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3 ANAIS DO I WORKSHOP DE GEOMORFOLOGIA E GEOCONSERVAÇÃO (I WORKGEO) TEMA CENTRAL: GEOMORFOLOGIA, GEOCONSERVAÇÃO E DESAFIOS AMBIENTAIS NO BRASIL ORGANIZADORES: Iracilde Maria de Moura Fé Lima Renato Sérgio Soares Costa Albert Isaac Gomes Viana Brenda Rafaele Viana da Silva Edenilson Andrade Ferreira Hikaro Kayo de Brito Nunes Sara Raquel Cardoso Teixeira de Sousa PERIODICIDADE: BIANUAL Teresina/Piauí,

4 O conteúdo dos artigos publicados é de inteira responsabilidade de seus autores. Não representando, portanto, o ponto de vista da Comissão Organizadora do I WOKGEO e dos avaliadores ad hoc. 4

5 ORGANOGRAMA INSTITUCIONAL Prof. Dr. José Arimatéia Dantas Lopes Reitor/UFPI Profª. Dra. Nadir do Nascimento Nogueira Vice-reitora/UFPI Prof. Dr. Lucas Lopes de Araújo Pró-reitor de Administração/UFPI Prof. Dr. André Macedo Santana Pró-reitor de Planejamento/UFPI Prof. Dr. Nelson Juliano Cardoso Matos Pró-reitor de Ensino de Graduação/UFPI Profª. Dra. Regina Lúcia Ferreira Gomes Pró-reitoria de Ensino de Pós-Graduação /UFPI Prof. Dr. João Xavier da Cruz Neto Pró-reitor de Pesquisa/UFPI Profª. Dra. Adriana de Azevedo Paiva Pró-Reitora de Assuntos Estudantis e Comunitários/UFPI Profª. Dra. Cleânia de Sales Silva Pró-reitora de Extensão/UFPI Profª. Dra. Jacqueline Lima Dourado Superintendente de Comunicação Social/UFPI Prof. Dr. Carlos Sait Pereira de Andrade Diretor do CCHL/UFPI Profª. Dra. Romina Julieta Sanchez Paradizo de Oliveira Vice-diretora do CCHL/UFPI Prof. Dr. Antônio Cardoso Façanha Coordenador do Programa de Pós-graduação em Geografia Prof. Dr. Raimundo Lenilde de Araújo Sub-coordenador do Programa de Pós-graduação em Geografia Profª. Dra. Bartira Araújo da Silva Viana Coordenadora do Curso de Licenciatura em Geografia Prof. Dr. Emanuel Lindemberg Silva Albuquerque Sub-coordenador do Curso de Licenciatura em Geografia Profª. Dra. Iracilde Maria de Moura Fé Lima Líder do Grupo de Estudos de Geomorfologia, Análise Ambiental e Educação (GAAE/UFPI) 5

6 REALIZAÇÃO E PATROCÍNIO REALIZAÇÃO Grupo de Estudos Geomorfologia, Análise Ambiental e Educação (GAAE) Programa de Pós-graduação em Geografia (PPGGEO/UFPI) APOIO E PATROCÍNIO Fundação de Amparo à Pesquisa do Piauí (FAPEPI) Universidade Federal do Piauí (UFPI) Universidade Estadual do Piauí (UESPI) Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Piauí (IFPI) Plano Nacional de Formação de Professores da Educação Básica (PARFOR/UESPI) Plano Nacional de Formação de Professores da Educação Básica (PARFOR/UFPI) Revista Equador (UFPI) Editora da UFPI (EDUFPI) Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente (PRODEMA/UFPI) Academia Piauiense de Letras (APL) Grupo Três Corações (Café Santa Clara) Sindicado dos Trabalhadores em Saúde e Previdência no Estado do Piauí (SINTSPREVS-PI) 6

7 COMISSÃO ORGANIZADORA COORDENAÇÃO Profª. Dra. Iracilde Maria de Moura Fé Lima (UFPI) - Coordenadora geral Prof. Esp. Almir Bezerra Lima (UFPI) Prof. Dr. Marcos Antônio de Castro Marques Teixeira (IFPI) Prof. Me. Hikaro Kayo de Brito Nunes (UEMA) Mestrando Albert Isaac Gomes Viana (PPGGEO/UFPI) Mestranda Sara Raquel Cardoso Teixeira de Sousa (PPGGEO/UFPI) COMISSÃO DE COMUNICAÇÃO Prof. Me. Hikaro Kayo de Brito Nunes (UEMA) Mestrando Albert Isaac Gomes Viana (PPGGEO/UFPI) Mestranda Brenda Rafaele Viana da Silva (PPGGEO/UFPI) Mestranda Sara Raquel Cardoso Teixeira de Sousa (PPGGEO/UFPI) Graduando Edenilson Andrade Ferreira (UFPI) COMISSÃO DE TRABALHOS DE CAMPOS/VISITAS TÉCNICAS Prof. Esp. Almir Bezerra Lima (UFPI) Prof. PhD. Antônio José Teixeira Guerra (UFRJ) Profª. Dra. Elisabeth Mary de Carvalho Baptista (UESPI) Profª. Dra. Iracilde Maria de Moura Fé Lima (UFPI) Prof. Dr. Marcos Antônio de Castro Marques Teixeira (IFPI) Prof. Dr. Paulo Borges da Cunha (IFPI) COMISSÃO ClickGEO Prof. Dr. Jorge Eduardo de Abreu Paula (UESPI) Me. Carlos Henrique Santos da Silva (IMESC/MA) Fotógrafo Manoel Eduardo de Sousa Filho (UFPI) 7

8 COMISSÃO DE SECRETARIA (MONITORES) Albert Isaac Gomes Viana (PPGGEO/UFPI) Brenda Barbosa Alves (UESPI) Brenda Rafaele Viana da Silva (PPGGEO/UFPI) Edenilson Andrade Ferreira (UFPI) Francielly Lopes da Silva (IFPI) Francisca Edilane Ribeiro Macêdo (UESPI) Francisco Wellington de Araújo Sousa (UFPI) Glécia Alves da Silva (UFPI) Hikaro Kayo de Brito Nunes (UEMA) Jailson Soares da Silva (UESPI) João de Lima Macedo Neto (UFPI) João Pedro Ribeiro da Silva (UESPI) Letícia Braz Macedo (UESPI) Luana Shara do Nascimento Pereira (UESPI) Mara Célia Pereira da Silva Fontenele (UESPI) Orleando Leite de Carvalho (UFPI) Raíssa Kariny Gusmão de Morais (UESPI) Sara Raquel Cardoso Teixeira de Sousa (PPGGEO/UFPI) Suzane Pereira Carvalho (IFPI) Wellyne Carla de Sousa Barbosa (UFPI) 8

9 AVALIADORES AD HOC Albert Isaac Gomes Viana (Mestrando em Geografia/UFPI) Aline de Araújo Lima (Mestra em Geografia/UFPI e Professora da UESPI) Andrea Lourdes Monteiro Scabello (Doutora em Geografia Física/USP e Professora da UFPI) Bartira Araújo da Silva Viana (Doutora em Geografia/UFMG e Professora da UFPI) Brenda Rafaele Viana da Silva (Mestranda em Geografia/UFPI) Carlos Henrique Santos da Silva (Mestre em Geografia/UFPI e Técnico do IMESC/MA) Cláudia Maria Sabóia de Aquino (Doutora em Geografia/UFS e Professora da UFPI) Edvânia Gomes de Assis Silva (Doutora em Geografia/UFPE e Professora da UFPI) Elisabeth Mary de Carvalho Baptista (Doutora em Geografia/UFSC e Professora da UESPI) Emanuel Lindemberg Silva Albuquerque (Doutor em Geografia/UECE e Professor da UFPI) Francílio de Amorim dos Santos (Doutorando em Geografia/UECE e Professor do IFPI) Glairton Cardoso Rocha (Doutor em Geografia/UNESP e Professor do IFPI) Gustavo Souza Valladares (Doutor em Agronomia/UFRJ e Professor da UFPI) Hikaro Kayo de Brito Nunes (Mestre em Geografia/UFPI e Professor da UEMA) Ivamauro Ailton de Sousa Silva (Doutorando em Geografia/UFRGS e Professor da UNEMAT) João Paulo Portela (Doutor em Desenvolvimento e Meio Ambiente/UFC) Jorge Eduardo de Abreu Paula (Doutor em Ciências Marinhas Tropicais/UFC e Professor da UESPI) José de Maria Marques de Melo Filho (Mestrando em Desenvolvimento e Meio Ambiente/UFPI) José Francisco de Araújo Silva (Mestre em Geografia/UFPI) José Sidiney Barros (Doutor em Ecologia/UnB, Pesquisador da CPRM e Professor da UESPI) Laryssa Sheydder de Oliveira Lopes (Doutora em Geografia/UFPE e Professora da UESPI) Leilson Alves dos Santos (Mestrando em Análise e Modelagem de Sistemas Ambientais/UFMG) Léya Jéssika Rodrigues Silva Cabral (Mestranda em Geografia/UFPI) Liége de Souza Moura (Doutora em Geografia/UFPE e Professora da UESPI) Livânia Norberta de Oliveira (Doutoranda em Geografia/UFPE) Maria Luzineide Gomes Paula (Doutora em Geografia/UFPE e Professora da UESPI) Roneide dos Santos Sousa (Doutoranda em Geografia/UFC) Sara Raquel Cardoso Teixeira de Sousa (Mestranda em Geografia/UFPI) Sidineyde Soares de Lima Costa (Doutoranda em Geociências/UFPE) Suedio Alves Meira (Doutorando em Geografia/UFC) Tiago Caminha de Lima (Mestre em Geografia/UFPI e Professor da UEMA) Waldileia Ferreira de Melo Batista (Doutoranda em Desenvolvimento e Meio Ambiente/UFPI) 9

10 AVALIADORES DE APRESENTAÇÕES EM BANNERS Albert Isaac Gomes Viana (Mestrando em Geografia/UFPI) Aline de Araújo Lima (Mestra em Geografia/UFPI e Professora da UESPI) Bartira Araújo da Silva Viana (Doutora em Geografia/UFMG e Professora da UFPI) Brenda Rafaele Viana da Silva (Mestranda em Geografia/UFPI) Elisabeth Mary de Carvalho Baptista (Doutora em Geografia/UFSC e Professora da UESPI) Francisco John Lennon Tavares da Silva (Mestrando em Geografia/UFPI) Gracielly Portela da Silva (Mestra em Geografia/UFPI) Hikaro Kayo de Brito Nunes (Mestre em Geografia/UFPI e Professor da UEMA) João Victor Alves de Amorim (Mestrando em Geografia/UFPI) Jorge Eduardo de Abreu Paula (Doutor em Ciências Marinhas Tropicais/UFC e Professor da UESPI) José Francisco de Araújo Silva (Mestre em Geografia/UFPI) Liége de Souza Moura (Doutora em Geografia/UFPE e Professora da UESPI) Marcos Antonio de Castro Marques Teixeira (Doutor em Geografia/UNESP e Professor do IFPI) Maria Luzineide Gomes Paula (Doutora em Geografia/UFPE e Professora da UESPI) Mugiany Oliveira Brito Portela (Doutora em Geografia/UFG e Professora da UFPI) Renato Sérgio Soares Costa (Doutor em Geografia/UNESP e Professor do IFPI) Sara Raquel Cardoso Teixeira de Sousa (Mestranda em Geografia/UFPI) Sidineyde Soares de Lima Costa (Doutoranda em Geociências/UFPE) Tiago Caminha de Lima (Mestre em Geografia/UFPI e Professor da UEMA) 10

11 PROGRAMAÇÃO 07:00/ 11:00 14:00/ 18:00 22 de outubro de 2017 TRABALHO DE CAMPO/VISITA TÉCNICA Campo 01: Zona Centro-Norte de Teresina/Piauí TRABALHO DE CAMPO/VISITA TÉCNICA Campo 02: Zona Centro-Norte de Teresina/Piauí 23 de outubro de :00 Credenciamento Solenidade de Abertura Prof. Dr. Paulo Henrique Gomes de Lima Reitor/IFPI Prof. Dr. Antônio Cardoso Façanha 08:30 Coordenador do PPGGEO/UFPI Prof. Me. Francisco Guedes Alcoforado Filho Presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Piauí Tainara de Sousa França Secretária do Centro Acadêmico de Geografia/UFPI 09:00/ 09:50 09:50/ 10:10 10:10/ 12:10 12:10/ 14:00 14:00/ 15:30 15:40/ 16:30 Conferência de Abertura: Geomorfologia e Ambiente Prof. Dr. Marcos José Nogueira de Souza (UECE) Mediador: Prof. Dr. Paulo Borges da Cunha (IFPI) Intervalo Mesa redonda 1: Geomorfologia e Ensino Profª. Dra. Cláudia Maria Sabóia de Aquino (UFPI) Profª. Dra. Elisabeth Mary de Carvalho Baptista (UESPI) Profª. Dra. Quésia Duarte da Silva (UEMA) Mediador: Prof. Dr. Emanuel Lindemberg Silva Albuquerque (IFPI) Apresentação de trabalhos (banners) Intervalo Palestra 1: Bases geológicas do relevo Prof. Dr. Érico Rodrigues Gomes (IFPI) Mediador: Prof. Dr. Renato Sérgio Soares Costa (IFPI) Prof. Dr. Carlos Sait Pereira de Andrade Diretor do CCHL/UFPI Profª. Dra. Bartira Araújo da Silva Viana Coordenadora do Curso de Licenciatura em Geografia/UFPI Profª. Dra. Iracilde Maria de Moura Fé Lima Coordenadora Geral do I WORKGEO 11

12 16:40/ 18:40 18:40/ 19:40 19:40 Palestra 2: Geoconservação no Piauí: relações homem versus meio ambiente, na perspectiva da convivência harmoniosa Prof. Dr. José Sidiney Barros (CPRM/UESPI) Mediadora: Prof. Me. Wesley Pinto Carneiro (UFPI) Mesa redonda 2: Geoconservação, Geodiversidade e Geoturismo Profª. Dra. Edvânia Gomes de Assis Silva (UFPI) Profª. Dra. Liége de Souza Moura (UESPI) Profª. Dra. Maria do Carmo Oliveira Jorge (LAGESOLOS/UFRJ) Mediadora: Mestranda Brenda Rafaele Viana da Silva (PPGGEO/UFPI) Conferência de Encerramento: A Geomorfologia na recuperação de áreas degradadas Prof. PhD. Antônio José Teixeira Guerra (UFRJ) Mediadora: Profª. Dra. Iracilde Maria de Moura Fé Lima (UFPI) ClickGEO Concurso de Fotografia Prof. Dr. Jorge Eduadro de Abreu Paula (UESPI) Me. Carlos Henrique Santos da Silva (IMESC/MA) Manoel Eduardo de Sousa Filho (UFPI) Premiação dos trabalhos Profª. Dra. Bartira Araújo da Silva Viana (UFPI) Lançamento/Exposição de livros Prof. PhD. Antonio José Teixeira Guerra (UFRJ) Prof. Me. Francílio de Amorim dos Santos (IFPI) 12

13 ROTEIRO-SÍNTESE DO TRABALHO DE CAMPO ( ) Equipe responsável: Antônio José Teixeira Guerra (UFRJ), Almir Bezerra Lima (UFPI), Elisabeth Mary de Carvalho Baptista (UESPI), Iracilde Maria de Moura Fé Lima (UFPI), Marcos Antônio de Castro Marques Teixeira (IFPI), Paulo Borges da Cunha (IFPI), Daniel Veras (IFPI) e monitores Hikaro Kayo de Brito Nunes, Albert Isaac Gomes Viana, Sara Raquel Cardoso Teixeira de Sousa e Edenilson Andrade Ferreira. Local: CIDADE DE TERESINA ZONA NORTE Objetivo: Realizar observações no campo e discutir aspectos da expansão urbana e problemas socioambientais decorrentes do crescimento desordenado e ações públicas de intervenção/recuperação de áreas degradadas. 1 Breve histórico da cidade de Teresina A cidade de Teresina foi construída para sediar a segunda capital do Piauí ( ), no governo do Conselheiro Saraiva, então Presidente desta Província. Juntamente com o então pároco da Vila do Poti (hoje bairro Poti Velho), Saraiva escolheu um local à margem direita do rio Parnaíba, a montante dessa Vila, num dos patamares do planalto Chapada do Corisco, tendo em vista que o principal objetivo da mudança da capital era dinamizar a economia através da navegação do rio Parnaíba. O local escolhido levou em conta que na Vila ocorriam frequentes inundações, porque se localizava em áreas de terraços e planícies fluviais, no entorno da foz do rio Poti no Parnaíba (LIMA, 2002). Na sua primeira década de existência, a cidade de Teresina apresentava uma área de 20Km 2 e uma população de habitantes. Um século depois, a partir do final da década de 1960 e início de 1970, a ocupação populacional transpôs o espaço delimitado inicialmente para o sítio urbano, ocupando os espaços vazios e aterrando lagoas, principalmente na região da antiga Vila do Poti (hoje bairro Poti Velho) na dição norte e na área para além do rio Poti, na direção leste e, em menor proporção para o sul da cidade. Nas décadas seguintes essa expansão urbana continuou se intensificando, com taxas de crescimento geométrico da população acima de 6, tendo atualmente mais de 90% residindo na área urbana do município (TERESINA, 2010). Sua administração é organizada por Regiões (SDU), chamadas de Zonas Centro-Norte, Sul, Leste e Sudeste, totalizando 113 bairros (Tabela 1). Tabela 1 Teresina: Área e População residente por Região Administrativa, em 2016 Região Administrativa (Zonas - SDU) Nº de bairros Área (km 2 ) População (hab.) Número (%) CENTRO-NORTE 40 71, ,8 LESTE 29 62, ,8 SUL 35 68, ,9 SUDESTE 19 36, ,5 Total , Adaptado de: TERESINA (2016). 2 OS BAIRROS ONDE SE LOCALIZAM OS PONTOS DE OBSERVAÇÃO (MAPA 1). Ponto de Saída: Espaço Rosa dos Ventos (ao lado da Biblioteca Central UFPI). 13

14 Pontos de observação: P1 Cava de mineração - Bairro Monte Verde (Mapa 2) O bairro Monte Verde foi criado pela Lei nº 4.423, de Assim como este, outros sete bairros formam o limite norte da cidade, correspondendo a porções de áreas desmembradas da região da Santa Maria da Codipi, ou Cidade Industrial para o IBGE, que ali existia na década de 2000 (TERESINA, 2016), quando a cidade ultrapassou o rio Poti e passou a ocupar também sua margem direita na direção norte. A área do bairro é de 1,66 Km 2, mas ainda não tem o número de habitantes identificado pelo poder público municipal. Observando imagens de satélites, identifica-se que esse conjunto de bairros tem baixíssima ocupação residencial, principalmente porque ocupam áreas inundáveis em cheias excepcionais, em solos hidromórficos dos terraços e planícies aluviais dos rios Parnaíba e Poti. Na área específica do Monte Verde foram registrados 55 domicílios com 188 habitantes, formando um Aglomerado Subnormal denominado Monte Verde II, pelo censo do IBGE (2010), portanto, um pouco antes de sua formalização como bairro da zona norte de Teresina. A atividade local que mais se destaca na paisagem é a mineração, como se observa em imagens de satélite. É possível também identificar a evolução da cava de exploração no período de 2000 a 2017, tendo sua área aumentado de cerca de 3,8750 para 11,1357 hectares nesse período. Como se observa no mapa de relevo e bairros da cidade (LIMA, 2011 e ponto de observação P1), essa cava de mineração ativa e outras desativadas no seu entorno, se encontram na Superfície Dissecada no limite entre os baixos e os altos morros residuais, numa faixa de altitude próxima de 100 m, onde começam a se formar pequenos riachos que drenam diretamente para o rio Parnaíba (LIMA, 2016). Esse relevo tem base na formação geológica Pedra de Fogo que compõe a Bacia Sedimentar do Parnaíba (datada do Permiano), podendo-se observar nos cortes de exploração a alternância de minerais que compõem os estratos rochosos, exibindo cores e granulometrias variadas nos pacotes rochosos intemperizados (VIANA et al., 2015). Esse material retirado dessas cavas tem dado significativa contribuição para a implantação de obras do setor de construção civil de Teresina, porém as mineradoras ao serem desativadas não têm executado um plano de recuperação dessas áreas, como se observa em campo. Esse plano é necessário para minimizar a degradação do ambiente e tenha outra destinação de uso, seja de natureza pública ou privada. P2 Recuperação do ambiente de lagoas marginais do rio Poti: Parque Lagoas do Norte Etapa II Bairro Mocambinho (Mapa 3) O bairro Mocambinho surgiu na década de 1980, a partir da construção do Conjunto Habitacional José Francisco de Almeida Neto, antiga COHAB. Com uma área de 3,27 Km 2 em 2010 contava com uma população de habitantes, constituindo-se um dos maiores bairros da cidade (TERESINA, 2016). Este bairro, assim como vários outros da antiga região chamada Poti Velho, historicamente tem sofrido com as enchentes dos rios Poti e Parnaíba, por terem se desenvolvido ocupando áreas marginais desses rios e lagoas, tendo graves problemas socioambientais periodicamente (sanitários e econômicos), vividos pela população potiense, depois teresinense, desde o século XIX até os dias atuais. 14

15 Tendo em vista a localização desse conjunto de bairros nas áreas de relevos formados por planícies e terraços de inundação dos rios e lagoas, o material consiste numa matéria prima de alta qualidade para a construção civil e artefatos domésticos e de adorno (CORREIA FILHO, 1997). Assim, muitas dessas lagoas foram sendo ampliadas, principalmente pela exploração artesanal das argilas e massará abundantes nessa área, atividade praticada antes mesmo da construção da cidade de Teresina, mas que se intensificou a partir da década de 1970 para atender a demanda da construção de muitos conjuntos habitacionais de baixa renda. Estes foram financiados principalmente pelo poder público, tendo até 2001 entregue à população teresinense cerca de unidades residenciais LIMA et al, 2017). Tendo em vista os problemas socioambientais dessa área, encontra-se em execução um projeto que visa a recuperação da qualidade do ambiente e reordenamento para novos usos, com destaque para o lazer (SANTOS; LIMA, 2015). No entorno das maiores lagoas desses bairros estão sendo construídos parques ambientais, como também realizadas intervenções de expansão de serviços de saneamento, proteção contra enchentes, mobilidade urbana e melhorias habitacionais. O Programa Lagoas do Norte objetiva beneficiar 13 bairros, atingindo 100 mil pessoas, conforme o seu coordenador (BARATTA, 2017). P3 Recuperação do ambiente do Parque Encontro dos Rios - Bairro Poti Velho (Mapa 4) O Bairro Poti Velho é formado pelo núcleo central da antiga Vila do Poti, que foi extinta como município, passando a se chamar Teresina. Situa-se na barra do Poti, espaço em volta da foz do rio Poti no rio Parnaíba, contando atualmente com uma área de 0,37 Km 2 e uma população de habitantes (TERESINA, 2016). Em meados do século XVIII a povoação aí existente se ligava à Oeiras, primeira capital do Piaui, por estrada de terra, tendo se tornando um dos maiores centros comerciais de fumo e algodão da região (TERESINA, 2016). Ainda hoje sua população mantém atividades tradicionais, como a pesca e a fabricação de cerâmicas, de forma artesanal. Este bairro e outros do seu entorno também fazem parte do sistema de lagoas marginais ao rio Parnaíba, sendo atingidos periodicamente por inundações, uma vez que se localizam totalmente na faixa de planícies aluviais. Essas lagoas também foram sendo ampliadas pela atividade oleira, ampliando os problemas socioambientais da área. Nas décadas de 1970 e 1990 foram construídos obras de contenção das inundações, como diques ao longo das margens desses rios e instalação de sistema de interligação de lagoas e de bombeamento de águas de suas águas para o rio Parnaíba, não tendo atingido totalmente o objetivo principalmente pela falta de manutenção nos equipamentos. Em 1996 foi implantado o Parque Encontro dos Rios, com uma modesta infraestrutura, dotando a cidade de um espaço destinado ao lazer da população local e de visitantes, tendo se tornado a partir de então uma referência para lazer e turismo (TERESINA, 2016). Atualmente este parque encontra-se em processo de revitalização, integrando o Projeto Lagoas do Norte, no entanto essas ações ainda não têm integrado os cuidados devidos para com os rios Parnaíba e Poti. Estes formam dois grandes eixos da drenagem piauiense que têm grandes trechos de suas margens ocupadas pela cidade de Teresina. 15

16 REFERÊNCIAS BARATTA, Cleto. Entrevista concedida pelo Coordenador Programa Lagoas do Norte. Secretaria Municipal de Planejamento e Coordenação. Teresina: PMT, 16/02/2017. Disponível em: Acesso em CORREIA FILHO, Francisco Lages. Projeto Avaliação de Depósitos Minerais para Construção Civil PI/MA. Teresina: CPRM, v. LIMA, Iracilde M.M. Fé. Teresina: urbanização e meio ambiente. In: Scientia et Spes. Revista do Instituto Camilo Filho. V.1, n.2, Teresina: ICF, 2002, p Disponível em: Acesso em: 15 jul Teresina: o relevo, os rios e a cidade. Revista Equador. V. 5, n.3 (Edição Especial 02). Teresina (PI), 2016, p Disponível em: Acesso em: SANTOS, Leilson A.; LIMA, Iracilde M. Moura Fé. Parque ambiental Lagoas do Norte: saneamento e conservação do ambiente entre os bairros Matadouro e São Joaquim, Teresina, Piauí, Brasil. Caminhos de Geografia Uberlândia. v. 16, n. 54 (2015). Teresina: UFU, p Disponível em: Acesso em: 15 jul TERESINA, Prefeitura Municipal. Perfil dos Bairros. Teresina: PMT/SEMPLAN. jul Disponível em: Acesso em: 15 jul Bairro Monte Verde. In: Perfil dos Bairros. Teresina: PMT/SEMPLAN. jul Disponível em: VERDE-2016.pdf. Acesso em: 10 out Bairro Mocambinho. In: Perfil dos Bairros. Teresina: PMT/SEMPLAN. jul Disponível em: Acesso em: 10 out Bairro Poti Velho. In: Perfil dos Bairros. Teresina: PMT/SEMPLAN. jul Disponível em: POTI VELHO-2016.pdf. Acesso em: 10 out VIANA, Bartira A.S.; OLIVEIRA, Cristiane V.; LIMA, Iracilde M.M. Fé; VIEIRA, Carla I. P. Estratigrafia e análise granulométrica das camadas de massará e seixos em Teresina (PI). XVI Simpósio Brasileiro de Geografia Física Aplicada. Anais... Teresina, Link para acesso aos mapas: 16

17 ClickGEO Concurso Fotográfico REGULAMENTO O Concurso Fotográfico ClickGEO a se realizar no dia 23 de outubro de 2017, faz parte das atividades do Geoconservação ( que ocorrerá na cidade de Teresina (Piauí). Este evento é organizado pelo grupo Geomorfologia, Análise Ambiental e Educação (GAAE) e pelo Programa de Pós-graduação em Geografia (PPGGEO/UFPI). Para registrar a beleza paisagística dos aspectos naturais brasileiros, o concurso faz uso do mesmo tema do evento Geomorfologia, Geoconservação e Desafios Ambientais no Brasil buscando provocar reflexões sobre o meio ambiente e a paisagem. Regras de participação: 1. As fotografias deverão ser enviadas por pessoas devidamente inscritas no I WORKGEO dentro do prazo estabelecido neste regulamento; 2. As fotografias deverão ser compatíveis com o tema do evento, sob pena de eliminação; 3. As fotografias deverão possuir qualidade a partir de 5 megapixels, coloridas e no formato (.jpeg). Não deverão ter tratamento de imagem como aplicação de filtros e outras edições; 4. Cada candidato poderá enviar no MÁXIMO duas fotografias, devidamente identificadas com os seguintes dados da fotografia: data e local do registro fotográfico, título e legenda (no máximo 200 caracteres, com espaços); 5. Sob hipótese alguma a fotografia deverá ter em si a identificação do seu autor; 6. Os participantes se responsabilizarão pelo direito de imagem ou por qualquer possível reclamação por direito de imagem; 7. Os participantes cedem à Organização do I WORKGEO os direitos de utilização e difusão das imagens, que serão devidamente identificadas com a autoria. 17

18 Inscrições e prazos: O período de inscrição (envio de fotografias) será entre os dias 06 e 30 de setembro de 2017 através do seguinte endereço: inscricao.workshopgg@gmail.com. O assunto do e- mail deverá ser ClickGEO. Critérios de seleção: A Comissão Especial do ClickGEO (composta por dois geógrafos e um fotógrafo profissional) selecionará 10 fotografias dentre as inscritas para exposição nos intervalos das atividades do evento. Destas, 03 serão finalistas para votação (pelo público presente) para o ranqueamento final. Critérios a serem adotados pela Comissão: 1. Relação com o tema do evento; 2. Expressão da imagem vinculada à legenda; 3. Visibilidade/nitidez da imagem; 4. Beleza; 5. Originalidade/ineditismo. A Comissão informará aos autores o resultado da seleção das fotografias para a exposição (e possível votação). Seleção e exposição: 1. No intervalo das atividades as fotografias selecionadas serão em aparelho de datashow, devidamente identificadas com o seu código de inscrição e local de tomada da fotografia; 2. A Comissão Especial mediará a votação (com o público presente) das 03 finalistas e sua premiação; 3. Caso o participante premiado não esteja presente, receberá posteriormente o prêmio correspondente com a Comissão Organizadora do evento. Premiação: Haverá premiação para os três primeiros colocados. Casos omissos: Os casos omissos a este Regulamento serão decididos pela Comissão Organizadora do I Workshop de Geomorfologia e. Teresina (PI), 05 de setembro de A COMISSÃO ORGANIZADORA 18

19 APRESENTAÇÃO O teve como objetivo promover o encontro de professores/pesquisadores de comunidades acadêmicocientíficas e de estudantes de nível de graduação e pós-graduação, envolvendo discussões na pesquisa e no ensino de Geografia e áreas afins. Em sua primeira edição, este evento teve como temática central: Geomorfologia, Geoconservação e desafios ambientais no Brasil. Buscou-se levantar discussões e apresentar resultados acerca do desenvolvimento técnico-científico e metodológico que envolvem estudos Geomorfológicos e o importante trinômio Geoconservação, Geodiversidade e Geoturismo. Todos foram mobilizados, assim, a adotarem uma postura investigativa na busca do conhecimento e da atualização conceitual sobre a Geomorfologia e a Geoconservação. O evento foi promovido pelo Grupo de Pesquisa Geomorfologia, Análise Ambiental e Educação, com o apoio do Programa de Pós-Graduação em Geografia, da Universidade Federal do Piauí. Contou com a participação de docentes e discentes de Universidades do Rio de Janeiro, Minas Gerais, Ceará, Piauí, Maranhão, Amapá e Rio Grande do Sul e sua realização teve a colaboração da Universidade Federal do Piauí, Universidade Estadual do Piauí e do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Piauí e, ainda, o apoio de entidades públicas e privadas locais. Com satisfação, apresentamos o LIVRO DE ANAIS do I WORKGEO, onde se encontram os resultados das atividades realizadas durantes os dias 22 e 23 de outubro de Profª. Dra. Iracilde Maria de Moura Fé Lima Coordenadora Geral 19

20 SUMÁRIO RESUMOS EXPANDIDOS EIXO 01: GEOMORFOLOGIA E ENSINO PRATICANDO A GEOMORFOLOGIA FORA DA SALA DE AULA: EXPLORANDO O CÂNION DO RIO POTI... Francisca Emanuely Barros de Melo, Renata Nunes Barbosa e Bartira Araújo da Silva Viana PRÁTICAS DE ENSINO DE GEOGRAFIA FÍSICA: APONTAMENTOS SOBRE GEOMORFOLOGIA E DESAFIOS PARA A UNIVERSIDADE... Mayra Nayara Nair dos Santos e Simone Cristina de Oliveira Silva USO DO CINEMA NO ENSINO DE GEOMORFOLOGIA... Ângelo Leonardo Rêgo Castro, Adna Dalila da Silva e Bartira Araújo da Silva Viana EIXO 02: GEOMORFOLOGIA COSTEIRA A DINÂMICA DA GEOMORFOLOGIA COSTEIRA E SUA INFLUÊNCIA EM SÍTIOS ARQUEOLÓGICOS... Laiane Pereira da Costa, Sara Layane Gonçalves Lopes e Grégoire André Henri Marie Van Havre EIXO 03: GEOMORFOLOGIA CONTINENTAL CAVERNA DO ZÉ MOTA EM CAROLINA-MA COMO EXEMPLO DE ENDOCARSTE EM ARENITO... Flávia Martins Silva e Claudio Eduardo de Castro EIXO 04: GEOMORFOLOGIA URBANA A MORFOLOGIA DAS VERTENTES E SUA INFLUÊNCIA NOS FENÔMENOS DE ENXURRADA: ALTO CURSO DA BACIA HIDROGRÁFICA DO ANIL SÃO LUÍS-MA... Ismaylli Rafael dos Santos Costa, Quésia Duarte da Silva e Estevânia Cruz Teixeira A PROBLEMÁTICA DAS ÁREAS SUCETÍVEIS A ENCHENTES E INUNDAÇÕES NO MÉDIO CURSO DO RIO ANIL, MUNICÍPIO DE SÃO LUÍS MARANHÃO... Estevania Cruz Teixeira, Quésia Duarte da Silva e Ismaylli Rafael Costa ANÁLISE MORFOMÉTRICA DO RIACHO DO ANGELIM, SÃO LUÍS MA... Ricardo Gonçalves Santana, Quésia Duarte Silva e Cristiane Mouzinho Costa IMPACTOS SOCIOAMBIENTAIS NO RIACHO GAVIÃO NA CIDADE DE TERESINA/PIAUÍ... Ravena Thais de Sousa, Hikaro Kayo de Brito Nunes e Maria Suzete Sousa Feitosa LAGOAS MARGINAIS DO BAIRRO VERMELHA, MUNICÍPIO DE TERESINA-PI: UM OLHAR AMBIENTAL NO URBANO... Fabiana Moreira dos Santos, Ana Carolyne de Araújo Silva Costa e Emanuel Lindemberg Silva Albuquerque PROBLEMAS AMBIENTAIS URBANOS EM ÁREA OCUPADA PELO LOTEAMENTO ENCANTO DOS IPÊS, EM PIRACURUCA (PI)

21 Marineldo Brito Lima e Francílio de Amorim dos Santos RELAÇÕES ENTRE PROCESSOS FLUVIAIS E MARINHOS E A DINÂMICA URBANA NO MUNICÍPIO DE PARNAÍBA (PI)... Denia Elice Matias Oliveira e Iracilde Maria de Moura Fé Lima EIXO 05: GEOTECNOLOGIAS E ABRODAGENS EM GEOMORFOLOGIA ANÁLISE MULTITEMPORAL DO USO E OCUPAÇÃO DA TERRA NO MUNICÍPIO DE MATÕES/MA A PARTIR DE DADOS DE SENSORES REMOTOS... Felipe Henrique da Silva Andrade, Jhony Gonçalves de Lima e Liége de Souza Moura EIXO 06: PAISAGEM, GEODIVERSIDADE E PATRIMÔNIO GEOMORFOLÓGICO O CARSTE DE CAROLINA-MA COMO UM PATRIMÔNIO GEOMORFOLÓGICO... Edelson Leitão Maciel, Claudio Eduardo de Castro e Antonia Rejane Cavalcante Morais PAISAGEM LITORÂNEA PIAUIENSE: GEODIVERSIDADE E SUA CONSERVAÇÃO... Eliethe Gonçalves de Sousa, João Pedro Ribeiro da Silva e Laryssa Sheydder de Oliveira Lopes RIOS DO LITORAL PIAUIENSE: GEOMORFOLOGIA, GEODIVERSIDADE E GEOCONSERVAÇÃO... Luana Shara do Nascimento Pereira, Elisabeth Mary de Carvalho Baptista e Liége de Souza Moura EIXO 07: GEOCONSERVAÇÃO, GEOTURISMO E DESENVOLVIMENTO LOCAL ESPAÇOS DE BALNEABILIDADE: LAZER, TURISMO, GEOTURISMO E GEOCONSERVAÇÃO... Natiele Oliveira de Sousa, Denise Costa Silva e Liége de Souza Moura RESULTADOS PRELIMINARES DOS PROBLEMAS DE CONSERVAÇÃO DOS SÍTIOS DE ARTE RUPESTRE LOCALIZADOS NO MUNICÍPIO DE LAGOA DE SÃO FRANCISCO... Renata Valéria Silva Bezerra, Ana Luísa Meneses Lages do Nascimento e Ana Virgínia Viana de Sousa EIXO 08: GEOMORFOLOGIA E PLANEJAMENTO AMBIENTAL IMPACTOS AMBIENTAIS DECORRENTES DA EXTRAÇÃO DE AREIA POR DRAGAS NO RIO POTI, MUNICÍPIO DE TERESINA-PI... Jhony Gonçalves de Lima, Ana Carolyne de Araújo Silva Costa e Emanuel Lindemberg Silva Albuquerque VOÇOROCA NO ESPAÇO URBANO - UM ESTUDO DE CASO EM TERESINA-PI... Glécia Alves da Silva e Bartira Araújo da Silva Viana TRABALHOS COMPLETOS EIXO 01: GEOMORFOLOGIA E ENSINO O ENSINO DE GEOMORFOLOGIA NO CURSO DE ARQUEOLOGIA E A AVALIAÇÃO POR PORTFÓLIO... Andrea Lourdes Monteiro Scabello

22 EIXO 02: GEOMORFOLOGIA COSTEIRA ANÁLISE DA GEODINÂMICA COSTEIRA ATRAVÉS DE SENSORIAMENTO REMOTO NA BAÍA DO TUBARÃO MARANHÃO, BRASIL... Deuzanir da Conceição Amorim Lima, Marco Aurélio Neri Torres e Jorge Hamilton Souza dos Santos TAXONOMIA DO RELEVO NA ZONA COSTEIRA NOROESTE DE SÃO JOSÉ DE RIBAMAR MA... Carlos Henrique Santos da Silva, Iracilde Maria de Moura Fé Lima e Quésia Duarte da Silva EIXO 03: GEOMORFOLOGIA CONTINENTAL CARACTERIZAÇÃO GEOMORFOLÓGICA DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO SÃO NICOLAU-PI... Cristiane Maria Cordeiro Santiago, Marta Celina Linhares Sales e Edson Vicente da Silva EIXO 04: GEOMORFOLOGIA URBANA ANÁLISE DOS CONDICIONANTES PREDISPONENTES DOS ESCORREGAMENTOS NA BACIA HIDROGRÁFICA DO BACANGA, SÃO LUÍS, MARANHÃO... Danyella Vale Barros França, Quésia Duarte da Silva e Cristiane Mouzinho Costa GEOMORFOLOGIA AMBIENTAL E ANTROPOGEOMORFOLOGIA NA ANÁLISE DE ÁREAS EM EROSÃO NA CIDADE DE TIMON (MA).. Rafael José Marques SOLOS DEGRADADOS POR EROSÃO: O CASO DE DUAS VOÇOROCAS NA ÁREA URBANA DE SÃO LUÍS, ILHA DO MARANHÃO... Paula Ramos de Sousa, Quésia Duarte da Silva e José Fernando Rodrigues Bezerra EIXO 05: GEOTECNOLOGIAS E ABORDAGENS EM GEOMORFOLOGIA ANÁLISE DO CONTEXTO DE USO E OCUPAÇÃO DO SOLO DO PARQUE ESTADUAL DO MIRADOR MA, ATRAVÉS DE TÉCNICAS DE GEOPROCESSAMENTO... Elison André Leal Pinheiro, José de Ribamar Carvalho dos Santos e Roberta Capim Rocha ANÁLISE MORFOMÉTRICA DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO PIRACURUCA, SITUADA ENTRE OS ESTADOS DO CEARÁ E DO PIAUÍ: SUBSÍDIOS AO ESTUDO DAS INUNDAÇÕES... Francílio de Amorim dos Santos, Lucia Maria Silveira Mendes e Maria Lúcia Brito da Cruz CARACTERIZAÇÃO FISIOGRÁFICA DO MUNICÍPIO DE SIGEFREDO PACHECO PIAUÍ... Jéssica Cristina Oliveira Frota, Gustavo Souza Valladares e Andréa Maciel Lima IMPACTOS AMBIENTAIS NO MUNICÍPIO DE QUIXADÁ CE: O CASO DOS MONUMENTOS NATURAIS DE QUIXADÁ... Andressa Souza Albuquerque e Flávia Cristina da Silva Sousa Taleires EIXO 06: PAISAGEM, GEODIVERSIDADE E PATRIMÔNIO GEOMORFOLÓGICO

23 A ESPETACULARIDADE CÊNICA DE GEOFORMAS NO SUDESTE PIAUIENSE COMO FONTE DE CONTEMPLAÇÃO DA PAISAGEM E SUPORTE PARA O GEOTURISMO... José Francisco de Araújo Silva, Cláudia Maria Sabóia de Aquino e Hikaro Kayo de Brito Nunes PAISAGEM E ARQUEOLOGIA: APROXIMAÇÕES E POTENCIALIDADES... Arkley Marques Bandeira, Virginia Marques da Silva Neta e Leonardo Silva Soares UM BREVE ESTUDO ACERCA DO PATRIMÔNIO GEOMORFOLÓGICO... Laryssa Sheydder de Oliveira Lopes e Osvaldo Girão da Silva EIXO 07: GEOCONSERVAÇÃO, GEOTURISMO E DESENVOLVIMENTO LOCAL POTENCIAL PARA A CRIAÇÃO DE GEOPARQUES NO PIAUÍ: PROPOSTAS PARA A SERRA DA CAPIVARA E SETE CIDADES - PEDRO II... Brenda Rafaele Viana da Silva e Iracilde Maria de Moura Fé Lima EIXO 08: GEOMORFOLOGIA E PLANEJAMENTO AMBIENTAL ALTERAÇÕES AMBIENTAIS DECORRENTES DA EXTRAÇÃO DE OURO NO GARIMPO DE CAXIAS MUNICÍPIO DE LUÍS DOMINGUES-MA... Lílian Daniele Pantoja Gonçalves, José Fernando Rodrigues Bezerra e Gilberlene Serra Lisboa ASPECTOS GEOLÓGICOS E GEOMORFOLÓGICOS DA PORÇÃO DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO POTI EM TERESINA/PIAUÍ: CONTRIBUIÇÕES PARA O PLANEJAMENTO AMBIENTAL... Hikaro Kayo de Brito Nunes, José Francisco de Araújo Silva e Cláudia Maria Sabóia de Aquino BASES GEOMORFOLÓGICAS COMO SUBSÍDIO AO ORDENAMENTO TERRITORIAL DO MUNICÍPIO DE GUAIÚBA-CEARÁ... Patrícia Andrade de Araújo, Maria Taylana Marinho Moura e Marcos José Nogueira de Souza

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25 PRATICANDO A GEOMORFOLOGIA FORA DA SALA DE AULA: EXPLORANDO O CÂNION DO RIO POTI Francisca Emanuely Barros de Melo Universidade Federal do Piauí Graduanda do curso de Licenciatura em Geografia yumi_manu@hotmail.com Renata Nunes Barbosa Universidade Federal do Piauí Graduanda do curso de Licenciatura em Geografia renata.barbosanunes10@hotmail.com Orientadora: Bartira Araújo da Silva Viana Universidade Federal do Piauí Profª. Dra da Coordenação do Curso de Licenciatura em Geografia bartira.araujo@ufpi.edu.br Eixo temático: Geomorfologia e Ensino Resumo: O presente trabalho objetiva mostrar a importância da prática de campo nos estudos geomorfológicos, tomando como referência uma atividade de campo desenvolvida com discentes do curso de Licenciatura em Geografia da UFPI no Cânion do rio Poti. Será realizada a caracterização geral dos municípios de Castelo do Piauí e Buriti dos Montes, enfatizando seus aspectos geográficos, geológicos e geomorfológicos, assim como serão expostos os procedimentos executados durante a visita de campo. A metodologia do estudo consistiu na realização de pesquisa bibliográfica baseada nos autores: Santos e Aquino (2015), Santos (2017), Cunha e Guerra (2008), Bigarella (1994), Lima (1982), Christotofoletti (1981), entre outros, como também na pesquisa de campo realizada no município de Castelo do Piauí na região do baixo e do médio Cânion do Rio Poti. Concluiu-se que a discussão dos conceitos e teorias relacionados a Geomorfologia pode ser realizada tanto em sala de aula quanto em pesquisas de campo, tornando mais compreensível os aspectos físicos do planeta Terra. Palavras-chave: Ensino. Geografia. Prática de Campo. Abstract: The aims of this work is show the importance of field practice in geomorphological studies, having as reference an field activit developed with students of the geography course of the UFPI in the Poti River Canyon. Will be realize the general characterization of the municipalities of Castelo do Piauí and Buriti dos Montes, highlighting your geomorphology, geographic and geological aspects, as well as it will be exposed proceedings realized during the field visit. The methodology of the study consisted in the achievements bibliographical research based on the authors: Santos e Aquino (2015), Santos (2017), Cunha e Guerra (2008), Bigarella (1994), Lima (1982), Christotofoletti (1981), among others, as well as in the field research realized in the city of 25

26 Castelo do Piauí in the region of the low and middle Canyon of the Poti River. It was concluded that the discussion of the concepts and theories related to Geomorphology can be done both in the classroom and in field research, making the physical aspects of planet Earth more understandable. Key words: Teaching. Geography. Field Practice. INTRODUÇÃO O principal objetivo da Geomorfologia é a observação do relevo, bem como a leitura e interpretação da paisagem, sendo que esta deve levar em consideração a dinâmica dos processos, incluindo a relação homem-natureza. O professor de Geografia pode contribuir para o estudo do relevo e de sua dinâmica a partir da compreensão do funcionamento dos componentes naturais e das relações presentes nas diversas sociedades que são agentes da modelagem do relevo. Os conteúdos e teorias que tratam dos aspectos geomorfológicos podem ser expostos através da realização de pesquisas de campo, visando a efetivação de um processo de ensino-aprendizagem mais eficiente e dinâmica, visto que os conteúdos e teorias da ciência geográfica pode ser associados à observação e aos registros das informações obtidas através das percepções individuais e registradas na caderneta de campo e, também, através de desenhos, fotografias e pequenos vídeos. Dessa forma, esta pesquisa visa mostrar a importância da prática de campo nos estudos geomorfológicos, tomando como referência uma atividade de campo desenvolvida com discentes do curso de Licenciatura em Geografia da UFPI no Cânion do rio Poti. Neste estudo será realizada a caracterização geral do município de Castelo do Piauí e Buriti dos Montes, enfatizando seus aspectos geográficos e geomorfológicos, assim como serão expostos os procedimentos executados durante a visita de campo. A metodologia do estudo consistiu, portanto, na realização de pesquisa bibliográfica e na pesquisa de campo. Os autores que embasaram a pesquisa foram: Santos e Aquino (2015), Santos (2017), Guerra e Cunha (2008), Ross e Fierz (2005), Bigarella (1994), Lima (1982), Christotofoletti (1981), entre outros. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA Ensino de Geomorfologia A Geomorfologia surgiu como ciência no século XIX, constituindo-se num conhecimento específico e sistematizado. Esta tem como objeto de estudo as formas de relevo, tanto em escalas temporais quanto espaciais, incluindo-se também os processos responsáveis por caracterizá-lo. Devido a sua importância esta ganhou notoriedade como uma especialidade da Geografia, no entanto, não há como não trabalhar a Geomorfologia sem antes interliga-lá à ciência geográfica e a geologia (GUERRA; CUNHA, 2008). 26

27 Segundo Aziz Ab Saber (1969 apud CASSETI, 2005) os estudos geomorfológicos são divididos em três etapas. A primeira consiste na compartimentação morfológica que apresenta uma série de observações sobre a área de estudo. A segunda, denominada estrutura superficial, está voltada para o estudo da história dos materiais acumulados, dando origem ás formas. E, por fim, a terceira etapa chamada fisiologia da paisagem, é caracterizada por analisar os processos da dinâmica do relevo atual destacando como o homem se insere nesse processo de transformação. A superfície da Terra não apresenta uma forma definida, sendo que ao longo de sua extensão esta se caracteriza por estruturas com elevações ou depressões. Neste sentido cabe a Geomorfologia identificar tais formações e classificá-las. Conforme Oliveira (2010, p. 102): [...] os objetivos da disciplina de Geomorfologia passam primeiramente pelo fornecimento de base conceitual-teórica, aprofundada e mostra como ela se relaciona, sendo assim ela norteará os questionamentos introdutórios que se refere a O que é Geomorfologia? e Para quê ela serve?. Dessa forma, a preocupação do docente deve ser com relação [...] a articulação do conhecimento geográfico e geomorfológico visualizado pelo objetivo Que sustentação ela dá para a Geografia? (OLIVEIRA, 2010, p.102). Assim, quando se trata do conhecimento da Geomorfologia aliado ao ensino, pode-se destacar que este pode ser trabalhada em gabinete, na sala de aula e fora dela, ou seja, no campo. Em relação ao estudo em gabinete este consiste basicamente no espaço destinando a pesquisas, análise de teorias e dados e, ainda na elaboração de projetos. Conforme Ross e Fierz (2005, p. 69): O trabalho de gabinete constitui, sobretudo, a elaboração do projeto, as pesquisas e a interpretação de dados. Para as pesquisas bibliográficas, cartográficas e de documentação pré-existente, podem ser utilizados diversos materiais, como livros, artigos de revistas, jornais, teses, dissertações, arquivos de fotos aéreas, imagens de radar, imagens de satélites, arquivos de mapas topográficos e mapas temáticos de Geologia, Pedologia, Geomorfologia, vegetação, usos da terra, climáticos, dados hidrológicos entre inúmeros outros. Barbosa et al., (2016 apud SANTOS, 2017, p.122) atestam que os aspectos geológicos estão relacionados à descrição da história do planeta Terra, enquanto os elementos geomorfológicos dizem respeito ao processo de modelação do ambiente. Dessa forma, no estudo da Geomorfologia, assim como em outras ciências responsáveis pelo estudo da Terra, se faz necessária a relação de teoria e prática. Desse modo, os planejamentos feitos em gabinete aliado aos conteúdos e teorias vistos em sala de aula podem ser executados através da realização de pesquisas de campo. E essa, por sua vez, pode ser dividida em três etapas, como apresentam Ross e Fierz (2005, p. 69): A pesquisa de campo pode ser dividida em três momentos: o primeiro caracterizase pela observação e descrição dos fatos com maior precisão possível; o segundo é a interpretação de fotos e imagens de radar e de satélites para construir mapas; e o terceiro refere-se à produção de ensaios de campo e experimentos. 27

28 De maneira geral, os conteúdos de Geomorfologia devem incluir conceitos das formas superficiais de relevo e das dinâmicas que existem na formação destas. Quanto à relação ensinoaprendizagem de Geomorfologia em sala de aula, ressalta-se que esta pode acontecer através de aulas expositivas, utilização de mapas, livros, atividades de campo, dentre outros recursos didáticos, sendo que os conteúdos e metodologia irão variar de acordo com o nível de ensino. Cumpre destacar que as aulas de campo são ferramentas que contribuem para o conhecimento de uma realidade concreta, favorecendo a inter-relação entre a teoria e a prática Quanto ao estudo da geomorfologia fluvial, este se concentra nos processos e formas relacionadas ao escoamento dos rios, presentes desde as antigas civilizações humanas, sendo que este ramo da Geomorfologia possui relevância em meio a diversas pesquisas. Guerra e Cunha (2008) comentam que ao longo de toda a história da ciência geomorfológica, grande parte dos trabalhos científicos abrange o estudo da geomorfologia fluvial. Deve-se enfatizar que os rios demonstram sua importância na transformação da paisagem, pois são agentes geomorfológicos muito eficientes da através da erosão. RESULTADOS E DISCUSSÃO O município de Castelo do Piauí e Buriti dos Montes: aspectos geográficos, geológicos e geomorfológicos Castelo do Piauí localiza-se na Mesorregião Centro-Norte do estado do Piauí, na Microrregião de Campo Maior a 158 km da capital Teresina. Castelo do Piauí possui uma área de 2.237,08 km2, limitando-se ao norte com Pedro II, ao sul com São Miguel do Tapuio, a leste Área de Litígio entre Piauí e Ceará, a oeste com Campo Maior, Alto Longá e São João da Serra (AGUIAR; GOMES, 2004a). O município de Buriti dos Montes está localizado na microrregião Campo Maior compreende uma área de km 2. Os limites ao norte são os municípios de Pedro II e Milton Brandão, ao sul São Miguel do Tapuio e Castelo do Piauí, distando cerca de 250 km de Teresina (AGUIAR; GOMES, 2004b). No município de Castelo do Piauí as unidades geológicas correspondem às coberturas sedimentares, destacando-se os depósitos colúvio-eluviais (areia, argila, cascalho e laterito), assim como a Formação Longá (arenito, siltito, folhelho e calcário), a Formação Cabeças (arenito, conglomerado e siltito), a Formação Pimenteiras (arenito, siltito e folhelho), e o Grupo Serra Grande (conglomerado, arenito e intercalações de siltito e folhelho) (AGUIAR; GOMES, 2004a). Em Buriti de Montes cerca de 98% da área do município é representado por coberturas sedimentares constituídas pelas seguintes formações geológicas: Formação Cabeças (arenito, conglomerado e siltito), a Formação Pimenteiras (arenito, siltito e folhelho), e o Grupo Serra Grande 28

29 (conglomerado, arenito e intercalações de siltito e folhelho), repousando sobre o cristalino, sendo que em 2% da área restante do município afloram rochas pertencentes ao embasamento cristalino, no caso, ao Complexo Ceará, que reúne gnaisse, mármore, quartzito e xisto (AGUIAR; GOMES, 2004b). Grande parte das formações do relevo do município de Castelo do Piauí é constituída por superfícies tabulares estruturais, com chapadas areníticas, cuestiformes ou não, limitadas por rebordos localmente dissimulados por pedimentos, com declividade plana e partes suavemente onduladas, (SANTOS; AQUINO, 2015). As feições geomorfológicas tanto de Castelo do Piauí, como de Buriti dos Montes compreendem uma [...] superfície aplainada com presença de áreas deprimidas, que formam lagoas temporárias; superfícies tabulares reelaboradas (chapadas baixas), relevo plano com partes suavemente onduladas e altitudes variando de 150 a 300 metros; superfícies onduladas, relevo movimentado, correspondendo a encostas e prolongamentos residuais de chapadas, desníveis e encostas acentuadas de vales e elevações, altitudes entre 150 a 500 metros (serras, morros e colinas) e superfícies tabulares cimeiras (chapadas altas), com relevo plano, altitudes entre 400 a 500 metros, com grandes mesas recortadas (JACOMINE et al., 1986; IBGE, 1977 apud AGUIAR; GOMES, 2004 a-b). Tendo em vista a caracterização geral dos municípios de Castelo do Piauí e Buriti dos Montes, destacando as suas estruturas geológicas e geomorfológicas, a seguir será apresentada uma experiência referente a prática de campo realizada no final do médio Cânion do Poti. O ensino de Geomorfologia: prática de campo no médio Cânion do Poti Por meio da Universidade Federal do Piauí e da Coordenação do Curso de Geografia realizou-se uma pesquisa de campo em junho de 2017 no baixo Cânion do rio Poti, no município de Castelo do Piauí e no final do médio Cânion, no município de Buriti dos Montes. A partir desta atividade de campo foi possível observar e identificar aspectos geoambientais no referido local que contribuem para o ensino de Geografia, a partir da discussão de conceitos e teorias que contribuem para a ampliação dos conhecimentos da ciência geomorfológica e áreas afins. Desse modo, foram postas em prática as teorias e conceitos relacionados às disciplinas Geomorfologia, Geologia, Biogeografia, Hidrografia dentre outras, através da associação destas à observação e aos registros das informações obtidas através das percepções individuais e informações repassadas ao grupo, que foram registradas na caderneta de campo, como também através de fotografias e da produção de pequenos vídeos. Assim, a associação destes conhecimentos possibilitaram a visualização e compreensão da paisagem, a partir da observação das estruturas rochosas e a ação dos agentes intempéricos, especialmente a ação fluvial. O estudo também permitiu discussões acerca da preservação ambiental do local. 29

30 Através da prática de campo foi possível realizar atividades relacionadas ao ensino de Geomorfologia, à medida que os locais eram explorados, como na visita aos sítios arqueológicos presentes no final do médio Cânion do rio Poti, localizado na comunidade Conceição dos Marreiros, em Buriti dos Montes. Nesta comunidade, no percurso de acesso ao Cânion do rio Poti pode-se observar a presença de fraturas e falhas, tanto em terrenos do cristalino como sedimentares, caracterizando o forte controle estrutural na organização da drenagem e em especial do Cânion. Cumpre destacar que o Cânion do rio Poti resulta de um sistema de falhas do lineamento Transbrasiliano tendo seu leito aprofundado pela ação mecânica das águas (LIMA, 1982). Observou-se no leito do rio Poti a presença de estruturas rochosas apresentando várias marmitas que são estruturas resultantes da ação erosiva da água sobre as rochas areníticas, pertencentes à Formação Cabeças. As marmitas turbilhonares são depressões mais ou menos arredondadas com dimensões bastante variáveis, existentes no leito rochoso de alguns rios, sendo encontradas no fundo seixos e areias. Segundo Christofoletti (1981), as marmitas são formas topográficas erosivas localizadas em leitos rochosos originados em depressões escavadas pela abrasão circular de seixos ou blocos, impulsionados pela energia da água corrente. Para Bigarella (1994), estas são consideradas panelas de dissolução, são cavidades presentes na superfície da rocha. CONCLUSÃO A discussão dos conceitos e teorias relacionados a Geomorfologia pode ser realizada tanto em sala de aula quanto em pesquisas de campo, tornando mais compreensível os aspectos físicos do planeta Terra. Assim, o estudo de campo realizado no baixo e no final do médio Cânion do rio Poti, nos municípios de Castelo do Piauí e de Buriti dos Montes, evidenciou que os conceitos apreendidos em sala podem ser assimilados de forma mais eficaz e dinâmica com a utilização de outras técnicas de estudo. Na referida pesquisa de campo foi possível identificar diversos aspectos geomorfológicos, como falhas e fraturas, assim como estruturas rochosas sofrendo a ação dos agentes intempéricos, especialmente a ação fluvial. O estudo também permitiu discussões acerca da preservação ambiental do local. REFERÊNCIAS AGUIAR, Robério Bôto de; GOMES, José Roberto de Carvalho (Org.). Projeto cadastro de fontes de abastecimento por água subterrânea, Estado do Piauí: diagnóstico do município de Castelo do Piauí. Fortaleza: CPRM - Serviço Geológico do Brasil, 2004a. AGUIAR, Robério Bôto de; GOMES, José Roberto de Carvalho (Org.). Projeto cadastro de fontes de abastecimento por água subterrânea, Estado do Piauí: diagnóstico do município de Buriti dos Montes. Fortaleza: CPRM - Serviço Geológico do Brasil, 2004b. BIGARELLA, João José. Estrutura e Origem das Paisagens Tropicais e Subtropicais. Florianópolis: Editora UFSC,

31 CASSETI, Valter. Geomorfologia, [2005]. Disponível em: < Acesso em: 28 ago CHRISTOTOFOLETTI, A. Geomorfologia. São Paulo: Edgar Blucher, 3. ed., CUNHA, Sandra B. da. Geomorfologia Fluvial. In: CUNHA, Sandra B. da; GUERRA, Antonio J. T. Geomorfologia: uma atualização de bases e conceitos. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, LIMA, Iracilde M. M. F. Caracterização Geomorfológica da Bacia Hidrográfica do Rio Poti f. Tese (Doutorado em Geografia) - Programa de Pós- Graduação do Instituto de Geociências. Universidade Federal do Rio de Janeiro, OLIVEIRA, Adriana O. S. A. Contribuição teórico-metodológica para o ensino de Geomorfologia f. Tese (Doutorado em Geografia) - Universidade Estadual Paulista, Faculdade de Ciências e Tecnologia, Presidente Prudente, ROSS, Jurandir Luciano Sanches; FIERZ, Marisa de Souto Matos. Algumas Técnicas de Pesquisa em Geomorfologia. In: VENTURI, Luis Antonio Bittar (Org.). Praticando Geografia: técnicas de campo e laboratório. São Paulo: Oficina de Textos, SANTOS, Francílio A. dos. Geomorfologia e geodiversidade do médio curso da bacia hidrográfica do rio Poti (Piauí), Nordeste do Brasil. Geosaberes, Fortaleza, v. 8, n. 16, p , set./dez de; AQUINO, Cláudia M. S. Características geoambientais de Castelo do Piauí e Juazeiro do Piauí, Nordeste, Brasil. Geografia em Questão, Paraná, v. 8, n. 2, p ,

32 PRÁTICAS DE ENSINO DE GEOGRAFIA FÍSICA: APONTAMENTOS SOBRE GEOMORFOLOGIA E DESAFIOS PARA A UNIVERSIDADE Mayra Nayara Nair dos Santos Universidade Estadual do Piauí- UESPI Acadêmica do curso de Licenciatura Plena em Geografia mayra-nayara18@hotmail.com Simone Cristina de Oliveira Silva Universidade Estadual do Piauí- UESPI Orientadora/curso de Licenciatura Plena em Geografia simone.cristina.geo@gmail.com Eixo temático: Geomorfologia e Ensino Resumo: A finalidade deste artigo é apresentar uma discussão sobre o ensino de Geomorfologia nas aulas do curso de licenciatura em Geografia, da Universidade Estadual do Piauí - Campus Ariston Dias Lima, localizado em São Raimundo Nonato, Piauí; tendo como público alvo os discentes do 3º e 6º período. Para resultados, foi realizada uma pesquisa de campo com um pequeno questionário para cada turma. Assim, conclui-se que seja preciso uma valorizaçao e reformulação da ciência geográfica física no âmbito escolar, visto que os discentes chegam à Universidade com uma base muito superficial do quanto ela é importância para a sociedade. Palavras-chave: Ensino de Geografia Física. Geomorfologia. UESPI. Abstract: The purpose of this article is to present a discussion about the teaching of geomorphology in the classes of the degree course in Geography, from the State University of Piauí - Campus Ariston Dias Lima, located in. having as target audience the students of the 3rd and 6th period. For results, a field survey wasconducted with a small questionnaire for each class. Thus, it is concluded that a valorization and reformulation of the geographic physical science in the school scope is necessary, since the students arrive at the University with a very superficial base of how much it is important for the society. Key words: Teaching Physical geography. Geomorphology. UESPI. INTRODUÇÃO A Geografia é uma ciência que tem como objetivo de estudo a relação natureza e sociedade. Assim, é fundamental entender as dinâmicas que ocorrem no espaço e ainda integrar os elementos naturais e sociais. 32

33 No Brasil, segundo Rocha (1996), a Geografia surgiu como disciplina autônoma fazendo parte do currículo escolar brasileiro no Imperial Colégio Pedro II, no dia 02 de dezembro de O objetivo era servir como padrão de excelência e educação, no qual, deveria ser adotadas pelas demais escolas do país tendo uma política nacional da não valorização do professor e de diversas lacunas existentes na Educação básica no conteúdo curricular da Geografia, especificamente em Geografia Física, onde foi constatada a necessidade de fazer um estudo sobre o processo de apreensão do conhecimento de Geomorfologia no ensino superior. Durante este período em que a ciência passava por transformações, a educação acompanhou este processo e muitos autores foram modificando os livros didáticos a favor das mudanças que estava acontecendo no mundo, onde agregou não somente Geografia, mas também outras ciências que foram surgindo e desenvolvendo-se no decorrer das pesquisas adotadas para compor a nova fase que a educação brasileira estava passando. Mendonça (2005) relata ainda que a acentuada contradição social, entre os anos 1960 e 1970, contribuiu para profundas transformações na ciência geográfica. Contudo, com a participação cada vez mais rara dos pesquisadores da Geografia Física nos eventos da Associação dos Geógrafos Brasileiros (AGB), provocou uma redução na atualização da comunidade cientifica, Isso ocasionou uma distância existente quanto aos avanços obtidos pela Geografia Física nos livros escolares, pois, segundo Armond (2009), os autores mudaram o modo de abordar tais temas, alegando a dificuldade em criar interações coerentes entre os elementos físico-naturais e os aspectos ditos sócio-econômicos e políticos culturais da Geografia. Assim, muitos estudos realizados pelo meio cientifico, na década de 1970, tiveram sua divulgação fragmentadas, outras, no entanto, não foram divulgadas e, dessa forma, o ensino na educação dos jovens brasileiros acabou não desenvolvendo junto com a ciência geográfico o que acabou repercutindo na produção de livros didáticos e na prática de trabalho dos professores de nível fundamental e médio. Armond (2009). Nessa perspectiva, segundo Mendonça (2005), os problemas estão relacionados ao desconhecimento das dinâmicas no meio físico. A construção de conceitos no ensino de Geografia e sua consolidação através dos saberes acadêmicos são fatores limitantes para o processo ensinoaprendizagem. Ante o exposto, objetivou-se neste trabalho elaborar uma pesquisa sobre o conhecimento adquirido pelos discentes na disciplina de Geomorfologia. O referido estudo foi organizado por meio de um pequeno questionário onde foi aplicado em duas turmas, 3º e 6º bloco, do curso de Geografia da Universidade Estadual do Piauí (UESPI) - Campus Ariston Dias Lima, situado no município de São Raimundo Nonato. As perguntas eram: 1. O que é Geografia?; 2. O que é Geografia Física?; 3. O que estuda a Geomorfologia?; e 4. Qual a importância do estudo da Geomorfologia e sua relação com a Geografia?. 33

34 Ademais, com base nas informações obtidas e análises realizadas com os discentes do curso de Geografia da UESPI, foi possível observar que o grau de apreensão e compreensão do conhecimento das áreas da Geografia Física ainda é muito superficial, mesmo a disciplina de Geomorfologia já ter sido ministrada nas duas turmas. A análise indicou os seguintes resultados: a) a maioria dos discentes não conseguiu responder com base nas aulas da disciplina já ministrada; b) a maioria dos discentes usou instrumentos tecnológicos ou livros para formular a resposta. Essa constatação nos permite entender os tipos de limitações dos alunos em Geografia Física no ensino básico e, consequentemente, do ensino superior (Licenciatura em Geografia) atrelado ao fato de que os investimentos e o despreparo do governo em investir na educação são reduzidos. PROCEDIMENTO METODOLÓGICO O ensino de Geografia tem seu valor diretamente ligado à cultura e às prioridades de uma sociedade e, aqui, tendo em vista o processo histórico dos governantes pela classe dos professores, é perceptível que a educação e o professor, [...] não tinham um papel importante, eram apenas atividades tradicionais e, em grande parte, negligenciáveis (VESENTINI, 2015). Assim, a Geografia, como a maioria das outras ciências possuem ramificações, apesar de entender só duas: a licenciatura e o bacharel, mas, por intermédio da vasta área que a ciência geográfica é capaz de estudar, foram criadas subáreas que possam ser contempladas nesses aspectos sendo elas a Geografia Humana e Geografia Física que são dois grandes campos estudados na Geografia. Nesse contexto, esse trabalho tem como foco a Geografia Física que apresenta como proposta estudar as dinâmicas naturais terrestres, que envolvem os processos internos e externos do planeta. Assim, áreas como Geomorfologia, Geologia, Climatologia, Hidrografia, Biogeografia, dentre outras estudadas com mais ênfase, para poder oferecer a ciência dados relevantes, foram sendo aprimoradas para explicar os fenômenos naturais. Desse modo, tendo em vista que os processos de aprendizagem no campus se devem de forma majoritária à levantamentos bibliográficos, conhecimento de campo e outros métodos didáticos utilizados pelos professores dentro da própria sala, os alunos alvo desse artigo, foram designados a resolver um pequeno questionário com quatro questões para que pudessem ser avaliados os níveis de conhecimentos adquiridos e como este ampliou-se e amadureceu à medida que foram avançando de semestre. Apesar de a instituição pesquisada apresentar professores qualificados para desenvolver suas funções, os problemas estão relacionados à questão de infraestrutura, falho na área de Geografia Física. Além disso, no curso de Geografia, as aulas práticas (laboratoriais), por exemplo, não são 34

35 conduzidas devido à falta de laboratórios, no qual é fundamental para a elaboração de pesquisas e, consequentemente, elaboração de trabalhos científicos para aperfeiçoar o conhecimento acadêmico dos alunos, o que limita processos de atividades diferenciados na instituição. Sendo, portanto, a maioria dos cursos de Licenciatura da UESPI serem ofertados no período noturno, o perfil da maioria dos acadêmicos, que ingressam no curso de Geografia são discente que trabalham durante o dia. Atualmente, o curso de Geografia, oferta um número significativo de vagas, porém são notáveis indicativos de evasão no curso. Todavia, apesar dessas dificuldades, o curso tem apresentado resultados positivos nas pesquisas realizadas a nível regional e nacional, como mostra o termo de qualificação do Guia do Estudante (2017) divulgado no site oficial do Piauí onde o curso de Geografia de São Raimundo Nonato recebeu três estrelas. Contudo, para atingir os resultados do trabalho dessa pesquisa, os alunos foram designados a responderem um pequeno questionário com quatro questões (Quadro 1). O objetivo dessa atividade foi avaliar os níveis de conhecimentos adquiridos em sala de aula e se os conceitos da disciplina de Geomorfologia foram ampliados na medida em que os semestres avançaram. Quadro 1 - Perguntas do questionário Questão 1 O que é Geografia? Questão 2 O que é Geografia Física? Questão 3 O que estuda a Geomorfologia? Questão 4 Qual a importância do estudo da Geomorfologia e sua relação com a Geografia? Elaboração: SANTOS.M.N.N, SILVA S.C.O, 2017 Fonte: Pesquisa de Campo - UESPI, Um dos nossos objetivos específicos nesse trabalho é analisar, seguindo o resultado das pesquisas, o grau de conhecimento adquirido no ensino básico pelos discentes e como estes se desenvolveram na Universidade a partir do conhecimento e aperfeiçoamento da Geografia Física, seguindo uma avaliação desse progresso (Gráfico 1). Tal fato foi entendido de acordo com os resultados obtidos de cada turma e como estes ainda lidam com o conhecimento que vem sendo adquirido na Universidade. 35

36 Gráfico 1. Elaboração: Autores, Fonte: Pesquisa de Campo - UESPI, Pelo exposto, foi possível identificar que os conhecimentos em Geografia Física estão mais estáveis a partir das respostas obtidas do 6º semestre e que os conhecimentos adquiridos no ensino básico foram sendo reformulados e reestruturados, o que possibilitou mais segurança aos que responderam os questionamentos sem a necessidade de consultar fontes bibliográficas e outros instrumentos de pesquisa. CONCLUSÃO À título de conclusão é notável que ainda nos primeiros períodos do curso de Licenciatura Plena em Geografia na UESPI, o conhecimento da área de Geografia Física precisa ocorrer algumas transformações e trazer, ao aluno, subsídios que o façam reconhecer o meio em que ele está inserido, levando em conta a lacuna que existe no repasse do conhecimento adquirido ao longo dos anos nas escolas públicas/particulares do país, tendo em vista que o conhecimento superior existe como complemento, ao que foi adquirido durante a educação básica. 36

37 Na sua totalidade, os resultados revelaram que 30% dos alunos recorreram a sites para responder perguntas básicas da Geografia Física/Geomorfologia. Assim, foi nítido a insegurança a temas específicos, ocorreu tanto em alunos, que estão em fase inicial do curso superior, quanto os discentes que situam-se na fase final do curso de Geografia. Nesse sentido, as áreas do conhecimento da Geografia Física, em especial, a Geomorfologia, precisa de uma valorização, intervenções e práticas pedagógicas capazes de inovar o ensino de Geomorfologia, facilitando a compreensão dos conceitos-chave, processos e dinâmicas da natureza, que ocorrem em distintos lugares e territórios. Sobretudo, é imprescindível que haja uma reformulação no ensino básico fundamental e médio, para que o discente adquira e tenha conhecimento sobre as interações entre natureza e sociedade. É necessário também uma maior estruturação nas estruturas dos cursos de Licenciatura em Geografia como laboratórios, aulas práticas, trabalhos de campo, articulação entre escolas e Universidade, para a realização de atividades práticas e inovadoras, auxiliando no processo ensinoaprendizagem, pois, apesar da UESPI contar com um quadro de professores qualificados para desenvolver suas atividades, essa falta de estrutura acaba limitando as atividades práticas à pesquisas de campo o que não ocorrem em todos os setores e que são fundamentais para o aperfeiçoamento da Geografia Física. REFERÊNCIAS ARMOND, Nubia Beray. AFONSO, Anice Esteves. Reflexões sobre o ensino de Geografia Físina no ensino fundamental e médio ENPEG. 10º Encontro Nacional de Prática de Ensino em Geografia. Porto Alegre, RS GUERRA, Antônio José Teixeira. VITTE, Antonio Carlos. Refexões sobre a Geografia Física no Brasil. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, MENDONÇA, Francisco. Geografia e Meio Ambiente. 8ª ed. São Paulo: Contexto, ROCHA. Genylton Odilon Rêgo da. A trajetória da disciplina Geografia no currículum escolar brasileiro ( ) Dissertação de mestrado apresentada na PUC SP, São Paulo, VESENTINI, José Willian. A formação do professor de Geografia: algumas reflexões. In: PONTUSCHKA, Nidia Nacid; OLIVEIRA, Ariovaldo Umbelino de. (Org.) Geografia em Perspectiva: ensino e pesquisa. 4. ed., 2ª reimpressão. São Paulo: Contexto, p OLIVEIRA, Livia de. O ensino/aprendizado de Geografia nos diferenes niveis de ensino. In: PONTUSCHKA, Nidia Nacid; OLIVEIRA, Ariovaldo Umbelino de. (Org.) Geografia em Perspectiva: ensino e pesquisa. 4. ed., 2ª reimpressão. São Paulo: Contexto, p Dez cursos da UESPI recebem selo de qualidade da Guia do Estudante Disponivel em acessado 28 de setembro de

38 USO DO CINEMA NO ENSINO DE GEOMORFOLOGIA Ângelo Leonardo Rêgo Castro Universidade Federal do Piauí Graduando do curso de Geografia Adna Dalila da Silva Universidade Federal do Piauí Graduanda do curso de Geografia Bartira Araújo da Silva Viana Universidade Federal do Piauí Profª. Dra da Coordenação do Curso de Geografia Eixo temático: Geomorfologia e Ensino Resumo: O presente trabalho objetiva discorrer sobre a utilização do cinema em sala de aula no ensino de Geomorfologia. Esta ferramenta apresenta grande eficiência para uma melhor compreensão dos estudos das formas de relevo, pois ilustra de maneira clara e perceptível, as modificações resultantes das ações dos agentes internos e externos no modelado terrestre. Para tal finalidade empreendeu-se pesquisa bibliográfica sobre o cinema e seu uso em sala de aula, assim como temáticas tratadas na disciplina Geomorfologia. Conclui-se que o uso de recursos didáticos não convencionais, como por exemplo, os filmes e documentários, apresenta grande potencial no estudo dos conteúdos de Geomorfologia, pois possibilita aos discentes uma compreensão integrada dos componentes que compõem o espaço geográfico de forma organizada, dinâmica e com maior praticidade, transcendendo a abordagem do livro didático. Palavras-chaves: Geomorfologia. Recurso didático. Cinema. Abstract: The present work aims to discuss about the application of cinema in classrooms in the teaching of geomorphology. This tool has a great efficiency to a better understanding of the studies of relief forms because it illustrates clearly and noticeable the modifications that Earth at the same time, produces and suffers. For such purpose, bibliographic researches about the cinema and its uses in classrooms were effected, as well as topics in the discipline of geomorphology. It is concluded that the use of non-conventional education resources, the example of movies and documentaries, has great potential for the study of the contents of geomorphology because it allows students an integrated understanding of the elements that makes up the geographic space in an organized way, dynamic and with a greater convenience, transcending the textbook s approach. 38

39 Key words: Geomorphology. Educational Resource. Cinema. INTRODUÇÃO A busca pela melhor maneira de compreender e ensinar as diferentes ciências que fazem parte do campo geográfico, em especial a Geomorfologia, torna-se indispensável, visto que o estudo das formas de relevo possibilita compreender melhor não apenas os mecanismos de funcionamento da natureza, mas também a inter-relação desta com ser humano. A ocupação de diferentes locais do planeta, a avaliação da potencialidade de recursos, a fragilidade de determinados ambientes naturais, os problemas que o ser humano vem causando na esfera ambiental, são questões que a Geomorfologia aborda, propondo soluções concretas (CARNEIRO, 2012). Assim, a partir deste enfoque, o ensino desta disciplina exige do professor o uso de diversas metodologias pedagógicas com o objetivo de incentivar e melhorar gradativamente a absorção do conhecimento repassado aos alunos, haja vista que a sociedade atual tem como características um progressivo e cada vez mais rápido fluxo de informações e mudanças que não são corretamente ou completamente abordadas em sala de aula, utilizando-se para isso, apenas metodologias tradicionais (MENEZES; OLIVEIRA, 2015). Este autor destaca ainda que, diante das transformações ocorridas na sociedade, é necessário não apenas a utilização de novas práticas pedagógicas que instiguem a capacidade de interpretar e perceber deliberados assuntos por parte dos alunos, mas também uma alteração na postura do docente, que deve se adaptar as novas tecnologias e transmiti-las de maneira planejada e crítica. Szarazgat (2013) defende que o emprego de recursos alternativos no ensino da Geografia e, consequentemente da Geomorfologia, se mostra obrigatório, especialmente nos tempos atuais nos quais os meios de comunicação de massa como a televisão, a internet, quadrinhos, os documentários, entre outros recursos didáticos não convencionais se tornaram as maiores fontes de notícias e de informações. Dessa forma, o presente trabalho objetiva discorrer sobre a utilização do cinema em sala de aula no ensino de Geomorfologia. Esta ferramenta apresenta grande eficiência para uma melhor compreensão dos estudos das formas de relevo, pois ilustra de maneira clara e perceptível, as modificações resultantes das ações dos agentes internos e externos no modelado terrestre. O uso deste Recurso Não Convencional demonstra ser essencial para uma maior fixação dos conteúdos das formas terrestres porque possibilita a observação de fenômenos e processos naturais, que devido a grande quantidade de tempo para ocorrerem, são praticamente impossíveis de serem observados a olho nu e complexos demais para serem abordados e compreendidos apenas pelo uso de livros didáticos. Para tal finalidade empreendeu-se pesquisa bibliográfica sobre o cinema e seu uso em sala de aula, assim como temáticas tratadas na disciplina de Geomorfologia. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 39

40 A geomorfologia é a ciência que estuda as formas de relevo existentes no planeta Terra. As formas retratam a feição de determinada superfície no espaço, que fazem parte das inúmeras configurações pertencentes a uma paisagem morfológica. A sua fisionomia visível é a principal característica do modelado superficial de uma área (CHRISTOFOLETTI, 1980). O relevo sempre foi notado pelo homem entre os mais diversos elementos da natureza, por causa de sua beleza, grandiosidade e aparência. Estas formas superficiais até hoje apresentam grande importância para o ser humano, pois é o espaço no qual o homem acomoda sua moradia, determina os melhores caminhos e locais de cultivo ou define fronteiras. Devido à capacidade de pensar e observar do ser humano, tornou-se possível interligar as formas de relevo e seus processos criadores, como terremotos, erupções de vulcões, avalanches, entre outros (GUERRA; CUNHA, 2007). A importância do uso do cinema nas aulas de Geomorfologia O professor atua como uma ponte entre o conhecimento previamente adquirido pelo aluno e o conhecimento científico, cabendo a este profissional, o compromisso de utilizar recursos alternativos de ensino, pois estes contribuem para a formação de um senso crítico nos alunos, além de tornar a aula mais dinâmica e menos tradicional (SZARAZGAT, 2013). Em relação à variedade e importância da utilização destes recursos no processo de ensino-aprendizagem, o mesmo autor afirma que: Podemos enumerar uma lista de diferentes abordagens quanto á utilização destes recursos. Recursos visuais (fotografia e vídeo), a charge, os cartuns e música, são alguns dos instrumentos incorporados no ensino de geografia. Para muitos autores o uso destes recursos representa uma nova visão dos alunos quanto a transformações do espaço onde ele vive, tornando os conteúdos de geografia mais próximos de sua realidade. O professor não deve ficar apenas focado no livro de didático como uma única fonte do conhecimento, mas sim apenas uma das muitas ferramentas que possam ser trabalhadas no ensino de geografia (SZARAZGAT, 2013, p.2-3). Em relação à transmissão dos conteúdos geomorfológicos nas escolas, Batista e Sousa (2012) afirma que este processo geralmente limita-se apenas ao uso do livro didático e, além disso, encontrase disfarçado entre as demais disciplinas de Geografia, com seus conhecimentos frequentemente diluídos em um simplório conteudismo, sem que os discentes compreendam a sua relevância para o dia a dia e para a compreensão da totalidade do espaço geográfico. O ensino de Geomorfologia deveria ser mais estimado, já o estudo ambiental e o entendimento do meio onde estamos inseridos ocorrem sobre o relevo. É este que determina a infraestrutura das urbes, a prática e o encargo das terras, os processos erosivos, entre outros agentes importantes para o ser humano. Outros fatores físicos são também relevantes, mas o relevo é uma porção fundamental para o estudo da paisagem. Para proporcionar uma melhor abordagem de seus conhecimentos e de sua importância, Carneiro (2012) afirma que inúmeros recursos podem ser empregados no ensino de geografia com 40

41 ênfase no conteúdo específico de Geomorfologia, uma vez que o estudo das formas de relevo proporciona uma maior compreensão da origem dos fenômenos naturais e as consequentes transformações que estas causam na superfície. Contudo, por conter uma extensa e complexa terminologia técnica, esta apresenta um nível de dificuldade mais acentuado para os discentes do que outros conteúdos geográficos. Desse modo, faz-se necessário utilizar metodologias pedagógicas e instrumentos de ensino alternativos, pois estes podem atuar como facilitadores do processo de ensino-aprendizagem, fazendo com que os conteúdos expostos sejam captados e compreendidos mais eficientemente pelos alunos. Entre as diversas opções de metodologias alternativas para o ensino de geografia, os recursos audiovisuais, em especial o cinema, podem ser considerados uma excelente fonte para a formação de uma consciência geográfica, pois estas mostram através de imagens e cenas, os diferentes componentes que formam superfície terrestre, além de possibilitar a ilustração de acontecimentos que ocorreram preteritamente no espaço geográfico (SILVA; PINTO; COUTO, 2015). Inventado pelos franceses por volta de 1895, o cinema é, originalmente uma forma de arte e entretenimento que, diferentemente da fotografia, permite o registro de diferentes eventos em movimento. Sobre a aceitação do uso do cinema em sala de aula, uma pesquisa realizada com professores sobre a aceitação deste recurso, revelou que para a grande maioria destes profissionais (96%), os alunos gostam e gostam muito do uso de vídeos nas aulas, impressionando os pais e até mesmos os mestres, devido à grande receptividade entre os jovens por este meio de ensino (PRETTO, 1996). Portanto, devido a grande complexidade tanto das terminologias quanto da importância do conhecimento das formas de relevo, faz-se necessário a utilização de recursos alternativos de ensino, principalmente o cinema, que por meio de filmes ou documentários, expõe de maneira dinâmica, prática e clara, os inúmeros fenômenos geomorfológicos que atuam na superfície terrestre, além de ser uma ferramenta de grande aceitação por todos os agentes educacionais. RESULTADOS E DISCUSSÕES O uso de recursos didáticos não convencionais com frequência tem o potencial de transformar o ambiente escolar, gerando um novo espaço físico diferente da abordagem tradicional da realidade educacional. A escola pode ter novas funções como a de ser um local irradiador de conhecimento, fazendo com que o professor adquira outro cargo: a de comunicador, no qual interligaria inúmeras informações possibilitando a transmissão de conteúdos geográficos holisticamente (PRETTO, 1996). É do conhecimento da maioria dos estudiosos, que a Geografia enfrentou e enfrenta inúmeros problemas tanto na sua abordagem científica quanto na transmissão de seus conhecimentos, a exemplo do estudo do relevo. Para relativizar pelo menos uma dessas adversidades anteriormente 41

42 citadas, o uso de recursos audiovisuais, em especial, o cinema mostra-se bastante eficiente para mitigar a péssima alcunha que esta ciência possui: a de uma disciplina cuja função seria apenas a de expor elementos que estão presentes no mundo de maneira desinteressada, simplista, expondo componentes de maneira enumeradas, enfadonha, sendo até questionada por alguns estudiosos se é mesmo uma ciência ou se não se constitui apenas como um corpo formado pelo empréstimo de diversas outras disciplinas (LACOSTE, 1985). Para a obtenção de uma melhoria na compreensão e fixação dos conteúdos ministrados de Geomorfologia, é indispensável compreensão do funcionamento da dinâmica interna da Terra, principalmente de seus mecanismos geológico que são os responsáveis diretos pela formação de diversas formas de relevos esculpidas na superfície do globo. Para expor estes eventos de maneira mais didática e ilustrada, existe um documentário intitulado Terra: um planeta fascinante, produzido pelo canal americano Discovery Channel em 1998 e que possui dois capítulos com 52 minutos de duração cada. No inicio deste filme é apresentado o processo de formação do Planeta Terra e de seu satélite natural, além de sua história e fenômenos geológicos que ocorreram há bilhões de anos. As modificações na configuração do relevo terrestre são expostas por meio de imagens reais e também por cenas realizadas por meio de tecnologias computadorizadas, com estudiosos explicando o que ocorreu em um passado extremamente distante assim como a maneira que eles conseguem obter as evidencias e provas geológicas.. O documentário também expõe o eterno embate entre lados opostos da natureza: as forças internas ou endógenas que criam estruturas de relevo e as forças exógenas ou externas que destroem e desgastam todas as formas superficiais previamente criadas pela natureza. O documentário mostra que as atuais formas geomorfológicas são um resultado ou um produto da luta entre as forças antagônicas, sendo este processo, infinito e irrefreável, criando e destruindo continuamente tudo o que a própria natureza criou (DISCOVERY CHANNEL, 1998). Além disso, é possível ainda assimilar que o ser humano apesar de toda a tecnologia e conhecimento do funcionamento destes fenômenos naturais, ainda não consegue controlá-los ou prevê-los, apenas reduzir os prejuízos financeiros e o número de vítimas quando estes eventos naturais ocorrem imprevisivelmente. Assim, a película deixa claro que o ser humano não é um elemento acima da natureza e que a controla de acordo com seus desejos, mas sim, apenas mais um componente que atua como um mero coadjuvante quando as forças da natureza atuam. CONCLUSÃO Diante do exposto sobre a importância do uso de recursos audiovisuais, com destaque para o cinema visando o ensino de Geografia e de Geomorfologia, entende-se que esta ferramenta é imprescindível para a superação da tradicional forma de ensino baseada apenas no uso do livro didático. 42

43 O uso de filmes permite que fenômenos geológicos que demoram milhões de anos para ocorrer sejam observados em poucos minutos, de maneira ilustrada, utilizando-se para isso, imagens reais ou imagens feitas em computadores, de modo a melhor desvendar e esclarecer os mecanismos de funcionamento interno da Terra e a consequente formação de estruturas de relevo. Fica claro por meio da exposição do documentário Terra: um planeta fascinante, que os fenômenos geológicos, geomorfológicos, natureza e o ser humano, estão diretamente interligados, e o documentário aborda isso de maneira integrada, holisticamente, não expondo-os de maneira enumerada ou independente, mas sim como um sistema, no qual todos estão conectados. Assim, cabe ao professor de Geografia, ao abordar os conteúdos geomorfológicos evitar utilizar somente os livros didáticos, integrando ao seu planejamento filmes e documentários, pois estes poderão contribuir para o aprendizado dos aspectos geomorfológicos de forma mais eficaz e dinâmica. REFERÊNCIAS BATISTA, D.F.; SOUSA, F. A. Ensino de Geomorfologia nas escolas. In: CONGRESSO DE EDUCAÇÃO, 2, 2012, Iporá, GO. Anais... Iporá, GO, CARNEIRO, F. P. O espaço da geomorfologia no ensino da geografia: concepções aplicadas ao livro didático. 19f. Trabalho de Conclusão do Curso (Licenciatura em Geografia). Universidade Estadual da Paraíba. Catolé do Rocha PB, CHRISTOTOFOLETTI, A. Geomorfologia. 2. ed., São Paulo: Editora Edgar Blucher, DISCOVERY CHANNEL. Terra: um planeta fascinante. Estados Unidos, GUERRA, A. J. T.; CUNHA, S.B. Geomorfologia: uma atualização de bases e conceitos. 7. ed., Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, LACOSTE, Y. A geografia isso serve em primeiro lugar para fazer a guerra. Tradução de Maria Cecília França. Campinas, SP: Papirus, MENEZES, S. S. M.; OLIVEIRA, A. S. A arte do cinema: uma ferramenta no ensino de geografia. In: ENCONTRO INTERNACIONAL DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES, 8., 2015, Aracaju - SE. Anais... Aracaju - SE: UNIT, v.8., p PRETTO, N. L. Uma escola sem/com futuro: educação e multimídia. 8. ed. rev. e atual. Salvador: EDUFBA, SILVA, P. R.; PINTO, E. G.; COUTO, M. E. M. P.; A utilização de recursos audiovisuais no processo de ensino aprendizagem em geografia. In: ENCONTRO DE INICIAÇÃO A DOCÊNCIA - ENID, 5., 2015, Guarabira, PB. Anais... Guarabira, PB, SZARAZGAT, M. O uso dos recursos paradidáticos no ensino de geografia e sua relação com a experiência no estágio obrigatório. In: FERRETTI, O.; CUSTÓDIO, G. A. (Org.). Artigos da disciplina estágio curricular supervisionado em Geografia II: segundo semestre de Florianópolis: NEPEGeo; UFSC, Disponível em: Disponível em: < Acesso em: 01 set

