Fundação Ceciliano Abel de Almeida 2 PETROBRAS

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1 ASSOCIAÇÕES DE FORAMINÍFEROS BENTÔNICOS E MASSAS DE ÁGUA DO TALUDE DA BACIA DE CAMPOS, BRASIL Renata Moura 1 ; Oscar Strohschoen Jr. 2 1 Fundação Ceciliano Abel de Almeida (renata.fcaa@petrobras.com.br); 2 PETROBRAS Abstract. Como resultado parcial de dissertação de mestrado da autora, estão sendo apresentados os dados da análise de foraminíferos bentônicos de 24 amostras de box-corer do talude da Bacia de Campos. A análise preliminar permite caracterizar pelo menos duas assembléias distintas, e a existência de uma nítida relação entre os valores de diversidade e a profundidade. A dissolução nas testas calcárias é bastante conspícua, sendo mais evidente em Planulina spp., Cibicidoides spp., Oridorsalis spp. e Hoeglundina elegans. As variações de diversidade e grau de dissolução são atribuídas a mudanças de massas d água e/ ou variações locais dos níveis de dissolução de carbonato de cálcio (no caso, provavelmente oscilações da lisóclina). Palavras-chave: foraminíferos bentônicos, dissolução, Bacia de Campos. Com o propósito de investigar a distribuição da fauna de foraminíferos bentônicos e suas relações com as massas d água e parâmetros oceanográficos, foram analisadas 24 amostras de boxcorer do talude da Bacia de Campos. As amostras foram cedidas pelo Projeto Caracterização Ambiental do Oceano Profundo na área de Exploração e Produção da Bacia de Campos (OCEANPROF) do Programa de Cooperação CENPES/UFRJ. Este trabalho apresenta os dados preliminares da Dissertação de Mestrado autora. A área de estudo estende-se ao longo do talude médio a profundo da Bacia de Campos, na região sul do Cânion de São Tomé, com profundidades entre 750 e 1950m. As estações distribuem-se ao longo de cinco perfis dip, transversais às linhas batimétricas (transects), com cinco amostragens por perfil (750, 1050, 1350, 1650 e 1950m) (Fig.1). As amostras foram preparadas segundo a metodologia padrão no Laboratório de Preparação de Microfósseis do Setor de Bioestratigrafia e Paleoecologia do Centro de Pesquisa da Petrobrás (CENPES). Foram analisadas as frações retidas nas peneiras 0,125mm e 0,0062mm. Para a classificação a nível genérico utilizou-se Loeblich & Tappan (1988). Para a classificação sistemática específica foram utilizados entre outros Loeblich & Tappan (1988, 1994), Barbosa (2002), além do Catálogo Online Ellis & Messina. Muitos estudos vem tentando entender melhor as relações das associações faunísticas do recente (Boersma, 1984; Gupta, 1994; Schnitker, 1994; Ishman e Foley, 1996; Rijk et al, 2000; Barbosa, 2002; Schömfeld, 2002; Hayward et al, 2002; Smith e Gallangher, 2003; Hayward et al, 2004; Mendes et al, 2004) e a grande maioria relaciona as assembléias bentônicas não só com as massas d água, mas também com o aporte de nutrientes (fluxo orgânico), concentrações de oxigênio dissolvido e CaCO 3, além da batimetria.

