. Segundo se pode ler na notícia, fontes da autarquia de Portalegre e da ULSNA atribuem a indesejável situação de afectação dos utentes de Portalegre à clínica do Montijo à insuficiente oferta de cuidados de hemodiálise na região, patente na lotação do centro de diálise de Portalegre. 7. Todavia, uma avaliação preliminar da rede de oferta de cuidados de hemodiálise convencionados com o SNS aconselha uma análise mais aprofundada das estruturas de procura e oferta destes serviços na região. Com base em informação constante do Sistema de Registo de Entidades Reguladas da ERS (SRER), é possível constatar que existem dois centros de diálise privados convencionados com o SNS mais próximos de Portalegre do que o centro do Montijo: em Abrantes e Évora. 8. Ainda com base em informação do SRER, constata-se que os centros de diálise de Portalegre e Évora são propriedade da NMC Centro Médico Nacional SA, entidade que detém também a totalidade do capital da SNS Sociedade Nefrológica do Sul SA (o centro do Montijo) e a quase totalidade da ABRANDIAL Clínica de Doenças Renais, Lda (o centro de Abrantes). 9. Sobre a disponibilidade de oferta de cuidados de hemodiálise na região, com base no conjunto de informações recolhidas pela ERS junto dos operadores, foi possível constatar que: 1.º A NMC Centro Médico Nacional SA afirma que o centro de diálise de Portalegre tem a totalidade das suas vagas para doentes não portadores de hepatite C ou B ocupadas. 2.º A NMC Centro Médico Nacional SA afirma que o centro de diálise de Abrantes tem a totalidade das suas vagas para doentes não portadores de hepatite C ou B ocupadas. 3.º A NMC Centro Médico Nacional SA afirma que o centro de diálise de Évora tem disponíveis quatro vagas para doentes não portadores de hepatite C ou B. 2
3 10. Segundo cálculos da ERS, o centro de diálise de Évora, sito na Rua Soldado Joaquim Luís, em Évora, com convenção com o SNS, dista em estrada 99 km da localidade de residência do último dos doentes a ser recolhido para transporte ao centro de diálise, enquanto que o centro de diálise do Montijo, sito na Rua da Indústria Corticeira, no Montijo, onde efectivamente os doentes são actualmente acompanhados, dista cerca de 207 km. 11. Segundo informação da ARS do Alentejo, com base em comunicação da ULSNA, o número de utentes residentes no distrito de Portalegre em tratamentos de hemodiálise no centro do Montijo é actualmente de Dos três pontos anteriores pode concluir-se que a deslocação excessiva dos utentes para a obtenção dos tratamentos de hemodiálise pode ser evitada pela sua inclusão no centro de diálise de Évora, onde existem vagas suficientes para receber os doentes. 13. A deslocalização dos quatro utentes mencionados na notícia do Correio da Manhã do centro do Montijo para o centro de Évora poderá trazer-lhes benefícios relevantes por via da significativa redução do tempo dispendido no transporte para os tratamentos, e consequente diminuição do desconforto e risco de saúde causado por esse transporte. Segundo o itinerário mencionado na notícia, a ERS pode estimar que os utentes João Grilo, Luzia Fonseca, Maria Fragoso e Miraldina Rosa percorrem numa deslocação até ao centro do Montijo cerca de 284 km, 257 km, 231 km e 207 km, respectivamente, o que perfaz, no final de uma semana de tratamentos, um total de km, km, km e km, também respectivamente. Com a sua colocação no centro de Évora, estimamos que João Grilo passe a percorrer numa deslocação para tratamentos 177 km (1.062 km numa semana), Luzia Fonseca 150 km (900 km), Maria Fragoso 123 km (738 km) e Miraldina Rosa 99 km (594 km). As distâncias que seriam percorridas com a integração dos utentes em Évora continuam a ser elevadas, mas conseguir-se-ia uma redução do número de quilómetros percorridos na ordem dos 38% para o primeiro utente e 52% para o último. 14. Adicionalmente, com esta reafectação dos utentes, o SNS passaria a ter um dispêndio menor com os serviços de transporte de doentes. Tendo em conta que o preço por quilómetro pago pelo SNS pelos serviços de transporte de doentes é de 0,40 (conforme estabelece o Despacho n.º 17741/2006, do Secretário de Estado da Saúde), o SNS estará neste momento a despender cerca de 682 semanais com o transporte dos utentes ao Montijo (assumindo que apenas é pago o 3
4 equivalente a um transporte desde o local de residência do primeiro utente até ao Montijo, não se contemplado suplementos pelo transporte dos demais utentes). A integração dos utentes em Évora passaria a gerar custos de transporte próximos dos 425, implicando isto uma poupança na ordem dos 257 semanais (38%). 15. Conforme informação da ARS do Alentejo, com base em comunicação da ULSNA, a empresa de transporte de doentes Ambulâncias 111 Serviço de Transporte de Doentes e Sinistrados, SA, cujo capital é detido na totalidade também pela NMC Centro Médico Nacional SA, é um dos dois transportadores habitualmente utilizados pela ULSNA, e que transporta em média 70% dos utentes da região. O outro transportador habitual é a Cruz Vermelha Portuguesa de Elvas, que em média transporta 24% dos utentes, sendo os restantes 6% atribuídos pontualmente a associações de bombeiros ou devidos a transportes em veículo próprio dos utentes. 16. Com base em informação recolhida junto dos centros de hemodiálise, foi possível ainda detectar que dos utentes actualmente acompanhados no centro de diálise de Portalegre, um reside na localidade de Casa Branca, do distrito de Portalegre, mas a menor distância em estrada do centro de Évora (a 68,6 km) do que do de Portalegre (a 70 km). Outros nove utentes do centro de Portalegre, residem no centro de Elvas ou em localidades muito próximas, de tal forma que, apesar de as distâncias para o centro de Évora serem sensivelmente maiores do que para o centro de Portalegre, por via das características dos acessos rodoviários, a demora estimada das deslocações para Portalegre é superior em cerca de 10 minutos face a Évora. Isto significa que existirão utentes alocados ao centro de Portalegre que poderão considerar positiva uma integração em Évora, abrindo vagas em Portalegre que poderiam ser atribuídas aos utentes do distrito que actualmente vão ao Montijo. III Recomendações Em face do exposto, deliberou o Conselho Directivo da Entidade Reguladora da Saúde, em 24 de Janeiro de 2008, no uso da competência que lhe foi conferida pelos artigos 6.º e 25.º do Decreto-Lei n.º 309/2003, de 10 de Dezembro, aprovar as seguintes recomendações, a remeter à Administração Regional de Saúde do Alentejo, I.P.: 4
5 a) Aos utentes do centro de Portalegre residentes na localidade de Casa Branca, Portalegre, e nas localidades próximas ao centro de Elvas, deve ser proposta a sua transferência para o centro de Évora, que a ser aceite, permitiria a criação de vagas para integrar os utentes do distrito actualmente tratados no Montijo (por ordem de proximidade ao centro de Portalegre). b) No caso de não ser possível desta forma criar vagas em Portalegre, deve proceder-se à integração no centro de diálise de Évora dos utentes do distrito actualmente tratados no Montijo. ERS, 24 de Janeiro de
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