44 A DINÂMICA DA GEOMORFOLOGIA COSTEIRA E SUA INFLUÊNCIA EM SÍTIOS ARQUEOLÓGICOS Laiane Pereira da Costa Universidade Federal do Piauí, estudante de Arqueologia la-i-ane@hotmail.com Sara Layane Gonçalves Lopes Universidade Federal do Piauí, estudante de Arqueologia saralayanne@hotmail.com Grégoire André Henri Marie Van Havre Universidade Federal do Piauí, Professor do Curso de Arqueologia da UFPI (orientador) gvahavre@gmail.com Eixo temático: Geomorfologia Costeira Resumo: O ambiente costeiro é caracterizado por frequentes mudanças, que resultam em uma variedade de feições geológicas e geomorfológicas. Nos ambientes de dunas a ação do intemperismo é constante como radiação solar, ventos, ação das marés; que movimentam as areias e favorecem a formação de dunas. O objetivo proposto neste trabalho foi identificar a influência da dinâmica costeira no sítio arqueológico Morro do Gemedor, localizado no Delta Rio Parnaíba Piauí. A metodologia utilizada nesta pesquisa foi à observação do sítio arqueológico situado entre dunas. E por meio de registros fotográficos feitos com um intervalo de um ano ( ) para a comparação e assim registrar as modificações na paisagem. Nos ambientes de dunas o vento e água e outros são importantes para entender a dinâmica e alterações em sítios arqueológicos. Palavras-chaves: geomorfologia costeira. Dunas. Sítios Arqueológicos. Abstract: The coastal environment is characterized by frequent changes, which result in a variety of geological and geomorphological features. In dune environments the weathering action is constant as solar radiation, winds, tidal action; that move the sands and favor the formation of dunes. The objective of this work was to identify the influence of coastal dynamics at the Morro do Gemedor archaeological site, located in the Rio Parnaíba - Piauí Delta. The methodology used in this research was the observation of the archaeological site located between dunes. And through photographic records made with an interval of one year for the comparison and thus recording the modifications of the environment. In dune environments the wind and water and others are important to understand the dynamics and changes in archaeological sites. Key-words: Coastal geomorphology. Dunes. Archaeological Sites. 44

45 INTRODUÇÃO As areias são pequenos grãos de quartzo, que são também o resultado da deposição de sedimentos. Após se desintegrarem das rochas matriz, as areias são transportadas pelos agentes erosivos que de maneira se formam as dunas e dentre outros processos. A movimentação da areia acontece quando as ondas se jogam em direção ao litoral, causando o movimento dos sedimentos em forma de zig-zag. Salienta-se que o deslocamento do sedimento é no mesmo sentido da costa. O ciclo sazonal da migração das areias em direção à praia é derivado de fluxo intenso de areia, oriunda de uma camada de vento (CORREIA et. al., 2006, p. 6-7). No decorrer da movimentação das areias através da ação eólica é nesse exato momento que se formam as dunas, tal processo acontece quando esses grãos de areia são barrados por algo, um obstáculo que possa impedir que as areias continuem a serem transportadas pelo vento, e assim ocorrendo um acumulo das mesmas. Porém o vento tem uma forte influência nesse caso, com isso, ele deposita o sedimento de forma lenta, assim que consegue uma altura que ultrapassa esse obstáculo, o sedimento começa a cair ajudando na formação de dunas diariamente (CORREIA et. al., 2006, p. 7). Portanto, existem duas formas onde o vento colabora para a formação das dunas. A primeira se chama Barlavento que seria o vento recebido pela parte da frente da duna, dessa forma arrasta uma duna para outra. A segunda forma se chama Sota-vento, que é recebida pela parte de trás da duna, ocasionando os redemoinhos. Dessa forma, esses processos serão interrompidos se alguma vegetação crescer sobre a duna, e assim acaba dificultando a ação do vento (CORREIA et. al., 2006, p. 7). De acordo com Suguio (2003, p.3-4) as regiões litorâneas são um dos mais importantes sítios de assentamentos de populações humanas, desde os tempos pré-históricos (por exemplo, na época do Homem do sambaqui ) até hoje. Os vestígios arqueológicos podem indicar as variações do nível do mar de acordo com a localização dos sambaquis. Isso porque os mesmos se situam sobre substratos de composição e idade distintas. Os sambaquis são acúmulos artificiais que podem chegar a vários metros de altura. São compostos principalmente de conchas de moluscos, e podem conter artefatos líticos e objetos de adorno, além de ossos de mamíferos, espinhas de peixes, e esqueletos humanos. Esse tipo de sítio arqueológico fornece informações sobre a posição-limite da paleolinha de praia, podendo caracterizar períodos de nível do mar mais alto que o atual. Como os sambaquis mais afastados da linha da praia atual, com 20 a 30 km ou mais, no interior do continente e nas margens de paleolagunas sugerem períodos de nível do mar mais alto (SUGUIO, 2003, p ). E isto se baseia na possibilidade de que os habitantes desses locais não tinham como transportar para longe dos locais de coleta, grandes quantidades de moluscos cujas conchas serviram para a construção dos sambaquis. E outra causa seria que no início da construção dos sambaquis, o substrato estava emerso, ou seja, estava acima do nível de maré alta da época (SUGUIO, 2003, p. 45

46 19). Portanto os sítios arqueológicos ajudam a entender as variações do ambiente costeiro, assim como a dinâmica das dunas possibilitam a compreensão dos sítios arqueológicos nestes locais. OBJETIVO E METODOLOGIA Este trabalho tem como objetivo identificar a influência ou alterações que a dinâmica dos ambientes costeiros causa em sítios arqueológicos. E como metodologia para alcançar o que foi proposto; foi realizada uma pesquisa bibliográfica e registros fotográficos para uma análise comparativa do sítio arqueológico localizado em um ambiente de dunas no Morro do Gemedor, na região do Delta do Rio Parnaíba, em Parnaíba Piauí em períodos diferentes. Na figura 1 é possível observar a localização do município de Parnaíba, bem como a área do sitio em estudo. Figura 1. Localização da área de estudo. Fonte: Google Earth Os registros fotográficos foram feitos no ano de 2014 e depois em 2015, com espaço temporal de um ano, em duas visitas ao mesmo local; para que obtivéssemos uma maior noção das modificações ocorridas durante este espaço de tempo. Através da comparação entre as fotografias foi possível confirmar o que se esperava da dinâmica do ambiente costeiro que se caracteriza por sua constante transformação. No ano de 2014 observamos que no Sitio Morro do Gemedor havia muitos materiais arqueológicos fragmentos de cerâmica, vidro, faiança, louça, ossos de animais e conchas espalhados na superfície. A concentração antrópicas de conchas que poderia ser vista parecia se limitar ao que era visível em superfície. Então foram feitos os registros fotográficos dos materiais arqueológicos 46

47 encontrados e também da paisagem das dunas naquele momento. E também notamos a degradação desses materiais e que isto se relacionava com as condições naturais do ambiente. Já no ano de 2015, na segunda visita as modificações do local eram bem evidentes, pois o acúmulo de conchas formava um montículo que não estava visível no ano anterior. E os fragmentos de vidro, porcelana e outros que estavam expostos já não poderiam ser vistos na superfície, e neste momento outros artefatos diferentes estavam expostos, e em algumas dunas havia crescido a vegetação. E da mesma forma foram fotografados para uma comparação do mesmo sitio arqueológico em períodos de tempo diferentes e evidenciar as mudanças ocorridas. As imagens (Figura 2 e 3) mostram as mudanças na paisagem e alguns materiais arqueológicos encontrados na área de estudo. Figura 2. A- Sitio arqueológico no Morro do Gemedor em B- Sitio arqueológico no Morro do Gemedor em Fotos de Laiane Pereira. Figura 3. Imagem 1 e 2 -fragmentos de materiais arqueológicos encontrados em Imagens 3 e 4: materiais arqueólogicos encontrados em Fotos de Laiane Pereira. DISCUSSÃO 47

48 O registro arqueológico é formado pelos solos e sedimentos, é necessário compreender os processos geomorfológicos para compreender um sítio arqueológico. O processo formador desse registro depende de processos culturais, naturais e tafonômicos, tanto na deposição como na alteração dos sedimentos. Segundo Honorato (2009) os processos geomorfológicos podem formar ou modificar a matriz arqueológica. Isso porque, segundo Nuno Ferreira Bicho (2006), esses processos se resumem na história sedimentar em contextos arqueológicos. Os mesmos dão origem aos sedimentos por fatores relevantes que como o transporte, o ambiente de deposição e os fenômenos de alteração pósdeposicionais que também são importantes para entender as modificações em um sítio arqueológico (BICHO, 2006, p.385). Os sedimentos que compõem o registro arqueológico podem ter várias origens, como a erosão de rochas ou da deposição de sedimentos; e os mesmos são elementos definidores da identificação desse registro. Os fatores ou meios de transporte dos sedimentos como o vento, água e gravidade desempenham um grande papel transportando os sedimentos. E estes podem ser diferenciados segundo o seu meio de transporte (BICHO, 2006, p. 386). O tipo de ambiente também é de suma importância para compreender se há ou não alterações no registro arqueológico. Nos ambientes de dunas o vento e a água são responsáveis pelo transporte de sedimentos, ou seja, é um ambiente que está em constante modificação. Segundo Nuno Bicho, nestes ambientes de deposição, e erosão de alta energia possui a tendência de destruir os contextos arqueológicos, pelo menos parcialmente. Os ambientes dunares dessa forma são problemáticos do ponto de vista da preservação não do ambiente sensível, também para a preservação arqueológica. Entretanto as ocupações humanas acontecem na superfície e devido à mobilidade das dunas, estas fazem com que aconteça uma modificação espacial dos materiais arqueológicos, ou seja, a localização dos artefatos pode ser facilmente alterada (BICHO, 2006, p ). Então, observando as modificações ocorridas no sítio arqueológico Morro do Gemedor em Parnaíba PI, localizado entre dunas, podemos perceber que o vento age também desenterrando os materiais arqueológicos. Foi feito o registro fotográfico do sítio no ano de 2014 e depois em 2015, notou-se grandes modificações principalmente em uma área de acumulo antrópico de conchas que é uma das características do sítio. O local em 2014, o que poderia ser visualizado do acúmulo de conchas na superfície que dava idéia de ser um acúmulo pequeno. Já em 2015, percebeu-se que o vento havia escavado o sitio deixando visível que o acúmulo de conchas era bem maior do que parecia. Na segunda visita ao local foi possível ver na superfície uma grande quantidade de material arqueológico espalhados. Os mesmos não estavam expostos na primeira visita ao sítio no Morro do 48

49 Gemedor, que na ocasião estavam expostos outros materiais que foram fotografados, evidenciando a ação do vento nas dunas ora desenterrando, ora enterrando materiais arqueológicos. Segundo Nuno Bicho (2006) a erosão eólica faz com que partículas finas ajam sobre os artefatos arqueológicos na superfície de dunas como uma lixa. E este fenômeno altera completamente a morfologia dos artefatos, destruindo as características antrópicas iniciais, assim como modifica o registro arqueológico. Contudo a ação dos processos naturais é visível nos materiais arqueológicos expostos na superfície como nos ossos ressequidos com a exposição ao sol, e na oxidação de peças metálicas, entre outros materiais como a cerâmica que sofrem com os danos da erosão eólica. CONCLUSÃO Portanto as dinâmicas da geomorfologia costeira, com as freqüentes mudanças, que resultam em uma variedade de feições geológicas e geomorfológicas, cuja caracterização dos ambientes costeiros atuais e pretéritos, é de suma importância na reconstituição da evolução do ambiente costeiro. Isso porque o dinamismo costeiro resulta da interação de processos deposicionais e erosivos. Neste tipo paisagem a ação do intemperismo e em sua dinâmica são observados processos como movimentação das areias, que favorecem a formação de dunas. E com as ações naturais do vento, da água podem causar também o deslocamento de materiais arqueológicos, ocorrendo assim modificações no sítio arqueológico; e essas alterações são resultado de processos antrópicos e naturais. Portanto, assim como no Sítio arqueológico do Morro do Gemedor, a análise do ambiente em que se encontra um sítio arqueológico é importante para a compreensão do mesmo, pois os materiais arqueológicos não são estudados isoladamente. Para obtermos uma melhor compreensão, os processos de deposição no local ajudam a definir o contexto desses materiais, o desgaste dos mesmos, as modificações ocorridas no sítio arqueológico ocasionados pelo ambiente, que se diferenciam das causas antrópicas. REFERÊNCIAS BICHO, Nuno Ferreira. Manual de Arqueologia Pré-história. Edições 70 LTDA, CORREIA, F.P. et.al. Caracterização da paisagem da faixa costeira do norte da ilha do maranhão: o caso da praia da ponta d areia. Simpósio de Geomorfologia. Goiânia-GO, Disponível em: data de acesso: 06/07/

50 HONORATO, Laina da Costa. Arqueologia da paisagem e geoarqueologia: experiências em projetos de pesquisa. V. 3, N 1, p , Disponível em: revista.fct.unesp.br/index.php/topos/article/download/2226/2039. Data de acesso:20/07/2017. SUGUIO, K. Tópicos de geociências para o desenvolvimento sustentável: as regiões litorâneas. Revista do Instituto de Geociências da Universidade de São Paulo, Geologia USP (série Didáticas),

51 CAVERNA DO ZÉ MOTA EM CAROLINA-MA COMO EXEMPLO DE ENDOCARSTE EM ARENITO Eixo Temático: Geomorfologia Continental Flávia Martins Silva Graduanda em Geografia/UEMA Claudio Eduardo de Castro Doutorado em Geografia - UNESP-PP, Professor Titular-UEMA Clanaros@yahoo.com.br Resumo: Este trabalho vem apresentar o resultado do estudo do grupo de pesquisa em Geografia de Unidades de Conservação da Universidade Estadual do Maranhão onde se empenhou em mapeamento e topografia de cavernas em litologia arenítica tendo como área de pesquisa a cidade de Carolina-MA a qual se localiza na região Sul do estado cobrindo parte do cerrado brasileiro e do Parque Nacional da Chapada das Mesas, com um relevo composto de morros e chapadas. A geologia e clima contribuem para a formação de cavernas através da dissolução, corrosão e erosão da rocha encaixante devido à friabilidade do arenito e dinâmica hídrica do corpo rochoso. Como resultados da pesquisa, diversas cavernas já foram mapeadas e topografadas e entre essas neste trabalho será destacada, a caverna Zé Mota, a maior caverna já encontrada em Carolina no estado do Maranhão formada em litologia arenítica a qual é um elemento constitutivo de endocarste. Palavras-chave: Cavernas, Carolina-MA Espeleotema, Arenito. Abstract: This work is to present the result of study of the research group in the Geography of Conservation Units of the State University of Maranhão where engaged in mapping and surveying caves in lithology sandstone, having as research area the city of Carolina-MA which is located in the Southern region of the state covering part of the brazilian cerrado and the National Park of Chapada das Mesas with a relief composed of hills and plateaus. The geology and climate contribute to the formation of caves, through the dissolution, corrosion and erosion of the rock host due to the friability of the sandstone and dynamic water body rocky. As search results, several caves have already been mapped and topografadas and between those in this work will be highlighted, the cave of the Mota, the largest cave ever found in Carolina, in the state of Maranhão, formed in lithology sandstone which is a constitutive element of endocarste. Key words: Caves, Carolina-MA, Espeleotema, Sandstone. 51

52 INTRODUÇÃO As cavernas em regiões carbonáticas geralmente são formadas pela dissolução química quando o Cálcio presente na rocha reage com a água composta de ácido carbônico, formando o carbonato de cálcio, essa reação desgasta a rocha, formando condutos que dão origem a feições cársticas (CVIJIC, 2017), porém, nas últimas décadas várias cavernas foram descobertas em ambientes pouco solúveis e com os estudos pôde-se entender que os processos operantes na formação dessas cavidades não foram exatamente os mesmos que nas rochas carbonáticas e por esse fator são consideradas pseudocarstes, termo ao qual tem sido motivo de discussões na academia e não aceitação de todos por não se acreditar na legitimidade do cárste em outras litologias não cársticas, o que ocorre, via de regra, é que a maioria dessas feições formadas em litologias pouco solúveis possuem o desenvolvimento menos expressivo. Segundo Bigarella, Becker e Santos (2009, p ) carste constitui uma modalidade associativa de formas vinculadas á presença de grandes massas de rochas calcárias, principalmente daquelas mais puras e que, em geral, estão sujeitas a processos combinados de dissolução química e erosão mecânica. As formas do relevo cárstico podem ser erosivas ou construtivas. Erosivas quando resultantes de processos físicos e químicos como corrosão, desmoronamentos e outros que desenvolvem feições superficiais no exterior (exocarste) e também no interior da rocha (endocarste) que são as cavernas, e os espeleotemas existentes no subterrâneo (BIGARELA; BECKER e SANTOS, 2009). No arenito o escoamento da água da chuva faz com que haja o desgaste dos paredões rochosos, formando alvéolos que se alargam com a ação continuada do intemperismo químico e físico provocados pela ação da água, vento e da força gravitacional (MONTEIRO E RIBEIRO, 2001). Além disso, a friabilidade da rocha, fraturamentos, clima e a estratigrafia do corpo rochoso cooperam significativamente para a formação de endocarste. Diante dessa discussão, o presente trabalho tem como objetivo apresentar o estudo de cavernas, desenvolvido pelo Grupo de Pesquisa de Unidades de Conservação (GEUC) da Universidade Estadual do Maranhão no Município de Carolina, com ênfase para a maior caverna encontrada no município, a caverna do Mota desenvolvida em litologia arenítica. O estudo tem mapeado e topografado um grande número de cavernas na região sul do Maranhão o qual possui um elevado potencial de formação de cavernas por processos de corrosão e erosão. MATERIAIS E MÉTODOS Primeiramente fez-se estudos, utilizando da pesquisa exploratória sobre geologia e gênese de cavernas em regiões não cársticas. Com esse levantamento foi possível fazer um prognóstico, escolha da área de estudo e análise in loco através do método indutivo que, segundo (LAKATOS e 52

53 MARCONI 2003, p.86) [...] é um processo mental por intermédio do qual, partindo de dados particulares, suficientemente constatados, infere-se uma verdade geral ou universal, não contida nas partes examinadas. As atividades realizadas em campo constituíram prospecção, mapeamento, topografia e caracterização das cavidades. Os procedimentos para topografar foram baseados conforme as premissas de Dematteis (1975), levando em consideração a precisão estabelecida pelas normas da Sociedade Brasileira de Espeleologia (SBE), dos parâmetros pelo sistema da British Cave Research Association (BCRA) em grau 4C. RESULTADOS E DISCUSSÕES O município de Carolina fica localizado na região Sul do Maranhão, na microrregião de Porto Franco, limitado à esquerda pelo estado de Tocantins e Pará, pela direita o município de Riachão. Essa região possui clima tropical úmido com temperatura média anual de cerca de 26,1 C com duas estações bem definidas: verão seco, que vai de maio a outubro e o inverno chuvoso, que vai de novembro a abril, aproximadamente. Conforme Brito (2003), as chuvas são em média de milímetros/ano. Situa-se dentro da bacia sedimentar do Parnaíba nos domínios rochosos deposicionais do Grupo Balsas (neocarbonífera e a eotriássica) a qual se divide em quatro formações: Piauí, Pedra de Fogo, Sambaíba e Motuca (LIMA e LEITE, 1978). Em Carolina pode-se encontrar todas essas quatro formações, porém, a mais expressiva no município é a formação Sambaíba a qual possui arenitos com granulometria de finos a grossos resultantes da desertificação e recuo total do mar (LIMA e LEITE, 1978). Essas características geológicas e fisiográficas aliadas ao desnível do relevo de planaltos e planícies, com presença de chapada (tabulares) com morros de topos planos com o formato de mesetas com altitudes que variam de 214 a 524m favorecem o processo de formação de cavidades formadas por processos intempéricos principalmente corrosão e erosão. A Caverna do Mota é maior caverna encontrada em Carolina-MA com um desenvolvimento horizontal de 23,37 metros, situada dentro do Parque Nacional da Chapada das Mesas (Figura 1). Figura 1. Mapa de localização da Caverna do Mota 53

54 As paredes e teto dessa caverna possuem uma textura bastante rugosa pela intensa presença de Tafonis onde nessa caverna, a água foi o principal agente operante na dissolução, corrosão e erosão. Com o alargamento dos orifícios, o material mais resistente permaneceu e o mais friável deposicionou-se no piso, onde se encontram vários blocos esburacados desmoronados pela ação da gravidade. O constante gotejamento de água vinda das fissuras carregadas de sedimentos concretaram-se de forma heterogênea e rugosa. 54

55 Figura 2. Caverna do Mota Fonte: GEUC, Figura 3. Teto da caverna do Mota Fonte: GEUC CONSIDERAÇÕES FINAIS A caverna do Mota, situada na cidade de Carolina-MA foi formada, principalmente por processos de sedimentação ocasionado por processos erosivos, visto que o grau de solubilidade no 55

56 arenito é muito menor que apresentado em rochas carbonáticas. Porém de acordo com os estudos tradicionais, o cárste geralmente é atribuído a relevos cujas feições como cavernas, compõem um sistema desenvolvido predominantemente por dissolução que decorre em litologias calcárias e carbonáticas onde a água é o agente principal dessa formação, porém foi possível verificar que em Carolina-MA, o principal processo sedimentar na formação de caverna é a erosão que promove a retirada dos grãos formando orifícios que se alargam cada vez mais desenvolvendo as mesmas feições encontradas em cárste solúvel constituindo um exemplo de endocarste. Assim pode-se dizer que a principal formação de cárste em arenito não é a dissolução e sim o intemperismo. REFERÊNCIAS BIGARELLA, J. J. ; BECKER, R. D. ; SANTOS, G. F. Estrutura e origem das paisagens tropicais e subtropicais: fundamentos geológicos-geográficos, alteração química e física das rochas e relevo cárstico e dômico. Santa Catarina: Ed. da UFSC, BRITO, L. C.; Furtado, M. S.; Feitosa, A.C. Impactos ambientais da monocultura da soja no município de Balsas-MA. In: X Simpósio Brasileiro de Geografia Física Aplicada. Rio de Janeiro, UERJ, CIVIJIC, J.CARSTE: Uma monografia geográfica (1895).Belo Horizonte: PUC Minas, Tradução de Luiz Eduardo Panisset Travassos. Revisão de João Henrique Rettore Tottaro. DEMATTEIS, G.. Manual de la Espeleologia. Barcelona: Editorial Labor S.A., LAKATOS, E. M.; MARCONI, M. A. Fundamentos de Metodologia Científica. 5a. Edição, Editora Atlas, pg. 86, S. Paulo, LIMA E.A.M. & LEITE J.F. Projeto estudo global dos recursos mineiras da Bacia Sedimentar do Parnaíba: integração geológica-metalogenética. Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais, Relatório Final da Etapa III, Recife, p. MONTEIRO, R.C. & RIBEIRO, L.F.B Speleogenesis of Sandstone Caves: Some Considerations applied to the Serra do Itaqueri Speleological Province, São Paulo State, Brazil 13th International Congress of Speleology; 4th Speleological Congress of Latin America and the Caribbean; 26th Brazilian Congress of Speleology (Brasilia - DF)., July, 15-22, p

57 A MORFOLOGIA DAS VERTENTES E SUA INFLUÊNCIA NOS FENÔMENOS DE ENXURRADA: ALTO CURSO DA BACIA HIDROGRÁFICA DO ANIL SÃO LUÍS- MA Ismaylli Rafael dos Santos Costa Departamento de História e Geografia, UEMA ismayllirafael@gmail.com Quésia Duarte da Silva Professora Dr. do Departamento de História e Geografia, UEMA quesiaduartesilva@hotmail.com Estevânia Cruz Teixeira Departamento de História e Geografia, UEMA estevaniacruz@gmail.com Eixo temático: Geomorfologia Urbana Resumo: As enxurradas são fenômenos de natureza atmosférica, hidrológica ou oceanográfica que podem ocorrer em periodos chuvosos. Sabe-se hoje que tais fenômenos estão relacionados com a quantidade e intensidade da precipitação atmosférica e também com a morfologia do terreno. Neste sentido, as enxurradas originam-se a partir da combinação de fatores como, à intensidade e distribuição das chuvas, a declividade do terreno e com a capacidade de infiltração do solo. Neste panorama, se faz necessário estudar a morfologia das vertentes e qual a relação nos fenômenos de enxurrada, tendo em vista que, o alto curso da bacia hidrográfica do Anil encontra-se em uma região predominantemente urbana, possuindo um número de 50 famílias atingidas, foram mapeados 8 áreas com incidência do fenômeno de enxurrada. Sendo assim, é possível afirmar que famílias tem sofrido perdas matérias e imaterias devido ao fenômeno supracitado. Palavras chave:vertentes; Enxurradas; Geomorfologia Urbana. Abstract: The floods are phenomena of atmospheric, hydrological or oceanographic nature that can occur in rainy periods. It is known today that such phenomena are related to the amount and intensity of atmospheric precipitation and also to the morphology of the terrain. In this sense, the floods originate from the combination of factors such as the intensity and distribution of rains, the slope of the terrain and the capacity of infiltration of the soil. In this panorama, it is necessary to study the morphology of the slopes and what is the relationship in the flood phenomena, considering that the high watercourse of the Anil basin is located in a predominantly urban region, with a number of 50 affected families, 8 areas with incidence of the flood phenomenon were mapped. Thus, it is possible to affirm that families have suffered material and immaterial losses due to the aforementioned phenomenon. Keywords: Verts; Rinse; Urban Geomorphology. INTRODUÇÃO As enxurradas são fenômenos de caráter hidrometeorológico ou hidrológico, ou seja, aqueles de natureza atmosférica, hidrológica ou oceanográficaque podem ocorrer em periodos chuvosos e 57

58 são geralmente deflagradas por fortes chuvas rápidas ou até de longas durações. Sabe-se hoje que tais fenômenos estão relacionados com a quantidade e intensidade da precipitação atmosférica e também com a morfologia do terreno. Neste sentido, o presente trabalho visa relacionar a influência das vertentes nos fenômenos de enxurrada no alto curso da bacia hidrográfica do Anil no município de São Luís, apresentando uma breve exposição do conceito de desastre, na perspectiva da geomorfologia urbana. A ISDR (2009) considera desastre como uma grave mudança no funcionamento de uma comunidade ou de uma sociedade envolvendo perdas humanas, materiais, econômicas ou ambientais de grande extensão, em que os impactos superam a capacidade da comunidade ou da sociedade afetada de arcar com seus próprios recursos. Para Scarlato et al (1999), os efeitos negativos do crescimento descontrolado das cidades têm transformado grandes aglomerados urbanos em epicentros de degradação ambiental em proporções planetárias. Preocupados com esta problemática, diversos estudos foram e estão sendo realizados ao longo dos anos, com o intuito de compreender e propor ações mitigadoras aos problemas urbanos. ambientais: Sendo assim, Guerra (2011), relaciona o processo de urbanização com os problemas Como se vê, o processo de urbanização e os problemas ambientais não ocorrem de forma homogênea nos espaços urbanos; geralmente atingem os espaços físicos ocupados pelas classes menos favorecidas, cuja distribuição espacial está associada quase sempre à desvalorização do espaço, como locais próximos a áreas de inundação dos rios, indústrias, usinas termonucleares, locais insalubres, encostas sujeitas a desmoronamento e erosão. Dessa forma, é necessário que profissionais e estudiosos, como, por exemplo, o geomorfólogo, possam compreender que as medidas mitigadoras devam ultrapassar uma escala de ação mais ampla, que possam abarcar de forma integrada a cidade e adjacências e até mesmo os espaços mais distantes (Guerra, 2011, p. 120). As vertentes são formas de relevo modeladas por processos internos e/ou externos, incluindo também a ação humana. Possui variadas formas como planar convexa, planar côncava, planar retilínea, convergente convexa, convergente côncava, convergente retilínea, divergente retilínea, divergente côncava e divergente convexa (VARLERIANO, 2008). Neste sentido as formas das vertentes influenciam o fluxo ou o acúmulo de água e representam características fundamentais para ocorrência de desastres naturais, como os fenômenos de enxurrada. Dessa forma, para obter bons resultados no uso de vertentes, é necessário que haja uma descrição cuidadosa das suas formas para que seja possível estudar as implicações desse uso tanto a curto, quanto a longo prazo (ANJOS et.al, 2011). Nesta perspectiva, Tominaga conceitua o fenômeno de enxurrada a seguir: A enxurrada é definida como o escoamento superficial concentrado e com alta energia de transporte, que pode ou não estar associado a áreas de domínio dos processos fluviais. É comum a ocorrência de enxurradas ao longo de vias implantadas sobre antigos cursos d água com alto gradiente hidráulico e em terrenos com alta declividade natural TOMINAGA et.al 2009, p.42). 58

59 A magnitude das enxurradas ocorre devido à intensidade e distribuição das chuvas, tendo uma relação direta com a capacidade de infiltração do solo e a declividade do terreno, possuindo uma inter-relação com as características morfométricas e morfológicas de uma bacia hidrográfica. No meio natural, as vertentes apresentam um escoamento superficial das águas das chuvas lento, quando comparado com as vertentes em áreas urbanas, haja vista que o solo se apresenta impermeável, intensificado por alterações antrópicas. De acordo com Marcelino (2008), a inclinação do terreno, ao favorecer o escoamento, contribui para intensificar a torrente e causar danos. Esse fenômeno costuma surpreender por sua violência e menor previsibilidade, exigindo uma monitorizarão complexa. O mesmo autor ainda destaca que as encostas reflorestadas protegem o solo, aumentam a infiltração das águas e a alimentação dos lençóis freáticos, reduzindo as enxurradas. Neste sentido, as enxurradas são fenômenos que ocorrem de forma natural podendo ser agravados devido à interferência antrópica nos sistemas naturais. Quando esses processos atingem as populações geram danos, sejam eles diretos ou indiretos, podendo ser classificados como desastres. METODOLOGIA Para alcançar os objetivos da pesquisa, foi necessário realizar pesquisas bibliográficas referentes ao estudo das vertentes e aos fenômenos de enxurradas, além de pesquisas cartográfica sobre a área de estudo; análise de imagens de satélite a partir do software Google Earth, objetivando o reconhecimento de possíveis áreas de ocorrência a enxurradas. Foram visitadas diversas áreas durante o período chuvoso do ano de 2016 (primeiro semestre), num total de 6 (seis) trabalhos de campo e foram realizadas 18 (dezoito) entrevistas para identificação e comprovação das áreas de ocorrência dos eventos, sendo estas analisadas, descritas e registradas a partir de material fotográfico, com a utilização de câmera digital, e obtenção das coordenadas geográficas a partir de GPS. Foram elaboradas entrevistas semi-estruturadas, alicerçando-se em Marconi e Lakatos (2003) e Sá (2007), com adaptações relacionadas a área de estudo e aplicado aos moradores das áreas atingidas. Elaborou-se o mapa de Curvatura, baseado no processo de classificação de vertentes proposto por Valeriano et al. (2008), a partir do banco de dados cartográfico de Silva (2013), utilizando o software Arcgis for Desktop Advanced, versão 10.2, licença EFL Tais etapas objetivaram a compreensão do fenômeno no espaço geográfico. RESULTADOS E DISCUSSÃO 59

60 A área de estudo da pesquisa corresponde ao alto curso da bacia hidrográfica do Anil, possuindo uma área de 5,25 km², abrangendo os bairros de João de Deus, Vila Lobão, Pirapora, Canaã, entre outros, pertencentes ao município de São Luís. Esta bacia está situada entre as coordenadas de latitude sul e de longitude oeste. A análise de vertente justifica-se por entendê-la como elemento dominante do relevo e categoria central na sua dinâmica processual (CASSETI, 1995). O autor destaca ainda que nas vertentes se materializam as relações de apropriação da natureza pelo homem. Na pesquisa em questão foram mapeados 6 (seis) tipos de formas de vertentes a partir da classificação de Valeriano (2008), sendo elas: Planar Convexa, Planar Côncava, Convergente Convexa, Divergente Retilínea, Divergente Côncava e Divergente Convexa (Figura 1). Figura 1 - Curvatura vertical e horizontal do alto curso da bacia hidrográfica do Anil Fonte: Barros, 2016 As vertentes possuem formas que indicam a direção do fluxo das águas superficiais. Na área de estudo, as vertentes do tipo côncavas somam o total de 0,95% do valor da área de estudo e é comum neste tipo de vertente a ocorrência de processos erosivos e a tendência à concentração do escoamento superficial, potencializando o transporte de detritos. Observou-se na rua do Sol no bairro da Vila lobão, a ocorrência do fenômeno de enxurrada, já que a rua possui 30% de inclinação favorecendo o surgimento do fenômeno, associando ao escoamento superficial que ocorre nos períodos chuvosos, resultando no transporte de sedimentos que se configuram devido à retirada da cobertura vegetal (Figura 4a e 4b). 60

61 Figura 2a - Vertente tipo côncava, ponto de enxurrada, rua do Sol na Vila Lobão. Figura 2b Processo erosivo, na parte superior da vertente A B Fonte: Pesquisa direta,2016. Conforme a tabela 1, cerca de 97,5% da área da bacia é abrangida por vertentes do tipo convexa, apresentando como principal característica, a dispersão das água. Caso fosse côncava, provavelmente o fenômeno de enxurrada seria ainda mais agressivo. Vale destacar, que as vertentes encontradas em áreas urbanas, devido ao processo de urbanização tem sua forma original alterada, por obras de engenharia, possuindo relação direta no fluxo do escoamento superficial. CONCLUSÃO Tabela1 - Formas das vertentes do alto curso da bacia hidrográfica do Anil Formas de vertentes Valor Absoluto (Km²) Valor Relativo % Convergente convexa 0,13 2,50 Planar côncava 0,01 0,20 Planar convexa 0,13 2,49 Divergente côncava 0,04 0,76 Divergente retilínea 0,08 1,53 Divergente convexa 0,83 92,52 Total 100 Fonte: Pesquisa direta, Durante os trabalhos de campo realizados no alto curso da bacia hidrográfica do Anil, foi possível analisar as formas de vertentes presente na área objeto de estudo associando a ocorrência dos fenômenos de enxurrada. Notou-se que diversas residências foram postas à venda, devido às condições em que as ruas se encontram, quando tem inicio os períodos de chuvas intensas. Em conversa com moradores locais, observou-se a falta de poio por parte do poder público já que, uma obra de drenagem facilitaria o escoamento da água, no entanto, segundo os próprios moradores é raro observar obras desse tipo no bairro. No alto curso foram mapeados 8 (oito) locais com incidência de enxurradas. A vertente do tipo divergente convexa é predominante na área estudada, apresentando uma porcentagem no valor de 92,52 % do valor total do alto curso. Com base nas entrevistas 61

62 aplicadas identificou-se o número de 50 (cinquenta) famílias afetadas. De acordo com a pesquisa, é possível afirmar que esse número tende a ser maior, o qual é resultado da combinação de problemas sociais e ambientais. REFERÊNCIAS ANJOS, D. S. JUNIOR M. M. Nunes J. O. R. Classificação da curvatura de vertentes em perfil via Modelo numérico de Terreno.Anais XV Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto - SBSR, Curitiba, PR, Brasil, 30 de abril a 05 de maio de 2011, INPE p CASSETI, V. Ambiente e apropriação do relevo. 2. ed. São Paulo: Contexto, GUERRA, Antonio J.T. Encostas Urbanas. In: Geomorfologia Urbana. Rio de Janeiro. Bertrand Brasil, ISDR. Sobre Reduccióndelriesgo de desastres. InternationalStrategy for DisasterReduction. Suiza: Naciones Unidas, Disponível em: Acesso em: 25 de Janeiro de MARCELINO, E. V. Desastres naturais e geotecnologias: conceitos básicos. Santa Maria: CRS/INPE, TOMINAGA, L. K. SANTORO J. AMARAL R. Desastres naturais Conhecer para prevenir. instituto Geológico Secretaria do Meio Ambiente Governo do Estado de São Paulo. 1ª edição São Paulo

63 A PROBLEMÁTICA DAS ÁREAS SUCETÍVEIS A ENCHENTES E INUNDAÇÕES NO MÉDIO CURSO DO RIO ANIL, MUNICÍPIO DE SÃO LUÍS MARANHÃO Estevania Cruz Teixeira Universidade Estadual do Maranhão Discente do Curso de Geografia estevaniacruz@gmail.com Quésia Duarte da Silva Universidade Estadual do Maranhão Docente do Curso de Geografia quesiaduartesilva@hotmail.com Ismaylli Rafael Costa Universidade Estadual do Maranhão Discente do Curso de Geografia ismayllirafael@hotmail.com Eixo temático: Geomorfologia Urbana Resumo: A pesquisa foi desenvolvida no médio curso da bacia hidrográfica do Anil, localizada na porção centro-norte do município de São Luís, que por sua vez situa-se na porção oeste da Ilha do Maranhão. O objetivo principal desta pesquisa consistiu em analisar a situação das áreas suscetíveis à enchentes e inundações no médio curso da bacia hidrográfica do Anil.Objetivou-se ainda, gerar um banco de dados georreferenciado referente a área de estudo, mapear as áreas atingidas pelos fenômenos de enchentes e inundações e identificar a população atingida. Neste sentido, foi realizada uma revisão teórica sobre os conceitos de enchentes e inundações; processo de urbanização da área; contexto geográfico do médio curso da bacia hidrográfica do Anil; e características geoambientais da área de estudo visto que esta temática é de suma importância para subsidiar políticas públicas voltadas para minimizar os problemas ocorrentes nas áreas de riscos, contemplar áreas afetadas, e gerar melhoria na qualidade de vida. Palavras chave: Enchente. Inundações. Rio Anil. Abstract: The research was developed in the middle course of the river basin of Indigo, located in the north-central portion of the city of St. Louis, which in your time is located in the West of the island of Maranhão. The main objective of this research was to analyze the situation of the areas susceptible to flooding and flooding in the middle course of the river basin of Indigo. The objective yet, generate a geo-referenced database for the study area, map the areas affected by the flood and flood phenomena and identify the population concerned. In this sense, a theoretical review on the concepts of floods and floods; urbanization of the area; geographical context of the middle course of 63

64 the river basin of Indigo; and geo-environmental characteristics of the study area since this issue is of utmost importance to support public policies aimed at minimizing the problems occurring in the areas of risk, contemplate affected areas, and generate improvement in quality of life. Key words: Flood. Floods. Rio Anil. INTRODUÇÃO As inundações urbanas são um desafio sério, principalmente nas planícies de inundações, que são áreas em crescente ocupação urbana. Estas são um fenômeno global que provocam devastação generalizada, prejuízos econômicos e perda de vidas humanas Jha (2011). Várias cidades tiveram seu desenvolvimento às margens de rios, e seu crescimento irregular, principalmente em áreas de planície de inundação, contribuiu para que os eventos citados aumentassem a vulnerabilidade da população e consequentemente os riscos e danos. Tais problemas continuam ocorrendo na atualidade. Diante deste cenário de crescimento demográfico, tendências de urbanização, e mudanças climáticas, as causas das inundações estão mudando e os seus impactos estão se acelerando. A ocorrência de problemas urbanos está relacionada, dentre vários fatores, a perda da qualidade de vida ou diminuição das populações que residem nas áreas urbanas e às modificações dos sistemas ambientais, podendo ocorrer desastres. Os fenômenos de enchentes e inundações tem como causa a impermeabilização do solo as redes de drenagem, tendo como consequência os maiores picos de cheia e vazões a jusante; ocupação de várzeas tendo como maiores prejuízos ao patrimônio por enchentes e picos de cheias ocasionando desastres; Os desastres podem acontecer naturalmente ou induzidos pelo homem, como os fenômenos de enchentes, inundações, alagamentos e enxurradas. Diversos pesquisadores têm se debruçado neste tema como Minayo (2000), Ramos (2005) Santos (2007) e Carvalho et al (2007) e TOMINAGA, et al, (2011). O objetivo principal desta pesquisa consistiu em analisar a situação das áreas suscetíveis à enchentes e inundações no médio curso da bacia hidrográfica do Anil, o mesmo apresenta uma área de intensa ocupação com grandes modificações do curso natural dos canais, trazendo prejuízo para a própria população, que é acometida com eventuais enchentes e inundações. Portanto as enchentes são caracterizadas pela elevação do nível d água no canal devido ao aumento da vazão, atingindo cota máxima sem extravasar, quanto à inundação esta abrange o transbordamento d água do curso fluvial e atinge a planície de inundação ou área de várzea (TOMINAGA, et al, 2011). Cabe ressaltar que o presente resumo faz parte de um projeto maior que objetiva analisar a situação das áreas com enchentes e inundações no médio curso da bacia hidrográfica do Anil. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA Para quantificar a pesquisa utilizou-se do método empírico (Conforme Fernandes et al.(2001) e Savage et al., (2004), apud Tominaga (2009), sendo esta descritiva quanto aos objetivos, e quantitativa quanto à relação sujeito/pesquisador/sujeito, sendo alicerçada em Minayo (2000). A 64

65 partir do objetivo geral e dos específicos adotados para este trabalho, foram realizadas diversas etapas para o desenvolvimento da pesquisa, as quais: levantamento bibliográfico e cartográfico, organização do ambiente de trabalho, realização dos trabalhos de campo, entrevistas e elaboração de mapas. O conceito de enchentes e inundações é amplo e abordado de diferentes maneiras por um grande número de pesquisadores. Após a abordagem bibliográfica sobre os conceitos de enchentes e inundações podemos apresentar segundo os autores os devidos termos. Ramos (2005) define que todas as cheias provocam inundações, mas nem todas as inundações são devido às cheias. As cheias são fenômenos hidrológicos extremos devidos à dinâmica fluvial, isto é, existe uma cheia sempre que o rio transborda em relação ao seu leito ordinário. O transbordo origina, por sua vez, a inundação dos terrenos ribeirinhos. Santos (2007) e Carvalho et al. (2007), definem a enchente como um processo natural que ocorre nos cursos de água. Consiste na elevação temporária do nível d água em um canal de drenagem (rio, córrego, riacho, arroio, ribeirão), devido ao aumento da vazão ou descarga. Para Oliveira (2010), inundação está associada ao extravasamento das águas do leito menor de um corpo hídrico para a planície de inundação, e leito maior, em virtude do excesso de água não drenada pela falta de capacidade fluvial. Santos (2007) e Carvalho et al. (2007), definem a enchente como um processo natural que ocorre nos cursos de água. Consiste na elevação temporária do nível d água em um canal de drenagem (rio, córrego, riacho, arroio, ribeirão), devido ao aumento da vazão ou descarga. RESULTADOS E DISCUSSÃO Como resultado observou-se que no município de São Luís, a bacia do rio Anil destaca-se como a de maior ocupação. Esta apresenta no curso médio e baixo, um leito margeado por vegetação de mangues e por um grande número de palafitas. Toda área é marcada por impermeabilização do solo em virtude do uso e ocupação urbana nos bairros Alemanha, Angelim, Anil, Aurora, Barreto, Bequimão, Cruzeiro do Anil, Ipase, Ivar Saldanha, Jordoa, Matança, Rio Anil, Santa Cruz e Vila Palmeira, sendo estas áreas visitadas durante os trabalhos de campo. O médio curso da bacia hidrográfica do Anil apresenta características consolidadas com ocupação irregular predominante, principalmente próximo às margens do rio Anil. (Figura 1) Observou-se também que a dinâmica dos cursos fluviais foi alterada em virtude da pressão e da ocupação urbana, em que parcelas significativas da população ocupam as áreas que deveriam ser protegidas ilegalmente nas planícies de inundação, acarretando problemas ambientais relacionados às enchentes e inundações. Até o presente momento defende-se que muitas pessoas da área de estudo são afetadas pelos eventos em questão e têm-se danos patrimoniais, correspondentes à perda de móveis domésticos devido à elevação da água no interior das residências no período chuvoso, e imateriais, como os de ordem psicológica. 65

66 Durante a pesquisa e através das entrevistas realizadas, pode-se identificar um número significativo de afetados. A área 5 apresenta o maior número de afetados, principalmente no bairro Ivar Saldanha, Jordoa e Barreto como mostra a figura 2. Em segundo a área 3 com os bairro Anil, Matança. A vegetação possui característica secundária. Há grande deposição de resíduos sólidos nos canais, que contribuem para intensificar os fenômenos de enchente e inundação nos períodos chuvosos. Durante os trabalhos de campo foram identificados 18 (dezoito) pontos em que famílias são atingidas por enchentes e inundações nos últimos anos. Cerca de 580 famílias são atingidas durante as cheias; foi possível identificar 6 áreas em que famílias são acometidas por enchentes e inundações ultimamente, nos bairros Alemanha, Anil, Barreto, Ipase, Ivar Saldanha, Jordoa, Matança, Rio Anil, Santa Cruz e Vila Palmeira como demonstra nas figuras 2 e 3. Alguns moradores relataram durante entrevistas que estão cientes dos riscos, mas alegam não terem alternativa de outro lugar para moradia e aguardam medidas a serem tomadas pelo poder público. Algumas residências no bairro Matança possuem calçadas altas e algumas casas foram abandonadas devido às cheias. No bairro Ivar Saldanha e Barreto, a situação é bem crítica; existe um projeto não concluído de retificação do canal, que vem acarretando sérios problemas para os moradores da área com inundações. Segundo alguns moradores entrevistados no bairro aproximadamente 300 famílias são atingidas todos os anos pelas enchentes e inundações, sendo esta problemática conhecida pelas autoridades, no bairro que tem mais de 20 anos. Os próprios moradores realizam intervenções para tentar minimizar os danos com o aumento das cheias (Figura 1). Figura 1: Ponto de enchentes e inundações no bairro Barreto. A - B:Rua bom Jesus antes da chuva; C D:Durante a inundação no dia 11 de setembro de Fonte: Própria pesquisa,

67 Figura 2: Mapa dos pontos de enchentes e inundações no médio curso da bacia hidrográfica do Anil Fonte: Própria pesquisa, Figura 3: Mapa das áreas de enchentes e inundações no médio curso da bacia hidrográfica do Anil Fonte: Própria pesquisa,

68 O canal encontra-se totalmente descaracterizado com uma grande quantidade de resíduos sólidos. Na comunidade do bairro Rio Anil que existe aproximadamente a cerca de 12 anos, 180 famílias vivem em péssimas condições de moradia nas áreas marginais do rio e há frequentes inundações nos períodos chuvosos. As mais fortes inundações ocorreram no ano de 2007 em que todas as residências foram atingidas. Com base nos trabalhos de campo realizados foi possível identificar e elabora os mapas com os pontos de enchentes e inundações e mapear as áreas atingidas. CONCLUSÃO Nesta pesquisa foram identificados pontos com possibilidade de apresentarem fenômenos de inundações e todos eles foram confirmados e estudados. A partir da literatura especializada e de trabalhos de campo, tem-se observado nos ultimamente que os bairros Alemanha, Anil, Barreto, Ipase, Ivar Saldanha, Jordoa, Matança, Rio Anil, Santa Cruz e Vila Palmeira apresentam forte impermeabilização do solo em virtude do uso e cobertura. Acredita-se que a pesquisa contribuirá para o planejamento integrado da área em questão, tendo um banco de dados georreferenciados e mapeamento das áreas de risco de inundações no médio curso da bacia hidrográfica do Anil, para a prevenção de desastres e para a melhoria da qualidade de vida da população. E assim atingir o objetivo maior de pontuar as causas e os impactos na área de estudo, visto que esta temática é de suma importância para subsidiar políticas públicas voltadas para minimizar os problemas ocorrentes nas áreas de riscos, contemplar áreas afetadas, e gerar melhoria na qualidade de vida. AGRADECIMENTOS À Universidade Estadual do Maranhão (UEMA). Ao grupo de pesquisa Geomorfologia e Mapeamento (GEOMAP). À população moradora das margens do rio Anil, pela colaboração durante as pesquisas. REFERÊNCIAS CARVALHO, C. S.; MACEDO, E. S.; OGURA, A. T. (Org.). Mapeamento de Risco sem Encostas e Margem de Rios. Brasil: IPT, JHA. A. K, BLOCH, R, LAMOND J, Cidades e Inundações: um guia para a gestão integrada do risco de inundação urbana para o século XXI. um resumo para os formuladores de políticas. Ed. Joaquin Toro e Frederico Ferreira Pedroso, Banco Mundial / Escritório de Brasília, Disponível em: < Acesso em

69 MACEDO, L. A. A. de. Qualidade Ambiental dos rios da Ilha de São Luís; UFMA, MINAYO, M. C. S. Pesquisa social: teoria método e criatividade. 16 ed. Petrópolis: Vozes, RAMOS. C. Programa de Hidrogeografia. Unidade de Investigação: Centro de Estudos Geográficos da Universidade de Lisboa, SANTOS, M. A natureza do espaço. Técnica e tempo. Razão e emoção. 4. ed. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo,

70 ANÁLISE MORFOMÉTRICA DO RIACHO DO ANGELIM, SÃO LUÍS MA Ricardo Gonçalves Santana Universidade Estadual do Maranhão Graduando em Geografia Bacharelado/ Departamento de História e Geografia ricardogsantana19@hotmail.com Quésia Duarte Silva Universidade Estadual do Maranhão Professora Doutora do Departamento de História e Geografia quesiaduartesilva@hotmail.com Eixo temático: Geomorfologia Urbana Cristiane Mouzinho Costa Universidade Estadual do Maranhão Mestranda em Geografia - PPGEO UEMA cristianemouzinho@hotmail.com Resumo: A análise morfométrica de bacias hidrográficas auxilia na compreensão dos fenômenos ocorrentes nas mesmas a partir de suas características físicas. Partindo deste pressuposto, este trabalho buscou analisar os aspectos morfométricos do Riacho do Angelim, aplicado a identificação da sujeição desta aos fenômenos de enchentes e inundações. Para isso foram definidos quatro parâmetros morfométricos: densidade de drenagem (Dd), índice de sinuosidade (Is), índice de circularidade (Ic) e fator de forma (Kf). Os parâmetros foram analisados de forma conjunta, permitindo a identificação de 3 sub-bacias, propensas aos fenômenos supracitados. Como resultado têm-se a sub-bacia 1 e 3 apresentando forma alongada segundo o Ic e Kf tornando-as pouco suscetíveis a ocorrência de enchentes e inundações. A sub-bacia 2 apresenta forma alongada para o Ic e forma intermediária para o Kf, muito alta Dd e canais retos. Conclui-se que os parâmetros morfométricos tem média influência nos eventos aqui estudados. Palavras-chave: Parâmetros Morfométricos, Enchentes e Inundações, Riacho do Angelim. Abstract: The morphometric analysis of watersheds assists in the understanding of the phenomena that occur in them from their physical characteristics. Based on this assumption, this work sought to analyze the morphometric aspects of the Angelim Creek, applied to the identification of its subjection to the phenomena of floods and floods. For this, four morphometric parameters were defined: drainage density (Dd), sinuosity index (Is), circularity index (Ic) and form factor (Kf). The parameters were analyzed jointly, allowing the identification of three sub-basins, prone to the aforementioned phenomena. As a result, the sub-basin 1 and 3 have an elongated shape according to Ic and Kf, making them not very susceptible to the occurrence of floods and floods. Sub-basin 2 presents an elongated form for Ic and intermediate form for Kf, very high Dd and straight channels. 70

71 It is concluded that the morphometric parameters have a medium influence on the events studied here. Key words: Morphometric Parameters, Floods and Flooding, Stream of Angelim. INTRODUÇÃO A análise morfométrica de bacias hidrográficas é a análise quantitativa da configuração dos elementos do modelado superficial que geram sua expressão e configuração espacial: o conjunto das vertentes e canais que compõem o relevo, sendo os valores medidos correspondentes aos atributos desses elementos (CHRISTOFOLETTI, 1969). As características físicas e bióticas de uma bacia hidrográfica desempenham papel de fundamental importância nos processos do ciclo hidrológico, exercendo influência na infiltração, no deflúvio, na evapotranspiração e nos escoamentos superficial e subsuperficial. Com a caracterização morfométrica objetiva-se obter índices quantitativos, os quais auxiliam os estudos hidrológicos de uma bacia hidrográfica. Conforme VILLELA e MATTOS (1975) uma bacia com fator de forma baixo é menos sujeita a sofrer os fenômenos de enchente e inundação do que outra do mesmo tamanho com fator de forma alto. Esses parâmetros quantitativos auxiliam na identificação e esclarecimento de várias questões, como por exemplo, áreas sujeitas aos fenômenos supracitados. As enchentes são definidas pela elevação do nível d água no canal de drenagem devido ao aumento da vazão, atingindo a cota máxima do canal, porém, sem extravasar, já a inundação representa o transbordamento das águas de um curso d água, atingindo a planície de inundação ou área de várzea (TOMINAGA, 2003). Os parâmetros morfométricos encontrados estão apresentados no Quadro I com as cores verde, amarela e vermelha, conforme a sujeição aos fenômenos supracitados. Quanto aos índices a serem analisados, Christofoletti (1980) afirma que a densidade de drenagem (Dd) foi definida inicialmente por Horton (1945) e é expressa pela relação entre o comprimento total dos cursos d água de uma bacia e sua área total. Em relação a este parâmetro, quanto maior ele for, menor é a capacidade de infiltrar água; valores baixos indicam que a região é mais favorável à infiltração, contribuindo com o lençol freático. O índice de sinuosidade (Is) trata da relação entre o comprimento verdadeiro do canal com a distância vetorial (comprimento em linha reta) entre os dois pontos extremos do canal principal (SCHUM, 1963 apud LANA et al, 2001). Segundo Dury (1969), citado por Christofoletti (1980) os canais que possuem Is igual ou superior a 1,5 (adimensional) são considerados meandrantes e os canais com Is menor que 1,5 são classificados como retos. A sinuosidade é uma característica que controla a velocidade dos rios, logo, quanto mais retilíneo for o canal, maior é a probabilidade para a ocorrência de enchentes e inundações, uma vez que nestes canais ocorrerá maior velocidade do escoamento das águas. O índice de circularidade (Ic) 71

72 foi proposto inicialmente por Muller (1953) e Schumm (1956), citados por Antoneli e Thomaz (2007). Segundo a literatura especializada, quanto mais próximo o resultado for de 1, mais circular será a bacia de drenagem e consequentemente, a bacia será mais suscetível às enchentes. Para Guerra (2011) a bacia hidrográfica é um conjunto de terras drenadas por um rio principal e seus afluentes. Ela apresenta elementos que são fundamentais para entender seu comportamento hidrológico, como: a área de drenagem, a forma, o sistema de drenagem e as características do relevo. Os conceitos de bacia e sub-bacias se relacionam a ordens hierárquicas dentro de uma determinada malha hídrica (FERNANDES; SILVA, 1994). Cada bacia hidrográfica se interliga com outra de ordem hierárquica superior, constituindo, em relação à última, uma sub-bacia. Portanto, os termos bacia e sub-bacias hidrográficas são relativos. Partindo deste pressuposto optou-se neste trabalho utilizar o termo sub-bacia para a compartimentação morfométrica do Riacho do Angelim. Devido a visitas técnicas a área de estudo e matérias veiculadas nos noticiários locais, sabe-se que no Riacho do Angelim ocorrem anualmente os eventos de enchentes e inundações e que os mesmos têm acarretado diversos problemas para a população local. Entende-se até o momento que o uso inadequado do solo tem sido o fator deflagrador desses eventos, porém precisa-se entender se o referido riacho apresenta atributos físicos favoráveis à ocorrência desses fenômenos. Neste sentido esta análise irá caracterizar morfometricamente o Riacho do Angelim afim de entender a relação existente entre as características morfométricas e os fenômenos de enchentes e inundações ocorrentes na área. MATERIAIS E MÉTODOS Adotou-se os procedimentos técnicos-operacionais da pesquisa quantitativa alicerçado em MINAYO (2000) e para o alcance dos objetivos foram executados os seguintes procedimentos: levantamento cartográfico e bibliográfico, organização do ambiente de trabalho, análise estatística e levantamento de parâmetros morfométricos. O Riacho do Angelim foi compartimentado em 3 subbacias, com o fim de diagnosticar as áreas sujeitas aos eventos de enchentes e inundação. Neste trabalho utilizou-se o programa ArcGis da ESRI versão 10.2 licença EFL , e toda base cartográfica foi organizada através do sistema de coordenadas geográficas, utilizando-se o Datum Sirgas Foram utilizadas cartas topográficas da DSG/ME-MINTER, folhas 14, 15, 23 e 24 referentes a área de estudo, na escala de 1:10.000, datadas de O levantamento cartográfico, por sua vez, será realizado a partir da aquisição dos dados da bacia hidrográfica do Rio Anil a partir de relatórios de pesquisa do grupo GEOMAP. De posse dessas informações serão elaborados os shapes referentes à área de estudo. No programa ArcGis delimitou-se as três sub-bacias, conforme a orientação dada pelos autores estudados, sendo que as mesmas foram delimitadas a partir das curvas de nível com equidistância de 5 em 5 metros, 72

73 observando os divisores de água/pontos cotados e levando em consideração os canais principais de cada sub-bacia. Os parâmetros morfométricos considerados neste estudo em questão foram: área (A), perímetro (P), densidade de drenagem (Dd), índice de sinuosidade (Is), índice de circularidade (Ic) e fator de forma (Kf). Todos os parâmetros supracitados são fundamentais para a análise de áreas sujeitas aos fenômenos de enchente e inundação, e quando são analisados conjuntamente pode-se inferir as áreas com os problemas anteriormente citados. A área objeto de estudo é o Riacho do Angelim, situado no médio curso da bacia hidrográfica do rio Anil em São Luís-MA, na Ilha do Maranhão. Devido a esse processo de intensa ocupação/urbanização, o Riacho do Angelim vem ocorrendo forte pressão populacional, tendo suas margens ocupadas de forma desordenada. Parte do canal foi retificado para construção da Av. Jeronimo de Albuquerque sobre o mesmo, e com a implantação de um condomínio a jusante do canal tem piorado a situação de moradores que residem por de trás deste, aumentando o volume de sedimentos com as obras de terraplanagem, assoreamento do canal resultando na retificação do mesmo. Neste trabalho, baseado em Silva (2012), utilizou-se as seguintes classes quanto a este parâmetro: 0,36 a 0,50- alongada, 0,51 a 0, 75- intermediária e de 0,76 a 1,00- circular. O fator de forma (Kf) é expresso pela relação entre a área total da bacia e seu comprimento ao quadrado. Silva (2012) propõe para a Ilha do Maranhão as seguintes classes: de 0,02 a 0,50 alongada; de 0,51 a 0,75 intermediária; e 0,76 a 1,00 - forma circular. Adotou-se a proposta de Silva (2012), que elaborou uma classificação regional para a Ilha do Maranhão, levando em consideração todas as bacias hidrográficas desta. Silva (2012) realizou análise estatística dos dados de Dd para a área, e as classes identificadas foram: de 0,59 a 0,98- muito baixa; de 0,99 a 1,36 baixa; de 1,37 a 1,75 média; de 1,76 a 2,14 alta; e de 2,15 a 2,53 - muito alta densidade de drenagem. Considera-se que quanto maior a densidade de drenagem, mais rapidamente a água do escoamento superficial originado pela chuva chegará à saída da bacia gerando altos picos de vazão o que favorece os fenômenos de enchente e inundação. RESULTADOS E DISCUSSÃO A sub-bacia 1 e 3 apresenta o índice de circularidade e o fator de forma alongadas tornando-as pouco sucetíveis a ocorrência de enchentes e inundações, pois as bacias com formas circulares são naturalmente tendenciosas a ocorrência desses eventos. Apresentam muito alta densidade de drenagem, que proporciona a ocorrência dos eventos devido a saturação do terreno. Uma área bem drenada tem uma saturação do terreno com maior rapidez do que uma área com características opostas. Além disso, as referidas sub-bacias tem canais retos o que acelera o escoamento superficial que associado ao parâmetro anterior corrobora para a ocorrência dos eventos estudados. Em 73

74 condições semelhantes a sub-bacia 2 apresenta forma alongada para o índice de circularidade e forma intermediária para o fator de forma, muito alta densidade de drenagem e canais retos. O que muda nessa sub-bacia é que o fator de forma torna-se um agravante associado a densidade de drenagem e a retilinealidade dos canais, pois se o Kf é intermediário, a sub-bacia tem relativas propensões para a ocorrência dos fenômenos aqui discutidos. A partir dos dados levantados e da análise morfométrica pode-se inferior que a sub-bacia 2 é mais sujeta as fenômenos estudados (Figura I). Quadro I Parâmetros morfométricos e resultados obtidos na análise das unidades hidrológicas do Riacho do Angelim Fonte: Própria pesquisa, Figura I Mapa de Sub-bacias mais sujeitas a enchentes e inundações Fonte: Própria pesquisa,

75 CONCLUSÃO Analisando todos os parâmetros conjuntamente entende-se que a sub-bacia 2 apresenta maior sujeição aos fenômenos estudados, por ser uma sub-bacia de forma intermediária com área bem drenada e canais retos, com tendência a um solo mais encharcado e características que facilitam o escoamento superficial com maior velocidade. Porém pode-se inferir que as sub-bacias 1 e 3 possuem uma variação de média sujeição, pois ambas apresentam canais retos, facilitando o escoamento superficial, são áreas muito drenadas, o que por sua vez também facilita a ocorrência de inundações devido ao encharcamento do solo. Para COSTA (2015) os canais retos tendem a apresentar problemas de enchentes e inundações, enquanto que os canais meandrantes não apresentam tal tendência. Apesar de apresentarem formas alongadas (o que não propicia a ocorrência dos fenômenos) infere-se que a ocupação desordenada tem sido um forte colaborador na deflagração desses fenômenos na área de estudo. Entende-se também que os atributos físicos de forma geral do Riacho do Angelim o tornam suscetível aos eventos de enchente e inundação, porém o uso inadequado do solo tem contribuição mais significativa na ocorrência dos mesmos, pois os seres humanos ocupam áreas de várzeas, o leito maior excepcional, e as planícies de inundação, tornando esta ara ocupada de forma irregular sujeita aos fenômenos estudados. As informações derivadas dos parâmetros morfométricos ou associadas a estes são de grande valia à gestão ambiental na medida em que fornecem referenciais básicos para o conhecimento dos sistemas em questão e dão subsídio para um melhor direcionamento das ações de planejamento, servindo como ponto de partida para a definição e elaboração de Indicadores Ambientais. REFERÊNCIAS ANTONELI. V.; THOMAZ. E. L. Caracterização do meio físico da bacia do arroio Boa Vista Guamiranga-PR. Caminhos de Geografia. Uberlândia v. 8, n. 21 Jun/2007 p Disponível em: < Acesso em: 01 nov CHRISTOFOLETTI, A. Análise morfométrica de bacias hidrográficas. Rev. Geomorfol, Campinas, v.18, n.9, p.35-64, CHRISTOFOLETTI, A. Geomorfologia. São Paulo: Edgard Blucher, COSTA, C. M. Inundações urbanas: estudo de caso do alto curso da bacia hidrográfica do rio Paciência - Ilha do Maranhão /Cristiane Mouzinho Costa. São Luís, Monografia (Graduação) Curso de Geografia, Universidade Estadual do Maranhão, FERNANDES, M.R. e SILVA, J. C. Programa Estadual de Manejo de Sub-Bacias Hidrográficas: Fundamentos e estratégias - Belo Horizonte: EMATERMG. 24p

76 GUERRA, A. J. T. (Org.) Geomorfologia Urbana. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil. p , LANA, C. E.; ALVES, J. M. de P.; CASTRO, P. T. A. Análise morfométrica da bacia do Rio do Tanque, MG - BRASIL. REM: Revista Escola de Minas, Ouro Preto, v. 54, n. 2, p , MINAYO, M. C. S. Pesquisa social: teoria método e criatividade. 16 ed. Petrópolis: Vozes, SILVA, Q. D. Mapeamento geomorfológico da Ilha do Maranhão/ Tese de Doutorado. Presidente Prudente- Universidade Estadual de São Paulo, TOMINAGA, L. K. Desastres naturais: por que ocorrem? In: TOMINAGA, L. K.; SANTORO, J.; AMARAL, R. (Org.) Desastres naturais: conhecer para prevenir. São Paulo: Instituto Geológico, 2009 p VILLELA, S. M.; MATTOS, A. Hidrologia aplicada. São Paulo, McGraw-Hill do Brasil,

77 IMPACTOS SOCIOAMBIENTAIS NO RIACHO GAVIÃO NA CIDADE DE TERESINA/PIAUÍ Ravena Thais de Sousa Universidade Estadual do Piauí UESPI Estudante do curso de Licenciatura Plena em Geografia Eixo temático: Geomorfologia Urbana Hikaro Kayo de Brito Nunes Mestre em Geografia UFPI Professor Substituto da UEMA Maria Suzete Sousa Feitosa Doutora em Geografia UFPE Professora Adjunta da UESPI Resumo: Nos ambientes urbanos há consideráveis exemplos de impactos ambientais negativos e até mesmo irreversíveis, relacionados à cobertura vegetal, aos corpos hídricos, havendo, portanto, a necessidade de se investigar os danos causados pelo homem. O presente estudo teve como objetivo analisar os impactos socioambientais ao longo do Riacho Gavião na zona Leste da cidade de Teresina/Piauí. O estudo contou com: levantamento bibliográfico, cartográfico e técnico, verificações in loco, utilização de check-list, registro fotográfico, setorização da área de estudo em oito pontos de caracterização e uso do Google Earth Pro. Como resultados, foram encontrados os seguintes impactos: assoreamento, tamponamento, barramentos, despejo de resíduos sólidos e esgoto in natura, ocupação das margens, dentre outros. Assim, o referido canal sofre grandes pressões ao atravessar o tecido urbano, observando-se evidentes alterações em sua forma, estrutura e aparência. Palavras-chave: Impactos socioambientais, Riacho Gavião, Teresina/Piauí. Abstract: In urban environments, there are considerable examples of negative and even irreversible environmental impacts related to vegetation cover, water bodies, among others, and there is a need to investigate the damages caused by man. to analyze socio-environmental impacts along the Rio Gavião in the eastern zone of the city of Teresina / Piauí. The study included bibliographical, cartographic and technical surveys, in loco verifications, use of checklist, photographic record, sectorization of the study area in eight points of characterization and use of Google Earth Pro. As a result, the following impacts were found: silting, buffering, buses, dumping of solid waste and sewage in natura, occupation of the margins, among others. Thus, the said channel suffers great pressures when crossing the urban fabric, being observed evident changes in its form, structure and appearance. 77

78 Keywords: Socio-environmental impacts. Riacho Gavião. Teresina / Piauí. INTRODUÇÃO Com o passar dos anos o espaço urbano tem concentrado cada vez mais um grande contingente populacional, seja em escala mundial como na escala das cidades, sendo que no Brasil esse processo se acentuou a partir da metade do século XX. Tal adensamento associado ao crescimento populacional acelerado e desordenado tem provocado um conjunto de mudanças no meio, notadamente no urbano, e, nesse contexto, o uso da água pelo homem é apontado pelos estudiosos como aquele que se destaca pelas condições adversas e de degradação resultando em desequilíbrios ambientais. Ao longo da história, os rios e canais (riachos, córregos) que formam a respectiva drenagem, têm sido utilizados como vias de crescimento econômico e social, como resultados surgem aglomerados urbanos. Apesar de ressaltada a importância e a necessidade de avanços nas pesquisas em torno da utilização da água e do arranjo espacial por ela formado, verificam-se, ainda a carência de levantamentos quantitativos e qualitativos acerca das alterações naturais e aquelas advindas das intervenções pela sociedade e dos consequentes impactos socioambientais e, no caso particular do estudo apresentado, almeja-se contribuir em ampliar o conhecimento geográfico de Teresina no debate da temática ambiental. Na zona Leste de Teresina-PI, confere-se, nos últimos decênios uma expansão urbana intensa de modo a ampliar as áreas de ocupação e um aumento no aglomerado habitacional, indubitavelmente, reflexo na densidade populacional como está registrado nos Censos do IBGE nos números de crescimento da população urbana de Teresina. Nesse sentido, o estudo apresenta como objetivo analisar os impactos socioambientais ao longo do Riacho Gavião na zona Leste da cidade de Teresina/Piauí. Ressalta-se, além do mais, que o referido estudo é oriundo de uma pesquisa já concluída e aprovada pela Pró-reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação (PROP) da Universidade Estadual do Piauí (UESPI), entre 2015 e 2016, e intitulada A rede de drenagem da zona Leste de Teresina-PI: análise dos impactos socioambientais na subbacia do Riacho Gavião. IMPACTOS EM AMBIENTES URBANOS: BREVES CONSIDERAÇÕES No limiar do século em curso, entre outras crises, a da água é uma ameaça permanente à humanidade e à sobrevivência da biosfera como um todo. Tal questão impõe entraves ao desenvolvimento, aumenta a tendência de doenças de veiculação hídrica, produz estresses econômicos e sociais, além de aumentar as desigualdades entre as regiões e países. 78

79 Conforme Rodrigues (1998), a questão ambiental deve ser compreendida como um produto da intervenção da sociedade sobre a natureza, diz respeito não apenas a problemas relacionados à natureza, mas às problemáticas decorrentes da ação social. No que se refere ao meio ambiente urbano, a autora defende que seja o conjunto das edificações, com suas características construtivas, sua história e memória, seus espaços segregados, a infraestrutura e os equipamentos de consumo coletivos. Desse modo, as questões ambientais devem ser analisadas a partir da relação naturezasociedade, pois, os agentes sociais, políticos e econômicos usam os componentes ambientais de acordo com seus interesses. Em síntese, os problemas ambientais urbanos decorrem a partir do relacionamento entre os assentamentos humanos e seu suporte físico. Há, com base nisso a necessidade de se haver uma sustentabilidade ambiental, que segundo Rodriguez e Silva (2001), abrange três categorias: a geoecológica, a econômica e a sócio-cultural. Uma das principais consequências verificadas aponta para o crescimento populacional e que gera demandas sobre os recursos hídricos, consequentemente, resulta em alterações na dinâmica natural da rede de drenagem em função do uso e ocupação inapropriada do espaço citadino. A rede de drenagem, de acordo com Guerra e Cunha (2001), compõe-se de processos que definem os mecanismos erosivos deposicionais resultantes da interação de fatores naturais e humanos que definem o correspondente ambiente de drenagem. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS Como procedimentos metodológicos, utilizou-se uma sucessão de etapas, que, combinadas, recaiu no atendimento ao objetivo proposto. Foram realizados levantamentos de informações bibliográficas, cartográficas, banco de dados e de campo. Esta etapa consistiu em revisão bibliográfica e cartográfica para levantamento da literatura pertinente, das produções cartográficas, imagens existentes sobre a área. A atualização dessas informações consistiu, ainda, de visitas sistemáticas in loco com o intuito, de por meio do reconhecimento de campo, observar e identificar indicadores físicos e ambientais que fundamente aspectos do meio ambiente em foco. Somou-se à etapa de caracterização dos impactos socioambientais da área da rede de drenagem do riacho Gavião. O conhecimento da dinâmica socioambiental da área possibilitou averiguar as formas de uso e ocupação e os principais impactos associados. Além da confecção de uma planilha check-list (abordando parâmetros e atributos do meio físico-ambiental e das respostas socioeconômicas) que auxiliou na interpretação e direcionou a pesquisa com os pontos definidos por meio do programa Google Earth Pro. Os pontos foram (de montante a jusante): Ponto A (Lagoa do Parque Zoobotânico), Ponto B (Av. Presidente Kennedy), Ponto C (Bairro Morros, próximo a um condomínio residencial), Ponto D (Bairro Morros, próximo a um cemitério desativado), Ponto E (Bairro Porto do Centro), Ponto F (Rua Marte/Bairro Satélite), Ponto G (Av. Sebastião Leal/ Bairro 79

80 Porto do Centro), Ponto H (Rua Uranio X Rua Netuno/Bairro Satélite) e Ponto I (Rua Santa Quitéria/Bairro Satélite), conforme figura 1. Figura 1 Localização dos pontos de descrição Fonte: os autores (2016) RESULTADOS E DISCUSSÃO Caracterização da área O riacho Gavião localiza-se em Teresina, em uma área que registra cotas altimétricas mais expressivas da cidade, e seu escoamento drena os bairros Vale do Gavião, Satélite, Morros, Porto do Centro e Zoobotânico. No aspecto geológico tem como substrato a Formação Pedra de Fogo (pertencente ao Grupo Balsas), quanto ao relevo, adota-se a caracterização de Lima (2011), em que a autora relata a presença de três classes de relevo na área, a saber: Planícies e Terraços Fluviais, Superfícies Intensamente Retrabalhadas por Morros Residuais e Morros com Tendência ao Arredondamento Limitados por relevo escalonado. No plano hidrogeográfico, este riacho é afluente da margem direita do rio Poti e contribui na formação lagunar no Parque Zoobotânico. Impactos socioambientais identificados No Ponto A, localizado na foz do riacho, pôde-se observar que o curso hídrico se caracteriza por ter uma canalização meandrântica e ausência de retificação, tamponamento e barramento. Verificaram-se, ainda, áreas de assoreamento (pouco significativas) e de despejo de resíduos sólidos às margens do riacho. Quanto à caracterização vegetacional e de erosão, percebeu- 80

81 se ainda que a área possui cobertura predominantemente arbustiva e arbórea com exemplares de espécies vegetais tanto originais quanto invasoras. No que se refere aos condicionantes socioeconômicos, a área detém baixo adensamento populacional e ausência de ocupação em área de risco, observou-se, ainda: falta de saneamento básico (acúmulo de lixo, incipiente fornecimento de água encanada e tratamento de esgoto doméstico). No Ponto B, além do assoreamento, notou-se a presença de vegetação invasora decorrente da poluição e de mata de cocais (babaçu) na zona ripária. No que se refere às pressões socioeconômicas sobre esse ambiente, destacam-se: impermeabilização (asfáltica e poliédrica) através do arruamento presente, bueiro canalizado no leito e área de lançamento de efluentes, ocupação residencial/comercial e atividades rurais, como agricultura. Enquanto no Ponto C, o assoreamento também se faz presente (assim como nos trechos a jusante). Foi identificado áreas de descarte de resíduos sólidos e de entulho, bem como a presença de barreiras de pneus no dique marginal para a contenção da erosão e de escorregamento e presença de um barramento por meio de grades de ferro em uma área de um condomínio residencial. No Ponto D foram verificados presença de área de despejo de resíduos sólidos e entulho, ocupação residencial próxima ao curso hídrico, presença de cemitério desativado e erosão. O canal fluvial apresenta-se meandrântico, com pouca profundidade e largura também pequena (aproximadamente 1,5m), a vegetação tem exemplares de babaçu e macaúba, que, em alguns trechos encontra-se degradada. Verificou-se ainda na infraestrutura urbana, serviços de coleta de lixo, de fornecimento de água tratada, de arruamento/pavimentação e distribuição de energia elétrica. Sobre o Ponto E, no sentido a jusante, o riacho recebe a presença de afluente. Quantos às características físico-naturais, permanecem as mesmas do ponto anterior, somando-se o escoamento lento associado aos barramentos impostos pela ocupação residencial e de pontes no seu canal. Há ainda: impermeabilização do solo, esgoto a céu aberto, criação de aves, coleta de lixo, água encanada, esgoto doméstico, arruamento/pavimentação e distribuição de energia elétrica. Enquanto no Ponto F o canal fluvial apresentava-se mais largo e com pouca profundidade, o relevo apresenta leves ondulações que favorecem uma velocidade maior do escoamento da água. Presença de contingente populacional principalmente na sua margem direita, de pontes onde há o lançamento de esgoto a céu aberto e impermeabilização do solo. No Ponto G foi encontrada a maior quantidade de resíduos sólidos às margens do riacho, bem como entulho e lançamento de esgoto. Há a confluência com um riacho de pequeno porte, o canal fluvial se apresenta largo (assim como o ponto anterior) e o escoamento com uma vazão maior. Presença de assoreamento, bueiros, terrenos baldios, propriedades privadas, impermeabilização do solo e esgoto a céu aberto. Abrangência do sistema de coleta de lixo, água encanada e energia elétrica, bem como área onde foram encontrados animais (cavalo e gado) próximos às margens provocando pisoteio na vegetação já altamente degradada. 81

82 O Ponto H é totalmente canalizado e tamponado juntamente com o esgotamento da área, o que gera consideráveis impactos ao riacho. O adensamento urbano é alto a partir desse ponto, o riacho segue o contorno do arruamento chegando a passar por baixo de casas e comércios, impossibilitando o acompanhamento do seu canal (alterado pelas construções). A montante o riacho perpassa algumas ruas se misturando ao esgoto e a sujeira das vias. E, no Ponto I, o riacho assume o trajeto do esgoto a céu aberto com escoamento rápido visto que na área há inúmeros trechos de relevo acentuado. Escoa por baixo das residências e a montante encontra-se em uma ampla área verde também altamente degradada pelo nível de ocupação ao seu redor e encontro com outras fontes de esgoto e poluição. Apresenta-se ainda assoreado e a área é caracterizada por vegetação arbustiva e arbórea, erosão em sulcos, movimento de massa, terrenos baldios, coleta de lixo, água encanada, esgoto doméstico, arruamento/pavimentação e presença de distribuição de energia elétrica. Na figura 2 demonstra-se algumas características e impactos socioambientais da área. Figura 2 Características distintas do riacho ao longo do canal fluvial. Fonte: pesquisa direta (2016) CONCLUSÃO O curso d água objeto da pesquisa denominado de riacho Gavião, como a maioria dos canais sofre grandes pressões aos atravessar o tecido urbano, no caso do riacho em questão, observam-se evidentes alterações em sua forma, estrutura e aparência, modificações estas que não guardam, minimamente, os valores intrínsecos desse recurso. No senso comum, seus problemas se restringem, basicamente, aqueles relacionados ao saneamento básico desconsiderando seu valor enquanto patrimônio ambiental. 82

83 REFERÊNCIAS GUERA, A. J. T.; CUNHA, S. B. (Orgs). A questão ambiental: diferentes abordagens. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, LIMA, I. M. M. F. O relevo de Teresina, PI: compartimentação e dinâmica atual. In: ENCONTRO NACIONAL DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EM GEOGRAFIA, 9., Goiânia, Anais... Goiânia, RODRIGUES, A. M. Produção e consumo do e no espaço: problemática ambiental urbana. São Paulo: Ed. Hucitec, RODRIGUEZ, J. M. M.; SILVA, E. V. Desenvolvimento local sustentável, material para o projeto de educação ambiental integrada em uma favela Fortaleza CE,

84 LAGOAS MARGINAIS DO BAIRRO VERMELHA, MUNICÍPIO DE TERESINA-PI: UM OLHAR AMBIENTAL NO URBANO Eixo temático: Geomorfologia Urbana Fabiana Moreira dos Santos Universidade Federal do Piauí-UFPI Graduando em Geografia Ana Carolyne de Araújo Silva Costa Universidade Federal do Piauí-UFPI Graduando em Geografia Emanuel Lindemberg Silva Albuquerque Universidade Federal do Piauí-UFPI Docente do Curso de Graduação em Geografia Resumo: O estudo da geomorfologia urbana como subsídio para o planejamento territorial constituise numa das perspectivas socioambientais mais pertinentes na realidade atual, tendo em vista o intenso processo de uso e ocupação de áreas susceptíveis a degradação ambiental, em virtude da má organização antropogênica, resultante da ineficiência/inexistência de um planejamento urbano adequado. A pesquisa objetivou identificar as lagoas marginais que foram aterradas no bairro Vermelha, município de Teresina, estado do Piauí, partindo dos preceitos da geomorfologia urbana. Para tanto, procedeu-se com referencial bibliográfico, observações de campo, entrevistas com moradores e georreferenciamento dos locais das antigas lagoas marginais. Conclui-se que o mencionado bairro era cercado por lagoas, destacando as lagoas do Granjeiro, da Boca Bonita e do Maroto, que foram aterradas para a construção de casas, comércios e postos de combustíveis. Portanto, torna-se necessário sistematizar e aplicar os conhecimentos da geomorfologia urbana direcionada ao planejamento urbano de Teresina/PI, tendo em vista que a natureza é um todo integrado. Palavras-chave: Urbanização. Degradação ambiental. Rio Parnaíba. Abstract: The study of urban geomorphology as a subsidy for territorial planning is one of the most pertinent socio-environmental perspectives in the current situation, considering the intense use and occupation of areas susceptible to environmental degradation, due to the resulting anthropogenic poor organization inefficiency / lack of adequate urban planning. The research aimed to identify the marginal lagoons that were landed in the neighborhood Vermelha, municipality of Teresina, state of Piauí, starting from the precepts of urban geomorphology. For that, we carried out bibliographic 84

85 references, field observations, interviews with residents and georeferencing of the sites of the former marginal lagoons. It is concluded that this neighborhood was surrounded by lagoons, highlighting the lagoons of Granjeiro, Boca Bonita and Maroto, which were landed for the construction of houses, shops and gas stations. Therefore, it is necessary to systematize and apply the knowledge of urban geomorphology directed to the urban planning of Teresina / PI, considering that nature is an integrated whole. Key words: Urbanization. Environmental degradation. Rio Parnaíba. INTRODUÇÃO O estudo da geomorfologia urbana como subsídio para o planejamento territorial constitui-se numa das perspectivas socioambientais mais pertinentes na realidade atual, tendo em vista o intenso processo de uso e ocupação de áreas susceptíveis a degradação ambiental, em virtude da má organização antropogênica, resultante da ineficiência/inexistência de um planejamento urbano adequado. O uso inapropriado, associado ao crescimento populacional, gerou grandes perdas ambientais para o bairro Vermelha, localizado na zona Sul do município de Teresina, estado do Piauí, tendo em vista que a expansão urbana fez com que um conjunto de lagoas marginais do Rio Parnaíba fossem aterradas para a construção de casas, postos de combustíveis e comércios. Vale salientar que o topônimo do bairro encontra-se associado ao predomínio de um barro de coloração avermelhada muito característico na região, sendo que no início do seu povoamento (década de 40 do séc. XX) era denominado Quinta Vermelha, ou seja, as terras de Laurindo Veloso, o mais antigo morador do bairro, sendo que o povoamento e depois o bairro manteve-se com o nome Vermelha (TERESINA, 2016). Na perspectiva de compreender o urbano a partir do olhar ambiental, objetiva-se no presente estudo identificar as lagoas marginais que foram aterradas no bairro Vermelha, município de Teresina, estado do Piauí, partindo dos preceitos da geomorfologia urbana como fator preponderante da susceptibilidade ao processo de degradação ambiental, a partir da problemática do uso e ocupação do solo urbano. Neste sentido, o estudo delineou-se pelo referencial bibliográfico, observações de campo, entrevistas com moradores e georreferenciamento dos locais das antigas lagoas marginais, fazendo as devidas correlações entre tempo e espaço. Portanto, torna-se necessário sistematizar e aplicar os conhecimentos da geomorfologia urbana aplicada ao planejamento de Teresina/PI, tendo em vista que esta cidade ainda se encontra em franca expansão territorial. 85

86 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA A geomorfologia urbana procura compreender a relação existente entre a combinação dos fatores do meio físico e os impactos provocados pela ocupação humana, que induzem e/ou causam a detonação e aceleração dos processos geomorfológicos, muitas vezes assumindo um caráter catastrófico (GUERRA e MARÇAL, 2006), sendo, portanto, uma ferramenta que interliga as variáveis físicas e humanas. As características geomorfológicas do recorte espacial da pesquisa são caracterizadas pela presença dos baixos planaltos e dos baixos platôs interfluviais, seccionados pelos canais fluviais que compõem as microbacias urbanas (LIMA, 2011), com a presença de um riquíssimo lençol freático associado aos sedimentos arenosos de excelente porosidade. Destaca-se que as lagoas marginais são áreas presentes em planícies de inundação, de formação periódica ou permanente, resultantes do transbordamento lateral dos rios. Estes ambientes possuem alta ciclagem de nutriente e alta produtividade primária, e são colonizados, a partir do contato com os rios, por ovos e larvas de peixes (GOULDING 1980; JUNK et al., 1989; JUNK & WELCOMME, 1990, citado por POMPEU, 1997), ou seja, um verdadeiro berçário da fauna local. Não obstante, com o rápido processo de urbanização do município de Teresina, Piauí, este vem causando uma pressão significativa sobre o meio físico urbano, tendo como consequência mais notória o aterramento das lagoas marginais e dos canais fluviais secundários do Rio Parnaíba, derivando, por sua vez, pontos de alagamentos em virtude da impermeabilização do solo. RESULTADOS E DISCUSSÃO A capital piauiense, Teresina, encontra-se inserida nas coordenadas geográficas 05º05 12 Sul e 42º48 42 Oeste. Ocupa uma área territorial de aproximadamente Km² e uma população de habitantes, considerando os dados do Censo Demográfico do IBGE. Localiza-se na margem direita do Rio Parnaíba, na porção do médio curso desta bacia hidrográfica, associado ainda ao baixo curso do Rio Poti, um de seus principais tributários. Menciona-se, historicamente, que o crescimento da área urbana de Teresina foi incorporando chácaras e fazendas de seu entorno, ocupando as margens das estradas e dos rios Poti e Parnaíba, fazendo multiplicarem-se ruas e avenidas (LIMA, 2002). Neste contexto, um dos primeiros bairros a serem povoados foi o bairro Vermelha (Figura 1), o qual corresponde ao recorte espacial do presente estudo. 86

87 Figura 1. Mapa de localização do bairro Vermelha, município de Teresina, estado do Piauí Fonte: IBGE (2010). Elaboração dos autores (2017). O bairro Vermelha compreende a área contida no seguinte perímetro: partindo do eixo do Rio Parnaíba, no alinhamento da Av. Joaquim Ribeiro, segue, por esta, em direção leste, até a Rua Sete de Setembro; continua, por esta até a Av. Nações Unidas e, daí, pela Av. Miguel Rosa atinge a Rua Murilo Braga; prossegue até a Av. Pedro Freitas e, em sentido norte, chega à Rua Abílio Guimarães, pelo qual e seu alinhamento atinge o eixo do Rio Parnaíba, retornando, por este, ao ponto inicial (TERESINA, 2016). De acordo com entrevistas com os moradores mais antigos do bairro, na década de 40 do século XX, o bairro era cercada por lagoas, destacando as lagoas do Granjeiro, da Boca Bonita e do Maroto, que foram aterradas para a construção de casas, comércios e postos de combustíveis, conforme é possível visualizar na Figura 2 87

88 Figura 2. Área de uma antiga lagoa marginal no bairro Vermelha, município de Teresina, estado do Piauí. Fonte: Google Earth (2017). Vale salientar que estas lagoas estavam localizadas na planície de inundação do Rio Parnaíba (área de drenagem da Bacia Hidrográfica do Rio Parnaíba), resultantes do transbordamento lateral do mesmo, quando das grandes cheias anuais, compondo um mosaico ambiental, denominadas de lagoas marginais, com grande capacidade de ciclagem de nutrientes e representando o berçário para uma grande variedade de peixes (POMPEU, 1997), tendo em vista a conexão, com troca de matéria e energia, entre o rio e a lagoa. Nesse contexto de dificuldades múltiplas enfrentadas na gestão das bacias hidrográficas urbanas, Morais (2010) menciona a necessidade de uma gestão mais efetiva quantos os recursos hídricos, destacando as questões de uso e ocupação das áreas marginais dos rios, na perspectiva de prevenir possíveis prejuízos decorrentes das inundações urbanas. Ao considerar o exposto, corrobora-se que o avanço do processo de urbanização inadequado do bairro Vermelha, zona Sul de Teresina, estado do Piauí, provocou: i) o aterramento de um conjunto de lagoas marginais; ii) potencializou uma maior impermeabilização/pavimentação asfáltica do solo e; iii) a canalização de alguns afluentes do Rio Parnaíba. Como reflexo da quebra do ciclo (matéria e energia) do rio com as lagoas marginais, houve uma alteração nos fluxos gênicos de reprodução da fauna local, tendendo a uma menor biodiversidade na área afetada e no conjunto hidrográfico, tendo em vista que a natureza é um todo integrado. Contudo, restou no bairro apenas uma lagoa marginal, que a priori ficou preservada e que serve como parque ambiental para a comunidade, com árvores tanto de caatinga como de cerrado, em que é possível ver a presença de peixes, vários tipos de aves, jabutis entre outros animais da fauna local, servindo ainda como um espaço de lazer para a população residente no bairro Vermelha e área de entorno. 88

89 CONCLUSÃO É importante salientar que os resultados dessa pesquisa objetivam demonstrar o cenário situacional do bairro Vermelha, município de Teresina, estado do Piauí, diante da situação ambiental da área em estudo, dando ênfase ao fato que a área ocupada sofreu bastante com a ocupação humana, tanto na construção de moradias, como na ocupação pelo comércio e demais setores de serviços. Portanto, torna-se necessário sistematizar e aplicar os conhecimentos da geomorfologia urbana ao planejamento territorial do município de Teresina, para que as políticas públicas de urbanização sejam efetivadas e que haja uma relação harmônica entre as variáveis físicas e humanas, disciplinando o processo de ocupação e assegurar a sustentabilidade do uso dos recursos naturais, principalmente nas áreas que compõem as lagoas marginais e as Áreas de Preservação Permanente APP do Rio Parnaíba. REFERÊNCIAS BRASIL. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo 2010: Piauí. Disponível em: Acesso em: 10 ago GUERRA, A. J. T.; MARÇAL, M. S. Geomorfologia Ambiental. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, LIMA, I. M. M. F. Teresina: Urbanização e Meio ambiente. In: Scientia et Spes. Teresina: Instituto Camilo Filho, v. 1, n. 2, 2002, p O Relevo de Teresina, PI: compartimentação e dinâmica atual. Encontro Nacional da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia, 9. Goiânia, out In: Anais... Goiânia, out MORAIS, R. J. Estrutura e interações tróficas em três lagoas marginais no pantanal sul Tese (Programa de Pós-graduação em Ecologia e Evolução). Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Goiás, Goiânia, POMPEU, P. S. Efeitos das estações seca e chuvosa e da ausência de inundações nas comunidades de peixes de três lagoas marginais do médio São Francisco. 72f. Dissertação (Mestrado em Ecologia, Conservação e Manejo de Vida Silvestre). Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, TERESINA. Secretaria Municipal de Planejamento e Coordenação. Perfil dos Bairros. Disponível em: Acesso em: 23 ago