2 Foram classificados 366 taxa a nível específico e 37 a nível genérico. Os foraminíferos de testa calcário-hialina são os mais abundantes e diversos na maioria das estações (60 a 85% da fauna bentônica total). Dentre estes, as espécies mais freqüentes são: Cibicidoides robertsonianus, Uvigerina peregrina, Hoeglundina elegans, Gyroidina nitidula, Sphaeroidina bulloides, Globocassidulina gemma, Parrelloides bradyi, Gavelinopsis lobatulus, Planulina costata, Pullenia bulloides. Nas estações no talude profundo (lâmina d água de 1950m) aumenta a abundância de foraminíferos aglutinantes (40 a 50% da fauna total de bentônicos). As espécies mais freqüentes são: Siphonaperta ammophila, Ammodiscus gullmarensis e Rhabdammina abyssorum. É nítida a tendência de aumento na proporção de aglutinantes com o aumento da profundidade. Os foraminíferos de testa porcelanosa ocorrem muito esparsamente e, em geral, foram reconhecidos os taxa de ambiente de talude (Pyrgo sp., Triloculina sp., Pygoella sp. e Triloculinella pseudooblonga). Os percentuais deste grupo não ultrapassam os 10% da fauna total de bentônicos. No gráfico de abundância absoluta da fauna de foraminíferos bentônicos, observa-se uma zona de aumento da abundância absoluta, aproximadamente entre 900m e 1500m (Fig.3). Com o gráfico de diversidade por grupos, observa-se um relativo aumento da diversidade na profundidade de 1350m e uma brusca diminuição 1500m, principalmente nos perfis A, B e D (estações 4, 9 e 19) (Fig.4). O intervalo de 750 a 1050 m, no perfil E, não foi amostrado e a estação 13 (Perfil C) foi desconsiderada por perda de amostra. As análises em andamento pretendem verificar os efeitos da ocorrência de diferentes massas d água na área sobre a distribuição e ocorrência de foraminíferos bentônicos. Segundo Reid (1989 in Viana et al 1998), o limite teórico local entre as massas de Água Intermediária Antártica (AIA) e Água de Fundo do Atlântico Norte (AFAN) é a 1200m, ou ainda que este limite seria mais abaixo (1300 a 1400m) (Fig.2). Diferenças nos padrões de distribuição das assembléias de foraminíferos bentônicos poderiam refletir estes limites. A massa d água AIA é formada no Fronte Sub-antártico a 45 S, fluindo para o norte, e é bem caracterizada, com temperaturas variando de 6 a 2 C, com altas concentrações de oxigênio dissolvido e uma salinidade mínima de 34,2%. A AFAN é uma massa d água ampla, fluindo em direção ao sul, altamente salina, pobre em nutrientes e rica em oxigênio, que é encontrada em profundidades de 1200 m a mais de 3500 m de profundidade. Sousa et al (2004) estudaram uma área do talude da Bacia de Campos e encontraram pelo menos três associações de foraminíferos bentônicos. Os autores ressaltam a ocorrência de uma associação caracterizada por espécies infaunais indicadoras de condições ambientais com baixa concentração de oxigênio e abundância de matéria orgânica (Bolivina spp., Bolivina spp. e Uvigerina peregrina). Nas amostras analisadas neste trabalho observa-se claramente esta variação, que poderia estar associada também à zona de transição das massas d água. Serão realizadas análises de agrupamento (cluster) para a definição das distintas assembléias e definição da sua distribuição. Uma característica evidente nas amostras de todas as estações é a dissolução das testas de foraminíferos