90 PROBLEMAS AMBIENTAIS URBANOS EM ÁREA OCUPADA PELO LOTEAMENTO ENCANTO DOS IPÊS, EM PIRACURUCA (PI) Marineldo Brito Lima Universidade Federal do Piauí Graduando em Geografia Francílio de Amorim dos Santos Instituto Federal do Piauí / Campus Piripiri Doutorando em Geografia pela Universidade Estadual do Ceará francilio.amorim@ifpi.edu.br Eixo temático: Geomorfologia Urbana Resumo: A área foi escolhida como objeto para estudo em virtude da sua extensão territorial e, como tal, visualizar os possíveis impactos ambientais decorrentes da ocupação realizada pelo citado empreendimento. O referido loteamento está localizado a nordeste da sede do município de Piracuruca. Inicialmente, cabe citar que o Loteamento encontra-se legalmente em área destinada à expansão residencial. O objetivo da pesquisa foi analisar o processo de apropriação do espaço urbano e as consequentes alterações da paisagem no Loteamento Encanto dos Ipês, buscando identificar possíveis problemas ambientais decorrentes da ocupação humana. A construção deste empreendimento tem resultado na supressão da vegetação nativa e desencadeamento de processos erosivos, com surgimento de ravinas. Embora a expansão urbana seja inevitável, é de suma importância a busca por informações integradas sobre o ambiente, essas devem subsidiar ações para redução/mitigação dos impactos oriundos das ações humanas. Palavras-chave: problemas ambientais urbanos, ocupação de relevo, Piracuruca (PI). Abstract: The area was chosen as object for study by virtue of its territorial extension and, as such, to visualize the possible environmental impacts resulting from the occupation carried out by the aforementioned enterprise. The said subdivision is located northeast of the municipality of Piracuruca. Initially, it should be mentioned that the Loteamento is legally located in an area destined for residential expansion. The objective of the research was to analyze the process of appropriation of the urban space and the consequent alterations of the landscape in the Loteamento Encanto dos Ipês, seeking to identify possible environmental problems arising from human occupation. The construction of this project has resulted in the suppression of native vegetation and the triggering of erosive processes, with the emergence of ravines. Although urban sprawl is unavoidable, the search for integrated information on the environment is of paramount importance. These should support actions to reduce / mitigate impacts from human actions. Keywords: urban environmental problems, occupation of relief, Piracuruca (PI). 90

91 INTRODUÇÃO A forma de ocupação humana da superfície terrestre tem ocorrido de diferentes formas espaçotemporalmente, variando em relação às potencialidades e objetivo da ocupação. Nesse sentido, não se constitui tarefa simples explicar a forma de ocupação do espaço pelo homem, particularmente nas áreas urbanas. Nesse contexto, a cidade de Piracuruca é caracterizada, como outros sítios urbanos, por possuir uma ocupação intensa do relevo. Nesse cenário, deve-se mencionar que, após o homem ter deixado de ser nômade e se tornado sedentário em um determinado lugar, ele vem buscando locais com potencial natural capaz de satisfazer suas principais necessidades, como água, terras férteis para produção de alimentos, locais adequados à habitação, etc. A partir da Revolução Industrial, iniciada no século XVII, as populações urbanas começaram a crescer em um ritmo bem acelerado enquanto o número de habitantes no campo começava a ser reduzido, sendo um dos principais motivos desse fenômeno o êxodo rural. Este realizado por trabalhadores que foram atraídos para as cidades por uma imagem de desenvolvimento socioeconômico para eles e suas famílias. Além do citado, ressalta-se que o processo de industrialização e consequente mecanização, marca uma significativa aceleração que foi denominada de ruptura progressiva entre o homem e meio (SANTOS, 1994). Para este autor, com o crescimento tecnológico as ações antrópicas sobre o espaço natural se tornaram cada vez mais incisivas, podendo alterar a dinâmica natural dos locais, a depender da intensidade da intervenção, tendo na atualidade o ápice deste processo. Como consequência do processo de expansão urbana e da especulação imobiliária, os compartimentos do relevo (fundos de vale, vertentes íngremes e áreas de proteção ambiental, por exemplo) caracterizados pela ausência de infraestrutura básica e proibição legal de ocupação, acabam por atraírem ocupação irregular, notadamente por uma população detentora de baixo poder aquisitivo, como argumentam Pedro e Nunes (2010), sendo, ainda segregada socioambientalmente. Dessa maneira, essa forma irregular de ocupação do relevo apresenta grande probabilidade em gerar processos de degradação ao ambiente urbano. No caso do município de Piracuruca, localizado no norte do estado do Piauí, os principais fenômenos naturais que acarretam alterações na paisagem urbana estão relacionados às chuvas, como a formação de ravinas, dentre outros. Sendo que alguns destes fenômenos são agravados pela localização da cidade no vale do rio Piracuruca, potencializando a ação da água em faixas próximas as margens do rio. Casseti (1991) afirma que no modo capitalista de produção algumas formas de relevo, a exemplo das vertentes, são caracterizadas como um recurso, sendo consideradas mercadorias e submetidas à especulação ou exploração de seu uso. De acordo com Suertegaray e Nunes (2001), no ambiente urbano ocorrem diferentes conflitos, desigualdades e contradições, visto que se podem 91

92 encontrar diferentes impactos, muitas vezes gerados pela sociedade consumista e, por consequência, contribui na aceleração dos processos naturais, como geomorfológicos. Frente a necessidade em conhecer as consequências das atividades humanas e geração de informações para o planejamento ambiental, tornou-se oportuno realizar estudo sobre loteamento Encanto dos Ipês, localizado no município de Piracuruca. Desse modo, o objetivo da pesquisa foi analisar o processo de apropriação do espaço urbano e as consequentes alterações na paisagem, permitindo identificar possíveis problemas ambientais decorrentes dessa ocupação. MATERIAIS E MÉTODOS A sede municipal de Piracuruca está situada a 60 metros de altitude, tendo sua posição geográfica determinada pelo paralelo 03 55'41"S e na interseção com o meridiano 41 42'33"W, conforme está representado na Figura 1 (IPHAN, 2008). Os limites territoriais desse município são os seguintes: ao norte, os municípios de Caraúbas do Piauí e Cocal; ao sul, o município de Brasileira; a leste, os municípios de Cocal dos Alves e São João da Fronteira; a oeste, os municípios de Caraúbas do Piauí, São José do Divino e Batalha (AGUIAR; GOMES, 2004). Atualmente, alguns empreendimentos têm movimentado a economia da cidade e proporcionado um crescimento espacial e socioeconômico, dentre eles o de maior relevância, muito pelo tamanho ocupado é o Loteamento Encanto dos Ipês. O mesmo está situado a NE da sede municipal de Piracuruca, aproximadamente a região central do empreendimento possui as seguintes coordenadas: 03º54'5.63"S e 041º41'5.63"W (Figura 1). Figura 1 - Mapa de localização do Loteamento Encanto dos Ipês, município de Piracuruca. Fonte: IBGE (2015). 92

93 Os procedimentos metodológicos para realização do estudo foram os seguintes: a) levantamento, organização e análise de material bibliográfico; b) pesquisa de campo, ocorrida no dia 25 de agosto e Onde se almejou validar as informações, mencionados, identificar as alterações realizadas e coletar material fotográfico; c) entrevistas indiretas com pessoas que transitavam pela área estudada. RESULTADOS E DISCUSSÕES Inicialmente, cabe salientar que a Lei Complementar nº 001/2006 (PIRACURUCA, 2006), em Art. 68, parágrafo 3º, ressalta que o Loteamento Encanto dos Ipês encontra-se dentro da Zona de Expansão Residencial 2 - ZER2, composta pelas glebas e datas situadas entre a margem direita da BR-343, os limites urbanizados dos bairros Nova Esperança, Fátima, Esplanada e Loteamento Zeca Machado em direção Norte e Leste. Nesse contexto, pode-se citar que o crescimento socioeconômico que um empreendimento desse porte proporciona, altera significativamente a configuração urbana do Piracuruca e, por consequência, geração de impactos ambientais relacionados principalmente relacionados à retirada da vegetação nativa, intensificação do processo erosivo, alterações do microclima e possível influência sobre os lençóis freáticos. Guerra (1998) diz que a formação dos solos é o produto da interação de muitos eventos, tanto geomorfológicos como edáficos, que resultam de fatores inerentes ao solo ou são influenciados por ele. Esses processos retratam uma variabilidade tanto temporal quanto espacialmente significativa e seu conhecimento torna-se sumamente importante, considerando-se que os solos são um sistema dinâmico. Nesse contexto, uma alteração do solo no presente pode acarretar consequências indesejáveis no futuro, a depender da alteração e da sua forma de execução. No presente estudo foi constatado, por meio de uma pesquisa de campo e entrevistas indiretas com pessoas que transitavam pela área estudada que a partir do momento que o atual proprietário começou a por em prática a construção do loteamento iniciou o preenchimento de crateras oriundas da necessidade de extração de argila para suprir a construção civil em Piracuruca e seu entorno. Após o encerramento das atividades de exploração desenfreada a área começa a mostrar sinais de recuperação, tais como, a diminuição da dimensão da cratera e recuperação da vegetação. Durante a remoção da vegetação e planeamento para construção do loteamento quase a totalidade da terra e resto de vegetação foram despejados na antiga área de remoção de argila. Os principais efeitos práticos no local foram: a) dificuldade para continuidade da extração de barro no local, visto que houve compactação do solo e formação de uma espessa crosta (Figura 2a); b) redução da profundidade do buraco; c) a matéria vegetal morta serviu de adubo natural para o crescimento de 93

94 uma nova vegetação. Contudo, há pontos negativos, a exemplo do surgimento de ravinas oriundas da supressão da vegetação na área (Figura 2b). Figura 2 - Loteamento Encanto dos Ipês. Em A: Preenchimento do buraco oriundo da extração de barro e em B: Processo de ravinamento. Fonte: Arquivos dos autores (2017) Essas alterações não são exclusivas na área estudada, o estudo de Santos e Lemes (2007) que buscou entender a evolução da paisagem no bairro Geovanni Braga, em Anápolis (GO), é semelhante, visto que a área pesquisada apresentou retirada da cobertura vegetal, modificação da paisagem por meio da construção de avenida sem sistema de drenagem, mineração e parcelamento dos solos. O estudo da ocupação do relevo e dos impactos ambientais no setor Sul da cidade de Ituiutaba (MG) desenvolvido por Ramalho (2014), possibilitou-o identificar diversos impactos ambientais oriundos da implantação de loteamentos, quais sejam: processos erosivos ao longo de vertentes e depósitos tecnogênicos encontrados nos fundos de vale decorrentes dos diversos tipos de ocupação do relevo. Frente às informações apresentados na presente pesquisa e outras realizadas em distintas áreas de outros estados convergem para o mesmo ponto, isto é, alterações na paisagem a partir da instalação de loteamentos. Desse modo, há a necessidade veemente de ações para recuperação dessas áreas impactadas, notadamente para reparação das áreas expostas após retirada da vegetação e, ainda, estratégias para controle dos processos erosivos. CONCLUSÃO O processo de expansão urbana é uma realidade aparentemente longe de acabar, particularmente devido ao aumento da demanda habitacional oriunda do crescimento populacional e econômico da sociedade. Logo, a expansão é quase inevitável, sendo de suma importância o 94

95 implemento de medidas que possam reduzir o impacto da ação humana sobre o meio. Em relação a este tema, o proprietário do Loteamento Encanto dos Ipês aparentemente objetiva esse crescimento com o menor dano possível, visto a tentativa de amenizar os impactos ambientais gerados na área antes da implementação do seu empreendimento. Atualmente, a temática de desenvolvimento econômico gerando o menor dano possível ao ambiente tem se caracterizado como um dos maiores anseios da humanidade, tendo em vista a necessidade de conservação dos recursos naturais para o uso presente e das futuras gerações. Nesse contexto, a realização de estudos tem papel muito importante na fiscalização da utilização do espaço, seja pela iniciativa privada ou poder público, possibilitando a geração de informações para planejamento ambiental. REFERÊNCIAS AGUIAR, R.B.; GOMES, J.R.C. (Org.). Projeto cadastro de fontes de abastecimento por água subterrânea, estado do Piauí: diagnóstico do município de Castelo do Piauí. Fortaleza: CPRM - Serviço Geológico do Brasil, CASSETI, V. Ambiente e apropriação do relevo. São Paulo: Contexto, GUERRA, A.J.T. Processos erosivos nas encostas. In: GUERRA, A.J.T.; CUNHA, S.B. (Orgs.) Geomorfologia: uma atualização de bases e conceitos. 3 ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, p IPHAN - Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Cidades do Piauí testemunhas da ocupação do interior do Brasil durante o século XVIII. Conjunto Histórico e Paisagístico de Piracuruca. Brasília e Teresina, setembro de PEDRO, L.C.; NUNES, J.O.R. Sociedade e natureza: a inter-relação entre ocupação, relevo e os impactos ambientais gerados. S/D. PIRACURUCA. Prefeitura Municipal de Piracuruca. Plano Diretor. Lei Complementar n. 001/2006. Institui o Plano Diretor de Piracuruca, estabelece diretrizes para o desenvolvimento da Cidade e das vilas sedes dos Distritos e dá outras providências relativas ao planejamento e à gestão do território do Município, nos termos da Lei Federal / Estatuto da Cidade. RAMALHO, F.L. O estudo da ocupação do relevo e os impactos ambientais no setor Sul da cidade de Ituiutaba/MG. Revista Geonorte, Edição Especial 4, v.10, n.1, p , SANTOS, K.R.; LEMES, S.S. Formas de relevo, ocupação e erosão acelerada no bairro Geovanni Braga em Anápolis (GO). SANTOS, M. Técnica, espaço, tempo. Globalização e meio técnico-científico-informacional. São Paulo: Editora, SURTEGARAY, D. M. A.; NUNES, J. O. R. A natureza da Geografia Física na Geografia. São Paulo: Revista Terra Livre, n.17,

96 RELAÇÕES ENTRE PROCESSOS FLUVIAIS E MARINHOS E A DINÂMICA URBANA NO MUNICÍPIO DE PARNAÍBA (PI) Denia Elice Matias Oliveira Universidade Federal do Piauí - Campus Ministro Petrônio Portella Graduanda em Geografia, UFPI deniaelice@gmail.com. Iracilde Maria de Moura Fé Lima Universidade Federal do Piauí - Campus Ministro Petrônio Portella Professora da Graduação e do Programa de Pós-Graduação em Geografia, UFPI iracildemourafelima@gmail.com Eixo temático: Geomorfologia Urbana Resumo: A presente pesquisa teve como objetivo discutir as relações entre os processos fluviais e marinhos que resultam em diferentes depósitos de sedimentos modeladores das feições de relevo no município de Parnaíba, ressaltando a posição ocupada pela área urbana em relação a esses elementos do ambiente natural. Utilizou-se como procedimentos metodológicos a identificação dos tipos de litologia e da hidrografia desse município e o traçado do sítio urbano nos anos décadas de 1970 e Foram realizados levantamentos bibliográficos e observações de campo, sendo os dados e imagens trabalhados em software de geoprocessamento. Os resultados demonstraram que a população da cidade cresceu 22,36% nesse período e que sua área foi ampliada em cerca de oito vezes, seguindo preferencialmente a direção dos eixos rodoviários e das praias, sob influência principalmente da atividade turística, crescente no litoral do Piauí nas últimas décadas, cujo acesso se dá preferencialmente passando pela cidade de Parnaíba. Palavras-chave: Litoral do Piauí. Sedimentos fluviais e marinhos. Evolução urbana. Abstract: The present research had as objective to discuss the relations between the fluvial and marine processes that result in different deposits of sediments modeling the the relief in the municipality of Parnaíba, highlighting the position occupied by the urban area in relation to these elements natural of environment. Used methodological procedures were used to identify the types of lithology and hydrography of this municipality and the of urban area site in the 1970th year and 2010th. Bibliographical surveys and field observations were made, the data and images of satellit were worked in geoprocessing software. The results showed that the population of the city grew 22.36% in this period and that its area was enlarged by about eight times, preferentially following the direction of the roads and beaches, mainly influenced by the tourist activity, expansioning to coasts of Piauí the in last decades, whose access is preferentially passing through the city of Parnaíba. Key words: Coast of Piauí. Fluvial and marine sediments. Urban evolution. 96

97 INTRODUÇÃO Os estudos geomorfológicos procuram mostrar a distribuição espacial dos conjuntos de formas que compõem cada compartimento estrutural-topográfico, os materiais e os processos responsáveis por sua gênese e características evolutivas. Estes conhecimentos são de grande relevância seja em escalas regional ou local, porque subsidiam o levantamento dos recursos naturais, o planejamento de uso da terra e a gestão socioambiental (FLORENZANO, 2008). A partir desse referencial teórico, associado à possibilidade mais recente de aplicações do geoprocessamento aos estudos ambientais (JENSEN, 2009), a presente pesquisa teve por objetivo identificar a espacialização dos processos fluviais e marinhos e suas influências na modelagem das feições de relevo no município de Parnaíba, destacando a evolução de sua sede municipal, entre 1970 e Foram realizados levantamento bibliográficos e mapeamentos, observações de campo e imagens de satélite como suporte a análise. Assim, foram trabalhados dados e imagens, shapes disponíveis online (IBGE, 2016; DNIT, 2015; CPRM 2006), em software de geoprocessamento Quantum GIS versão 2.18 sob licença livre GNU GPL. Para tanto, aplicou-se o sistema de projeção Universal Transversa de Mercator (UTM) com referencial geodésico do Sistema de Referência Geocêntrico para as Américas (SIRGAS 2000), datum oficial do Brasil. O traçado do sítio urbano de Parnaíba para as décadas de 1970 e 2010 e o cálculo de suas respectivas áreas foram obtidos utilizando-se de cartas DSG (1973) e imagens Google Earth ( ), sendo os dados populacionais identificados nos censos do IBGE (1970; 2010). Os resultados demonstraram que a população dessa cidade cresceu em 22,36% no período analisado e teve sua área ampliada em cerca de oito vezes, principalmente seguindo a direção dos eixos rodoviários e acessos às praias, como decorrência principalmente da atividade turística, crescente no litoral do Piauí nas últimas décadas (MESQUITA et al., 2016). Desta forma, torna-se importante a ampliação do conhecimento socioambiental desta área, como forma de subsidiar o planejamento de suas atividades, uma vez que são crescentes os fluxos relativos às atividades de serviços, principalmente turísticas, que têm afetado diretamente a dinâmica da cidade de Parnaíba. RESULTADOS E DISCUSSÕES O município de Parnaíba se localiza ao norte do Piauí, na faixa litorânea deste estado. Apresenta como limites: ao norte o oceano Atlântico e o município de Ilha Grande de Santa Isabel, ao sul os municípios piauienses de Buriti dos Lopes e Cocal, a leste o município de Luís Correia, enquanto a porção oeste se limita com o Maranhão, sendo o rio Parnaíba o divisor territorial entre esses dois estados. O centro antigo da cidade tem como ponto de referência as coordenadas geográficas: 2º54'17" S e 41º46'36"O, distando aproximadamente 340 Km Teresina, capital do Piauí. 97

98 Com relação aos aspectos do ambiente natural que caracterizam essa área, de forma geral, identifica-se o tipo climático como o tropical, com alternância de períodos anuais: úmido e seco. Suas temperaturas variam de médias das mínimas entre 22ºC e média das máximas 32ºC, com índice de precipitação pluviométrica anual de mm, ocorrendo as mínimas nos meses de julho a dezembro. Os solos da área correspondem aos tipos neossolos flúvicos eutróficos que acompanham os trechos de canais dos rios Parnaíba, Portinho, Igaraçu e também o entorno de lagoas como a do Prado, do Portinho e da Prata; os neossolos quartzarênicos distróficos, que refletem a predominância de depósitos arenosos pleistocênicos e holocênicos da faixa litorânea. Também ocorrem manchas de latossolo vermelho-amarelo distrófico, com presença de lateritas hidromórficas, que se encontram na porção centro-sul do município, onde predominam os tabuleiros pré-litorâneos, associados ao grupo Barreiras, datado do neógeno. Já a cobertura vegetal apresenta-se predominantemente composta por espécies da biota de mangue, restingas e caatinga arbustiva (CEPRO, 2013). Com base na classificação dos compartimentos regionais do relevo piauiense, este município ocupa área dos Tabuleiros Pré-Litorâneos e da Planície Litorânea, na porção final do Baixo Parnaíba, e também uma pequena porção da Ilha Grande de Santa Isabel, no delta deste rio (LIMA, 1987). Nessa área de tabuleiros as formas de relevo apresentam-se com declividades de plana a suave ondulada, levemente dissecadas em colinas e vales com altitudes que variam entre 20 e 60 m, aproximadamente (DSG, 1973). Formam suaves rampas de caimento para os terraços e planícies fluviais e lagunares, compostas por sedimentos aluviais holocênicos, como a do rio Parnaíba e lagoas do Portinho e outras de menor área, como se observa na Figura 1. Em direção a nordeste, os tabuleiros litorâneos são limitados pelo leito do rio Igarassu, a partir de onde se amplia a ocorrência dos terraços holocênicos e se iniciam os depósitos pantanosos recobertos por mangues, na ilha piauiense do delta. Estes, por sua vez, são interrompidos no contato com os sedimentos de cobertura eólica pleistocênica/holocênica/dunares, ou seja, de sul para norte as feições geomorfológicas são elaboradas/reelaboradas cada vez mais recentes, correspondendo a faixas de dunas moveis e fixas e as planícies flúvio-marinhas que ocorrem na linha da costa (LIMA, 1987). Também na Figura 1 podem ser observados a localização e os limites da cidade nas décadas de 1973 e A área do sítio urbano que era de 9,34 km² no ano de 1970 passou a ocupar 71,75 km 2 em 2010 correspondendo a uma ampliação de sua área em cerca de oito vezes, nesse período, decorrente principalmente da ampliação dos serviços da cidade, dentre as quais se destacam as atividades turísticas (MESQUITA et al., 2016). 98

99 Figura 1 Mapa geológico do município de Parnaíba, Piauí, destacando os limites da área urbana nas décadas de 1970 e 2010 Base de dados: IBGE (2016); DNIT (2015). Org.: As autoras (2017). Essa área que na década de 1970 ocupava apenas um pequeno trecho as margens do rio Igaraçu, ampliou-se seguindo a direção dos eixos rodoviários e acessos às praias, predominando ainda, a ocupação de parte dos tabuleiros litorâneos. Para a direção sul a cidade se expandiu na direção da entrada da cidade, através da BR-343, chegando à planície aluvial da margem direita do rio Parnaíba; para o leste e nordeste em direção às praias da planície litorânea; para o norte chegando à margem direita do rio Igaraçu, no contato com os depósitos sedimentares, em área pantanosa de mangues. A oeste o sítio urbano ultrapassou o rio Igaraçu, ocupando pequena porção da ilha grande Santa Isabel, delta do rio Parnaíba, seguindo o eixo rodoviário que dá acesso à praia da Pedra do Sal. Assim, como decorrência principalmente da atividade turística que tem sido crescente no litoral do Piauí nas últimas décadas (MESQUITA et al., 2016), a população da cidade, que era de 99

100 habitantes em 1970 passou para habitantes em 2010 (IBGE 1971;2010). Essa população passou a corresponder a 71,99% em 1970 e 94,35% do total do município, indicando uma elevada urbanização em cerca de 30 anos, destacando-se como núcleo urbano mais populoso da faixa litorânea e favorecendo a dinamização da região norte do Piauí. Desta forma, torna-se importante a ampliação do conhecimento socioambiental desta área, como forma de subsidiar o planejamento de suas atividades, uma vez que são crescentes os fluxos relativos às atividades de serviços que têm afetado diretamente a dinâmica socioambiental da cidade de Parnaíba. CONSIDERAÇÕES FINAIS Como resultado do estudo foi possível caracterizar a composição dos sedimentos de origem continental neógenos e fluviais pleistocênicos e holocênicos no contato com os sedimentos marinhos e as feições de relevo associadas, destacando a evolução do traçado do sítio urbano e do crescimento da população da cidade de Parnaíba-Piauí, entre 1970 e Esses resultados demonstraram que a cidade teve sua área ampliada em cerca de oito vezes e que sua população cresceu em 22,36% nesse período, principalmente seguindo a direção dos eixos rodoviários e das praias, como decorrência da atividade turística, crescente no litoral do Piauí nas últimas décadas, cujo acesso se dá preferencialmente através da cidade de Parnaíba. Observou-se também que, mesmo tendo apresentado um intenso crescimento nessas últimas décadas, o sítio urbano de Parnaíba ainda se mantém relativamente afastado das áreas onde é maior a dinâmica dos sedimentos fluvio-marinhos, de origem eólica pleistocênica/holocênica do litoral piauiense. Assim, a cidade de Parnaíba nasceu e tem crescido ocupando áreas de maior estabilidade de sedimentos, cuja base litológica é formada pelo Grupo Barreiras. REFERÊNCIAS ALMEIDA, Lutiane Queiroz. Vulnerabilidades Socioambientais de Rios Urbanos. Bacia hidrográfica do Rio Maranguapinho. Região Metropolitana de Fortaleza, Ceará. 278f. Tese (Doutorado). Programa de Pós-Graduação em Geografia. Universidade Estadual Paulista, Rio Claro SP, CEPRO (Fundação Centro de Pesquisas Econômicas e Social). Diagnóstico Socioeconômico: município Parnaíba. Teresina/PI: Disponível em: < Acesso em: 20 ago CPRM. Serviço Geológico do Brasil. Folha SA 24 Fortaleza: carta hidrogeologica- escala 1: Brasília: CPRM, Escala 1: Disponível 100

101 em:< Milionesimo-298.html>. Acesso em: 20 ago DNIT (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes). Shapefiles: Brasil, Disponível em: < Acesso em: 10 set DSG (Departamento Geográfico do Exército). Folha Parnaíba. N SA 24-Y-A-IV. Escala 1: , FLORENZANO, Tereza Gallotti (org.). Geomorfologia: conceitos e tecnologias atuais. São Paulo: Oficina de Textos, IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Sinopse Preliminar do Censo Demográfico: VIII Recenseamento Geral 1970: Piaui. Rio de Janeiro: 1971, p. 49. Disponível em: < Acesso em: 10 set Cidades: Piauí, Parnaíba Disponívelem:< piaui parnaiba infogr%e1ficos:-evolu%e7%e3o-populacional-e-pir%e2mide-et%e1ria>. Acesso em: 10 set JENSEN, John R. Sensoriamento remoto do ambiente: Uma perspectiva em recursos terrestres. São José dos Campos, SP: Parêntese, LIMA, Iracilde Maria Moura Fé. Relevo Piauiense: Uma proposta de classificação. Carta CEPRO Teresina v. 12 n. 2, p , Ago/Dez Disponível em: iracildefelima.webnode.com. Acesso em: 20 ago MEDEIROS, Cleyber Nascimento. Vulnerabilidade socioambiental do município de Caucaia (CE): Subsídios ao ordenamento territorial. 267f. Tese (Doutorado). Programa de Pós-Graduação em Geografia. UECE. Fortaleza CE, MESQUITA, Tarcys K. S.; LIMA, Iracilde M. M. Fé; SANTOS FILHO, Francisco S. Lagoa fluvial do rio Portinho, Piauí: impactos socioambientais recentes. V Congresso Brasileiro de Educação Ambiental Aplicada e Gestão Territorial. Fortaleza (CE),

102 ANÁLISE MULTITEMPORAL DO USO E OCUPAÇÃO DA TERRA NO MUNICÍPIO DE MATÕES/MA A PARTIR DE DADOS DE SENSORES REMOTOS Felipe Henrique da Silva Andrade Universidade Estadual do Piauí-UESPI Pós-graduando em Geografia e Pesquisa felipegeo@outlook.com Jhony Gonçalves de Lima Universidade Federal do Piauí-UFPI Graduando em Geografia jhonygoncalvesdelima@gmail.com Profª. Drª Liége de Souza Moura Universidade Estadual do Piauí-UESPI liege.moura@hotmail.com Eixo temático: Geotecnologias e abordagens em Geomorfologia Resumo: O objetivo geral do trabalho é realizar a análise multitemporal do uso e ocupação da terra no município de Matões/MA entre os anos de 2008 e Para tanto se procedeu com revisão bibliográfica e pesquisa de gabinete para aquisição de imagens de satelite e aplicação de técnicas de geoprocessamento. Com base nisso chegou-se ao resultado de quatro classes temáticas, identificadas em: Água; Vegetação; Solo exposto; e Plantações. Verificou-se que nos períodos analisados, (2008 e 2015), as principais mudanças ocorridas na paisagem da área de estudo referem-se ao aumento das classes Vegetação e Plantações (eucaliptocultura). Deste modo o emprego de imagens de satélite da série Landsat mostrou-se adequado para a identificação e caracterização de paisagens, permitindo a análise dentro do período de estudo. Palavras-chave: Geotecnologias. Geomorfologia. Sensores remotos. Abstract: The general objective of this work is to perform the multitemporal analysis of land use and occupation in the municipality of Matões / MA between 2008 and For this purpose, a bibliographic review and survey of the satellite image acquisition and application of Geoprocessing techniques. Based on this, we reached the result of four thematic classes, identified in: Water; Vegetation; Only exposed; And Plantations. It was verified that in the analyzed periods (2008 and 2015), the main changes in the landscape of the study area refer to the increase of the classes Vegetation and Plantations (eucalyptus). In this way the use of satellite images of the Landsat series proved adequate for the identification and characterization of landscapes, allowing the analysis within the study period. Key words: Geotechnologies. Geomorfphology. Remote sensors. 102

103 INTRODUÇÃO O advento das imagens orbitais no estudo da paisagem tem intensificado as discussões da sua aplicabilidade no âmbito cartográfico, sendo cada vez maior as aplicações destas imagens na cartografia de paisagens. O uso de imagens de satélite de alta resolução espacial em muitas áreas permite agilidade, qualidade e baixo custo nos estudos. Sob esta perspectiva, o objetivo geral do trabalho é o de realizar a análise multitemporal do uso e ocupação da terra no município de Matões/MA entre os anos de 2008 e Especificamente identificar e quantificar, através de mapas de uso da terra, as principais feições superficiais da paisagem encontradas no municipio a fim de analisar como está ocorrendo à transformação desse espaço durante esse intervalo tempo. O desenvolvimento da pesquisa de abordagem quali-quantitativa, contou com os procedimentos de revisão bibliográfica, pesquisa de campo e fase de gabinete. Foram realizadas pesquisas de campo para observação, marcação de pontos com receptor GPS, registro fotográfico e preenchimento de planilhas de campo. A fase de gabinete consistiu na elaboração de mapas por meio da aquisição de imagens orbitais adquiridas gratuitamente no site do Instituto de Pesquisas Espaciais INPE por meio dos sensores Landsat ETM 5 (capturada em 02/08/2008) composição falsa cor e Landsat OLI 8 (capturada em 08/07/2015) composição infravermelho a partir da composição das bandas espectrais RGB 3, 4 e 5 dos referidos sensores com resolução espacial de 30 metros, combinadas com o trabalho de campo. O sistema de coordenadas adotado para a base cartográfica foi à projeção Universal Transversa de Mercator - UTM, empregando-se o Datum Sirgas O período escolhido para análise da dinâmica da paisagem evidencia a estação seca, na qual encontrou-se imagens com menor cobertura de nuvens, condição essencial para interpretação de alvos. Estas passaram por técnicas de processamento de imagens no software ArcGis 9.0 (modelo linear de mistura espectral, segmentação e classificação não supervisionada,pautando-se no algoritmo Isoseg), interpretação visual e técnicas de Geoprocessamento e Sensoriamento Remoto. DESENVOLVIMENTO A pesquisa foi desenvolvida no municipio de Matões localizado no Estado do Maranhão que possui uma área territorial de 2.107,403 Km², o município possui limites ao norte com Timon, ao sul com a cidade de Parnarama, ao leste com o rio Parnaíba e Teresina e ao oeste com Caxias (MARANHÃO, 2010). Com relação ao sensoriamento remoto e as imagens orbitais Florenzano (2008), destaca a importância de conhecer seus principais fundamentos e conceitos: tipo de satélite (órbita, altitude, horário etc.), as características do sensor (resolução, faixa espectral em que funciona, ângulo de 103

104 visada etc.), interação da energia eletromagnética com os objetos e fatores que interferem nessa interação (época do ano, horário, atmosfera, umidade etc.). No mapa de uso e ocupação da terra de Matões/MA para o ano de 2008 (Mapa 1), apresenta as principais classes de uso do município. Mapa 1 - Uso e cobertura da terra no município de Matões referente ao ano de 2008 Fonte: Andrade, Deste modo, percebe-se no mapeamento acima que os tipos mais expressivos são água, vegetação, solo exposto e plantações (eucaliptocultura). Já, diante do mapa de uso da terra do município com data de 2015 (Mapa 2) observa-se um cenário diferente se comparado ao mapa anterior com data de Mapa 2 - Uso e cobertura da terra no município de Matões referente ao ano de 2015 Fonte: Andrade,

105 Por conseguinte, buscando auxiliar no entendimento dos mapas elaborou-se uma tabela (Tabela 1), a qual indica a área compreendida em cada tipo de uso tanto em hectares. Tabela 1 - Uso e cobertura da terra no período Área (ha) e (%) Variação no Classes Nome período (%) 1 Vegetação , ,3 1,79 2 Solo exposto , ,03-5,11 3 Plantação de eucalipto , ,34 6,87 4 Água 767 3, ,33-3,55 Total Fonte: Andrade, Em 2008, dos hectares (área urbana e rural) considerados, a vegetação representa 48, 51% (9.585 ha), solo exposto 16,14% (3.190 ha), e a água representa 3,88% (767 ha) do território analisado, o uso do território para cultivo do eucalipto representou 31,47% (6.221 ha) conforme aponta a tabela 1. Em 2015, dos hectares considerados, a classe de vegetação representa 50,3% (9.938 ha), a de solo exposto 11,03% (2.180 ha), as de água 0,33% (67 ha) e o uso da terra para cultivo do eucalipto representou 38,34% (7.578 ha) da paisagem analisada conforme aponta a tabela 2. Comparando o uso e cobertura da terra entre os anos de 2008 e 2015 é possível verificar modificações contundentes. Os dados revelam que houve um aumento de algumas classes e decréscimo de outras, o que pode ser explicado mediante vários fatores. O crescimento das áreas destinadas ao cultivo do eucalipto teve aumento de 6,87% e a vegetação natural recuperou-se 1,79%. Em comparação houve decréscimo de 5,11% do solo exposto e 3,55% do total de água superficial disponível, conforme aponta a tabela. A comparação entre os dados dos mapas de uso de 2008 e 2015 revelou que houve um aumento da vegetação da área quando comparado com ano de Uma possível explicação que poderia justificar tal aumento é que áreas de reflorestamento de eucalipto antigas tem resposta espectral semelhante à das matas nativas devido seu vigor, diferentemente de áreas novas de reflorestamento. Isso acontece porque o eucalipto jovem absorve muita água para seu desenvolvimento, o que reflete em uma alta resposta espectral de sua copa nas bandas 3 e 4 do sensor TM do Landsat, o que permite sua diferenciação das florestas naturais. Quando atinge a maturidade, o eucalipto absorve uma quantidade de água semelhante á de florestas naturais e sua copa passa apresentar vigor vegetativo semelhante ao de vegetação natural. Deste modo, apesar do esforço de campo, é possível que algumas manchas de reflorestamento tenham sido mapeadas como áreas de vegetação natural. Em contrapartida, houve redução da classe solo exposto quando comparado os dois mapas, uma explicação para esse fato se dá pela intensificação do processo de reflorestamento com eucalipto, 105

106 que consequentemente reduz a quantidade de exposição do solo da região. Ademais, destaca-se que nesse processo de reflorestamento, o solo é corrigido com uso de alguns produtos, e nem sempre a cobertura do mesmo vai indicar uma boa qualidade, podendo ocorrer perda de nutrientes e acelerar o processo de erosão. Por se tratar do reflorestamento com uma mesma espécie pode ocorrer mudança na dinâmica da área, pois a vegetação anterior era heterogênea mantendo o equilíbrio entre a fauna e a flora da região. Com a supressão desta, a dinâmica natural e social foi afetada, pois não se levou em consideração os valores nativos presentes na área ocasionando uma série de impactos. A redução da quantidade de água superficial apresentada na comparação dos mapas de uso, explica-se que em imagens Landsat os cursos d água de pequeno porte são difíceis de serem detectados, e são estes tipos de cursos existentes no município em estudo. Portanto, o resultado sobre esta classe, pode estar equivocado já que a área do município é drenada por diversos riachos, mas o presente estudo não possui dados concretos sobre a real situação destes, não podendo informar possíveis impactos sobre os mesmos, decorrentes do cultivo do eucalipto. CONCLUSÃO Com os resultados obtidos, entende-se que a classificação e mapeamento da terra e ocupação do solo do município de Matões, mostrou ser um importante instrumento na análise das condições ambientais, uma vez que possibilitou identificar e quantificar quais são os tipos de uso da área de estudo e quais foram as principais transformações desses tipos de uso entre os anos de 2008 e Deste modo, dados de sensores remotos mostram-se adequados para a identificação e caracterização de paisagens, permitindo o levantamento de suas potencialidades e fragilidades frente à ocupação humana constituindo uma boa alternativa para estudos em nível local. REFERÊNCIAS FLORENZANO, T. G. (Org). Geomorfologia: conceitos e tecnologias atuais. São Paulo: Oficinas de Textos, MARANHÃO. Plano Territorial de desenvolvimento Sustentável. Território Cocais. São Luís: COOSPAT,

107 O CARSTE DE CAROLINA-MA COMO UM PATRIMÔNIO GEOMORFOLÓGICO Edelson Leitão Maciel Estudante de Graduação-Geografia Universidade Estadual do Maranhão Claudio Eduardo de Castro Professor Dr. de Pós-graduação em Geografia Universidade Estadual do Maranhão Antonia Rejane Cavalcante Morais Estudante de Pós-Graduação Universidade Estadual do Maranhão Eixo temático: Paisagem, Geodiversidade e Patrimônio Geomorfológico Resumo: A pesquisa visa mostrar o patrimônio geomorfológico existente no município de Carolina- MA localizado na mesorregião sul maranhense. Utilizando de informações decorrentes de levantamentos bibliográficos, é com essa base teórica aliado aos trabalhos em campo onde analisouse a diversidade geomorfológica do município em questão. Neste sentido foi possível realizar a identificação do seu patrimônio geomorfológico. Tornando assim viável o estudo voltado a diversidade geomorfológica no arenito, dentre estas inúmeras variedades de formas relevo podemos destacar as seguintes estruturas que são os (chapadões, chapadas, mesas e carste) onde se fez suas identificações e como também os principais processos que levaram a modelação e a sua estruturação. Palavras-chave: Carolina-MA. Patrimônio Geomorfológico. Abstract: The research aims to show the geomorphological patrimony existing in the municipality of Carolina-MA located in the mesoregion south of Maranhão. Using information derived from bibliographical surveys, it is with this theoretical basis allied to the work in the field where the geomorphological diversity of the municipality in question was analyzed. In this sense, it was possible to identify its geomorphological heritage. Thus making possible the study geomorphological diversity in the sandstone, among these numerous varieties of relief forms we can highlight the following structures (chapadões, chapadas, mesas and karst) where their identifications were made and also the main processes that led to modeling and structuring. Key words: Carolina-MA. Patrimony Geomorphological. 107

108 INTRODUÇÃO Como patrimônio geomorfológico podemos considerar um conjunto de formas, o qual, pela sua estética e raridade deve ser preservado e valorizado. Esse patrimônio geomorfológico integra o que Nascimento et al (2008, p. 10) define como geodiversidade: a diversidade de características, conjunto, sistemas de processos geológicos (substrato), geomorfológico (formas de paisagens) e do solo. O patrimônio geomorfológico é caracterizado por um conjunto de formas que podem ser percebidas na paisagem e a todos os processos associados aos efeitos endógenos e exógenos que nelas estão inseridos. Todos esses processos podem ser percebidos nas mais diversas paisagens cotidianas, porém as que se destacam, devem ser elencadas e estudadas para avaliação de seu potencial geodiverso. O município de Carolina, no estado do Maranhão, apresenta formas e estrutura modeladas em arenito que vem passado por um intenso processo de intemperismo, expressas em chapadões, chapadas, mesas e carste. Essa geomorfologia característica pode ser considerada como locais de interesse geomorfológico. Dos aspectos mais relevantes dessa diversidade geomorfológica, daremos atenção aqui à área com atributos cársticos desse município. Conforme Kohler (1981 apud Guerra, 1998), quando diz que Geomorfologia Cársticas é o estudo da forma, gênese e dinâmica dos relevos elaborados sobre rochas solúveis pela agua, tais como as carbonáticas e os evaporitos, e mesmos, rochas menos solúveis, como os quartzitos, granitos e basaltos, entre outros. As estruturas geomorfológicas em arenito apresentadas pelo município são propicias paras a formação do Carste. Estas estruturas areníticas na presença da água apresentam um grau de dissolução aliado ao transporte do material rochoso, características fundamentais para a formação das estruturas cársticas em rochas não carbonáticas. Portanto é necessário haver um processo de dissolução, isso independente das rochas encaixante, e o resultado dessa associação de eventos e que deram origens as formas hoje existem no município. A geomorfologia Cárstica pode ser entendida como uma associação de processos endógenos e exógenos, essa dinâmica vem ocorrendo no município aqui em questão que dará a origens as formas do exocarste e endocarste. O CARSTE EM CAROLINA-MA O município de Carolina - MA (Figura 1) faz parte da mesorregião sul maranhense, tendo como confrontantes ao norte os municípios de Estreito, São Pedro dos Crentes e Feira Nova do Maranhão; a leste o município de Riachão; a oeste o estado do Tocantins. (IBGE, 2016) 108

109 Figura 1: Localização de Carolina- Ma Fonte: Própria pesquisa, (2017). Carolina detém em seu território a maior área do Parque Nacional da Chapada das Mesas, apresentando características fitogeográficas típicas do bioma cerrado como uma grande diversidade de fauna e flora. Conforme Marques (2012, p. 48) [...] a região da chapada das mesas, que está inserida no bioma cerrado e se caracteriza por uma grande biodiversidade. Possui também uma diversidade relacionada às formas geomorfológicas (Figura 2). A peculiaridade apresentada neste conjunto geomorfológico é uma predominância de arenitos, e que geralmente podem aparecer intercaladas por machas basálticas. De acordo Casseti (2010), as formas mais comuns nestas estruturas caracterizadas por chapadões, chapadas e mesas, em ordem de grandezas. Estas formas são mantidas à superfície, ou por camadas basálticas ou por sedimentos letificados de maior resistência. O modelamento do relevo da região, onde vem ocorrendo um intenso processo de intemperismo através do efeito físico e químico, esculpe e modela as estruturas, criando os depósitos de arenito. Para Casseti (2010), a restruturação morfológica e o desenho característico da chapada ocorreram no período geológico do Cretáceo. Relacionado às formas originadas por todo esse processo de restruturação e a modelagem da estrutura morfológica da região, podemos destacar as mesas e chapadas residuais e a presença de Carste em arenito. 109

110 Figura 2: Mapa Geomorfológico e suas respectivas formas de relevo Fonte: própria pesquisa, (2017). O Carste representa uma forma de relevo esculpido pela ação da água através da dissolução do material rochoso, predominantemente. Conforme Cavalcante et al (2012), tal ambiente é caracterizado, principalmente, pela circulação de água em superfície e conta com a presença de cavernas. As rochas areníticas apresentam como características espaços porosos que favorecem a penetração da água, e a diluição do material rochoso. Todos esses processos de intemperismo a torna friável, favorecendo o transporte do material erodido, formado seus condutos, favorecendo o surgimento de Carste em rochas não carbonáticas. É o que afirma Cavalcante et al (2012), quanto ao grau de solubilidade das rochas é classificado seguindo os critérios da ordem de maior propensão de ser solúvel: calcário, dolomito, mármore, arenito, quartzito, granito, formação ferrífera, entre outras (vide carste). As características advindas do carste em arenitos, confere à paisagem formas ruiniformes e geomorfologias internas e externas muito singulares. Que é ressaltado por Brilha (2005), trata-se de elementos da geodiversidade sob as esferas da geologia e da geomorfologia. A infiltração da água nas rochas foi fundamental para gêneses das cavidades, provocando um intenso processo de dissolução e erosão da sua estrutura rochosa. Para Suguio (2010, p.278) O relevo cárstico se caracteriza por feições superficiais do terreno, que resultam de importantes processos de dissolução, tanto superficiais como subterrâneas. Presumindo o que foi dito pelos autores, as estruturas cársticas são formas de relevo distintas podendo constituir um sistema de canais horizontais e verticais através de fraturas e fendas de 110

111 variadas espessuras, a gêneses da formação das cavernas originam condutos onde evidencia da ação água no processo de dissolução da rocha matriz fazendo surgir o ambiente cavernícola, com seus processos dinâmicos, constituindo um papel fundamental na geodinâmica, e fator de influência da diversidade biológica. CONCLUSÃO Hoje observamos que temas vinculados à temática do patrimônio geomorfológico têm despertado interesse e vem sendo abordado cada vez mais, isso graças à valorização que as paisagens têm recebido nos diferentes âmbitos da atividade social. Fomentar uma discussão relacionada ao tema proporciona uma maior difusão de conhecimentos, nesse sentido apresentar lugares nos quais há variados aspectos da geodiversidade é uma das formas de enriquecer as discussões. O município de Carolina - MA, aqui apresentado, apresenta alto potencial geodiverso, manifesto pelo seu patrimônio geomorfológico, em suas estruturas como os chapadões, as chapadas e mesas, os morros residuais e, principalmente o carste em arenito, uma modalidade peculiar de formas internas (endocarste) e externas (exocarste). REFERÊNCIAS BILHA, J. Patrimônio Geológico e Geoconservação: A conservação da natureza na sua vertente biológica. Braga: Editora Palimage CASSETTI, V. Elementos de Geomorfologia. Goiânia: UFG,2010. Disponível em: < >. Acesso em: 17 ago CAVALCANTI, L. F.; et all. Plano de ação nacional para a conservação do patrimônio espeleológico nas áreas cársticas da Bacia do Rio São Francisco. Org. CAVALCANTI, Lindalva Ferreira [et al.]. Brasília: ICMBio, GUERRA, Antonio Jose Teixeira; CUNHA, Sandra Baptista da. Geomorfologia: uma atualização de bases e conceitos. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, IBGE,Mapas.Disponívelem: acessado em 09 de setembro 2017 NASCIMENTO, M. A. L.;et all. Geodiversidade, geoconservação e geoturismo: trinômio importante para a proteção do patrimônio geológico. Catalogação da Publicação na Fonte. UFRN / Biblioteca Central Zila Mamede, MARQUES, A. R. Saberes geográficos integrados aos estudos territoriais sob a ótica da implantação do Parque Nacional da Chapada Das Mesas, sertão de Carolina/Ma f. Tese (Doutorado) Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Estadual Paulista, Presidente Prudente, SUGUIO, K. Geologia do Quaternário e mudanças ambientais. 1. ed. São Paulo: Oficina de Textos,

112 PAISAGEM LITORÂNEA PIAUIENSE: GEODIVERSIDADE SUA CONSERVAÇÃO Eliethe Gonçalves de Sousa Universidade Estadual do Piauí UESPI, CCM Graduanda em Geografia João Pedro Ribeiro da Silva Universidade Estadual do Piauí UESPI, CCM Graduando em Geografia Laryssa Sheydder de Oliveira Lopes Universidade Estadual do Piauí UESPI, CCM Doutora em Geografia Eixo temático: Paisagem, Geodiversidade e Patrimônio Geomorfológico Resumo: A geodiversidade é uma área científica em que o saber elaborado se faz imprescindível, principalmente nos dias atuais, uma vez que os recursos naturais passam por intensas explorações pelas atividades humanas. Diante disso, surgiu essa proposta de estudo, intitulada Paisagem litorânea piauiense, Geodiversidade sua conservação, objetivando identificar a diversidade (abiótica) do litoral piauiense, as dinâmicas estabelecidas com outros sistemas ambientais e a consequente integração às práticas sociais ali desenvolvidas. Os procedimentos metodológicos se deram na forma de levantamento bibliográfico com pesquisadores como Lopes (2011) e a pesquisa direta, elegendo, como recorte espacial, alguns geossítios locais que permitiram a elaboração de um quadro de anotações gerais. Assim, o estudo traz a tomada de conhecimento de alguns sítios geomorfológicos litorâneos, sua geodiversidade (paisagísticas), usos e consequentes estados de conservação revelando, pois, os limites e as potencialidades tanto econômicas, quanto cultural e social. Palavras-chave: Paisagem Litorânea. Geodiversidade. Geoconservação. Abstract: Geodiversity is a scientific area in which elaborate knowledge becomes essential, especially in the present day, since natural resources undergo intense exploration for human activities. In the light of this, this study proposal, called the piauiense Coastal Landscape, Geodiversity and its conservation was born, aiming to identify the (abiotic) diversity of the Piauí coast, the dynamics established with other environmental systems and the consequent integration of the social practices developed there. The methodological procedures were in the form of a bibliographical survey with researchers such as Lopes (2011) and direct research, choosing, as a 112

113 spatial clipping, some local geosites that allowed the elaboration of a general annotations chart. Thus, the study brings the knowledge of some coastal geomorphological sites, their geodiversity (landscape), uses and consequent conservation states, thus revealing the economic, cultural and social limits and potentialities. Keywords: Coastal Landscape. Geodiversity. Geoconservation. INTRODUÇÃO O Piauí possui o menor litoral do Brasil, com uma linha de costa em torno de 66 km. A zona costeira compreende uma área aproximada de km², que apresentam, em seu limite fronteiriço, o estado do Ceará a Leste e à Oeste o estado do Maranhão (BAPTISTA; SILVA, 2014). Em seus aspectos físicos, o litoral do Piauí se situa naquilo que Lima (1987) definiu como nos terrenos Quaternários do Piauí. Este é caracterizado como uma faixa litorânea de pequena extensão que se localiza entre a baía das Canárias (foz do Parnaíba, limite com o Maranhão) e a barra do Timonha (limite com o Ceará). Esta faixa paralela à costa é formada pelo delta do Parnaíba, por dunas móveis e planícies flúvio-marinhas, que resultam do trabalho combinado dos agentes fluvial, marinho e eólico (LIMA, 1987, p. 24). Tais áreas são dotadas de processos particulares quanto a sua estrutura e formas, como por exemplo, baixas arenosas; planícies flúvio-marinhas e terraços de várzeas; formações de praias, dunas móveis e restingas; recifes areníticos, afloramentos graníticos, baías etc. que são características de interesse nos estudos sobre a geodiversidade e sua inerente conservação. A geodiversidade, apesar de ser um campo de estudo bastante recente, tem fundamental importância, uma vez que se apropria dos meios físicos para análise e proporciona a estes os seus melhores fins, agindo numa dinâmica integradora e sustentável. Por geodiversidade, subentende-se que é a diversidade de características, conjuntos, sistemas, processos geológicos (substrato), geomorfológicos (formas de paisagem), e de solo dotados de valores intrínseco, ecológicos e antropológicos (LOPES, 2011, p. 26). Relacionado a tudo isso se encontra, portanto, a conceituação de paisagem; a qual em sua essência traz a percepção aquilo que é captado pelos sentidos. Entretanto, aquilo que é possível à vista em um horizonte, dota de um sistema explicativo (descritivo) ordenado. Em seu sentido, mais natural, Bertrand (2004), por exemplo, a elabora de forma bem mais precisa (procurando os mecanismos gerais da paisagem) e, muito embora, deixe um pouco de lado os ambientes que tenham maior atuação antrópica, não descarta tal elemento na constituição dessas, tendo, pois, a ação humana reflexo, de forma direta, na paisagem. Segundo Bertand (2004, p. 141), paisagem é, em uma determinada porção do espaço, o resultado da combinação dinâmica, portanto instável, de elementos físicos, biológicos e antrópicos que, reagindo dialeticamente uns sobre os outros, fazem da paisagem um conjunto único e indissociável, em perpétua evolução. 113

114 Isso, já implica diretamente àquela mesma delimitação descritiva feita aqui anteriormente sobre as características do Litoral do Piauí, uma vez que sua metodogia reporta ao trato dos sistemas e, Bertrand (2004), com seu sistema de classificação, delimita o comportamento de seis níveis têmporo-espaciais que dão conta da descrição paisagística de forma dinâmica e integrada: a zona, o domínio, a região, o geossistema, o geofácies e o géotopo. Evidenciado, portanto, a descrição natural das áreas de estudo, sua relação com os estudos da geodiversidade, a acentuada relevância das paisagens no consumo desses meios abióticos e a intercomunicação dos conhecimentos na área da geográfica física, parte-se, pois, ao estudo mais específico dos trechos de estudo selecionado trazendo os consequentes resultados e discussões. Esta investigação apoiou-se em procedimentos metodológicos na forma de levantamentos bibliográficos, tendo como referência pesquisadores como Lopes (2011, 2017), assim como na consequente pesquisa direta, viabilizada em função de um trabalho acadêmico de aula de campo, por meio do qual foram eleitos, como recorte espacial, alguns geossítios locais delimitados no mapa geoturístico do litoral do Piauí elaborado por Lopes (2017) e que permitiram a elaboração de um quadro de anotações gerais. GEOMORFOSSÍTIOS LITORÂNEOS PIAUIENSES: DINÂMICAS, USOS E CONSERVAÇÃO As áreas costeiras são dotadas de vastos atributos de interesse para a aplicação dos estudos da geodiversidade. De acordo com Lima (1987), os caracteres físicos locais são resultantes do desempenho dos agentes fluvial, marinho e eólico e constituem-se na formação do Delta do Parnaíba, dunas móveis (das dunas móveis e restingas até os limites do estado à leste existe a presença de áreas em condições alagadiças - com alguns rios - e formação de pequenos mangues, quais encontram condições favoráveis de desenvolvimento nas embocaduras das planícies flúvio-marinhas que afloram por conta da maré baixa, ganhando destaque, nessa dinâmica, os recifes areníticos Itaqui) e as planícies flúvio-marinhas (baixos cursos, próximo à foz dos pequenos rios que drenam os tabuleiros pré-litorâneos e correm diretamente para o oceano, recebendo também sedimentos marinhos, além dos fluviais, nos seus terraços de várzea) (LIMA, 1987). Ainda de acordo com Lima (1987, p. 25), na região litorânea ganha destaque as formações praiais (da região do delta do Parnaíba até a região de dunas móveis e restingas). Itaqui consta com este atributo, dotando também de recifes de arenito e eolianitos (BAPTISTA; SILVA, 2014). É uma das praias mais importantes do litoral piauiense do ponto de vista geológico-geomorfológico. Situando-a no tempo geológico, é uma das formações mais recentes, com cerca de 2000 à 2500 anos A. P. (LOPES, 2017). 114

115 As áreas com presença de recifes de arenito são zonas que apresentam indicativos de variações climáticas resultado do processo de regressão e transgressão marinha. Tais elementos, portanto, se originaram no baixo nível marinho do Holoceno Superior o que fornece informações sobre o ambiente costeiro existente no período histórico de sua formação (dinâmica eólica, condições climáticas etc.) (LOPES, 2017). A Praia de Macapá, estando também sob o atributo de faixa praial, apresenta, ainda, atributos de uma planície flúvio-marinha ocasionada pela existência dos rios Cardoso e Camurupim. Em sua dinâmica, apresenta uma taxa de fornecimento de sedimentos inferior à sua capacidade de retrabalhamento processo ligado diretamente à ação das ondas (LOPES, 2017). Tomado conhecimento disso, verifica-se que a praia de Macapá não apresenta grandes obstáculos rochosos na porção submersa adjacente à linha da praia o que ocasiona o acentuado processo erosivo marinho, assomando a esse fator, o crescimento do cordão arenoso na margem oposta, vindo a provocar a deformação no trem de ondas, contribuindo assim para o aumento da erosão nessa praia (LOPES, 2017, p. 184). Sendo relativamente preservada, Macapá apresenta um processo intenso da erosão devido a influência das ondas e, secundariamente, das marés. Dessa ação natural, ocorre, ainda, a deposições de sedimentos, surgindo bancos de areias. Quanto às práticas econômicas, se sobressaem a cata do caranguejo, exploração de salinas e o próprio turismo (ecológico). Há, por parte destas, o zelo pelos regulamentos ambientais estabelecidos, até mesmo porque o entorno daquele local é área de proteção, visto que há a presença do cavalos-marinho (Barra Grande), tendo inclusive projetos de conservação nas proximidades (Peixe-boi em Cajueiro da Praia). Cajueiro da Praia, em relação às outras praias de estudo, possui uma linha de praia bastante estreita e não existe a presença de dunas móveis, mas sim de dunas fixas que tem a classificação de 2 geração. Apresenta no extremo leste feições geomorfológicas denominadas de terraços de abrasão, tendo formação durante o Período Terciário. Em seus atributos também apresenta os recifes de arenito que, no caso, agem como barreira natural de proteção da costa contra o processo de erosão. No passado, existiam falésias, que decorrente dos processos erosivos e do avanço do mar formaram recifes de arenitos, estes configuram-se como um quebra-mar, dissipando a energia das ondas incidentes e protegendo a costa da erosão (LOPES, 2017). Estes recifes também abrangem outras extensões como a praia de Itaqui e Barra Grande, e podem constituir-se enquanto habitat para as diversas espécies de animais marinhos (BAPTISTA; SILVA, 2014), sendo enquadrado, ainda, como área de preservação ambiental (santuário de preservação para espécies de peixe-boi). Do ponto de vista físico e, de acordo, ainda, com Baptista e Silva (2014), a Lagoa do Portinho é caracterizada como planície lacustre, se constituindo, pois, em um atributo geomorfológico. Essa é 115

116 uma área que a dispõe de inúmeras outras lagoas, cuja formação é influenciada pelos fatores naturais das dunas, da ação dos ventos (eólica) etc. Muito embora a Lagoa do Portinho apresentasse um considerável volume de água, em função, principalmente das chuvas ocorridas nesse período do ano, até o ano de 2016 esta se encontrava totalmente seca. Os motivos da estiagem têm razão em fatores naturais, logo a região litorânea apresenta uma dinâmica muito intensa, mas também é intimamente influenciado, ainda, pelos fatores antrópico, uma vez que é sabido da existência de barragens - à montante - no trecho do rio que a alimenta e, desse modo, impossibilitando a chegada da água até a lagoa. Por fim, tem-se a maior planície flúvio-marinha do litoral que originou um Delta na desembocadura do rio Parnaíba, que tem sua nascente na chapada das mangabeiras. Este, com mais de 80 ilhas e 5 canais, inicia com a bifurcação do rio Parnaíba formando os braços do Igaraçu e de Santa Rosa, de onde subdivide-se em vários braços e igarapés que se intercalam com as diversas ilhas baixas e arenosas (LIMA, 1987). Segundo Cavalcanti, Esta unidade pode ser compreendida como uma área de transição, com interpenetração do ambiente marinho e de água doce, tendo características fortemente condicionadas pela alta salinidade e baixas concentrações de oxigênio (2004, p. 111). Provavelmente, sua formação se deu após a última fase de submersão marinha, durante o Holoceno (LIMA, 1987), onde, com a descida do nível relativo do mar subsequente ao máximo transgressivo de 5100 anos, resultou na progressão da linha costeira (associada à desembocadura). CONCLUSÃO A partir do exposto, foi possível conhecer alguns pontos litorâneos com sua geodiversidade e consequentes estados de conservação, além dos usos, uma vez que são apropriados pelas mais diversas práticas e, em maior demanda, a do turismo. Verificou-se que muitos desses pontos mostraram-se enquanto potencialidades, podendo virem a serem ocupados por outras práticas sociais, tal qual a Praia de Itaqui, que apesar de apresentar competência, sobretudo, para o turismo de atributivo da característica cultural, funciona, no entanto, e, no contexto estrutural econômico de sociedade, somente enquanto áreas de especulação. É válido lembrar ainda que, integrada às formas de apropriação e usos encontram-se as questões ambientais, que, ora potencializa, ora destitui o valor. E, aqui, aquela integridade intrínseca à paisagem, ganha importância. Exemplifica bem o caso a Lagoa do Portinho que sofreu relativo abandono, inclusive do poder público e que hoje já não se pode considerá-la como algo potencialmente turístico. 116

117 Diante disso, são incluídos, também, na organização desses espaços, os impactos ambientais, intimamente relacionados à prática social que, como já e tomado consciência, é passível de exercer suas influências, dessa forma, não havendo de ser diferente sua atuação nessas ambiências, do ponto de vista tanto benéfico quanto maléfico. Quanto aos usos, especificamente, foram notáveis nas suas mais diversas formas em paralelo à sua essência abiótica. O Delta do Parnaíba é uma das situações peculiares quanto à positividade das práticas/ações sociais. Sua particularidade paisagística associada à relativa conservação (tem-se, para tanto, a execução de alguns projetos de preservação na área) permite que ali seja revelada a tendência do turismo alternativo (em maior destaque) e a consequente apreciação do exótico. Assim, portanto, verificou-se que estes locais urgem por uma maior valorização e aponta a implementação da geoconservação enquanto subsídio de desenvolvimento sustentável da região, uma vez, que tais atrativos, são, também, fatores desencadeadores das transformações socioeconômicas daquelas comunidades locais. REFERÊNCIAS BAPTISTA, E. M. C.; SILVA, B. R. V. Roteiro geológico-geomorfológico litoral piauiense: caminhos para a geoconservação. Geonorte, Manaus, n. 1, p , BERTRAND, G. Paisagem e geografia física global esboço metodológico. RA E GA, Curitiba, n. 8, p , CAVALCANTI, A. P. B. Análise integrada das unidades paisagísticas na planície deltaica do rio Parnaíba-Piauí/Maranhão. Mercator, Fortaleza, n.6, p , LIMA, I. M. F. Relevo Piauiense: Uma Proposta de Classificação. Carta Cepro, Teresina, v. 12, p , LOPES, L. S. O. Geoconservação e geoturismo no Parque Nacional de Sete Cidades, Piauí f. Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente) - Universidade Federal do Piauí, Teresina, Avaliação do patrimônio geomorfológico do litoral piauiense f. Tese (Doutorado em Geografia) - Universidade Federal de Pernambuco. Recife,

118 RIOS DO LITORAL PIAUIENSE: GEOMORFOLOGIA, GEODIVERSIDADE E GEOCONSERVAÇÃO Luana Shara do Nascimento Pereira Universidade Estadual do Piauí UESPI Discente do Curso de Licenciatura em Geografia lua_nascimento21@hotmail.com Elisabeth Mary de Carvalho Baptista Universidade Estadual do Piauí UESPI Docente do Curso de Licenciatura em Geografia baptistaeli@gmail.com Liége de Souza Moura Universidade Estadual do Piauí UESPI Docente do Curso de Licenciatura em Geografia liege.moura@hotmail.com Eixo temático: Paisagem, Geodiversidade e Patrimônio Geomorfológico Resumo: Os cursos d água fluvial e suas formas são constituintes da geodiversidade e assim relevantes para a compreensão da dinâmica natural e para seu aproveitamento socioeconômico. O objetivo deste estudo é conhecer os rios do litoral piauiense como componentes da geodiversidade local com ênfase na geoconservação. Os procedimentos metodológicos incluíram pesquisa bibliográfica, estudo cartográfico e imagético, pesquisa de campo e análise e síntese. Os aspectos morfológicos dos principais rios do litoral do Piauí em trechos de seu baixo curso, a partir de observação e do estudo cartográfico foram levantados a partir de características fisiográficas e da rede de drenagem como tipo de canal, de fluxo e padrão de drenagem, predominando os canais meandrantes, fluxo laminar e drenagem dendrítica. Para o processo de geoconservação, estes cursos fluviais, enquanto componentes da geodiversidade local, apresentam elementos e valores educativos a partir de sua geomorfologia. Palavras-chave: Morfologia Fluvial. Litoral Piauiense. Geodiversidade. Geoconservação. Abstract: The fluvial water courses and their forms are constituents of the geodiversity and thus relevant for the understanding of the natural dynamics and for their socioeconomic utilization. The objective of this study is to know the rivers of the Piauí coast as components of local geodiversity with emphasis on geoconservation. The methodological procedures included bibliographic research, cartographic and imagery study, field research and analysis and synthesis. The morphological aspects of the main rivers of the coast of Piauí in sections of their low course, from observation and the cartographic study were drawn from physiographic features and the drainage network as type of 118

119 channel, flow and drainage pattern, predominating meandering channels, laminar flow and dendritic drainage. For the geoconservation process, these fluvial courses, as components of local geodiversity, present educational elements and values based on their geomorphology. Palavras-chave: Fluvial Morphology. Piauí Coast. Geodiversity. Geoconservation. INTRODUÇÃO Os elementos naturais relacionados à geomorfologia ganham destaque na composição da paisagem, pois se constituem na base sobre a qual a paisagem se desenvolve, regulam a cobertura vegetal e muitas atividades humanas (GUERRA; JORGE, 2014). Embora nos estudos acerca da geodiversidade não se tenha identificado referências específicas relacionadas à geomorfologia fluvial a partir de suas características morfológicas entende-se que através do seu estudo vários dos valores considerados como indicadores de geodiversidade podem ser mensurados (SILVA; RODRIGUES, 2010, p. 222). Destarte, a valorização da geodiversidade tem como premissa contribuir para um maior conhecimento sobre os atributos geológico-geomorfológicos presentes na superfície terrestre visando sua conservação e/ou uso adequado a partir das características que apresentam através do processo de geoconservação. O conhecimento sobre os elementos naturais que constituem o espaço litorâneo piauiense pode vir a contribuir para uma melhor compreensão de sua geodiversidade e em decorrência possibilitar novas análises e perspectivas de geoconservação destes através de, se necessário, usos e aproveitamentos sustentáveis. Deste modo, o objetivo deste trabalho é conhecer os rios do litoral piauiense como componentes da geodiversidade local com ênfase na geoconservação. Na realização deste estudo foram adotados os seguintes procedimentos: pesquisa bibliográfica, por meio de livros e artigos, estudo cartográfico e imagético com análise de mapas, cartas e imagens do Google earth e pesquisa de campo, através da observação direta e registro fotográfico. Para interpretação das informações obtidas utilizou-se o método de análise e síntese. GEOMORFOLOGIA FLUVIAL LITORÂNEA, GEODIVERSIDADE E GEOCONSERVAÇÃO A Geomorfologia Fluvial abrange o estudo dos cursos de água e o das bacias hidrográficas. Ela tem relevante importância na ciência geomorfológica, pois faz a relação a partir do conhecimento das características morfológicas e dos componentes responsáveis pela forma natural dos rios (CUNHA, 1995). A morfologia fluvial diz respeito a configuração do curso d água em relação aos aspectos da caracterização de seus elementos como padrões de canal (meandrantes, anastomosados, retilíneos, deltáicos, ramificados, reticulados e irregulares) e tipos de fluxo (laminar, turbulento corrente, turbulento encachoeirado entre outros) (CHRISTOFOLETTI, 1974; CUNHA, 1995), sendo 119

120 denominada também Fisiografia Fluvial tratando ainda dos tipos de leito e rede de drenagem (CUNHA, 1995). Os cursos d água fluvial e suas formas são também constituintes da geodiversidade e como tal são relevantes para a compreensão da dinâmica natural e para seu aproveitamento socioeconômico. No estudo da fisiografia e da morfologia fluvial reconhece-se diferentes perspectivas de análise que agregam a caracterização dos tipos de leito e canais, terraço e rede de drenagem (CHRISTOFOLETTI, 1974; CUNHA, 1995), relacionando-se também a análise morfométrica que delineia outros parâmetros influenciados pelo relevo e vegetação. A geodiversidade conceituada como sendo o conjunto de rochas, minerais e fósseis ou como a variação natural de aspectos geológicos, consiste também na ligação entre pessoas paisagens e culturas com a biodiversidade (GUERRA, JORGE, 2014). Importa indicar que a geodiversidade relacionada ao litoral trata de identificação das estruturas geológicas e/ou geomorfológicas que caracterizam esses espaços e cujo conhecimento e valorização das mesmas podem facilitar a conservação de outros elementos associados como a própria biodiversidade e por que não a componente socioeconômica local. Quanto à geoconservação, relaciona-se a proteção e preservação da diversidade natural, visando proteger e manter a integridade dos locais, minimizar os impactos adversos importantes em termos deste processo, que visa interpretar a geodiversidade para os visitantes de áreas protegidas e contribuir para a manutenção da biodiversidade e dos processos ecológicos dependentes da geodiversidade (OLIVEIRA, PEDROSA, RODRIGUES, 2013). Sharples (2002, p.79) indica então que o conceito de geoconservação relaciona-se a preservação da geodiversidade ou diversidade natural considerando os significativos aspectos e processos geológicos (substrato), geomorfológicos (formas de paisagem) e de solo, mantendo a evolução natural (velocidade e intensidade) desses aspectos e processos. RIOS DO LITORAL PIAUIENSE COMO COMPONENTES DA GEODIVERSIDADE LOCAL A geologia do litoral piauiense está principalmente relacionada à Formação Barreiras com terrenos terciários sobre os quais sedimentos quaternários estão depositados. Na geomorfologia reúne feições típicas destas regiões que nele se destacam proporcionalmente à sua extensão de 66 km, como planícies costeira, fluvial, flúvio-lacustres e flúvio-marinhas, praias, baias, campos de dunas, áreas de alagados de maré ou apicum, e tipos de desembocadura de rios como o delta. Neste contexto, os rios constituem-se componentes da paisagem litorânea e da geodiversidade local cuja morfologia pode ser revelada como valores intrínseco, cultural, funcional, científico e educativo, conforme Gray (2004) indicando-os para o processo de geoconservação. 120

121 Na atividade de campo, realizou-se a observação para a descrição dos principais cursos fluviais do litoral piauiense, tendo sido registrados os pontos de observação em cada um deles, através de GPS, no sentido de estabelecer a localização do trecho delimitado na investigação. Procedeu-se ainda com a descrição dos cursos d água investigados em seus aspectos morfológicos, considerando as características fisiográficas e da rede de drenagem, das margens e formas de uso, identificadas na excursão de campo e através de estudo cartográfico, apresentadas no quadro 1 que indicam os valores da geodiversidade para fins de Geoconservação. Quadro 1 Aspectos geomorfológicos dos rios do litoral piauiense e valores da geodiversidade Localização do Ponto CARACTERÍS de Observação Geologia / Padrão de Tipo de Tipo de TICAS / Valores Geomorfologia Drenagem Canal Fluxo PARÂMETROS Lat. S Long. O RIOS Igaraçu Portinho Cardoso Camurupim Ubatuba , Formação Barreiras / Planície Fluvial Formação Barreiras / Planície Flúvio-lacustre Formação Barreiras / Planície Flúvio-marinha Formação Barreiras / Planície Flúvio-marinha Formação Barreiras; Suíte Chaval / Planície Fluvial Treliça Fonte: Pereira; Baptista; Moura, Deltaico Anastomosado Laminar Dendrítica Meandrante Laminar Paralela Meandrante Laminar Dendrítica Meandrante Laminar Dendrítica Entrelaçado Laminar Intrínseco, cultural, econômico, científico e educativo. Intrínseco científico e educativo. Intrínseco, funcional, científico e educativo. Intrínseco, funcional, científico e educativo. Intrínseco, funcional, científico e educativo. O rio Igaraçu, primeiro braço do Delta rio Parnaíba, apresenta parte de sua vegetação natural e parte antropisada, trecho plano, em área de cais, no qual além do uso turístico e científico, registrouse o uso econômico baseado no comércio artesanal e pesca. O rio Portinho se estabelece, no trecho observado, em uma planície fluvial com área de mangue à margem esquerda e na margem direita com estruturas antrópicas como trapiches (para atracamento de barcos) e edificações. A lagoa do Portinho é importante feição que define a inserção do rio em planície flúvio-lacustre. Inserido em planície flúvio-marinha o rio Cardoso foi observado no seu encontro com o oceano Atlântico na praia de Macapá. Em sua margem direita possui uma vila de pescadores e, na margem esquerda área de mangue, com vegetação típica de litoral e cocais. Também foi observado trecho deste rio, no povoado Mexeriqueira, que se associa a área de salgado ou apicum. O rio Camurupim, foi observado no município de Luís Correia, no povoado de mesmo nome. No leito do rio encontra-se aparente vegetação típica de mapa ciliar e mata de cocal. Possui ainda um pequeno afloramento rochoso, provavelmente decorrente da redução do volume de água no 121

122 período de estiagem. Quanto ao uso, verifica-se em suas margens área residência com edificações e estrutura de ponte com presença de lixo no entorno e sedimentação. O rio Ubatuba ou São João da Barra, ou ainda São João da Praia nasce no Ceará e após receber o Santa Rosa passa a servir de limites entre este estado e o Piauí, até a barra dupla, dele e do Timonha. No trecho observado o rio apresenta-se com estrutura rochosa relacionada à Suite Chaval, destaque na morfologia de seu leito, com aproveitamento para banho. Para este rio dois pontos de observação foram registrados, um no Piauí e outro no Ceará, uma vez que se constitui divisa natural entre os dois estados. Em relação à geoconservação e considerando os valores indicados por Gray (2004), o valor educativo se apresenta, e se destaca para consolidar o conhecimento sobre os cursos fluviais estudados, destacando que os rios em questão enquanto componentes da geodiversidade do litoral piauiense trazem como elementos preponderantes para este processo, de acordo com o que foi descrito no texto, suas formas de canais, presença de áreas de apicum, afloramentos rochosos e o padrão de suas desembocaduras. CONCLUSÃO A pesquisa realizada indicou a relevância do estudo dos rios do litoral piauiense considerando congregar elementos para conhecimento sobre estes, integrado com outros aspectos da dinâmica natural, de sua área de inserção. Cinco cursos d água foram foco desta investigação, a saber: Igaraçu, Portinho, Cardoso, Camurupim e Ubatuba. Os aspectos relacionados à geologia e geomorfologia estudados permitiram análise morfológica visando confirmar os valores para geodiversidade. A partir de observação in loco e do estudo cartográfico realizado alguns aspectos morfológicos foram identificados, em uma projeção preliminar, no que se refere principalmente ao indicativo do tipo de canais, de fluxo e padrão de drenagem, predominando os canais meandrantes, fluxo laminar e drenagem dendrítica. Longe de esgotar o esperado em uma análise da morfologia de bacia, a pesquisa estabeleceu um ponto de partida para um estudo sobre os rios em questão. Do ponto de vista da geoconservação, estes rios, enquanto componentes da geodiversidade local, apresentam elementos e valores para se inserir neste processo a partir de sua geomorfologia. REFERÊNCIAS CHRISTOFOLETTI, A. Geomorfologia. São Paulo: Edgard Blücher / USP, p. 122

123 CUNHA, S. B. Geomorfologia fluvial. In: GUERRA, A. J. T.; CUNHA, S. B. (Orgs). Geomorfologia: uma atualização de bases e conceitos. 2. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil,1995. p GRAY, M. Geodiversity: valuing and conserving abiotic nature. Chichester, England: John Wiley & Sons Ltd., p. GUERRA, A. J. T.; JORGE, M. C. O. Geomorfologia aplicada ao Turismo. In: ARANHA, R. C.; GUERRA, A. J. T. (Orgs.). Geografia aplicada ao Turismo. São Paulo: Oficina de Textos, cap. 3, p OLIVEIRA, P. C. A.; PEDROSA, A. S.; RODRIGUES, S. C. Uma abordagem inicial sobre os conceitos de geodiversidade, geoconservação e patrimônio geomorfológico. Revista Ra ega, Curitiba, v. 29, p , dez/2013. SILVA, J. P.; RODRIGUES, C. Morfologia fluvial como indicador de geodiversidade: exemplos de rios brasileiros. Revista de Geografia, Recife, n. 3, p , (v. especial VIII SINAGEO). SHARPLES, C. Concepts and principles of geoconservation. Published electronically on the Tasmanin Parks & Wildlife Service web site. 3. ed. Set, p. Disponível: < Acesso em: Acesso em: 22. out

124 ESPAÇOS DE BALNEABILIDADE: LAZER, TURISMO, GEOTURISMO E GEOCONSERVAÇÃO Natiele Oliveira de Sousa Turismóloga pela Universidade Estadual do Piauí UESPI natyoliveirasousa@gmail.com Denise Costa da Silva Universidade Estadual do Piauí UESPI Discente do Curso de Turismo silvacostadenise@gmail.com Liége de Souza Moura Universidade Estadual do Piauí UESPI Docente do Curso de Licenciatura em Geografia liege.moura@hotmail.com Eixo Temático: Geoconservação, Geoturismo e Desenvolvimento Local Resumo: Áreas de balneabilidade são espaços de convívio a sociabilidade, ao lazer e recreação, sendo locais, onde acontece o contato direito com o ambiente natural. Através de balneários a concretização do lazer e a atividade turística resgatam essa relação da sociedade com a natureza por meio desses espaços para banho e práticas esportivas. Para um melhor uso desses espaços a sustentabilidade dos mesmos depende de olhar prioritário, através de uma nova tendência de turismo valorizando os recursos naturais. O objetivo deste trabalho é analisar os espaços de balneabilidade como potencial para o lazer, turismo e geoturismo como forma de desenvolvimento da geoconservação. A metodologia, aplicada na realização neste trabalho, consistiu em pesquisa bibliográfica. Os resultados apontam que os espaços de balneabilidade que já existem como espaços de lazer, apresentam potencial para o desenvolvimento do geoturismo, considerando os aspectos geológico-geomorfológicos enquanto atributos da geodiversidade. Palavras-chave: Espaços de balneabilidade. Geoconservação. Geoturismo. Abstract: Areas of bathing are spaces for socializing, leisure and recreation, being local, where the right contact with the natural environment happens. Through the balnearys the realization of leisure and tourism activity rescue this relationship of society and nature through these spaces for bathing and sports practices. For a better use of these spaces, their sustainability depends on prioritizing, through a new trend of tourism valuing natural resources. The objective of this work is to analyze balnearys spaces as potential for leisure, tourism and geotourism as a way of developing geoconservation. The methodology, applied in the accomplishment in this work, consisted in bibliographical research. The results point out that the balnearys spaces that already exist as leisure 124

125 spaces have potential for the development of geotourism, considering the geological and geomorphological aspects that they present as attributes of geodiversity. Key words: Bathing areas. Geoconservation. Geotourism. INTRODUÇÃO Todo espaço é constituído de vários elementos, onde os recursos naturais se organizam de forma a estabelecer diferentes relações, e sua diversidade faz com que as áreas se expandam sendo estes recursos importantes indicando a necessidade de sua preservação e/ou conservação. O espaço, quando utilizado no lazer e turismo, engloba também as áreas de balneabilidade, como usufruto da prática de banho e atividades de recreação. Os balneários são então significativos nessa vertente de uso para o lazer e atratividade turística da sociedade contemporânea, por se tratar de local destinado ao lazer a partir da relação com as águas. A prática da geoconservação é relevante para o meio ambiente, pois possibilita manutenção desses espaços com o intuito de sua permanência. Considerando que os espaços naturais apresentam aspectos da geodiversidade, compreendida, a partir de Gray (2004), como os diferentes aspectos geológicos (minerais, rochas e fosseis), geomorfológicos (formas de relevo, processos) e do solo, estes podem ter um olhar prioritário do geoturismo, associado à geoconservação. Neste aspecto, Nascimento, Ruchkys e Mantesso-Neto (2007, p.21) indicam o geoturismo como um subsegmento do ecoturismo, que necessita da participação da comunidade local, favorece a geração de emprego e de renda; promove a minimização dos impactos ambientais e dos problemas sócio-econômicos; além da conservação do patrimônio natural para as presentes e futuras gerações. O geoturismo sendo considerado como um subsegmento do ecoturismo caracteriza-se pela tendência conservacionista dos ambientes naturais e que também visa o desenvolvimento local, nesse sentido, cabe discutir a utilização de forma consciente destes atrativos naturais, com atributos geológicos e geomorfológicos, fazendo-se necessário conhecer e dotar de condições para a visitação de áreas de interesse para geoconservação. Para a atividade turística torna-se viável os atrativos como fonte de sustentabilidade de localidades e regiões com ênfase em áreas naturais. Com isso, apresenta como tendência os balneários como opção de espaço de uso natural e de conservação. Nesse sentido, é importante ampliar os conhecimentos sobre áreas de balneários em nível nacional, que se destaca pela utilidade para fins de lazer e de turismo, possibilitando a valorização dos atributos da geodiversidade para fins de geoturismo e geoconservação. O objetivo deste trabalho é analisar os espaços de balneabilidade como potencial para o lazer, turismo e geoturismo como forma de desenvolvimento da geoconservação. 125

126 O estudo utilizou como metodologia a pesquisa bibliográfica por meio de livros e artigos, por se tratar de texto de discussão, e o procedimento de análise foi a partir de uma abordagem qualitativa na tentativa de articular os conceitos básicos para a compreensão da temática. ESPAÇOS DE BALNEABILIDADE: ATRIBUTOS NATURAIS E ATIVIDADE TURÍSTICA A atratividade dos elementos que compõe um espaço turístico é bem diversificada, assim, a definição da atratividade turística condiz numa composição de elementos. De acordo com Aguiar (2003, p.114), os atrativos consistem nos recursos naturais, artificiais e nos eventos (oferta) que devem ser capazes de gerar visitas (demandas) e oferecer o motivo importante individual mais importante para o turismo de lazer, numa determinada localidade. Percebe-se que os atrativos turísticos são compostos de forma que se diferem, podendo ser identificados através de elementos e equipamentos naturais, artificiais ou manifestações culturais. Evidencia-se a multiplicidade das atividades turísticas na composição dentro da sociedade e se incentiva o deslocamento na coletividade ou individualmente. Para Valls (2006) o atrativo é percussor na atividade turística no sentido que se propõe a ser válvula de incentivo desta, independentemente da sua origem. É nítido como o atrativo é formulador do desenvolvimento turístico no ambiente em que se encontra. Considerando que Balneabilidade é a capacidade que um local tem de possibilitar o banho e atividades esportivas em suas águas, ou seja, é a qualidade das águas destinadas á recreação de contato primário (BERG; GUERCIO; ULBRICHT, 2013, p. 90), os balneários caracterizados em meio à natureza se tornaram um atrativo de lazer ao longo do tempo como uma forma desta atividade em áreas naturais. Essa tendência se desencadeou no mundo desde sua eficácia como vetor medicinal e nova concepção de área de uso para recreação. Neste sentido, o uso dos balneários, tanto fluviais como litorâneos, é uma tendência do contato direto com as águas para o banho e recreação, que se expandiu no mundo. O usufruto do lazer por meio destes espaços se tornou atratividade turística, pois os deslocamentos constantes para lugares que propusessem essa prática passaram a ser cada vez mais frequentes. Indiscutivelmente de utilidade universal, por sua relevância para a socialização das pessoas em diversos sentidos da existência e da sua utilização, essas áreas atraem visitantes por seus benefícios. Os banhos termais são incentivadores para o deslocamento de grupos de pessoas que buscam amenizar os males do corpo e, com tempo, foram fontes para a consolidação do lazer através das águas. Os balneários passaram a ser vistos não somente como um viés medicinal, mas, paralelamente, uma área para o lazer através de práticas esportivas. As áreas de balneabilidade são caracterizadas pela ação com as águas fluviais que se soma a procura dos indivíduos por locais propícios a atividades do lazer. Para Martins (2012, p.2) os 126

127 balneários de águas doces são bens naturais, constituindo fortes atrativos de pessoas, incentivando o turismo de aventura e o ecoturismo, que atualmente são vistos como alternativa econômica de desenvolvimento sustentável. As áreas de balneabilidade possuem uma grande atratividade que não se restringe somente ao prazer das atividades nas estâncias hidrominerais, mas também, na segmentação do turismo, que constantemente proporciona alterações no sentido econômico e cultural das localidades. Nos espaços de balneabilidade, a qualidade das águas permite um contato direto, onde há a possibilidade de práticas recreativas esportivas, tornando-se um produto relacionado aos espaços de lazer e turismo. Enfatiza-se a capacidade de alcance das áreas de balneabilidade em propor eficácia na sua utilidade, que se reporta ao lazer condicionado através das águas, primordial ao bem-estar e manutenção da rotina de uma sociedade globalizada no mundo moderno. Rodrigues (1997) afirma que a utilização dos balneários se tornou indispensável, ocorrendo olhar crítico para espaços onde se tenha maior usufruto enquanto lazer e satisfação. A utilidade em ter lugares onde o relaxamento é o principal intuito fez dos balneários uma ótima opção, tanto os fluviais como litorâneos, visto que essa prática se consolidou rapidamente. Nos deslocamentos e na ocupação dos espaços de banho como atrativo turístico, edificou-se a relação do turismo com o meio ambiente, sua utilidade e a necessidade de meios para a conservação. Contudo, essa relação se constitui na base do fenômeno turístico presente em todos os meios, salvaguardado as premissas dos mesmos, ou seja, o meio natural é fonte de matéria-prima e por isso pode ser usufruído pelos indivíduos. Os balneários se configuram como esses espaços com intuito do novo lazer, numa visão de estar próximo à natureza. POSSIBILIDADES DO GEOTURISMO EM ÁREAS DE BALNEÁRIO A atividade turística pode ser desenvolvida através dos recursos naturais de uma localidade. E as áreas de balneários condizem com um meio natural com enfoque na sua utilização e conservação. O impacto que o lazer e o turismo podem provocar aos recursos naturais traz uma reflexão sobre o geoturismo como eixo de valorização dos espaços de balneários com atributos da geodiversidade. Os balneários possuem relevância, enquanto local de uso por possibilitar contato direto do homem com a natureza, ocasionando assim um meio para observação e manutenção dos recursos naturais presentes. Neste sentido, Guerra e Jorge (2014) indicam feições geomorfológicas que podem interessar ao turismo, e do mesmo modo no segmento geoturístico, sendo muitas relacionadas às áreas de balneabilidade como, por exemplo: bacias hidrográficas, cachoeiras, cataratas, cascatas, corredeiras, lagoas, lagunas, meandros, nascentes, olhos d água, quedas d água, e rios. No entanto, as diversas formas de utilização dos balneários como opção de lazer e turismo fazem com que estes se tornem vulneráveis a degradação. A atividade turística também pode causar 127

128 como qualquer outra atividade, impactos ambientais nos locais em que é praticada se não forem tomadas medidas para evitar a degradação ambiental [...] (GUERRA; JORGE, 2014, p.77,79). Para Lopes, Araújo e Castro (2011, p.3) o geoturismo promove a geoconservação do patrimônio geológico e envolve as comunidades locais através das atividades econômicas sustentáveis, aumentando a oferta de emprego e renda e beneficiando o turista a partir da disponibilização de serviços, produtos e suprimentos. É nítido como o geoturismo contribui nas áreas naturais, pois vai além da valorização geológica caracterizando-se como fonte de desencadeamento de sustentabilidade destes espaços. Deste modo, a atividade geoturística nas áreas de balneabilidade visa a possibilidade de desenvolvimento local agregando mais valor a estas áreas. CONCLUSÃO As áreas de balneabilidade concretizam-se como espaços naturais para o lazer e o turismo, sendo importante a sua conservação. Numa tendência atual de valorização da goediversidade, o geoturismo apresenta-se como segmento da atividade turística que visa a proteção do patrimônio natural e o desenvolvimento local, e com o envolvimento das comunidades, visitantes e turistas podese vislumbrar a geoconservação. Assim, os balneários possuem potencial para o desenvolvimento do geoturismo, considerando os aspectos geológico-geomorfológicos (geodiversidade) que se apresentam para as praticas geoturísticas e geoconservacionistas. REFERÊNCIAS AGUIAR, M. F. Qualidade na receptividade. In: MARTINS, J. C. O. Turismo, cultura e identidade. São Paulo: Roca, BERG, C. H.; GUERCIO, M. J.; ULBRICHT, V. R. Indicadores de balneabilidade: a situação brasileira e as recomendações da World Health Organization. Int. J. Knowl. Eng. Manag, Florianópolis, v. 2, n. 3, p , jul./out, GRAY, M. Geodiversity: valuing and conserving abiotic nature. John Wiley & Sons Ltd. Londres, 434p GUERRA, A. J. T.; JORGE, M. C. O. Geomorfologia aplicada ao Turismo. In: ARANHA, R. C.; GUERRA, A. J. T. (Orgs.). Geografia aplicada ao Turismo. São Paulo: Oficina de Textos, LOPES, L. S. O.; ARAÚJO, J. L.; CASTRO, A. J. F. Geoturismo: Estratégia de Geoconservação e de Desenvolvimento Local. Caderno de Geografia, v.21, n.35, MARTINS, L. K. L. A. Contribuições para monitoramento de balneabilidade em águas doces no Brasil [manuscrito] f. Dissertação (Mestrado em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos) Universidade Federal de Minas Gerais, Escola de Engenharia,

129 NASCIMENTO, M. A. L.; RUCHKYS, Ú. A.; MANTESSO-NETO, V. Geoturismo: um novo segmento do turismo no Brasil. Global Tourism, São Paulo, v. 3, n. 2, RODRIGUES, A. B. Turismo e espaço: Rumo a um conhecimento transdisciplinar. São Paulo: Hucitec, VALLS, J. Gestão Integral de Destinos Turísticos Sustentáveis. Tradução de Cristiano Vasques e Liana Wang. Rio de Janeiro: FGV,

130 RESULTADOS PRELIMINARES DOS PROBLEMAS DE CONSERVAÇÃO DOS SÍTIOS DE ARTE RUPESTRE LOCALIZADOS NO MUNICIPIO DE LAGOA DE SÃO FRANCISCO/PI Renata Valéria Silva Bezerra Universidade Federal do Piauí Estudante do Curso Bacharelado em Arqueologia e Conservação de Arte rupestre renatavaleriabezerra@gmail.com Ana Luísa Meneses Lage do Nascimento Universidade Federal do Piauí Professora-Orientadora Docente do curso Bacharelado em Arqueologia e do programa de Pós-graduação em Arqueologia da UFPI analage@ufpi.edu.br Ana Virginia Viana de Sousa Universidade Federal do Piauí Estudante do Curso Bacharelado em Arqueologia e Conservação de Arte rupestre anasousaa2215@gmail.com Eixo temático: Geoconservação, Geoturismo e desenvolvimento local Resumo: O presente trabalho tem como objetivo apresentar os resultados encontrados em pesquisas realizadas pelas autoras nos sítios de pinturas rupestres localizados no município de Lagoa de São Francisco/PI. Foram estudados os danos causados por ações naturais e antrópicas em quatro sítios de pinturas rupestres. Palavras-chave: Resultados preliminares. Problemas de conservação. Arte Rupestre. Lagoa de São Francisco/PI. Abstract: The present work has the objective to present the results found in researches done by the authors in the cave painting sites located in the city of Lagoa de São Francisco / PI. Damages caused by natural and anthropic actions were studied in four rock paintings sites. Key words: Preliminary results. Conservation problems. Rock art. Lagoa de São Francisco / PI. INTRODUÇÃO Lagoa de São Francisco está localizada no norte do estado do Piauí. Segundo o IBGE, no ano de 2015 o município apresentava uma população de cerca de habitantes e uma área de 155,

131 km e densidade demográfica de 41,26 habitantes por quilometro quadrado. No ano de 1997, por meio da lei estadual n 4.680, de 26 de Janeiro de 1994, alterado pela lei estadual n 4.984, de 30 de dezembro de 1997, Lagoa de São Francisco foi desmembrada dos municípios de Pedro II e Piripiri, com os quais fazem divisão territorial (SOUSA; LIMA, 2016, p.40). Nos sítios estudados apresentam manifestações muito diversificadas em suas pinturas rupestres, que ainda não foram estudados, sendo praticamente desconhecidas no meio acadêmico e pela comunidade geral, apesar desses terem sido cadastrados em 2007 pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). Devido a isso, se faz necessária uma investigação profunda sobre a passagem de grupos humanos pré-coloniais na região. No referente trabalho foram estudados os possíveis problemas de conservação de quatro sítios de pinturas rupestres sendo estes: Pedra do Pingo,Pedra do Doutor,Sítio do Escondido e Pedra do Calango. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA Segundo Prous (1992, pág. 510), Arte rupestre são todas as inscrições (pinturas ou gravuras) deixadas por grupos humanos em suportes fixos de pedra (paredes de abrigos, grutas, cavernas etc.). Os conceitos do termo de arte rupestre foram discutidos brevemente no artigo do autor SILVA, Em uma análise feita do levantamento bibliográfico realizado por André Prous (1980; 1985) para a arqueologia brasileira, verificaram-se 275 títulos, cujas referências se faziam diretas às pinturas e gravações rupestres do Brasil. Essas referências são responsáveis por 10,6% do total de títulos entre os anos de 1839 e 1985 (acredita-se que este percentual seja superior, pois muitos trabalhos com títulos gerais "Programa Arqueológico...", "Projeto de Pesquisa...", "Pré-História Brasileira" possivelmente contêm mais informações acerca desse tipo de vestígio em particular). Tal levantamento, portanto, possibilitou traçar um perfil da relação entre o desenvolvimento das pesquisas (ou comunicações) e a apropriação de conceitos e interpretações próprios de cada época. (SILVA, 2004). Dessa forma na lagoa de São Francisco existe uma localidade conhecida por Morro da Coã, que apresenta quatros sítios de pinturas rupestres com várias pinturas presentes nos suportes rochosos, em alto estado de degradação, sendo que uns dos principais problemas presentes no momento ocasionados pela ação antrópica (Sobreposição de raízes, cupins, pichações etc.) (Figura 1 Problemas de Conservação presença de cupins,pichações.). 131

132 Figura 1 Problemas de conservação identificados (Presença de cupins, Pichações). Fotos: Ana Virginia, O patrimônio arqueológico desta área é diversificado e rico, sendo que os sítios contam com ajuda da comunidade para a preservação e divulgação do local, além da Associação Ambientalistas Morro da Coã- AAMC) Que foi fundada em 18 de outubro de 2014 por jovens residentes de Lagoa de São Francisco. É formada por 25 membros, com idade entre 16 e 24 anos, que reivindicam ideais ambientalistas e as ações comunitárias voltadas para preservação do morro da Coã. (SOUSA; LIMA, 2016). Realizamos trabalho de campo em abril de como objetivo apenas de observar os problemas de conservação das pinturas rupestres, para descrever um pré-diagnóstico da situação que estão os painéis pintados, e com isso realizamos levantamento gráficos de todos os sítios utilizando escalas para o suporte do tamanho das pinturas. Observamos ainda que no período da tarde o sol bate de frente de alguns sítios com isso ocasionando o rápido desaparecimento das pinturas, sendo um dos principais causadores de degradação do suporte rochoso. (Figura 2 Problemas de Conservação- Problemas de ação antrópica). 132

133 PROBLEMAS DE CONSERVAÇÃO Cavalcante (2011) apresenta em um breve artigo os principais trabalhos realizados em conservação no Piauí, como no caso do sítio Arco do Covão, um dos maiores, mais belos e importantes sítios do Centro-Norte do Piauí, medindo 70 metros. Existem cerca de 1000 pinturas pré-históricas. Nesse sítio um trabalho de limpeza foi realizado, entre 1997 e 1998, visando à retirada das raízes que avançavam gradativamente e já cobriam cerca de 90% das pinturas. Outro sítio arqueológico é o pequeno, localizado no Parque Nacional de Sete cidades foi realizado trabalhos de intervenção que constaram inicialmente com a retirada da vegetação rasteira (capim) do entorno do paredão etc. Sítio Pedra do Castelo localizado no município de Castelo do Piauí foi realizado limpezas nas pichações feitas com carvão sob as pinturas. (CAVALCANTE, 2011). Lage et al (2009), comentam sobre um trabalho de conservação realizados em Castelo do Piauí, onde foram estudados 62 pontos mais críticos. Nestas áreas foram coletadas amostras de cada pichação, como gesso, carvão vegetal, giz comum e de cera, pincel atômico, tabatinga, corretivo, tinta a óleo, parafina, fuligem, assim como das galerias de cupins e dos ninhos de vespas. Em seguida foram realizadas as análises de laboratório. Os resultados obtidos nesse trabalho foram retirados as pichações nos paredões rochosos onde estavam depositadas as pinturas, as parafinas das velas foram retiradas, etc. De mesmo modo sítios de pintura rupestre do Morro do Coã apresentam graves problemas de conservação tanto de origem natural como antrópicos. Observa-se que os principais problemas são por conta de vandalismo como pichações gravadas, em ocre ou giz, tintas marcas de passagens de água sobre painéis de gravuras, plantas crescendo no local, galerias de cupins, casa de maribondos e sol (Figura 2). Tais problemas de conservação que atuam diretamente nos suporte, os principais elementos causadores da degradação, pois os agentes antrópicos junto com sol e água tem trazido consequências graveis nos painéis, pondo em risco o desaparecimento das pinturas. De forma geral os sítios estão apresentando vários danos de conservação, o que coloca em risco as pinturas, é se faz necessária a realização de trabalhos de conservação no local, a fim de evitar o completo desaparecimento das pinturas e dar novamente e encanto à beleza do Morro da Coã. Pois como afirma a pesquisadora. A rocha suporte, em processo natural de degradação, está exposta à ação das chuvas, vento, sol, dentre outros fatores climáticos que provocam o aparecimento de eflorescência salina (depósito mineral) recobrindo as pinturas ou arrastando partículas do pigmento, além de ninhos de vespas, galerias de cupins e dejetos de animais típicos da região, como o mocó (LAGE, 2007). 133

134 Figura 2 Problemas de Conservação-Problemas de ação antrópica. Fotos: Ana Virginia, CONCLUSÃO Vale ressaltar que o sitio Morro da Coã está passando por processo bastante tenso e delicado, tomando por nota que a comunidade por meio de buscas e prevenção tenta ao máximo juntar pessoas que com o mesmo intuito e objetivo queira participar de processos a fim de divulgar e preservar o sitio. A arte rupestre pertence a um tempo geológico do qual não temos outras informações senão aquelas fornecidas pela arqueologia (Pessis, 2003). Portanto, no presente trabalho foram discutidos brevemente os resultados preliminares obtidos durante as pesquisas realizadas pelas autoras. Sendo este um dos primeiros trabalhos realizados de arte rupestre do município da Lagoa de São Francisco. REFERÊNCIAS CAVALCANTE, Luis Carlos Duarte. Conservação de Arte Rupestre no nordeste do Brasil. Revista Brasileira de Arqueometria, Restauração e Conservação - ARC - Vol. 3 - Edição Especial Copyright 2011 AERPA Editora. 134

135 LAGE, Maria Conceição Soares Meneses. A conservação de sítios de arte rupestre. In: Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, n. 33 Patrimônio Arqueológico: o desafio da preservação. Brasília: IPHAN LAGE, Maria Conceição Soares Meneses ; SILVA, JacioniraCoêlho ; MAGALHÃES, Sônia Maria Campelo ; CAVALCANTE, Luis Carlos Duarte ; MARTINS, Lívia ; FERRARO, Lorena. A restauração do sítio arqueológico Pedra do Castelo. Clio. Série Arqueológica (UFPE), v. 24, p , PESSIS, A-M.. Imagens da pré-história: Parque Nacional serra da capivara. São Paulo: 2003 FUMDHAM / PETROBRÁS. Prous, André. Arqueologia Brasileira. EditoraUNB, Brasília SILVA, J. P. arte rupestre : conceito e marco teórico. Arte rupestre/ web em America latina, SOUSA, Daniely Cintia Viana de, LIMA, Ohana Luize Alves. Relatório científico do documentário radiofônico jovens no caminho: experiências populares e comunicação na região Norte do Piauí. Teresina: UESPI,

136 IMPACTOS AMBIENTAIS DECORRENTES DA EXTRAÇÃO DE AREIA POR DRAGAS NO RIO POTI, MUNICÍPIO DE TERESINA-PI Jhony Gonçalves de Lima Universidade Federal do Piauí-UFPI Graduando em Geografia Ana Carolyne de Araújo Silva Costa Universidade Federal do Piauí-UFPI Graduando em Geografia Emanuel Lindemberg Silva Albuquerque Universidade Federal do Piauí-UFPI Docente do Curso de Graduação em Geografia Eixo temático: Geomorfologia e Planejamento Ambiental Resumo: A pesquisa objetivou analisar os impactos ambientais gerados pela atividade de mineração de areia realizadas por dragas instaladas no Rio Poti, município de Teresina, estado do Piauí, associando esta atividade econômica à dinâmica morfológica, bem como destacar os cenários degradacionais no entorno das áreas de exploração mineral. Para tanto, procedeu-se com revisão bibliográfica e entrevista com atores que trabalham e conhecem a temática com propriedade. Com base nisso, chegou-se ao resultado que os principais impactos ambientais gerados pela atividade econômica são: desmatamento da vegetação ciliar, compactação do solo e possível derramamento de óleo no leito fluvial. Devido à complexidade do tema, novas questões devem ser trabalhadas no intuito de investigar como a dragagem interfere na hidrodinâmica e na morfologia do baixo curso do Rio Poti. Palavras-chave: Dragas. Rio Poti. Impactos ambientais. Abstract: The objective of this research was to analyze the environmental impacts generated by the sand mining activity carried out by dredgers located in the Poti River, Teresina, Piauí state, associating this economic activity with the morphological dynamics, as well as highlighting the degradation scenarios around the exploration areas mineral. For that, we proceeded with bibliographic review and interview with actors who work and know the subject with property. Based on this, the main environmental impacts generated by the economic activity are: deforestation of ciliary vegetation, soil compaction and possible oil spillage in the river bed. Due to the complexity of the theme, new issues must be addressed in order to investigate how dredging interferes with the hydrodynamics and morphology of the lower reaches of the Poti River. 136

137 Key words: Redgers. Poti River. Environmental impacts. INTRODUÇÃO Ao considerar que a concentração urbana no Brasil teve um crescimento significativo nas últimas décadas, tem-se que este processo, de maneira em geral, ocorreu de forma rápida e inadequada, trazendo na contemporaneidade uma série de impactos socioambientais. Este crescimento populacional ampliou as necessidades dos indivíduos, bem como de suas ações, sobre o meio ambiente, tendo em vista que o crescimento exponencial da população e sua concentração em determinadas porções do território, ou seja, nas cidades, tende a aumentar o número e a intensidade das interferências humanas no ambiente natural (GUERRA, 2011). Dentre os inúmeros recursos naturais que o homem utiliza para o desenvolvimento econômico das cidades e também para a melhoria da qualidade de vida das pessoas, destacam-se os recursos minerais. Nesse sentido, a pesquisa em epígrafe tem como eixo de abordagem a mineração de areia realizada por dragagem no leito do Rio Poti, no município de Teresina/PI. Vale destacar que a areia é considerada um recurso mineral de extrema abundância na natureza e é extraída de várzeas, mantos de decomposição de rochas e leito de rios (VALVERDE, 2001). Particularmente no recorte espacial da pesquisa, o processo produtivo da mineração dos agregados de areia, enquanto atividade econômica, tem o viés direcionado à construção civil. Neste contexto, o estudo em pauta tem como objetivo analisar os impactos ambientais gerados pela atividade de mineração de areia realizadas por dragas instaladas no Rio Poti, associando esta atividade econômica à dinâmica morfológica, bem como destacar os cenários degradacionais no entorno das áreas de exploração mineral. Menciona-se que o Rio Poti é um elemento natural de extrema importância, do ponto de vista ambiental e econômico, para os estados do Ceará e Piauí (drenagem interestadual de domínio da União), mas particularmente para o município de Teresina-PI, em que este tem um papel estratégico para o setor da construção civil, tendo em vista a qualidade dos agregados minerais em termos de granulometria, textura, e dentre outros aspectos físico-químicos essenciais para o setor econômico em destaque (DIAS, 2006). Para o desenvolvimento deste estudo, considerou-se os preceitos da análise integrada do ambiente (SOUZA, 2000), partindo da premissa que a natureza é um todo integrado. As análises e interpretações dos dados e informações foram obtidas por meio de referencial bibliográfico e entrevista estruturada com um analista ambiental do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Renováveis (IBAMA), que trabalha e conhece a temática com propriedade. 137

138 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA A extração de minerais configura-se como uma importante atividade econômica, pois oferece recursos para o desenvolvimento da economia local, tendo em vista o processo de urbanização que é verificado na maioria das cidades brasileiras. Conforme Viana (2007), a intensificação da urbanização e a efetivação de maiores aglomerados populacionais em Teresina, estado do Piauí, propiciou uma maior demanda por massará, seixos e areias para a construção civil. Destaca-se que a unidade geológica do Embasamento Cristalino Pré-Cambriano (alto curso fluvial) e da Bacia Sedimentar do Parnaíba (médio e baixo curso fluvial) faz com que os aluviões do Rio Poti sejam os maiores fornecedores de areia fina, média e grossa para a construção civil no município de Teresina, tendo em vista a sua qualidade mineralógica e devido a proximidade do núcleo urbano, facilitando, deste modo, o transporte dos agregados minerais (CORREIA FILHO; MOITA, 1997). Valverde (2001) corrobora que as propriedades físicas e químicas dos agregados e das misturas ligantes são essenciais para a vida das estruturas (obras) em que são usados, por isso que os empreendedores do ramo da construção civil em Teresina/PI priorizam a extração de areias do Rio Poti em detrimento ao Rio Parnaíba, ocasionando, por consequência, uma maior concentração de dragas naquele rio. Ao considerar o exposto, tem-se que a natureza deve ser analisada e compreendida de forma integrada (SOUZA, 2000), sobretudo com relação aos impactos ambientais decorrentes da extração de areia por dragas no recorte espacial da pesquisa. RESULTADOS E DISCUSSÃO Área de estudo Teresina está situada entre os rios Parnaíba e Poti, pertencentes à bacia hidrográfica do Rio Parnaíba. Quanto à formação geológica, Lima (2011) afirma que as rochas aflorantes neste município são sedimentos permianos integrantes das formações Pedra de Fogo e Formação Piauí (ambas pertencentes ao grupo balsas), compondo bancos espessos de folhelhos e siltitos, com intercalações de chert silexito e evaporitos de coloração variada. Ao considerar o Rio Poti, este tem sua foz no Rio Parnaíba, em Teresina/PI, compondo o seu baixo curso fluvial. No setor espacial em destaque, este apresenta traçado meandrante, que desvia seu curso principalmente ao se deparar com obstáculos, como depósitos aluviais antigos e mais resistentes. Lima (2011) apresenta que as condições geomorfológicas de Teresina são caracterizadas 138

139 pela presença dos baixos planaltos e dos baixos platôs interfluviais, seccionados pelos canais fluviais que compõem as microbacias urbanas. Dragagem Dragagem é uma operação mecânica (Figura 1) definida como a escavação ou remoção de solo ou rochas do fundo de rios, lagos, e outros corpos d água, utilizando equipamentos denominados dragas, que são embarcações ou plataformas flutuantes equipadas com mecanismos necessários para se efetuar a remoção de sedimentos (TORRES, 2000). Figura 1- Perfil esquemático da extração de areia por dragagem Fonte: Adaptado de Paiva (2004). De acordo com informações obtidas por meio de uma entrevista na Superintendência do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), em Teresina/PI, o licenciamento e fiscalização da atividade de dragagem no Rio Poti, no que tange ao trecho urbano deste município, é de competência da Secretaria Municipal de Meio Ambiente (SEMAM). Não obstante, para conseguir o licenciamento para extrair areia por dragas no Rio Poti o empreendedor precisa seguir as seguintes etapas, a saber: I) Solicitar uma concessão à Prefeitura de Teresina/PI; II) Requerer que o Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) certifique esta concessão e; III) Encaminhar o pedido de Licenciamento Ambiental ao Órgão responsável (SEMAM), para iniciar a atividade, sendo que o licenciamento segue um rito administrativo, passando pela Licença Prévia, Licença de Instalação e Licença de Operação. Destaca-se que a Licença Prévia consiste na apresentação do projeto ao município, mostrando interesse em atuar em determinada área do rio. Deferido o pedido, é emitido a Licença de Instalação, 139

140 que corresponde ao momento em que o empreendedor realiza a instalação de todo o maquinário e faz testes iniciais. Por fim, é concedida a Licença de Operação, momento em que se faz a vistoria da instalação e se constatar que tudo está correto, conforme o projeto apresentado, respeitando as leis ambientais, então o dragueiro tem a licença final para poder operar. Ao considerar o rito administrativo dos órgãos competentes, muitos empreendedores do ramo da construção civil, em conjunto com os dragueiros, iniciam as etapas operacionais sem o devido licenciamento de sua draga, o que resulta em um conjunto de danos ambientais ao Rio Poti, tendo em vista que a natureza é um todo integrado, dinâmico e sistêmico. Diante dos estudos realizados, constata-se que os impactos ambientais (Figura 2) negativos gerados por esta atividade de mineração no município de Teresina, estado do Piauí, estão atreladas ao: i) desmatamento realizado para a instalação de todo o maquinário e para os depósitos (caixa) nas margens do rio; ii) compactação do solo, em virtude do intenso fluxo de tratores e caminhões e; iii) possível derramamento de óleo no leito fluvial, tendo em vista o maquinário utilizado. Figura 2- Processo de Assoreamento Próximo a Ponte do Mocambinho em Teresina-PI. Fonte: Cidade Verde.com (2014). Corrobora-se que os desmatamentos, geralmente sequenciado de queimadas, têm como consequência a supressão vegetal ribeirinha, associado à erosão das margens e ao assoreamento do leito fluvial. A compactação do solo é outro aspecto extremamente negativo, seja nas margens ou propriamente no canal de drenagem, tendo em vista a impermeabilização de alguns setores da planície fluvial. Por outro lado, ainda existe o risco de lançamento/derramamento de óleo das máquinas de dragagem no rio, o que tende a causar severos danos ambientais em todo o baixo curso do Rio Poti, com interferências também no Rio Parnaíba. 140

141 CONCLUSÃO Diante das informações apresentadas, tem-se que a extração de areia por meio de dragas no Rio Poti, em Teresina-Piauí, é uma atividade econômica antiga de acordo com o entrevistado, ainda em expansão, a julgar pela sua importância para o setor da construção civil. Por sua vez, mencionase que o licenciamento e a fiscalização desta atividade são de responsabilidade e competência da Prefeitura de Teresina, por meio da SEMAM. Com os resultados obtidos, entende-se que os impactos ambientais gerados pela dragagem no Rio Poti são bem conhecidos pelos órgãos ambientais (SEMAM e IBAMA), pois são facilmente identificados nas margens deste rio, a saber: i) desmatamento da vegetação ciliar; ii) compactação do solo e; iii) possível derramamento de óleo no leito fluvial. Por fim, menciona-se que algumas questões devem ser levantadas para a continuação do presente estudo, sobretudo com relação: 1) até que ponto esta atividade afeta a qualidade da água? 2) de que forma a retirada de sedimentos em descompasso com a dinâmica natural do Rio Poti faz com que este tenha seu curso fluvial e seu regime de vazão alterado, considerando sua hidrodinâmica e morfologia? REFERÊNCIAS Cidade Verde.com Disponível em: Acesso em: 18. Setembro CORREIA FILHO, Francisco Lages; MOITA, José Henrique. Projeto Avaliação de depósitos minerais para construção civil PI/MA. Teresina: CPRM, DIAS, Mírian Perpétua e Silva Palha. O processo produtivo na mineração de areia no Rio Poti em Teresina Piauí: um olhar para a saúde, o trabalho e o ambiente f. Dissertação (Mestrado) Universidade Federal do Ceará GUERRA, Antonio José Teixeira. Geomorfologia Urbana. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, LIMA, Iracilde Maria de Moura Fé. O Relevo de Teresina, PI: compartimentação e dinâmica atual. Encontro Nacional da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia, 9. Goiânia, out In: Anais... Goiânia, out PAIVA, Cibele Teixeira. Melhoria da qualidade da água em bacias de decantação localizadas em área de extração de areia f. Dissertação (Mestrado) Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, SOUZA, Marcos José Nogueira de. Bases naturais e esboço do zoneamento geoambiental do estado do Ceará. In: LIMA, Luiz Cruz; SOUZA, Marcos José Nogueira de; MORAIS, Jáder Onofre de (Org.) Compartimentação territorial e gestão regional do Ceará. Ed. FUNECE, Fortaleza, pp

142 TORRES, RJ. Uma análise preliminar dos processos de dragagem do porto de Rio Grande, RS. 190 f. Dissertação (Mestrado em Engenharia Oceânica). Fundação Universidade Federal, Rio Grande do Sul, VALVERDE, Fernando Mendes. Agregados Para Construção Civil. Balanço Mineral Brasileiro DNPM, Disponível em: Acesso em: 10 set VIANA, Bartira Araújo da Silva. Mineração de materiais para construção civil em áreas urbanas: impactos socioambientais dessa atividade em Teresina, PI f. Dissertação (Mestrado) Universidade Federal do Piauí

143 VOÇOROCA NO ESPAÇO URBANO UM ESTUDO DE CASO EM TERESINA-PI Glécia Alves da Silva Universidade Federal do Piauí Estudante de graduação Bartira Araújo da Silva Viana Universidade Federal do Piauí Prof. Dra da Coordenação do Curso de Geografia Eixo temático: Geomorfologia e planejamento ambiental Resumo: O planejamento ambiental aliado a estudos geomorfológicos torna-se indispensável para a implementação de formas de ocupação viáveis do ponto de vista ambiental, assim como para identificação e avaliação de áreas de risco, a exemplo de locais com presença de processos erosivos. Desta forma, este trabalho objetivou caracterizar uma área do bairro Novo Horizonte com presença de processos erosivos que resultou na ocorrência de voçorocas no meio urbano de Teresina. Como procedimento metodológico foi realizada pesquisa bibliográfica e documental, assim como pesquisa de campo e recursos do Google Earth. Constatou-se na pesquisa que o processo de voçorocamento tem contribuído com a degradação ambiental local e geração de riscos para sociedade. Assim, tornase necessário que a gestão pública planeje e execute ações visando minimizar a degradação ambiental, como também o risco social instalado através de obras de engenharia, de políticas de arborização e promoção da educação ambiental visando evitar o descarte incorreto de resíduos sólidos na voçoroca. Palavras-chave: Geomorfologia. Planejamento Ambiental. Voçoroca. Abstract: Environmental planning combined with geomorphological studies becomes indispensable for the implementation of environmentally viable forms of occupation, as well as for the identification and evaluation of risk areas, such as sites with erosive processes. In this way, this work aimed to characterize an area of the neighborhood Novo Horizonte with presence of erosive processes that resulted in the occurrence of gullies in the urban environment of Teresina. As a methodological procedure, bibliographical and documentary research was done, as well as field research and Google Earth resources. It was verified in the research that the process of gullying has contributed with the local environmental degradation and generation of risks for society. Thus, it is necessary for public management to plan and execute actions aimed at minimizing environmental degradation, as well as the social risk installed through engineering works, afforestation policies and promotion of environmental education in order to avoid the incorrect disposal of solid wastes in the gully. Key words: Geomorphology. Environmental Planning. Gully. 143

144 INTRODUÇÃO A Geomorfologia pode ser definida, de acordo com Guerra e Marçal (2006, p. 17) como o estudo das formas de relevo, levando-se em conta a sua natureza, origem, desenvolvimento de processos e a composição dos materiais envolvidos. Dialogando com a Geografia, a Geomorfologia auxilia a tomada de decisões visando o planejamento e a gestão do território, bem como permite a análise das vantagens e desvantagens do processo de ocupação do espaço, seja urbano ou rural. O homem é, ao mesmo tempo, agente e paciente das alterações geomorfológicas, na medida em que provoca mudanças nas formas de relevo, pela sua necessidade de ocupar determinados espaços e sofre as consequências do manejo incorreto das feições existentes. Assim, visando reconhecer e analisar a interferência do homem no aspecto morfológico do espaço, considerando-o como agente geomorfológico, surge a Geomorfologia Ambiental que busca aplicar conhecimentos da geomorfologia ao planejamento e ao manejo do meio natural, objetivando solucionar ou minimizar problemas de ordem ambiental com os quais a sociedade se depara na atualidade (GUERRA; MARÇAL, 2006). Ressalta-se que, no espaço urbano, muitos desses problemas resultam de falhas na gestão pública associada à falta de educação ambiental da população, acarretando consequências visíveis na paisagem urbana. Os estudos geomorfológicos têm, portanto, atuação importante para se compreender os processos que formam e modelam o relevo, bem como podem servir de base para a gestão das cidades, no intuito de impedir ou tentar solucionar problemas ambientais que se apresentam em decorrência das variadas formas de ocupação e manejo das áreas e ocasionam transtornos socioambientais, sendo as voçorocas no espaço urbano um desses problemas. Neste sentido, o presente trabalho tem por objetivo caracterizar uma área do bairro Novo Horizonte com presença de processos erosivos que resultou na ocorrência de voçorocas no meio urbano de Teresina-PI (Figura 1). O estudo busca identificar os possíveis fatores que contribuíram para este processo erosivo e as suas consequências socioambientais para a paisagem local. Como procedimento metodológico foi realizada pesquisa bibliográfica e, posteriormente, fez-se pesquisa de campo no local para averiguar a situação da área e fazer registros fotográficos que compõem os resultados e discussões deste trabalho. Os dados sobre a cidade de Teresina e do bairro onde localizase o objeto de estudo foram coletados no portal da prefeitura da cidade. Utilizou-se, ainda, imagens do Google Earth para localizar a voçoroca no espaço urbano considerado, e para medir a voçoroca foi utilizada fita métrica. 144

145 Figura 1- Localização da área de estudo no espaço urbano de Teresina, PI. Fonte: IBGE (2016); Google Earth (2017). Geoprocessamento: Orleando Leite de Carvalho (2017). A área de estudo foi escolhida por tratar-se de um local que chama muito a atenção devido à presença de processos de voçorocamento e pelo aspecto que empresta à paisagem, sendo situada próxima de uma avenida bastante movimentada e com estabelecimentos residenciais e comerciais ao seu redor. A voçoroca está localizada na zona sudeste da cidade, mais precisamente entre as Avenidas Primeiro e Reginaldo Evangelista Filho, ficando próxima da Avenida Noé Mendes. Ressalta-se, que o referido processo erosivo tem comprimento que ultrapassa os limites do bairro mencionado, chegando ao bairro adjacente, mas para efetivação deste trabalho optou-se por estudar uma parte da voçoroca inserida no espaço do bairro Novo Horizonte. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA A geomorfologia ambiental estuda a interação do homem com o meio, averiguando, através de uma análise ambiental, os reflexos dessa relação, cujas marcas são visíveis através das feições existentes. O resultado da interferência do homem no espaço é observado através da paisagem e das condições de vida que a população apresenta, convivendo diariamente com o resultado de interferências na natureza de forma mal planejada e sem uma análise ambiental que permita promover mudanças. De acordo com Ross (1998, p. 351) 145

146 [ ] as Análises Ambientais visam atender as relações das sociedades humanas de um determinado território (espaço físico) com o meio natural, ou seja, com a natureza deste território. [ ] Dentro desta perspectiva os estudos ambientais, de abordagem geográfica, têm sempre como referencial uma determinada sociedade (comunidade) que vive em um determinado território (município, estado, país, região, lugarejo, bacia hidrográfica etc.), onde desenvolvem suas atividades, com maior ou menor grau de complexidade, em função da intensidade dos vínculos internos e externos que mantêm no plano cultural, social e econômico. Depreende-se das palavras do autor, que a ocupação da superfície da Terra pelo homem, para atender às suas necessidades, deve ser acompanhada de uma análise integradora do meio ambiente, que possa auxiliar o planejamento e a tomada de decisões a respeito das mais diversas formas de ocupação que se efetivam sobre as formas de relevo, seja no espaço urbano ou rural. Sobre a interface entre a geomorfologia e o planejamento, Guerra e Marçal (2006) afirmam que, através de seus estudos, a geomorfologia fornece conhecimentos sobre a superfície da Terra, relacionados às formas de relevo, que são importantes para o planejamento no intuito de prevenir catástrofes e danos ambientais generalizados. Assim, tendo em vista que as voçorocas refletem de forma direta, e muitas vezes negativa, no cotidiano daqueles que fazem uso do espaço onde essas feições erosivas se inserem, compreende-se que as mesmas necessitam de uma análise ambiental cujo resultado possa propor medidas que sanem ou minimizem seus efeitos. Magalhães (2001, p. 1) define erosão como [...] um processo mecânico que age em superfície e profundidade, em certos tipos de solo e sob determinadas condições físicas, naturalmente relevantes, tornando-se críticas pela ação catalisadora do homem. Trata-se de uma desagregação, transporte e deposição de sedimentos classificada de acordo com o agente atuante, podendo ser o vento, a água dos rios ou da chuva, sendo este processo, algumas vezes, intensificado ou acelerado pela ação do homem. Sendo um tipo de erosão linear, as voçorocas caracterizam-se por ser uma incisão no solo com dimensões de profundidade e largura superiores a 50 centímetros (ALBUQUERQUE, 2012). Este mesmo autor destaca que: Quando esta feição erosiva deflagra em áreas urbanas, as consequências dos processos dela decorrente são muito maiores tendo em vista a dimensão das áreas que são bem menores que as rurais e a pressão populacional principalmente na figura da densidade demográfica e uso e ocupação do solo urbano geralmente são bem maiores dificultando o processo de reabilitação dessas áreas degradadas, principalmente quando ocorre o afloramento do lençol freático. (ALBUQUERQUE, 2012, S.p). Fatores de ordem natural exercem muita influência na ocorrência e/ou intensificação de erosões do tipo voçoroca. Sendo um exemplo de erosão hídrica, o impacto da precipitação na voçoroca provoca a desagregação e transporte de partículas de solo, colaborando para isso a intensidade da precipitação e a coesão do solo, sendo, ainda, intensificado pela presença de cobertura vegetal ou a falta desta. (MAGALHÃES, 2001). 146

147 RESULTADOS E DISCUSSÃO O bairro Novo Horizonte, localizado na zona Sudeste da cidade, tem uma área de 182 hectares com densidade demográfica de 58,85 hab/hectares e abrange 4 conjuntos habitacionais e 1 vila (TERESINA, 2016). A base geológica de Teresina corresponde às Formações Piauí (datada do Período Carbonífero Superior), composta por arenitos calcíferos, siltitos e folhelhos e Pedra de Fogo (datada do Período Permiano) composta por arenitos, siltitos e silexitos (LIMA, 2002). Ainda segundo a autora, o clima predominante na cidade é, na classificação de Koppen, o Tropical com chuvas de verão e outono (Aw ). Em relação ao relevo, conforme adaptação feita por Moraes e Lima (2015) para a cidade de Teresina, a área da voçoroca faz parte da Unidade Morfoestrutural Bacia Sedimentar Paleomesozoica do Maranhão-Piauí, da Unidade Morfoescultural Baixos Planaltos do Médio-Baixo Parnaíba, Sub-unidade morfoescultural denominada Planalto Rebaixado e do Padrão de relevo superfície retrabalhada pela drenagem com morros residuais. De acordo com as autoras, essa unidade de relevo ocupa boa parte da área da cidade e corresponde às formas de relevo remodeladas a partir de processos erosivos correspondendo à altitude entre 80 e 135 metros. A voçoroca (Figura 2) apresenta mais de 20 metros de comprimento, aproximadamente 10 metros de largura, e cerca de 7 metros de profundidade. Tem em seu entorno cerca de 15 estabelecimentos comerciais e prestadores de serviços e trata-se originalmente de um córrego por onde passa um esgoto a céu aberto (Figura 2C) cuja caixa que promoveria a sua canalização quebrou, permitindo que o esgoto passasse livremente carregando partículas do solo. Além disso, a erosão hídrica pluvial também exerce influência na ocorrência da voçoroca, uma vez que a superfície encontra-se descoberta durante a maior parte do ano, ou seja, sem vegetação e sem nenhuma estrutura de contenção para impedir que os sedimentos sejam carregados para a parte mais baixa, sendo influenciado também pelo movimento de massa (Figura 2D). Além dos efeitos provocados pela natureza, percebe-se no local a interferência do homem com o despejo de resíduos sólidos. 147

148 Figura 2 - Mosaico de fotografias mostrando aspectos da voçoroca e seu entorno do bairro Novo Horizonte, em Teresina Piauí. A: Descarte de resíduos sólidos na voçoroca; B: Proximidade da feição erosiva com a avenida; C: Esgoto que originou a voçoroca: D: Vertente da voçoroca. Fonte: Silva (2017). A área, além de ser utilizada como depósito de entulho e de lixo (Figura 2A) trazendo riscos à saúde das pessoas que moram perto, apresenta outro agravante que é o risco de acidentes, pois a voçoroca encontra-se no meio urbano, próxima de uma avenida bem movimentada (Figura 2B) e não apresenta em seu entorno placas de aviso e nem estruturas que possam evitar a queda de pessoas que transitam pelo local. Essa voçoroca já existe no bairro há bastante tempo e nunca houve nenhuma medida que visasse mudar essa realidade, e se houve não obteve êxito. O local aparenta ser abandonado pela gestão municipal, a prova disso é que os restos da caixa coletora do esgoto ainda estão no local, pois nunca houve reparos. Diante do quadro relatado, compreende-se que é importante se pensar em planejamento ambiental exitoso considerando todos os elementos que, de maneira integrada, constituem a paisagem. Projetos de expansão urbana, obras como rede de drenagem e outras políticas públicas, devem ser antecedidos de estudos de suscetibilidade da área à erosão, pois são intervenções que afetam o meio físico e modificam as características do relevo (GUERRA; MARÇAL, 2006) podendo trazer resultados negativos do ponto de vista ambiental. CONCLUSÃO O esgoto a céu aberto é um problema ambiental que a população de Teresina já conhece muito bem, pois em alguns casos faz parte do cotidiano das pessoas e compõe a paisagem. No caso 148

149 abordado neste estudo, este problema está agravado pelo processo erosivo que originou a voçoroca, certamente houve um mal planejamento ou execução incorreta daquilo que foi planejado quanto à instalação da rede de drenagem. Assim, torna-se necessário que a gestão pública planeje e execute ações, à luz de estudos geomorfológicos, visando minimizar a degradação ambiental, como também o risco social instalado, através de obras de engenharia, de políticas de arborização e promoção da educação ambiental visando evitar o descarte incorreto de resíduos sólidos no local. REFERÊNCIAS ALBUQUERQUE, Francisco Nataniel Batista de. Impactos ambientais e agentes: fatores controladores de voçorocas urbanas na cidade de Eunápolis (Bahia). Pindorama IFBA, Ano 3, n. 2, jun Disponível em: < Acesso em: 17 jul CARVALHO, Orleando Leite de. Geoprocessamento da Planta do bairro Novo Horizonte, Teresina, GUERRA, Antônio José Teixeira; MARÇAL, Mônica dos Santos. Geomorfologia Ambiental Conceitos, Temas e Aplicações. In:. Geomorfologia Ambiental. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2006, p LIMA, Iracilde M. de Moura Fé (Coord.). Agenda 2015: Plano de desenvolvimento sustentável: Diagnósticos e cenários meio ambiente. Coordenação do Grupo Temático Meio Ambiente. Teresina: Prefeitura Municipal de Teresina, MAGALHÃES, Ricardo Aguiar. EROSÃO: Definição, tipos e formas de controle. In: SIMPÓSIO NACIONAL DE CONTROLE DE EROSÃO, 7., Goiânia, GO. Anais... Goiânia, GO: Associação Brasileira de Geologia e de Engenharia Ambiental, Disponível em: < Acesso em: 17 jul MORAES, Maria Valdirene A. R.; LIMA, Iracilde M. de M. F. Mapeamento geomorfológico a partir de dados SRTM: município de Teresina, Piauí. SIMPÓSIO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA FÍSICA APLICADA. 26., Teresina (PI). Anais Teresina (PI): EDUFPI, ROSS, Jurandyr L. Sanches. Geomorfologia Ambiental. In: GUERRA, Antônio J. Teixeira; CUNHA, Sandra B. da. Geomorfologia do Brasil. Rio de Janeiro: Bertrand do Brasil, 1998, p SILVA, Glécia Alves da. 04 fotografias colo. Digitais, Teresina: Bairro Novo Horizonte, TERESINA, Prefeitura Municipal de. Perfil dos bairros, Disponível em: < Acesso em 20 jul

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151 O ENSINO DE GEOMORFOLOGIA NO CURSO DE ARQUEOLOGIA E A AVALIAÇÃO POR PORTFÓLIO Eixo temático: Ensino de Geomorfologia Andrea Lourdes Monteiro Scabello Licenciatura em Geografia - UFPI Professora Adjunto IV ascabello@hotmail.com Resumo: Este trabalho tem por objetivo apresentar experiências sobre o ensino da geomorfologia no Ensino Superior, mas especificamente, no curso de Bacharelado em Arqueologia da Universidade Federal do Piauí (UFPI) e sobre o processo de avaliação da aprendizagem por meio de portfólio. No Projeto Político Pedagógico do curso, aprovado em 2011, a Geomorfologia constitui-se numa disciplina obrigatória, com carga horária de 60 horas (equivalente a 4 créditos) ofertada no quarto semestre do curso. A ementa versa sobre: o objeto e campo da geomorfologia; a relação da geomorfologia com as geociências; a ciência geomorfológica; as formas de relevo; os fatores exógenos do relevo terrestre, a cartografia geomorfológica e, a gestão e os impactos. Estas temáticas foram abordadas através de aulas expositivas dialogadas e aulas de campo nas quais os estudantes participaram de experiências pedagógicas distintas permitindo que se propusesse, como um dos instrumentos de avaliação, o portfólio. Este é um instrumento que contribui para a elaboração do pensamento crítico e reflexivo. Palavras-chave: Geomorfologia. Arqueologia. Aulas de Campo. Portfólio de Avaliação. Abstract: This work aims to present experiences of teaching geomorphology in Higher Education, but specifically, in the Bachelor of Archeology course of the Federal University of Piauí UFPI. This text presents experiences reports regarding the evaluation process of learning through portfolio. Geomorphology is a compulsory subject, with a 60-hour workload (equivalent to 4 credits) offered in the 4 semester of the course. The menu deals with: the object and field of geomorphology; the relationship between geomorphology and geosciences; geomorphological science; relief forms; the exogenous factors of the terrestrial relief, the geomorphological cartography and the management and the impacts. These themes were addressed through dialogic expository classes and field lessons. In the classes the students participated in different pedagogical experiences allowing one to propose as one of the instruments of evaluation the portfolio. The portfolio was an excellent evaluation tool allowing the elaboration of critical and reflective thinking. Keywords: Geomorphology. Archeology. Field Classes. Evaluation Portfolio. INTRODUÇÃO A geomorfologia é um campo do conhecimento que estabelece interfaces com a ciência geológica e a ciência geográfica. O seu objetivo é explicar a gênese e a evolução das formas de relevo, observando os aspectos do passado com vista a compreender o presente e, projetar o futuro. 151

152 As diferentes feições do relevo servem e serviram de suporte para as distintas populações que ocuparam e ocupam a superfície da Terra. Assim, esse campo do conhecimento possibilita a construção de hipóteses acerca da fixação e dispersão das populações, assim como, permite refletir sobre a evolução da paisagem, sobre as questões ambientais e de geoconservação. E, neste caso, os conhecimentos produzidos interessam não somente aos geógrafos, mas também, aos arqueólogos. Contudo, se para os geógrafos os conhecimentos da Geomorfologia são obrigatórios, contraditoriamente, nos cursos de Bacharelado em Arqueologia a disciplina nem sempre faz parte da matriz curricular. Para estes últimos a ausência desses conhecimentos pode dificultar a identificação e interpretação dos depósitos naturais em relação àqueles de constituição antrópica, fruto da utilização dos agrupamentos humanos. Segundo Santos (1997, p. 205) [...] a importância dos estudos geomorfológicos para a arqueologia está na contribuição que estes estudos podem oferecer para o entendimento dos fatores genéticos e evolutivos da formação da dinâmica das paisagens.. No caso do Bacharelado em Arqueologia da Universidade Federal do Piauí (UFPI) a referida disciplina é ofertada no quarto semestre tendo como pré-requisito a Geologia do Quaternário. Tratase de conteúdo obrigatório complementar com carga horária de 60 horas (30 horas dedicadas a teoria e 30 horas para a prática). A intencionalidade deste trabalho é apresentar experiências do ensino da Geomorfologia aplicada à Arqueologia (2013.2), através dos portfólios de avaliação. Este trabalho, de caráter bibliográfico e documental, propõe a analisar alguns dos materiais produzidos no contexto das aulas, utilizando para tanto dois portfolios cedidos pelos estudantes. A análise desse material ajudou a pensar reflexivamente sobre a prática pedagógica. Este trabalho está subdivido em três seções: 1) Considerações sobre o Ensino de Geomorfologia, 2) As experiências e vivências: construindo a observação em Geomorfologia e, 3) A prática avaliativa através de portfólio. CONSIDERAÇÕES SOBRE O ENSINO DE GEOMORFOLOGIA Poucas são as pesquisas sobre o ensino da Geomorfologia nos cursos de graduação em Geografia. Mas, nos últimos anos a temática passou a fazer parte dos principais eventos de Geografia Física. E, entre os trabalhos acadêmicos publicados destaca-se Geomorfologia no Ensino Superior: Difícil, mas interessante! Por Quê? Uma discussão a partir dos conhecimentos e das dificuldades entre graduandos de Geografia IGC/UFMG de autoria de Carla Juscélia de Oliveira Souza. O ensino da Geomorfologia não se constitui numa tarefa fácil em função da complexidade de conhecimentos e, mesmo, de habilidades que se devem desenvolver. O docente precisa preocuparse, ainda, com os métodos e as metodologias de ensino que possam instigar o estudante a aprender. Limitações ocorrem no ensino, pois alguns se preocupam com a aquisição dos conceitos enquanto outros com o entendimento dos processos. Para isso, muitas vezes, se recorre a exposição de informações sem associá-las a observação in locu oriundas das aulas e trabalhos de campo. A 152

153 ausência laboratórios nas instituições são, muitas vezes, a justificativa para não se realizar atividades práticas (OLIVEIRA; NUNES, 2017). Se estes são alguns dos problemas relacionados ao ensino da Geomorfologia nos cursos de Geografia, pode-se imaginar que a realidade não é diferente nos cursos de Arqueologia. A Geomorfologia entendida como o campo de conhecimento que estuda a gênese e explica as formas existentes na superfície terrestre exige a compreensão de conceitos de diversas naturezas. O relevo [...] é fruto da atuação de duas forças opostas a endógena (interna) e a exógena (externa) sendo que as internas são as geradoras das grandes formas estruturais do relevo e as externas são as responsáveis pelas formas esculturais. (ROSS, 1995, p. 33). Desta forma, para entender as formas de relevo, existentes num determinado lugar ou região, exige-se conhecimentos acerca das macroformas e, também, dos processos endógenos e exógenos de geração do relevo. Assim, os conhecimentos da geologia geral tornam-se, também, imprescindíveis. No caso em questão, é oferecida aos estudantes de arqueologia a disciplina de Geologia do Quaternário, com um conteúdo mais específico. Pressupõe-se que os conhecimentos básicos de Geologia Geral foram ensinados e aprendidos durante o Ensino Fundamental e Ensino Médio, nas aulas de Ciências e Geografia. Contudo, esta premissa não é verdadeira. Muitos dos estudantes de Arqueologia não se lembravam dos conteúdos de geologia tratados na Educação Básica. O Projeto Político Pedagógico do curso de Arqueologia (2011) apresenta como ementa da disciplina os temas: Objeto e campo da Geomorfologia; Relação da Geomorfologia com as Geociências; Ciência geomorfológica; Formas de relevo; Fatores exógenos do relevo terrestre; Cartografia geomorfológica; Gestão e impactos. Esses muito gerais dificultando os estudos de âmbito interdisciplinar, no qual a Geomorfologia e a Arqueologia possam estar associadas. A Geomorfologia na sua gênese, assim como em outras ciências, apresentou características descritiva e classificatória. Aos poucos, passou a se preocupar com as causas e interações entre os processos responsáveis pelo relevo terrestre, expondo a interface entre Geologia e Geomorfologia. Mas, para entender o relevo outros conhecimentos se fazem necessários (Climatologia, Hidrografia, Glaciologia, Paleogeografia, Geografia Humana, etc.). Como afirmam Soares, Salgado e Oliveira (2013, p. 352): A série de conhecimentos de outras ciências [...] que a pesquisa geomorfológica demanda, dá mostras [da] função-ponte que ela exerce entre essas duas Ciências da Terra [Geografia e Geologia]. Se assim é, a produção bibliográfica em Geomorfologia deveria, em alguma medida, refletir essa função, dar testemunho desse caráter interdisciplinar. Porém, esse caráter interdisciplinar é ainda pouco explorado. Notam-se poucas referências relativas a associação entre Geomorfologia e Arqueologia. Contudo, as existentes reforçam a 153

154 importância das análises geomorfológicas para as interpretações arqueológicas, como se observa no excerto a seguir: En función de estos conceptos, el análisis geomorfológico de un territorio aporta a la arqueopaleontología conocimientos fundamentales para una mejor interpretación de la génesis y el contexto temporal de las concentraciones arqueológicas y paleontológicas, a través de la compresión de las formas del paisaje donde se localizan y de los procesos que actúan en el presente y actuaron en el pasado. De igual modo, el relieve y los procesos geomorfológicos constituyen elementos clave para analizar la conservación y perduración de los yacimientos o concentraciones arqueopaleontológicas. (BENITO-CALVO; LOZANO; KARAMPAGLIDIS, 2014, p. 43). A análise do relevo e dos processos geomorfológicos são fundamentais para se verificar, o tempo de duração e conservação dos assentamentos ou das concentrações arqueopaleontológicas. Complementando esse pensamento, Santos (1997, p. 210) destaca que as pesquisas geomorfológicas são essenciais para a compreensão dos depósitos do Quaternário nos quais se encontram os vestígios das atividades humanas. Estas pesquisas auxiliam os arqueólogos fornecendo dados acerca da [...] gênese, morfologia e desenvolvimento da paisagem, abrangendo certas especialidades como a sedimentologia.. Adotou-se como metodologia de ensino as aulas expositivas dialogadas e aulas de campo nas quais foram planejadas diferentes atividades pedagógicas, a exemplo de leitura compartilhada e discussão, sínteses de aulas, estudos dirigidos, exercícios de fixação, elaboração de glossário geomorfológico; relatório de aula de campo, entre outras. Na seção a seguir serão relatadas as experiências desenvolvidas durante a disciplina. AS EXPERIÊNCIAS E VIVÊNCIAS: CONSTRUINDO A OBSERVAÇÃO EM GEOMORFOLOGIA As atividades de cunho teórico foram alternadas com as atividades práticas. Como em qualquer procedimento de ensino e de pesquisa as atividades iniciaram-se pelo conhecimento das teorias e dos conceitos fundamentais. Além da bibliografia básica foram sugeridas leituras complementares (Quadro 1) a fim de constituir o embasamento das discussões em classe e, também, para dar suporte às aulas de campo. A dificuldade de obtenção de bibliografia mais específica, com relação Geomorfologia e Arqueologia, indicou a possibilidade de se adotar uma perspectiva ambiental. Mas, os estudantes indagavam com frequência: Quais são os conhecimentos geomorfológicos importantes para as pesquisas arqueológicas? A problemática enunciada norteou as aulas e levou os estudantes a realizarem pesquisa em periódicos especializados, como a Revista Clio - Arqueologia editada pela Universidade Federal de 154

155 Pernambuco (UFPE). Esta etapa do ensino/pesquisa foi considerada essencial na tentativa de responder a questão enunciada pelos estudantes. A relação entre os conhecimentos geomorfológicos e a pesquisa arqueológica é exposta por Santos (1997, p.211) na citação a seguir: É importante também ressaltar a importância da Geomorfologia na fundamentação da Arqueologia Ambiental, porque esta ao considerar o homem, animal humano inserido no mundo natural, valoriza, sobretudo, a morfologia, o clima e a vegetação que condicionam a vida animal em geral. Esta perspectiva geomorfológica tem demonstrado a importância das jazidas arqueológicas sob a visão dos processos geomorfológicos que a produziram. Entender os processos de formação dos sítios arqueológicos é um dos objetivos da pesquisa arqueológica consubstanciada no trabalho de campo, mas especificamente, na etapa de escavação. Uma das intenções nessa etapa da pesquisa é perceber as distintas camadas sedimentares, que compõem o depósito arqueológico, evidenciando a cultura material a elas associadas a fim de compreender a ocupação sucessiva de um determinado lugar. O trabalho de pesquisa arqueológica, assim como em outras ciências, tem por subsídio, uma etapa de gabinete, na qual se realiza o levantamento bibliográfico e a análise da documentação disponível sobre o lugar a ser pesquisado. Desta forma, a bibliografia (Quadro 1) do curso forneceu aos estudantes algumas informações acerca da natureza da Geomorfologia, cabendo a eles a pesquisa sobre a relação entre esses dois campos de conhecimentos. Quadro 1 Bibliografia Básica e Complementar Básica Complementar CASSETI,.V. Elementos de Geomorfologia. Goiânia: UFG, CHRISTOFOLETTI, A. Geomorfologia. São Paulo: Edgard Blüher, JATOBÁ, Lucivânio; LINS, Rachel Caldas. Introdução à Geomorfologia. 4 ed revista e ampliada. sl: Edições Bagaço, s/d. GUERRA, A. J. T.; CUNHA, S. B. da (org). Geomorfologia: uma atualização de bases e conceitos. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, GUERRA, A. J. T.; CUNHA, S. B. da (org). Geomorfologia e Meio Ambiente. Rio de Janeiro: Editora Bertrand Brasil, SUERTEGARAY, D. M. A. Geografia Física e Geomorfologia: uma (re)leitura. Ijuí/RS: Editora Unijuí, 2002, 112p. (Coleção Ciências Sociais). PENTEADO, M. M. Fundamentos de Geomorfologia. IBGE, Rio de Janeiro, 1994, 113p. ROSS, Jurandir. L. S. Relevo Brasileiro: Uma Nova Proposta de Classificação. Revista do Departamento de Geografia, 4, FFLCH/USP, São Paulo, 253p. ROSS, Jurandir. L. S. Geomorfologia Ambiente e Planejamento. 2ª ed. São Paulo: Contexto, 87p SANTOS, Adelson. Geomorfologia na pesquisa arqueológica. Revista Clio, nº 12, Fonte: Quadro elaborado pela autora. 155

156 O curso iniciou-se com a apresentação do documentário Poyaniqaastsky vida em transformação (1988), dirigido por Godfrey Reggio como estratégia de sensibilização. O documentário expõe imagens relativas as sociedades tribais e a sociedade industrial mostrando o cotidiano das pessoas que trabalham em países empobrecidos e os problemas ambientais acarretados pela ação humana. A transformação e a destruição das paisagens é um dos temas abordados. Ao longo das aulas foram indicados os textos básicos com a finalidade de subsidiar algumas reflexões sobre o trabalho do arqueólogo. Entre eles destacou-se o artigo A Geomorfologia na pesquisa arqueológica. Neste texto o autor afirma que cabe a Arqueologia dedicar-se ao estudo da ocupação humana numa localidade geográfica aprendendo a analisar de forma sistemática os sedimentos e a paisagem sendo o seu objetivo: Realizar a reconstrução minuciosa do terreno, a disponibilidade periódica ou permanente de água, as características da capa freática e, em seguida utilizá-la em contexto regional, de modo que se possa especificar o tipo de ambiente de épocas distintas. (SANTOS, 1997, p. 211). Para as observações de campo foi eleita a cidade de Teresina como área de pesquisa, por ser o local no qual se situa o curso de Arqueologia da UFPI. Em função da presença dos rios Parnaíba e Poti os estudantes escolheram como tema para aula de campo a Geomorfologia Fluvial. Iniciou-se a preparação com a leitura dos textos de autoria de Antônio Cristofoletti e de Margarida Penteado. Coube a cada estudante realizar o levantamento da literatura especializada sobre os aspectos físicos, com destaque para a geomorfologia do município. Propôs-se que o desenvolvimento da pesquisa - o planejamento das etapas e as dificuldades encontradas - fosse anotado em um diário de pesquisa. E, os resultados do levantamento bibliográfico registrado em um diário de leitura. Estes dois instrumentos complementariam o diário de campo que deveria concentrar as informações oriundas das observações e de outros instrumentos de coleta de dados que se fizessem necessários. E, os registros desses três diários seriam utilizados para a elaboração do relatório de aula de campo. A fim de conhecer com maior detalhamento a geomorfologia do município utilizou-se O relevo de Teresina, PI: compartimentação e dinâmica atual de autoria de Iracilde Maria de Moura Fé Lima. Segundo a autora, Teresina localiza-se: [...] em parte na área de pequenas bacias hidrográficas Difusas do Médio Parnaíba e do rio Poti, sendo que o Parnaíba corresponde ao nível de base regional e em sua bacia encontram-se 90% da área piauiense. É banhado pelo rio Parnaíba em toda sua extensão Norte-Sul, num percurso de 83,408 Km formando o limite oeste com o Maranhão, sendo o trecho da área urbana de 26,311 Km de extensão. O rio Poti, seu maior afluente neste município, apresenta uma extensão de 55,48 Km, estando 24,48 Km na área urbana. Ao atravessar a cidade de Teresina o Poti encontra-se no seu baixo curso, apresentando traçado fortemente meandrante até sua foz no Parnaíba, contornando os morros residuais sustentados por depósitos de massará. (LIMA, 2011, P.1) 156

157 Os afluentes de pequena extensão dos rios Parnaíba e Poti, que nascem na cidade, foram canalizados provocando problemas socioambientais como inundações e intensificação do processo erosivo nos períodos de maior incidência pluviométrica. Lima (2011, p.2) chama a atenção, ainda, para a constituição geológica do município, apresentando as características da estrutura da porção centro oriental da Bacia do Parnaíba, destacando desde as formações datadas do Paleozóico ao início do Mesozóico, com destaque para a Formação Piauí, datada do Carbonífero aflorando nos níveis mais baixos dos vales dos rios Paranaíba e do Poti. E, sobreposta a esta formação destaca-se a Formação Pedra do Fogo (datada do Permiano), no qual há algumas evidências de vestígios arqueológicos. Os dados das pesquisas apontavam para a presença de várias unidades de relevo com base na gênese e morfologia do modelado, a saber: Planícies e Terraços fluviais; Superfícies intensamente retrabalhadas pela drenagem com morros residuais, Superfícies residuais retrabalhadas por vales encaixados (LIMA, 2011). Selecionou-se como ponto de observação a Avenida Raul Lopes e, mais precisamente, as imediações da Ponte Estaiada. A aula de campo teve por objetivo identificar algumas feições geomorfológicas de caráter fluvial estudadas em sala de aula. A intenção foi propiciar experiências na qual se associasse a teoria à prática. E, por objetivos específicos identificar e descrever os problemas ambientais ocasionados pela ação antrópica; registrar, por meio de desenhos e fotografias, as paisagens observadas. APRENDIZAGENS REVELADAS ATRAVÉS DO PORTFÓLIO O ensino, a avaliação e a estimativa da aprendizagem fazem parte de um único ciclo. No ensino tradicional avalia-se a aprendizagem dos estudantes através dos resultados obtidos em provas escritas. Este é um dos instrumentos preferidos pelos professores no Ensino Superior. Contudo, ao se utilizar o paradigma reflexivo outros instrumentos podem ser usados com o objetivo verificar o processo de aprendizagem. A avaliação por portfólio é um deles. E, se constitui num dos procedimentos da avaliação formativa. Trata-se de uma coletânea de atividades pedagógicas selecionadas pelos estudantes com mediação do professor que demonstrem o processo de aprendizagem. A montagem do portfólio [...] deve estimular o questionamento, a discussão, a suposição, a proposição, a análise e reflexão (SHORES; GRACE, 2001, 15). Segundo Villas Boas, este instrumento de avaliação [...] permite aos alunos participar dos objetivos de sua aprendizagem e avaliar o seu progresso.. Assim, para a referida autora, o portfólio é mais que uma coleção de trabalhos, pois parte dos pressupostos que: 1) a avaliação é um processo em desenvolvimento; 2) os alunos são participantes ativos desse processo porque aprendem a identificar e revelar o que sabem e o que ainda não sabem; 3) a reflexão do aluno sobre a sua aprendizagem é parte importante do processo.. (VILLAS BOAS, 2004, p, 38). 157

158 Para Villas Boas (2004) os portfólios propiciam aos estudantes registrar as suas experiências e aprendizagens significativas, de modo contínuo. Tratando-se de um instrumento de propriedade dos estudantes, devem ser devolvidos no final do período letivo. Esta situação foi contemplada pela disciplina, o que ocasionou certa dificuldade na escrita do presente trabalho, pois houve a necessidade de entrar em contato com os egressos para que os mesmos disponibilizassem os seus portfólios pessoais. O portfólio proporciona ao estudante pensar sobre as ideias e informações adquiridas no contexto intra e extra sala de aula, relatando as suas próprias experiências. Possibilita refletir sobre os caminhos percorridos e perceber quais aprendizagens foram efetivadas e o que precisa ainda ser aprendido. Portanto, este instrumento de avaliação é centrado nas experiências pessoais do estudante e nas atividades por ele realizadas, podendo ser entendido, também, como auto avaliação. E, nesta medida encoraja-o a refletir sobre o próprio trabalho, realizando conexões entre os tópicos estudados e as vivências que são a base do pensamento criativo (SHORES; GRACE, 2001). Para Villas Boas (2004, p. 47) o portfólio serve para vincular a avaliação ao trabalho pedagógico. E, nesse sentido a avaliação se compromete [...] com a aprendizagem de cada aluno e deixa de ser classificatória dedicando-se a formação do cidadão. O portfólio de avaliação está assentado em alguns princípios básicos. Em primeiro lugar, o fato dele se constituir numa construção do próprio estudante. Em segundo lugar ser resultado de uma ação reflexiva. O estudante seleciona o que deve ser incluído, como incluir as atividades realizando, também, a análise de suas produções. Como a construção ocorre, frequentemente, em um tempo determinado (mensal, bimestral, trimestral, semestral ou anual) o estudante tem a possibilidade de refazer algumas das suas produções se ele considerar pertinente. Assim, o portfólio permite o estudante enxergar o seu próprio desenvolvimento. E, em terceiro lugar, estimula-se o pensamento criativo. Os estudantes escolhem a maneira de organizar e apresentar o portfólio. (VILLAS BOAS, 2004). No caso em questão o portfólio de Geomorfologia englobou 8 oito atividades, selecionadas em conjunto com os alunos (Quadro 2). A construção do instrumento ocorreu ao longo do semestre letivo. A maioria das atividades foi realizada em sala de aula semanalmente. A forma de apresentação do portfólio foi livre (Figura 1). Alguns alunos adotaram o modelo clássico de pastas com folhas plásticas nas quais organizaram as atividades, porém elaboraram maquetes e outros recursos para apresentar as aprendizagens e os saberes. Quadro 2 O Portfólio de Avaliação em Geomorfologia Atividades Função Considerações Sínteses das aulas Elaboração de textos descritivosnarrativos sobre as aulas, incluindo os comentários pessoais Proporcionou a reconstituição das temáticas das aulas e possibilitou o desenvolvimento de anotações, 158

159 Fichamentos Diário de Leitura Diário de Pesquisa e campo Relatório de aula de campo Atividades on line Mapa mental Desenhos observação de contribuindo para o aperfeiçoamento da escrita Houve uma preferência pelo fichamento de citação, pois possibilitou as anotações das ideias dos autores organizando as referências. Além de permitir que o conteúdo das fichas fosse utilizado nos trabalhos de outras disciplinas Este gênero textual permitiu realizar correlações entre o texto lido e as aulas, além de possibilitar a expressão de ideias própria. O caderno de pesquisa, além anotações das etapas percorridas e das dificuldades encontradas, possibilitou o registro das observações em campo. Houve a possibilidade de associar o que foi lido com o que foi visto O relatório possibilitou a materialização dos conteúdos estudados em sala de aula permitindo associação entre referencial teórico e as observações individuais. Atividades realizadas através do sistema Sigaa UFPI na qual se verificava o nível de compreensão de cada uma das unidades estudadas A atividade foi de difícil execução, mas muito prazerosa. Possibilitou aguçar o pensamento e permitiu desenvolver minimamente a habilidade do desenho Igualmente prazerosa, proporcionou a contemplação da paisagem e o registro do observado. Atividade com alto grau de dificuldade. Fonte: Vilela (2014), adaptação da autora. Execução de fichamentos de conteúdo e de citação com o objetivo de extrair informações relevantes dos textos lidos Elaboração de anotações, de alguns dos textos que compuseram a bibliografia básica, utilizando uma escrita informal. Caderno no qual se sistematiza as etapas de uma pesquisa, podendo incluir as observações de campo Descrição, relato e análise dos dados obtidos na aula de campo Exercícios propostos e de fixação dos conteúdos e conceitos Elaboração de mapa mental com o objetivo de incentivar o registro das observações através de desenhos Elaboração de croquis da paisagem Figura 1 Exemplo de Portfólio de Avaliação Foto: Scabello (2017) portfólio: Apresenta-se a seguir a observação de um dos estudantes com relação ao objetivo do 159

160 [...] Nesse sentido, através das metodologias variadas [...] destacando os elementos da Geomorfologia [...] o professor [enquanto] orientador buscou atender as necessidades da turma, treinando o olhar dos discentes para as situações corriqueiras do trabalho de campo. Os métodos são relevantes na construção intelectual, assim como o trabalho com diferentes técnicas, pois contribuem para a formação crítica do estudante enquanto arqueólogo (BESSERA, 2014). No texto acima se aponta para o papel do professor mediador, ressaltando que o ensino tentou atender as necessidades de aprendizagem de cada estudante. Ainda, nesta perspectiva reflexiva destacam-se as considerações efetuadas por Vilela (2014): [...] a atividade de construção e elaboração do portfólio, permitiu a organização e sistematização das atividades realizadas durante a disciplina. CONCLUSÃO Este trabalho teve por objetivo apresentar aspectos do ensino de geomorfologia destacando a interface com a Arqueologia. E, apontar a necessidade de utilização de metodologia de ensino e de avaliação da aprendizagem que possa ir além da memorização dos conceitos. Ao escolher o portfólio como instrumento de avaliação da aprendizagem permitiu-se que os estudantes percebessem a intencionalidade das atividades pedagógicas planejadas. Contudo, por ser um instrumento de avaliação com o qual eles nunca haviam trabalhado houve, no início, certa resistência. Mas, de forma geral, eles consideraram a experiência válida por auxiliar na construção de um conhecimento crítico. Embora trabalhoso o portfólio contribuiu para que se entendesse a relação entre ensino e a pesquisa. REFERÊNCIAS BENITO-CALVO, Alfonso; LOZANO, Isidoro Campaña; KARAMPAGLIDIS; Theodoros. Conceptos básicos y métodos en geoarqueología: geomorfología, estratigrafía y sedimentologia. Treballs d Arqueologia, 2014, núm. 20, p BESERRA, André Luiz das Neves. Portfólio de Geomorfologia. Teresina, 2014, 7 f. (texto digitado) LIMA, Iracilde Maria de Moura Fé. O relevo de Teresina, PI: compartimentação e dinâmica atual. Disponível em: < ARTIMENTACAO_E_DINAMICA_ATUAL> Acesso em 5 de setembro de OLIVEIRA, Adriana Olivia Sposito Alves; NUNES, João Osvaldo Rodrigues. O ensino de geomorfologia nos cursos de geografia nas universidades públicas do estado de São Paulo. Disponível em: < igacionydesarrolloeducativo/25.pdf> Acesso em 30 de agosto de

161 ROSS, Jurandyr L. Sanches. Os Fundamentos da Geografia da Natureza. IN: ROSS, Jurandyr L. Sanches (org.). Geografia do Brasil. São Paulo: EDUSP,1995. SANTOS, Adelson. A geomorfologia na pesquisa arqueológica. Revista Clio- Arqueologia, nº 12, 1997, p SOARES, Weber; SALGADO, André Augusto Rodrigues; OLIVEIRA, Carmélia Kerolly Ramos de. Geomorfologia: ciência interdisciplinar? Revista Brasileira de Geomorfologia, vol 13, n 3, (jul-set), 2012, p SHORES, Elizabeth F.; GRACE, Cathy. Manual de Portfólio: um guia passo a passo para professores. Porto Alegre: Artmed, VILLAS BOAS, Benigna Maria de Freitas. Portfólio, avaliação e trabalho pedagógico. Campinas: Papirus, 2004 VILELA, Ludiane das Chagas. Portfólio de Geomorfologia. Teresina, f. (texto digitado) 161

162 ANÁLISE DA GEODINÂMICA COSTEIRA ATRAVÉS DE SENSORIAMENTO REMOTO NA BAÍA DO TUBARÃO MARANHÃO, BRASIL Deuzanir da Conceição Amorim Lima Mestranda/Universidade Estadual do Maranhão Marco Aurélio Neri Torres Graduando/ Universidade Estadual do Maranhão Jorge Hamilton Souza dos Santos Orientador/ Universidade Estadual do Maranhão Eixo Temático: Geomorfologia Costeira Resumo: A geomorfologia costeira é definida por vários fatores geodinâmicos que atuam sobre a zona costeira, dentre estes os principais influenciadores estão a pluviosidade, descarga fluvial, corrente litorânea e outros. O trabalho teve como intuito realizar uma análise temporal da área norte da Baía de São José. Para isso foram adquiridas imagens do satélite da série Landsat 05 e 08 dentro do intervalo de um intervalo de 1988 a 2015, com a menor cobertura de nuvens possível para que o trabalho não fosse comprometido. As imagens adquiridas e depois tratadas passaram pela analise integrada dos fatores atuantes na geomorfologia. Foram identificados 7 pontos de alteração dos quais as maiores partes indicam fortes processos de sedimentação. Essas alterações podem causar consequências danosas a longo prazo para as comunidades locais. Palavras-chave: Geomorfologia Costeira. Geodinâmica. Baía do Tubarão. Abstract: Coastal geomorphology is defined by several geodynamic factors that act on the coastal zone, among them the main influencers are rainfall, river discharge, coastal current and others. The objective of this work was to carry out a temporal analysis of the northern area of the São José Bay. For this, satellite images of the Landsat 05 and 08 series were acquired within a range from 1988 to 2015, with the lowest possible cloud cover for that the work was not compromised. The images acquired and then treated went through the integrated analysis of the factors acting in geomorphology. 7 alteration points were identified, of which the major parts indicate strong sedimentation processes. Such changes can have harmful long-term consequences for local communities. Keywords: Coastal Geomorphology. Geodynamics. Bay of Shark. 162

163 INTRODUÇÃO No Brasil e no mundo tem-se desenvolvido inúmeros trabalhos científicos para entender os processos geodinâmicos que incidem sobre a costa dos continentes uma vez que estes alteram a configuração morfológica das zonas costeiras. O Brasil em particular, possui uma extensa região litorânea ainda pouco explorada se comparada à quantidade de área a ser trabalhada. Há uma escassez, inclusive de trabalhos simples de caracterização seja no âmbito da geografia, da geologia, da oceanografia, da biologia ou de quaisquer outras ciências se que possam explorar nesses ambientes tão dinâmicos. A zona costeira é um ambiente predominantemente dinâmico, fato que se dá principalmente por conta da ação de elementos como a maré, o vento, a declividade, a batimetria e a presença ou ausência de vegetação. Segundo Cardoso (2015) a dinâmica costeira provoca constantes modificações geomorfológicas na linha de costa com o passar do tempo. Essas modificações estão principalmente associadas a processos de erosão e sedimentação que podem facilmente ser observadas através de sensoriamento remoto. O uso das técnicas de sensoriamento remoto para monitoramento de áreas costeiras tem ganhado espaço no âmbito da pesquisa científica uma vez que reduz custos e permite monitorar áreas de grandes extensões. Além de poder servir de subsídio para o gerenciamento de zonas costeiras prevenindo consequências danosas à sociedade e ao ambiente e prevenindo um planejamento deficiente do manejo de ecossistemas. É possível observar, por exemplo, alterações na geomorfologia costeira a curto, médio e longo prazo dependendo da resolução temporal do satélite selecionado para adquirir as imagens. A resolução espectral e espacial do sensor a bordo do satélite também importantes, pois a refletância da água é alterada com o acumulo de material em suspensão facilitando assim a detecção de pontos de sedimentação em corpos d agua. Essas alterações geomorfológicas que podem ser causadas tanto por fatores antrópicos quanto por fatores naturais, ou ainda pelo ação integrada dos dois. O presente trabalho objetivou fazer uma análise multitemporal da geodinâmica costeira da Baía do Tubarão através de sensoriamento remoto identificando pontos de erosão e sedimentação a fim de associar estes aos processos geodinâmicos relacionados. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA Os processos dinâmicos responsáveis pela evolução das feições que integram as unidades de paisagem na zona costeira são bastante incisivos e agem de forma integrada na modelagem da linha de costa. Os movimentos externos que atuam na superfície da Terra caracterizando esses processos são chamados de processos exógenos e englobam além do intemperismo físico, químico e bioquímico, a erosão que se refere à remoção do material intemperizado e a acumulação na qual o material removido e transportado pela erosão é depositado (FLORENZANO, 2008). 163

164 De acordo com o estudo socioambiental feito por Soares (2017) na Baía do Tubarão para a construção de uma Resex, a Baía envolve 13 comunidades que vivem em sua área. Ainda segundo Soares (2017) os pescadores e marisqueiras nativos da Baía estão distribuídos tanto em terra firme como nos apicuns e nas ilhas. Diante disso fica claro que quaisquer alterações geomorfológicas atingem diretamente essas comunidades. Além disso, a biodiversidade é exuberante e relativamente preservada nessa área se considerarmos, por exemplo, o frequente avistamento de peixe boi levantado pelo estudo, que é considerado a maior população já registrada no nordeste desde 1999 (ALVITE, 2006). Macedo (1989) explica ainda que o padrão de mistura desenvolvido nessas condições estuarinas propicia a formação do exuberante cinturão de vegetação arborescente que por sua vez desencadeia a alta produtividade e fertilidade no Golfão, contribuindo para o estabelecimento de uma cadeia biologia vasta e complexa. Por conta desses processos de interação típicos de ambientes costeiros, essas regiões litorâneas são alvo de interesse de muitos cientistas e planejadores, tornando assim indispensável conhecer as causas e avaliar os meios de mitigar os efeitos gerados pela erosão nessas áreas (SOUSA, 2007). METODOLOGIA Área de Estudo A Baía do Tubarão localiza-se a leste do Golfão Maranhense e limita-se a oeste pelas ilhas que fazem divisa com a baía de São José e a leste com bacia hidrográfica do Periá (figura 01), Abrangendo os municípios Icatu, Humberto de Campos e Primeira Cruz e tem sido alvo de estudos a fim de estabelecer a Resex da Baía do Tubarão. Segundo Gonçalves (2005) está situado entre dois setores fisiograficamente bem distintos, sendo um a leste da Baia onde dominam praias arenosas e o outro a oeste onde predominam as planícies de maré lamosa. De acordo com a classificação de Koppen (1928) apresenta clima do tipo Aw, sendo tropical chuvoso, quente e úmido, enquadrando-se entre os padrões equatorial e tropical, com a demarcação de duas estações bem distintas marcadas pelas precipitações, sendo um chuvoso (janeiro a junho) e outro de estiagem (julho a dezembro). Os povoados vivem em sua grande maioria da pesca, embora a produção de sal tenha significativa notoriedade em alguns povoados como São Lucas que se destaca com técnicas de produção mais desenvolvidas incluindo embalagens e Curralinho que ainda mantem a produção artesanal, apesar da diferença a produção, a fabricação nos dois é feita da mesma maneira, através de construção de tanques e sistemas de barragens in situ que são alimentados com águas da maré utilizando apenas a radiação solar como artificio de evaporação. Outra fonte de renda que se destaca 164

165 nessa região é a extração de caranguejos que é tão significativa que sustenta toda uma economia local baseada na exportação de patas de caranguejos para abastecer restaurantes de outros municípios. Alguns povoados não possuem energia como é o caso da Ilha Grande onde foram instaladas placas solares. Muitos não possuem saneamento básico como sistema de esgotos o que nos leva a sugerir um trabalho de invasão da cunha salina nos aquíferos locais e outro de qualidade da agua subterrânea nas comunidades da Baía. Figura 01: Mapa de localização da Baía do Tubarão Fonte: Elaborado a Partir do IBGE, Aquisição das Imagens imagens Foram adquiridas imagens do satélite Landsat 5 do ano de 1988 através do catálogo de no sitio eletrônico do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) ( e do Landsat 8 do ano de 2015 no sitio eletrônico da United States Geological Survey (USGS) - Earth Explore ( Ambas disponibilizadas gratuitamente pelos sites através de cadastro em seus bancos de dados. Foram adquiridos ainda os dados da tábua de maré referentes as datas e horário de passagens das cenas no sitio eletrônico da Marinha do Brasil disponibilizados pela Diretoria de Hidrografia e Navegação (DNH) Centro de 165

166 Hidrografia da Marinha (CHM) e Banco Nacional de Dados Oceanográficos (BNDO) que possuem 53 portos cadastrados dos quais o mais próximo para considerar a influencia na área de estudo é o de São Luís. As características individuais de cada imagem estão descritas no quadro 1. Quadro 01: Dados das imagens utilizadas. Satélite Landsat_5 Landsat_8 Sensor TM OLI/TIRS Òrbita/Ponto 220/62 Data 21/03/ /07/2015 Hora 12h40min 17h46min Maré Maré alta Maré baixa Resolução Espacial (m) Bandas Processamento Digital das Imagens 3 (vermelho visível) 4 (infravermelho próximo) 5 (infravermelho médio) 30m Fonte: Adaptado a partir de CARDOSO (2015). 4 (vermelho) 5 (infravermelho próximo) 6 (infravermelho médio) Foram adquiridas 2 Imagens LandSat, dentro de uma escala temporal de 30 anos para a criação de um banco de dados da área com um projeto de 1988 (Land_5 Sensor TM) e outro de 2015 (Land_8 Sensor OLI). Para o presente trabalho utilizou-se uma composição colorida das bandas 3, 4 e 5 da imagem do LandSat 5 e as bandas 4, 5 e 6 da imagem do LandSat 8 que representam respectivamente as faixas Vermelho visível, Infravermelho-médio e Infravermelho-próximo do espectro. Foi aplicado um contraste linear banda por banda no monocromático através da manipulação do histograma de frequência de cada banda espectral para melhor analise dos pontos da baía mais afetados pela dinâmica costeira. Foi realizada ainda uma classificação supervisionada de Máxima Verossimilhança com limiar de aceitação de 99.9 % no intuito de promover a discussão da perda de ecossistemas ou ganhos de área em algumas classes temáticas, no entanto o resultado das imagens classificadas não se mostrou satisfatório para embasar a discussão pretendida, embora tenha atingido uma confusão média muito inferior a 1%. Desta forma não se utilizou esta rotina para este trabalho. O tratamento das imagens foi realizado no software Spring na sua versão que também é gratuitamente disponibilizado pelo INPE ( RESULTADOS E DISCUSSÃO Através das imagens tratadas foi feita uma analise comparativa onde foram identificados e mapeados 7 pontos de alteração (Figura 1 e 2) que indicam modificações na geomorfologia costeira ao longo dos anos analisados. Essa analise resultou na construção de cartas imagens da Baía do Tubarão dos anos de 1988 e 2015 que foram as imagens mais viáveis com relação à cobertura de nuvens dentro da escala temporal de 30 anos pré-definida pelo presente trabalho. 166

167 O principal propulsor dessas modificações são os processos de sedimentação que se mostraram predominantes na região. Esses processos possuem fortes tencionantes naturais como a ação das marés, a descarga fluvial que não é dominante na baía por causa da pouca extensão da bacia do Rio Periá que de acordo com o NUGEO (2009) é a que representa menor área dentre todas as regiões hidrográficas do estado e está sob constante influência das marés; a erodibilidade do solo; a pluviosidade que no maranhão é intensa durante os meses de janeiro a junho, a corrente litorânea e os ventos alísios que transportam sedimentos da plataforma continental e dos lençóis maranhenses para a região da baía e ainda a Zona de Convergência Intertropical (ZCIT) resultado dessa confluência dos ventos alísios do hemisfério norte com os ventos alísios do hemisfério sul que gera movimentação cíclica de grandes massas de ar. Não foi observado nenhum ponto com perda expressiva de sedimentos que pudesse indicar processos erosivos, embora o ponto seis (6) tenha perdido área de manguezal o mesmo apresentou ganho de cordões arenosos. Essa ausência de processos erosivos expressivos o suficiente para serem visualizados através de imagem de satélite pode estar relacionada com a distância entre a baía e o talude continental. A baía esta assentada sobre uma extensa área de plataforma continental com baixa declividade, uma das maiores do litoral brasileiro, o que influencia fortemente para que a origem desse sedimento não seja oceânica e para que as correntes oceânicas não sejam um dos fatores que contribuem diretamente na alteração geomorfológica da Baía como ocorre em outros locais do mundo que possuem a linha de costa mais próxima do talude como Austrália, por exemplo. Figura 1: Carta-Imagem Landsat_ com pontos de alteração Baia do Tubarão Fonte: Elaborado a partir de dados da NASA,

168 A imagem do ano de 2015 (Figura 3) foi capturada pelo satélite durante o período de maré baixa o que permitiu a visualização de manchas de sedimentação decorrentes de processos deposicionais intensos no interior da Baía que causaram inclusive a junção de alguns trechos como nos pontos 1 e 3. No entanto as ilhas que mais sofreram modificações foi a Ilha incluída no ponto 5 que teve expressivo aumento de área na região norte e a Ilha incluída no ponto 6 que teve seu formato espacial completamente modificado pela dinâmica da baía. Figura 2: Carta-Imagem LandSat _ 2015 com pontos de alteração e formação de croas Baia do Tubarão Fonte: Elaborado a a partir de dados da NASA, Em contrapartida, de acordo com Gonçalves (2005) a Baía do Tubarão serve como obstáculo para a corrente litorânea por ser o ponto de transição do regime de mesomaré para o de macromaré além da contribuição sedimentar significativa da plataforma continental considerando que os ventos 168

169 de nordeste são dominantes ao longo do ano. O que confirma a hipótese de transporte de sedimentos oriundos da região dos lençóis maranhenses. As manchas de sedimentação evidenciadas na imagem de 2015 estão desencadeando a formação de croas no interior da baía o que remete a provável e consequente diminuição da profundidade da coluna d água na baía e implica em consequências na navegação tanto pesqueira como de simples transporte. Cardoso (2016) aponta algumas alterações no cotidiano da população pesqueira decorrentes dessas transformações no ambiente relacionadas à sedimentação, como a mudança de rotas de navegação, que pode causar o aumento no consumo de combustível das embarcações, um maior gasto com suprimentos em detrimento de uma viagem mais longa e ainda um possível reajuste no valor de revenda do pescado além da modificação nos aspectos biológicos do ambiente. CONCLUSÃO Os processos sedimentares são predominantes na Baía do Tubarão e tendem a se intensificar, mesmo sendo a parte do Golfão Maranhense mais exposta ao oceano Atlântico, possivelmente por conta do padrão fechado que processos geodinâmicos externos atribuíram à configuração morfológica da Baía o que corrobora para o acumulo de sedimentos e consequente formação de croas no seu interior. Isso implica em consequências diretas nas comunidades pesqueiras, no entanto não de forma expressiva já que as comunidades que vivem na região da baía possuem fontes de renda diversificadas. Apesar disto é importante observar que, segundo as informações levantadas pelo presente trabalho, a baía tende a gradativa diminuição de profundidade o que pode tornar essas consequências significativamente danosas para a economia local em longo prazo, uma vez que desencadeia o comprometimento da navegabilidade, problemática essa que afeta negativamente as atividades pesqueiras. Nesse sentido, uma alternativa preventiva viável é fazer o monitoramento in loco da batimetria da baía e construir um plano de manejo dos recursos naturais envolvendo, por exemplo, sugestões de cultivo como alternativa de renda para pescadores, marisqueiras e quaisquer outros que se beneficiem destes recursos. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁGICAS ALVITE, C. M. C. Indicadores populacionais e ecológicos de peixes-bois-marinhos (Trichechus manatus manatus) em duas áreas de manguezais e marismas no Maranhão. São Luís MA, 2008, pag. 75. CARDOSO, C. I. Análise multitemporal por sensoriamento remoto da geodinâmica costeira e sua influência sobre a sustentabilidade socioambiental do município Apicum Açu/MA. Maranhão

170 DHN, Tábua de Maré, Diretoria de Hidrografia e Navegação, Ministério da Marinha Maranhão. FLORENZANO, T. G. Geomorfologia: Conceitos e Tecnologias atuais. São Paulo: Oficina de Textos, p: GONÇALVES, R. A. et al. O papel da dinâmica costeira no controle dos campos de dunas eólicas do setor leste da planície costeira do Maranhão BR Lençóis Maranhenses. In: X Congresso da Associação Brasileira de Estudos do Quaternário. Guarapari-ES. Abequa p (CD-ROM). MACEDO, L. A. A Controle ambiental do Golfão Maranhense. São Paulo: DAE vol.49, nº155. Nucleo Geoambiental da Universidade Estadual da Maranhão Acessado em 29 de agosto de SOARES, A.K.A. Reserva extrativista Baía do Tubarão: Estudo Socioambiental. Maranhão SOUSA, P.F.R Circulação hidrodinâmica na região costeira dos municípios de Recife e Jaboatão dos Guararapes durante o verão austral. Recife. Koppen, W.; Geiger, R. Klimate der Erde. Gotha: Verlag Justus Perthes Wall-map b150cmx200cm

171 TAXONOMIA DO RELEVO NA ZONA COSTEIRA NOROESTE DE SÃO JOSÉ DE RIBAMAR MA Carlos Henrique Santos da Silva Universidade Federal do Piauí Mestre em Geografia Iracilde Maria de Moura Fé Lima Universidade Federal do Piauí - UFPI Doutora em Geografia iracildefelima@ufpi.edu.br Quésia Duarte da Silva Universidade Estadual do Maranhão Doutora em Geografia quesiaduartesilva@hotmail.com Eixo Temático: Geomorfologia Costeira Resumo: O presente trabalho elaborou uma classificação taxonômica do relevo na zona costeira Noroeste do município de São José de Ribamar, para identificar os principais táxons que representam a morfoestrutura e morfoescultura na área de estudo. Para a realização da pesquisa utilizou-se uma revisão da literatura; mapeamentos, trabalhos de campo e registro fotográfico, tendo como base a metodologia proposta por Ross (1992) para identificação e classificação dos táxons. Os resultados encontrados indicaram a existência de sete táxons, representando as feições de relevo locais. Estas geoformas são reflexos de sua estrutura e esculturação através da dinâmica dos processos endógenos e exógenos, tão importantes para a formação e configuração do relevo na área de estudo, resultando em morfologias únicas, com destaque para os tabuleiros, colinas, terraços marinhos, planícies fluviais, voçorocas, ravinas, praias, dunas e demoiselles. Palavras-chave: Taxonomia do relevo. Zona Costeira. São José de Ribamar. Abstract: The present work elaborated a taxonomic classification of the relief in the Northwest coastal zone of the municipality of São José de Ribamar, to identify the main countries that represent a morphostructure and morphosculture in the study area. To carry out the research using a literature review; mapping, fieldwork and photographic records, based on the methodology proposed by Ross (1992) for the identification and classification of taxon. The results indicated the existence of seven taxon, representing local relief features. These geoforms are reflections of their structure and sculpture through the dynamics of the endogenous and exogenous processes, so important for the formation and configuration of relief in the study area, resulting in unique morphologies, especially the trays, hills, sea terraces, fluvial plains, gullies, ravines, beaches, dunes and demoiselles. Keywords: Relief taxonomy. Coastal Zone. São José de Ribamar. 171

172 INTRODUÇÃO A zona costeira é o espaço geográfico de interação do ar, do mar e da terra, incluindo seus recursos renováveis ou não, abrangendo uma faixa marítima e outra terrestre. Trata-se, portanto, da borda oceânica das massas continentais e das grandes ilhas, que se apresenta como área de influência conjunta de processos marinhos e terrestres, gerando ambientes com características específicas e identidade própria (BRASIL, 2006). O ambiente onde se insere a zona costeira caracteriza-se pelas frequentes mudanças, tanto espaciais quanto temporais que resultam em uma variedade de formas. Esse grande dinamismo advém da complexa interação de processos deposicionais e erosivos, produzindo uma grande diversidade de ambientes e, consequentemente, de feições geomorfológicas (ROSSETTI, 2008). A zona costeira, portanto, em relação ao conjunto das terras emersas, circunscreve um espaço dotado de especificidades e vantagens locacionais, um espaço finito e relativamente escasso. O conjunto de suas características o qualifica como um espaço raro e sua localização privilegiada, dotando-a com qualidades geográficas particulares (SILVA, 2017). São José de Ribamar circunscreve todas estas especificidades, possui uma faixa terrestre e uma faixa marítima, ocorrência de morfologias costeiras e biomas típicos desta zona. Como município costeiro este possui um litoral diferenciado, comparado a outros municípios inseridos na zona costeira maranhense, resultante dos agentes oceanográficos, climáticos, geológicos e antrópicos. Reflexo disto é a zona costeira Noroeste do município, objeto deste estudo, localizado no bairro Araçagy. Este é delimitado pelo Oceano Atlântico ao Norte, pela avenida dos Holandeses ao Sul e pelos rios Urucutiua e Jaguarema ao Leste e Oeste, respectivamente (Figura 1). A área de estudo é caracterizada por apresentar importantes registros da sedimentação terciária e quaternária com formas de relevo distintas, representadas por planícies litorâneas e fluviais, tabuleiros e colinas e por variadas geoformas (praias, dunas, voçorocas e outras) decorrentes da sedimentação e erosão marinha e fluvial. 172