3 calcário-hialinas e porcelanosas, sendo as primeiras quantitativamente mais afetadas. Assume-se como efeitos de dissolução a presença de buracos, fragmentação e descontinuidades nas testas calcárias. Na análise preliminar os taxa mais afetados pela dissolução são os de testa trocoespiralada plano-convexa a biconvexa (Planulina spp., Cibicidoides spp., Hoeglundina elegans, Oridorsalis spp. e Gyroidina spp.). Como pode ser observado na Fig. 5, há uma nítida tendência de aumento da dissolução das testas de carbonato de cálcio com a profundidade nos perfis A e B. Esta variação na dissolução pode estar relacionada com a posiçao da lisóclina na área, uma das hipóteses de trabalho. Entretanto, nos perfis C, D e E o comportamento é inverso, indicando a necessidade de analisar outros parâmetros, ainda em análise. Dentre outros dados, os foraminíferos planctônicos estão sendo quantificados para avaliar o seu grau de dissolução. A elaboração de gráficos de dissolução por espécies ou taxa específicos deve auxiliar na caracterização mais precisa dos possíveis limites de massas d água ou níveis de dissolução de calcita na área de estudo. Referências Bibliográficas: BARBOSA, V.P Sistemática, Bioestratigrafia e Paleoceanografia de Foraminíferos do Quaternário do Talude Continental das Bacias de Santos e Campos. Tese de Doutorado, Instituto de Geociências UFRJ, 455 p. BOERSMA, A Handbook of Common Tertiary Uvigerina. Microclimates Press, Stony Point, New York, 207p., 12 charts, 81pls. LOEBLICH JR, A.R. & TAPPAN, H Foraminifera genera and their classifications. Van Nostrand Reinhold Company, New York, 1, 970 pp.; 2, 212 pp. LOEBLICH JR, A.R. & TAPPAN, H Foraminifera of the Sahul shelf and Timor Sea. Cushman Foundation for Foraminiferal Research, Special Publication no pp. GUPTA, A.K., Taxonomy and bathymetric distribution of Holocene deep-sea benthic foraminifera in the Indian Ocean and the Red Sea. Micropaleontology, 40 (4): HAYWARD, B.W.; NEIL, H.; CARTER, R.; GRENFELL, H.R. & HAYWARD, J.J Factors influencing the distribution patterns of Recent deepsea benthic foraminifera, east of New Zealand, Southwest Pacific Ocean. Marine Micropaleontology, 46: ISHMAN, S.E.; FOLEY, K.M Modern benthic foraminifer distribution in the Amerasian Basin, Artic Ocean. Micropaleontology, 42 (2): RJIK, S.D.; JORISSEN, F.J.; ROHLING, E.J. & TROELSTRA, S.R Organic flux control on bathymetric zonation of Mediterranean benthic foraminifera. Marine Micropaleontology, 40: SCHNITKER, D Deep-Sea benthic foraminifers: Food and bottom water masses. In: ZAHN, R.; PEDERSEN,T.F.; KAMINSKY, M.A.& LABEYRIE,L.(eds.), Carbon cycling in the Glacial Ocean: Constraints on the Ocean s role in the global change. NATO ASI Ser.I, 17:

4 SCHÖMFELD, J Recent benthic foraminiferal assemblages in deep high-energy environments from the Gulf of Cadiz (Spain). Marine Micropaleontology, 44: SOUSA, S.H.M.; PASSOS, R.; FUKUMOTO M.; FIGUEIRA,R.C.L.; KLEIN, D.; MAHIQUES, M.; KOUTSOUKOS E Holocene Benthic Foraminifera In the Campos Basin: Ecological Inferences. In: 32nd IGC Florence Scientific Sessions: abstracts (part 1) - pp VIANA, A.R.; FAUGÉRES, J.C.; KOWSMANN, R.O.; LIMA, J.A.M.; CADDAH, L.F.G. & RIZZO, J.G Hydrology, morphology and sedimentology of the Campos continental margin, offshore Brasil. Sedimentary Geology, 115: Figura 1: Mapa de localização da área de estudo, com os perfis e as estações no talude da Bacia de Campos.

5 Figura 2: Perfil B com as estações e os limites teóricos das massas d água Água Intermediária Antártica (AIA) e Água de Fundo do Atlântico Norte (AFAN) a 1200m (Reid 1989 in Viana et al1998). Figura 3: Gráfico Abundância Absoluta dos Foraminíferos Bentônicos x Profundidade, mostrando uma variação com a profundidade e/ou possivelmente com a transição das massas d água.

6 Figura 4: Comparação dos gráficos de diversidade para cada grupo Aglutinantes (verde), Porcelanosos ( rosa) e Calcário-hialinos (azul) versus profundidade, mostrando uma tendencia de diminuição na diversidade ao redor da profundidade de 1600m e ainda o limite teórico das massas d água AIA e AFAN segundo Reid 1989 in Viana et al Figura 5: Gráfico da dissolução nas testas calcário-hialinas, mostrando o aumento na dissolução entre as profundidades 1300 a 1700m e diminuição em torno dos 1900m e ainda o limite teórico das massa d água AIA e AFAN segundo Reid 1989 in Viana et al 1998.