173 Figura 1 Área de Estudo. Fonte: Elaborado pelos autores, com imagens RapidEye, PROCEDIMENTOS TÉCNICO-OPERACIONAIS Adotou-se neste trabalho a metodologia de Ross (1992), que leva em consideração a classificação taxonômica, para identificar as formas, classificando-as com relação aos seus aspectos fisionômicos, associados à sua gênese e evolução na área de estudo. A classificação taxonômica é dada pela composição de uma legenda integrada, estruturada na compartimentação das formas do relevo, baseando-se nos conceitos de morfoestrutura e morfoescultura de Mercerjacov (1968), em que todo o relevo terrestre pertence a uma determinada estrutura que o sustenta e mostra um aspecto escultural que é decorrente da ação do tipo climático atual e pretérito que atuou e atua nessa estrutura. Deste modo a morfoestrutura e a morfoescultura definem situações estáticas, produtos da ação dinâmica dos processos endógenos e exógenos (ROSS, 1992 apud AMARAL; ROSS, 2006). Amaral e Ross (2006), jugam que a utilização dos conceitos de morfoestrutura e morfoescultura, permitem distinguir a diversidade das formas do relevo em grupos genéticos mais importantes. Sob a ação de fatores endógenos são formados os elementos morfoestruturais / morfotectônicos do relevo da Terra. A morfoestrutura é definida pelas grandes formas do relevo da superfície dos continentes e do fundo dos oceanos e têm uma relação genética com a estrutura e os movimentos da crosta terrestre. A morfoescultura é a forma como o relevo se apresenta frente a zonalidade e aos processos exógenos, ou seja, o desgaste sofrido por erosão, que esculpe as formas 173

174 das colinas, morros e topos, entre outros. A ação humana também altera a morfoescultura (AMARAL; ROSS, 2006). Na proposta de Ross (1992), as formas são classificadas de acordo com o grau de detalhamento (vertical e horizontal) em que se analisa o relevo. Nesta classificação são propostas seis categorias ou unidades taxonômicas, aplicáveis nos diversos níveis escalares (Figura 2). Figura 2 Unidades taxonômicas do relevo. Fonte: Ross, O 1º táxon é caracterizado pelas unidades morfoestruturais que correspondem às grandes macroestruturas, referindo-se aos tipos genéticos de agrupamentos de litologia e seus arranjos estruturais que determinam as formas de relevo. O 2º táxon corresponde as unidades morfoesculturais, que equivalem aos compartimentos gerados pela ação climática ao longo do tempo geológico, com intervenção dos processos tectogenéticos. Estas unidades morfoesculturais estão inseridos numa unidade morfoestrutural, apresentando conjuntos de formas de relevo que guardam as mesmas características genéticas de idade e de semelhança dos padrões do modelado. 174

175 3º táxon: unidades morfológicas ou padrão de formas semelhantes, correspondentes ao agrupamento de formas relativas aos modelados, que são distinguidas pelas diferenças da rugosidade topográfica ou do índice de dissecação do relevo, bem como pelo formato dos topos, vertentes e vales de cada padrão. 4º táxon: refere-se à unidade de padrão de formas semelhantes, individualizadas e inseridas nas unidades morfológicas do nível taxonômico anterior. 5º táxon: corresponde aos tipos de vertentes ou setores das vertentes de cada uma das formas do relevo. Cada tipologia de forma de uma vertente é geneticamente distinta. 6º táxon: refere-se às formas menores resultantes da ação dos processos erosivos ou dos depósitos atuais (ROSS, 1992). O estudo geomorfológico, também permite o detalhamento de formas além do 6 táxon, como o estudo da micromorfologia de materiais na estrutura superficial. Estas microformas possuem relação muito estreita com os processos de esculturação e acumulação (CASSETI, 2005 apud TORRES et al., 2012). O trabalho foi iniciado com o levantamento de publicações científicas e outros documentos com dados referentes à especificidade do tema em questão. A partir de então foram identificados os táxons. Estudando a proposta de Ross, identificamos que o 1 táxon se refere a bacia costeira de São Luís descrita por Rodrigues et al. (1994); do 2 ao 4 táxon, referente ao tabuleiro costeiro de São Luís, planícies e tipos de formas de relevo a identificação foi realizada através de trabalho de campo e descritas por Bandeira (2013) e Silva (2012); o 5 táxon, correspondente às formas de relevo foram descritas e caracterizado através de Silva (2012), Rodrigues et al. (1994) e EMBRAPA (2006). O 6 e 7 táxon, referentes às formas de processos erosivos atuais e microformas, foram identificados e caracterizados através de trabalho de campo. O trabalhos de campo, responsável pelo reconhecimento e análise visual e caracterização das feições geomorfológicas; a utilização de mapas, na escala de 1: , de geologia, solos, hipsometria, altimetria, declividade e geomorfologia, elaborados por Silva (2012); e DSG na escala de 1:10.000, que permite a visualização do relevo através das curvas de nível em equidistância de 5 metros, adquiridos no banco de dados do Zoneamento Econômico e Ecológico do Estado do Maranhão (ZEE-MA) foram essenciais para corroborar as informações contidas nos diversos autores utilizados para se identificar e caracterizar os táxons presentes na área de estudo. RESULTADOS E DISCUSSÃO De acordo com a metodologia de Ross (1992) aplicada na área de estudo, temos como classificação da morfoestrutura no 1 táxon, a Bacia Sedimentar de São Luís (Tabela 1), esta de acordo com Aranha et al., 1990 apud Rodrigues et al. (1994), é associada ao sistema de riftes costeiros e delimitada pelos Arco do Rosário a leste, Arco Ferrer-Urbano Santos a sul e Arco Tocantins a leste. A depressão formada a partir do Aptiano foi preenchida por sedimentos das 175

176 formações Codó e Grajaú e no Albiano pelos sedimentos da Formação Itapecuru. Durante o Cenomaniano a Bacia de São Luís evoluiu com sedimentação marinha rasa, e seu preenchimento continuou até o Terciário. A Bacia de São Luís é constituída por rochas cretácicas da Formação Itapecuru, recobertas por formações superficiais de idade cenozoica: Paleogeno, Grupo Barreiras, coberturas lateríticas e depósitos quaternários. A unidade morfoestrutural Bacia Sedimentar de São Luís é compartimentado em duas unidades morfoesculturais, conformando o 2 táxon: Tabuleiro Costeiro de São Luís e Planícies (Tabela 1). O tabuleiro costeiro de São Luís encontra-se intensamente esculpido em relevo de baixos platôs dissecados e colinas tabulares, francamente entalhados por uma rede de canais de moderada densidade de drenagem. Essa vasta superfície tabular, mais ou menos dissecada, apresenta cotas baixas que variam entre 20 e 60 m. Esses tabuleiros dissecados apresentam suscetibilidade à erosão moderada a alta, devido à franca exposição dos espessos pacotes de arenitos arcoseanos friáveis (BANDEIRA, 2013). Ao analisar a unidade morfoescultural Tabuleiro Costeiro de São Luís encontramos as colinas e tabuleiro representando os padrões de formas semelhantes (3 táxon) e as colinas aplainadas e tabuleiros de topos planos, representando os tipos de formas de relevo (4 táxon). O 5 táxon, nesta unidade morfoescultural é representado pelos tipos de vertentes, morfometria (declividade e altimetria), litologia predominante e tipos de solos. O tabuleiro apresenta topos planos, com vertentes retilíneas de baixa declividade, que variam de 0 a 6%, ocorrendo principalmente na área central da área em estudo. Possuem, em geral, variação altimétrica de 40 a 54 metros. As colinas aplainadas representam as porções do tabuleiro que sofreram dissecação no decorrer do tempo geológico e ainda preservam seu topo relativamente aplainado com encostas brandas a íngremes, são representadas por vertentes convexas e retilíneas de média a alta declividade, variando de 2 a >30% e caracterizam-se por terem altitudes médias de 10 a 37 metros (SILVA, 2012). Tanto os tabuleiros de topos planos e as colinas aplainadas estão inseridos na Formação Barreiras, representada por camadas areno-argilosas, de cores variegadas, não ou pouco litificados, de coloração avermelhada, creme ou amarelada, muitas vezes com aspecto mosqueado, mal selecionados, de granulação variando de fina a média, mostrando horizontes conglomeráticos e níveis lateríticos, sem cota definida, em geral associados à percolação de água subterrânea (BRANNER, 1902 apud EL-ROBRINI et al., 2006). Os solos predominantes nesta unidade são os Argissolos, constituídos por material mineral, sendo de profundidade variável, desde forte a imperfeitamente drenados, de cores avermelhadas ou amareladas. São forte a moderadamente ácidos, com saturação por bases alta ou baixa. Os Latossolos são constituídos por material mineral, com horizonte B latossólico. São solos em avançado estágio 176

177 de intemperização, muito evoluídos, como resultado de enérgicas transformações no material constitutivo. São virtualmente destituídos de minerais primários ou secundários menos resistentes ao intemperismo. Variam de fortemente a bem drenados e são normalmente muito profundos, com cores variando de amarelo até vermelho, sendo em geral fortemente ácidos (EMBRAPA, 2006). O 6 táxon nesta unidade morfoescultural é representado pelas formas de processos erosivos atuais, com destaque para erosão laminar, ravinas e voçorocas predominante nas áreas de vertentes das colinas aplainadas. As voçorocas são escavações ou rasgões na rocha decomposta, sendo ocasionadas pela erosão do lençol de escoamento superficial, estas são feições erosivas acima de 50 centímetros de largura e profundidade. Abaixo desse valor são consideradas ravinas, feições erosivas produzidas pelo escoamento superficial, ao sofrer certas concentrações (GUERRA E GUERRA, 2008). O processo de formação das ravinas e posteriormente voçorocas, na área de estudo estão relacionadas a três fatores principais, o primeiro está relaciona-se a exposição do solo as intempéries, decorrentes dos intensos desmatamentos para consolidação da área urbana, provocando escoamento superficial, este facilitado pela composição da Formação Barreiras, extremante friável, segundo fator, e pelos altos índices pluviométricos entre 2000 e 2400 mm, que ocorrem durante o primeiro semestre do ano (UEMA, 2002), acarreta em processos erosivos atuais. O 7 táxon encontrado nesta unidade é representado pelas demoiselles, principal microfeição localizada no interior das voçorocas, presentes na área de estudo (Tabela 1). De acordo com Oliveira (1999) apud Fernandes (2011) estas também são chamadas de erosão em pedestal, sendo formas de erosão com desenvolvimento lento, ocorrendo quando o solo erodível é protegido da ação do salpicamento, seja por seixo ou por uma camada de solo oxidada. A segunda unidade morfoescultural é representada pelas planícies (2 táxon), estas são caracterizadas por apresentarem terrenos mais ou menos planos, onde os processos de deposição são superiores aos de desgaste ou dissecação da paisagem, sendo esta uma forma de relevo relativamente recente (GURERRA E GUERRA, 2008), estas são subdivididas em planícies fluviais e costeiras (Tabela 1). A planície fluvial (3 e 4 táxons), representadas pelos cursos dos rios Urucutiua e Jaguarema, são caracterizados por terrenos baixos e mais ou menos planos e terrenos horizontais levemente inclinados. Os terraços fluviais (4 táxon) representam antigas planícies de inundação que foram abandonadas. Morfologicamente, surgem como patamares aplainados, de largura variada, limitados por uma rampa em direção do curso d água (CHRISTOFOLETTI, 1980 apud Torres et al., 2012). Estes apresentam altitudes inferiores a 20 metros, com predomínio de baixas declividades inferiores a 2%. A planície costeira (3 Táxon), apresenta baixo gradiente, margeando grandes corpos aquosos, representado na área de estudo pelo Oceano Atlântico, representam também, as faixas de terra 177

178 recentemente emersas, compostas por sedimentos marinhos e flúvio-marinhos de idade quaternária (SUGUIO, 1992). Esta unidade é compartimentada em planícies litorâneas e terraços marinhos (4 táxon). As planícies litorâneas são morfologias planas, baixas, localizadas junto ao mar, e cuja formação resultou da deposição de sedimentos principalmente marinhos (MUEHE, 1998), estes são representados principalmente pelas praias e antigos cordões litorâneos. São caracterizadas por terrenos baixos mais ou menos planos, cuja cota altimétrica encontra-se próxima ao nível do mar, inferiores a 5 metros. Ocorre o predomínio de baixas declividades, inferiores a 2%. Os terraços marinhos, são depósitos sedimentares de origem marinha e ou flúvio-marinhos, situados acima do nível médio atual do mar (Guerra e Guerra, 2008). São morfologias que representam antigos relevos costeiros que correspondem a paleolinhas de praias correspondentes a diversas fases transgressivas e regressivas (FURRIER, 2007 apud OLIVEIRA E DIAS, 2012). São representados por terrenos mais ou menos planos, com sua cota altimétrica com poucos metros acima da planície litorânea. Ocorre o predomínio de baixas declividades, inferiores a 6%. Observa-se também a presença de antigos cordões litorâneos, dunas e paleodunas, vegetadas por espécies rasteiras. Na unidade morfoescultural das planícies, tanto fluviais quanto costeiras, predomina a Formação Açuí compondo-se de sedimentos arenosos inconsolidados e argilosos não-adensados que preenchem as áreas topograficamente mais baixas e de areias de praias e de paleodunas da faixa costeira atual. Os solos predominantes nesta unidade são representados pelos Neossolos, constituídos por material mineral, ou por material orgânico pouco espesso, admitindo diversos tipos de horizontes superficiais e pelos Gleissolos, solos hidromórficos, constituídos por material mineral, que apresentam horizonte glei; estes encontram-se permanente ou periodicamente saturados por água. São solos mal ou muito mal drenados. Comumente, desenvolvem-se em sedimentos recentes nas proximidades dos cursos d água e em materiais colúvio-aluviais sujeitos a condições de hidromorfia, podendo formar-se também em áreas de relevo plano de terraços fluviais, lacustres ou marinhos. São eventualmente formados em áreas inclinadas sob influência do afloramento de água subterrânea (EMBRAPA, 2006). O 6 táxon nessas unidades são representadas principalmente por carreamento de sedimentos tanto fluviais, quanto marinhos. Em relação as microformas (7 Táxon) estão não foram identificadas nesta unidade morfoescultura. 178

179 Tabela 1 Taxonomia do relevo na zona costeira Noroeste de São José de Ribamar MA. 1 Táxon 2 Táxon 3 Táxon 4 Táxon 5 Táxon 6 Táxon 7 Táxon Morfoescultural Morfoestrutural Morfometria Formas de Microformas Padrões de Tipos de processos Unidade Tipos de Litologia formas Formas de Declividade Tipos de solos Altimetria erosivos ou Morfoescultural Vertentes predominante/datação dominantes semelhantes Relevo % m deposicionais atuais Vertente convexa de 12 a a 20 média Bacia Sedimentar de São Luís Tabuleiro Costeiro de São Luís Planícies Colinas Tabuleiro Planície Fluvial Planície Costeira Colinas Aplainadas Tabuleiro com topo plano Planície e terraços fluviais Planície Litorânea e Terraços Marinhos declividade Vertente retilínea de média declividade Vertente retilínea de alta declividade Topos planos Vertente retilínea de baixa declividade Topos planos 12 a a 25 >30 25 a 37 2 a a 40 Formação Barreiras (Terciário) Argissolos vermelhoamarelo e Latossolos vermelhoamarelo Ravinas, Voçorocas e erosão laminar 0 a 2 40 a 47 Latossolos vermelhoamarelo - 2 a 6 - Plana 0 a 2 5 a 20 Plana 0 a 6 0 a 5 Fonte: Elaborado pelos autores. Formação Açuí (Quaternário) Neossolos quatzarenicos e Gleissolos Carreamento de sedimentos Carreamento de sedimentos Demoiselles

180 CONCLUSÃO A compartimentação do relevo em unidades taxonômicas é essencial para se determinar os tipos predominantes de feições geomorfológica e como estas se comportam frente aos processos endógenos e exógenos a ela imposta. O tabuleiro de São Luís, na área de estudo, extremamente dissecado em formas tabulares e colinosas com seus variados tipos de vertentes que convergem em formas convexas e retilíneas, são afetadas por intenso processo de urbanização, acarretando na formação de ravinas e voçorocas, ocasionando grande perda de sedimentos todos os anos e formação de microfeições, com destaque para as demoiselles. Todo este processo, demonstra como a morfoestrutura está intimamente associada a morfoescultura e como os processos erosivos, facilitados pela ação antrópica, estão presentes e são influenciadores na área de estudo. As planícies, particularmente frágeis, e dominadas por processos fluvio-marinhos se comportam de forma diversa e complexa, exemplo disto é a planície fluvial dos rios Jaguarema e Urucutiua, intensamente alterados pelo desmatamento, erosão e perda de vazão, acarretando no barramento de sua foz. Outro exemplo é a planície costeira, representada pelas praias de Araçagy e Meio. A primeira mais protegida da incursão antrópica, possui altos índices de sedimentação e formação de dunas frontais, enquanto a segunda extremamente urbanizada e com altos índices de erosão, demostra o quão diversificado é o relevo litorâneo, demonstrando que as praias e dunas são afetados por intensos processos de sedimentação e erosão. A zona costeira noroeste de São José de Ribamar é uma área extremamente dinâmica e frágil. Como interface entre a terra, ar e mar, esta reflete processos de sedimentação e erosão, o que acarretará no modelado do relevo tão particular, composto por formas tabulares, colinosas, praias, dunas, terraços, voçorocas e outros, tão presentes no compartimento noroeste do litoral ribamarense. REFERÊNCIAS AMARAL, R.; ROSS, J. L. S. A classificação taxonômica do relevo como um instrumento de gestão territorial uma aplicação ao parque estadual do morro do Diabo, município de Teodoro Sampaio (SP). VI Simpósio Nacional de Geomorfologia Geomorfologia Tropical e Subtropical: processos, métodos e técnicas. Goiânia (GO), BANDEIRA, I. C. N (Org.). Geodiversidade do estado do Maranhão. Teresina: CPRM, 2013 BRASIL. Ministério do Meio Ambiente, Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. Projeto Orla: fundamentos para gestão integrada. Brasília: MMA, EL-ROBRINI, M. et al. Maranhão. In: MUEHE, D. (Org.). Erosão e progradação do litoral brasileiro: Maranhão. Brasília: MMA EMBRAPA. Sistema brasileiro de classificação de solos. 2. Ed. Rio de Janeiro: EMBRAPA-SPI,

181 FERNANDES, J. A. Estudo da erodibilidade de solos e rochas de uma voçoroca em São Valentim, RS. 127 p. Dissertação (Mestrado). Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil. Universidade Federal de Santa Maria, Rio Grande do Sul, GUERRA, A. T.; GUERRA, A. J. T. Novo dicionário geológico-geomorfológico. 6 ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, MUEHE, D. Geomorfologia costeira. In: GUERRA, A. J. T.; CUNHA, S. B. C. Geomorfologia: uma atualização de bases e conceitos. 3 ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, OLIVEIRA, C. R; DIAS, R. L. O estudo das unidades de relevo em regiões litorâneas: o exemplo do litoral sul do estado de são Paulo. Caminhos de Geografia. Uberlândia v. 13, n. 41 mar/2012 p RODRIGUES, T. L. N. et al. Programa Levantamentos Geológicos Básicos do Brasil. São Luís. Folha SA.23-Z-A, Cururupu. Folha SA.23-X-C, Estado do Maranhão. Brasília, CPRM, ROSS, J. L. S. O registro cartográfico dos fatos geomórficos e a questão da taxonomia do relevo. Revista do Departamento de Geografia, n. 6. FFLCH-USP, 1992, p ROSSETTI, D. F. Ambientes costeiros. In: FLORENZANO, T. G. (Org.). Geomorfologia: conceitos e tecnologias atuais. São Paulo: Oficina de Textos, p SILVA, C. H. S. Falésia de Itapari, São José de Ribamar, maranhão: evolução geomorfológica recente f. Dissertação (Mestrado em Geografia). Universidade Federal do Piauí. Teresina PI, SILVA, Q. D. Mapeamento geomorfológico da Ilha do Maranhão f. Tese (Doutorado em Geografia). Universidade Estadual Paulista. Presidente Prudente - SP, SUGUIO, K. Dicionário de geologia marinha: com termos correspondentes em inglês, francês e espanhol. São Paulo: Queiroz, TORRES, F. T. P.; MARQUES NETO, R.; MENEZES, S. O. Introdução à geomorfologia. São Paulo: Cengage Learning, UEMA (UNIVERSIDADE ESTADUAL DO MARANHÃO) Gerencia de Planejamento e Desenvolvimento Econômico, Laboratório de Geoprocessamento. Atlas do Maranhão. São Luís: GEPLAN,

182 CARACTERIZAÇÃO GEOMORFOLOGICA DA BACIA HIDROGRAFICA DO RIO SÃO NICOLAU-PI Cristiane Maria Cordeiro Santiago Universidade Estadual do Piauí UESPI Prof a Ms. do curso de Geografia cristianesantiago21@gmail.com Marta Celina Linhares Sales Universidade Federal do Ceará UFC Prof a Dra. Adjunta do Departamento de Geografia mclsales@uol.com.br Edson Vicente da Silva Universidade Federal do Ceará UFC Prof. o Dr. do Departamento de Geografia cacauceara@gmail.com Eixo temático: Paisagem, Geodiversidade e Patrimônio Geomorfológico Resumo: A bacia hidrográfica do rio São Nicolau BHSN, localizada na região centro-norte do Piauí, ocupa uma área de 5.389,8 km 2 e possui grande potencial para o agronegócio e outras atividades, estando em fase de desenvolvimento econômico. O objetivo do trabalho é realizar a caracterização geomorfológica da bacia hidrográfica do rio São Nicolau com o intuito de compreender a dinâmica ambiental dessa região de domínio semiárido. Para isso, foram realizados levantamentos bibliográficos, usos de geotecnologias e técnicas de georreferenciamento, além de visitas de campo e registros fotográfico. A compartimentação geomorfológica apresentou seis feições. O perfil topográfico segue no sentido L-W onde se observa uma altitude altimétrica de 700m. A declividade favorece a atividade agrícola e uso de máquinas agrícolas. A erosão hídrica também não é frequente o que permite a realização de um manejo sem que sejam necessários intensas práticas de conservação do solo e altos custos de investimentos para a atividade agropecuária. Palavras-chave: Bacia hidrográfica. Geotecnologia. Geomorfologia. Abstract: The hydrographic basin of the São Nicolau-HBSN river located in the central-north region of Piauí occupies an area of 5,389.8 km 2, has great potential for agribusiness and other activities, and is in an economic development phase. The objective is to perform the geomorphological characterization of the São Nicolau river basin, in order to understand the environmental dynamics of this region of the semiarid domain. For this, bibliographical surveys, uses of geotechnologies, georeferencing techniques, as well as field visits and photographic records were carried out. Geomorphological compartmentalization presented six features. The topographic profile follows in 182

183 the direction L-W it is observing an altimétrica altitude of 700m. The declivity favors the agricultural activity with the use of agricultural machines. Water erosion is also not frequent, which makes it possible to carry out management without the need for intensive soil conservation practices and high costs investments in agricultural activities. Key words: Hydrographic basin. Geotecnology. Geomorphology. INTRODUÇÃO Os aspectos geomorfológicos refletem desde as formas de uso e cobertura, a vegetação, o clima de determinado ambiente, visto que, este está condicionado a altitude do local, até mesmo, a velocidade do escoamento superficial, o qual está diretamente relacionado aos níveis de declividade do terreno. A bacia hidrográfica do rio são Nicolau -BHSN está localizada na região centro-norte do estado do Piauí ocupando uma área aproximada de 5.389,8 km 2 que abrange parte dos municípios de Assunção do Piauí, São Miguel do Tapuio, Pimenteiras, Aroazes, Santa Cruz dos Milagres e São João da Serra. O rio São Nicolau, sendo um dos mais significativos afluentes da bacia hidrográfica do rio Poti, nasce no limite entre os Estados do Piauí e Ceará e cruza o território piauiense no sentido Leste-Oeste em diferentes feições geomorfológicas desaguando no rio Sambito, afluente do rio Poti já nas proximidades da cidade de Prata do Piauí-PI (figura 1). Figura 1: Localização geográfica da Bacia Hidrográfica do Rio São Nicolau Fonte: Santiago, 2014,

184 Os estudos e pesquisas desenvolvidas nessa região do semiárido piauiense, em especial na área da BHSN, vem completar uma série de informações inerentes a área e que são pertinentes para direcionar e contribuir para um desenvolvimento econômico e social de modo coerente com o modelo sustentável. Isso porque a região da BHSN é apresentada, segundo Santiago (2014, 2015), com grande potencial para atividades como o agronegócio, bem como para o turismo e outras atividades, estando em crescente desenvolvimento econômico. Com isso, é importante compreender como os aspectos geomorfológicos da bacia contribuem para esse dinamismo, podendo ainda contribuir para elencar as potencialidades e as limitações do ambiente conforme a geomorfologia presente nessa região do semiárido piauiense. Diante disso, o objetivo desta pesquisa é realizar a caracterização geomorfológica da bacia hidrográfica do rio são Nicolau, com o intuito de compreender a dinâmica socioambiental dessa região especifica do estado do Piauí inserida no domínio semiárido. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA O relevo da superfície terrestre é resultante da interação entre a litosfera, hidrosfera e biosfera, ou seja, pelos processos de troca de energia e matéria que se desenvolve nessa interface, no tempo e espaço (FLORENZANO, 2008). E, dependendo de suas características o relevo dificulta ou favorece as formas de uso e ocupação pelo ser humano. Segundo Florenzano (2008), a análise do relevo é importante para as demais ciências, pois permite assim definir a vulnerabilidade do meio ambiente e, com isso, contribui para estabelecer leis que favoreçam a sua proteção. A bacia hidrográfica é uma unidade de investigação de comportamento sistêmico, no qual as variáveis tanto naturais, como humanas nela presentes estão sempre em interação. Sua relevância como unidade de pesquisa, planejamento e gestão territorial é justificada pela possibilidade de visualização real das inter-relações entre os seus componentes (ZANELLA et al, 2013). O estudo da bacia hidrográfica relacionado à rede de drenagem, segundo Christofoletti (1980), são importantes para a geomorfologia uma vez que, os cursos d água constituem um dos processos morfogenéticos mais ativos na formação da paisagem terrestre. Com isso, considerando a caracterização do relevo de uma bacia, é importante perceber que este possui grande influência também sobre os fatores meteorológicos em função da altitude e, hidrológicos, pois, a velocidade do escoamento superficial depende da declividade do terreno (VILLELA, 1975). 184

185 Segundo Girão e Correa (2004), as feições topográficas e os processos morfogenéticos influentes em uma determinada área possuem papel importante na orientação de categorias de uso do solo, seja para as atividades agrícolas seja para as urbana-industriais. O reconhecimento da dinâmica morfológica constitui-se de grande relevância para a implementação de projetos ligados a várias ações como obras viárias, exploração de recursos naturais, lazer e turismo. Dessa forma, o desenvolvimento econômico de determinada região, por vezes, sofre influência direta do relevo. Contudo, a medida que o ser humano evolui em termos tecnológicos e passa a dominar grandes extensões de terras no planeta, as formas de relevo deixam de ser empecilho, pois, o ser humano passa a ser o maior e mais acelerado meio de modificação do modelado geomorfológico. METODOLOGIA Para o estudo geomorfológico da bacia do rio São Nicolau foi realizado levantamentos bibliográficos, dados primários em artigos, teses e dissertações relacionadas a temática estudada, consultas em universidades, prefeituras municipais da área em foco, revistas científicas, dentre outros. Foi feito levantamento de dados cartográficos como shapes, imagens de satélites, cartas, mapas etc., que permitiram o desenvolvimento da presente proposta sendo consultados o Serviço Geológico do Brasil (CPRM), Instituto de pesquisas espaciais (INPE), Secretaria de Meio Ambiente e Recursos Naturais (SEMAR-PI) e Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA Meio-Norte). Foram realizadas técnicas de Geoprocessamento para construção dos mapas. Para a localização da área de estudo usou-se os shapes de Hidrografia do Estado do Piauí disponibilizados pela Agencia Nacional das Águas (ANA) do qual se delimitou a bacia de São Nicolau e a mesma foi compartimentada em alto, médio e baixo curso. Para extração de informações, foram utilizadas como base imagens do Satélite ALOS (sensor Avnir-2) - (IBGE, 2014) e imagens SRTM topodata (INPE, 2009) para confecção do mapa de geomorfologia. E, para o mapa de geologia, teve-se como base cartográfica os shapes de geologia disponíveis no site da CPRM (2006). Técnicas de sensoriamento remoto foram primordiais na elaboração dos mapas temáticos. A área de estudo está delimitada entre as coordenadas planas: e sentido Lesteoeste e e sentido Norte - sul. Todas as informações cartográficas foram preparadas e executadas as etapas de extração de dados das imagens e materiais coletados em ambiente de geoprocessamento, com geração de um banco de dados digital por meio do software arcgis versão 10.1 na projeção Universal Transversa de 185

186 Mercator (UTM), fusos 23 e 24S e modelos da Terra em Datum SIRGAS 2000 no qual também foram definidos os demais parâmetros cartográficos. As imagens Shuttle Radar Topography Mission - SRTM (2010) cedidas pela Embrapa permitiram realizar o mapa de declividade da bacia e traçar o perfil longitudinal da mesma utilizandose, respectivamente, dos softwares Arcgis 9.3 e 10.1 e do global mapper que permitiram o manuseio e fotointerpretação dessas imagens. Os mapas gerados apresentam informações na escala de 1: devido a extensão da área de estudo. A relação de Relevo foi feita por meio da amplitude altimétrica máxima da bacia e sua extensão, ou seja, seu comprimento. A fórmula utilizada para esse cálculo é: Rr = Hm / Lh Onde, Rr Relação de relevo Hm amplitude altimétrica Lh comprimento da bacia Realizou-se também visita de campo para verificação e/ou modificação dos dados obtidos, bem como registros fotográfico da área visitada. RESULTADOS E DISCUSSÃO O estado do Piauí, está assentado sobre duas grandes unidades geológicas: bacia sedimentar do Maranhão-Piauí compreendendo 84% da área do Estado, e o embasamento cristalino que ocupa cerca de 16% do espaço geográfico piauiense (AQUINO, 2002). A bacia do rio São Nicolau inserida na Bacia Sedimentar do Parnaíba constitui em termos geológicos, especificamente em seus limites, a Formação Serra Grande a qual engloba quase que totalmente a área que compreende o alto curso da BH de São Nicolau. Presente também na região do alto e parte do médio curso da bacia, a Formação Cabeças constitui-se de arenitos e siltitos depositados em ambientes fluviais, estuário e marinho raso (Figura 2), estão presentes ainda a Formação Longá e a Formação Pimenteiras nessa região (BRASIL/CPRM, 2006). 186

187 Figura 2: Vestígios da Formação Cabeças no Alto curso, município de Assunção do Piauí Fonte: Santiago, 2014,2015. Já os Depósitos Colúvio Eluviais e a Formação Poti, se apresentam no baixo curso da bacia. Nesse trecho há ainda segmento da Formação Longá, cuja formação está associada a ambientes de sedimentação marinho raso, do Período Devoniano, da Era Paleozóica (SANTIAGO, 2014). A geologia da bacia do rio são Nicolau está representada na figura 3. Figura 3: Geologia da bacia do rio São Nicolau PI Fonte: Santiago, 2014,

188 Situada sobre o domínio morfoestrutural planalto da bacia sedimentar do Maranhão-Piauí, a estrutura geológica dá base a um relevo caracterizado pela ausência de grandes elevações e predomínio de chapadões, além de formas tabulares de modestas altitudes (AQUINO, 2002). A bacia está sobre o reverso de cuesta da serra da Ibiapaba, com caimento geral para oeste onde o exutório do rio encontra-se cerca de 50m acima do nível do mar. Com detalhes do relevo e da topografia da área da BHSN obtidas por meio de estudos de campo e pelas imagens de satélite disponibilizadas em Embrapa Monitoramento por Satélite, que oferece dados altimétricos precisos de todo o território brasileiro, gerados a partir de dados de radar, obtidos de sensores a bordo do ônibus espacial Endeavour, no projeto SRTM, a compartimentação geomorfológica da bacia apresentou seis feições. No alto curso, a extremo leste, há o que se denominou de Reverso Superior, sequenciado pelo Reverso Médio, que abriga quase que a totalidade desse setor circundado por extensas áreas do Reverso inferior. Nessas feições encontram-se os vales fluviais encaixados com vertentes retilíneas e íngremes, resultantes da dissecação fluvial recente. Apresenta deposição de planícies aluviais restritas em vales fechados. A incisão dos rios isola os divisores internos povoados de inselbergs, pedimentos e alvéolos pedimentares em toda a sua extensão. Essa feição se estende até o médio curso, tendo em seu entorno a Superfície Aplainada e a Planície Fluvial que se expandem pelo baixo curso da bacia como se observa no figura 4. Figura 4: Compartimentação geomorfológica da BH de São Nicolau-PI Fonte: Santiago,

189 O alto e médio curso da bacia detém as feições de superfícies tabulares estruturais submetidas a processo de pedimentação, com chapadas geralmente areníticas, cuestiformes ou não, limitadas por festonados localmente dissimulados por pedimentos. Há também um relevo dissecado em cristas com controle estrutural, e dissecação em áreas pedimentadas onde o escoamento concentrado ressalta detalhes da estrutura; visualizam-se ainda dissecado de mesas, formas resultantes da evolução do processo de dissecação em interflúvios tabulares; dissecado em ravinas e vales encaixados, dissecação resultante da evolução do dissecado em ravinas; dissecado em ravinas, forma de dissecação superficial resultante do entalhamento por drenagem incipiente (RADAMBRASIL, 1978). No médio curso há presença ainda de superfícies estruturais pediplanadas, extensas superfícies elaboradas em rochas sedimentares, com amplos vales interplanálticos pedimentados e algumas áreas muito dissecadas por retomada de erosão recente. Essa forma se estende até o baixo curso onde aparecem ainda resquícios de superfícies tabulares estruturais (RADAMBRASIL, 1978). A bacia apresenta extensas superfícies elaboradas em rochas sedimentares, com amplos vales interplanalticos pedimentados e algumas áreas muito dissecadas por retomada de erosão recente (Figura 5). Figura 5: Exemplo de Relevo plano e tabular no alto curso da bacia do rio São Nicolau. Fonte: Santiago, Segundo Aguiar (2004), as superfícies tabulares reelaboradas confirmam um relevo plano com partes suavemente onduladas e altitudes variando de 150 a 300 m, nas superfícies tabulares cimeiras (chapadas altas), e elevações (serras, morros e colinas), com altitudes de 150 a 500 m. Nesse contexto, o perfil topográfico da bacia segue no sentido Leste-Oeste onde se observa a uma atitude de aproximadamente 750m a nascente do rio principal localizada na cidade de Assunção do Piauí. O curso do rio percorre cerca de 163,96 km até a foz estando a uma altitude de 50m acima do nível do mar. Com isso, ela possui uma Amplitude Altimétrica de aproximadamente 700m (figura 6). 189

190 Figura 6: Perfil Topográfico da Bacia Hidrográfica do Rio São Nicolau-PI Fonte: Santiago; Aplicativo Global Mapper, Verifica-se um relevo marcado por topografia predominantemente plana a suave ondulada com declínio constante para o oeste o que faz com que em diferentes pontos o rio se apresente numa superfície mais aplainada. Os níveis erosivos também são baixos visto que associado às condições de semiaridez da área há pouca incidência de chuvas. A Relação entre a amplitude altimétrica máxima da bacia e sua extensão foi de 4,26. É possível certificar ainda que maior parte do relevo apresenta declividade menor ou igual a 8% conforme figura 7. Figura 7: Declividade da bacia do rio são Nicolau Fonte: Santiago, 2014,

191 Foi calculado em quilômetros quadrados a área de cada classe de relevo determinando a declividade média (DM) dos setores da bacia (tabela 1). Tabela 1- Declividade Média dos Setores da BHSN Relevo Intervalos de Índice Alto (Km²) Médio (Km²) Baixo (Km²) Declividade Suave 8 % DM1 2765, ,26 372,83 ondulado Ondulado 9 a 20% DM2 481,83 116,69 38,27 Forte 21 a 45% DM3 40,91 36,6 9,95 ondulado Montanhoso >45% DM4 18,53 1,62 2,12 Fonte: Santiago, 2014,2015. Os valores de declividade encontrados identificaram que no alto curso o índice de declividade é o maior da bacia, parte desse setor apresenta relevo plano e uma área considerável compreendendo terrenos de relevo ondulado a forte ondulado, por compreender parte da região da Serra Grande. O médio curso apresentou o menor índice de declividade da bacia com grande área com relevo suave e declive menor que 8%, isso se deve ao tipo de relevo com amplos vales interplanálticos pedimentados e algumas áreas muito dissecadas por retomada de erosão recente. Já o baixo curso apresenta grande área com relevo do tipo suave a ondulado, contudo esse setor expõe o segundo maior índice de declividade da bacia, possivelmente por haver maior proporção entre o tipo de relevo forte ondulado (cerca de 9,95 km 2 ) e o tamanho desse setor, diferentemente dos outros setores. A declividade favorece a atividade agrícola com uso de máquinas agrícolas. A erosão hídrica também não é frequente permitindo um manejo sem que sejam necessários intensas práticas de conservação do solo e altos custos de investimentos para a atividade agropecuária, que conforme visitas de campo e dados do IBGE (2017), é a atividade mais predominante na bacia, especialmente no alto e médio curso. A região do baixo curso, há a existência de atividades turísticas cujo município é Santa Cruz Dos Milagres. A curva hipsométrica (figura 8), que mostra por meio da representação gráfica o relevo médio da bacia, certifica uma área onde os níveis altimétricos em cada setor denota uma área de reverso de cuesta coincidindo com o ponto da nascente do rio São Nicolau numa altitude de 750m que decresce conforme a declividade da bacia Piauí-maranhão, até desaguar no Rio Sambito numa altitude de 50m acima do nível do mar, como afirma Santiago (2014). 191

192 Figura 8: Hipsometria da BHSN Fonte: Santiago, 2014, Seguindo a linha, os extratos mergulham gradativamente para o interior da Bacia Sedimentar, com dessimetrias morfológicas condicionadas por estruturas monoclinais (IDEPI, 2006). CONCLUSÃO Com níveis altimétricos que denota uma área de reverso de cuesta, na bacia hidrográfica do rio São Nicolau identificou-se, com auxílio dos softwares arcgis 10.1 e global mapper, seis feições de relevo como o Reverso Superior, Reverso Médio caracterizando a paisagem do alto curso da bacia. Este ainda é circundado por extensas áreas do Reverso inferior. O terreno plano favorece a atividade agropecuária, com criação bovina, suína e, principalmente caprinos. Pelo fato de não ser necessário grandes intervenções no relevo da região para implantação da atividade, existem grandes áreas utilizadas para o plantio. Dentre as culturas permanentes se destaca a cajucultura, no plantio temporário, o feijão e milho são predominantes, com produção em larga escala e de subsistência. Os vales fluviais encaixados com vertentes retilíneas e íngremes, são frequentes na paisagem. Nessa feição encontra-se deposição das planícies aluviais restritas em vales fechados que são bastante utilizadas para agricultura. Na dinâmica hidrológica, os cursos d água tem como divisores internos inselbergs, pedimentos e alvéolos pedimentares por toda a extensão da bacia. Essa feição se estende até o médio curso, tendo 192

193 em seu entorno a Superfície Aplainada e a Planície Fluvial presente no centro da bacia e que se expande por todo o baixo curso da mesma. Portanto, além de apresentar característica de relevo favorável especialmente à práticas agrícolas, devido aos níveis de declividade mostrar-se predominantemente suave- ondulado a ondulado, os impactos negativos no ambiente como a intensa ação erosiva, ocasionada por relevos com altos níveis de declividade associadas às práticas agrícolas, não são predominantes na região, uma vez que simples técnicas de conservação do solo podem contribuir para a conservação do ambiente. As formas de uso e ocupação estão distribuídos conforme o modelado e, certamente, o relevo está entre os principais fatores que favorece a implantação da atividade agropecuária na BHSN, possibilitando o desenvolvimento econômico e crescimento dessa região do semiárido piauiense. REFERÊNCIAS AGUIAR, Robério Bôto de. Projeto cadastro de fontes de abastecimento por água subterrânea, Estado do Piauí: diagnóstico do município de Santa Cruz dos Milagres. Fortaleza: CPRM - Serviço Geológico do Brasil, AQUINO, Claudia M. S. de. Suscetibilidade Geoambiental das Terras Secas do Estado do Piauí à Desertificação. Dissertação. PRODEMA-UFC, Fortaleza, 2002, 157p. BRASIL. Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba CODEVASF/PLANAP: síntese executiva: Território Vale do Sambito. Brasília, DF BOTELHO, R. G. M.; SILVA, A. S. da. Bacia Hidrográfica e Qualidade Ambiental. In: VITTE, A. C.; GUERRA, A. J. T. (Orgs.). Reflexões sobre a Geografia Física no Brasil. 2ª Ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, CHRISTOFOLETTI, A. Geomorfologia. 2ª ed. Blucher. São Paulo, CPRM, Serviço Geológico do Brasil. Mapa Geológico do Estado do Piauí - Francisco Lages Correia Filho. 2ª Versão, IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Cidades- Piauí. Informações estatísticas Disponível em: &coduf=22&search=piauí. Acessado em março/2017. FLORENZANO, Teresa Gallotti. Geomorfologia: conceitos e tecnologias atuais. Oficina de Textos, GIRÃO, Osvaldo; CORRÊA, Antonio Carlos de Barros. A Contribuição da Geomorfologia Para o Planejamento da Ocupação de Novas Áreas. Revista de Geografia. Recife: UFPE DCG/NAPA, v. 21, n0 2, jul/dez IDEPI (Emgerpi). Barragem de Santa Cruz dos Milagres: Projeto Executivo Memória Justificativa e de Cálculos. Piauí. Ed. Escala Volume I e II. 193

194 LIMA, I. M. M. F. Caracterização Geomorfológica da Bacia Hidrográfica do Poti. Universidade Federal do Rio de Janeiro- UFRJ. Rio de Janeiro, MIRANDA, E. E. de; (Coord.). Brasil em Relevo. Campinas: Embrapa Monitoramento por Satélite, Disponível em: < Acesso em: 15 ago RADAMBRASIL, Projeto. Geologia, geomorfologia, pedologia, vegetação e uso potencial da terra." Ministério das Minas e Energia, Folha Cuiabá. SD 21, SANTIAGO, C. M. C. Análise ambiental da bacia hidrográfica do Rio São Nicolau (semiárido piauiense) a partir do Diagnóstico Físico-Conservacionista DFC. Universidade Federal do Ceará, Departamento de Geografia, Fortaleza, f.: il. (mestrado) SANTIAGO, C. M. C., GOMES, L. C. F., SALES, M. C. L., & PAULA, J. E. A. de Arranjo Espacial da Bacia Hidrográfica do Rio São Nicolau-Piauí a partir da Análise Morfométrica e dos Aspectos Ambientais. Revista Brasileira de Geografia Física, v. 8, n. 2, p , SEMAR. Secretaria do Meio Ambiente e Recursos Hídricos. Plano Estadual de Recursos Hídricos do Estado do Piauí: Relatório síntese. Piauí, VASCONCELOS, T. Lucena de; SOUZA, Sara F. de; DUARTE, Cristiana C.; MELIANI, Paulo Fernando; ARAÚJO, M. do Socorro Bezerra de; CORRÊA, A. Carlos de Barros. Estudo Morfodinâmico em Área do Semiárido do Nordeste Brasileiro: Um Mapeamento Geomorfológico em Micro-Escala. Revista de Geografia. Recife: UFPE DCG/NAPA, v. 24, no 2, mai/ago VILLELA, S. M.; MATTOS, A. Hidrologia aplicada. McGraw-Hill, ZANELLA, Maria Elisa, OLÍMPIO, J. L., LUSTOSA COSTA, M. C., & Wanderley Correia DANTAS, E. Vulnerabilidade socioambiental do baixo curso da bacia hidrográfica do Rio Cocó, Fortaleza-CE. Sociedade & Natureza, 2013,

195 ANÁLISE DOS CONDICIONANTES PREDISPONENTES DOS ESCORREGAMENTOS NA BACIA HIDROGRÁFICA DO BACANGA, SÃO LUÍS, MARANHÃO Danyella Vale Barros França Universidade Estadual do Maranhão Mestranda em Geografia Quésia Duarte da Silva Universidade Estadual do Maranhão Doutora em Geografia Cristiane Mouzinho Costa Universidade Estadual do Maranhão Mestranda em Geografia Eixo temático: Geomorfologia Urbana Resumo: Os escorregamentos, são tipos de movimentos de massa que, fazem parte da dinâmica da paisagem mas que podem ser deflagrados pela influência antropogênica no ambiente. Neste sentido, este trabalho objetivou analisar os condicionantes predisponentes dos escorregamentos em três bairros inseridos na bacia hidrográfica do Bacanga, município de São Luís MA. Para o alcance dos objetivos fez-se um levantamento bibliográfico e cartográfico, elaborou-se mapas temáticos geoambientais, realizou-se 10 trabalhos de campo, coleta e análise das amostras de solos das cicatrizes dos escorregamentos. Como resultado têm-se os condicionantes geológicos, geomorfológicos e pedológicos das áreas afetadas incluindo neste último as propriedades físicas dos solos. Conclui-se que os condicionantes físicos são predisponentes indiretos dos escorregamentos e que o fator deflagrador tem sido a ação antrópica associada às chuvas episódicas ocorrentes na área. Palavras-chave: Escorregamentos; Salinas do Sacavém e Vila Embratel; Bacia Hidrográfica do Bacanga. Abstract: The landsliding, are types of mass movements that are part of the dynamics of the landscape but that can be triggered by the anthropogenic influence on the environment. In this sense, this work aimed to analyze predisposing conditions of landsliding in three neighborhoods in the area of basin of Bacanga. To the achievement of the goals was a bibliographic survey, cartographic and thematic maps geo was, 10 field work, collection and analysis of samples of soils of the scars of 195

196 landsliding. As a result of the analyzed the geological conditions, soil and geomorphological areas affected including in the latter analysis of physical properties of soils, where through these data it can be concluded that the physical restrictions are indirect of landsliding and predisposing the fuze factor has been the anthropic action associated with episodic showers occurring in the area. Key-words: Landsliding; Salinas of Sacavém and Ville Embratel; Basin of Bacanga. INTRODUÇÃO Os escorregamentos são movimentos gravitacionais de massa que têm sido intensamente estudados em diversos países e por diferentes profissionais (GUIDICINI; NIEBLE, 1984) tanto pela sua importância como agente atuante na evolução das formas de relevo quanto pelas suas implicações práticas e econômicas, pois normalmente estão relacionadas com atividades antrópicas, deixando de ter um caráter estritamente natural (LOPES & ARRUDA JUNIOR, 2015). Os escorregamentos segundo Cerri (1993, 2001), estão entre os riscos ambientais naturais relacionados ao meio físico e geológico e ainda de origem exógena. Estes correspondem a um dos processos erosivos mais importantes na modelagem do relevo na escala de tempo humana, além de se constituírem como processos atuais da evolução natural das encostas (WOLLE, 1988). De maneira geral, segundo Guidicini e Nieble (1984) e IPT (1991), os escorregamentos são caracterizados por movimentos rápidos de ordem de m/h a m/s de duração relativamente curta. Para Lopes e Arruda Junior (2015), estes são sem dúvida os processos mais marcantes na evolução das encostas, seja pela frequência com que ocorrem, seja pelo potencial de causar danos ao ser humano. Segundo Fernandes e Amaral (2003), os escorregamentos podem ser classificados em rotacional ou circular, quando possuem uma superfície de ruptura curva, côncava para cima, ao longo da qual se dá um movimento da massa rotacional de solo; e em translacional ou planar, quando possuem uma superfície de ruptura com forma planar a qual acompanha, de modo geral, o perfil da encosta, o material no escorregamento pode variar de solo solto e não adensado até grandes placas de rochas, ou ambos. Segundo Brasil (2012), somente no ano de 2011, constatou-se pessoas afetadas por escorregamentos, entre mortos, feridos, desabrigados e entre outros danos humanos. No Maranhão, segundo a UFSC (2011), entre os anos de aproximadamente 400 pessoas foram afetadas por estes fenômenos e em São Luís não tem sido diferente, devido ao crescente processo de urbanização na capital maranhense. Segundo dados do IBGE (1996) em 1960 foi diagnosticado um acréscimo populacional em São Luís de 4,3% confirmando um intenso processo de urbanização já iniciado. De 1970 a 1980, a população migrante de origem rural cresceu 99,56%, correspondendo a 41,25% sobre o total de São Luís, em Em 1991, a população da capital do Maranhão era de habitantes, o 196

197 equivalente a um aumento de 261% em relação a Em 1996, a população de São Luís passou a ser de habitantes (IBGE, 1996). No ano 2000 a população do município de São Luís era habitantes. Somando este valor aos dos outros municípios da ilha, São José de Ribamar, habitantes, Raposa, habitantes, e Paço do Lumiar, habitantes, tem-se um total de habitantes residindo numa área de um pouco mais de 900 km 2 (IBGE, 2008). Em 2010, de um total de habitantes, 77,50% residiam no município de São Luís, 12,45% em São José de Ribamar, 8,03% em Paço do Lumiar e 2,01% em Raposa, o que confirma uma grande concentração populacional na Ilha do Maranhão (IBGE, 2012). Em virtude dos diversos danos humanos e materiais que os escorregamento trazem, é fundamental o levantamento dos condicionantes predisponentes dos escorregamentos. Segundo Melo, Elldorf e Dias (2015), os fatores predisponentes dos escorregamentos não são limitados, pois variam conforme a realidade de cada ambiente, abrangendo questões geológicas, litológicas, geomorfológicas, pedológicas etc. A crescente deflagração de escorregamentos em ambientes urbanos tem sido associada à influência antrópica nas encostas por meio do uso e ocupação dos espaços, no entanto, é preciso avaliar se estas encostas que atualmente estão antropizadas apresentam condicionantes físicos/geoambientais que deflagrariam esses eventos sem a interferência antrópica. Na área urbana da bacia hidrográfica do Bacanga tem-se constatado a ocorrência de escorregamentos ao longo dos últimos dez anos, porém o crescimento urbano nesta área também tem sido intenso, com a ocupação de áreas inadequadas para a habitação. Desta forma, objetivou-se neste trabalho analisar quais características geoambientais tem se tornado condicionantes predisponentes dos escorregamentos em três bairros inseridos na bacia hidrográfica do Bacanga, município de São Luís MA. ÁREA DE ESTUDO A bacia hidrográfica do Bacanga possui uma área de aproximadamente 95,18 Km², sendo a segunda maior bacia hidrográfica da Ilha do Maranhão (SILVA, 2012). Limita-se ao Norte com a baía de São Marcos e com a bacia do Anil, ao Sul, com o tabuleiro do Tirirical; a Leste, com as bacias do Anil, Paciência e Cachorros e a Oeste, com a bacia do rio dos Cachorros. Na área urbana da bacia selecionada foram mapeadas três encostas com ocorrência de escorregamentos sendo estas denominadas de Salinas do Sacavém, Vila Embratel Rua 15 e Vila Embratel Rua Santa Tereza (Figura 1). 197

198 Figura 1: Localização das áreas com ocorrência de escorregamentos na bacia do rio Bacanga Fonte: Barros (2016). MATERIAIS E MÉTODOS Para a realização do trabalho foi feito de um levantamento bibliográfico acerca dos temas inerentes a pesquisa, um levantamento cartográfico a respeito das características geoambientais da bacia hidrográfica do Bacanga e trabalhos de campo. Para o mapeamento, processamento e espacialização dos dados referentes aos escorregamentos na área de estudo, utilizou-se o software ArcGIS for Desktop Advanced, versão Foram realizados dez trabalhos de campo nos quais foram coletadas 46 amostras deformadas e 39 amostras indeformadas de solos, nas mais diferentes profundidades para a determinação em laboratório da porosidade total, densidade do solo e granulometria conforme EMBRAPA (2011), tendo em vista que o entendimento pedológico é de suma importância no estudo dos escorregamentos. As amostras de solos foram analisadas no Laboratório de Geociências da Universidade Estadual do Maranhão. O mapa de geologia foi elaborado com base em Silva (2012) e adaptou-se o mapeamento geomorfológico de Bezerra (2011) para este trabalho. Os mapas de solos, drenagem, declividade, uso e cobertura do solo foram adaptados de Morais (2014). 198

199 A partir da avaliação integrada do mapeamento geoambiental, visitas de campo e análises laboratoriais foi possível inferir os condicionantes predisponentes para a ocorrência dos escorregamentos na área de estudo. CONSIDERAÇÕES SOBRE OS ESCORREGAMENTOS NA BACIA HIDROGRÁFICA DO BACANGA Os escorregamentos ocorrentes na área urbana da bacia hidrográfica em questão são classificados em rotacionais e translacionais, segundo Guidicini e Nieble (1984), sendo possível a identificação de rastejos em algumas áreas, conforme a classificação do IPT (1991). No bairro Salinas do Sacavém, ocorrem os escorregamentos do tipo rotacional, uma vez que, ao se desprender as porções de solo é formada uma concavidade na encosta (Figura 2A), e também encontra-se na mesma localidade a ocorrência de rastejos, segundo o IPT (1991), conforme está evidenciado na Figura 2B. Figura 2: Escorregamentos rotacionais no bairro Salinas do Sacavém; A Medição do terreno onde ocorre o escorregamento; B Ocorrência de rastejos na vertente Fonte: Barros (2016). Na Vila Embratel, por sua vez, os escorregamentos são classificados como rotacionais (Figura 3ª) e translacionais (Figura 3B). Na Rua 15 a declividade não é acentuada - 2% - possuindo 15 metros do topo até a base, não sendo uma vertente íngreme. Na Rua Santa Tereza, os escorregamentos são translacionais e ocorrem em pequena escala. Em ambas as localidades a influência antrópica é bem presente, por se tratar da área urbana da bacia hidrográfica do Bacanga. Há ocupação na alta e baixa encosta e muitos resíduos são lançados ao longo da vertente. 199

200 Figura 3: Escorregamentos na Vila Embratel; A Cicatriz de escorregamento rotacional na vertente localizada na Rua 15; B Escorregamento translacional na Rua Santa Tereza Fonte: Barros (2016). Houve a ocorrência dos escorregamentos em grandes proporções nas áreas estudadas nos anos de 2009 e 2012 respectivamente, quando ocorreram chuvas episódicas em São Luís e outros municípios maranhenses, deflagrando enchentes, inundações e outros eventos associados a questões hidrometereológicas. CONDICIONANTES PREDISPONENTES DOS ESCORREGAMENTOS NA ÁREA URBANA DA BACIA HIDROGRÁFICA DO BACANGA Segundo Press (2006), de forma geral existem três fatores primários que influenciam a movimentação das massas, sendo eles: a natureza do material da encosta, a declividade e instabilidade da mesma e a quantidade de água contida nos materiais. No entanto, nos estudos de caso, deve-se levar em consideração a realidade do ambiente e os fins para os quais o trabalho é feito. Neste sentido, apresentar-se-á os condicionantes verificados como predisponentes para a ocorrência dos escorregamentos na bacia hidrográfica do Bacanga. Condicionantes Geológicos A bacia hidrográfica do Bacanga está inserida no contexto do Grupo Barreiras (77,34%) seguido dos sedimentos pós-barreiras, também denominados de Formação Açuí (17,89%). Segundo Pereira (2006), o Grupo Barreiras é caracterizado por apresentar um perfil pouco evoluído, com sedimentos inconsolidados, argilosos, arenosos e com nódulos e blocos de concreções ferruginosas. Os sedimentos pós-barreiras, segundo a mesma autora, é caracterizado pela presença de areia fina a 200

201 média, matura a submatura, com estratificação cruzada. Presença de argila arenosa, maciça bioturbada. Os sedimentos do Grupo Barreiras propicia a ocorrência dos escorregamentos por ser constituída de materiais inconsolidados, muito friáveis e devido a presença da argila há ocorrência de escoamento em subsuperfície. Este escoamento, associado a características pedológicas como a porosidade total, influencia no enxarcamento dos pacotes de solo e rocha que associados a declividade podem se desprender, deflagrando assim os fenômenos em questão. Para Pereira (2006), em termos de geologia estrutural, os sistemas de lineamentos da Ilha do Maranhão e entorno, a partir de fotointerpretação, indicam direção preferencial para NE-SW e NW- SE e menos frequentes nas direções NNE-SSW e WNW-ENE, nos terrenos cretácicos e terciários da Bacia de São Luís (RODRIGUES et al., 1994). Esta estruturação está marcada por alinhamentos de drenagem na bacia do rio Bacanga que tendem a influenciar de alguma forma nos mais diversos fenômenos naturais. Condicionantes Geomorfológicos As unidades de relevo predominantes nas áreas com ocorrência de escorregamentos são as colinas esparsas e as superfícies dissecadas segundo Bezerra (2011), com superfícies tabulares na direção S-W da bacia. As encostas não são íngremes, apenas 28% da área total da bacia apresenta uma declividade superior a 30%, sendo que somente o bairro Salinas do Sacavém apresenta esta declividade, nas áreas mapeadas na Vila Embratel a declividade não ultrapassa 18%. As vertentes das áreas de estudo são dispersoras de água, fazendo com que o fluxo escoe mais rapidamente. Condicionantes Pedológicos Os solos típicos encontrados ao longo da área de estudo consistem em solos autóctones derivados das rochas e sedimentos do Terciário Paleogeno e da Formação Barreiras, respectivamente (PEREIRA, 2006). Para Pereira (2006), o solo residual, típico na área da bacia do rio Bacanga, caracteriza-se pela alta concentração de ferro nos sedimentos areno-argilosos, argilo-arenosos, areia fina, sendo, geralmente, capeado por extensas formações de laterita (petroplintitas), cuja gênese está diretamente relacionada com as condições geológicas e do clima tropical. Segundo Bezerra (2011), há predominância do Neossolo regolítico (59%) nas três áreas estudadas neste trabalho. As propriedades físicas dos solos foram levantadas, afim de se entender se este fator tem colaborado para a ocorrência dos mesmos. 201

202 No que tange as propriedades físicas dos solos, em termos de granulometria, na encosta com escorregamentos do bairro Salinas do Sacavém e Rua 15 da Vila Embratel, as frações texturais predominantes são silte e argila com 50% e 27% respectivamente. Na encosta da Rua Santa Tereza da Vila Embratel as frações são bem distribuídas, predominando as frações de areia média (21%), areia fina (19%) e areia grossa com 18% (Figura 4). Segundo Guerra (1996), se os solos apresentarem maior quantidade de argila em sua textura, estas irão dificultar a ação da penetração de água, que se escoará em subsuperfície e que será um fator desencadeante dos escorregamentos. Por outro lado, solos ricos em areia encharcam mais rapidamente, e dependendo das condições pluviométricas, as parcelas dos solos encharcadas associadas ao declive e a força gravitacional podem também favorecer a ocorrência dos eventos supracitados. No entanto, deve-se ressaltar que isto depende da capacidade de carga do solo, uma vez que, os solos apresentam uma capacidade máxima de carga e passa a ficar saturado. Essa capacidade de carga não foi quantificada para este trabalho. Figura 4: Frações granulométricas das encostas com escorregamentos na bacia do rio Bacanga: A - bairro Salinas do Sacavém; B - Rua 15 na Vila Embratel; C Rua Santa Tereza na Vila Embratel Fonte: Própria pesquisa (2016).. Em relação à densidade do solo, esta foi analisada no período seco e no período chuvoso. No bairro Salinas do Sacavém, a densidade do solo foi maior durante o período chuvoso, variando em torno de 1,6 g/cm³, o que significa dizer, segundo a literatura especializada, que é uma encosta com média compactação. Nas duas áreas estudadas na Vila Embratel, os valores oscilaram nos dois períodos, sem certa predominância em um deles, ficando baixo de 1,6 g/cm³, o que revela que nessas encostas ainda há espaço poroso para que a água percole nos pacotes de solo (Figura 5), e o solo não está totalmente compactado 202

203 Figura 5: Densidade do solo das áreas com ocorrência de escorregamentos na bacia do rio Bacanga Fonte: Própria pesquisa (2016). Correlacionado à densidade do solo está a porosidade total. Quanto maior a densidade do solo, menor é a porosidade total, sendo assim estas propriedades são inversamente proporcionais. De maneira geral, pode-se constatar que os valores de porosidade se mantiveram intermediários em torno de >=50% (Figura 6). Figura 6: Porosidade total do solo das áreas com ocorrência de escorregamentos na bacia do rio Bacanga Fonte: Própria pesquisa (2016). CONCLUSÃO Os resultados mostraram que existem condicionantes relativamente predisponentes como é o caso da geologia e de algumas características pedológicas. Entende-se que as morfologias locais não são um condicionante enfático, por não apresentarem altas declividades ou morfologias que favoreçam a ocorrência de escorregamentos. No entanto, o solo das três áreas estudadas não tem alta compactação e consequentemente tem espaço poroso para que a água percole. Esse fato auxilia no desencadeamento dos escorregamentos, levando-se em consideração que havendo maior espaço poroso, a água tem possibilidade de percolar e quando a capacidade de carga deste solo é saturada, os pacotes de massa associados ao declive podem ser movimentados gerando escorregamentos. Em termos de classes texturais, o escoamento em subsuperfície nas áreas com predominância de argila e o enxarcamento do solo nas áreas com predomínio de areia podem contribuir para o desprendimento do solo. Estudos futuros deverão aprofundar as investigações envolvendo mais técnicas e mais análises, porém até o momento, acredita-se que o fator deflagrador dos 203

204 escorregamentos na bacia hidrográfica do Bacanga é o uso inadequado do solo associado a ocorrência de chuvas episódicas com ordem acima de 50 mm/h, tendo em vista que as propriedades físicas são médios condicionantes e as características geoambientais são condicionantes indiretos a ocorrência dos mesmos. Salienta-se que o estudo dos condicionantes é de suma importância para o entendimento das dispersões de massa nas mais diversas localidades, tendo em vista que, conforme a realidade da paisagem, a deflagração de escorregamentos pode estar associada a condicionantes diversos. REFERÊNCIA BARROS, D. V. Situação das Áreas com Ocorrência de Movimentos de Massa na Bacia Hidrográfica do Bacanga: estudo de caso dos bairros Salinas do Sacavém e Vila Embratel. Monografia. São Luís Universidade Estadual do Maranhão, BEZERRA, J. F. R. Geomorfologia e reabilitação de áreas degradadas por erosão com técnicas de bioengenharia de solos na bacia do rio Bacanga, São Luís, Maranhão. Tese de Doutorado. Rio de Janeiro - Universidade Federal do Rio de Janeiro, BRASIL. Anuário Brasileiro de Desastres Naturais: Ministério da Integração Nacional. Secretaria Nacional de Defesa Civil. Centro Nacional de Gerenciamento de Riscos e Desastres. Brasília: CENAD, CERRI, L. E. S. Riscos geológicos associados a escorregamentos: uma proposta para a prevenção de acidentes. 197 f. Tese (Doutorado em Geociências e Meio Ambiente) Instituto de Geociências e Ciências Exatas, Universidade Estadual Paulista, Rio Claro, CERRI, L. E. S. Subsídios para a seleção de alternativas de medidas de prevenção de acidentes geológicos. 78 f. Tese (Livre Docência) - Instituto de Geociências e Ciências Exatas, Universidade Estadual Paulista, Rio Claro, EMBRAPA. Manual de métodos e análises solo. Rio de Janeiro: EMBRAPA/SNLCS, GUIDICINI; G.; NIEBLE, C. M. Estabilidade de taludes naturais e de escavação. 2. ed. São Paulo: Edgard Blucher; Edusp, p. GUERRA, A. J. T.; BOTELHO, R. G. M. Características e propriedades dos solos relevantes para os estudos pedológicos e análise dos processos erosivos. Anuário do Instituto de Geociências - V IBGE. Censo Demográfico. Rio de Janeiro: IBGE, Censo Demográfico. Rio de Janeiro: IBGE, Cidades. Disponível em< http. Acesso em 20 out Cidades. Disponível em< http. Acesso em 05 jan

205 IPT INSTITUTO DE PESQUISAS TECNOLÓGICAS DO ESTADO DE SÃO PAULO. Ocupação de encostas: manual. São Paulo, p. Publicação n LOPES, E. S. S.; ARRUDA JUNIOR, E. R. de. Sensoriamento remoto para deslizamentos. In.: SAUSEN, T, M.; LACRUZ, M. S. P. Sensoriamento remoto para desastres. São Paulo: Oficina de Textos, p. MELO, R. C.; ELLDORF, B.; DIAS, G. P. Análise das Condicionantes Geológicas da Corrida de Massa Ocorrida na Serra das Antas, Águas Belas PE. 15º Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia e Ambiental, Anais. MORAIS, M. S. Análise da fragilidade ambiental na bacia hidrográfica do rio Bacanga, município de São Luís MA. Relatório de Iniciação Científica. (Pesquisa em Geografia). São Luís, PEREIRA, E. D. Avaliação da vulnerabilidade natural à contaminação do solo e do aqüífero do reservatório Batatã São Luís (MA). Tese (Doutorado) Rio Claro: UNESP PRESS, F. et al. Para entender a Terra. 4 ed. Tradução de Rualdo Menegat et al. Porto Alegre: Bookman, RODRIGUES, T. L. N. et al. (Org) Programa de Levantamentos Geológicos Básicos do Brasil: São Luís, Folha SA-23-2-A, Cururupu Folha SA-23-X-C, escala 1: , Brasília: CPRM, 1994, 185 p. SILVA, Q. D. Mapeamento geomorfológico da Ilha do Maranhão/ Tese de Doutorado. Presidente Prudente- Universidade Estadual de São Paulo, UFSC. Atlas Brasileiro de Desastres Naturais 1991 a 2010: Maranhão. Centro Universitário de Estudos e Pesquisas sobre Desastres. Florianópolis: CEPED - UFSC, VALERIANO, M. M. Dados topográficos. In. FLORENZANO, T. G. (Org.) Geomorfologia: conceitos e tecnologias atuais. São Paulo: Oficina de Textos. 2008a, p WOLLE, C. M. Análise dos escorregamentos translacionais numa região da Serra do Mar no contexto de uma classificação de mecanismos de instabilização de encostas. 394 f. Tese (Doutorado em Engenharia) Escola Politécnica, Universidade de São Paulo, São Paulo,

206 GEOMORFOLOGIA AMBIENTAL E ANTROPOGEOMORFOLOGIA NA ANÁLISE DE ÁREAS EM EROSÃO NA CIDADE DE TIMON (MA) Rafael José Marques Universidade Estadual do Piauí - UESPI/Plano Nacional de Formação de Professores da Educação Básica - PARFOR/CAPES; Secretaria Municipal de Meio Ambiente - Timon (MA) Professor formador II (bolsista); Técnico Ambiental rafaeljmarques.geo@gmail.com Eixo temático: Geomorfologia Urbana Resumo: O presente trabalho aborda a importância do conhecimento geomorfológico, enfatizando a geomorfologia ambiental e a antropogeomorfologia na análise de áreas em erosão na cidade de Timon/MA. A área objeto de estudo fica localizando entre os bairros Pedro Patrício e São Marcos, zona oeste/sudoeste. Os objetivos específicos são: envolver a geomorfologia ambiental com a antropogeomorfologia nos estudos de erosão; Identificar os fatores de erosão no local de estudo. A metodologia utilizada inicial foi a pesquisa bibliográfica disponível, pesquisa de campo para observação do local degradado com registro fotográfico e análise de imagens do google earth. Os resultados foram a identificação em campo dos efeitos negativos da dimensão do tipo da erosão e do processo de ocupação, causando alterações bastante visíveis. Assim, o conhecimento geomorfológico utilizado no diagnóstico das áreas em erosão, assim se dá consistência, e mais significado à Geomorfologia como um ramo de conhecimento para a sociedade. Palavras-chave: Geografia Física. Geomorfologia. Erosão. Abstract: The present work approaches the importance of geomorphological knowledge, emphasizing the environmental geomorphology and the anthropomorphology in the analysis of erosion areas in the city of Timon / MA. The study area is located between the neighborhoods Pedro Patrício and São Marcos, west / southwest. The specific objectives are: to involve the environmental geomorphology with the anthropogeomorphology in the erosion studies; Identify erosion factors at the study site. The methodology used was the available bibliographical research, field research for the observation of the degraded site with photographic record and analysis of images of google earth. The results were the field identification of the negative effects of the erosion type dimension and the occupation process, causing quite visible changes. Thus, the geomorphological knowledge used in the diagnosis of erosion areas, thus gives consistency, and more meaning to Geomorphology as a branch of knowledge for society. Keywords: Physical Geography. Geomorphology. Erosion. 206

207 INTRODUÇÃO A apropriação do espaço pela sociedade evidencia a importância do relevo como fator de natureza antagônica, ora favorável à ocupação, ora apresentando feições e processos que desencorajam o mecanismo de ocupação por grupos humanos. Assim, o relevo tem um caráter restritivo a determinados tipos de ocupação humana. Entretanto, é inegável que o relevo constitui-se em um elemento basilar para a expansão da humanidade, pois se apresenta como forma de suprir a necessidades primordiais de ocupação ou exploração de recursos de determinada área que, invariavelmente, acarretam alterações no estado original da mesma. Assim, o conhecimento da ciência do relevo, a Geomorfologia tem sido cada vez mais relevante no que diz respeito aos aspectos relacionados nas questões ambientais, particularmente, nos estudos de áreas degradadas. A Geomorfologia é a ciência que integra aspectos que envolvem conhecimento das atividades sócias e ambientais, que são fundamentais aos estudos e pesquisas voltados às ações de caráter aplicativo, ou seja, usar verdadeiramente a teoria em atividades de campo (Christofoletti, 1980, 2011; Marques, 2007). Ela tem como principal objeto de estudo as formas de relevo, investigando os processos que deram origem a essas formas e os materiais que foram trabalhados nesses processos que implicam suas diferentes formas. Espera-se com este artigo contribuir para a construção do conhecimento geomorfológico da região, através da produção de informações sobre as características físicas e ambientais, que são fundamentais para subsidiar tomadas de decisões das autoridades públicas, nas três esferas do poder, e novos estudos com vistas ao planejamento e à conservação dos recursos naturais, bem como o parcelamento, o uso e ocupação dos solos urbano e rural. Dessa forma, acredito que esse trabalho também possa ser relevante, visto que o conhecimento geomorfológico possa ser útil nos estudos de reabilitação de áreas degradadas com técnicas de bioengenharia de solos, como também a formulação de estratégias e planejamento para o desenvolvimento dos aspectos socioeconômicos da comunidade afetada. Este trabalho tem como objetivo geral abordar a importância do conhecimento geomorfológico, enfatizando a geomorfologia ambiental e a antropogeomorfologia na análise de áreas em erosão na cidade de Timon/MA. A área objeto de estudo fica localizando entre os bairros Pedro Patrício e São Marcos, zona oeste/sudoeste. Os objetivos específicos foram: envolver a geomorfologia ambiental com a antropogeomorfologia nos estudos de erosão; Identificar os fatores de erosão no local de estudo. A Geomorfologia é uma ciência que integra atividades sociais e ambientais, por isso este trabalho justifica-se sendo relevante relacionado está ciência na análise de áreas degradadas considerando a degradação da paisagem, do solo, do relevo. A metodologia foi iniciada com pesquisa bibliográfica, configurando-se em um estudo. inicialmente teórico e conceitual sobre o tema, no qual se buscou conhecer vertentes da geomorfologia. 207

208 DESENVOLVIMENTO - A GEOMORFOLOGIA E ANTROPOMORFOLOGIA As origens da Geografia Física, enquanto conhecimento científico, remonta aos naturalistas europeus dos séculos XVIII e XIX que, em viagens objetivando o descobrimento e reconhecimento de novas terras para a expansão colonialistas europeia, realizavam observações e análises dos componentes do meio natural. Tais estudos se constituíram como as primeiras bases para uma institucionalização da Geografia como ciência, além de representar as primeiras pesquisas que serviriam como base para o desenvolvimento da denominada Geografia Física (Mendonça, 1989). Os conceitos modernos de Geomorfologia evidenciam a natureza, a gênese, a composição dos materiais e como esses processos se desenvolvem na elaboração das formas de relevo (GUERRA e MARÇAL, 2006; FLORENZANO, 2008). Os estudos têm avançado e os temas da Geomorfologia têm se diversificado, principalmente no intuito de compreender as transformações do meio físico provocadas pelo homem. Especialidades, como Geomorfologia Ambiental e Geomorfologia Urbana, têm sido amplamente exploradas na atualidade por pesquisadores da área. Esses estudos têm contribuído sobremaneira no diagnóstico, planejamento e gestão de áreas degradadas e/ou de risco em áreas urbanas e onde se desenvolvem atividades como agricultura, pastagem, mineração e outras. As concepções teóricas relacionadas com a área-objeto do presente estudo carecem de reformulação direta em face da inexistência de trabalhos científicos que apresentem o suporte de conhecimentos à compreensão e explicação dos arranjos espaciais dos ecossistemas e geosistemas dominantes nas áreas de estudo apontadas neste artigo. Contudo, encontram-se referências produzidas relativamente a outras regiões que podem ser adaptadas visando à consecução dos objetivos propostos. A Geomorfologia, de acordo com Christofoletti, (2011): É a ciência que estuda as formas do relevo e sua respectiva evolução. Etimologicamente o termo significa o estudo das formas da Terra. Entretanto, fazse necessário um completo entendimento dos processos geomorfológicos para a compreensão dessas formas. Para Christofoletti (2011), a Geomorfologia analisa: As formas de relevo focalizando suas características morfológicas, materiais componentes, processos atuantes e fatores controlantes, bem como a dinâmica evolutiva. Compreende os estudos voltados para os aspectos morfológicos da topografia e da dinâmica responsável pelo funcionamento e pela esculturação das paisagens topográficas. Dessa maneira, ganha relevância por auxiliar a compreender o modelado terrestre, que surge como elemento do sistema ambiental físico e condicionante para as atividades humanas e organizações espaciais (CHRISTOFOLETTI, 2011). 208

209 Os processos geomorfológicos envolvem os agentes físicos e químicos que modificam as formas do relevo terrestre. Um fator geomórfico pode ser definido como qualquer meio natural capaz de transformar ou transportar um determinado elemento da superfície. A água corrente, a ação do gelo, vento, ondas e marés são consideradas grandes agentes geomorfológicos. A combinação desses agentes resulta em diferentes processos que atuam na modificação do modelado terrestre. As formas de relevo representam a expressão espacial de uma superfície, compondo as diferentes configurações da paisagem morfológica. É o seu aspecto visível, a sua configuração que caracteriza o modelado topográfico de uma área (CHRISTOFOLETTI, 2011). A geomorfologia deve ser entendida como um importante elemento do planejamento ambiental, devido suas características que estão interligadas aos múltiplos aspectos da realidade ambiental, que deve considerar não só elementos de ordem física, mas também socioeconômica e cultural. A Geomorfologia Ambiental A Geomorfologia Ambiental é o ramo da ciência que dá suporte teórico e conceitual para o levantamento de questões relacionadas ao uso dos recursos naturais análise das propriedades do terreno, como também aponta medidas a serem tomadas para amenizar a ação impactante das ações humanas sobre o ambiente. Esse ramo da ciência do relevo procura abordar as temáticas que se relacionam às questões ambientais e ao planejamento no âmbito urbano e rural, destacando diversas aplicações do conhecimento geomorfológico em várias atividades socioeconômicas, como turismo, recursos minerais, recursos hídricos, em estudos ambientais, erosão de solos, diagnóstico de áreas degradadas e sua recuperação e tantos outros. Guerra e Marçal (2009) informam: Geomorfologia ambiental tem como tema integrar as questões sociais às análises da natureza e deve incorporar, em suas observações e análises, as relações políticas e econômicas e sociais que são fundamentais na determinação dos processos e nas possíveis mudanças que acontecem e podem acontecer no ambiente. (GUERRA e MARÇAL, 2009). E ainda segundo Guerra e Marçal (2006, p.23) procuraram conceituar e entender a geomorfologia ambiental levando em conta aspectos relacionados á exploração de recursos naturais, mudanças físicas nos ecossistemas terrestres e aquáticos, quando da intervenção humana, diagnósticos dos danos ambientais pela ação do homem, bem como prognósticos do ambiente. Diante disto, a conservação dos recursos naturais e o conhecimento geomorfológico utilizado para esses fins, 209

210 bem como para análises de áreas em erosão, são temas que dão consistências, coesão e tornam significativa a Geomorfologia Ambiental. Neste sentido, a Geomorfologia Ambiental procura entender a superfície terrestre, levando em conta uma abordagem integradora, onde o ambiente (natural e transformado pelo homem) seja o ponto de partida, bem como o objeto esse ramo do conhecimento. A Antropogeomorfologia O homem é um agente geomorfológico (Cooke e Doornkamp, 1977 e 1990; Goudie (Hooke, 1988). O crescimento da populacional e a expansão urbana, entretanto, têm causado problemas ambientais porque as políticas urbanas, em geral, não contemplam a conservação ambiental (Guerra e Marçal, 2006). A Antropogeomorfologia surge como uma especialidade da Geomorfologia que tem como objetivo analisar os impactos nos solos e as alterações no relevo provocadas pela ação humana (GOUDIE, 1993 apud SANTOS FILHO, 2007). Expressões como Geomorfologia Antropogenética, Geomorfologia Antrópica (Marques, 2007), Morfogênese Antrópica, Morfologia Antropogênica, dentre outras, também são utilizadas para fazer referência à ação humana sobre as formas de relevo. Essa especialidade é o estudo do ambiente que resulta da presença e da interação antrópica (Rodrigues, 2005) no meio natural ou alterado. A Antropogeomorfologia assume relevância no século XX (Souza, 2007) pela magnitude de escala e fenômeno urbano e em função de episódios urbanos nas cidades, tais como deslizamentos de encostas, movimento de massa e outros, resultante das alterações dos processos, materiais e formas da natureza, pela construção, adensamento populacional, ampliação da área urbana, crescimento urbano desordenado e ocupações em áreas irregulares. A seguir, uma tabela com os principais processos antropogeomorfológicos que são discutidos na bibliografia. Nela, são apresentados de forma a interligar os processos diretos aos indiretos. Tabela 01: Principais Processos Antropogeomorfológicos Processos Antrópicos Diretos Processos Antrópicos Indiretos Construção: revolvimento do solo, moldagem, aragem, terraciamento; Escavação: cortes em encostas, mineração, explosão de material coerente ou não coerente, abertura de crateras; Interferência Hidrológica: inundação, represamento, construção de canal, dragagem, modificação do canal, drenagem, proteção costeira. Aceleração da Erosão e Sedimentação: retirada de obertura vegetal, atividade agrícola, obras de engenharia, especialmente construção de estradas e urbanização, modificações acidentais no regime hidrológico; Subsidência: colapso relativo ao estabelecimento de atividades de mineração, bombeamento de água subterrânea e derretimento de áreas de permafrost; Colapso de Encosta: deslizamento, fluxo e rastejamento acelerado causado pela carga de material; 210

211 Geração de Tremores: carga derivada de reservatório, lubrificação ao longo de planos de blocos. Fonte: Adaptado de Goudie (1993). Na apresentação dos principais processos antropogeomorfológicos, mostrou-se os diretos e indiretos, ambas são ações mecânicas direcionadas às determinadas atividades econômicas. Sendo que os diretos são ações planejadas e controladas. Já as indiretas, são as ações que resultaram, sem o devido monitoramento, em impacto negativo. Neste contexto, relaciono alguns dos campos de atuação dessa área da geomorfologia. Efeitos como as áreas degradadas e os processos erosivos que podem ser definidas como a perda de solo quantitativamente ou qualitativamente, através de vários processos de erosão, tais como a laminar, que ocorre quando o escoamento de água leva a superfície do terreno, de forma homogênea, transportando as partículas em suspensão, sem formar canais preferenciais. E a linear, que se caracteriza quando o fluxo de água arrastando partículas de solo concentra-se em vias preferenciais e aprofunda sulcos, dando origem a Ravinas e Voçorocas. Ambos são resultados do escoamento superficial, e este corresponde ao segmento do ciclo hidrológico relacionado ao deslocamento das águas sobre a superfície do solo e ou terreno, e que também é resultado da erosão hídrica, (PRUSKI, 2004). E tendo como fator potencializador a ação do ser humano, o antrópico, também denominada de erosão acelerada. E que justifica a atuação da geomorfologia ambiental e especialmente da antropogeomorlogia. E ainda possuído outros processos, como: salinização, diminuição dos nutrientes, deterioração da estrutura do solo e poluição. A perda da produtividade pode ser parcial ou total. Os danos causados pela degradação dos solos são primeiramente analisados em relação aos aspectos físicos do ambiente, como solo, relevo e clima. Outro aspecto muito importante no processo de degradação é a ação antrópica. A reflexão da antropogeomorfologia aproxima o fenômeno de construção da cidade aos estudos da geomorfologia e inaugura um campo de investigação sobre a interface entre o ambiente construído e o natural, em uma antropogeomorfologia urbana. E neste campo de investigação, que tem como ponto de partida, a interferência do homem do meio, traça-se o debate acerca do conceito e do concreto a respeito da erosão que é um dos principais processos de modificação da paisagem, podendo ser intensificada pela ação antrópica; essa interferência pode ser percebida de forma direta em áreas urbanas e rurais. Nos centros urbanos, onde a transformação da paisagem apresenta-se de forma desordenada, sem que haja um planejamento adequado, os problemas ambientais são eminentes, como erosão, assoreamento, poluição e contaminação dos recursos hídricos entre outros que afetam a qualidade de vida da população (GUERRA, 2010). Os processos erosivos, que estão inseridos nas áreas degradadas, encontram-se 211

212 diretamente relacionados ao desequilíbrio da paisagem, que pode ter origem natural, antrópica ou conjugada. METODOLOGIA Este trabalho foi realizado com base na pesquisa bibliográfica disponível, configurando-se em um estudo teórico e conceitual do assunto, no qual se buscou conhecer vertentes da geomorfologia. Buscou-se, então, apresentar as bases conceituais relacionadas ao tema e também uma caracterização na área de estudo com a finalidade de situá-la no contexto da pesquisa. Foi realizada pesquisa de campo para observação do local onde foram encontrados as feições erosivas, com registro fotográfico e análise de imagem adaptada do google earth. Na elaboração desta pesquisa científica utilizou-se, inicialmente o levantamento bibliográfico de teses, dissertações, livros, artigos, relacionados ao tema discutido neste artigo, com o objetivo de buscar fundamentação teórica para a sustentação e elaboração mais concisa para construção deste artigo. Também foram realizados registros fotográficos da área em estudo a fim de promover uma melhor visualização das condições reais da implantação da área foco do tema. RESULTADOS E DISCUSSÃO O município de Timon está inserido na Mesorregião Leste Maranhense, dentro da Microrregião abrange uma área de 1.743,2 km², com uma população de aproximadamente habitantes e densidade demográfica de 89,18 habitantes / km² (IBGE, CENSO 2010). E com população estimada de 166,295 mil habitantes (IBGE, 2016). Limita-se ao Norte com o município de Caxias; ao Sul com o município de Matões; a Leste com o estado do Piauí, com os municípios de Teresina e Nazária e a Oeste com os municípios de Caxias e Matões (IBGE, 2016). A figura 1 identifica a localização de Timon. 212

213 Fonte: base de dados IBGE, Software QGIS. MARQUES, A base geológica do município de Timon se assemelha a de Teresina - PI, sendo composta pela formação Pedra de Fogo (datada do Período Permiano). A Formação Pedra de Fogo é tipicamente constituída por uma alternância de silexitos, arenitos e siltitos, que afloram com frequência nos topos dos baixos planaltos e nas encostas mais escarpadas do relevo local. Na área de influência do município de Timon as rochas sedimentares apresentam relevo plano a suave ondulado, elevado grau de homogeneidade, com continuidade horizontal e vertical consistente, ausência de deformações compressivas, falhas e fraturas distribuídas de modo pouco evidente ou de baixa densidade, representando corpos com alta estabilidade natural, sem identificação e registros significantes de fatores naturais promotores de movimentos de dispersão de massa de corpos rochosos, exceto algumas rampas do relevo. A área de estudo encontra-se em uma área urbana, entre bairros Pedro Patrício e São Marcos e Parque Aliança, e se encontram em terreno em claro processo erosivo, e com movimentação de massa, podendo causar mais danos ao entorno, há residências nas proximidades. Um terreno em risco e com erosões significativas no solo, com tipologia de feições em processo de erosão, em sulcos, ravinas e voçoroca. A área afetada faz parte de uma macro área de terreno de solo exposto, com área consolidada e com construções residenciais que ficam no entorno da principal feição erosiva. A erosão é um processo normal no desenvolvimento da paisagem, sendo responsável pela remoção do material de superfície por meio do vento, do gelo ou da água. Sob tais condições, a erosão é considerada um processo natural. No entanto, a erosão acelerada dos solos, isto é, aquela que ocorre em intensidade superior à erosão normal é, usualmente, consequência dos resultados das atividades 213

214 humanas sob determinadas condições de clima, vegetação, solo e relevo. E dessa forma, a área de estudo foi identificado como sendo em processo de erosão acelerada, portanto, causado pelo homem. A área fica localizada na região sudoeste da cidade de Timon, entre os bairros já citados anteriormente. No local, erosão hídrica e o escoamento superficial também foram os fatores de maior importância para a erosão no local, sendo que sua intensidade, sua duração e a sua frequência são as propriedades mais importantes para o processo erosivo. A erosão acelerada na área é um sério impacto causado pela ação humana sobre o ambiente. Daí a necessidade de estudos e investimentos nessa área. Logo em diante demostrarei algumas imagens, classificas em A, B, C e D, demonstrando a existência de erosões e estão expostas principalmente próximas às residências, sendo que se houver aumento, poderá sim afetar mais ainda as estruturas das habitações e das famílias que ali tem seu lugar de mordia. O local em sofre a erosão é o divisor dos bairros Pedro Patrício, São Marcos e Parque Aliança. As imagens seguir, figura 2, nos dá resultados que se tem que as erosões do tipo de voçorocas, ocorrem por uma combinação de fatores naturais e antrópicos, considerando-se ainda que as causas naturais foram potencializadas pela ação humana e consequentemente pela sua ocupação urbana. Figura 2: imagens da área de estudo. Bairros Pedro Patrício e São Marcos. Fonte: MARQUES, 2017 Com indução de processos erosivos, movimentos de massa, assoreamentos, cortes, aterros, desmonte de morros etc., bem como elucidar os efeitos destes processos sobre as residências no 214

215 entorno da área em processo erosivo. As voçorocas podem ser originadas pelo aprofundamento e alargamento de ravinas, ou por erosão causada pelo escoamento superficial. O processo de formação das voçorocas está associado a paisagens de onde foi retirada a sua cobertura vegetal. Nestas paisagens, a água de escoamento superficial ao percolar linearmente no solo, e atingir o lençol freático, compromete a estabilidade da área e gera a formação de voçorocas. As voçorocas podem são o estágio mais avançado de erosão acelerada correspondendo à passagem gradual do processo de ravinamento, até atingir o lençol freático, com o aparecimento de surgências d água. E ainda, podendo surgir movimentos de massa. Caso este que ocorreu na área de estudo, no município de Timon que faz parte da formação denominada superfície maranhense com formação de morros testemunhos que corresponde a uma área aplainada, dominada, em parte, por testemunhos tabulares de superfície. Pode-se caracterizar que podem ser suscetíveis a erosão, e ainda de forma acelerada pela ação humana, a área foi definida como uso pelo fato de sua origem remeter a ação antrópica. A seguir, uma imagem adaptada do Google Earth Pro que demostra a área objetivo de análise e nela há inserido um perfil topográfico de sentido oeste-leste, da rua 21 à rua 18 dos bairros Pedro Patrício que se situa acima da rua 19, bairro São Marcos que fica abaixo da rua 18 e Parque Aliança, localizado ao sul do local estudado. Possuindo uma declividade variável entre 115m à 91m, comparada em nível do mar. Em seguida a figura 3, dá demonstra a área foco do estudo. Figura 3: Imagem orbital do Google Earth Pro Localizando área de estudo Fonte: MARQUES, Adaptado do Google Earth Pro. No município de Timon, encontram-se vários trechos em que se identificam fenômenos caracterizados como áreas degradadas logo sendo áreas ou lugares que passam por erosão em larga 215

216 escala, destacando-se os sulcos e as voçorocas que ficam próximas a residências. Ao longo da área de estudo foram identificados processos erosivos em alto estágio de evolução, que vem a ser um agravante, devido ao elevado índice de urbanização da bacia, tendo também características físicas e socioambientais propícias à ocorrência desses processos. Os solos identificados, com base no atual Sistema Brasileiro de Classificação de Solos (Embrapa, 2006). As tipologias do solo são: latossolos amarelo, plintossolos, argissolos vermelho amarelo e neossolos flúvicos, com predomínio dos plintossolos e latossolos amarelo. E estes dois últimos são suscetíveis a efeitos da erosão, por serem solos pobres, profundos com percolação rápida da água e forte acidez. E com aspectos geomorfológicos apresentando formas tabulares e subtabulares, intercaladas por colinas dissecadas. O processo de ocupação da cidade de Timon-MA, situado na região oeste/sudoeste da cidade, com características de ausência de planejamento urbano e drenagens de águas pluviais e de esgotamento. Com uso indevido das terras e o consequente uso desordenado dos recursos naturais. A supressão da cobertura vegetal representada por espécies de arvores nativas da região, também podese considera um fator que acelera o efeito erosivo. O local foco deste trabalho foi utilizada para o crescimento urbano desordenado, muitas vezes causando degradação ambiental das terras de forma a não ter o cuidado a conservação, causando assim efeitos de erosão no local estudado. Mediante toda a explanação conceitual da geomorfologia ambiental e a Antropogeomorfologia em relação à erosão, espacialmente localizadas na cidade de Timon (MA), o foco aqui foi realmente demostra que se pode utilizar o conhecimento geomorfológico para analisar e ou diagnosticar esses casos em várias escalas, territórios e nos diversos fatores que possam causar dano à superfície terrestre, causando erosões significativas. CONCLUSÃO Mediante toda a explanação conceitual da geomorfologia ambiental e a Antropogeomorfologia em relação à erosão, espacialmente localizadas na cidade de Timon (MA), o foco aqui foi realmente demostra que se pode utilizar o conhecimento geomorfológico para analisar e ou diagnosticar esses casos em várias escalas, territórios e nos diversos fatores que possam causar dano à superfície terrestre, causando erosões significativas. O processo de ocupação da cidade de Timon-MA, situado na região oeste/sudoeste da cidade, com características de ausência de planejamento urbano e drenagens de águas pluviais e de esgotamento. Por tanto, a Geomorfologia Ambiental e a Antropogeomorfologia podem ser de fundamental importância no auxilia de diagnósticos de espaços degradados e seu prognóstico, para uma possível recuperação ambiental, tomando como exemplo o caso na cidade de Timon-MA, que mostrou locais que passam por este fato de degradação da superfície. 216

217 Dessa forma o conceito de geomorfologia ambiental e da Antropogeomorfologia procuram entender a superfície terrestre, em consideração uma abordagem integradora, onde o ambiente, tanto natural como o transformado pelo homem, seja o ponto inicial, bem como o objeto desse ramo do conhecimento. Assim, como outras ciências, este conhecimento da geomorfologia deva ser utilizado para o diagnóstico e prognóstico do meio ambiente. REFERÊNCIAS BRASIL. Ministério de Minas e Energia - Secretaria de Geologia, Mineração e Transformação Mineral. Serviço Geológico do Brasil - CPRM. Relatório. Ação Emergencial para Delimitação de Áreas em Alto e Muito Alto Risco a Enchentes e Movimentos de Massa em Timon-Maranhão. Março de BRASIL. Instituto de Geografia e Estatística - IBGE. 2016/2017. CHRISTOFOLETTI, Antônio. Geomorfologia. 2ª ed - São Paulo. Blucher, ª reimpressão CPRM, Projeto cadastro de fontes de abastecimento por água subterrânea estado do piauí. Diagnóstico do município de Timon. Disponível em: Acessado em 02 de setembro de EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA EMBRAPA. Sistema Brasileiro de Classificação de Solos. 2. ed. Rio de Janeiro, Embrapa Solos / Centro Nacional de Pesquisa de Solos, p. FLORERENZANO, Teresa G. Geomorfologia: conceitos e tecnologias atuais. São Paulo. Oficina de Texto GUERRA, Antonio José Teixeira. (Org.). Geomoforfologia urbana. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, ; MARÇAL, Mônica dos Santos. Geomorfologia Ambiental. Rio de Janeiro, Bertrand Brasil. 2009, 190p..; SILVA, A. S. da.; BOTELHO, R. G. M. (Org.). Erosaõ e conservação dos solos: conceitos, temas e aplicações. 5 ed. Rio de Janeiro. Bertrand Brasil, GOUDIE, Andrew S. The Human Impacts on the Natural Environment. 4 ed. Oxford: Blackwell MARQUES, Jorge Soares. Ciência Geomorfológica. In: GUERRA, A. J. T.; CUNHA, S. B. Org. Geomorfologia: uma atualização de bases e conceitos. 7ª Ed. Rio de Janeiro, Bertrand Brasil, 2007, MARANHÃO. Companhia Maranhense de Pesquisa Mineral. Relatório de Compilação e Análise da Bibliografia Geológica e dos Recursos Minerais do Maranhão. São Luís: CODEMINAS, Vol

218 MENDONÇA, Francisco. Geografia Física: Ciência Humana? São Paulo: Contexto. 72 p PRUSKI, Fernando Falco. Org. Escoamento superficial. 2. Ed. - Viçosa: UFV, SANTOS FILHO, Raphael David dos. Antropogeomorfologia do povoamento em Petrópolis (RJ): análise ambiental urbana. Rio de Janeiro: UFRJ / PPGG. Tese (doutorado) - Universidade Federal do Rio de Janeiro, Instituto de Geografia, Programa de Pós-graduação em Geografia, TRICART, J. Ecodinâmica. Rio de Janeiro: IBGE, SUPREN, VITTE, A. C. e A. J. T. GUERRA. (Org.). Reflexões sobre a geografia física no Brasil. 5 ed. Rio de Janeiro. Bertrand Brasil,

219 SOLOS DEGRADADOS POR EROSÃO: O CASO DE DUAS VOÇOROCAS NA ÁREA URBANA DE SÃO LUÍS, ILHA DO MARANHÃO Paula Ramos de Sousa Universidade Estadual do Maranhão Estudante do Programa de Pós-Graduação em Geografia, Natureza e Dinâmica do Espaço paula.ramos26@yahoo.com.br Quésia Duarte da Silva Universidade Estadual do Maranhão Docente do Programa de Pós-Graduação em Geografia, Natureza e Dinâmica do Espaço quesiaduartesilva@hotmail.com José Fernando Rodrigues Bezerra Universidade Estadual do Maranhão Docente do Programa de Pós-Graduação em Geografia, Natureza e Dinâmica do Espaço fernangeo@yahoo.com.br Eixo temático: Geomorfologia Urbana Resumo: O tema ora apresentado é relevante para os estudos com abordagens ambientais urbanas principalmente no que se refere ao uso e ocupação do solo e os impactos decorrentes destas ações sem planejamento adequado. Neste sentido, este trabalho visa apresentar os resultados da análise textural de duas áreas degradadas por erosão denominadas Voçoroca Sítio Santa Eulália e Voçoroca Castelão e suas implicações. A metodologia consistiu em realização de trabalhos de campo, consultas em obras especializadas e análises de laboratório. A análise granulométrica foi adaptada do Manual de Métodos de Análise de Solo da Embrapa (2011). Na bacia do rio Anil município de São Luís nota-se a presença de atributos físicos que aceleram a degradação destas áreas. Conclui-se que além das práticas inadequadas, os estudos em laboratório confirmam o baixo grau de resistência dos solos na área objeto de investigação, evidenciando a necessidade de repensar o uso e ocupação de ambientes urbanos. Palavras-chave: Erosão. Solos. Uso. Impactos. Key words: The theme presented here is relevant to the studies with urban environmental approaches mainly regarding land use and occupation and the impacts resulting from these actions without adequate planning. In this sense, this paper aims to present the results of the textural analysis of two areas degraded by erosion called "Voçoroca Sítio Santa Eulália" and "Voçoroca Castelão" and its implications. The methodology consisted in the accomplishment of field works, consultations in specialized works and laboratory analyzes. The particle size analysis was adapted from the Manual of Methods of Soil Analysis of Embrapa (2011). In the Anil river basin municipality of São Luís it is 219

220 possible to notice the presence of physical attributes that accelerate the degradation of these areas. It is concluded that in addition to inadequate practices, laboratory studies confirm the low degree of soil resistance in the area under investigation, evidencing the need to rethink the use and occupation of urban environments. Abstract: Erosion. Soil. Use. Impacts. INTRODUÇÃO A bacia hidrográfica do rio Anil no município de São Luís - MA é amplamente urbanizada e apresenta limitações físicas e atributos que contribuem para a degradação ambiental desta área. Está localizada no quadrante noroeste da Ilha do Maranhão e abrange os municípios de São Luís, Paço do Lumiar, São José de Ribamar e Raposa, sendo que o rio Anil possui aproximadamente 13,8 km de extensão e está totalmente inserido nos limites da capital São Luís (Figura 1). Figura 1 Mapa de Localização da bacia hidrográfica do Anil, Ilha do Maranhão Fonte: Própria pesquisa, De acordo com Moraes, et al., (2015) as condições ambientais da Ilha do Maranhão, são definidas por formações geológicas sedimentares, clima quente e úmido, ventos fortes e relevo suave a suave ondulado, e que os solos predominantes (Latossolos Amarelos) são ácidos, pobres em matéria orgânica, de Erodibilidade elevada. No caso da área de estudo em questão é notável também a presença de Argissolos Vermelho-Amarelos, que possuem baixa atividade de argila, fortemente intemperizados e ácidos em função de serem originados dos sedimentos derivados de arenitos, siltitos e argilitos das formações Barreiras e Itapecuru. 220

221 Os solos na Ilha do Maranhão vêm sendo degradados ou mesmo completamente destruídos também em virtude da grande expansão urbana, aliadas as atividades associadas a este processo, tais como a construção de moradias e ruas, mineração para suprimento das demandas da construção civil e desmatamentos diversos (MORAES, et al., 2015). Neste sentido, o presente trabalho visa apresentar os resultados da análise textural de duas áreas degradadas por erosão denominadas Voçoroca Sítio Santa Eulália e Voçoroca Castelão e suas implicações no contexto do uso e ocupação dos solos em ambientes urbanos. DESENVOLVIMENTO Fundamentação Teórica O tema ora apresentado é de suma relevância para os estudos com abordagens ambientais urbanas principalmente no que se refere ao uso e ocupação do solo e os impactos decorrentes destas ações sem planejamento adequado. Neste contexto e discorrendo sobre a erosão no Brasil, Lepsch (2011) afirma que a erosão hídrica ou causada pela água é a mais importante, a mesma se processa em duas fases distintas: desagregação e transporte. O primeiro passo para a erosão é o impacto direto das gotas de chuva, que provoca forte desagregação das partículas do solo, impacto este que se dá somente quando sua superfície está desprovida de vegetação. Um solo em harmonia com seu ambiente é considerado sadio, ao passo que um solo em desarmonia está em degradação, e quanto maior e mais rápida for essa degradação, mais negativamente influenciará todo o ambiente em que se situa. Sempre que um solo estiver desprovido de sua vegetação natural, ele estará exposto a uma série de fatores que tendem a depauperá-lo. A intensidade e a velocidade com que esse trágico processo se processa variam de acordo com os atributos internos do solo, o clima, o relevo e as formas das ações humanas nele praticadas (LEPSCH, 2011, p. 410). O processo erosivo causado pela água das chuvas segundo Guerra (2014), em especial nas áreas com clima tropical, onde os totais pluviométricos são bem elevados, concentram-se em certas estações do ano, o que agrava ainda mais a erosão. O processo é acelerado à medida que mais terras são desmatadas, uma vez que os solos ficam desprotegidos da cobertura vegetal e, consequentemente, a chuvas incidem diretamente sobre a superfície do terreno. Nesse sentido, Cunha (1997) apud Vitte e Mello (2007) ressalta que a erosão dos solos é considerada normal, quando ocorre um equilíbrio entre os processos de formação do solo e seu desgaste natural. Quando o processo erosivo é mais intenso, sendo mais veloz que a formação do 221

222 solo, ocorre a erosão acelerada, chamada de erosão antrópica caso tenha sido provocada pela ação humana. Tal situação depende de alguns aspectos como as condições de solo, litologia e relevo que proporcionam o desencadeamento da substituição da vegetação natural por outro tipo de cobertura vegetal, o qual não proporciona proteção eficiente contra a erosão, dificultando o estabelecimento do processo pedogenético que recomporia a camada erodida. Além dos aspectos relacionados anteriormente, Carvalho (1994) afirma que os agentes erosivos se constituem em importante meio para o estudo da erosão por serem elementos do meio físico que causam, ou afetam diretamente a erosão, podendo ser agentes ativos ou passivos. Dos agentes ativos podem-se citar a água, temperatura, insolação, vento, gelo, neve, a ação dos microoganismos e a ação humana. Os agentes passivos são a topografia, a gravidade, o tipo de solo, a cobertura vegetal, as formações superficiais e as práticas gerais realizadas pelo homem (ações antrópicas). Com relação às características que diferenciam um horizonte do solo, Lepsch (2011) afirma que uma das primeiras é o tamanho das partículas que o compõem. Segundo este mesmo autor, partículas de origem e tamanho diversos em geral convivem intimamente misturadas e a variação de tamanho entre essas pode ser muito grande, por isso para facilitar o estudo de uma descrição padronizada, é conveniente que sejam subdivididas em classes chamadas separados do solo. O tamanho das partículas exerce influência na capacidade de infiltração e de absorção da água da chuva, no entanto, apesar de solos de textura arenosa serem mais porosos, possuem baixa proporção de partículas argilosas, o que facilita a remoção destes solos mesmo durante a ocorrência de pequenas enxurradas (SALOMÃO, 2014). Para determinar a porcentagem, em peso, que cada separado, de tamanho preestabelecido, possui em relação à massa total da amostra, é necessário efetuar, em laboratório a análise granulométrica. A relação entre a análise granulométrica e a classe textural do solo é normalmente indicada por um triângulo de classe textural. O tamanho das partículas tem influência direta nas propriedades do solo. Normalmente, as partículas menores são mais ativas. Assim, a proporção dos componentes de tamanho menor (argila e silte) e maior (areia e cascalho), com seu arranjo em agregados irá determinar algumas características bastante importantes no solo, como tamanho e quantidade de poros, permeabilidade à água, grau de plasticidade, pegajosidade, facilidade de trabalhos com máquinas e resistência à erosão (LEPSCH, 2010, p. 48). No caso de solos desprovidos de vegetação original, grande parte destes pode ser removido durante um evento chuvoso, quando a água escorre, formando a enxurrada. A facilidade com que uma partícula em suspensão é transportada depende do seu tamanho: a argila, o silte e a matéria orgânica são as mais facilmente carregadas pelas águas (LEPSCH, 2011). 222

223 O autor mencionado reconhece ainda três tipos principais de erosão hídrica: laminar, em sulcos e em voçorocas. Erosão laminar é a remoção uniforme de uma delgada camada superior do terreno como um todo. Esse tipo de desgaste é constatado em certos terrenos desprotegidos, mesmo possuindo pequenas inclinações. Os sulcos resultam da concentração da enxurrada em determinados locais onde existe uma irregularidade na superfície do solo. O escoamento da água superficial, bem como da água subterrânea, que também pode arrastar os horizontes subsuperficiais, poderá originar as voçorocas que quando disseminados nas encostas podem atingir profundas camadas de solo. Sobre estes aspectos, Bezerra; Guerra; Fullen (2016) discorrem sobre a erosão como um dos principais processos de modificação da paisagem que pode ser intensificada pela ação antrópica. Afirmam ainda que nos centos urbanos como no caso da Ilha do Maranhão onde a transformação da paisagem ocorre de forma desordenada, sem planejamento adequado, os problemas ambientais são eminentes. Este processo demonstra-se cada vez mais intenso, tendo como causa principal, o desmatamento frequente em áreas de acelerado crescimento urbano. São fenômenos que se registram com maior intensidade nas áreas de expansão demográfica recente, com áreas de risco ambiental potencial (BEZERRA; GUERRA; FULLEN, 2016). Estes autores enfatizam ainda que a granulometria dos solos constitui importante parâmetro nos estudos de Erodibilidade (suscetibilidade do solo à erosão hídrica), considerando que os solos na Ilha do Maranhão são altamente friáveis e inconsolidados, com alta fragilidade quando a cobertura vegetal é retirada, ficando expostos aos agentes externos, principalmente no período chuvoso (BEZERRA; GUERRA; FULLEN, 2016). Para Morgan (2005), a Erodibilidade define a resistência do solo ao desprendimento e ao transporte, é também um importante fator que varia de acordo com a textura do solo, a estabilidade dos agregados, a resistência ao cisalhamento, capacidade de infiltração, e seu conteúdo orgânico e químico. Segundo Moraes et al., (2015) as modificações geradas pela ocupação desordenada do espaço urbano no município de São Luís, por exemplo, são responsáveis por importantes alterações no ciclo hidrológico, tendo em vista a aceleração do processo de degradação ambiental dos rios, graças ao crescimento populacional sem planejamento, aumentando a impermeabilização do solo, através das edificações e da pavimentação das vias de circulação. Na ilha do Maranhão, verificou-se um crescimento dos impactos ambientais negativos devido ao uso e ocupação desordenados do solo através das ocupações irregulares, processos erosivos devido à supressão da cobertura vegetal, assoreamento de rios, interferindo na sua dinâmica ambiental (MORAES, et al., 2015, p. 25). 223

224 Com relação às atividades humanas e a fragmentação ambiental na Ilha do Maranhão Araújo, et al., (2015, p. 252) revelam que: Neste contexto de expansão urbana e o consequente aumento do número de edificações e vias de tráfego, pode-se observar um espaço cada vez mais fragmentado do ponto de vista ambiental. A própria paisagem já alerta a fragmentação, a cada vez que, por exemplo, uma via é feita dentro de um determinado espaço e até mesmo dentro de uma reserva florestal ou de um ambiente pouco artificializado (por exemplo, a Via Expressa), onde fica perceptível que a nova construção modifica a paisagem original e corta parte da dinâmica natural da vida que antes existia no local. Os autores corroboram que na zona urbana, a principal forma de alteração dos solos é a impermeabilização que ocorre em decorrência do calçamento de vias públicas, dificultando o escoamento superficial, que contribuem para assoreamento dos corpos hídricos desencadeando uma série de processos erosivos além de graves problemas de saúde pública. Botelho (2011) defende a ideia da adoção de novos paradigmas afirmando que a adição de novos elementos pelo homem nas áreas urbanas como, edificações, pavimentação, canalização, retificação de rios, reduzem de forma drástica a infiltração e favorecem o escoamento das águas. Para esta autora, a adoção de novos caminhos, o desenvolvimento de novas formas de ocupação, novas técnicas, novas leis, facilitaria o estabelecimento de novas relações de uso do espaço urbano. Além dos aspectos citados Guerra (2014), afirma que os estudos realizados em laboratório no que se refere à compreensão da formação e evolução dos processos erosivos são fundamentais para entender como este se desenvolve. Além disso, o entendimento do início do processo contribui na adoção de medidas no sentido de evitar o seu estabelecimento e os ensaios de laboratório tornam essa identificação mais precisa. Metodologia Foram selecionadas duas áreas com ocorrência de erosão, na bacia hidrográfica do Anil, Ilha do Maranhão. Coletou-se um total de 25 amostras deformadas de solo para a determinação da distribuição granulométrica dos materiais granulares: areia fina, areia grossa, silte e argila. Os trabalhos de campo foram baseados nas Técnicas de Pedologia de Oliveira e Venturi (2011). As técnicas de laboratório foram adaptadas de acordo com o Manual de Análise de Solo da Embrapa (2011). As análises foram realizadas no Laboratório de Geociências do Curso de Geografia, vinculado ao Departamento de História e Geografia (DHG) da Universidade Estadual do Maranhão (UEMA), Campus Paulo VI. 224

225 Através do método da pipeta foi realizada a análise textural que segundo a Embrapa (2011), baseia-se na velocidade de queda das partículas que compõem o solo (Figura 2). Fixou-se o tempo para o deslocamento vertical na suspensão do solo com água, após a adição de um dispersante químico (soda ou calgon). Pipetou-se um volume da suspensão, para determinação da argila que seca em estufa é pesada. As frações grosseiras (areia fina e grossa) são separadas por tamisação, secas em estufa e pesadas para obtenção dos respectivos percentuais. Figura 2 - Análise granulométrica adaptada do Manual de Métodos de Análise de Solo elaborado pela Embrapa (2011) Elaboração: da autora. Fotos: Própria pesquisa, RESULTADOS E DISCUSSÃO Quanto aos resultados da análise textural da área objeto de estudo, na Tabela 1 verificou-se o predomínio de textura arenosa com variações entre 68,5 e 96,85% (areia total), 0,93 e 24,45% (Silte), 2,01 e 7,05% (argila). Na Tabela 2 tem-se o predomínio da textura de solo franco arenoso e uma variação dos resultados entre 44,11 e 82,12% (areia total), 4,99 e 44,73% (silte), 11,16 e 19,9 (silte). Em termos gerais, os valores de areia total, comportaram-se de modo similar nas duas voçorocas estudadas chegando a níveis bastante consideráveis. Nos locais identificados com ocorrência de processos erosivos na bacia do rio Anil município de São Luís do Maranhão, notam-se características e presença de atributos físicos que aceleram a degradação destas áreas. Através da análise granulométrica foi possível verificar a predominância de texturas arenosa e franco arenoso. Considerando o total de amostras observa-se um percentual elevado (acima de 90%) 225

226 de algumas amostras compostas por frações de areia total (areia média, areia fina e areia grossa). Esses dados demonstram que além das atividades de uso e ocupação do solo nestas áreas o elevado percentual de sedimentos arenosos tem contribuído para intensificação de áreas degradadas por erosão. Tabela 1: Distribuição Granulométrica da Voçoroca Sítio Santa Eulália Horizonte Composição Granulométrica da Terra Fina Textura Prof. Areia Total Silte Argila cm... % ,50 4,1 3,4 areia 20 92,75 2,1 5,15 areia 30 93,55 0,93 5,52 areia 40 95,25 1,64 3,11 areia ,1 4,9 areia 60 91,95 4,13 3,92 areia 70 91,7 3,81 4,49 areia 80 95,3 1,35 3,35 areia 90 96,85 1,14 2,01 areia ,05 3,97 3,98 areia ,96 4,04 areia ,5 24,45 7,05 franco arenosa Elaboração: Própria pesquisa, Tabela 2: Distribuição Granulométrica da Voçoroca Castelão Horizonte Prof. Areia Total Silte Argila cm... % ,8 11,17 16,03 franco arenoso ,99 15,01 franco arenoso 30 77,65 8,04 14,31 franco arenoso 40 51,61 34,79 13,6 franco arenoso 50 55,94 32,03 12,03 franco arenoso 60 44,11 44,73 11,16 franco arenoso 70 51,19 36,14 12,67 franco arenoso 80 64,73 22,03 13,24 franco arenoso 90 72, ,62 franco arenoso ,45 20,86 14,69 franco arenoso ,08 6,02 19,9 franco arenoso ,39 12,54 16,07 franco arenoso ,12 5,62 12,26 franco arenoso Elaboração: Própria pesquisa, Composição Granulométrica da Terra Fina Textura 226

227 CONCLUSÃO A expansão urbana desordenada tem provocado o aparecimento e aceleração dos processos erosivos que causam risco às comunidades. Algumas práticas realizadas em meio urbano, desencadeiam processos erosivos, rompimento de taludes, solapamentos, entre outros problemas. A bacia hidrográfica do Anil tem sido amplamente utilizada de forma desordenada principalmente por meio de obras de vias urbanas, aliadas a cortes de encostas, ocupações indevidas, presença de áreas de solo exposto que aceleram os problemas ambientais. Aliadas as práticas inadequadas, os estudos em laboratório confirmam o baixo grau de resistência dos solos na área objeto de investigação, evidenciando a necessidade de repensar o uso e ocupação destas áreas. A intensificação dos processos erosivos provoca grandes transtornos e prejuízos às populações urbanas e altera toda a dinâmica hidrológica. A iminência dos problemas e impactos provocados pela erosão está relacionada à ausência de uso e manejo conservacionista, baseadas na manutenção da proteção natural dos solos. Os estudos em Geomorfologia e áreas similares têm contribuído para orientar a urgência em propor medidas de controle e prevenção dos processos erosivos. REFERÊNCIAS ARAÚJO, F. da L., et al. Principais Problemas Ambientais da Ilha do Maranhão. In: FARIAS FILHO, M. S.; CELERI, M. J. (Orgs.). Geografia da Ilha do Maranhão. São Luís: EDUFMA, p BEZERRA, J. F. R.; GUERRA, A. J. T.; FULLEN, M. Granulometria por Fração a Laser dos Sedimentos Superficiais nas Áreas Degradadas por Voçorocamento na bacia do rio Bacanga. In: CASTRO, C. E. de; MASULLO, Y. A. G. Gestão Ambiental, uma diversificada ferramenta na consolidação de paradigma ecológico inovador. São Luís: EDUEMA, p BOTELHO, R. G. M. Bacias Hidrográficas Urbanas. In: GUERRA, A. J. T. (org.). Geomorfologia Urbana. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, p CARVALHO, N de O. Hidrossedimentologia Prática. Rio de Janeiro: CPRM, EMBRAPA, Centro Nacional de Pesquisa de Solos. Manual de Métodos de Análise de Solo. Rio de Janeiro: Embrapa Solos, p. GUERRA, A. J. T. O Início do Processo Erosivo. In: GUERRA, A. J. T.; SILVA, A. S.; BOTELHO, R. G. M. (Orgs.). Erosão e conservação dos solos: conceitos, temas e aplicações. 9.ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2014, p LEPSCH, I. F. Formação e conservação dos solos. 2. ed. São Paulo: Oficina de textos,

228 LEPSCH, I. F. 19 Lições de pedologia. São Paulo: Oficina de textos, MORAES, A. da S., et al. Principais Classes e Atributos dos Solos da Ilha do Maranhão. In: FARIAS FILHO, M. S.; CELERI, M. J. (Orgs.). Geografia da Ilha do Maranhão. São Luís: EDUFMA, p MORGAN, R. P. C. Soil Erosion and Conservation. 3rd edition. Blackwell Publishing, Oxford, OLIVEIRA, D. de. Técnicas de Pedologia. In: VENTURI, L. A. B. (Org.). Geografia: Práticas de campo, laboratório e sala de aula. São Paulo: Editora Sarandi, SALOMÃO, F. X. de T. Controle e prevenção dos processos erosivos. In: GUERRA, A. J. T.; SILVA, A. S.; BOTELHO, R. G. M. (Orgs.). Erosão e conservação dos solos: conceitos, temas e aplicações. 9.ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2014, p VITTE, A. C., MELLO, J. Considerações sobre a erodibilidade dos solos e a erosividade das chuvas e suas consequências na morfogênese das vertentes: um balanço bibliográfico. Climatologia e Estudos da Paisagem, Rio Claro, v. 2, n. 2, p ,

229 ANÁLISE DO CONTEXTO DE USO E OCUPAÇÃO DO SOLO DO PARQUE ESTADUAL DO MIRADOR MA, ATRAVÉS DE TÉCNICAS DE GEOPROCESSAMENTO Elison André Leal Pinheiro Instituto Maranhense de Estudos Socioeconômico e Cartográficos Pesquisador e Técnico em Geoprocessamento Graduado em Geografia na Universidade Estadual do Maranhão - UEMA andrew_lealk@hotmail.com José de Ribamar Carvalho dos Santos Instituto Maranhense de Estudos Socioeconômico e Cartográficos Pesquisador e Técnico de Estudos Ambientais Mestrado em Saúde e Ambiente pela Universidade Federal do Maranhão UFMA ribageo@yahoo.com.br Roberta Capim Rocha Universidade de Brasília - UNB Estudante de Graduação em Ciências Ambientais robertarocha123@outlook.com Geotecnologias e abordagens em Geomorfologia Resumo: O Parque Estadual do Mirador trata-se de uma unidade de conservação de proteção integral, criada em junho de 1980 através do decreto nº 7.641/80 com uma área total de ,00 mil hectares. O principal objetivo de sua criação é a proteção do Rio Alpercatas e do Rio Itapecuru, que tem suas nascentes localizadas dentro dos limites do parque. No entanto, em consonância com o contexto atual da maioria das áreas protegidas existentes, este tem sido alvo de diversos impactos ambientais, como a destruição de sua vegetação nativa, criação e expansão de áreas de pastagens, e cultivos agrícolas (principalmente monoculturas), e da expansão da ocupação humana. Perante esta problemática, o presente artigo objetiva analisar o atual cenário ambiental do parque, considerando também as diversas interações e consequências entre as esferas social e econômica, utilizando como principal ferramenta o geoprocessamento. Palavras-chave: Parque Estadual do Mirador, Geoprocessamento. Abstract: The Mirador State Park is an integral protection conservation unit, created in June 1980 through decree 7,641 / 80 with a total area of 766,781,00 thousand hectares. The main objective of its creation is the protection of the Rio Alpercatas and the Rio Itapecuru, which has its springs located 229

230 within the limits of the park. However, in line with the current context of most existing protected areas, this has been the target of a number of environmental impacts, such as destruction of native vegetation, creation and expansion of pasture areas, and agricultural crops (mainly monocultures), and of the expansion of human occupation. Given this problem, this article aims to analyze the current environmental scenario of the park, considering also the various interactions and consequences between the social and economic spheres, using geoprocessing as the main tool. Key words: Mirador State Park, Geoprocessing. INTRODUÇÃO Localizado no município de Mirador, o Parque Estadual do Mirador (PEM) é uma unidade de conservação (UC) de proteção integral, criada em junho de 1980 através do decreto nº 7.641/80 com uma área total de km (SEMA, 2017). Situado no Centro-Meridional do estado do Maranhão, este é considerado um divisor de águas de dois importantes rios genuinamente maranhenses, são eles: o Rio Alpercatas e o Rio Itapecuru que tem suas nascentes dentro dos limites do parque. O Sistema de Abastecimento de Água Italuís foi inaugurado em 1983 com solução para o problema da falta d água na capital, daí veio a possibilidade de realizar a transposição de água da bacia do rio Itapecuru para a ilha de São Luís. Atualmente abastece 24 bairros da capital São Luís o que suprir a carência de água tratada para o uso doméstico. Considerado o rio mais extenso do Estado, o rio Itapecuru corta 52 municípios do Estado do Maranhão, dentre estes, 11 cidades se encontram localizadas às suas margens. A UC em questão tem como principal objetivo proteger as nascentes dos rios que nascem em seus limites, e garantir o abastecimento de grande parte dos municípios que estão às suas margens. Tal afirmação pode ser melhor exemplificada a partir do Rio Itapecuru, que através do projeto ITALUÍS é a principal fonte de abastecimento da Região Metropolitana da Grande São Luís, fornecendo m³/s de água para mais de 1 milhão de pessoas (CAEMA, 2016; IBGE, 2016). O sistema produtor do Italuís é composto de capitação no Rio Itapecuru, adutora de água bruta, e de água tratada, estação de tratamento e unidades de estações rebaixadoras de energia elétrica e hidráulica e é responsável pelo abastecimento de 60% da capital maranhense. Perante o contexto explanado acima, este estudo objetiva analisar o atual cenário ambiental do PEM, considerando também as diversas interações e consequências entre as esferas social e econômica, utilizando como principal ferramenta o geoprocessamento, que trata-se de um mecanismo de suma importância, pois quantifica a paisagem através de análise ambiental propiciando uma representação e espacialidade dos fenômenos ocorridos na área, além de mapear a integração fisiográfica do local, proporcionando assim a possível realização de um monitoramento espacial do desenvolvimento local, desencadeando na aplicação de ações que minimizem os impactos ambientais ocorridos neste local. 230

231 No decorrer dos anos o processo de fragmentação da paisagem dentro dos limites do parque tem aumentado, tendo como fatores contributivos a ocupação desordenada que se concentra em seu no entorno, ocasionando na retirada da vegetação nativa (sendo esta última substituída por extensas áreas de plantio mecanizado) via desmatamento, extração mineral, queimadas, causando o processo de assoreamento de recursos hídricos dentre outros impactos. De acordo com Krewenka et al. (2011), estas áreas protegidas têm sido alvo de diversos impactos ambientais por meio da destruição de matas nativas, criação de áreas de pastagens, cultivos agrícolas (principalmente monoculturas) e da expansão de ocupação humana que influência diretamente na perda de habitat e, consequentemente no isolamento e diminuição da oferta de recursos alimentares. Atualmente o parque engloba em seu interior um total de 110 povoados com população total de habitantes, de acordo com os dados do setor censitário de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Tais dados demográficos enfatizam ainda mais o atual estado de fragmentação da paisagem que vem ocorrendo na área estudada, onde muitas famílias praticam o cultivo de pequenas lavouras de subsistência familiar e/ou possuem grandes lotes de fazendas com plantio de monoculturas localizadas nos limites do parque, além da prática de queimadas, desmatamento, e caça predatória que em alguns casos é praticada pela própria população residente no local. A caracterização geomorfológica da área de estudo origina-se por relevo topografia tabular e sub-tabular, resultante de processos morfogenéticos por meio de dissecação e aplainamento, a feição geomorfológica do PEM é representada por cuestas, chapadas, chapadões e morros testemunhos, sendo estes em formato tabular, pediplanos, topos aguçados, convexo e algumas áreas de erosão com ravinas (MARION et al, 2011). A classificação climática da área estudo segundo Thorntwaite (1984), corresponde a clima Sub- Úmido Seco (C 1) com 4 a 5 meses seco, sendo que as temperaturas são sempre acima de 18 C o ano todo, com precipitação de a 1.300mm anual. O comportamento médio mensal das chuvas no parque se inicia de janeiro a maio, período este que compreende ao período com maior intensidade de chuva, já o período de junho a dezembro compreende ao período mais seco, propiciando assim a ocorrência de um maior número de focos de queimadas. De acordo com Orth et al. (2003), as geotecnologias podem ser entendidas como um conjunto de técnicas e processos que visam estudar espaços terrestres com seus elementos naturais e/ou construídos, e atendem às necessidades de levantamento, organização e análise de dados localizados no espaço geográfico. 231

232 GEOPROCESSAMENTO ALIADO À GESTÃO DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO A primeira Unidade de Conservação (UC) foi legalmente criada no ano de 1872 (Parque Nacional de Yellowstone) nos Estados Unidos, posteriormente tais áreas foram criadas no Canadá, Nova Zelândia, México, África do Sul, Austrália demais países e finalmente no Brasil, com a criação do Parque Nacional do Itatiaia em No entanto, o intuito inicial dessas unidades era ofertar espaços voltados para o lazer da população humana e contemplação da natureza, em meio ao dia a dia atribulado das cidades, e com o manifesto cada vez mais constante de uma vida totalmente diferente das que apresentavam um contato continuo com ambientes naturais (SCHENINI et al 2004; FRANCO et al, 2015). Em contrapartida, perante os inúmeros impactos ambientais que se manifestam no ambiente natural, houve uma evolução na importância, valoração e gestão desses espaços. Tal progresso pode ser constatado através dos inúmeros instrumentos criados para a gestão destas áreas, como o Código Florestal de 1934 (Decreto nº 23793); o Novo Código Florestal de 1965 (Lei nº 4771); Lei de Criação das Estações Ecológicas (Lei nº 6902/ 1981); Política Nacional de Meio Ambiente (Lei nº 6938/1981); Constituição Federal de 1988; o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC- Lei nº 9985/ 2000), dentre outros. Buscando valorar e demonstrar a importância do SNUC, Pina; Ferreira (2010) destacam que as UCs previstas nesta lei facilitam o planejamento e a gestão do território, pois desencadeiam a criação e consequente manutenção de áreas capazes de conservar e/ou preservar recursos em diferentes escalas, como um ecossistema, um bioma e por conseguintes domínios cada vez maiores. Ainda segundo esse sistema, tratam-se de UCs: Espaço territorial e seus recursos ambientais, incluindo as águas jurisdicionais, com características naturais relevantes, legalmente instituído pelo Poder Público, com objetivos de conservação e limites definidos, sob regime especial de administração, ao qual se aplicam garantias adequadas de proteção (SNUC, 2000). Estas unidades estão dispostas em dois grupos, Proteção integral (que permitem o uso indireto dos recursos naturais) e Uso sustentável (que objetiva compatibilizar a conservação da natureza com o uso sustentável de recursos), somando um total de 12 categorias, são elas: Estação Ecológica, Reserva Biológica, Parque Nacional, Monumento Natural, Refúgio de Vida Silvestre, Área de Proteção Ambiental, Área de Relevante Interesse Ecológico, Floresta Nacional, Reserva Extrativista, Reserva de Fauna, Reserva de Desenvolvimento Sustentável, e Reserva Particular do Patrimônio Natural (SNUC, 2000). Mesmo com todo esse aparato legislativo voltado para sua criação, manutenção e eficácia, tais espaços infelizmente enfrentam um leque de desafios que prejudicam sua gestão e consequentemente 232

233 bons resultados, se manifestando em forma de impactos sobre os mais diversos recursos naturais. Segundo Medeiros; Young (2011) os principais desafios são: problemas fundiários, ausência de estruturas básicas e funcionários que de fato auxiliem na implementação das políticas criadas, ausência de planos de manejo e destinação insuficiente de recursos para essas áreas. Ainda conforme Backes (2012), estas áreas apesar de serem importantes em termos protecionistas, infelizmente tratam-se da transformação dos ecossistemas naturais em ilhas de conservação num oceano de degradação. Nesse contexto, é factível a necessidade de buscar novas ferramentas, exemplificada pelo Geoprocessamento que se destaca pela sua capacidade não só de armazenar, quantificar e manipular dados georreferenciados, atuando também no seu cruzamento e tratamento estatístico, possibilitando a exploração e estudo de diversos cenários, como o uso e ocupação do solo em escalas multitemporais, diagnóstico de áreas susceptíveis a erosão, e na caracterização e análise de bacias hidrográficas (FUJACO, 2010). De maneira enfática, trata-se de um conjunto de tecnologias para a coleta, análise e oferta de informações com referência geográfica (ROSA, 2005). De acordo com Rodriguez (2005), a crescente exploração e consequente diminuição dos recursos da terra tem forçado o seu levantamento periódico, nesse contexto as informações coletadas através desse tipo de ferramenta tem se mostrado uteis, eficientes e rápidas para auxiliar na discriminação de elementos da paisagem, no planejamento e regulamentação de alterações ambientais, em levantamentos de uso e ocupação do solo, mapeamento de recursos naturais entre outros usos. Conforme Rosa; Brito (1996) as geotecnologias envolvem pelo menos quatro categorias de técnicas relacionadas ao tratamento da informação espacial, são elas: técnicas para coleta de informação espacial (topografia, cartografia, sensoriamento remoto, GPS, levantamento de dados alfanuméricos); técnicas de armazenamento de informação espacial; técnicas para tratamento e análise de informação espacial; e técnicas para uso integrado de informação espacial. Tais autores além de destacarem a importância do geoprocessamento, defendem a ideia de BH como unidade de planejamento, conforme previsto na Política Nacional de Recursos Hídricos (Lei nº de 08 de janeiro de 1997), permitindo avaliar variáveis ambientais e antrópicas de forma qualitativa e quantitativa, assim como o estágio de degradação e medidas a serem tomadas a fim de recuperar tal espaço. Por se tratar de um sistema interligado, a proteção de BHs se apresenta como uma ação estratégica para a resolução de problemas relacionados à qualidade e quantidade da água, assim como no diagnóstico das atividades desenvolvidas em sua área de abrangência e os atores envolvidos em tais (MARKUS, 2003). A utilização do Geoprocessamento voltado para o estudo dessas áreas, pode ser constatado no trabalho de Markus (2003), resultando num cenário onde tais áreas são predadas principalmente pela 233

234 exploração agrícola, pecuarista, extrativista, e mineradora causando dentre inúmeros impactos a perda de mata ciliar, a manifestação de processos erosivos e a contaminação de recursos hídricos; o autor ainda ressalta os benefícios de se utilizar tal ferramenta, como baixo custo, maior acessibilidade, e alta qualidade das imagens. Destacando ainda a importância da utilização do Geoprocessamento, tem-se o estudo de Santos et al. (2014) que objetiva o estudo da influência do uso e ocupação do solo na qualidade das águas superficiais do Rio Subaé (Bahia). Todos estes estudos de fato comprovam, que num país de dimensão continental como o Brasil, perante a carência de informações adequadas para a tomada de decisões nos mais diversos meios, o geoprocessamento apresenta enorme potencial, impulsionando a disseminação do conhecimento, solucionando problemas (CAMÂRA; DAVIS, 2004). METODOLOGIA Levantamento e inventário ambiental A pesquisa documental foi realizada através de consulta nas Secretarias de Meio Ambiente Municipal e Estadual, Ministério do Meio Ambiente, ICMBIO, IBAMA. Para a análise bibliográfica, estruturou-se pesquisa acerca das publicações existentes sobre o tema (livros, artigos, monografias, teses, trabalhos técnicos, entre outros). Base de dados geocodificados e processamento de dados As informações ambientais foram obtidas através de processamento de imagens e aplicação das métricas de paisagem, com o intuito de identificar os padrões de uso e cobertura da terra, correlacionado as classes de uso utilizadas pelo projeto TerraClass. No que se refere aos dados de uso e cobertura da terra, estes foram obtidos através do processamento digital de imagens cedidas pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais INPE, com série histórica registrando no período de 1990 e 2016, com o objetivo de monitorar o processo de alteração da paisagem em escala multi-temporal. Estes dados foram extraídos com o uso do software Arc Giz Server 10.5, a partir de técnicas de processamento digital de Imagens dos satélites LANDSAT 5 e LANDSAT 8, com 30 metros de resolução espacial disponibilizadas pelo INPE. Como parte do processo foram utilizados os seguintes procedimentos: As imagens foram mosaicadas com auxílio de ferramentas digitais de balanceamento de cores, alteração dos efeitos de Background e suavização das bordas 234

235 considerando o contraste e a correção geométrica e atmosférica de cada uma das bandas multiespectrais. Realizou-se uma combinação de bandas para elucidação dos alvos em estudo de acordo com a especificidade de uso e cobertura da terra do Parque Estadual do Mirador: Áreas Degradadas e Mosaico de Ocupações, Floresta, Vegetação Aberta, Floresta Ombrófila Mista Aluvial, Corpos Hídricos, Área Agropastoril, (Tabela 1). Tabela 1: Classes de Uso e Cobertura da Terra. Classe Descrição Imagens Áreas degradadas Áreas susceptíveis a queimadas, desmatamento e solo exposto. Floresta Áreas com vegetação florestal, com predominância de vegetação arbustiva e/ou arbórea. Vegetação Aberta Áreas com predominância de vegetação herbácea. Floresta Ombrófila Mista Aluvial Área sobreposta por cursos d agua (Rios, Riachos e Açudes) Área Agropastoril Área com predominância de atividades agrícolas e agropecuárias Fonte: Adaptado TERRACLASS, Processamento e classificação supervisionada a partir de um sistema de amostragem por regiões utilizando a informação espectral de cada "pixel", atrelado a informação espacial que envolve a relação com seus vizinhos, neste processo foi utilizado o classificador Máxima Verossimilhança (MaxVer), este considera a ponderação das distâncias entre as médias dos valores dos pixels das classes, utilizando parâmetros estatísticos (NASCIMENTO et. al, 2016). O princípio da classificação supervisionada é baseado no uso de algoritmos para se determinar os pixels que representam valores de reflexão característicos para uma determinada classe. A classificação supervisionada é a mais utilizada na análise quantitativa dos dados de sensoriamento remoto (EASTMAN, 1999). Criação de chave de interpretação para cada uma das classes contendo: Forma, cor, contexto, textura, tamanho e utilização de técnicas agrupamento e agregação para construção de banco de dados 235

236 em formato SHAPEFILE com base compatibilizada e servidor integrado, originando um conjunto de dados vetoriais e matriciais para publicação via web, potencializando o entendimento e a utilização de seus conteúdos geográficos; Sobreposição de Layers (camadas), para realização de testes estatísticos e apuração da eficácia das técnicas metodológicas empregadas no processamento dos dados, resultando na confecção dos layouts finais dos mapas temáticos. RESULTADOS E DISCUSSÃO Conforme observação das Figuras 1 e 2, que demonstram a evolução no processo de uso e ocupação do solo do ano de 1990 para 2016 no PEM, nota-se visivelmente um avanço na degradação da vegetação (com destaque para a floresta ombrófila densa aluvial, denominada comumente de mata ciliar, um tipo de área de proteção permanente-app) em decorrência da prática de atividades como desmatamento e queimadas, que se manifestam tanto nos limites, quanto no interior do parque, tais ações põe em risco outras áreas protegidas, como topos de morros e encostas. Figura 1: Classificação do Uso e Ocupação do Solo do Parque Estadual do Mirador Fonte: Dados da Própria pesquisa 236

237 Figura 2: Classificação do Uso e Ocupação do Solo do Parque Estadual do Mirador Fonte: Dados da Própria pesquisa Ainda seguindo o contexto de APPs, percebe-se que áreas não segue distância mínima de prservação prevista no Código Florestal Brasileiro (Lei /2012), ameaçando assim a proteção dos fragmentos florestais remanescentes próximo dos cursos dos rios, segundo dados do processamento de 1990 a 2016, temos que neste período a mata ciliar diminuiu consideravelmente no PEM, alvo prejudicial para a área já que abriga diversas nascentes de importantes rios que abastecem diversas cidades no Estado do Maranhão e vários bairros da capital São Luís. Segundo Caldas et al. (2014), o parque em estudo foi a UC que mais apresentou focos de queimadas entre os anos de 2002 a 2013, com um total de focos, os autores ainda citam que a deficiência de práticas de sensibilização, fiscalização e consciência, assim como a prática da agricultura de alto impacto, são fatores contribuintes para a corroboração dos dados apresentados. Silva (2009) relata que a partir do ano de 1997, a região sul do Estado do Maranhão apresentou um salto significativo na produção de soja, e ressalta que a substituição de vegetação nativa por monoculturas, propicia uma cadeia de desequilíbrios bióticos, como o surgimento de pragas e doenças devido à diminuição de predadores naturais, onde estes últimos são quase que totalmente eliminados devido à aplicação de agrotóxicos, que por sua vez podem contaminar o solo assim como os recursos hídricos. A dinâmica da taxa de degradação apresenta valores altíssimos mediante a extensão do parque que deveria ser preservada como um todo, atualmente a área de floresta ombrófila mista (Veg. 237

238 Aberta) corresponde a uma área de 2.189km² no ano de 2016, em comparação com ao ano de 1990, esta mesma área correspondia a 1.752km² e áreas como solo exposto e áreas degradada por ocorrência de queimadas somam 537km² no ano de 2016, e no ano de 1990 esta área correspondia de 465. Nota-se também que o processo de ocupação urbana dentro do parque aumentou consideravelmente, se comparado com o ano de 1990, de modo que com base na observação das figuras acima, é possível identificar os mosaicos de ocupação e quantificar a área correspondente. É importante destacar, que tais ocupações além de se concentrarem dentro desta unidade, localizam-se também em seus limites, contrariando respectivamente o disposto no Artigo 2 incisos VI e XVIII do SNUC (Sistema Nacional de Unidades de Conservação), que tratam dos critérios estabelecidos para uma UC de proteção integral, assim como a existência de uma zona de amortecimento nestes espaços, que conforme Miller (1997) tem por finalidade minimizar os impactos advindos de atividades externas. Ainda de acordo com a Resolução CONAMA nº 428, de 17 de dezembro de 2010, essas áreas também podem ser denominada de área de entorno, e compreende um raio de 10 km, a partir dos limites da área protegida, o artigo 2º da referida legislação, estabelece ainda que nas áreas circundantes das UCs, num raio de 10 Km, qualquer atividade que possa afetar a biota deverá ser obrigatoriamente licenciada pelo órgão ambiental competente. Visando quantificar a variação do percentual do uso do solo no período de 1990 a 2016, têmse as tabelas 2 e 3 dispostas abaixo, onde é perceptível a diminuição de vegetação (mata ciliar, floresta) em decorrência de várias atividades, como as agropastoris, que teve seu crescimento impulsionando principalmente devido ao número de fazendas que atualmente se concentram nessa região, nessa perspectiva é essencial mencionar que este cenário favorece o aumento de processos erosivos, bem como o assoreamento dos recursos hídricos que a UC objetiva proteger, e a consequente diminuição do leito principal. Tabela 2. Uso e Ocupação do Parque Estadual do Mirador - MA Área e Perímetro real de cada classe e seus percentuais em relação à total Classes Área Mapeada km² % da área Perímetro km² % do Perímetro Mata Ciliar , Agropastoril 215 3, ,10 Vegetação , Aberta Floresta , Solo Exposto 456 8, Mosaico de Ocupação Fonte: Dados da Própria Pesquisa,

239 Tabela 3. Uso e Ocupação do Parque Estadual do Mirador - MA Área e Perímetro real de cada classe e seus percentuais em relação à total Classes Área Mapeada km² % da área Perímetro km² % do Perímetro Mata Ciliar 450 7, ,79 Agropastoril 226 3, Vegetação Aberta , ,34 Floresta , ,73 Solo Exposto 537 9, ,55 Mosaico de Ocupação , Fonte: Dados da Própria Pesquisa, Perante os dados demonstrados, pode-se afirmar que o PEM não segue os preceitos de uma UC de proteção integral onde somente a utilização indireta de seus recursos é permitida. O que se tem é um cenário de maciça degradação e substituição da vegetação nativa, por áreas de cultivo e demais ocupações antrópicas, comprometendo a proteção de seus recursos naturais, e o real motivo de criação desta área protegida. CONSIDERAÇÕES FINAIS Para a concretização desta pesquisa, há que se ressaltar a importância da utilização de geotecnologias onde é possível caracterizar a paisagem no espaço e no tempo, a partir dos padrões de uso e cobertura da terra, além da quantificação da estrutura e definição dos padrões de uso da paisagem. Por mais que o parque seja de uso integral, onde é dispensável qualquer uso ou atuação antrópica no interior da área, ainda sim o processo de degradação é bastante visível, temos que tem sido um processo evolutivo e por mais que esforços tenham admitidos para minimizar esses impactos, mesmo assim ainda não abrande de forma totalitária, ocasionando a retirada da mata nativa e mata ciliar minimizando os cursos d água e nascentes por meio do assoreamento e estreitamento dos cursos d água. Por fim, é notório que o PEM tem sido alvo de ações que impactam não somente o seu interior, mas principalmente o entorno de sua área, conforme pôde ser constatado no decorrer do presente trabalho. Também perante exemplos citados, o processo de degradação ambiental do parque se perpetua devido a ineficiência da aplicação de instrumentos (leis, fiscalização, trabalhos de sensibilização, ações de monitoramento, recursos de pessoal), que visam minimizar e até mesmo evitar a sua impactação, o que infelizmente acarreta e compromete seus recursos e os atores que dependem destes. 239

240 REFERÊNCIAS Backes, Albano. Áreas protegidas no estado do Rio Grande do Sul: o esforço para a conservação. Pesquisas Botânicas, v. 63, p , CÂMARA. G.; DAVIS, C. Introdução. In: Introdução à ciência da geoinformação, São José dos Campos, INPE, CALDAS, J.M. Análise do foco de queimadas no Parque Estadual do Mirador utilizando um sistema de informação geográfica-sig, Estado do Maranhão, Brasil. XIV Safety, Health and Environment World Congress. July 20-23, 2014, Cubatão, Brazil. EASTMAN, J. R. Idrisi for Windows. Versão 2.0. Worceter, MA: Clark university, FARINA, A. Principles and methods in landscape ecology.londres: Chapman e Hall.1998., 235 MARION, F.A.; SANTOS, E.B.; HENDGES, E.R. Análise de modelos digitais de elevação para modelagem do relevo no município de Francisco Beltrão PR. Rev. Geogr. Acadêmica v.9, n MEDEIROS, Rodrigo; YOUNG, Carlos Eduardo Frickmann. Contribuição das unidades de conservação brasileiras para a economia nacional: Relatório Final. Brasília: UNEP-WCMC, MILLER, K.R. Evolução do Conceito de Αreas de Proteção Oportunidades para o século XXI. In: I CONGRESSO BRASILEIRO DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO, Curitiba, Anais... UNILIVRE v. 1, p NASCIMENTO, Iara Silveira do et. al. Avaliação da exatidão dos classificadores Maxver e Iso Cluster do software Arc Gis for Desktop, Com Uso De Imagem Landsat 8 do Município de Cáceres/MT. Revista Continentes (UFRRJ), ano 5, n. 8, p ORTH, D. M.; VIEIRA, S. J.; DEBETIR, E.; S.ILVA, J.; SILVA JÚNIOR, S. R. Geotecnologias para a gestão do espaço em áreas legalmente protegidas. In: XX Conferencia Latinoamericana de Escuelas y Facultades de Arquitectura, 2003, Concepción, Chile. Anais...XX CLEFA: Universidad del Bio- Bio, v. I, p , ROSA, R. e BRITO, J. L. S. Introdução ao Geoprocessamento: Sistema de Informações Geográficas. Uberlândia: EDUFU, 104p,1996. Thornthwaite, C.W. (1984): An approach towards a rational classification of climate. Geogr. Rev. 38: ROSA, R. Geotecnologias na geografia aplicada. Revista do Departamento de Geografia, V. 16, p , (2005). SILVA, C.E.M. O Cerrado em disputa: apropriação global e resistências locais. Brasília, CONFEA, YONG, A.G.; MERRIAM, H.G. Effects of forest fragmentation on the spatial genetic structure of Acersacvharum Marsh. (sugar maple) populations. Heredity, v.1, p ,

241 ANÁLISE MORFOMÉTRICA DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO PIRACURUCA, SITUADA ENTRE OS ESTADOS DO CEARÁ E DO PIAUÍ: SUBSÍDIOS AO ESTUDO DAS INUNDAÇÕES Francílio de Amorim dos Santos Instituto Federal do Piauí / Campus Piripiri Doutorando em Geografia pela Universidade Estadual do Ceará francilio.amorim@ifpi.edu.br Lucia Maria Silveira Mendes Universidade Estadual do Ceará / Campus do Itaperi Doutora em Agronomia pela Universidade de São Paulo lucia.mendes@uece.br Maria Lúcia Brito da Cruz Universidade Estadual do Ceará / Campus do Itaperi Doutora em Geografia pela Universidade Federal de Pernambuco mlbcruz@gmail.com Eixo temático: Geotecnologias e abordagens em Geomorfologia Resumo: Os objetivos do estudo foram caracterizar os elementos geoambientais e analisar os parâmetros morfométricos (geométricos, da rede de drenagem e do relevo) da bacia de drenagem do Rio Piracuruca, localizada entre os estados do Ceará e Piauí, como forma de subsidiar pesquisas futuras voltadas ao planejamento, gestão dos recursos hídricos e minimização das suscetibilidades a inundações. As informações morfométricas foram obtidas via dados do modelo digital de elevação (MDE), a partir de cinco parâmetros geométricos, cinco da rede de drenagem e sete referentes ao relevo. As variáveis analisadas indicaram que a bacia estudada, classificada como sendo de 6ª ordem, possui baixa predisposição a inundações bruscas, devido exibir fator forma (Ff) de 0,46, índice de circularidade (Ic) de 0,34 e coeficiente de compacidade (Kc) de 1,7. As informações apresentadas devem ser associadas a outros estudos visando-se conhecer de forma sistêmica a bacia em questão. Palavras-chave: Bacia de Drenagem. Variáveis morfométricas. Desastre Natural. Abstract: The objectives of the study were to characterize the geo-environmental elements and to analyze the morphometric (geometric, drainage and relief) parameters of the drainage basin of the Piracuruca River, located between the states of Ceará and Piauí, as a way of subsidizing future Planning, management of water resources and minimization of susceptibilities to floods. The morphometric information was obtained through data from the digital elevation model (MDE), from five geometric parameters, five from the drainage network and seven from the relief. The analyzed 241

242 variables indicated that the studied basin, classified as being of the 6th order, has a low predisposition to sudden floods, due to the form factor (Ff) of 0.46, circularity index (Ic) of 0.34 and coefficient of compactness (kc) of 1.7. The information presented should be associated with other studies in order to know the basin in question in a systemic way Key words: Drainage Basin. Morphometric variables. Natural disaster. INTRODUÇÃO A bacia hidrográfica tem sido largamente utilizada como elemento basilar para os estudos ambientais, notadamente devido à possibilidade de integração das componentes geoambientais e, por conseguinte, compreender a paisagem de maneira sistêmica. O uso da bacia hidrográfica como unidade de análise tornou-se elemento essencial ao planejamento ambiental. Logo, compreendendose sua dinâmica é possível proceder a elaboração de adequado planejamento ambiental, indicando áreas compatíveis com desenvolvimento de atividades socioeconômicas. Desse modo, foi oportuno desenvolver estudo na área da Bacia Hidrográfica do Rio Piracuruca, situado entre os estados do Ceará e do Piauí. As nascentes do rio homônimo ocorrem no Planalto Cuestiforme da Ibiapaba, nos limites do município de São Benedito, estado do Ceará, vindo a desaguar no município de São José do Divino, no estado do Piauí. O estudo tem como ponto de partida a possibilidade de indicar áreas com predisposição à ocorrência de inundações, particularmente a partir do conhecimento dos parâmetros morfométricas, que no presente estudo considerou cinco parâmetros geométricos, cinco da rede de drenagem e sete referentes ao relevo. Para tal fim, foram obtidos dados do modelo digital de elevação (MDE) para delimitação da área em estudo e identificação das referidas variáveis. O presente estudo teve os seguintes objetivos: caracterizar os elementos geoambientais e analisar os parâmetros morfométricos (geométricos, da rede de drenagem e do relevo) como forma de subsidiar pesquisas futuras voltadas ao planejamento, gestão dos recursos hídricos e minimização das suscetibilidades a inundações. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA De acordo com Fistarol et al. (2015, p.44), [...] a bacia hidrográfica é uma unidade natural que recebe a influência da região que drena, é um receptor de todas as interferências naturais e antrópicas que ocorrem na sua área. Desse modo, pode-se visualizar a importância dos estudos ambientais tomando como elemento chave a bacia hidrográfica, pois o uso inadequado de determinado elemento de seu sistema resultará em repercussões em toda a bacia. Estudos em bacias hidrográficas são necessários, notadamente para identificação e análise da predisposição à ocorrência de desastres naturais, particularmente as inundações. Os desastres naturais 242

243 estão relacionados à manifestação de fenômenos naturais associados a determinados elementos socioeconômicos e físicos vulneráveis (MASKREY, 1993). Os desastres naturais podem ser classificados de acordo com sua origem em: biológicos, geofísicos, climatológicos, hidrológicos e meteorológicos (CRED/EM-DAT, 2016). Torna-se oportuno mencionar que o setor norte do Nordeste Brasileiro (NEB) apresenta características climáticas que são influenciadas pela Zona de Convergência Intertropical (ZCIT), que se apresenta como o principal elemento promotor de chuvas, e sobre influência dos fenômenos oceânicos El niño e La niña, assim como a da temperatura da superfície do mar (TSM), ou seja, do dipolo do Atlântico (FERREIRA; MELLO, 2005). A ZCIT diz respeito a uma área de até 50 km de largura, originada da confluência dos ventos alísios de nordeste e sudeste, seguido de baixa pressão, alta nebulosidade e muita chuva (ZANELLA, 2014). Esse sistema atmosférico responde pelas chuvas de fevereiro a maio nos estados do Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba e Pernambuco (MOLION; BERNARDO, 2000; ZANELLA, 2014). O posicionamento da ZCIT é diretamente afetado pelos fenômenos oceânicos El niño e La niña, o que também influência o volume pluviométrico. O El niño diz respeito à ocorrência de águas quentes próximas à costa norte do Peru, devido ao enfraquecimento dos ventos alísios e aquecimento das águas superficiais do Pacífico Tropical, cuja intensidade máxima inicia no mês de dezembro e finaliza em janeiro (DINIZ et al., 2008). Por sua vez, o La niña corresponde ao resfriamento anômalo das águas do Oceano Pacífico, que resulta no aumento do volume de precipitações e, por conseguinte, inundações em áreas urbanas no NEB (LONDE et al., 2014). Também respondem pela intensidade e posicionamento da ZCIT as anomalias positivas e negativas da Temperatura da Superfície do Mar (TSM) nas bacias dos oceanos Atlântico e Pacífico. Desse modo, dependendo da intensidade e do período do ano em que ocorra o fenômeno El niño e, ainda, ocorrendo o dipolo positivo do Atlântico, que é desfavorável às chuvas, ocorrem anos secos ou muito secos. Por outro lado, a ocorrência do fenômeno La niña associado ao dipolo negativo do Atlântico, em geral, responde por anos considerados normais, chuvosos ou muito chuvosos no NEB (FERREIRA; MELLO, 2005). Foram analisados parâmetros morfométricos voltados ao conhecimento da geometria, rede de drenagem e relevo da BHRP. Os parâmetros geométricos utilizados foram: a Área (A); o Perímetro (P); o Fator Forma (Ff); o Índice de circularidade (Ic); o Coeficiente de compacidade (Kc). A rede de drenagem foi analisada a partir dos seguintes parâmetros: o comprimento total dos cursos d água (L total); a Densidade de drenagem (Dd); Densidade hidrográfica ou densidade de rios (Dh); o Coeficiente de manutenção (Cm); e a ordem dos cursos d água (hierarquia fluvial), obtido de acordo com o proposto por Strahler (1952). Em relação aos elementos do relevo consideraram-se os 243

244 seguintes: a altitude mínima (Hmin); a altitude máxima (Hmax); a altitude média (Hm), média da soma das cotas altimétricas; amplitude altimétrica máxima (Ht); a declividade mínima (Dmin); declividade máxima (Dmax); declividade média (Dm); Índice de rugosidade (Ir) (CHRISTOFOLETTI, 1980; SOARES; SOUZA, 2012). O estudo de Ferreira et al. (2010) objetivou avaliar as características morfométricas da bacia hidrográfica do açude Cachoeira II. Os resultados apontaram que a bacia é classificada como de 5ª ordem, o seu Coeficiente de compacidade (kc) foi de 1,63, Fator de forma (Ff) de 0,35 e Índice de circularidade (Ic) de 0,37. Esses índices indicam que a bacia possui forma alongada e predisposição ao escoamento, não se apresentando suscetível a picos de enchentes. Soares e Souza (2012) empreenderam estudo para analisar os parâmetros morfométricos do relevo e da rede de drenagem da bacia do Rio Pequeno, no Paraná. A bacia, que é classificada como de 5ª ordem, possui Fator forma (Ff) de 0,24 e Coeficiente de compacidade (Kc) de 1,8, desse modo, indica forma alongada e, portanto, baixa predisposição à enchentes. Por sua vez, Pereira Neto (2016) buscou caracterizar os aspectos morfométricos, relacionados à análise areal da bacia hidrográfica do Rio Seridó (RN/PB). Fator forma (Ff) de 0,61, indicaram formato intermediário, e Densidade de drenagem (Dd) de 0,40 km/km 2. Por meio desses parâmetros é possível observar que a bacia em questão apresenta baixa densidade de drenagem e risco médio a picos de enchentes. Os estudos e parâmetros expostos acima deverão subsidiar ações voltadas ao planejamento ambiental, mas também permitir situar no âmbito da bacia em estudos os riscos provenientes dos totais de precipitações concentrados, notadamente vinculados aos processos de inundações. Nesse sentido, vislumbra-se o uso dos parâmetros morfométricos como um dos elementos essenciais ao entendimento dos processos de inundações. METODOLOGIA Localização e caracterização da área em estudo A BHRP possui uma área de 7.625,9 km 2 e situa-se entre os estados do Ceará e do Piauí (Figura 1), cujo Rio principal nasce em setores do Planalto Cuestiforme da Ibiapaba, no município de São Benedito, estado do Ceará, e deságua no Rio Longá, no município de São José do Divino, estado do Piauí. A BHRP está assentada sobre seis formações geológicas, quais sejam: Grupo Serra Grande que ocupa 37% da área; formação Pimenteiras, que abrange 23,6% da referida bacia de drenagem; formação Cabeças, que se distribui por 21,8% da área estudada; e os Depósitos Colúvio-Eluviais, 244

245 Formação Sardinha e Formação Longá que se distribuem por 12,6%, 4,9% e 0,1% da bacia, respectivamente (CPRM, 2006a; 2006b). Figura 1 - Mapa de localização da Bacia Hidrográfica do Rio Piracuruca (BHRP), situada entre os estados do Ceará e do Piauí. Fonte: MDE SRTM (USGS, 2017). Organizado pelos autores (2017). Os totais pluviométricos da BHRP concentram-se notadamente entre os meses de janeiro a maio, cujos níveis variaram de 710 a mm anuais, sendo que o maior nível de precipitação ocorre na parte centro-leste (1.110 a mm anuais), que se deve influência do fator orográfico oriundo do Planalto Cuestiforme da Ibiapaba (SANTOS; CRUZ, 2016). Ocorrem na BHRP as seguintes ordens de solos: os Neossolos que predominam na área, distribuem-se por 62,9% da área; os Argissolos, que abrangem 10,4% da referida bacia de drenagem; os Latossolos, abrangendo 9,4% da bacia; os Planossolos que foram encontrados em 8,0%; os Plintossolos que abrangem 6,0% da área da bacia; os Vertissolos, os Gleissolos e os Chernossolos que foram identificados em 2,1%, 0,7% e 0,5%, respectivamente (INDE, 2014). Procedimentos metodológicos A priori, realizou-se a aquisição de dados do modelo digital de elevação (MDE), da missão Shuttle Radar Topography Mission (SRTM), particularmente das folhas SA-24-Y-C e SB-24-V-A, com resolução espacial de 30 metros, junto ao banco de dados do United States Geological Service 245

246 (USGS). Em seguida, foram executadas técnicas voltadas ao refinamento dos citados dados, conforme sugerem Alves Sobrinho (2010) e Silva e Moura (2013). Destaca-se que a delimitação automática da área da Bacia Hidrográfica do Rio Piracuruca foi realizada via Sistema de Informação Geográfica (SIG) ArcGIS, versão 10.1, cuja licença foi adquirida pelo Laboratório de Geomática da Universidade Federal do Piauí (UFPI). Executada a delimitação automática da BHRP, procederam-se à análise das variáveis morfométricas a partir de cinco parâmetros geométricos, cinco da rede de drenagem e sete referentes ao relevo (Quadro 1). Geométricos Rede de drenagem Relevo Quadro 1 - Parâmetros utilizados na análise morfométrica da Bacia Hidrográfica do rio Piracuruca. Parâmetro Equação Definição Unidade Área (A) A A = área da bacia em km 2. km 2 Perímetro (P) P P = perímetro da bacia em km 2. km 2 Fator forma da bacia (Ff) Índice de circularidade (Ic) Coeficiente de compacidade (Kc) Comprimento total dos cursos d água (L total) Densidade de drenagem (Dd) Densidade hidrográfica ou de rios (Dh) Coeficiente de manutenção (Cm) Ordem dos cursos d água = A = área da bacia em km 2 ; L = comprimento do eixo (km). = 12,57 A = área da bacia em km 2 ; p = perímetro da bacia em km 2. = 0,28 L = h = = A = área da bacia em km 2 ; P = perímetro da bacia em km 2. L = comprimento total dos cursos d água (L total em km) Lt = comprimento total dos canais em km; A = área da bacia em km 2. n = número de canais; A = área total da bacia em km². Dd = densidade de drenagem em km/km² km km/km 2 canais/k m 2 m 2 /m Altitude mínima Hmin Hmin = altitude mínima m Altitude máxima Hmax Hmax = altitude máxima m H = altitude do ponto mais Amplitude alto situado em qualquer lugar altimétrica máxima =. h da divisória topográfica; m h = altitude da foz. Declividade mínima Dmin Dmin = altitude mínima % Declividade máxima Dmax Dmax = altitude máxima % Declividade média = + + = n=número de observações % 246

247 Índice de rugosidade (Ir) Ir = H x Dd H = amplitude altimétrica em m; Dd = densidade de drenagem em km/km². Fonte: Soares e Souza (2012). Organizado pelos autores (2017). - Deve-se destacar que para a análise do Coeficiente de compacidade (Kc) considerou-se a proposta metodológica de Oliveira (1997), que definiu três classes para o Kc em relação a suscetibilidade a enchentes, quais sejam: 1,00 1,25 (totalmente sujeito a enchente); 1,25 1,50 (tendência média a grandes enchentes); > 1,50 (menor risco a enchentes). Ressalta-se, ainda, que para a análise da Densidade de drenagem (Dd) tomou-se como base a proposta de Beltrame (1994), que definiu quatro classes para a Dd, a saber: < 0,50 (baixa); 0,5 a 2,0 (mediana); 2,01 a 3,50 (alta); > 3,50 (muito alta). Por sua vez, para a classificação da declividade do relevo considerou as seguintes classes: 0 a 3% (plano); 3 a 8% (suave ondulado); 8 a 20% (ondulado); 20 a 45% (forte ondulado); 45 a 75% (montanhoso); > 75% (escarpado) (EMBRAPA, 2009). RESULTADOS E DISCUSSÃO A BHRP apresenta rios com padrão de drenagem dendrítica, cuja hierarquia fluvial, de acordo a proposta de Strahler (1952), é classificada como um sistema de drenagem de 6ª ordem (Tabela 1), tendo o Rio Piracuruca como seu eixo principal. Desse modo, é possível observar que a BHRP possui (dois mil quinhentos e sessenta e oito) canais pertencentes em sua rede de drenagem. Dessa forma, sua hierarquia fluvial é composta por: (dois mil e sete) canais de primeira ordem, que somam 2.598,3 km e representam 78,16% da área; 442 (quatrocentos e quarenta e dois) segmentos de segunda ordem, que totalizam 1.806,6 km e abrangem 17,21% da bacia; 93 (noventa e três) canais de terceira ordem, que juntos respondem por 956,5 km e distribuem-se por 3,62% da área; 19 (dezenove) canais de quarta ordem, cuja soma totaliza 247,1 km e correspondem a 0,74% da BHRC; 6 (seis) canais de segunda ordem, que possuem 293,8 km e representam 0,23% da bacia; o Rio Piracuruca que corresponde ao rio principal, possui 144,1 km de extensão e representa 0,04% da área da bacia. Tabela 1 - Composição da rede de drenagem da Bacia Hidrográfica do Rio Piracuruca. Ordem dos canais Nº de segmentos Comprimento dos Canais (km) Comprimento Médio dos Canais (km) % Segmentos 1ª 2ª 3ª 4ª 5ª , ,6 956,5 247,1 293,8 1,3 4,1 10,3 13,0 49,0 78,16 17,21 3,62 0,74 0,23 247

248 6ª 1 144,1 144,1 0,04 Total ,4-100 Fonte: Organizado pelos autores (2017). O refinamento dos dados do MDE SRTM (USGS, 2015) possibilitou identificar que a BHRP apresenta área com 7.625,9 km 2 e perímetro de 526,4 km 2. O fator forma (Ff) da bacia é de 0,46, considerado um valor médio, ou seja, uma forma intermediária (Quadro 2). Deve-se desatacar que uma forma mais irregular impõem obstáculos ao acúmulo rápido da água precipitada, logo, menor suscetibilidade a eventos extremos de inundações. Por sua vez, o índice de circularidade (Ic) da BHRP foi de 0,34, o que indica tendência a exibir forma mais alongada, não favorecendo processos de inundação, posto que possibilite escoamento mais bem distribuído no tempo e, portanto, baixo potencial a enchentes. O coeficiente de compacidade (Kc) apresentou valor de 1,7 (menor risco a inundações), o que também indica forma mais alongada, não favorecendo a ocorrência de picos de enchentes. Quadro 2 - Parâmetros morfométricos analisados no estudo. Variáveis Parâmetro Unidade Área (A) 7.625,9 km 2 Perímetro (P) 526,4 km 2 Geométrica Fator forma da bacia (Ff) 0,46 Índice de circularidade (Ic) 0,34 Coeficiente de compacidade (Kc) 1,7 Comprimento total dos cursos d'água (L total) 6.046,4 km Densidade de drenagem (Dd) 0,8 km/km Rede de Densidade hidrográfica ou densidade de rios (Dh) 0,34 canais/km drenagem Coeficiente de manutenção (Cm) m 2 /m -1 Ordem dos cursos d água 6ª Altitude mínima (Hmin) 25 m Altitude máxima (Hmax) 965 m Amplitude altimétrica máxima 940 m Relevo Declividade mínima 0% Declividade máxima 144% Declividade média 6,6% Índice de rugosidade (Ir) 677,6 Fonte: Organizado pelos autores (2017). Em relação aos parâmetros da rede de drenagem, o comprimento total dos cursos d água (L total) da BHRP é de 6.045,5 km. Sua densidade de drenagem (Dd) foi estimada em 0,8 km/km 2 e Densidade hidrográfica (Dh) de 0,34 canais/km 2, indicando uma rede de drenagem mediana e baixo potencial para geração de novos canais. O seu coeficiente de manutenção (Cm) demonstrou a 248

249 necessidade de m 2 para manter perene cada metro de seus canais. Cabe ainda mencionar que a soma do comprimento de todos os canais da bacia é 6.046,5 km. Em relação ao relevo da bacia em estudo, o mesmo apresenta cota altimétrica mínima de 25 m e máxima de 965 m, ao passo que a amplitude altimétrica máxima é de 940 m e altitude média de 292,5 m. Cabe desatacar que prepondera na bacia cotas altimétricas que variam de 25 m a 185 m, distribuindo-se por 59,4% da área, notadamente encontradas na planície do Rio Piracuruca, conforme está exposto no mapa hipsométrico (Figura 2). Figura 2 - Mapa hipsométrico da Bacia Hidrográfica do Rio Piracuruca. Fonte: MDE SRTM (USGS, 2015). Organizado pelos autores (2017). A bacia em estudo apresenta declividade média de 6,6%, com declive mínimo de 0% e máximo de 144% (Figura 3). Ressalta-se que na BHRP predomina relevo plano (0 a 3%) a suave ondulado (3 a 8%), sendo o mesmo encontrado em 86,7%, principalmente na parte centro-oeste da bacia. Por outro lado, em 9,87% e 3,22% ocorre relevo ondulado (8 a 20%) e forte ondulado (20 a 45%), respectivamente. Destaca-se que em 0,21% ocorre relevo do tipo montanhoso (45 a 75%) a escarpado (> 75%), estes ligados às vertentes do Planalto da Ibiapaba. O índice de rugosidade (Ir) identificado para a bacia estudada foi Ir de 677,6. O relevo da área exibe formas dissecadas em colinas e vertentes curtas, justificando a baixa predisposição dessa área a enchentes abruptas. Foi possível identificar que a bacia apresenta baixa predisposição a inundações bruscas, fato confirmado pelo seu fator forma (Ff) de 0,46, índice de circularidade (Ic) de 0,34 e coeficiente de compacidade (Kc) de 1,7. A Densidade de drenagem (Dd) de 0,8 km/km 2 e Densidade 249

250 hidrográfica (Dh) de 0,34 canais/km 2 indicam o baixo potencial atual do rio em gerar novos canais. Em suma os parâmetros morfométricos analisados permitem inferir que, de modo geral, a área da bacia estudada exibe baixa predisposição a inundações rápidas, favorecendo o escoamento superficial. Figura 3 - Mapa de declividade da Bacia Hidrográfica do Rio Piracuruca. Fonte: MDE SRTM (USGS, 2015). Organizado pelos autores (2017). CONCLUSÃO Por meio do estudo foi possível inferir que a bacia estudada apresenta baixa predisposição a inundações bruscas, fato confirmado pelo seu fator forma (Ff) de 0,46, índice de circularidade (Ic) de 0,34 e coeficiente de compacidade (Kc) de 1,7, além de Densidade de drenagem (Dd) de 0,8 km/km 2 e Densidade hidrográfica (Dh) de 0,34 canais/km 2 que indicam baixo potencial atual do rio em gerar novos canais. As informações aqui analisadas possibilitaram o conhecimento morfométrico da Bacia Hidrográfica do Rio Piracuruca e, como tal, devem subsidiar ações voltadas ao planejamento ambiental e minimização dos riscos a inundações. Contudo, o presente estudo não esgota a possibilidade de estudos na bacia supracitada, posto que seja necessário integrar dados das demais variáveis ambientais, notadamente do uso e cobertura das terras, como forma de conhecer de forma sistêmica aquele ambiente. 250

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253 CARACTERIZAÇÃO FISOGRÁFICA DO MUNICÍPIO DE SIGEFREDO PACHECO PIAUÍ Jéssica Cristina Oliveira Frota Mestra em Geografia Universidade Federal do Piauí Gustavo Souza Valladares Dr. Em Agronomia (Professor Orientador) Universidade Federal do Piauí Andréa Maciel Lima Graduanda de Geografia Universidade Federal do Piauí Eixo temático: Geotecnologias e abordagens em Geomorfologia Resumo: O objetivo desta pesquisa é realizar uma análise fisiográfica do município de Sigefredo Pacheco, localizado na região centro - norte do estado do Piauí, para fins de um futuro planejamento ambiental, através de suas características físicas, como geologia, geomorfologia, solos, clima, vegetação, declividade e altimetria buscando assim, uma análise integrada de todo o aspecto físico do município. Para a operacionalização da pesquisa, utilizou-se como ferramenta o aplicativo: ArcGis 10. Com isso, observou-se que a área de estudo apresenta áreas planas, bem desenvolvidas e áreas com declividades variando de 0 a 29%, o que demonstrou um percentual de erosão já bem preocupante. Assim, conclui-se que a análise dos elementos do ambiente é necessária, pois permite um conhecimento de sua gênese, constituição física, estágio de evolução e cobertura da terra, proporcionando uma visão geral das características físicas da paisagem, servindo como base pra um planejamento tanto ambiental como territorial do município. Palavras Chaves: Paisagem, SIGs, Abordagem sistêmica. Abstract: The objective of this research is to perform a physiographic analysis of the municipality of Sigefredo Pacheco, located in the central - north region of the state of Piauí, through its physical characteristics, such as geology, geomorphology, soil, climate, vegetation, slope and altimetry. integrated analysis of the whole physical aspect of the municipality. For a research operation, use as application or application: ArcGis 10. With this, it is observed that as geological structures explain a 253

254 formation of relief and its literature, in turn, highlighting an origin of shallow soils, masons and with Little drainage, rendering unsustainable the vegetation of the caatinga, thus hindering an agriculture. It is concluded that it is an analysis of the elements of the environment and a notification of its genesis, physical constitution, stage of evolution and land cover, providing an overview of the physical characteristics of the landscape, serving as a basis for both environmental and territorial planning of the County. Key words: Landscape, GIS, Systemic approach INTRODUÇÃO Nas últimas décadas, a intensificação das atividades de produção econômica e as diversas formas de apropriação social da natureza provocaram impactos negativos, muitas vezes irreversíveis, sobre o meio ambiente (MEDEIROS et., al 2014). A crescente demanda e a utilização irracional dos recursos naturais vêm potencializando impactos ambientais negativos em toda superfície terrestre, e com isso, cada vez mais o meio em que vivemos vem sofrendo constantes transformações capazes de evidenciar uma sucessão de estados que se alternam entre situações de equilíbrio e desequilíbrio, resultando assim em diferentes paisagens. A falta de planejamento em relação ao uso dos elementos naturais pelas atividades urbanas ou rurais pode apresentar problemas diversos, principalmente, em relação aos recursos hídricos e a vegetação. Dessa forma, a preocupação no século XX e nos dias atuais passou a se voltar ao entendimento de como os fenômenos ambientais atuam e atuarão, ou como se estabelece a complexidade inerente a tais fenômenos, tornando-se necessária a elaboração de estudos que busquem diagnosticá-los, compreendendo o comportamento e obtendo respostas das variáveis ambientais envolvidas nos diferentes fenômenos. (OLIVEIRA e CHAVES, 2010, p.218). Com isso, viu-se a necessidade de entender o comportamento do ambiente em estudo como forma de melhor interpretar de forma sistêmica, todo o seu funcionamento, e assim poder identificar seus principais problemas e como este ambiente diante de suas características vem sendo utilizado. Nesse sentido, a análise geoambiental insere-se como um componente da ciência geográfica com uma contribuição potencial no que se refere à elucidação de fenômenos ambientais, no subsídio ao desenvolvimento desses estudos e consequentemente, com uma compreensão integrada da paisagem. Tomando-se como base esse conceito e a necessidade de melhor caracterizar a área em questão. Este trabalho tem como finalidade caracterizar os aspectos fisiográficos, ou seja, geoambientais, bem como analisar os dados físicos, natural e antrópicos do município de Sigefredo Pacheco PI com o objetivo de entender o comportamento dessa paisagem, para fins de um planejamento ambiental. 254

255 METODOLOGIA A caracterização fisiográfica do município de Sigefredo Pacheco PI foi realizada adotando uma abordagem sistêmica baseada no princípio da interdisciplinaridade, possibilitando dessa maneira, a identificação das alterações naturais e antrópicas, com base no conceito de ecodinâmica de Tricart (1977), onde este propôs que o ambiente fosse estudado pelo seu comportamento dinâmico, ou seja, a partir do entendimento das relações mútuas entre os diversos componentes do sistema e de todos os fluxos de energia e matéria que entram e saem no ambiente. Diversos trabalhados como os de: Bezzerra Junior et al., (2007); Ballestri e Mozzomo (2014); Medeiros et al., (2014); Costa et al., (2015), dentre outros, também utilizaram-se de metodologias similares. Materiais e Métodos Metodologicamente o trabalho em questão de caráter qualitativo-quantitativo foi dividido em três grandes etapas, conforme segue: Na primeira etapa foi realizado um levantamento de dados bibliográficos sobre o tema em livros, artigos científicos, periódicos, jornais, dissertações, teses e outros que permitiram o embasamento teórico e metodológico sobre a pesquisa. Sabendo que a organização, edição e sistematização dos dados constituem-se em uma etapa de grande importância. A segunda etapa foi composta pela caracterização fisiográfica do município, utilizando-se de dados cartográficos digitais pré-existentes como as folhas do DSG (Diretorial do Serviço Geográfico) das cartas de Conceição e Castelo do Piauí (SB.24-V-C-I e SB.24- V-A-IV) no qual, foi extraída a drenagem presente na área de estudo, onde foi constituído o esboço hidrográfico do município. Para proceder à caracterização geológica da área de estudo, foram utilizados dados da Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM, 2004), onde esses dados foram trabalhados e transformados em vetor com o auxílio do software ArcGis 10, para identificação e caracterização das principais unidades geológicas do município. No mapeamento do esboço geomorfológico do município, foram utilizados os dados do Esboço Geomorfológico do Estado do Piauí, como base para desenvolvimento do projeto: Delimitação e Regionalização do Brasil sem-árido, convênio CNPq/SEDENE/UFPI (1987). A caracterização pedológica foi realizada com base no Mapeamento Exploratório de reconhecimento dos solos do Estado do Piauí, realizado pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA/SUDENE 1983), onde os dados da área de estudo foram recortados e manipulados no software, gerando assim, o esboço pedológico. 255

256 Utilizou-se também de mapas obtidos por meio do sensoriamento remoto: Modelo Digital de Elevação (MDE) através da Shuttle Radar Topography Mission (SRTM), obtidos do projeto Topodata, INPE. Para elaboração do MDE do município de Sigefredo Pacheco, foram utilizadas as imagens das cartas TOPODATA de índices 04S42_ZN e 05S42_ZN. Em seguida, para melhor entendimento o MDE foi reclassificado gerando nove classes de altimetria, estas por sua vez, variando de 154 a 331 metros. Esta reclassificação ajudou na separação das áreas mais elevadas, para as áreas mais rebaixadas existentes no município. A terceira etapa referiu-se à pesquisa em campo diretamente na área de estudo (município de Sigefredo Pacheco) para análise e verificação dos aspectos físicos da área identificados através da elaboração dos mapas temáticos em escalas de 1: RESULTADOS E DISCUSSÃO Localização da área de Estudo Este estudo foi realizado em Sigefredo Pacheco, no estado do Piauí. O município localiza-se na mesorregião centro-norte do Piauí e microrregião de Campo Maior, tendo sua sede sob as coordenadas UTM S O, apresentando aproximadamente uma altitude de 230m em sua sede (IBGE,2010). O Município localiza-se a 160 km de Teresina e compreende uma área irregular de 988 km², tendo como limites os municípios de Jatobá do Piauí, Milton Brandão e Juazeiro do Piauí ao norte, Novo Santo Antônio ao sul, Castelo do Piauí e Juazeiro do Piauí a leste, e Campo Maior e Jatobá do Piauí a oeste. (Ver figura 1). Figura 1 - Mapa de Localização geográfica da área de estudo Fonte: Dados Landsat OLI/ 8, Elaboração Frota,

257 Caracterização ambiental da área de estudo Aspecto geológico De acordo com dados da CPRM (2004) em seu projeto cadastro de fontes de águas subterrâneas no Piauí e dados do mapa geológico do Piauí (2006) as unidades geológicas desenvolvidas no município de Sigefredo Pacheco-Piauí apresentam diferentes litologias distinguidas em: rochas sedimentares da Bacia do Parnaíba e as coberturas colúvio-eluviais. No entanto, as unidades da bacia do Parnaíba são representadas no município pelas Formações: Cabeças, Longá e Poti, que fazem parte do grupo canindé, conforme mostra a (figura 2). Figura 2 - Esboço geológico do município de Sigefredo Pacheco-Piauí FONTE: Dados da CPRM (2004). Elaborado por Frota, A sequência deposicional é identificada da seguinte forma, a formação cabeças datada do devoniano (Paleozoico) com idade geológica de cerca de 410 mil anos, apresenta-se em contato discordante com a formação Longá. Nessa formação predominam arenitos de médio a finos, por vezes grosseiros e pouco argilosos, intercalam-se também subordinadamente nessa formação, siltitos laminados e folhelhos micáceos de coloração arroxeada e avermelhada (CPRM, 2004) A formação Longá também datada do devoniano é constituída de folhelhos cinza-escuros, físseis e micromicaceos, tem subsidiariamente intercalados, siltitos cinza, micaceos, laminados. Esse conjunto de estratos foi depositado em ambiente neriticoplataformal, sob condições de mais baixa energia deposicional, posicionados através de fauna de invertebrados no neofameniano. Já a formação Poti datada do carbonífero inferior (Paleozóico), com idade geológica de cerca de 355 mil anos, é 257

258 marcada por superfícies erosivas, apresentando em sua litologia argilitos maciços, siltitos, arenitos muito finos a médios e folhelhos (CPRM, 2004) O município apresenta ainda, os depósitos colúvio-eluviais, estes são sedimentos detríticos constituídos de areia, argila, cascalho e laterito, e representam os sedimentos mais recentes com idade tércio-quaternária. Em visita de campo à área, pode-se constatar a presença da geologia e da litologia, compatível com a literatura supracitada. Aspecto Geomorfológico Segundo a classificação de Lima (1987), o relevo Piauiense está inserido dentro de seis compartimentos regionais, sendo representado em diferentes unidades litológicas, e por sua vez cada compartimento apresenta diversas feições geomorfológicas. No caso do município de Sigefredo Pacheco-Piauí este, encontra-se inserido completamente nas unidades estruturais e depósito de cobertura da bacia paleo-mesozóica do Maranhão-Piauí e consequentemente está inserido em uma área de transição entre os compartimentos regionais: Planalto oriental da bacia do Maranhão-Piauí e Baixos Planaltos do Médio-Baixo Parnaíba. Topograficamente segundo Lima (1987) essas áreas compartimentadas refletem a estrutura monoclinal de cuesta, por apresentar um mergulho de suas camadas em torno de 5 graus, no sentido leste/oeste. No entanto, como o município encontra-se em uma área de transição entre dois compartimentos a continuidade do mergulho das camadas aos terrenos da cuesta vai enfraquecendo mais na direção oeste. Dessa forma, conforme a classificação proposta por Lima (1987) pode-se perceber que o município de Sigefredo Pacheco-PI apresenta as seguintes feições geomorfológicas: Reversos de cuestas conservadas em estruturas monoclinais, Planaltos rebaixados e Depósitos de inundação, conforme mostra a figura

259 Figura 3 - Esboço geomorfológico do município de Sigefredo Pacheco-Piauí. Fonte: Elaborado por Frota, Aspectos Pedológicos De acordo com dados do levantamento exploratório de reconhecimento dos solos do estado do Piauí (EMBRAPA, 2006), os solos presentes no município de Sigefredo Pacheco possuem diversas variações do tipo: solos litólicos; cambissolos; latossolos amarelos; plintossolos; planossolos; brunos não cálcico; latossolos vermelhos-amarelos e argissolos vermelhos-amarelos. (Ver figura 4) onde: R3 Associação: Solos litólicos álico e distrófico, textura média e arenosa, fase pedregosa e rochosa + CAMBISSOLO Tb textura média, ambos álico e distófico, A moderada a fraca, fase cerrado subcaducifólia e cerrado subcaducifólia/caatinga, relevo plano e suave ondulado e substrato arenoso + Afloramento de rocha. R4 Associação: Solos litólicos A moderado e fraco, textura média e arenosa, fase pedregosa e rochosa, substrato arenítico + PLINTOSSOLO concrecionário, A moderado, textura média + PLINTOSSOLO Tb A fraco e moderado, textura média, todos álico e distrófico, fase cerrado subcaducifólia/ caatinga com e sem carnaúba, relevo plano e suave ondulado. R7 Associação: solos litólicos, textura média e arenosa, fase pedregosa e rochosa, relevo ondulado a montanhoso, substrato de arenito + ARGISSOLO VERMELHO-AMARELO concrecionário raso e não raso plíntico e não plíntico, textura média e textura meda/argilosa, fase relevo suave ondulado a fortemente ondulado, ambos álico e distrófico, A moderado e fraco, fase erodida e não erdita + Afloramento de rocha. R12 Associação: solos litólicos álicos distróficos e eutróficos, textura média e arenosa, fase pedregosa e rochosa e hiporochosa, cerrado caducifólia/caatinga, relevo plano a suave ondulado, substrato de siltito e arenito e/ou folhelho + 259

260 PLANOSSOLOS Taeutófico sólido e não sólido, textura arenosa e média/ média e argilosa, caatinga hipoxerófila com carnaúba, floresta tropical ciliar de carnaúba, relevo plano. Ambos A fraco e moderado + Afloramento de rocha. R26 Associação: solos litólicos eutróficos e distróficos, textura arenosa e média, fase pedregosa e rochosa, substrato de ganisse e granito e/ou quartzito + ARGISSOLO VERMELHO- AMARELO concrecionário eutrófico, raso e não raso plíntico e não plintico, textura média e média/argilosa, fase relevo suave ondulado a fortemente ondulado + BRUNO NÃO CÁLCICO vértico e não vértico, textura média/argilosa, fase pedregosa, relevo suave ondulado e ondulado, todos A fraco e moderado. PV16 Associação: ARGISSOLO VERMELHO-AMARELO concrecionário plíntico e não plíntico, textura média e média/argilosa + solos LITÓLICO, textura média, fase pedregosa a rochosa, ambos álico e distrófico, A moderado, fase cerrado subcaducifólia e/ou cerrado subcaducifólia/caatinga, relevo suave ondulado a fortemente ondulado. PT11 Associação: PLINTOSSOLOS CONCRECIONÁRIO A moderado, textura média e média/argilosa + PLINTOSSOLOS A fraco e moderado, textura arenosa e média/média e argilosa, fase pedregosa concrecionária e não pedregosa + ARGISSOLO VERMELHO-AMARELO plíntico, A fraco e moderado, textura média e média/argilosa, fase pedregosa concrecionária, todos Tb álico e distrófico, fase complexo de Campo Maior, relevo plano e suave ondulado. LV16 Associação: LATOSSOLO VERMELHO-MARELO + LATOSSOLO AMARELO, ambos distrófico e eutrófico + LATOSSOLO VERMELHO-ESCURO eutrófico, todos de textura média e argilosa, fase relevo plano e suave ondulado + ARGISSOLO VERMELHO-AMARELO concrecionário distrófico e eutrófico, raso e não raso, plíntico e não plíntico, textura média e média/argilosa, fase relevo suave ondulado e ondulado, todos A moderado, fase caatinga hipoxerófila. Figura 4- Esboço pedológico do município de Sigefredo Pacheco-Piauí. Fonte: Dados da Embrapa (1983). Elaborado por Frota,

261 Aspectos Climáticos Dados da CPRM (2004) apontam que as condições climáticas do município de Sigefredo Pacheco (com altitude da sede a 230 m acima do nível do mar) enquadram-se no clima tropical quente (Semi árido), apresentando temperaturas mínimas de 22 º C e máximas de 35 º C no ano. A precipitação pluviométrica média anual é definida no regime equatorial marítimo, com isoietas anuais entre 800 a mm, cerca de 5 a 6 meses como os mais chuvosos e período restante do ano de estação seca. Os meses de fevereiro, março e abril correspondem ao trimestre mais úmido da região. Aspectos Hidrográficos Os principais cursos d água que drenam o município de Sigefredo Pacheco-PI são: o rio dos Canudos e os riachos Foge Homem e dos Veados, que por sua vez são afluentes do rio Poti. O município possui uma rede de drenagem local composta por pequenos riachos intermitentes e perenes, assim como um numero considerável de nascentes, que facilitam a cultura de lavouras temporárias e intermitentes sem a utilização de técnicas mais elaboradas como a de irrigação. Conforme pode-se observar na (figura 5) o município apresenta um padrão de drenagem do tipo dentrítico, mostrando que não há nenhuma orientação evidente dos canais na parte mais baixa do município, que corresponde a região mais ao sul e na parte mais alta (norte do município) há presença de padrões de drenagem paralela, onde os canais formam ângulos muito agudo. De acordo com dados da CPRM (2004) as características litológicas da Formação Cabeças indicam boas condições de permeabilidade e porosidade, favorecendo assim o processo de recarga por infiltração direta das águas de chuvas. Tal formação se constitui num importante elemento de armazenamento de água subterrânea do município, principalmente por ocorrer em aproximadamente 80% da área do mesmo. As formações Longá e Poti, pelas suas constituições litológicas quase que exclusivamente de folhelhos, que são rochas que apresentam baixíssima permeabilidade e porosidade, não apresentam importância hidrogeológica. Já a s rochas dos domínios colúvio-eluviais não se caracterizam como potenciais mananciais de captação d água, pois suas unidades litológicas são delgadas e pouco favoráveis à acumulação de água subterrânea. Afloram de forma isolada na porção sudeste do município. 261

262 Figura 5 - Rede Hidrográfica do município de Sigefredo Pacheco-Piauí Fonte: Dados da DSG (2005): Elaboração Frota, Aspectos Vegetacionais De acordo com Emperaire (1983) no relatório da vegetação do Piauí realizado pela SUDENE, o estado do Piauí pode ser considerado como uma zona de transição, onde predominam quatro tipos vegetacionais: formações litorâneas; formações de palmeiras; cerrado e caatinga. Com base nesse estudo e em campo, no caso do município de Sigefredo Pacheco-Piauí este, encontra-se inserido no bioma da caatinga, incluído na formação caducifólia e pode-se observar uma enorme variação de caatinga arbustiva a caatinga arbórea, com uma enorme presença de carnaúbas e cajueiros. Declividade Conforme mostra a figura 6 pode-se observar que o município apresenta cinco classes de declividade, estas variando de plano a fortemente ondulado seguindo a classificação de Ramalho Filho e Beek (1995), porém adaptadas de acordo com os declives apresentados na área de estudo. Em sua maior parte, o município apresenta áreas bastante planas, variando de (0 a 3% de declive) principalmente na região norte, onde observou-se que, boa parte das terras não estão suscetível a erosão e áreas bastante íngremes na porção oeste do município variando até 29%, estas por sua vez, apresentam um grau de suscetibilidade a erosão maior levando em consideração os princípio de Ramalho Filho e Beek (1995). 262

263 Figura 6 - Mapa de Declividade do Município de Sigefredo Pacheco-PI. Fonte: Dados SRTM. Elaboração Frota, Através do MDE adquirido nas imagens SRTM foi possível identificar as classes de altimetria presentes no município de Sigefredo Pacheco - PI, onde através do aplicativo ArcGis o MDE foi reclassificado gerando nove classes de altimetria, estas por sua vez, variando de 154 a 331 metros. Esta reclassificação ajudou na separação das áreas mais elevadas para as áreas mais rebaixadas existentes no município. Dessa forma, pode observar que as áreas mais elevadas do município encontram-se na região norte, onde está localizada a sede do município e já as áreas mais rebaixadas estão localizadas mais na região sul do município. (Ver Figura 7). Figura 7 Classes de Altimetria do Município de Sigefredo Pacheco PI. Fonte: Dados SRTM. Elaboração Frota,

264 CONCLUSÃO A utilização de tecnologias em levantamentos de campo e em análise de laboratório destacam o avanço do conhecimento das características da área do município de Sigefredo Pacheco - PI. Desta forma, se faz necessário expor resultados da pesquisa ressaltando as principais características da área. Dessa forma, compreendemos as características geoambientais do município como um sistema integrado, onde as estruturas geológicas explicam a formação do relevo desenvolvidos no Planalto oriental da bacia do Maranhão-Piauí e nos Baixos Planaltos do Médio-Baixo Parnaíba, com declividades variando de 0 a 8% e com altitudes variando de 154 a 331 metros. Sua litologia formada por rochas de origem sedimentar, constituídas de arenitos, siltitos e folhelhos, destaca a origem de solos rasos, pedregosos e com pouca drenagem, inviabilizando a sustentabilidade da vegetação de caatinga, dificultando assim, a agricultura. Seu clima Semi-Árido reforça esse sistema com suas altas temperaturas, baixas médias pluviométricas, dentre outras características que influenciam o sistema hidrográfico apresentando bastantes rios temporários. REFRÊNCIAS AGUIAR, R. B. de. Projeto cadastro de fontes de abastecimento por água subterrânea, estado do Piauí: diagnóstico do município de Sigefredo Pacheco/ Organização do texto [por] Robério Bôto de Aguiar [e] José Roberto de Carvalho Gomes - Fortaleza: CPRM - Serviço Geológico do Brasil, BALLESTRI e MEZZOMO. Caracterização Geoambiental e identificação de problemas ambientais nas nascentes do Rio do Campo, Campo Mourão-PR. In: SEMINÁRIO DE EXTENSÃO E INOVAÇÃO DA UTFPR 4º SEI-UTFPR, Câmpus Cornélio Procópio PR. p BEZZERRA JUNIOR, José Roberto Olímpio; SILVIA, Nubélia Moreira. CARACTERIZAÇÃO GEOAMBIENTAL DA MICRORREGIÃO DO SERIDÓ ORIENTAL DO RIO GRANDE DO NORTE. Revista Holos, Ano 23, Vol BRASIL. Ministério do Exército Diretoria do Serviço Geográfico. Região Nordeste do Brasil. Folha SB.24-V-C-I Conceição[S.I.]: SUDENE/DSG, Escala: 1: BRASIL. Ministério do Exército Diretoria do Serviço Geográfico. Região Nordeste do Brasil. Folha SB.24- V-A-IV Castelo. [S.I.]: SUDENE/DSG, Escala: 1: COSTA, S. S. de L; MORAES, M. V. A. R.; PORTELA, J. P. Compartimentação geoambiental do município de Demerval Lobão, Piauí. Revista REGNE, Vol. 1, N. 02, 2015 CPRM. Serviço Geológico do Brasil. Mapa Geológico do Estado do Piauí: 2ª versão. Piauí: CPRM, CD Rom. Escala 1:

265 EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA (EMBRAPA). Levantamento Exploratório - Reconhecimento de solos do Estado do Piauí. Embrapa Solos, Rio de Janeiro, EMPERAIRE, Laure. Delimitação e regionalização do Brasil semi-árido: Relatório da vegetação do Piauí. CNPq, SUDENE, LIMA, Iracilde Maria de Moura Fé. RELEVO PIAUIENSE: uma proposta de classificação. Carta CEPRO. Teresina. v.12 n.2 p Ago/Dez, MEDEIROS, Rafael Brugnolli; SÃO MIGUEL, Angélica Estigarribia; BRUGNOLLI, Cláudia Aparecida Coronado. CARACTERIZAÇÃO FISIOGRÁFICA DA BACIA HIDROGRÁFICA DO CÓRREGO DAS MARRECAS, DRACENA/SP. Anais... X Fórum Ambiental da Alta Paulista, v. 10, n. 2, 2014, pp OLIVEIRA, João Henrique Moura; CHAVES, Josélia Maria. Mapeamento e caracterização geomorfológica: Ecorregião raso da catarina e entorno NE da Bahia. RM, SANTOS, R. F. dos (ORG.). Vulnerabilidade Ambiental - Desastres Naturais ou Fenômenos Induzidos? Brasília: MMA, p. TRICART, Jean. Ecodinâmica. Rio de Janeiro: Superintendência de Recursos Naturais e Meio Ambiente, 1977, 97p 265

266 IMPACTOS AMBIENTAIS NO MUNICÍPIO DE QUIXADÁ CE: O CASO DOS MONUMENTOS NATURAIS DE QUIXADÁ Andressa Souza Albuquerque Mestranda em Geografia da Universidade Estadual do Ceará. andressa.albuquerque@hotmail.com Flávia Cristina da Silva Sousa Taleires Mestranda em Geografia da Universidade Estadual do Ceará. flaviataleires@gmail.com Eixo temático: Geotecnologias e abordagens em Geomorfologia Resumo: O trabalho consiste na analise geoambiental integrada procurando identificar as potencialidades e limitações dos ambientes, tendo em vista que área possui grande potencial paisagístico e histórico que vem sofrendo impactos negativos. Foram levados em conta aspectos sociais, econômicos e a historia do município. Os questionamentos feitos foram acerca da influência dos monólitos sobre o município baseados na percepção que a população tem sobre a importância desses monumentos que são patrimônio natural. Para a concretização desse trabalho foi utilizada a análise geossistêmica, onde foi levado em conta o papel humano na transformação da paisagem com o uso e ocupação do espaço, e sua interação com a natureza, ou seja, sociedade, natureza e homem são um dos grandes desafios do estudo das paisagens. Foram identificados os principais impactos ambientais na área como a retirada da vegetação caatinga, uso indevido do solo e vandalismo como os inselbergs. Palavras chaves: Monólitos de Quixadá, Impactos ambientais, Uso e Ocupação e Unidade de Conservação. Abstract: The work consists of the integrated geoenvironmental analysis seeking to identify the potentialities and limitations of the environments, considering that area has great landscape and historical potential that has been suffering negative impacts. Social, economic aspects and the history of the municipality were taken into account. The questions asked were about the influence of the monoliths on the municipality based on the perception that the population has about the importance of these monuments that are natural patrimony. For the accomplishment of this work, geosystemic analysis was used, where the human role in the transformation of the landscape with the use and occupation of space was taken into account, and its interaction with nature, that is, society, nature and man are one of the great challenges of landscape study. The main environmental impacts were identified in the area such as the removal of caatinga vegetation, improper land use and vandalism such as inselbergs. Keywords: Monoliths Quixadá, Environmental, Use and Occupancy and Conservation Unit. 266

267 INTRODUÇÃO A natureza é objeto de constante transformação por causa da ação humana, tornando uma realidade social e não exclusivamente natural, sendo também um espaço ou espaço geográfico que será levado em conta pelo geógrafo. Nos séculos XIX e XX como os avanços tecnológicos e científicos da Revolução Industrial e da pós Revolução, segundo Leite (2010) houve um aumento na exploração dos recursos naturais para atender uma demanda do mercado consumidor, com isso acarretou uma crise ambiental onde foi posto os interesses do homem, o desenvolvimento, a natureza, preservação e o equilíbrio ambiental. O desenvolvimento sustentável de uma região, principalmente quando esta se encontra localizada no semiárido, está intimamente ligado à gestão e uso racional de seus recursos naturais, de modo a satisfazer as necessidades da população atual e assegurar o uso para as gerações futuras, mas foi na década de 70 com a Conferência de Estocolmo que o meio ambiente foi tratado como um bem a ser protegido independente dos interesses do homem. Dessa forma o município de Quixadá possui uma beleza única, de grande potencial ecológico e paisagístico e de fragilidade ambiental, intermitência hidrográfica, solos rasos e pedregosos, vegetação caatinga marcada pelo uso e ocupação esordenado com intenso desmatamento do bioma e atividades agrosilvopastoris. (SOUZA, 2011) A área de estudo está inserida no nordeste cujo domínio morfoclimatico semiárido consistiu em temperaturas médias sua paisagem é marcada por relevos baixos, desgastados, arrasados, áreas deprimidas, pediplanados com presenças de inselbergs. Os inselbergs ou monólitos aparecem contornando todo o município de Quixadá, essas formações rochosas tem grande importância para região, seja elas culturais, ambientais ou até mesmo religiosas, em 2004 foi tombado como patrimônio nacional pelo IPHAN e em 2010 se tornou membro da Associação Internacional das Montanhas Famosas (World Famous Mountains Association WFMA) apesar dos inselbergs não serem montanhas. (COSTA, 2012) Um dos motivos para os monólitos virarem patrimônio natural é sua formação geológica do período pré-cambriano, ou seja, seu aparecimento antes mesmo da vida terra. Mesmo sendo patrimônio natural os monólitos estão sofrendo com as ações da sociedade sendo pichado ou servido como outdoor para pequenas empresas. Quixadá registra riquezas paleontológicas e eventos históricos com a construção do açude Cedro pelo D. Pedro II em virtude da grande seca da época. O açude atualmente passa por um processo de recuperação, visto a sua importância para o município. 267

268 Com o aumento da população a cidade passou por um processo de urbanização de 70% nos últimos 10 anos, o avanço se deu de forma rápida fazendo com que Quixadá não acompanhasse o processo da mesma forma, isso gerou problemas de origem urbano e ambiental. Assim houve um aumento na produção agrícola, pecuária, extrativismo e produção de resíduos, essas atividades sem controle, aplicados de formas indevidas causam impactos ambientais negativos como o desmatamento desordenado, susceptibilidade a desertificação e perda do potencial paisagístico. Essa prática são muito comuns no semiárido, à exploração pecuária tem modificado a composição florística do estrato herbáceo seja pelo uso irregular ou pela pressão de pastejo. A exploração agrícola vem com itinerante do desmatamento, queimadas desordenadas e o uso de insumos têm modificado tanto o estrato herbáceo como o arbustivo-arbóreo, da mesma forma a exploração madeireira tem causado mais danos à vegetação lenhosa da caatinga do que a agricultura migratória (ARAÚJO FILHO, 2004). Como consequência desse modelo predatório, Santos (2008) nos diz que em Quixadá se faz sentir principalmente que os recursos naturais renováveis da caatinga sofrem perdas irrecuperáveis, acelerando o processo de erosão e o declínio da fertilidade do solo bem como da qualidade da água pela sedimentação. Muitas dessas atividades acontecem em áreas que eram para ser protegidas como as Unidades de Conservação UC, essa tem como objetivo a manutenção da diversidade biológica e do equilíbrio ecológico. O trabalho buscou uma analise ambiental do município, levando em conta aspectos socioeconômicos, através de revisão bibliografia e materiais publicados na internet, propondo evidenciar os principais problemas ambientais encontrados, em áreas foram tombadas como patrimônio nacional e natural, confrontando a realidade destas. METODOLOGIA Primeiramente foi realizado um estudo sobre a área para que se pudesse nas observações de campo identificar pontos de impactos ambientais. Posteriormente houve o segundo momento o qual se caracteriza pela ida ao campo onde foram feitas explanações e observação. No terceiro momento passou-se ao estudo de uma revisão da literatura no qual é feita uma reflexão sobre os geossitemas vistos em campo. Durante todo o percurso fez-se o uso do material cartográfico já difunde tanto para o mapa de localização da área de estudo e foi utilizado o uso do GPS para coleta de pontos das áreas que sofreram algum impacto. 268

269 Nas etapas de trabalho, realizamos a pesquisa bibliográfica particularizada acerca dos componentes ambientais de Quixadá e sobre os processos desenvolvidos no meio físico em estudo, que contextualizam e justificam o estudo dos aspectos socioambientais da área para compreender de forma integrada a relação dos aspectos físicos da natureza e o agente social e como essa relação imprime mudanças no ambiente, principalmente quanto os impactos ambientais. Observações tomadas em campo a respeito os aspectos ambientais naturais da área e sobre as relações sociais estabelecidas e como elas influenciam na dinâmica da região, e os registros fotográficos realizados durante todo o percurso, serviram de base comparativa com as informações obtidas durante o estudo bibliográfico. RESULTADOS E DISCUSSÕES A área do município (Figura 01) em estudo é de 2.019,82Km² (IPECE 2012). Está situado entre os seguintes limites: Ao sul com os municípios de Quixeramobim, Banabuiú; ao leste com Banabuiú, Morada Nova, Ibicuitinga, Ibaretama; ao norte com Ibaretama, Itapiúna, Choró e a Oeste com Choró, Quixeramobim. Localiza-se na microrregião do Sertão de Quixeramobim, apresentando altitude de 190 m e coordenadas 4º de latitude sul e 39º de longitude. O município possui clima Tropical Quente Semiárido com temperaturas que variam de 26 a 28 C, onde a pluviosidade media é de 838,1mm tendo o período chuvoso entre Fevereiro a Abril. Figura 01: Mapa de localização do Município de Quixadá- CE Fonte: ALBUQUERQUE,

270 OS INSELBERGS E OS IMPACTOS AMBIENTAIS Os campos de inselbergs são encontrados ao redor de Quixadá, Ab Sáber (2003) fala que a característica geoambiental desta região possui hidrografia dotada de intermitência de rios e riachos, devido às elevadas temperaturas e irregularidades das chuvas, à infertilidade de solos e consequentemente desnudação juntamente como o uso inadequado dos recursos ambientais do bioma caatinga, pela agropecuária. Devido o uso indevido devido desse ambiente foi elaborado um quadro com os principais impactos ambientais e sua localização geográfica. Como mostra no quadro 1. Quadro 01: Principais impactos ambientais. Localização (UTM) Atividade Impacto m E m S m E m S m E m S m E m S m E m S m E m S Agricultura de subsistência Desmatamento Lixo (Garrafas Pet, latinhas de cerveja e material plástico) Pichação dos Inselbergs Foco de Lixo Açude Poluído Fonte: ALBUQUERQUE, Retirada da vegetação, aplicação de insumos, contaminação no solo, contaminação do lençóis freáticos e degradação do solo. Empobrecimento do solo, Probabilidade à desertificação Poluição do solo, perda do potencia paisagístico, perda da qualidade de vida, população propicia a doenças. Perda do potencia paisagístico Poluição do solo, perda do potencia paisagístico, perda da qualidade de vida, população propicia a doenças. Perda da biodiversidade falta peixe e a aumento de chances da população ter doenças 270

271 Por ser uma paisagem rara e de grande beleza cênica ela precisa de proteção e cuidados, em 2002 criou-se a UC e em 2004 o IPHAN tombou os monólitos de Quixadá como patrimônio nacional. A associação das montanhas famosas - WFMA percebeu que os monólitos de Quixadá têm um potencial e uma beleza que ainda é pouco explorada sustentavelmente. (COSTA, 2012) Mesmo sendo patrimônio nacional os monólitos vem sofrendo com pichações e propagandas de pequenos empresários locais (Figura 02). Na Figura 03 mostra a poluição visual na principal barragem do açude cedro que é um ponto turístico. Figura 02: Monólito pintado na entrada da cidade de Quixadá. Fonte: ALBUQUERQUE, Com os impactos ambientais (pichação, desmatamento e poluição) acabam perdendo o potencial paisagístico e consequentemente acabam afastando o turista. Na aplicação dos questionários sabe que 67% da população sabem que os monólitos são patrimônio e devem ser conservados e 33% dos entrevistados desconhecem da proteção de ambiente. USO E OCUPAÇÃO DO MUNICÍPIO: POTENCIALIDADES E LIMITAÇÕES Segundo Rodrigues (2006) o termo Uso do Solo se encontra diretamente associado às atividades da sociedade associadas a terra, com a intenção de obter produtos e benefícios, através do uso dos recursos desta. Historicamente sabe-se que o interior do Ceará foi ocupado em função da criação de gado e lavouras de subsistência. Essa ocupação sempre se deu as margens de rios e corpos d água, visando à sustentação das atividades econômicas e das necessidades humanas. 271

272 Ate hoje esse modelo persiste na Figura 03 podemos ver uma plantação de feijão, milho, mandioca, batata, frutas, hortaliças, entre outros. Figura 03: Agricultura próxima ao açude Cedro. Fonte: ALBUQUERQUE, Esse modelo é desenvolvido em um pequeno espaço se comparado a áreas rurais mecanizadas, onde sua produção também e inferior. Contudo, o produtor rural estabelece relações de produção para garantir a subsistência da família e da comunidade a que pertence. Na Figura 04, mostra a agricultura de subsistência próxima ao açude Cedro, o local faz parte da UC de Quixadá, onde a vegetação foi retirada para a prática de subsistência. Figura 04 - Agricultor preparando a terra para a plantação.. Fonte: ALBUQUERQUE,

273 A agricultura de subsistência se caracteriza pela utilização de métodos tradicionais de cultivo, realizados por famílias camponesas ou por comunidades rurais. Os principais impactos e riscos de ocupação estão relacionados no quadro 03. Tais problemas originam consequências na perda da qualidade ambiental - principalmente dos recursos naturais renováveis e na qualidade de vida da população. A exploração do solo dá-se de maneira intensa nos períodos de transição entre temporada chuvosa e estiagem (BRAÚNA, 2009). É possível notar o agricultor (Figura 05) utilizando agrotóxico na plantação sem a utilização de um material de proteção podo em risco á sua saúde e a contaminação da flora, fauna e água. Figura 05: Agricultor aplicando agrotóxicos na plantação. Fonte: ALBUQUERQUE, O modelo de uso pode gerar desequilíbrios, considerando as plantas parte do ecossistema de suma importância em função da conservação do meio ambiente. A utilização de técnicas de manejo que não consideram as particularidades do solo e do clima locais contribuem para a extensão e intensidade da degradação dos solos, com redução crescente dos sistemas naturais no município e aumento de áreas degradadas. Podemos citar os principais impactos negativos: ocupação agrícola as seguintes: redução da diversidade das espécies, pela construção de infraestrutura; erosão das margens, devido à diminuição da cobertura vegetal e aumento do escoamento superficial; contaminação da flora, fauna e água por agrotóxicos; diminuição do volume de água; incluindo danos sobre a saúde humana, tendo em vista o desmatamento. Abaixo segue as atividades e as medidas que podem mitigar segundo Braúna (2009) os efeitos da degradação: 273

274 Agricultura: Não utilização de práticas de queimadas, buscando orientação com órgãos competentes; Utilização de rotação de culturas e variedade de plantas geneticamente resistentes; Manter a cobertura do solo; Redução da utilização de maquinas pesadas, diminuindo a pressão exercida sobre o solo. Adubação orgânica para se manter os níveis de matéria orgânica no solo; Manejo correto do solo; Cultivos integrados, com rotação e pousio; Pecuária: Executar rotação de pastos; Instalar em locais estratégicos fontes de água e sal; Programar políticas de recursos hídricos de forma a garantir o suprimento de água das unidades produtivas nos períodos secos. Limitar o número de animais por área programar replantio e uso de forragens; Restringir o acesso de animais às áreas instáveis como encostas; Adotar medidas de controle a erosão. Extrativismo: Implantação de medidas de proteção à vegetação, cortinas às vegetais; Proteção das matas ciliares; Planejamento do uso e ocupação do solo, especialmente em torno das áreas mineradas; Levantamento de todas as interferências sobre as águas superficiais. CONCLUSÃO A partir das análises realizadas pode-se verificar que a paisagem natural tem grande importância para o município de Quixadá, seja na questão do lazer, cultural, religiosa ou econômica. Com a delimitação das unidades geoambientais, poderá servir de base para o estabelecimento de estratégias de ordenamento ambiental em função de suas peculiaridades próprias, como a capacidade de carga, estado de conservação/uso e ocupação, possibilidades de regeneração, interesses sociais, entre outros. Com o trabalho de campo foi possível evidenciar que áreas com potencial foi encontrado próximo às zonas turísticas, como no caso da Serra do Estevão, Serra do Urucum e o açude Cedro. Outro ponto a ser discutido é a elaboração do questionário que permitiu a compreensão da percepção da população sobre o patrimônio natural e quais os seus benefícios. Acredita-se, portanto, que esse trabalho pode ser uma contribuição para a compreensão do espaço geográfico em questão, e um subsídio para que realmente se estabeleça um plano de gestão local, onde a participação comunitária nas decisões das ações de gestão seja uma realidade. REFERÊNCIAS ARAÚJO FILHO, J.A.; (2004) Sistemas agroflorestais sustentáveis pecuários para regiões semiáridas. 22p. 274

275 BRAÚNA, A. L. SOUZA, M. J. N. de. ANÁLISE DA DEGRADAÇÃO AMBIENTAL NA SUB- BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO GROAÍRAS ACARAÚ CEARÁ BRASIL. Anais do simpósio de Geografia Física e Aplicada. Eixo 04, Viçosa-MG, COSTA, F.F.T; SILVA, L. Os Monólitos de Quixadá e os Impactos do Título Internacional de Montanhas Famosas da World Famous Mountains Association WFMA. VII CONNEPI Congresso Norte Nordeste de Pesquisa e Inovação. Palmas - Tocantins GONÇALVES, L.DA S. Turismo cultural como instrumento de desenvolvimento municipal Estudo das potencialidades do município de Quixadá. Monografia, IBGE >> IPECE. Perfil básico municipal 2012 Quixadá MARENGO, J. A. Vulnerabilidade, impactos e adaptação à mudança do clima no semi-árido do Brasil. Parcerias Estratégicas. Brasília, DF. N disponivel >> << acesso 06 de Maio de às 15:00 hs LEITE, J. R. M. ; DANTAS, M. B. ; PILATTI, L.. Direito Ambiental Simplificado. 1. ed. São Paulo: Editora Saraiva, MARENGO J.A.; ALVES, L. M; BESERRA, E. A.; LACERDA, F. F. Variabilidade e mudanças climáticas no semiárido brasileiro. Instituto Nacional do Semiárido, Campina Grande PB, Disponível >> << acesso 06 de Maio de as 14:42hs. MEDEIROS, R.; Young; C.E.F.; Pavese, H. B. & Araújo, F. F. S Contribuição das unidades de conservação brasileiras para a economia nacional: Sumário Executivo. Brasília: UNEP-WCMC, 44p MMA. Caatinga. Disponível em:> acesso em 01 de Abril de MMA. Gestão dos recursos naturais: subsídios à elaboração da Ageda 21 brasileira. Brasília: Ministerio do Meio Ambiente; Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renóvaveis; Consórcio TC/BR/ FUNATURA, RODRIGUEZ, J.M.M. SILVA, E.V., CAVALCANTI, A.P.B. Geoecologia das Paisagens. Uma visão geossistêmica da análise ambiental. Fortaleza: Editora UFC, P SOUZA, M. J. N.; MORAIS, J.O. de; LIMA, L. C.. Compartimentação Territorial e Gestão Regional do Ceará. Fortaleza: Fortaleza, SOUSA, S. A. M. DE. Avaliação de Implementação de Uma Unidade de Conservação de Proteção Integral: O caso do Monumento Natural dos Monólitos de Quixadá-CE / Samuel Antônio Miranda de Sousa. Fortaleza,

276 A ESPETACULARIDADE CÊNICA DE GEOFORMAS NO SUDESTE PIAUIENSE COMO FONTE DE CONTEMPLAÇÃO DA PAISAGEM E SUPORTE PARA O GEOTURISMO José Francisco de Araújo Silva Universidade Federal do Piauí Mestre em Geografia jfaraujo6@hotmail.com Cláudia Maria Sabóia de Aquino Profª. Dra. em Geografia, Universidade Federal do Piauí cmsaboia@gmail.com Hikaro Kayo de Brito Nunes Universidade Federal do Piauí Mestre em Geografia hikarokayo2@hotmail.com Eixo Temático: Paisagem, Geodiversidade e Patrimônio Geomorfológico. RESUMO: Este estudo teve como objetivo apresentar a espetacularidade cênica de geoformas localizadas no Sudeste Piauiense (nos seguintes municípios: São José do Piauí, São João da Canabrava, Bocaina e Sussuapara), apresentando-os como fonte de contemplação da paisagem e suporte para o Geoturismo. A metodologia utilizada foi sustentada em três etapas distintas, a saber: (i) atividades de gabinete, com levantamento bibliográfico e conceitual, além da caracterização preliminar fisiográfica da área; (ii) atividades de laboratório, com pesquisas em estudos técnicos de órgãos públicos, com vistas a um maior conhecimento sobre o Patrimônio Geomorfológico da área, além da elaboração de material cartográfico com auxílio dos softwares QGis (versão ) e ArcGis (versão 10.3); e (iii) pesquisa de campo, levantamento fotográfico com vistas a compreender a verdade terrestre e a própria paisagem da área. As seis geoformas estudadas são conferidas de grande beleza cênica, que, não possuem apenas possibilidade de contemplação, mas também a própria relação com a compreensão e estudo da paisagem (atual e mudanças pretéritas) e do modelado terrestre, fazendo com que haja uma forte interação destas com a atividade geoturística na área, podendo propiciar ainda um relativo desenvolvimento local. Palavras-chave: Geoformas; Paisagem e Geoturismo; Sudeste Piauiense. ABSTRACT: This study aimed to present the scenic spectacle of geoforms located in Southeast Piauiense (in the following municipalities: São José do Piauí, São João da Canabrava, Bocaina and 276

277 Sussuapara), presenting them as source of contemplation of the landscape and support for Geotourism. A methodology used and sustained in three distinct stages, namely: (i) cabinet activities, with a bibliographical and conceptual survey, in addition to the preliminary physiographic characterization of the area; (ii) laboratory activities, with researches in technical studies of public agencies, with a view to a better knowledge of the Geomorphological Patrimony of the area, besides the elaboration of cartographic material with the help of QGis (version ) and ArcGis 10.3); and (iii) field research, photographic survey to understand the terrestrial truth and the landscape of the area. The six geoforms studied are conferred of great scenic beauty, which, not only have the possibility of contemplation, but also the relation itself to the understanding and study of the landscape (current and previous changes) and the terrestrial modeling, causing a strong interaction with the Geotourism activity in the area, and may provide a relative local development. Key words: Geoforms; Landscape and Geotourism; Southeast Piauiense. INTRODUÇÃO Por muito tempo a ideia de paisagem esteve atrelada a beleza natural de ambientes representativos da superfície. Embora ainda seja muito comum esta associação, a paisagem, relevase não apenas como fonte de contemplação, mas também como suporte para investigações científicas das mais variadas áreas do conhecimento. Ressalta-se, entretanto, que se tratando de paisagens espetaculares do ponto de vista estético, como áreas de relevo ruiniforme, por exemplo, torna-se mais fácil essa relação. É nesse ínterim, que, dentre as esferas em que o Geoturismo pode se associar destacam-se: contemplação da paisagem, investigação científica e desenvolvimento local. Nessa lógica e de acordo com estudos de Manosso (2009), desde o século XIX a definição de paisagem carrega além da acepção pictórica, a qual é muito relacionada à questão estética, cientificidade especialmente nos estudos geográficos que relacionam a temática ao conjunto de formas que caracterizam parte da superfície (encaradas nesse estudo como geoformas). Nesse sentido, torna-se interessante analisar a relação entre a paisagem e os estudos relativos à Geodiversidade e, especialmente, ao Patrimônio Geomorfológico, bem como o vínculo deste e o Geoturismo. A temática Geodiversidade trata-se de um campo recente na literatura científica internacional, utilizada inicialmente, em especial, por geólogos e geomorfológos no início da década de 1990 (GRAY, 2004), embora o uso do termo já exista pelo menos desde a década de 1940, no entanto, com sentido diferente do atual (SERRANO E RUIZ FLAÑO, 2007). A Geodiversidade pode, em resumo, ser compreendida como toda a porção abiótica da natureza. Brilha (2005, p. 17) assume a definição da Royal Society for Nature Conservation do Reino Unido que conceitua Geodiversidade como a variedade de ambientes geológicos, fenômenos e processos activos que dão origem a paisagens, rochas, minerais, fosséis, solos e outros depósitos superficiais que são suporte para a vida na terra. Ainda conforme o autor supramencionado, compreende não apenas os testemunhos oriundos de um passado geológico, mas também os processos naturais que ocorrem na atualidade originando novos testemunhos. 277

278 Conforme Meira (2016), tradicionalmente na conservação da natureza, contemplam-se aspectos relacionados à biodiversidade, relegando a segundo plano os elementos abióticos. Liccardo e Guimarães (2014) complementam esse raciocínio ao destacar que a existência da diversidade de formas de vida e suas associações, a qual chamamos de biodiversidade, de fato é melhor conhecida tanto pelo cidadão leigo quanto por cientistas, independente da área considerada, sendo que a natureza abiótica, a Geodiversidade, é visivelmente menos perceptível, apesar de nos deparamos cotidianamente com exemplos de que as paisagens, sejam elas urbanas ou rurais, têm rochas, solos e relevo distintos. Esse pensamento é ratificado por Brilha (2005) para quem além de minerais e rochas, essenciais na Geodiversidade, o clima é também muito importante, especialmente na formação de paisagens naturais, sendo a água e a temperatura essenciais no processo de modificação das paisagens naturais, muitas vezes deslumbrantes. Para Maciel e Marinho (2011), assim como para Cavalcanti e Viadana (2007), a paisagem representa a fisionomia, a morfologia ou a expressão formal do espaço geográfico. Deste modo, a paisagem está diretamente relacionada à Geodiversidade. Brilha (2005) corrobora desta concepção e acrescenta ainda que as paisagens correspondem a um dos motivos elementares a serem considerados quando se caracteriza a Geodiversidade. Ainda em se tratando da temática Geodiversidade é preciso destacar a parte desta dotada de valores excepcionais, a qual é denominada Patrimônio Geológico, que por sua vez funciona como um conceito guarda-chuva e inclui diversos tipos patrimoniais tais como Patrimônio Geomorfológico, Mineralógico, dentre outros. Por esse motivo, é também denominado como Geopatrimônio a fim de tornar mais ampla a conotação limitada que o termo geológico pode representar, embora estudiosos costumem segmentá-lo em diversos campos com o intuito de dar maior visibilidade aos demais elementos constituintes dessa parcela da Geodiversidade (MEIRA, 2016), a exemplo daqueles que compõem o Patrimônio Geomorfológico Para Pereira (2006, p. 333), o Patrimônio Geomorfológico é o conjunto de elementos geomorfológicos (geoformas, depósitos, processos) a várias escalas, que adquiriram um ou mais tipos de valor através da sua avaliação científica, os quais devem ser protegidos e valorizados. São os elementos geomorfológicos, constituintes do Patrimônio Geomorfológico, que se destacam nas paisagens uma vez que possuem uma variedade de cores, tamanhos e formas, funcionando como atrativos turísticos necessitando, portanto, serem conservados. A Geoconservação corresponde à preservação da diversidade natural, considerando os aspectos e processos geológicos, geomorfológicos e pedológicos significativos (SHARPLES, 2002). Uma das possibilidades para viabilizar a geoconservação de uma área é o uso geoturístico da mesma, desde que tal uso faça parte de um conjunto de estratégias que garantam a integridade do 278

279 local, possibilitando com isso associar espetacularidade cênica, contemplação e Geoturismo. Segundo Hose (1995) o Geoturismo compreende serviços e facilidades interpretativas a fim de permitir aos turistas a compreensão e aquisição de conhecimentos de um sítio e não apenas a sua apreciação estética. Para Ruchkys (2007) Geoturismo pode ser conceituado como um segmento do turismo cujo Patrimônio Geológico (Geopatrimônio) é o principal atrativo e busca a proteção deste através da conservação dos recursos que o compõem, bem como sensibilizando os turistas, tornando esse patrimônio acessível ao público leigo, além de promover sua divulgação e o desenvolvimento das geociências. Ciente da necessidade da divulgação dos elementos do Patrimônio Geomorfológico e do seu uso sustentável através do Geoturismo, o presente estudo resultado de uma pesquisa descritiva realizada por meio de atividades de gabinete e laboratório com levantamento bibliográfico e elaboração de material cartográfico, bem como por meio da pesquisa de campo com o levantamento fotográfico e caracterização da área, tem por objetivo apresentar a espetacularidade cênica de geoformas localizadas no Sudeste Piauiense, nos municípios de São José do Piauí, São João da Canabrava, Bocaina e Sussuapara, apresentando-os como fonte de contemplação da paisagem e suporte para o Geoturismo. MATERIAIS E MÉTODOS Trata-se de um estudo descritivo o qual busca apresentar a espetacularidade cênica de paisagens (geoformas) de áreas do Sudeste Piauiense. As etapas metodológicas seguidas para tanto compreenderam: (i) Atividades de gabinete, com levantamento bibliográfico acerca das temáticas: Paisagem, Geodiversidade, Patrimônio Geomorfológico e outras pertinentes ao estudo e posterior leitura, análise do referido material; (ii) Atividade de laboratório que compreendeu pesquisas referentes à geologia e geomorfologia em órgãos como Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM), Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), as quais possibilitaram maior conhecimento sobre o Patrimônio Geomorfológico da área bem como a caracterização preliminar da mesma por meio de compilação e elaboração de material cartográfico (utilização dos softwares: Qgis versão e ArcGis versão 10.3, esse último com licença do Laboratório de Geomática da Universidade Federal do Piauí); (iii) Pesquisa de campo, com levantamento fotográfico e caracterização das geoformas, além do entendimento através da verdade terrestre e da compreensão da paisagem. Neste trabalho foram selecionadas seis geoformas presentes em área de relevo ruiniforme, as quais infere-se uma espetacularidade cênica capaz de torná-las atrativas ao Geoturismo. São elas: 279

280 Lajedo mini Cidade de Pedras, Pedra Furada, Vale Ruiniforme, Pedra do Castelo, Mesa de Pedra e Pedra Casco de Tartaruga (SILVA, 2017). RESULTADOS E DISCUSSÕES As geoformas selecionadas estão localizadas nas fronteiras dos municípios piauienses de São José do Piauí, São João da Canabrava, Bocaina e Sussuapara, pertencentes à microrregião de Picos- PI, mesorregião Sudeste Piauiense (Figura 1). Figura 1 Municípios da área de estudo com destaque para a localização das geoformas estudadas Fonte: os autores (2017) Sobre o arcabouço geológico, a região faz parte do Grupo Canindé da Bacia do Parnaíba (GÓES e FEIJÓ, 1994; GÓES, 1995), tendo as Formações Cabeças e Pimenteiras, presentes na área (CPRM, 2014). De acordo com Lima e Brandão (2010) estas formações são compostas, em sua maioria, por arenitos, siltitos e folhelhos. No tocante à geomorfologia, conforme CPRM (2014) são registradas na região superfícies aplainadas dissecadas em interflúvios tabulares e superfícies dissecadas em ravinas e vales curtos e estreitos, com destaque para os relevos ruiniformes, os quais conforme Ab Saber (1977) resultam de processos geológicos e geomorfológicos, mais ou menos complexos, podendo ser enquadrados em paisagens de exceção, com vocação turística. O clima da região é, conforme classificação de Koppen, tropical semiárido (BSh) integrando o Domínio das Depressões Intermontanas e Interplanálticas das Caatingas, de acordo com a classificação de Ab Saber (1969). A área de estudo apresenta temperatura e pluviometria bastante 280

281 semelhantes, com temperaturas de 21ºC a 37ºC e isoietas anuais entre 800 e 1400 mm, com período mais chuvoso entre dezembro e março (AGUIAR; GOMES, 2004). Do ponto de vista hidrológico, são característicos da região a presença de rios, riachos e córregos efêmeros ou temporários, afluentes do Rio Guaribas, integrantes da Bacia do Canindé. Sobre o aspecto vegetacional, compreende-se o exposto por Silva (2017), sendo a área possuidora de caatinga arbustiva com incidência de cactáceas e bromeliáceas, sendo registradas ainda manchas de cerrado, uma vez que a região está em uma área de transição. Sobre as geoformas estudas, segue-se a seguinte caracterização: O Lajedo mini Cidade de Pedras (figura 2A), no limite territorial dos municípios de Bocaina e São José do Piauí, se apresenta em estrutura sedimentar formado por afloramento arenítico de média dimensão (100 m de comprimento por 30 de largura), no qual há a presença de microrelevos (demoiselles) formando pequenas torres de dimensões que variam entre 5 e 30 cm, resultado, principalmente da erosão pluvial, sendo possível encontrar ainda no local a presença de pequenas marmitas. Já a Pedra Furada (figura 2B), localizada no município de Bocaina, em formato de arco escavado em rocha arenítica, é fruto da erosão diferencial eólica e pluvial, associada ao intemperismo. No local são encontrados alvéolos de diferentes dimensões. Do arco formado no centro da Pedra Furada é possível ter uma visão panorâmica da área. Figura 2 Geoformas estudas. Em A, Lajedo mini Cidade de Pedras, e em B, Pedra Furada Fonte: pesquisa direta (2017) As duas geoformas apresentadas anteriormente se configuram como evidentes exemplares de formas de relevo que instigam a atividade geoturística tanto para a contemplação da paisagem quanto para fins científicos, haja vista as características das mesmas no que se refere aos condicionantes geológicos e geomorfológicos. 281

282 Já o Vale Ruiniforme (figura 3A), no município de Bocaina, composto preteritamente por relevos residuais de morros, morrotes, mesas e mesetas expostos ao intemperismo e ação da erosão diferencial eólica e pluvial que, associados à fragilidade do arenito conferiram a estes feições ruiniformes às quais se associam torres e pináculos em processo evolutivo semelhante ao apresentado na figura 3B. Figura 3 Geoforma estudada. Em A, Vale Ruiniforme, e em B, Esquema que representa a evolução do relevo para formação de feições ruiniformes. Fonte: A pesquisa direta (2017); B adaptado de Cristo (2013) Apreende-se que, assim como as duas geoformas caracterizadas anteriormente, o Vale Ruiniforme é detentor de uma vasta gama de possibilidades de ação geoturística e científica, tanto pelas características do relevo, com Mesas e Mesetas, quanto pelas formações de caráter excepcional, como as feições ruiniformes com tamanhos, formas e distribuição espacial distintas, conferindo a mesma uma grande capacidade visual e de beleza cênica/paisagística. A geoforma Pedra do Castelo (figura 4A), localizada no limite territorial entre Bocaina e São José do Piauí, se configura como um morro testemunho resultado do intemperismo na rocha arenítica. Encontra-se rodeada de pináculos, o que revela o desgaste dos platôs existentes na região em períodos geológicos anteriores. Os referidos pináculos são formados, portanto, pela progressão da capacidade erosiva com camadas horizontais na área de estudo, como pode ser verificado no esquema da figura 4B, até a formação da paisagem final, com a presença do modelado característico de ambientes ruiniformes com grande beleza cênica e satisfatória possibilidade geoturística. 282

283 Figura 4 Geoforma estudada. Em A, Pedra do Castelo, com destaque aos pináculos no seu entorno; e em B, processo de formação dos pináculos. Fonte: A pesquisa direta (2017); B Porcher (201?) A geoforma Mesa de Pedra (Figura 5), localizada no município de Bocaina, é caracterizada por ser relevo residual tabular em forma de meseta, com estratificação horizontal e com a presença de escarpas com penhascos de cerca de 20 metros de altura. Resulta da erosão diferencial, especialmente eólica e pluvial, associada ao desgaste natural oriundo dos variados tipos de intemperismo. Figura 5 Geoforma Mesa de Pedra Fonte: pesquisa direta (2017) A Pedra Casco de Tartaruga (figura 6), trata-se de uma geoforma erosional, composta por juntas poligonais que formam sulcos na rocha arenítica que tendem a se aprofundarem dando origem a pequenas colunas denteadas associadas à imagem de escama e/ou casco de uma tartaruga, podendo resultar, inclusive em pequenas torres. A mesma está localizada no município de São João da Canabrava. 283

284 Figura 6 Geoforma Pedra Casco de Tartaruga Fonte: Silva (2017) Como exposto na descrição das geoformas citadas, e como importante variável no âmbito do Geoturismo, o potencial didático/educacional é tido como de grande possibilidade, tendo em vista os múltiplos recursos e áreas do conhecimento que podem fazer uso das geoformas para aulas e pesquisas de campo. Entre as áreas do conhecimento, pode-se citar: Geografia, Geologia, Biologia, História, Antropologia, dentre outras, que, ao considerar objetivos distintos, podem fazer uso da mesma, quer seja pela estruturação geológico-geomorfológica, quer seja pela relação dos seres vivos com as geoformas, da capacidade dos agentes endógenos e exógenos na modelagem do relevo ou pela relação da área com a comunidade local e do entorno. A área, nesse sentido, possui atributos consideráveis para estudos tanto da educação básica, quanto do ensino superior, de modo a possibilitar a interpretação e contemplação da paisagem ora verificada, além de possibilidades de dinamização e atribuição de valor econômico o que auxilia no desenvolvimento da área (inclusos suas comunidades). CONSIDERAÇÕES FINAIS Como verificado no decorrer do estudo, o relevo é um importante elemento da paisagem, posto condicionar os fluxos de matéria e energia no sistema ambiental. Nesse sentido, as geoformas analisadas constituem testemunhos de processos pretéritos e atuais que se relacionam com as características naturais, bem como com as formas de uso da paisagem em questão. Ao se compreender as geoformas sob o viés da análise geográfica na interpretação da paisagem, foi possível inferir a potencialidade das mesmas dada suas espetacularidades paisagísticas para a atividade geoturística que, quando associada ao conhecimento científico, possibilita o 284

285 desenvolvimento local dos municípios de São José do Piauí, São João da Canabrava, Bocaina e Sussuapara. Vale ressaltar que a potencialidade geoturística, não se inclina apenas para a contemplação da paisagem, mas também para a situação de preservação e conservação dos referidos ambientes, das geoformas e da paisagem como um todo, além da possibilidade de incremento de ações educativas e de pesquisas e de desenvolvimento local. REFERÊNCIAS AB SABER, A. N. Domínios morfoclimáticos e províncias fitogeográficas do Brasil. Orientação, São Paulo, n. 3, Topografia Ruiniformes no Brasil. In: Geomorfologia. São Paulo: Universidade de São Paulo, Instituto de Geografia, AGUIAR, R. B.; GOMES, J. R. C. (Orgs.). Projeto cadastro de fontes de abastecimento por água subterrânea, estado do Piauí. Fortaleza: CPRM, CAVALCANTI, A. P. B.; VIADANA, A. G. Organização do espaço e análise da paisagem. Rio Claro, SP: UNESP, BRILHA, J. B. R. Patrimônio geológico e geoconservação: a conservação da natureza na sua vertente geológica. Braga: Palimage, CPRM. SERVIÇO GEOLÓGICO DO BRASIL. Sistema de geociências do Serviço Geológico do Brasil (GeoSGB). Base de dados (shapefiles): arquivos vetoriais Disponível em: < Acesso em 20 de Fev. de CRISTO, S. S. V. Abordagem Geográfica e Análise do Patrimônio Geomorfológico em Unidades de Conservação da Natureza: Aplicação na Estação Ecológica Serra Geral do Tocantins e Área de Entorno: Estados do Tocantins e Bahia. Porto Alegre, f. Tese (Doutorado em Geografia) Universidade Federal do Rio Grande do Sul. GÓES, A. M. A Formação Poti (Carbonífero Superior) da Bacia do Parnaíba. São Paulo, f. Tese (Doutorado em Geologia) Universidade de São Paulo GÓES, A. M., FEIJÓ, F. J. Bacia do Parnaíba. Boletim de Geociências da PETROBRAS. v. 8. n GRAY, M. Geodiversity: valuing and conserving abiotic nature. Chichester: John Wiley & Sons Ltd., HOSE, T. A. Selling the Story of Britain s Stone. Environmental Interpretation. v. 2. n LICCARDO, A; GUIMARÃES, G. B. (Org.). Geodiversidade na Educação. Ponta Grossa: Estúdio Texto,

286 LIMA, E. A. M.; BRANDÃO, R. L. Geologia. In: PFALTZGRAFF, P. A. S.; TORRES, F. S. M.; BRANDÃO, R. L. (Orgs.). Geodiversidade do estado do Piauí - programa Geologia do Brasil - levantamento da Geodiversidade. Recife: CPRM, MACIEL, A. B. R.; MARINHO, F. D. P. O estudo da paisagem e o ensino da geografia: breves reflexões para docentes do ensino fundamental II. Geosaberes, Fortaleza, v. 2, n MANOSSO, F. C. Estudo integrado da paisagem nas regiões Norte, Oeste e Centro Sul do estado do Paraná: relações entre a estrutura geoecológica e a organização do espaço. Boletim de Geografia, v. 26/27, n MEIRA, S. A. Pedras que Cantam : O Patrimônio Geológico do Parque Nacional de Jericoacoara, Ceará, Brasil. Fortaleza, f. Dissertação (Mestrado em Geografia) - Universidade Estadual do Ceará. PEREIRA, P. J. S. Patrimônio geomorfológico: conceptualização, avaliação e divulgação - aplicação ao Parque Nacional de Montesinho. Braga, f. Tese (Doutorado em Ciências Geologia) Universidade do Minho. PORCHER, C. C. Geomorfologia: O estudo do relevo. (201?). Disponível em:< Acesso em> 13 de set. de RUCHKYS, U. A. Patrimônio Geológico e Geoconservação no Quadrilátero Ferrífero, Minas Gerais: potencial para a criação de um geoparque da UNESCO. Belo Horizonte, f. Tese (Doutorado em Geologia) Universidade Federal de Minas Gerais. SERRANO E. C.; RUIZ-FLAÑO P. Geodiversidad: Concepto, evaluacion y aplicación territorial: el caso de Tiermes Caracena (Soria). B Asoc Geogr Esp, SHARPLES, C. Concepts and principles of geoconservation. Research Gate, SILVA, J. F. A. Geodiversidade e Patrimônio Geológico/Geomorfológico das Cidades de Pedras - Piauí: Potencial turístico e didático. Teresina, f. Dissertação (Mestrado em Geografia) Universidade Federal do Piauí. 286

287 PAISAGEM E ARQUEOLOGIA: APROXIMAÇÕES E POTENCIALIDADES Arkley Marques Bandeira Universidade Federal do Maranhão Campus de Pinheiro Docente do Curso de Licenciatura em Ciências Humanas arkleymbandeira@gmail.com Virginia Marques da Silva Neta Universidade Federal do Piauí Discente Programa de Pós-graduação em Arqueologia (PPGArq - UFPI) virginiarqueo@gmail.com Leonardo Silva Soares Universidade Federal do Maranhão Campus de Pinheiro Docente do Curso de Engenharia de Pesca leonardoufma85@gmail.com Eixo temático: Paisagem, Geodiversidade e Patrimônio Geomorfológico Resumo: o artigo objetiva apresentar, a partir de uma abordagem interdisciplinar, as principais interfaces entre a Arqueologia e as categorias de análise relacionadas com a Paisagem na construção do conhecimento sobre os usos e ocupações humanas no passado. Para tanto, serão abordados os diferentes conceitos sobre Paisagem, a partir das múltiplas visões adotadas pelas Ciências Humanas, sobretudo, em uma perspectiva arqueológica. Neste contexto, será enfocado o conceito de Arqueologia da Paisagem como uma subárea da Arqueologia, que visa aglutinar o fator Geo, as geotecnologias e diferentes percepções sobre a Paisagem na construção do conhecimento sobre o passado humano. Como estudo de caso, será apresentada a cronologia sobre os processos de ocupação e povoamento da Ilha de São Luís MA, em sua longa duração, enfocando a região como um lugar persistente atestado pela humana ao longo de milênios. Palavras-chave: Paisagem. Arqueologia. Cronologia. Ilha de São Luís. Longa duração. Abstract: the article aims to present, from an interdisciplinary approach, the main interfaces between Archeology and the categories of analysis related to Landscape in the construction of knowledge about human uses and occupations in the past. Therefore, the different concepts on Landscape will be approached from the multiple views adopted by the Human Sciences, especially from an archaeological perspective. In this context, the concept of Landscape Archeology will be focused as a subarea of Archeology, which aims to agglutinate the Geo factor, geotechnologies and different perceptions about Landscape in the construction of knowledge about the human past. As a case study, the chronology on the occupation and settlement processes of the Island of. Will be presented in its long duration, focusing on the region as a persistent place attested by the human over millennia. 287

288 Key words: Landscape. Archeology. Chronology. Ilha de São Luís. Long Time. INTRODUÇÃO A arqueologia vem fortemente se apropriando do conceito de paisagem como categoria analítica para a produção de conhecimento sobre o passado. Entretanto, só recentemente percebe-se um amadurecimento no seu uso, aspecto que se reflete no desenvolvimento de postulados teóricometodológicos e na multiplicação de linhas investigativas para coleta e interpretação dos dados arqueológicos. O amadurecendo do conceito de paisagem foi tal, a ponto de se criar uma subárea da disciplina denominada de Arqueologia da Paisagem, que vem levando alguns autores a se questionarem sobre a conveniência de substituir a Arqueologia Espacial por uma Arqueologia da Paisagem (landscape archaeology) (LANATA, 1997) ou de se deixar de falar de espaços para se falar em mudanças na paisagem (BOADO, 1991). O incremento e o delineamento de uma arqueologia da paisagem encontram sustentação científica em múltiplos campos do saber, sobretudo, nas áreas das ciências da terra e das geotecnologias. Não obstante, as ciências humanas e sociais também estão dando grande contribuição para o estudo da paisagem. Paisagem, enquanto objeto de estudo e categoria de análise ganhou robustez a partir de múltiplas concepções filosóficas e científicas e de distintas abordagens em muitos campos do conhecimento. Atualmente, não resta dúvida que a paisagem é um conceito polissêmico e multivocal, além de ser um poderoso objeto de investigação. Desde a sua gênese, ainda no século XIX, o conceito de paisagem enquanto categoria de análise é visto como um dos meios para se compreender as relações sociais e naturais em um determinado espaço, enfocando, portanto, a sociedade e suas relações com o ambiente. Neste contexto, a Paisagem chega ao século XXI na interface entre as Ciências da Terra e as Ciências Humanas, sendo a Geografia uma das áreas do conhecimento que mais vem se relacionando com o tema. Não obstante, a paisagem vem sendo incorporada para além dos seus usos regulares, a exemplo da avaliação ambiental, no planejamento urbano, como elemento norteador de políticas voltadas para o patrimônio histórico e cultural (vide chancela da paisagem cultural), como elemento estético, dentre muitos outros; estando incorporada a muitos discursos, especialmente por seu sentido simbólico e polissêmico. Esta polissemia e a relatividade do conceito abrem espaço para uma interface ainda mais próxima entre a arqueologia e outras áreas do conhecimento, resultando em premissas teóricas galgadas em estudos culturais, que reconhecem a paisagem não apenas como o resultado da ação humana no meio, mas como um texto que pode ser lido e decodificado. 288

289 Este artigo ilustra as principais interfaces entre a arqueologia e as categorias de análise relacionadas com a paisagem na construção do conhecimento, enfocando as ocupações humanas no passado, tendo como estudo de caso os processos de povoamento da Ilha de São Luís MA em sua longa duração. Neste contexto, a região é percebida como um lugar persistente para os grupos humanos ao longo de milênios. ARQUEOLOGIA, PAISAGEM E ARQUEOLOGIA DA PAISAGEM: PRESSUPOSTOS TEÓRICO- METODOLÓGICOS A Carta sobre a proteção e a gestão do patrimônio arqueológico (1990) denominada de Carta de Laussane (IPHAN, 2004, p. 303) atesta que o conhecimento e a compreensão das origens e do desenvolvimento das sociedades humanas é de fundamental importância para a identificação das suas raízes culturais e sociais. Contudo, entender os modos de vida, as histórias, as lendas, os mitos, as guerras e o cotidiano dos povos desaparecidos não é uma tarefa fácil. Por esse motivo, muitas disciplinas, como a História, Antropologia, Arqueologia, Paleontologia, Geografia, Linguística, e mais recentemente a Genética se esforçam para construir conhecimento sobre o passado humano. Portanto, o conceito de arqueologia de acordo com o Dicionário de Arqueologia: Do grego Archaios = Antigo e Logos = Estudo, significa etimologicamente o estudo do que é antigo. Ciência que estuda os restos materiais deixado sobre o solo. A arqueologia busca reconstituir o passado humano a partir dos seus traços materiais, artefatos, estruturas construções, obras de arte, alterações do meio ambiente, comércio, dados somáticos e biológicos. Embora mais empregada aos tempos pré-históricos, quando registros escritos não estavam disponíveis, a arqueologia também estuda o período histórico (SOUZA, 1997, p. 19). Dentre os principais objetos de estudo da arqueologia destacam-se os registros arqueológicos, que podem ser classificados como diretos e indiretos. Os primeiros são reconhecidos por Prous (1992) como os testemunhos materiais presentes nas camadas de terra que formam os sítios arqueológicos. Tais vestígios podem ser visíveis ou não. Ao passo que os vestígios indiretos são formados por marcadores da presença humana no meio ambiente, nem sempre evidentes aos olhos do pesquisador. Os vestígios diretos comumente encontrados são os indícios de habitações, cemitérios, áreas de cultivo e irrigação, de preparação de alimentos, de sepultamento, muros, poços, paliçadas, dentre outros, que são denominados pela arqueologia de estruturas arqueológicas. Além disso, destacam-se os instrumentos feitos em rocha, como de lâminas de machados, pilões, pontas de flecha, batedores, raspadores; objetos feitos em argila, como potes, panelas, pratos, bacias, adornos; e objetos feitos em outros tipos de matérias-primas, como osso, dente, concha, madeira e fibras. Enquanto que os 289

290 vestígios indiretos mais evidenciados são colorações do sedimento, áreas de coleta de rocha ou argila, locais de caça, pesca e coleta de vegetais, dentre outros. Somam-se aos vestígios indiretos informações sobre o clima, vegetação, fauna e flora do período em que os povos pesquisados existiam. Neste contexto, o estudo da paisagem em arqueologia consistiria em se compreender como os vestígios diretos e indiretos se relacionam com o seu meio. A este respeito, Lanata (1997) percebe que um dos principais aspectos da paisagem arqueológica é que por meio de sua análise é possível explicar a utilização do espaço, a partir das populações humanas, aplicando conceitos derivados da ecologia da paisagem e da biogeografia evolutiva. Não obstante, a paisagem é muito mais que a sua materialidade, sendo de extrema importância os enfoques simbólicos e fenomenológicos que consideram as experiências subjetivas em relação a esta entidade. A este respeito, existe um movimento de ressignificação desse conceito que baseia-se na necessidade de considerar o espaço não somente como uma matriz física, econômica ou funcional das ações humanas, mas também pelo seu uso social e simbólico teoricamente orientado, e inspirados por muitos pensadores da geografia, a exemplo de Duncan (1980, 1990), que a partir de uma perspectiva hermenêutica para interpretação da paisagem passou a percebê-la como um sistema de significados, passível de elucidar processos culturais e Mcdowell (1996) que interpreta a paisagem como um texto a ser decifrado e lido. Logo, a arqueologia da paisagem deve atuar na interface de duas posições extremas, mas que devem ser complementares, a exemplo do reconhecimento das características físicas que têm modificado o ambiente e as suas relações com a sociedade e por outro, a paisagem que codifica e é codificada pelas pessoas, sendo, portanto, intertextual (ENDERE, CURTONI, 2003). Para Renfrew e Bahn (2005), o primeiro princípio para se pensar a paisagem é muito simples: os povos do passado não apenas viviam, descartavam itens e construíam sítios, mas também interagiam com a paisagem. Neste contexto, Boado (1995) chegou a falar de uma culturalização da paisagem para caracterizar uma linha de ação que se abre para a arqueologia, quando se assume, como princípio norteador que o registro arqueológico (assentamentos, estruturas, cultura material, etc.) não existe isoladamente, mas são entidades espaciais, relacionadas significativamente com seu contexto espacial e em todas as escalas e âmbitos das atividades humanas. Boado (1997) afirma ainda que a arqueologia da paisagem é, em geral, a consideração do espaço como um componente mais relevante das sociedades antigas. Sua origem e desenvolvimento estão diretamente ligados à geografia cultural e a arqueologia funcionalista. Partilhando dos pressupostos pós-processuais, Thomas (2001) vai além ao sugerir que a paisagem habitada ou vivida são entidades relacionais constituídas por pessoas em seu encontro com o mundo. Neste contexto, as paisagens podem ser concebidas como vias particulares de expressar conceitos do mundo e são também formas de se referir a entidades físicas. A mesma paisagem pode 290

291 ser vista de diferentes formas por diferentes povos, muitas vezes ao mesmo tempo. Logo, o estudo desses fenômenos de um ponto de vista arqueológico constitui de fato a arqueologia da paisagem, que pode ser entendida como um programa de investigação orientado para o estudo e reconstrução de paisagens arqueológicas, ou ainda, o estudo, com metodologia arqueológica, dos processos e formas de culturalização do espaço ao longo da história (BOADO, 1999). Segundo Boado (1991), existem pelo menos três formas distintas de aplicar o estudo da paisagem em arqueologia. Uma primeira, empirista, em que a paisagem aparece como uma realidade já dada e que, por diferentes razões, nega-se a si mesma; uma segunda, sociológica, que explica a paisagem como o meio e o produto dos processos sociais e uma terceira, culturalista, que interpreta a paisagem com objeto das práticas sociais, tanto de caráter material, como imaginário. Neste sentido, a paisagem agrega pelo menos três tipos de elementos: O espaço enquanto entorno físico ou matriz do meio ambiental da ação humana. O alcance desta dimensão é feito com a colaboração das disciplinas das ciências da terra e naturais, a exemplo da paleoecologia, geoarqueologia, etc. O espaço enquanto entorno social ou meio construído pelo ser humano e sobre o qual se produzem as relações entre indivíduos e grupos. Por fim, o espaço enquanto entorno pensado ou meio simbólico que oferece a base para desenvolver e compreender a apropriação humana da natureza. (BOADO, 1999, p. 23). Neste artigo utilizou-se como parâmetro de análise da paisagem o Método de Análise Formal ou Morfológico (BOADO, 1997, 1999), cujos procedimentos analíticos são expostos no Quadro 1. Quadro 1 Análise Formal ou Morfológica Aplicada tanto para as formas do espaço físico, como para o espaço construído, seja em escala arquitetônica (a construção concreta) ou em escala da cultura material móvel (cerâmica, lítico, etc.), ou ainda, em escala natural e doméstica (o entorno humanizado). Esta análise será concebida com a construção de mapas morfológicos e diagramas formais que demonstrem as linhas de força da unidade de estudo; Análise Fisiográfica É uma variedade da análise formal, mas aplicada exclusivamente ao relevo e à escala de detalhe, a partir da construção de mapas de classes fisiográfica da área de estudo. Análise de Trânsito Busca identificar as vias de comunicação predefinidas naturalmente e utilizadas ou utilizáveis pelos grupos humanos. Esta etapa permitirá a geração de mapas das rotas de movimentação e das linhas de trânsito; Análise das Trata do estudo da visibilidade ou a forma como um elemento arqueológico é visto, condições de a partir da observação panorâmica que se domina dele e da intervisibilidade ou Visualização relação visual entre o testemunho arqueológico e outros, sendo ou não arqueológico. Nessa etapa mapas de visibilidade e intervisibilidade poderão ser criados. Análise de terrenos e análise topográfica Consistem em estudos geográficos, com a execução de mapas de declividades, inclinações, solos, de classes da flora, modelos digitais de terreno, etc. Fonte: Síntese do Método de Análise Formal ou Morfológico (BOADO, 1997, 1999). 291

292 OCUPAÇÕES HUMANAS NA ILHA DE SÃO LUÍS MARANHÃO A Ilha de São Luís engloba as Folhas São Luís NE (SA. 23 X) e SE (SA. 23 Z) (ALMEIDA, 2000), ocupando parte central do Golfão Maranhense, separada do continente pelo Estreito dos Mosquitos que, conjuntamente com o Estreito dos Coqueiros, comunica as massas aquosas da baía de São José/Arraial com as da baía de São Marcos (SANTOS et al., 2004), sendo caracterizada como um grande e complexo sistema estuarino (IMESC, 2011). Também denominada de Ilha Grande, Ilha de Upaon Açu ou Ilha do Maranhão é composta por quatro municípios: São Luís, São José de Ribamar, Paço do Lumiar e Raposa e possui aproximadamente 831,7 km2. Situa-se ao norte do Maranhão, Nordeste do Brasil, e limita-se ao norte com o Oceano Atlântico; ao sul, com a baía de São José e com o Estreito dos Mosquitos; a leste com a baía de São José e a oeste com a baía de São Marcos. Na região encontram-se formações de apicuns, baías, braços de mar, cordões arenosos, furos, ilhas, manguezais, áreas de vasas e praias. A proximidade com o Equador e a configuração do relevo favorecem a amplitude das marés, que alcançam até 7,2 m, com média aproximadamente de 6,6 m, e penetram os leitos dos rios causando influências até cerca de 150 km do litoral (FEITOSA, TROVÃO, 2006). Trata-se de uma região estuarina, que segundo Kowsmann et. al (1977) surgiu na última transgressão marinha, denominada de Flandriana, iniciando-se há cerca de 15 mil anos e, até cerca de 7 mil anos antes do presente, havendo uma rápida ascensão do nível do mar, interrompida por episódios de estabilização de curta duração. Essa informação é descrita por Suguio (1999), que verifica que a partir de 15 mil anos antes do presente os volumes das águas oceânicas sofreram um brusco acréscimo, mas a partir de 7 mil anos atrás houve pequena variação. Miranda et. al (2002) atestam que ao final desse processo transgressivo, entre sete e dois mil anos atrás, quando o mar atingiu aproximadamente o nível atual, as planícies costeiras e vales dos rios foram gradativamente inundados, dando origem aos estuários, enseadas, baías e lagunas costeiras. No Pleistoceno, seguiu-se uma maior regressão marinha, originando uma nova configuração das baías de São Marcos e de São José e o surgimento da Ilha do Maranhão, deixando como testemunho no continente a planície flúvio-marinha de Perizes. No final do Pleistoceno ocorreu um novo soerguimento de menor intensidade e uma moderada transgressão marinha, responsável pela redefinição da morfologia do Golfão Maranhense. Neste mesmo período, segundo Ab Sáber (1960, 2003), os extensos manguezais do Norte, envolvendo a costa noroeste do Maranhão e nordeste do Pará e Amapá- foram constituídos, em sua maioria durante o regresso das águas que posteriormente, no optimum climático, alcançaram alguns metros acima do mar atual (6.000 a anos A. P.), sendo 292

293 um bom exemplo das consequências da ingressão marinha durante esse período, com afogamento que persiste até hoje devido à amplitude das marés. É neste cenário que ocorrem os processos de ocupação humana tratados neste artigo e a interface com a paisagem marítimo-estuarina na Ilha de São Luís. Neste contexto, pesquisas arqueológicas realizadas por este autor estabeleceram a primeira sequência cronológica para as ocupações humanas na porção costeira do Golfão Maranhense. Foram obtidas datações para 7 (sete) sítios arqueológicos na Ilha de São Luís, sendo eles os Sambaquis do Bacanga, Panaquatira, Paço do Lumiar, Maiobinha e os sítios cerâmicos Maiobinha II, Vinhais Velho e Maracanã, conforme ilustrados na Figura 1. Figura 1- Sítios arqueológicos com datações na Ilha de São Luís Maranhão. Fonte: Bandeira, Para o estabelecimento da cronologia dos sítios arqueológicos apresentados foram empregados três métodos de datação, que resultaram em 73 (setenta e três) datas. As amostras foram submetidas a diferentes métodos, a exemplo de Absorção de CO2 para estabelecimento de Carbono 14 (C14), realizado no Instituto de Radioproteção e Dosimetria, Comissão Nacional de Energia Nuclear RJ para datação das amostras de conchas; Termoluminescência e Luminescência Opticamente Estimulada (TL/LOE), realizado no Laboratório de Vidros e Datações da FATEC SP para datação das amostras de cerâmica e sedimento e Acelerador de Espectrometria de Massa (AMS), realizado no Beta Analytic Miami EUA e no LACUFF, da Universidade Federal Fluminense, no Rio de Janeiro, para datação das amostras de carvão e concha. 293

294 RESULTADOS A tabulação das datações relacionadas aos sítios arqueológicos da Ilha de São Luís permitiu identificar uma longa sequência ocupacional representada por distintos horizontes culturais, a exemplo do ceramista pré-sambaquieiro; ceramista sambaquieiro associado à tradição Mina; ceramista associado à cerâmica Maiobinha simples; ceramista associado à terra preta arqueológica; ceramista associado aos povos Tupinambá; ceramista de contato e o ceramista do período histórico. A este respeito, o gráfico da dispersão das datações ilustrado na Figura 2 agrupa as ocupações humanas na Ilha de São Luís em dois conjuntos de idades: um horizonte mais antigo, ocorrendo entre anos até anos antes do presente e outro horizonte estabelecido entre anos até 760 anos antes do presente, com hiato de datas ocorrendo entre a anos antes do presente (BANDEIRA, 2013). Figura 2- Distribuição de datas para os sítios arqueológicos na Ilha de São Luís. Fonte: Bandeira, A correlação das idades com os horizontes culturais pré-coloniais observados nos sítios arqueológicos demonstrou uma primeira ocupação ceramista pré-sambaquieira sobre latossolo alaranjado, seguida por uma segunda ocupação associada ao horizonte ceramista-sambaquieiro, seguida por uma terceira ocupação ceramista associada a um tipo cerâmico simples sem decoração, seguida por uma quarta ocupação ceramista incisa associada à terra preta arqueológica, finalizando com um horizonte ceramista policromo associado aos grupos Tupinambá dos sítios Vinhais Velho, 294

295 Maiobinha II e Maracanã, conforme a distribuição de datas por horizonte cultural ilustrada no gráfico que da Figura 3. Figura 3 - Conjuntos de datas para os horizontes culturais na Ilha de São Luís. Fonte: Bandeira, Para o início do período colonial não foram realizadas datações no material arqueológico, uma vez que os relatos de cronistas e viajantes do período colonial ajudaram a complementar a documentação arqueológica. Conforme exposto, a dispersão temporal das datas relacionadas com o período de ocupação é ilustrada no Gráfico 4. Figura 4 - Dispersão temporal da cronologia para os horizontes culturais. Fonte: Bandeira,

296 Conforme exposto, os resultados permitiram associar a documentação arqueológica com a paisagem antiga da Ilha de São Luís em sua longa duração, permitindo construir algumas premissas de uma história que se inicia, há pelo menos anos antes do presente. Neste contexto, datam do Holoceno Médio a expansão do ambiente marítimo-estuarino-insular e o desenvolvimento das florestas de mangues na região coincidindo com o início do povoamento humano da Ilha de São Luís. A partir deste período, a evidência arqueológica demonstra a existência de ocupações humanas estáveis, sobretudo, as sambaquieiras, favorecida pela alta taxa de produtividade advinda dos ecossistemas litorâneos, principalmente dos manguezais e da paisagem marítima-estuarina. A estabilidade propiciada por este ecossistema, a exemplo da riqueza de biomassa, a disponibilidade de matérias-primas e como vias de deslocamento possibilitou a fixação humana desde o Holoceno Médio até os séculos mais recentes, sendo que este processo interrompido com a chegada dos colonizadores europeus. CONCLUSÃO As pesquisas arqueológicas que vêm sendo realizadas na Ilha de São Luís já identificaram ocupações humanas datadas de pelo menos anos, sendo estas as mais antigas até então conhecidas para o Golfão Maranhense, especialmente na área foco deste artigo. Os quadros cronológicos apresentados ao longo do texto, quando relacionados aos sítios arqueológicos e aos períodos de ocupações indicam que os Sambaquis do Bacanga e Panaquatira foram os primeiros assentamentos humanos da Ilha de São Luís até agora conhecidos. A sua inserção na paisagem demonstra que os primeiros povoadores da região viveram nos estuários das baías de São Marcos e São José. Apesar da proximidade dos sítios com as zonas alagadas, cabe ressaltar que os mesmos estão localizados em áreas de terra firme, com disponibilidade de nascentes de água doce e braços de rios para navegação, que em sua grande maioria deságua no mar. Entre anos a 700 anos antes do presente todos os sítios arqueológicos descritos neste artigo apresentaram ocupações humanas que se encaixaram perfeitamente no período em que o nível médio do mar começou a se estabilizar nos contornos observados atualmente na Ilha de São Luís. Além disso, outras áreas para o interior do Golfão Maranhense foram ocupadas, inclusive mais distantes da linha da praia, a exemplo do Sambaqui do Paço do Lumiar e os sítios arqueológicos Maiobinha I, Maiobinha II e Maracanã. Apesar da distância, os estuários poderiam ser acessados pelos braços de rios que eram influenciados diariamente pelo regime de macro marés. Em síntese, a evidência arqueológica consubstanciada com o estudo da paisagem demonstraram indícios de uma multiplicidade de povos, com especificidades sociais e culturais 296

297 diferenciadas, mas que ocuparam as mesmas áreas ao longo de milênios. Neste sentido, o Golfão Maranhense, em particular a Ilha de São Luís podem ser considerados lugar persistente (SCHLANGER, 1992). Neste contexto, a arqueologia da paisagem é uma ferramenta poderosa para o estudo dos povos do passado e a relação dos mesmos com os seus lugares e territórios vividos, sendo cada vez mais utilizada nas investigações inter e transdisciplinares. REFERÊNCIAS Ab SABER, A. N. Contribuição a geomorfologia do estado do Maranhão. In Notícia Geomorfológica. Campinas: Faculdade de Filosofia, Ciência e Letras, Departamento de Geografia- UNICAMP, n. 5, ano III, Litoral brasileiro. São Paulo: Metalivros, ALMEIDA, F. F. M. Programa Levantamentos Geológicos Básicos do Brasil. São Luís SW/NW, Folhas SA. 23-V e SA.23-Y. Estados do Pará e Maranhão. Escala 1: / organizado por Herbert Georges de Almeida Brasília: CPRM, BANDEIRA, A. M. Ocupações humanas pré-coloniais na Ilha de São Luís MA: inserção dos sítios arqueológicos na paisagem, cronologia e cultura material cerâmica Tese (Doutorado). Museu de Arqueologia e Etnologia, Universidade de São Paulo, São Paulo, BOADO, F. C. Construcción social del espacio y reconstrucción arqueológica del paisage. Boletín de Antropología Americana. México: Instituto Panamericano de Geografia e Historia, n. 24, The visibility of the archaeological record and the interpretation of social reality. In Ian Hodder et. al. Interpreting Archaeology, Londres: Routledge, Combining the different dimensions of cultural space: is a total archaeology of landscape possible? In BOADO, F. C.; PARCERO, C. (Eds.). Tapa-Landscape, archaeology, heritage. Santiago de Compostela: Universidade de Santiago de Compostela, n. 2, DUNCAN, James. O supraorgânico na geografia cultural americana. Espaço e Cultura, n. 13, p. 7-33, The city as text. The politics of landscape interpretation in the Kandyan Kingdom. Cambridge, New York, Port Chester, Melbourne, Sydney: The Cambridge University Press, ENDERE, M. L.; CURTONI, R. P. Patrimonio, arqueologia y participacíon: acerca de la noción de paisaje arqueológico. In: ENDERE; M. L.CURTONI, R. P (Org.). Analisis, interpretacíon y gestíon en la arqueologia sudamericana. Argentina: INCUAPA, UNICEN, serie teórica, v. 2, FEITOSA, A. C.; TROVÃO, J. R. Atlas escolar do Maranhão: espaço geo-histórico e cultural. João Pessoa: Grafset, IMESC. Instituto Maranhense de Estudos Socioeconômicos e Cartográficos. Situação Ambiental da Ilha do Maranhão/ Instituto Maranhense de Estudos Socioeconômicos e Cartográficos. São Luís: IMESC,

298 IPHAN - Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Cartas patrimoniais. 3ª ed. rev. aum. Rio de Janeiro: IPHAN, KOWSMANN, R. O. et al. Modelo de sedimentação holocênica na Plataforma Continental sul Brasileira. Rio de Janeiro: REMAC, PETROBRÁS, CENPES, DINTEP, LANATA, J. L. Los componentes del paisage arqueológico. Revista de Arqueología Americana. México: Instituto Panamericano de Geografia e Historia, nº. 13, McDOWELL, L. A transformação da geografia cultural. In: GREGORY, D; MARTIN, R; SMITH, G. (Orgs.). Geografia humana sociedade, espaço e ciência social, Rio de Janeiro: Jorge Zahar, MIRANDA, L. B. et al. Princípios de oceanografia física de estuários. São Paulo: EDUSP, PROUS, A. Arqueologia Brasileira. Brasília: Editora Universidade de Brasília, RENFREW, C.; BAHN, P. Archaeology: the key concepts. London: Routledge, SOUZA, A.M. Dicionário de arqueologia. Rio de Janeiro: ADESA, SCHLANGER, S. H. Recognizing persistent places in Anasazi settlement systems. In: J. Rossignol & L. Wandsnider (eds), Space, time and archaeological landscapes, New York, SUGUIO, K. Geologia do Quaternário e mudanças ambientais: passado+presente=futuro? São Paulo: Paulos s Comunicação e Artes Gráficas, THOMAS, J. Archaeologies of place and landscape. Archaeological Theory Today. HODDER, I. (ed.) United Kingdom: Polity Press,

299 UM BREVE ESTUDO ACERCA DO PATRIMÔNIO GEOMORFOLÓGICO Laryssa Sheydder de Oliveira Lopes Universidade Federal de Pernambuco Doutora em Geografia Osvaldo Girão da Silva Universidade Federal de Pernambuco Doutor em Geografia Eixo temático: Paisagem, geodiversidade e patrimônio geomorfológico Resumo: Os objetivos deste artigo foram apresentar o conceito de patrimônio geomorfológico, discutir sua relevância e fazer um breve levantamento dos sítios que já foram catalogados na Comissão Brasileira de Sítios Geológicos e Paleobiológicos do Brasil (SIGEP). Esta tipologia do geopatrimônio representa o conjunto de geoformas e processos associados ao relevo, capazes de expressar de forma singular uma parte da evolução da superfície da Terra. Por se tratar de um artigo teórico, a metodologia constou, basicamente, de levantamento bibliográfico. Os sítios geomorfológicos são predominantemente avaliados por seus atributos estéticos em detrimento dos seus valores científicos. Atualmente, no cadastro do SIGEP, a categoria geomorfológica é a segunda em maior quantidade de sítios catalogados e a primeira categoria aguardando pesquisadores para descrevê-los. Palavras-chave: Patrimônio Geomorfológico. Geomorfossítios. Geopatrimônio. Abstract: The objectives of this article were: to present the concept of geomorphological heritage, to discuss its relevance and to make a brief survey of the sites that have already been cataloged in the Brazilian Commission of Geological and Paleobiological Sites of Brazil (SIGEP). This typology of Earth heritage represents the set of geoforms and processes associated to the relief, capable of expressing in a singular way a part of the evolution of the surface of the Earth. Because it is a theoretical article, the methodology consisted, basically, of a bibliographical survey. Geomorphological sites are predominantly evaluated for their aesthetic attributes to the detriment of their scientific values. Currently, in the SIGEP register, the geomorphological category is the second largest number of cataloged sites and the first category awaiting researchers to describe them. Key-words: Geomorphological Heritage. Geomorphosites. Earth Heritage. 299

300 INTRODUÇÃO Patrimônio pode ser considerado o bem ou conjunto de bens naturais ou culturais, associado a uma herança comum, reconhecido por uma determinada localidade, região, país ou para a humanidade, e que devem ser protegidos para o usufruto de todos os cidadãos. Diz-se daquilo que fala sobre a identidade de um grupo e possui algumas tipologias como material ou imaterial, natural ou cultural (NASCIMENTO; ROCHA e NOLASCO, 2013). O patrimônio material são os bens que, individualmente ou em conjunto, apresentam materialidade suficiente para a percepção dos valores culturais relacionados à ação e à memória da sociedade, estando vinculados aos aspectos paisagísticos, artísticos, históricos, arqueológicos, paleontológicos, ecológicos ou científicos. Ao patrimônio imaterial incluem-se os modos de criar, fazer, viver, as práticas e domínios da vida social que se manifestam também em saberes, celebrações, formas de expressão cênicas, plásticas, culturais e coletivas da sociedade (UNESCO, 1972). De acordo com a Convenção para a Proteção do Patrimônio Mundial Cultural e Natural, são considerados como patrimônio cultural as obras arquitetônicas, de escultura ou pintura monumentais, elementos arqueológicos, inscrições, grutas de valor universal excepcional do ponto de vista da história, da arte ou da ciência; as construções isoladas ou reunidas que, em virtude de sua arquitetura, conferem às paisagens valores excepcionais do ponto de vista da história, da arte ou da ciência; as obras humanas ou conjugadas com a natureza, e as zonas, incluindo os locais de interesse arqueológico com elevado valor histórico, estético, etnológico ou antropológico (UNESCO, 1972). Ainda segundo esta Convenção são considerados como patrimônio natural os monumentos naturais constituídos por formações físicas ou biológicas de elevado valor do ponto de vista estético e científico; as formações geológicas e fisiográficas e as zonas estritamente delimitadas que constituem habitats de espécies de animais e vegetais ameaçadas, de elevado valor do ponto de vista da conservação e da ciência; e os locais de interesse naturais ou zonas naturais de valor universal, excepcional do ponto de vista estético, da conservação e da ciência (UNESCO, 1972). De acordo com o Decreto-Lei n. 25 de 30 de novembro de 1937, o patrimônio natural é equiparado ao patrimônio histórico e artístico nacional, tornando-os passíveis de tombamento com o objetivo de conservar sua feição excepcional. 2º Equiparam-se aos bens a que se refere o presente artigo e são também sujeitos a tombamento os monumentos naturais, bem como os sítios de paisagens que importe conservar e proteger feição notável com que tenha sido dotado pela natureza ou agenciados pela indústria humana. Dentro da categoria de patrimônio natural está o geopatrimônio, isto é, o conjunto de locais de relevante interesse, de natureza abiótica, em uma determinada área, aos quais são atribuídos 300

301 valores (científico, cultural, didático, turístico, estético, ecológico, dentre outros), de acordo com os objetivos da avaliação e que são reconhecidos pela comunidade científica e pela comunidade local. Refere-se, portanto, a todos os tipos de patrimônios naturais abióticos, que inclui, o patrimônio geológico, patrimônio geomorfológico, patrimônio hidrológico, patrimônio pedológico, dentre outros, conforme preconiza o termo geodiversidade (Figura 1). Figura 1: Classificação do geopatrimônio Fonte: elaborado pela autora (2017). Dentro do conjunto do que se denomina de geopatrimônio está o patrimônio geomorfológico, que inclui os elementos da geodiversidade de natureza geomorfológica que possuem relevância científica, didática, estética, cultural, dentre outras. Os objetivos deste artigo foram: apresentar o conceito de patrimônio geomorfológico, discutir sua relevância e fazer um breve levantamento dos sítios que já foram catalogados na Comissão Brasileira de Sítios Geológicos e Paleobiológicos do Brasil (SIGEP), a maior base de dados dos sítios de natureza abiótica do Brasil. Tratando-se de um trabalho teórico, a metodologia constou basicamente, de levantamento bibliográfico em livros, artigos e sites. CONCEITO E IMPORTÂNCIA DO PATRIMÔNIO GEOMORFOLÓGICO Apesar dos avanços consideráveis na Geomorfologia nas últimas décadas, não houve um desenvolvimento diretamente relevante no âmbito do reconhecimento do patrimônio geomorfológico. Os geomorfologistas devem tornar-se mais ativos na discussão sobre geodiversidade e tomarem uma posição clara que seja útil para a avaliação dos valores das paisagens físicas. Os estudos acerca do patrimônio geomorfológico vêm sendo desenvolvidos desde a década de 1980, por pesquisadores da Suíça, Itália, Portugal, França e Espanha, utilizando-se metodologias diversas, mas todos com o objetivo de resguardar as áreas de relevante interesse do ponto de vista geomorfológico (OLIVEIRA; PEDROSA e RODRIGUES, 2013). Destacam-se os trabalhos de Panizza (2001); Reynard e Pralong (2004); Pralong (2005); Coratza e Giústi (2005); Reynard (2006) 301

302 (2007) e (2009); Rodrigues e Fonseca (2008); Panizza e Piacente (2008); Vieira e Cunha (2002) (2004) (2006); Pereira (2006); Vieira (2014); Mígon (2014) dentre outros. Enquadrado como geopatrimônio, está também o patrimônio geomorfológico, em que a definição do conceito foi introduzida, inicialmente, por Pereira (1995, p. 11): O conjunto de formas de relevo, solos e depósitos correlativos, que suas características genéticas e de conservação, pela sua raridade ou originalidade, pelo seu grau de vulnerabilidade, ou, ainda pela maneira como se combinam espacialmente (a geometria das formas de relevo), evidenciam claro valor científico, merecendo ser preservados. Para Reynard e Panizza (2005), o patrimônio geomorfológico, integrado ao geopatrimônio, representa o conjunto de geoformas e processos associados ao relevo capazes de expressar de forma singular uma parte da evolução da superfície da Terra. O relevo mantém uma memória geodinâmica que se sucede ao longo do tempo e por isso possui valores científico-educacional, histórico-cultural, estético e econômico/social significativos. Vieira (2014) define o patrimônio geomorfológico como o conjunto dos elementos geomorfológicos, constituído pelas formas de relevo e depósitos correlativos, em diferentes escalas, aos quais são atribuídos valores (científico, estético, cultural, ecológico e econômico) e, quando estes apresentam valores excepcionais, devem ser objetos de proteção legal e promoção. A importância atribuída nas últimas décadas à sensibilização em relação à proteção do patrimônio natural não é acompanhada da consciência do valor do patrimônio geomorfológico no que tange a sua importância enquanto recursos ambiental, educativo, turístico e como suporte para a vida e as atividades humanas. A situação se torna ainda mais grave quando são analisadas as políticas públicas para a promoção, conservação e divulgação deste patrimônio (CUNHA e VIEIRA, 2004). A Associação Internacional de Geomorfólogos (IAG), fundada em 1989, durante a II Conferência Internacional sobre Geomorfologia, realizada em Frankfurt, Alemanha, teve como objetivos desenvolver e promover a Geomorfologia enquanto ciência através da cooperação e divulgação de conhecimentos internacionalmente. Desde então, esta Associação tem se dedicado à organização de conferências nacionais e internacionais, à publicação de livros e artigos e à criação de grupos de trabalho como o Geodiversity e o Geomorphosites. O grupo de trabalho Geodiversity busca desenvolver uma avaliação integrada da diversidade de formas de relevo por meio da geoinformação, metodologias e ferramentas que conduzirão à identificação, quantificação e modelagem do relevo em diferentes escalas espaciais e temporais. Busca também investigar as relações entre a geodiversidade das paisagens e as culturas locais, analisando também o papel das atividades antrópicas sobre estas formas, dando uma atenção especial às influências das mudanças globais sobre a geodiversidade. 302

303 O grupo Geomorphosites foi criado em 2001, durante a V Conferência Internacional de Geomorfologia, em Tóquio, e tem conduzido quatro objetivos em relação ao patrimônio geomorfológico: (i) definição do conceito de geomorfossítio; ii) estruturação de uma metodologia de avaliação; iii) estruturação de um método de mapeamento dos geomorfossítios e; iv) proposição de medidas para a proteção dos geomorfossítios. Atenção especial também tem sido dada ao critério da vulnerabilidade, uma vez que os geomorfossítios geralmente estão associados a localidades multifuncionais e de visibilidade da sociedade, sendo, portanto, necessário propor medidas de geoconservação (REYNARD e PANIZZA, 2005). Para Vieira (2014), a consciência que a sociedade tem da necessidade de proteção das paisagens constitui um fator que potencializa a conservação dos elementos geomorfológicos, que são elementos estruturantes da paisagem. VALORAÇÃO DO PATRIMÔNIO GEOMORFOLÓGICO Reynard e Coratza (2013) destacam três valores comuns do patrimônio geomorfológico, são eles: valor científico; valores adicionais (estético, educacional, ecológico, cultural, etc) e valores de uso e gestão (voltados para a economia e para a sociedade). Ainda segundo os autores, os valores científicos e adicionais podem ser considerados como intrínsecos e os de uso e gestão como valor de sociedade. No contexto da Convenção do Patrimônio Mundial, o significado das formas de relevo para os processos biológicos e ecológicos é o que dá claramente sustento a eles. Os aspectos geomorfológicos podem contribuir para um alto grau de endemismo biológico, explicar o mosaico de habitats e adaptações específicas do mundo vivo, mas não necessariamente se configuram como significativos por sua existência em si, por isso muitos locais espetaculares são listados como bens do Patrimônio Mundial usando-se do valor ecológico e não dos aspectos dos geomorfológicos (MÍGON, 2014). O valor cultural das formas de relevo tem aspectos em comum com o ecológico. Muitas formas e paisagens são base necessária e muitas vezes inseparáveis dos aspectos cultural, religioso e histórico. No entanto, muitas vezes, na avaliação, é levado em consideração apenas os aspectos estéticos destas formas e paisagens, negligenciando-se o valor científico (LOPES, 2017). Três características principais são específicas dos sítios de interesse geomorfológico: i) o aspecto estético, que é tema central na maioria dos geomorfossítios, muitas vezes qualificados como monumentos naturais ou paisagem; ii) a dimensão dinâmica, uma vez que permitem a observação da dinâmica da Terra e dos processos ativos e; iii) a escala, que não foi totalmente resolvida uma vez que os geomorfossítios vão desde pequenas formas a grandes paisagens e também devido à complexidade das formas de relevo que vão desde a mais simples a sistemas geomorfológicos com vários processos interagindo entre si (REYNARD e CORATZA, 2013). 303

304 Vieira e Cunha (2004) ainda ressaltam que a tentativa de agrupar elementos morfológicos com características e processos evolutivos distintos podem gerar resultados diferenciados que comprometem a avaliação. Segundo Pereira (2006), no âmbito do patrimônio geológico, os elementos geomorfológicos são avaliados tradicionalmente por seus valores paisagístico, cênico e estético. O patrimônio geomorfológico, dentro do conjunto de patrimônio natural, é um grupo vulnerável uma vez que é a base sobre a qual se desenvolvem as atividades humanas e também porque possuem um grande potencial recreativo e de lazer para as atividades turísticas (VIEIRA; CUNHA, 2006). Além da importância cênica, o patrimônio geomorfológico é um registro da evolução da Terra e deve ser resguardado da ação humana predatória (OLIVEIRA; PEDROSA e RODRIGUES, 2013). Nas últimas duas décadas, diversas tentativas têm sido feitas para avaliar qualitativamente o patrimônio geomorfológico, que tem sido feito de acordo com vários contextos, tais como: avaliação de impacto ambiental, inventário de patrimônio natural, promoção turística ou gestão de unidades de conservação (LOPES, 2017). O INVENTÁRIO DO PATRIMÔNIO GEOMORFOLÓGICO BRASILEIRO NO ÂMBITO DA SIGEP Em 1997, foi instituída a Comissão Brasileira de Sítios Geológicos e Paleobiológicos do Brasil (SIGEP), com o objetivo de elencar os sítios brasileiros, a partir do gerenciamento de um banco de dados, na forma de artigos científicos, elaborados por especialistas da área, para a Global Indicative List of Geological Sites (GILGES). Esta é a mais importante iniciativa brasileira a favor da geoconservação. Atualmente a SIGEP é composta por treze instituições: Academia Brasileira de Ciências (ABC), Associação Brasileira de Estudos do Quaternário (ABEQUA), Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBIO), Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), Petróleo Brasileiro SA (Petrobrás), Sociedade Brasileira de Espeleologia (SBE), Sociedade Brasileira de Geologia (SBG), Sociedade Brasileira de Paleontologia (SBP), Serviço Geológico do Brasil (CPRM) e União da Geomorfologia Brasileira (UGB) (SIGEP, 2015). A inclusão da UGB ocorreu no ano de 2011, um importante passo para melhor sistematização dos sítios geomorfológicos cadastrados no banco de dados por especialistas na área. Atualmente, a SIGEP tem em seu banco de dados três volumes, onde foram descritos, respectivamente por volume, cinquenta e oito, quarenta e dezoito sítios, totalizando cento e dezesseis sítios descritos e catalogados. Há ainda uma lista com quarenta e nove sítios aprovados para catalogação. 304

305 Há uma predominância, entre os sítios já catalogados, da categoria Paleontológica (31,89%), seguida da Geomorfológica (19,82%) e da Paleoambiental (11,2%). Entre aqueles que estão aguardando descrição há uma predominância da categoria Geomorfológica (38,77%), seguida da Paleontológica (16,32%) e da Paleoambiental (12,2%) (SIGEP, 2015) (Gráfico 1). Gráfico 1: Categorias dos sítios descritos no SIGEP Fonte: Adaptado de SCHOBBENHAUS et al (2002); WINGE et al (2009) e WINGE et al (2013). Das categorias apresentadas no gráfico acima, a Metalogênica, a Metamórfica e a Mineralógica estão na lista dos sítios aprovados, mas ainda não foram descritos. A imagem abaixo apresenta alguns sítios geomorfológicos cadastrados nos três volumes das publicações da SIGEP (Figura 2). Figura 2: Exemplos de sítios geomorfológicos catalogados no SIGEP: A) Morro do Pai Inácio (BA); B) Parque Nacional Sete Cidades (PI); C) Lajedo do Pai Mateus (PB) e; D) Itaimbezinho e Fortaleza (RS e SC). Fonte: SCHOBBENHAUS et al (2002); Autora (2010); WINGE et al (2009) e WINGE et al (2013). 305

306 Sales (2010) fez uma análise dos sítios geomorfológicos catalogados no banco de dados da SIGEP afirmando que eles foram pobremente avaliados do ponto de vista científico, alertando para o fato de que, até o presente ano, não havia participação de nenhum grupo de geomorfólogos na seleção dos sítios, sendo, portanto, feita a catalogação por pesquisadores de outras áreas que pecaram, inclusive, na conceituação básica de tipologias de relevo. A autora afirma ainda que vários sítios foram classificados em outras categorias, especialmente na paleoambiental, e que também há sítios catalogados que não se enquadram na categoria geomorfológica. Em relação à distribuição espacial dos sítios catalogados, o que se observa é um equilíbrio entre as regiões Nordeste (29,3%), Sul (22,4%) e Sudeste (33,6%) e um vazio de publicações nas regiões Norte (4,3%) e Centro-Oeste (6,8%) (Gráfico 2). Gráfico 2: Distribuição dos sítios catalogados no SIGEP por região do Brasil Fonte: Adaptado de SCHOBBENHAUS et al (2002); WINGE et al (2009) e WINGE et al (2013). Pode-se observar um esvaziamento de das descrições de sítios nas regiões Norte e Centro-Oeste e isso se deve, especialmente devido à concentração de programas de pós-graduação nas regiões Sul e Sudeste. Num quadro geral, ou seja, de todos os sítios catalogados, o Nordeste se destaca em segundo lugar, principalmente em virtude da variedade de formas de relevo desta região, além dos aspectos estéticos e paisagísticos. A região Nordeste é, inclusive, a que mais tem propostas encaminhadas para a criação de geoparques no Brasil. Tratando-se especificamente dos sítios de interesse geomorfológico, também há um equilíbrio entre os sítios das regiões Nordeste (seis sítios), Sul (sete sítios) e Sudeste (oito sítios), restando às regiões Norte, um sítio e Centro-Oeste, dois sítios. Há sítios que, como ressalta Sales (2010), poderiam ser enquadrados como de natureza geomorfológica, mas que, no entanto, estão em outras 306

307 categorias, como por exemplo, o Campo de Dunas Inativas do Médio Rio São Francisco (BA), que está descrito como sedimentológico. Os critérios de julgamento adotados na descrição dos sítios pelo SIGEP são a singularidade de representação de sua tipologia; a importância enquanto processos-geológicos-chave regional ou global; expressão cênica; bom estado de conservação; acesso viável; e existência ou possibilidade de criação de mecanismos de proteção (WINGE et al, 2013). Alguns termos têm sido usados para referir os componentes do patrimônio geomorfológico, tais como, ativos geomorfológicos, bens geomorfológicos, geotopes, locais de interesse geomorfológico e geomorfossítios, do termo inglês geomorphosites. Geomorfossítio é, portanto, uma forma de relevo, um depósito ou processo geomorfológico em uma paisagem, que pode ser delimitado em diferentes escalas, ao qual foi atribuído valores (científico, didático, cultural, turístico, dentre outros), em interação com os demais elementos da geodiversidade, assim como os biológicos e culturais, reconhecendo sua excepcionalidade e direcionando-o para a geoconservação (LOPES, 2017). Segundo Panizza (2001) um geomorfossítio é uma paisagem com particular e significativos atributos que a qualificam como componente do patrimônio cultural (no sentido amplo) de determinado território. Os atributos que podem conferir valor são o científico, o cultural (no sentido restrito), o econômico e o cênico. Novamente, tem-se o valor científico atrelado ao cultural na avaliação de paisagens. Reynard (2005), discorrendo especificamente sobre os sítios geomorfológicos, já debatia que um elemento da geodiversidade para ser galgado ao patamar de geomorfossítio deveria possuir valor científico. Por outro lado, o valor de um geomorfossítio não pode ser mensurado exclusivamente por seu valor científico, os demais valores também devem ser integrados na avaliação. Reynard e Panizza (2005) classificam os geomorfossítios em restrito, quando o critério avaliado é o científico e, geomorfossítios no sentido amplo, quando são julgados os valores ecológico, cultural, estético e econômico, isto porque estes valores dependem do nível cultural, educacional e econômico da sociedade. Para Reynard et al (2007), a definição, de acordo com critérios científicos, seria voltada para a seleção de locais de relevância significativa para a história da Terra e que por isso devem ser protegidos. A definição, no sentido amplo, seria utilizada dentro do contexto do geoturismo ou gestão de paisagens.. Para exemplificar, tem-se a inclusão da cúpula granítica do Pão-de-Açúcar, integrado à paisagem urbana do Rio de Janeiro, na Lista do Patrimônio Mundial da UNESCO, em 2012, durante o 36 Comitê do Patrimônio Mundial, na Rússia, sendo classificado como Paisagem Cultural. Temse então um monumento, reconhecido mundialmente, não pelo critério científico, mas pelo seu valor 307

308 cultural. A proposição então denominada Paisagens cariocas, entre o mar e a montanha, integrou os princípios das paisagens culturais às paisagens naturais. Para Reynard e Coratza (2013), tanto os geossítios quanto os geomorfossítios são parte do geopatrimônio, e uma vez que são resultados da avaliação humana, são considerados patrimônios, isto porque é a sociedade e, mais especificamente, os geocientistas lhes deram valor. CONCLUSÃO Enquadrado como uma tipologia do geopatrimônio, o patrimônio geomorfológico é, por muitas vezes, descrito com foco apenas em seus atributos estéticos, ficando os aspectos científicos negligenciados. Isso se deve, em parte, devido à uma falta de representação dos profissionais geomorfólogos, dentro da maior Comissão brasileira responsável pela catalogação dos sítios de interesse abiótico no Brasil, a SIGEP. Com a inclusão da UGB, no ano de 2011, espera-se que haja um salto qualitativo na catalogação destes sítios que, atualmente, é a segunda categoria já descrita e a primeira categoria com sítios geomorfológicos já aprovados, com distribuição espacial predominante na região Nordeste, aguardando descrição dos profissionais da área. REFERÊNCIAS CASSETI, V. Elementos de geomorfologia. Goiânia: Editora UFG, CASSETI, V. Geomorfologia. [S.I], Disponível em: < >. Acesso em dezembro de CORATZA, P; GIUSTI, C. Methodological proposal for the assessment of the scientific quality of geomorphosites. Italian Journal of Quaternary Sciences. n.18 (1), CUNHA, L; VIEIRA, A. Patrimônio geomorfológico: recurso para o desenvolvimento local em espaços de montanha. Exemplos no Portugal Central. Cadernos de Geografia. Coimbra. n. 21/23, DANTAS, M. E; ARMESTO, R. C. G; ADAMY, A. A origem das paisagens, In: SILVA, C. R. da. Geodiversidade do Brasil. Rio de Janeiro: CPRM, LOPES, L. S. de. O. Avaliação do patrimônio geomorfológico do litoral do Piauí. 2017, 209fl. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Geografia. Universidade Federal de Pernambuco, Recife, MIGÓN, P. The significance of landforms: the contribuition of geomorphology to the World Heritage Programme of UNESCO. Earth Surface Processes and Landforms. N.39, OLIVEIRA, P. C. A. de; PEDROSA, A. de S; RODRIGUES, S. C. Uma abordagem inicial sobre os conceitos de geodiversidade, geoconservação e patrimônio geomorfológico. Ra ega. Curitiba: v.29, dez, p

309 ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E CULTURA (UNESCO). Disponível em: < >. Acesso em julho de PANIZZA, M. Geomorphosites: concepts, methods and examples of geomorphological survey. Chinese Science Bulettin. n.46, p.4-5, PANIZZA, M. PIACENTE, S. Geomorphosites and geotourism. Revista Geográfica Acadêmica. v. 2, n. 1, 2008, p PEREIRA, A. R. Patrimônio geomorfológico no litoral sudoeste de Portugal. Finisterra, XXX, n.59-60, p. 7-25, PEREIRA, P. J. da S. Patrimônio geomorfológico: conceptualização, avaliação e divulgação. Aplicação ao Parque Natural de Montesinho. 2006, 370f. Tese de Doutorado em Geociências. Universidade do Minho, PRALONG, J. P. A method for assessing tourist potential and use of geomorphological sites. Géomorphologie: relief, processus, environnement. n.3, REYNARD, E. Géomorphosites et paysages. Géomorphologie: relief, processus, environment. Paris: n.3, p Fiche d inventaire des géomorphosites. Université de Lausanne. Institute Geographie, rapport non-publié Disponível em: Acesso em: fevereiro de Geomorphosites. European Union: Munchen, REYNARD, E; FONTANA, G; KOZLIK, L; SCAPOZZA, C. A method for assessing scientific and additional values of geomorphosites. Geographica Helvetica. n.62, REYNARD, E. CORATZA, P. Scientific research on geomorphosites: a review of the activities of the IAG working group on Geomorphosites over the last twelve years. Geogr. Fís. Dinam. Quat. n.36, REYNARD, E; PANIZZA, M. Géomorphosites: définition, évaluation et cártographie: une introduction. Géomorphologie: relief, processus, environment. Paris: n.3, p REYNARD, E; PRALONG, J. P. Paysagens géomorphologiques. Paris: Institut Géographie de l Université Laussane, SALES, V. C. Paisagens geomorfológicas espetaculares: geomorfossítios do Brasil. Revista Geografia (UFPE). Recife, v. Especial VIII SINAGEO, n.3, SCHOBBENHAUS, C; CAMPOS, D. A; QUEIROZ, E. T; WINGE, M; BERBERT-BORN, M.Sítios geológicos e paleontológicos do Brasil. Brasília: DNPM, VIEIRA, A. O patrimônio geomorfológico no contexto da valorização da geodiversidade: sua evolução recente, conceitos e aplicação. Revistas Cosmos. v.7, n.1, VIEIRA, A; CUNHA, L. A importância dos elementos geomorfológicos na valorização da paisagem: exemplos em morfologia cársica e granítica. Anais... COLÓQUIO IBÉRICO DE GEOGRAFIA, IX. AEG e APG, Huelva,

310 . Patrimônio geomorfológico: tentativa de sistematização. In: SEMINÁRIO LATINO- AMERICANO DE GEOGRAFIA FÍSICA, III, UNAM, Puerto Vallarta, México, Patrimônio geomorfológico: do concepto ao projecto. Publicações da Associação Portuguesa de Geomorfólogos. v.3, p WINGE, M; SCHOBBENHAUS, C; SOUZA, C. R. de G; FERNANDES, A. C. S; QUEIROZ, E. T. de; BERBERT-BORN, M; CAMPOS, D. de A. Sítios geológicos e paleontológicos do Brasil. v,2. Brasília: CPRM, WINGE, M; SCHOBBENHAUS, C; SOUZA, C. R. de G; FERNANDES, A. C. S; QUEIROZ, E. T. de; BERBERT-BORN, M; SALLUN FILHO, W; QUEIROZ, E. Sítios geológicos e paleontológicos do Brasil. v,3. Brasília: CPRM,

311 POTENCIAL PARA CRIAÇÃO DE GEOPARQUES NO PIAUÍ: PROPOSTAS PARA A SERRA DA CAPIVARA E SETE CIDADES PEDRO II Brenda Rafaele Viana da Silva Universidade Federal do Piauí UFPI Mestranda em Geografia UFPI rafaele.14@hotmail.com Iracilde Maria de Moura Fé Lima Universidade Federal do Piauí UFPI Doutora em Geografia UFMG iracildemourafelima@gmail.com Eixo temático: Geoconservação, Geoturismo e desenvolvimento local Resumo: O presente trabalho teve como objetivo realizar uma discussão acerca da criação de Geoparques como tentativa de valorização da geodiversidade de uma área, a partir da análise das propostas de criação dos Geoparques Serra da Capivara e Sete Cidades Pedro II, no estado do Piauí. Para dar suporte a este estudo foi utilizado como procedimento metodológico a pesquisa bibliográfica em gabinete, através de livros, artigos, dissertações, teses e sites da internet. Quanto aos resultados e discussões, foi possível evidenciar o potencial geológico, geomorfológico e da geodiversidade do espaço piauiense, identificados com a inventariação e quantificação de trinta e sete geossítios do Geoparque Serra da Capivara e de vinte geossítios no Geoparque Sete Cidades Pedro II, destacando assim a criação de geoparques como uma importante estratégia para a Geoconservação e o desenvolvimento sustentável local. Palavras-chave: Geodiversidade. Patrimônio Geológico e Geomorfológico. Geoparque. Desenvolvimento Sustentável. Abstract: The present work had the objective of discussing the creation of Geoparks as an attempt to valorize the geodiversity of an area, based on the analysis of the proposals for the creation of the Serra da Capivara and Sete Cidades-Pedro II Geoparks, in the state of Piauí. To support this study was used as a methodological procedure the bibliographic research in the office, through books, articles, dissertations, theses and internet sites. Regarding the results and discussions, it was possible to show the geological, geomorphological and geodorhological potential of the Piauían space, identified by the inventory and quantification of thirty-seven geosites of the Serra da Capivara Geopark and twenty geosites in the Sete Cidades-Pedro II Geopark. thus creating geoparks as an important strategy for Geoconservation and local sustainable development. Keywords: Geodiversity. Geological and Geomorphological Heritage. Geopark. Sustainable development. 311

312 INTRODUÇÃO A conservação e a valorização do patrimônio geológico e geomorfológico são hoje um grande desafio para os pesquisadores das ciências da Terra. Azevedo (2007) afirma que os fósseis, os minerais, o relevo e as paisagens são produtos e registros da evolução geológica do planeta e parte integrante do mundo natural tendo um grande impacto na sociedade, necessitando urgentemente serem geoconservados, através de suas mais diversas ações e estratégias. Brilha (2005) afirma que a criação de geoparques pode constituir um importante instrumento na concretização do desenvolvimento sustentável. Isto porque um geoparque é uma área em que se conjuga a geoconservação e o desenvolvimento econômico sustentável das populações que a habitam, procurando-se estimular a criação de atividades econômicas suportadas na geodiversidade da região, com o envolvimento e participação das comunidades locais. Os primeiros geoparques foram criados na Europa no ano de 2000, continuando a serem implantados desde então. Na Ásia, em especial na China, os geoparques se encontram em acelerada disseminação. No Brasil, o conceito é ainda pouco conhecido, inclusive entre os geólogos, que ainda o confundem com parques com motivos geológicos ou roteiros geológicos. No entanto, o conceito de geoparque é algo mais amplo e complexo, sendo equiparado pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), aos programas de Reserva da Biosfera e Patrimônio da Humanidade (BACCI et al, 2009). O Projeto Geoparques do Serviço Geológico do Brasil (CPRM) representa importante papel indutor na criação de geoparques no Brasil. Esse projeto tem como premissa básica a identificação, levantamento, descrição, diagnóstico e ampla divulgação de áreas com potencial para futuros geoparques, incluindo o inventário e quantificação de geossítios, que representam parte do patrimônio geológico do país (SCHOBBENHAUS; SILVA, 2012). O Brasil tem grande potencial para a criação de geoparques por sua enorme extensão territorial e uma rica geodiversidade, aliado à presença de sítios não geológicos de importância ecológica, arqueológica, histórica ou cultural reconhecendo, assim, o potencial e importância para a realização do geoturismo, geoconservação, fins educativos e pesquisas científicas nas áreas propostas. O objetivo do presente trabalho consistiu em realizar uma discussão teórica acerca da importância da criação de geoparques, na tentativa de valorização da geodiversidade de uma área, como uma importante estratégia da geoconservação. Destacou-se o patrimônio geológico e geomorfológico dos Geoparques Serra da Capivara e Sete Cidades Pedro II, tendo em vista que estes foram indicados como potenciais geoparques na proposta do Projeto Geoparques da CPRM. Tendo em vista que os estudos do Geoparque Serra da Capivara e Sete Cidades Pedro II já foram finalizados, estando a proposta completa do primeiro, publicada no volume um do livro 312

313 Geoparques do Brasil (SHOBBENHAUS; SILVA, 2012), e que a segunda encontra-se disponível no site como nova proposta concluída (BARROS et al, 2014) e, ainda, que os estudos do Cânion do Rio Poti e do Delta do Parnaíba ainda estão em fase de elaboração, optou-se por analisar neste trabalho as duas primeiras propostas de geoparques. Assim, diante das análises das propostas de criação de geoparques no Piauí (SHOBBENHAUS; SILVA, 2012; BARROS et al, 2014), foi possível evidenciar o potencial geológico, geomorfológico e da geodiversidade de modo geral, com a inventariação e quantificação de trinta e sete geossítios do Geoparque Serra da Capivara e vinte geossítios do Geoparque Sete Cidades Pedro II, destacando assim a criação de geoparques como uma importante estratégia para a geoconservação e o desenvolvimento sustentável local. GEOPARQUES: ORIGEM, CONCEPÇÕES E ESTRATÉGIA PARA A GEOCONSERVAÇÃO Um geoparque, segundo a definição da UNESCO (2006) é um território de limites bem definidos, com uma área suficientemente grande para servir de apoio ao desenvolvimento socioeconômico local. Deve abranger um determinado número de sítios geológicos relevantes ou um mosaico de aspectos geológicos de especial importância cientifica, raridade e beleza, representativo de uma região e da sua história geológica, eventos e processos. Além do significado geológico, deve também possuir outros significados, ligados à ecologia, geomorfologia, arqueologia, história e cultura. Desta forma, seu conceito está baseado no fornecimento de informações, educação, turismo e pesquisa geocientífica. Em outras palavras, os geoparques são aqueles lugares especiais na Terra que não só preservam o patrimônio geológico e geomorfológico, mas também usam esses geopatrimônios para o desenvolvimento sustentável das comunidades locais (MC KEEVER, 2010). Concordando com o pensamento de Brilha (2005), geoparques são áreas nas quais se procura estimular a criação de atividades econômicas suportadas na geodiversidade da região, com o envolvimento empenhado das comunidades locais. Desse modo, sua criação pode constituir um importante instrumento na concretização de ações que promovam ações geoconservacionistas e o desenvolvimento sustentável tanto em esfera local como regional, dependendo do seu planejamento. Nesse sentido, a geoconservação é conceitualmente o termo atribuído às iniciativas para manter os valores do patrimônio geológico, que compreende elementos da geodiversidade com valores científico, pedagógico, cultural, turístico ou outros que se sobrepõem à média. Para a Royal Society for Nature Conservation, a geodiversidade consiste: 313

314 na variedade de ambientes geológicos, fenômenos e processos ativos que dão origem a paisagens, rochas, minerais, fósseis, solos e outros depósitos superficiais que são o suporte para a vida na Terra (BRILHA, 2005 p. 30). Outro conceito que merece ser destacado é o de geossítios, que constituem um ou mais elementos da geodiversidade, delimitados geograficamente, que apresentem algum tipo de valor científico, educativo, cultural, turístico, etc. Assim, como afirma Nieto (2002), o patrimônio paleontológico, geológico, hidrológico, petrológico, mineralógico, entre outros, integram ou podem fazer parte de um geossítio. A origem da criação de geoparques, data de 1991, quando foi realizado em Digne (França) sob os auspícios da UNESCO o 1º Simpósio Internacional de Conservação do Patrimônio Geológico (First International Symposium on the conservation of the Geological Heritage). Nesse evento foi instituída a Declaração Internacional dos Direitos da Memória da Terra. Após este, entre os anos de 1991 e 1997 ocorreu o desenvolvimento do conceito de integração entre o patrimônio geológico e a sua conservação, valorização e o desenvolvimento sustentável, dentro de uma visão global de conexão entre esse patrimônio (MOREIRA, 2014). Um importante programa europeu de financiamento (o Leader +) em 1997 possibilitou que quatro territórios europeus (França, Grécia, Alemanha e Espanha) pudessem desenvolver e testar o conceito de geoparque, em cooperação com a UNESCO (MARTINI, 2010). Em 2000, as quatro áreas citadas fundaram, sob os auspícios da UNESCO, a Rede Europeia de Geoparques (European Geoparks Network EGN). Em 2001, a UNESCO lançou a iniciativa dos Geoparks e, em 2004, durante a 1ª Conferência Internacional da Rede Global de Geoparques (GGN) em Beijing (China) foi criada oficialmente a Rede (MARTINI, 2010). Assim, a GGN, o selo e a participação na Rede são atribuídos pela UNESCO, que adota o termo Geopark para designar as regiões integrantes, sendo as áreas consideradas como patrimônio geológico, parte de um conceito holístico de proteção, educação e desenvolvimento sustentável. Em setembro de 2016 a GGN contava com 120 Geoparques em 33 países membros (MEIRA, 2016). Um geoparque deve levar em consideração três pontos principais pelas áreas que desejarem integrar a GGN, segundo Martini (2010): Planejar: o processo para a criação de um geoparque leva tempo e o Governo deve estar ciente da intenção de que determinada região seja candidatada; Comunicar: a Secretaria da GGN deve ser comunicada dessa intenção e integrantes da GGN devem visitá-los, e demonstrar para a UNESCO evidências da existência de um projeto de geoparque aspirante. É importante ressaltar que um geoparque não se configura como um parque nos moldes do Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC) (BACCI et al, 2009), mas sim como uma unidade de gestão territorial, podendo essa ser de caráter tanto governamental como particular, ou até 314

315 mesmo os dois. Um geoparque não é necessariamente uma área protegida legalmente, mas um espaço de promoção da conscientização ambiental e de valorização do geopatrimônio, cultura e natureza local, fatores que induzem a uma lógica conservacionista. Nascimento, Gomes e Soares (2015) destacam que a ausência de um enquadramento legal, ao contrário da criação das Unidades de Conservação, constitui uma das principais razões do sucesso dessa iniciativa, em nível global. Dessa forma, os principais objetivos de um geoparque deverão ser: preservar o patrimônio geológico; assegurar o desenvolvimento sustentável; educar e ensinar ao grande público sobre temas relativos à geodiversidade (popularização das Geociências); criar e fortalecer entre as comunidades locais uma consciência conservacionista dos registros geológicos (geossítios) existentes no geoparque (SHOBBENHAUS, 2006). Geoparques no Brasil: Potencial e Ascensão No Brasil, apesar do grande potencial relacionado à geodiversidade e patrimônio geológico e geomorfológico, as ações relativas à criação de geoparques ainda são incipientes, se comparadas com outros países. Atualmente o país possui um único geoparque reconhecido pela GGN e UNESCO. Criado em 2006 no Ceará, o Geopark Araripe, localizado na porção cearense da Bacia do Araripe, foi o primeiro do Hemisfério Sul e das Américas. A candidatura foi encaminhada no ano de 2005 pelo governo do estado do Ceará e a Universidade Regional do Cariri (URCA), contando com apoio do governo alemão por meio do intercâmbio de cooperação do Deutscher Akademischer Austausch Dienst (DAAD). A justificativa de criação desse geoparque teve base no grande interesse para a humanidade, já que é considerada um dos principais sítios paleontológicos do Período Cretáceo do mundo (MEIRA, 2016). Dentre os atrativos do Geopark Araripe encontram-se vestígios de vida entre 110 e 70 milhões de anos, muito bem preservados e com grande diversidade, além de uma riquíssima geodiversidade. Os fósseis encontrados englobam desde microorganismos até plantas, vertebrados e invertebrados. Foram inventariados 59 geossítios no geoparque, sendo que desses, nove foram selecionados para medidas de divulgação (Colina do Horto, Cachoeira de Missão Velha, Floresta Petrificada do Cariri, Batateiras, Pedra Cariri, Parque dos Pterossauros, Riacho do Meio, Ponte de Pedra, Pontal da Santa Cruz), situados em Santana do Cariri, Nova Olinda, Crato, Barbalha, Juazeiro do Norte e Missão Velha no estado do Ceará. Esses geossítios mostram não somente a geodiversidade da área em questão, mas também seu valor científico, pedagógico, cultural e turístico, apresentando relevância de caráter paleontológico, geomorfológico, estético e cultural (BACCI et al, 2009). No Brasil o órgão que gerencia o patrimônio geológico é a Comissão Brasileira de Sítios Geológicos e Paleobiológicos (SIGEP). Os principais objetivos da SIGEP são o levantamento, a discrição e a publicação/divulgação de sítios geológicos. A divulgação dessas atividades realizadas 315

316 pelo SIGEP se dá através da disponibilização pela internet, de artigos científicos bilíngues elaborados por especialistas que trabalham na área do sítio cadastrado, assim como a confecção de livros e publicação de artigos em revistas e congressos científicos. Como se observa na figura 1, foram indicadas para o estado do Piauí quatro áreas com potencial criação de geoparques: Serra da Capivara, Sete Cidades Pedro II, Cânion do Rio Poti e o Delta do Parnaíba. Figura 1 - Mapa de Localização das Propostas de Geoparques no Brasil, em Fonte: CPRM, METODOLOGIA Adotou-se neste trabalho uma abordagem qualitativa, caracterizando-se como pesquisa bibliográfica em gabinete, conforme Gil (1996), como leitura e análise de materiais já elaborados com o intuito de agregar a contribuição de diversos autores sobre determinado tema ou objeto. Assim, foram examinados os diferentes conceitos e abordagens relativos à importância da criação de geoparques, utilizando-se livros, artigos, dissertações, teses e sites da internet, com destaque para: Azevedo (2007), Bacci et al (2009), Brilha (2005), Della Fávera (2002), Gil (1996), Guerin, Faure e Curvello (2002), Lima (1987), Lima, Abreu e Lima (2000), Martini (2010), MC Keever (2010), Meira (2016), Moreira (2014), Nascimento, Gomes e Soares (2015), Nieto (2002), Ramos e Fernandes (2010), Shobbenhaus (2006) e UNESCO (2006). Sobre a criação de geoparques no Piauí, foram utilizados os estudos de Schobbenhaus e Silva (2012) e Barros et al (2014), através do Projeto Geoparques do Brasil da CPRM. 316

317 RESULTADOS E DISCUSSÃO São apresentados a seguir os resultados e discussão da análise das propostas de criação de dois geoparques no Piauí: Geoparques Serra da Capivara e Sete Cidades Pedro II, com base nos estudos de Schobbenhaus e Silva (2012) e Barros et al (2014). Geoparque Serra da Capivara PI O estudo técnico e diagnostico preliminar do Geoparque Serra da Capivara foi apresentado na 1ª Conferência Latino-americana e Caribenha de Geoparques, realizada na área do Geopark Araripe CE, em A proposta a ser submetida à RGG corresponde a uma área de cerca de ha, englobando sítios geológicos complementares aqueles situados dentro do Parque Nacional Serra da Capivara, importantes para o entendimento da evolução geológica da região, além de outros valores paisagísticos e da biodiversidade e geodiversidade excepcionais. O significado históricocultural e a inserção de comunidades do entorno da área deste Parque também contribuíram para uma maior extensão territorial da área proposta (SCHOBBENHAUS; SILVA, 2012). Identificou-se que a abordagem sobre os patrimônios naturais, etnográficos, arqueológicos, históricos, arquitetônicos, paisagísticos, geológicos e geomorfológicos estão contemplados na proposta de criação desses geoparques, tendo em vista que essas áreas apresentam excepcionalidade, singularidade e importância local, regional, nacional e mundial, embasando a solicitação da chancela de Geoparque junto a RGG, sob a égide da UNESCO. O Parque Nacional Serra da Capivara foi criado através do Decreto Federal nº , de , envolvendo áreas da chapada da Serra da Capivara e da Depressão Periférica à Bacia Sedimentar do Parnaíba (LIMA, 1987), com ha de área e 214,23km de perímetro, localizado no Sudeste do Estado do Piauí, abrangendo parte dos municípios de São Raimundo Nonato, Coronel José Dias, João Costa e Brejo do Piauí. Nesse parque são preservados cerca de sítios arqueológicos e paleontológicos, dos quais 14% estão preparados para a visitação, com diversos circuitos turísticos para os mais diferentes públicos, com paisagens diversas, monumentos geológicos, flora e fauna típicas da região, inclusive parte destes preparados para turistas portadores de necessidades especiais (GUERIN; FAURE; CURVELLO, 2002). A gestão do Parque esteve a cargo do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMbio), estando atualmente esta gestão compartilhada entre o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), o Instituto Brasileiro de Museus (IBRAM), o 317

318 Ministério do Meio Ambiente, o Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social, a Fundação do Homem Americano (FUMDHAM) e o Governo do Piauí. O Parque Nacional Serra da Capivara está incluído na Lista de Patrimônio Mundial da UNESCO desde 1991, como testemunho único e excepcional de tradições culturais ou civilizações já extintas identificadas pelos vestígios encontrados. É caracterizado também por exemplares de beleza natural e estética e de uma diversidade biológica impar, abrigando um número significativo de espécies ameaçadas de extinção (GUERIN; FAURE; CURVELLO 2002) apresentando, assim, um valor grandioso de geodiversidade. Os sitios geológicos (geossítios) selecionados para a proposta do Geoparque Serra da Capivara se encontram numa zona de fronteira geológica, geomorfológica e ecológica com raridade de formas, beleza cênica, paisagens exuberantes de vegetação dos biomas Caatinga, Cerrado e zonas de transição que, juntos, guardam uma riqueza reveladora do passado pré-histórico do homem americano. Nessa área foram ordenados dez circuitos subdivididos em 37 diferentes geossítios, que correspondem aos diferentes roteiros turísticos utilizados no Parque (SCHOBBENHAUS; SILVA, 2012), dotados de valores da biodiversidade, geodiversidade, bem como patrimônio geológico e geomorfológico. Para ilustrar os ambientes dos circuitos identificados na proposta de criação do geoparque, na figura 2 são apresentadas imagens de alguns dos geossítios que o compõem. Figura 2: Painel de fotografias de alguns geossítios do Geoparque Serra da Capivara, PI. A Geossítio Alto da Pedra Furada; B Geossítio Baixão das Andorinhas e Variante; C Toca da Extrema; D Baixão da Esperança; E Pedra Caída / Toca da Invenção. Fonte: Schobbenhaus e Silva, Dessa forma, Schobbenhaus e Silva (2012) afirmam que a gestão e estruturação do Geoparque Serra da Capivara deverá ser a mesma responsável pelo Parque Nacional e área de entorno, com atribuições que lhes são devidas e já desenvolvidas na área. A articulação de programas e projetos deverá ter a participação de parceiros privados e públicos nas esferas local, regional, nacional e 318

319 internacional. Além dessas parcerias, destacam a necessidade de criação de um Comitê Técnico- Executivo, cuja atribuição principal deverá estar voltada para ações de planejamento, implementação e monitoramento das atividades empreendedoras desenvolvidas na região. Já o Conselho Gestor do Geoparque deverá ser constituído por uma presidência, vice-presidência e secretário, apoiados por um núcleo administrativo e financeiro. Geoparque Sete Cidades Pedro II Em conformidade com os objetivos do Projeto Geoparques, ou seja, os de identificar, classificar, descrever, catalogar, georreferenciar e divulgar propostas de geoparques do Brasil, bem como sugerir diretrizes para seu desenvolvimento sustentável, os estudos devem seguir os preceitos da Rede Global de Geoparques (RGG), sob os auspícios da UNESCO. Assim, foi apresentado um estudo técnico e diagnóstico para embasar a proposta de criação do Geoparque Sete Cidades-Pedro II, envolvendo partes de sete municípios na região norte do estado do Piauí (BARROS et al 2014). Ressalta-se que a proposta de criação deste Geoparque foi publicada apenas como nova proposta concluída no site da CPRM disponível para download (Barros et al, 2014), aguardando assim a sua publicação oficial no segundo volume do livro Geoparques do Brasil - propostas. Nesse sentido, a área proposta para a criação do Geoparque Sete Cidades-Pedro II atende aos requisitos para a criação do mesmo, uma vez que a área apresenta uma variedade de sítios de relevância geológica e geomorfológica de interesse científico, turístico e educativo, sítios arqueológicos, uma rica fauna e flora bem preservada e valores histórico-culturais agregam valor a proposta. Outro aspecto importante é o fato da área proposta para o geoparque incluir integralmente o território do Parque Nacional de Sete Cidades, o que significa a existência de instrumento legal já existente para a sua proteção. Administrado pelo ICMBio, o seu plano de manejo encontra-se em fase de revisão (BARROS et al, 2014). Corresponde a um sítio aprovado pela SIGEP (DELLA FÁVERA, 2002), potencial candidato à Lista Indicativa do Patrimônio Mundial do UNESCO, por representar coleção impressionante de monumentos naturais sobre afloramentos de rochas do Neodevoniano de excepcional beleza natural e importância estética (BARROS et al 2014). Na região onde se localiza a área proposta para esse Geoparque, a atividade econômica é baseada tradicionalmente na pecuária e no extrativismo da carnaubeira, palmeira nativa que produz resinas vegetais de larga aplicação na indústria, além da cajucultura, apicultura e a extração mineral da opala, além de um pólo de confecções do setor de vestiário. Envolve áreas dos municípios de Piracuruca e Brasileira, Piripiri, Pedro II, Lagoa de São Francisco, Esperantina e Batalha, englobando todo o Parque Nacional de Sete Cidades, incluindo uma porção do ambiente semiárido do Nordeste brasileiro (LIMA; ABREU; LIMA, 2000). 319

320 O Parque Nacional de Sete Cidades foi criado pelo Decreto nº , em , constituindo como um dos mais antigos parques do Brasil. É classificado como uma Unidade de Proteção Integral, segundo o SNUC, encontrando-se aberta à visitação pública, através do turismo ecológico e educacional. Para isso conta com uma associação de guias, localizada junto à sede administrativa do parque, para facilitar o acompanhamento obrigatório aos visitantes. As trilhas existentes no parque estão bem demarcadas e com acesso facilitado, tanto para automóveis como pedestres, onde estão localizados os geossítios contidos nesta proposta. O fato de uma área protegida legalmente, bem estruturada e com plano de manejo efetivado estar localizada dentro do território proposto para o geoparque, representa um aspecto positivo para a criação do mesmo (BARROS et al, 2014). A área deste geoparque se encontra no compartimento de relevo denominado Baixos Planaltos do Médio-baixo Parnaíba, apresentando feições residuais de baixa amplitude altimétrica (LIMA, 1987), esculpidas essencialmente nos arenitos devonianos da Formação Cabeças, correspondendo a feições de relevo do tipo ruiniforme, que são responsáveis pela diversidade de formas, que lembram figuras de pessoas, animais e objetos (BARROS et al, 2014). Esses conjuntos rochosos são denominados de cidades e dão nome ao Parque Nacional de Sete Cidades e ao Geoparque proposto. Geoformas semelhantes esculpidas na mesma formação geológica são encontradas em outras regiões do Estado do Piauí, a exemplo da Pedra do Castelo, no município homônimo. Na área de seu entorno afloram rochas pertencentes às sequências Siluriana e Mesodevoniana-Eocarbonífera: grupos serra Grande e Canindé, cortadas por diabásios da Formação Sardinha, de idade cretácea e sobrepostas por delgadas coberturas colúvio-aluviais recentes de forma descontínua, conforme se observa no mapeamento geológico do Piauí (CPRM/PIAUI, 2006). Na área proposta para o Geoparque Sete Cidades-Pedro II foram selecionados vinte geossítios com base nos seguintes aspectos: Geomorfologia; Estruturas sedimentares ou conjunto de feições geológicas e Associação com pinturas rupestres. Na proposta original do Geoparque, foi realizada a descrição de cada geossítio, seus aspectos geológicos e geomorfológicos e as tabelas-resumo (BARROS et al, 2014). As fotografias constantes na Figura 3 mostram alguns aspectos dos geossítios desta área. 320

321 Figura 3: Painel de fotografias de alguns geossítios do Geoparque Sete Cidades Pedro II, PI. A Geossítio Pedra da Tartaruga; B Geossítio Arco do Triunfo; C Pedra dos Canhões; D Biblioteca; E Pedra Caída / Toca da Invenção. Fonte: Barros et al, A criação deste geoparque pressupõe evidentemente a sua formalização junto à administração do ICMBio, adequando a sua implantação ao plano de manejo vigente no Parque Nacional de Sete Cidades. Na fase de sua implementação, instituições como a CPRM certamente oferecerão apoio técnico para a confecção de material ilustrativo dos atrativos do geoparque, para distribuição ao público visitante; na construção de placas interpretativas nos diversos geossítios e, ainda, o treinamento dos guias, através de cursos sobre os temas geológicos e outros presentes no geoparque. CONCLUSÃO O conceito de geoparque, diferentemente daquele utilizado no SNUC para a criação de um Parque, permite o uso e ocupação da área como suporte para o desenvolvimento sustentável, desde que as comunidades locais e os turistas participem de praticas de educação ambiental, voltadas para busca da adoção de atitudes de preservação, conservação e valorização do patrimônio geológico e geomorfológico. A geração de renda deverá ser buscada através de estratégias da geoconservação, como por exemplo, o geoturismo. Assim, além da estruturação de áreas destinadas à geoconservação, ao geoturismo e à geoeducação, os geoparques devem estar voltados, paralelamente, para a busca do desenvolvimento local, envolvendo as comunidades de seu entorno. Através das propostas de futuros geoparques, realizadas sob a coordenação da CPRM, ficou evidenciado o potencial existente para criação de geoparques no território brasileiro, sendo exemplos as propostas no estado piauiense dos Geoparques Serra da Capivara e Sete Cidades Pedro II. Estes estudos demonstram a existência de grande potencial geológico, geomorfológico e da geodiversidade no estado do Piauí, conforme se discutiu neste trabalho. Desta forma, pode-se afirmar que o Projeto Geoparques, criado em 2006 por iniciativa da CPRM, tem um importante papel indutor na criação de 321

322 geoparques no Brasil, representando, assim, o passo inicial para a criação de geoparques a serem implantados no futuro. Por fim, considerou-se que essas áreas propostas para a criação de geoparques no Piauí apresentam elevada significância, constituindo-se expectativas de contribuição para a busca do desenvolvimento sustentável para o estado. E ainda que, a grande extensão do espaço piauiense, a diversidade de ambientes naturais e sua rica geodiversidade, justificam que outras áreas deste estado sejam estudadas/escolhidas a fim de serem incluídas na proposta de criação de novos geoparques no Brasil. REFERÊNCIAS AZEVEDO, Ú. R. Patrimônio geológico e geoconservação no Quadrilátero Ferrífero, Minas Gerais: potencial para a criação de um geoparque da UNESCO f. Tese de doutorado em Geologia. Universidade Federal de Minas Gerais UFMG. Belo Horizonte: BACCI, D. L. C;. PIRANHA, J. M;. BOGGIANI, P;. C. LAMA, E. A. D;. TEIXEIRA, W. Geoparque - Estratégia de geoconservação e projetos educacionais. Revista do Instituto de Geociências - USP, São Paulo, v. 5, p. 7-15, BARROS, J. S.; FERREIRA, R. V.; PEDREIRA, A. SCHOBBENHAUS, J. C. (Org). Geoparque Sete Cidades Pedro II PI: proposta. Rio de Janeiro: CPRM, 56 p, Disponível em: < Acesso em: 20 ago BRILHA, J. B. R. Patrimônio geológico e geoconservação: a conservação da natureza na sua vertente geológica. São Paulo: Palimage, DELLA FÁVERA J. C. Eventos de sedimentação episódica nas bacias brasileiras. Uma contribuição para atestar o caráter pontuado do registro sedimentar. Anais do 33º Congresso Brasileiro de Geologia, Rio de Janeiro, v.1, p , GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 3. ed. São Paulo: Atlas, p. GUERIN, C;. FAURE, M;. CURVELLO, M. A. Toca da janela da Barra do Antonião, São Raimundo Nonato, PI. In: SCHOBBENHAUS, Carlos (Ed.) et al. Sítios Geológicos e Paleontológicos do Brasil. Brasilia: DNPM; CPRM; SIGEP, v. 1, p , LIMA, I.M.M.F. Relevo do Piauí: uma proposta de classificação. In: Carta CEPRO. Teresina: CEPRO, v. 12, 1987, p Disponível em: Acesso em: 10 jul ; ABREU, I.G.; LIMA, M.G. O Semiárido Piauiense: delimitação e regionalização. In: Carta CEPRO. Teresina: CEPRO, v. 18, 2000, p Disponível em: Acesso em: 10 jul

323 MARTINI, G. Desenvolvimento regional: o papel dos geoparks. Palestra. Salão do Turismo, 5, São Paulo, Disponível em: < br/salao/nucleo_conhecimento/apresentacoes_2010/>. Acesso em: 24 ago MC KEEVER, P. Communicating Geoheritage: An essential tool to build a strong Geopark brand. In: UNESCO INTERNATIONAL CONFERENCE ON GEOPARKS, 4., 2010, Langkawi. Abstracts... Langkawi: UNESCO, p. 10, MEIRA, S. A. "Pedras que cantam": O Patrimônio Geológico do Parque Nacional de Jericoacoara, Ceará, Brasil f. Dissertação (Mestrado em Geografia) Universidade Estadual do Ceará, Fortaleza, MOREIRA, J. C. Geoturismo e interpretação ambiental. Ponta Grossa: UEPG, 2014, 157 p. NASCIMENTO, M. A. L; GOMES, C.S.C.D.; SOARES, A.S. Geoparque como forma de gestão territorial interdisciplinar apoiada no geoturismo: caso do Projeto Geoparque Seridó. Revista Brasileira de Ecoturismo, v.8, n.2, p , NIETO. L. M. Patrimonio Geológico, Cultura y Turismo. Boletín del Instituto de Estudios Giennenses, n 182, p , RAMOS, G. M. A; FERNANDES, J. L. Geoparques enquanto rede e a criação de instituições multiactores. In: SEMINÁRIO LATINO-AMERICANO DE GEOGRAFIA FÍSICA, 5., 2010, Coimbra. Anais... Coimbra: Universidade de Coimbra, SCHOBBENHAUS, C.; SILVA, C.R. (Org.). Geoparques do Brasil: Propostas. Rio de Janeiro: CPRM, v p. Disponível em: < stas.pdf?sequence=1>. Acesso em: 20 ago SCHOBBENHAUS, C. Geoparques e geossítios do Brasil: estratégias e diagnóstico do potencial para geoturismo e geoconservação. Rio de Janeiro: CPRM, UNESCO. The criteria for selection Disponível em: < criteria/>. Acesso em: 23 ago SERVIÇO GEOLÓGICO DO BRASIL CPRM. Territorial/Geoparques-134. Acesso em: 25 ago ; GOVERNO DO PIAUI. Mapa geológico do Piauí. 2ª. Ed.Teresina: CPRM,

324 ALTERAÇÕES AMBIENTAIS DECORRENTES DA EXTRAÇÃO DO OURO NO GARIMPO DE CAXIAS- MUNICÍPIO DE LUÍS DOMINGUES-MA Eixo temático: Geomorfologia e Planejamento Ambiental Lílian Daniele Pantoja Gonçalves UEMA/ Mestranda em Geografiadanielepantoja@hotmail.com José Fernando Rodrigues Bezerra UEMA/DHG/PPGEO fernangeo@yahoo.com.br Gilberlene Serra Lisboa UEMA/Mestranda em Geografia gilberlene_serra@yahoo.com.br Resumo: A atividade de mineração é importante para o desenvolvimento da sociedade e economia em seus mais diversos setores produtivos, sendo, ao longo dos anos. Porém, os impactos ambientais causados pela mineração, sobretudo o uso de produtos químicos, como o mercúrio, vêm onerando drasticamente o ambiente, como os que ocasionam alterações ambientais e contaminação dos recursos hídricos. A pesquisa tem como objetivo analisar os problemas ambientais provenientes da extração do ouro, sobretudo o uso do mercúrio no Garimpo de Caxias, localizado 8 km do município de Luís Domingues, noroeste do Estado do Maranhão. O trabalho utlizada metodologia baseada no Geossistema, afim de diagnosticar as consequências da atividade mineradora nos meios físico e biótico. Concluiu-se que, os moldes de produção investigados, direciona para um impacto negativo de nível elevado no cenário ambiental e social, proporcionando poucos aspectos positivos (atividade fim de sobrevivência do garimpeiro, remuneração). Palavras-chave: Alterações; Extração de ouro; Garimpo de Caxias, Luís Domingues Abstract: The mining activity is important for the development of society and economy in its most diverse productive sectors, being, over the years. However, the environmental impacts caused by mining, especially the use of chemicals, such as mercury, have been drastically damaging the environment, such as those causing environmental changes and contamination of water resources. The objective of the research is to analyze the environmental problems caused by the extraction of gold, especially the use of mercury in the Garimpo de Caxias, located 8 km from the municipality of Luís Domingues, northwest of the State of Maranhão. The work uses methodology based on the 324

325 Geosystem, in order to diagnose the consequences of the mining activity in the physical and biotic means. It was concluded that the production models investigated, leads to a negative impact of high level in the environmental and social scenario, and provides very few positive aspects (activity end of survival of the garimpeiro, remuneration). Key-words: Changes; Gold extraction; Garimpo of the Caxias, Luís Domingues INTRODUÇÃO O ato de minerar é uma das atividades mais primitivas exercidas pelo homem como fonte de sobrevivência e produção, através da manipulação de rochas e minerais para a produção de artefatos que facilitassem a vida em sociedade, especialmente pela possibilidade da produção de bens e acumulação de capital. Segundo Ramos (2005), a interferência do homem na natureza com a finalidade de exploração dos recursos naturais gera problemas ambientais, onde o solo e a água são os primeiros recursos afetados. Essas áreas podem ser inutilizadas caso haja teores de elementos-traço acima do estipulado pelas legislações em vigor, sendo que esses podem permanecer no ambiente por um longo período. Neste sentido, a atividade extrativa decorrente da mineração, têm causado por suas práticas sem técnicas adequadas e sem controle um visível quadro de degradação no ambiente (FERNANDES; ALAMINO, 2014). A descoberta de ouro na porção norte do Estado do Maranhão, região localizada entre os rios Gurupi e Maracaçumé, remonta ao ano de 1624, com as primeiras incursões de europeus em território brasileiro. Segundo relatos da época, os primitivos índios que viviam na região já conheciam o metal considerando-o, entretanto de pouca importância. Porém, um fator agravante na extração do ouro, se dá através da poluição mercurial, decorrente da atividade garimpeira, a qual tem sido objeto de estudos no Brasil por autores como Fernandes; Alamino; Araújo (2014), Ramos (2005), Brasil (2013). A atividade extrativa mineral, causa alterações no ambiente, tornando-se fonte de degradação, quando empreendida sem as medidas de controle adequadas. O mercúrio metálico lançado no meio ambiente, é volátil, podendo ser oxidado e metilado para a forma mais tóxica, o metil-mercúrio, incorporando-se aos organismos vivos pela cadeia alimentar. Dessa forma, pode ocasionar sérios danos à saúde dos animais e do ser humano (TANNÚS, 2001). Assim, no processo de garimpagem na área de estudo, a utilização do mercúrio pelos garimpeiros para concentração do ouro na bateia é um procedimento quase que inevitável. Geralmente utilizam o composto orgânico do mercúrio no formato Metilmercúrio [CH₃Hg]+, este é considerado o mais importante devido à alta toxicidade para o organismo humano. Além do uso indiscriminado de mercúrio e da forma como tal elemento é manuseado, pode aumentar o nível de metilação, assim como o escoamento superficial pode transportar o mercúrio para corpos d água locais e contaminar o 325

326 lençol freático. Fatores, tais como, ph, condutividade elétrica, disponibilidade de oxigênio, temperatura, atividade biológica e concentração de nutrientes, entre outros. Desta forma, o risco de contaminação do ambiente por mercúrio, em área de garimpo, tem sido alvo de preocupação da pesquisa, no intuito de verificar a quantidade de teor do elemento lançado nos efluentes do garimpo, o que permeia por uma questão de saúde pública. Portanto, um dos procedimentos da pesquisa, a coleta de amostras de água superficial em dois lagos do garimpo (antigos barrancos) e água consumida pela comunidade para fim de análise físico-química e identificação do teor de mercúrio. O objetivo deste trabalho é apresentar informações sobre a atividade de extração de ouro no garimpo de Caxias e seus reflexos no ambiente e na saúde humana decorrentes da utilização do mercúrio. Estudos dessa natureza possibilitam compreender as relações entre meio ambiente e saúde pública, possibilitando o desenvolvimento de novas medidas de prevenção e controle ambiental. METODOLOGIA A pesquisa foi realizada entre os meses de maio a novembro de 2016, conduzida metodologicamente, com base na abordagem da Teoria do Geossistema, na perspectiva de Bertrand (1968), que entende o geossistema como uma estrutura dinâmica resultante da interação entre o potencial ecológico, a exploração biológica e a ação antrópica, sendo que todos esses componentes se inter-relacionam e influenciam o funcionamento dos geossistemas. No garimpo do Caxias esses três eixos estão interligados, devido a atuação do homem e a atividade minerária desenvolvida. A pesquisa teve como ponto de partida, levantamento e análise do material bibliográfico apoiado em autores como: Ramos (2005), Tannus (2001), Lacerda (2006); Fernandes; Alamino; Araujo (2014), pesquisas realizadas na biblioteca da Universidade Estadual do Maranhão (UEMA), Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), estudo das Resoluções do CONAMA 357/05 e 396/08 relacionadas ao meio ambiente no setor mineral, qualidade das águas. Além de produção de mapas temáticos da área de estudo, tais como: mapa de localização, geológico, solos, hipsometria, declividade, dentre outros procedimentos, como: realização de dois trabalhos de campo no período de estiagem com o auxílio do GPS, câmera digital, e observações quanto à rotina de trabalho dos garimpeiros bem como diálogo com este grupo. A realização dos trabalhos de campo, possibilitou a definição das questões norteadoras que contribuíram na elaboração de questionários com perguntas semiestruturadas. Foram elaborados questionários distintos, destinados aos garimpeiros e lideranças comunitária, o qual contemplou perguntas considerando a questão social, percepção ambiental, uso do mercúrio, produção de ouro, organização de trabalho desses garimpeiros. Na área de estudo, 40 garimpeiros trabalham diariamente, sendo que a abrangência das entrevistas foi de 15% do montante total, havendo 326

327 participação mínima de entrevistados devido à resistência de alguns neste aspecto em colaborar com o estudo. Nesta etapa de registro de entrevistas locais foram utilizados recurso do rádio gravador portátil. Quanto a identificação do teor de mercúrio nos corpos líquidos superficiais do garimpo, as coletas de amostras basearam-se pelo método da Agência Nacional das Águas (ANA, 2011, p.53), foram observados e anotados fatos, que poderiam interferir nas características da amostra (cor, odor, ou aspecto estranho como presença de óleos e material sobrenadante), obedecendo os cuidados elencados na metodologia. Os locais de coleta foram escolhidos de acordo com a localização estratégica e uso de água dos lagos, formados por antigos barrancos de mineração. Assim, foram coletadas 05 amostras de águas dos lagos minerados e 01 do poço comunitário, as coletas foram divididas em 3 grupos. (Figura 1). O Grupo 1- Lago Principal: Coleta 1A: a 04 metros da margem direita com profundidade de 01m. - Coleta 1B: a 03 m da margem esquerda com profundidade de 0,70cm a 1m. Grupo 2 - Represa de água de barranco Coleta 2A: 04 m da margem esquerda, profundidade de 2m. Coleta 2B: próximo a lavagem dos tapetes e caixa d`água- 02m da margem direita, com profundidade de 2m. Grupo 03 Água de torneira- poço comunitário. Coleta 3A- 01 amostra coletada de água corrente da casa de moradora em frente aos barrancos. Figura 1: Mapa de localização dos pontos de coleta de amostras de água 327

328 As amostras foram coletadas sem a presença de chuva nas últimas 24 horas, de forma manual com o auxílio de uma haste coletora já acoplado em garrafa de polietileno (PET) capacidade para 500 ml. As garrafas estavam devidamente etiquetadas, tampadas e previamente descontaminadas com água destilada e ambientados com água do próprio local de coleta. Para fins de preservar as amostras, as mesmas foram mantidas sob resfriamento em gelo, em caixas térmicas, até chegada ao laboratório, onde foram acondicionadas em geladeira a 4º C e, posteriormente, encaminhadas para análise (ANA, 2011, p.55). Em laboratório, as análises de mercúrio total, foram realizados pelo Espectrofotômetro de absorção Atômica, de acordo com a metodologia citada em Lutz As demais informações coletadas nos trabalhos de campo, foram posteriormente analisados e interpretados seus dados. Desta forma, o registro da atividade de exploração do mineral, permitiu através das pesquisas de campo, uma análise estruturada dos meios físico, biótico e antrópico, que serão detalhados a seguir. RESULTADOS E DISCUSSÃO A problemática analisada neste trabalho, abrange os reflexos e problemas sociais e ambientais atribuídos à mineração realizada na área de estudo, bem como o uso indiscriminado do mercúrio pelos garimpeiros durante todo o processo de extração do ouro. Na região noroeste do estado do Maranhão, mas especificamente no Garimpo de Caxias, segundo relatos de moradores antigos, a área rica de minério foi descoberta desde 1934, mas, em 1980, a disseminação da notícia de que havia grande quantidade de ouro no garimpo atraiu um número significativo de imigrantes para a área, fazendo com que os garimpeiros se fixassem no local, construindo casebres até hoje ocupados por moradores que presenciaram a formação deste garimpo. A extração do ouro era realizado com o emprego de tecnologia rudimentar como motores e bombas para a lavagem do cascalho e seleção do material. O garimpo de Caxias, está localizado a 8 km da sede do município de Luís Domingues MA, na porção noroeste do Estado. O acesso à comunidade do garimpo é feito pela rodovia Estadual MA 301, entrando em estrada vicinal de chão batido. A pequena comunidade do garimpo do Caxias, está instalada em uma propriedade que inicialmente era particular e hoje apresenta-se como povoado de Luís Domingues. A comunidade do Caxias é composta por 21 casas, uma escola creche comunitária e uma igreja evangélica. Segundo relatos de moradores, a potencialidade aurífera do garimpo de Caxias foi identificada em 1934, iniciando-se o processo de exploração incipiente. Inicialmente os garimpeiros tinham acesso aos barrancos, e todo o trabalho era executado manualmente. Segundo informações do mais 328

329 antigo morador da área, os instrumentos comumente usados neste período eram: pilão de ferro, pesando aproximadamente 200 kg, e a bateia. Desde então, o garimpo de Caxias é exercido de forma manual, na contramão da legislação vigente, ou seja, vem atuando ao longo dos anos de forma clandestina, com uma produção que utiliza métodos artesanais para extração do ouro. Porém, mesmo com tais especificades, têm sua importância no sentido de fomentar a economia local e até regional. Garimpo de Caxias e uso de mercúrio Os primeiros estudos realizados na área do garimpo, revelaram áreas degradadas pela extração de ouro, devido intensa atividade de exploração desde os anos de 1980, resultando em seus corpos líquidos expressiva quantidade de metilmercúrio nos sedimentos, decorrente do último intenso ciclo garimpeiro. Nessa ocasião, um contingente numeroso de homens exerceu um intenso trabalho, utilizando equipamentos, como bombas de sucção, calhas de concentração. Durante todo esse período de exploração, assim como hoje, o mercúrio ainda é usado indiscriminadamente. No processo de extração do minério, o mercúrio é utilizado para auxiliar na separação do ouro, pelo processo da amalgamação em que o mercúrio adere ao ouro formando o amálgama. A prática artesanal exercida pelos garimpeiros, implica na utilização do mercúrio na sua forma líquida, fato este comprovado durante a aplicação dos questionários, no qual todos os entrevistados responderam de forma categórica que utilizam o elemento, o uso dá-se uma vez por semana, com a abertura da caixa de sedimentos, intitulados pelos garimpeiros de cobra fumando. Tal equipamento é rudimentar e feito com tábuas e assoalhado com um carpete grosso, para deter os sedimentos e partículas de ouro. Desta forma, a caixa é aberta uma vez por semana, geralmente aos sábados e com o uso do mercúrio as partículas de ouro são aprisionadas. Assim, cada barranco possui suas máquinas com motor, ocorrendo todos os procedimentos de garimpagem artesanal, porém de forma ilegal. Além disso, durante as entrevistas realizadas muitos garimpeiros relataram, que estão na atividade como forma de sobrevivência, já que não há outra oportunidade de emprego nos municípios próximos, muitos denominam-se até agricultores e garimpeiros, uma vez que as duas atividades dão proventos e subsistência para suas famílias. Porém, o desejo de ingressar e de terem oportunidade de estudar e se qualificar, seria uma entrada para mudanças e novas perspectivas para suas vidas. Com relação a quantidade de mercúrio utilizado por barranco semanalmente, 75% dos garimpeiros responderam que utilizam 50 gramas do elemento, as demais porcentagens registraram uma quantidade menor quanto ao uso do elemento, entre 20 e 30 gramas. 329

330 O resultado das análises comprovaram que em algumas amostras de água dos lagos há ocorrência de mercúrio com um teor acima de 0,2mg/l (0,2 ppm=200ppb), limite que indica um valor acima do permitido conforme Resolução CONAMA 357/05, que trata de níveis máximos da qualidade das águas superficiais, águas doces classe 2. Com exceção da amostra 1b do lago principal e da água do poço que a comunidade utiliza, onde os valores do teor de mercúrio ficaram abaixo, ou seja tolerante, obedecendo a Resolução CONAMA. (Quadro 1). Quadro 1: Concentração de mercúrio dos corpos líquidos superficiais- Garimpo de Caxias - MA COLETA LIMITE DE DETECÇÃO GRUPO DE AMOSTRAS Coleta 1A -Lago Grupo 1 principal- margem direita Coleta 1B- Lago principal margem esquerda Grupo 2 Coleta 2A- Lago 02- margem esquerda Coleta 2B- Lago 02- margem direita próximo a lavagem de tapetes e caixa dágua Grupo 3 >LD 0,2092 <LD 0,016 >LD 0,232 >LD 0,267 Coleta 1A- Água corrente da comunidade- casa em frente aos barrancos <LD 0,00258 Fonte: Dados da pesquisa, 2016 CONCENTRAÇÃO DE Hg (mg/l) Destaca-se ainda, o fator agravante facilitador de contaminação dos garimpeiros pelo mercúrio, ou seja, ausência de equipamentos de proteção, como máscaras ou luvas, permitindo que o mercúrio seja diretamente inalado pelos garimpeiros, os quais são conscientes dos riscos e o receio de ao longo do tempo serem acometidos de sérias complicações de saúde, visto que não há fiscalização e controle de nenhuma esfera, seja estadual como municipal. Reflexos socioambientais Diante do que fora exposto acima, conclui-se que a extração mineral realizada no garimpo de Caxias possibilita reflexos ou problemas socioambientais, a saber: - Meio Físico: o decapeamento da vegetação reduz a biodiversidade; a mineração modifica a paisagem e reduz a disponibilidade de recursos minerais; o desmonte de solo e rochas são feitos com bombas que trazem jatos de água, desmoronando de forma provocada os barrancos, e a grande revirada de terra na área causando uma mudança no ambiente minerado (Figura 2 ). 330

331 Figura 2- Atividade de garimpagem- desmoronamento de barranco Fonte: Dados da pesquisa, Meio Biótico: Neste meio percebe-se a ausência de animais e aves, pois a presença humana e os ruídos e barulho dos motores nos barrancos condicionam a migração de aves e mamíferos, e o ato de minerar na área chega a causar interferências na morfologia dos vegetais provocando ainda degradação visual da paisagem (Figura 3 e 4). Figura 3- Deterioração ambiental e mudança da paisagem Fonte: Dados da pesquisa,

332 Figura 4- Lago oriundo de atividade mineradora- reflexos na mudança da paisagem Fonte: Dados da pesquisa, Meio Antrópico: para o meio antrópico, foram identificados impactos positivos e negativos. Os positivos estão ligados à geração de emprego e renda, o que possibilita uma oportunidade para a sobrevivência de trabalhadores garimpeiros e suas famílias, mesmo que tal atividade realizada no garimpo seja exercida como informal e de forma ilegal. Quanto aos impactos negativos, diagnosticou-se: a) condições insalubres de trabalho (figura 5 e 6), uma vez que estão expostos ao sol, a água, poeira e contato sem nenhuma precaução com o mercúrio; b) o uso de mercúrio na atividade expõe trabalhadores a grandes riscos de saúde; c) risco de morte por desmoronamento de barrancos. Figura 5- Trabalhador em condição insalubre de trabalho Fonte: Dados da pesquisa

333 Figura 6- Condições de trabalho de garimpeiro Fonte: Dados da pesquisa 2016 Nota-se que, os reflexos da degradação ambiental em áreas de garimpo podem ser observadas, tanto no conjunto da paisagem e em todos os seus elementos, como: solo, fauna, flora e na geomorfologia. Assim, as mudanças que ocorrem no meio físico advém do grande impacto no ambiente minerado. É importante ressaltar que a gestão municipal é conhecedora das atividades do Garimpo, porém se omite diante de toda situação. Por fim, conhecendo-se, mesmo que de forma lacônica, os reflexos ou problemas associados às atividades mineradoras aque ocasionam impactos ao ambiente mediante sua forma de extração e o uso do mercúrio sem critérios. Conclui-se que, por meio de instrumentos de avaliação de impacto e planejamento ambiental, pode-se adotar medidas de controle que evitem ou atenuem os impactos negativos, reduzindo assim os danos socioambientais e, consequentemente, os custos envolvidos na sua remediação ou correção. CONCLUSÃO Os impactos ambientais causados pela mineração na área de extração de ouro, implicam, entre outras causas, o desmatamento de áreas verdes, modificação da topografia, contaminação dos corpos líquidos como possivelmente dos garimpeiros. Por ser uma atividade essencial para os garimpeiros, toda a problemática relacionada a esta atividade merece tratamento especial regulamentando sua forma de ação, vigilância continuada e permanente dessas populações, além de se estabelecer as bases para avaliar a resolutividade das medidas preventivas, corretivas e ou mitigadoras. Nota-se que, a área de garimpo sofre diariamente alterações prejudiciais, haja vista que o ato de minerar, tanto no processo de extração mineral quanto no de deposição de rejeitos, modifica a 333

334 estrutura do terreno, o que, inicialmente, indica a impossibilidade de se reverter o quadro. Em todas as etapas da atividade extrativa, a preservação ambiental deveria vir sempre acompanhada de conscientização e valorização ambiental, através de medidas preventivas controlando desta forma, algumas intervençoes podem ocorrer na área minerada, como: planejamento da retenção do material desagregado; do uso de metais pesados, como o mercúrio, um bom padrão de qualidade da água para consumo humano. Uma vez adotadas essas medidas, os impactos seriam minimizados. REFERÊNCIAS Agência Nacional das Águas- (ANA). Guia nacional de coleta e preservação de amostras: água, sedimento, comunidades aquáticas e efluentes líquidos. Brasília São Paulo: CETESB, ANA. BERTRAND, G. Paisagem e geografia física global: esboço metodológico. Cadernos de Ciências da Terra, n. 13, Instituto de Geografia da USP, 1971, 27p. BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Diagnóstico Preliminar sobre o Mercúrio no Brasil. Brasília, p. BRANDÃO, Carlos Jesus [et al.]. Guia nacional de coleta e preservação de amostras: água, sedimento, comunidades aquáticas e efluentes líquidos / Companhia Ambiental do Estado de São Paulo; São Paulo: CETESB; ANA. Brasília:,2011. CONAMA, Resolução nª 357, de 17 de março de 2005 Publicada no DOU nº 053, de 18/03/2005, págs Alterada pela Resolução 410/2009 e pela 430/2011 Dispõe sobre a classificação dos corpos de água e diretrizes ambientais para o seu enquadramento, bem como estabelece as condições e padrões de lançamento de efluentes, e dá outras providências. FERNANDES; Francisco Rego Chaves; ALAMINO, Renata de Carvalho Jimenez; ARAUJO, Eliane Rocha. Recursos minerais e comunidade: impactos humanos, socioambientais e econômicos, Rio de Janeiro: CETEM/MCTI, FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Dicionário Aurélio Básico da Língua Portuguesa. São Paulo-SP. LTDA RAMOS, W. E. S. Contaminação por mercúrio e arsênio em ribeirões do quadrilátero ferrífero MG, em área de mineração e atividades garimpeiras. Tese. Viçosa - MG, 122 p LACERDA, L.D. & MALM, O. Contaminação por mercúrio em ecossistemas aquáticos brasileiros: uma análise das áreas críticas. Estudos Avançados (USP) 22: LUTZ, Instituto Adolfo. Métodos físico-químicos para análise de alimentos /coordenadores Odair Zenebon, Neus Sadocco Pascuet e Paulo Tiglea -- São Paulo: Instituto Adolfo Lutz, 2008, p TANNÚS, M. B. et. al.. Projeto Paracatu: concepção e resultados preliminares. Jornada Internacional sobre el Impacto Ambiental del Mercúrio Utilizado por la Mineria Aurífera Artesanal em Iberoamérica. Setembro de Lima, Peru: CYTED,

335 ASPECTOS GEOLÓGICOS E GEOMORFOLÓGICOS DA PORÇÃO DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO POTI EM TERESINA/PIAUÍ: CONTRIBUIÇÕES PARA O PLANEJAMENTO AMBIENTAL Hikaro Kayo de Brito Nunes Universidade Federal do Piauí (UFPI) Mestre em Geografia (PPGGEO) hikarokayo2@hotmail.com José Francisco de Araújo Silva Universidade Federal do Piauí (UFPI) Mestre em Geografia (PPGGEO) hikarokayo2@hotmail.com Cláudia Maria Sabóia de Aquino Universidade Federal do Piauí (UFPI) Doutora em Geografia (UFS) cmsaboia@gmail.com Eixo temático: Geomorfologia e Planejamento Ambiental Resumo: As pesquisas acerca das questões ambientais tornam-se um verdadeiro imperativo na sociedade hodierna, sendo os estudos geomorfológicos de grande relevância para tanto, haja vista a importância que o mesmo representa para análise e entendimento do meio ambiente sob diversas óticas, inclusive, a da ocupação humana. O mapeamento geomorfológico, por exemplo, representa mecanismo de grande valia para o planejamento territorial e ambiental. Nesse contexto, inserem-se os estudos acerca das Bacias Hidrográficas (BHs), fontes de análise da superfície por meio de estudos integrados da paisagem. Com base nesses pressupostos, o presente artigo, resultado de pesquisas teórica, de campo e de gabinete, objetiva discutir os aspectos geológicos e geomorfológicos da porção da Bacia Hidrográfica do Rio Poti no município de Teresina/Piauí com vistas ao planejamento ambiental. Espera-se com o mesmo fornecer conhecimentos geomorfológicos adicionais da área, bem como incentivar demais pesquisas sobre bacias hidrográficas e microbacias no município em estudo. Palavras-chave: Estudos geomorfológicos. Planejamento ambiental. Bacias hidrográficas. Poti. Piauí. Abstract: Research on environmental issues becomes a real imperative in modern society, and geomorphological studies are of great relevance for both, given the importance it represents for analysis and understanding of the environment from various perspectives, including that of occupation human. The Geomorphological mapping, for example, represents a valuable mechanism for territorial and environmental planning. In this context, studies are included on the Hydrographic Basins (HBs), sources of surface analysis through integrated landscape studies. Based on these 335

336 assumptions, this article, result of theoretical research, field and cabinet studies, aims to discuss the geological and geomorphological aspects of the portion of the Poti River Basin in the municipality of Teresina / Piauí with a view to environmental planning. It is expected to provide additional geomorphological knowledge of the area, as well as encourage further research on watersheds and micro-basins in the municipality under study. Keywords: geomorphological studies. Environmental planning. Hydrographic Basins. Poti. Piauí. INTRODUÇÃO Os estudos em torno da Geomorfologia são fundamentais para as análises e entendimento do meio ambiente e ainda para a ocupação dos espaços pelo homem. Deste modo é mister a elaboração de mapeamentos geomorfológicos objetivando a compreensão dos processos que atuam na formação do modelado terrestre, na sua dinâmica e sua relação com as atividades humanas, constituindo-se um valioso instrumento para o planejamento territorial e ambiental sob diversas óticas de análise. Para Bishop et al. (2012), o mapeamento geomorfológico é caracterizado como uma representação da superfície terrestre com base em critérios específicos atrelados à caracterização do relevo, principalmente sobre sua morfologia, estrutura, gênese e cronologia, auxiliando na análise e compreensão da dinâmica ambiental e instrumentalizando tal discussão. Ao se discutir o meio ambiente, em muito torna-se válido investigar as Bacias Hidrográficas (BHs), haja vista as mesmas servirem como unidade de análise da superfície terrestre, além de subsidiar estudos integrados entre os variados elementos da paisagem. Além do mais, esse conceito tem se expandido na sua aplicação, tendo sido considerada a bacia hidrográfica como unidade de gestão da paisagem na área do planejamento ambiental (PIRES; SANTOS; DEL PRETTE, 2002, p. 17). A partir disso, o presente estudo apresenta como objetivo discutir os aspectos geológicos e geomorfológicos da porção da Bacia Hidrográfica do Rio Poti no município de Teresina/Piauí com vistas ao planejamento ambiental. Dessa forma, pretende-se contribuir com o conhecimento geomorfológico da área, além da possibilidade de ser ponto de partida para outros estudos geomorfológicos sobre bacias hidrográficas em Teresina, quer sejam relacionados ao rio Poti ou o rio Parnaíba, quer seja sobre as microbacias no município. GEOMORFOLOGIA, BACIAS HIDROGRÁFICAS E PLANEJAMENTO AMBIENTAL Com vistas a analisar as formas do relevo e os processos pretéritos e atuais, a Geomorfologia atua como subsídio para a ocupação ordenada e respeitosa da superfície terrestre, quer seja por meio das atividades endógenas, quer seja pelas atividade exógenas. Quando se discute o relevo de maneira integrada, Ab Saber (1969) aponta três níveis de abordagem que sistematizam e individualizam o 336

337 campo de estudo geomorfológico, a saber: a) compartimentação morfológica (associado aos estudos dos níveis topográficos e características do modelado, relacionando ainda com os processos de ocupação, seja como na caracterização dos graus de risco, seja no oferecimento de subsídios quanto à forma de uso e ocupação), estrutura superficial (voltada para a categorização da fragilidade do terreno e o histórico de sua evolução) e fisiologia da paisagem (busca compreender o comportamento dos processos morfodinâmicos atuantes, além de relacionar o homem como agente modificador da paisagem). Nesse sentido, o presente estudo faz uso dos três níveis de abordagem da Geomorfologia para compreender a caracterização geológico-geomorfológica da área de estudo. Neste ínterim, salientase que, de acordo com Espíndola e Wendland (2004) apud Gomes (2012), uma Bacia Hidrográfica se caracteriza como unidade de estudo, planejamento e gerenciamento da paisagem, posto ser considerada tanto como sistema biofísico quanto por sistema socioeconômico, integrados e interdependentes e que refletem os resultados das atividades produtivas e de todos os espaços ambientais que compõem a paisagem. As Bacias Hidrográficas, conforme Tucci (2004), são áreas de captação natural das águas das chuvas, em que toda a água de entrada na unidade possui um único local de saída, o exutório. E, na visão de Peretto e Souza (2010), são formadas por vertentes, nascentes e rios que têm o mesmo ponto de escoamento: o rio principal, assim formando a rede de drenagem. Corroborando com essa visão, Cunha e Guerra (2004), defendem que essas unidades integram uma visão conjunta do comportamento das condições naturais e das atividades humanas nelas desenvolvidas, haja vista qualquer alteração promovida pelo homem em qualquer parte dessas unidades pode acarretar comprometimentos à sua dinâmica natural. Ainda nessa relação com o espaço geográfico, uma bacia hidrográfica pode ser estudada conforme suas múltiplas funções de uso pela sociedade nela instalada. Sobre a relação do espaço geográfico com o planejamento ambiental, acrescenta-se que este é possuidor de muitas alternativas no que se refere à preservação, recuperação e conservação de distintos sistemas ambientais. Assim, a Geomorfologia tem a capacidade de ser um importante suporte sobre as interpretações e análises voltadas à configurações e características superficiais do terreno. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS Os procedimentos metodológicos adotados nesse estudo foram norteados pela análise integrada do ambiente, considerando as seguintes etapas: a) levantamento teórico, documental e cartográfico, somando-se a caracterização fisiográfica da área de estudo; b) pesquisa de campo, com câmera fotográfica, caderneta de campo e aparelho de GPS, com visualização da verdade terrestre, 337

338 discutir a paisagem e compreender as formas do relevo; e c) pesquisa de gabinete, com a confecção dos mapas através do software QGis (versão ) e do Google Earth Pro. O mapeamento geológico aqui apresentado foi obtido na base cartográfica do Serviço Geológico do Brasil (CPRM). Quanto ao mapeamento geomorfológico empregou-se o estudo de Lima (2011), já na definição da rede de drenagem com arquivos shapefiles disponibilizados pela Agência Nacional de Águas (ANA). Sobre o mapa de drenagem, os cursos hídricos da ANA (escala 1: ) foram plotados no Google Earth Pro, e, a partir dele foram criados outros arquivos vetoriais para aumentar o nível de detalhes da drenagem. RESULTADOS E DISCUSSÃO A área total da Bacia Hidrográfica do Rio Poti abrange os estados do Ceará (com a nascente no município de Quiterianópolis, nos Sertões Cearenses) e do Piauí (com a maior parte da bacia, inclusive seu exutório em Teresina). Diante do exposto, a área de estudo (figura 1) está disposta no município de Teresina, na mesorregião Centro-Norte Piauiense. Figura 1 Localização da área de estudo Fonte: os autores (2017). Acrescenta-se o fato que a área de estudo se caracteriza por ser o trecho da Bacia Hidrográfica do rio Poti que há a maior pressão antrópica, motivada pela urbanização ao longo do seu baixo curso, principalmente no estágio final do mesmo até desaguar no rio Parnaíba (rio principal da Bacia Hidrográfica do rio Parnaíba, e, portanto, eixo principal de escoamento). 338

339 Aspectos geológicos e geomorfológicos De acordo com Almeida et al. (1977) o território piauiense integra as seguintes províncias geotectônicas: Borborema, Parnaíba e Costeira. No que se refere ao aspecto geológico, está assentada, conforme Lima e Brandão (2010), nas unidades geológicas Formação Pedra de Fogo e Piauí, ambas pertencentes ao Grupo Balsas (figura 2). Figura 2 Mapa geológico da área de estudo Fonte: CPRM (2010) adaptado pelos autores (2017) A Formação Pedra de Fogo é a mais comum na área de estudo, contudo, essa característica espacial não é tão presente ao longo do canal principal da BH do rio Poti. Esta formação de acordo com Lima e Brandão (2010), foi depositada no início do Permiano, possuindo na sua constituição arenitos inferiores eólicos e arenitos superiores litorâneos, folhelhos e arenitos depositados em planície de maré, além de intercalações de calcários, silexitos e evaporitos. Na área de cobertura desta formação há a ocorrência fossilífera a exemplo da área do Parque Floresta Fóssil, onde são encontrados troncos fossilizados em posição de vida, indicando que nasceram e viveram no referido ambiente no local exato do processo de fossilização. Já a Formação Piauí, presente em parte considerável ao longo do canal principal é caracterizada por ser do Carbonífero Superior proveniente de ambientes litorâneo e continental, e, conforme Campelo (2010, p. 74) contém em sua porção superior uma sequência de argilitos e folhelhos e, em sua porção inferior, há o predomínio de bancos espessos de arenitos finos a médios, 339

340 homogêneos, pouco argilosos e de cor róseo-avermelhada. Destaca-se fazendo uso da mesma literatura, de que o conteúdo fossilífero (de macro e microfósseis) desta unidade geológica permite posicioná-la no Pensilvaniano (Vestfaliano/Estefaniano). No extremo Sul da área de estudo é evidente ainda a presença de conglomerados e marmitas, sendo esta última formada por força intempérica por meio do processo erosivo natural do rio, intensificado pela ação química da água e o atrito mecânico dos sedimentos (seixos e cascalhos), promovendo um movimento circular da água causando o desgaste no pacote rochoso. Na figura 3 há características presentes na área (ocorrência fossilífera e presença de marmitas e conglomerados), correspondentes à formações geológicas mencionadas. Figura 3 Características geológicas. Em A, ocorrência fossilífera na zona urbana de Teresina; em B, marmitas; em C, congloremados; e em D, sequência de folhelhos e argilitos. Fonte: os autores (2017) No tocante aos aspectos geomorfológicos, estes são reflexos do embasamento geológico, que aliado as condições climática promove a diferenciação do relevo. Lima (2002) aponta que os compartimentos do relevo da bacia sedimentar do Parnaíba (onde a área de estudo está localizada) possuem topografia de topos tabulares e sub-horizontais com cerca de 900m de altitude no limite com o Ceará descendo de forma escalonada sendo caracterizada em depressões interplanálticas e planaltos para o interior da bacia. Esses baixos planaltos que se apresentam nas Zonas Sul e Norte da cidade 340

341 são compartimentados pelos rios Poti e Parnaíba e dissecados pelos seus afluentes que cortam a cidade (VIANA, 2013, p. 65). De acordo com os estudos de Lima (2011), no município de Teresina podem ser identificadas quatro unidades de relevo de acordo com a gênese e a morfologia do modelado terrestre, ressalta ainda que o municipio apresenta cinco classes de declividade (plano, suave ondulado, ondulado, forte ondulado e montanhoso). Lima (2011) elaborou mapeamento do relevo do município de Teresina (Piauí), e, nesse sentido, o locus estudado é possuidor de três unidades de relevo (figura 4), a saber: Planícies e Terraços Fluviais, Superfícies Intensamente Retrabalhadas pela Drenagem com Morros Arredondados e Superfície Residual Recortada por Vales Encaixados (subdividida em Morros com Tendência ao Arredondamento Limitados por Relevo Escalonado e em Mesas com Topos Achatados Limitados por Escarpas). Figura 4 Mapa geomorfológico da área de estudo Fonte: Lima (2011) adaptado pelos autores (2017) As Planícies e Terraços Fluviais compreendem as feições de acumulação por processos fluviais relacionadas à formação Piauí, com desenvolvimento de solos em faixas descontínuas ao Sul e de forma contínua ao Norte da cidade e apresentam variações de altitude entre 50 e 70 metros. Essa unidade é ligeiramente associada ao canal principal do rio Poti e cruza a área de estudo de SE a NW onde deságua no rio Parnaíba. 341

342 Ademais, salienta-se que essa unidade de relevo se concentra na seção final do rio Poti, principalmente nos últimos 12km e enquadra-se nas áreas onde há o maior risco de inundação por ser uma área naturalmente inundável tendo suas águas represadas (no seu exutório) pelo rio Parnaíba. Moreira (1972) apud Viana (2013, p. 70) destaca que as topografias que descem suavemente da parte mais elevada do interflúvio Poti/Parnaíba não constituíram obstáculo ao crescimento da cidade em direção da chapada. Outra seção onde há uma significativa concentração de Planícies e Terraços Fluviais se refere aos últimos 18km da zona rural e periurbana de Teresina, esta por ser densamente menos povoada, os danos causados pelo fenômenos de inundação não são tão intensos se comparados a zona urbana. Sobre as Superfícies Intensamente Retrabalhadas pela Drenagem com Morros Residuais são formas modeladas expostas a processos erosivos intensos, diretamente sobre a formação Pedra de Fogo, com variação de 70 a 100 metros de altitude. Essa unidade é a espacialmente melhor distribuída na área de estudo, sendo encontrada nas duas margens do canal principal, caracteriza-se por ser aquela em que a sede do município de Teresina está em boa parte assentada. Considera-se ainda que essas superfícies caracterizam a altitude média do município (72 metros), uma vez que a área estudada contempla boa parte da extensão territorial do município. Uma das maiores altitudes na zona urbana é encontrada na área onde está localizado o Parque João Mendes Olímpio de Melo (Parque da Cidade) situado em uma forma de colina com cotas altimétricas chegando a 100 metros. No tangente às Superfícies Residuais Recortadas por Vales Encaixados, a discussão se dará mediante a sua subdivisão. A classe de Morros com Tendência ao Arredondamento Limitados por Relevo Escalonado compreende, conforme Lima (2011), às formas erosivas de topos definidos, porém reafeiçoados pelos processos erosivos, tendendo ao arredondamento, sendo recortados por vales encaixados. Relacionando-se com a drenagem, o talvegue existente sofreu um aprofundamento, favorecendo a existência de vertentes com declives intensos e margens relativamente estreitas. Essa classe compreende as altitudes entre 100 e 170 metros dispostas nas margens esquerda (principalmente na porção SW e pontos isolados da porção W compreendendo parte do divisor topográfico nessa direção) e direita (com maior quantidade, haja vista pelo tamanho ser bem maior) com concentração maior na porção NE e em uma faixa linear (não contínua) que se estende do extremo SE até o extremo NW. Sobre a divisão em Mesas com Topos Achatados Limitados por Escarpas, estas são caracterizadas pela altitude compreendida entre 170 e 250 metros e por serem possuidoras de formas erosivas de topos mais elevados e em encostas íngremes. Está disposta no extremo NE, sem ocorrência no sítio urbano de Teresina e com as maiores cotas altimétricas do município, justamente indo em direção contrária ao canal principal da Bacia Hidrográfica. 342

343 A figura 5 apresenta algumas formações relacionadas às supracitadas classes de relevo. Figura 5 Características do relevo. Em A, Planícies e Terraços Fluviais na zona urbana de Teresina; em B, Superfície Intensamente Retrabalhadas pela Drenagem com Morros Residuais, com destaque para a área do Parque da Cidade; em C, Morros com Tendência ao Arredondamento Limitados por Relevo Escalonado (na zona rural do município); e em D, Mesas com Topos Achatados Limitados por Escarpas Fonte: os autores (2017) Nota-se que a investigação realizada confirma a distribuição das classes de relevo com as maiores altitudes principalmente na porção NE da área analisada. Soma-se o fato da possibilidade de leitura do referido espaço frente às alterações na paisagem e ao próprio planejamento ambiental, em função do compromentimento, e, em alguns casos, dos desequilíbrios nas mesmas. Contribuições para o planejamento ambiental O reconhecimento das características geomorfológicas são muito importantes para o planejamento ambiental municipal. Nesse sentido, verificou-se na área estudada algumas constatações, que, distribuídas entres as zonas urbana e rural, evidenciam o processo gradativo de uso do relevo e a necessidade do planejamento como instrumento de mitigação de danos. As referidas constatações centram-se em três pontos: a) ocupação de encostas e áreas marginais de corpos hídricos; 343

344 b) tamponamento e canalização de afluentes do rio Poti que auxiliam na modelagem do relevo; e, c) construção civil como elementos da descaracterização do relevo. A ocupação do relevo, principalmente em encostas e áreas marginais de corpos hídricos como riachos, lagoas e o próprio rio Poti, evidenciam e justificam a necessidade de um melhor direcionamento das ocupações na área, necessitando assim de um ordenamento territorial que, atrelado às características do ambiente, podem auxiliar na mitigação de impactos, riscos e vulnerabilidades ambientais e socioambientais. Nesse sentido, o próprio relevo como elemento da paisagem deve ser compreendido como um ator necessário para a gestão e o planejamento ambiental, podendo facilitar, dificultar ou impedir os processos de ocupação do relevo. Uma ferramenta institucional e legal que auxilia na compreensão da contribuição para o planejamento ambiental se configura por meio da Lei /2012, conhecida como Novo Código Florestal, que delimita Áreas de Preservação Permanente (APP) em: faixas marginais de qualquer corpo d água; encostas ou partes destas com declividade superior a 45º; restingas; manguezais; bordas de tabuleiros (ou chapadas) até a linha de ruptura do relevo, com, no mínimo 100 metros horizontalmente; topo de morros, montes, montanhas e serras (com altura mínima de 100 metros e inclinação média maior que 25º) e áreas em altitude superior a 1.800m. O tamponamento e a canalização de afluentes do rio Poti são fatores que merecem uma discussão junto às ações do planejamento ambiental e do ordenamento territorial da BH. Essas características são mais evidentes na sede municipal. Somadas a elas, existem riscos que podem se intensificar, como: aumento da velocidade hídrica, assoreamento, formação de bancos de areia, mudanças no canal fluvial, lançamento de esgotos domésticos, poluição dos cursos hídricos e o próprio risco de alagamentos e inundações como respostas a um planejamento inoperante. Na discussão sobre o papel das obras de construção civil na descaracterização do relevo, citase o exemplo da construção do Rodoanel de Teresina (via que pretende diminuir o trânsito de veículos pesados na área urbana, além de encurtar distancias entre a BR 316, saída Sul de Teresina, e a BR 343, saída Norte de Teresina). Ao longo dos seus aproximadamente 28 quilômetros há vários trechos onde há risco de movimentos de massa, tais como os escorregamentos (deslizamento ou queda de barreira), que, são movimentos rápidos de partes de terreno sob a ação da gravidade principalmente para fora (e para baixo) das vertentes. Os exemplos claros do processo erosivo se dão por meio de ravinas, voçorocas e sulcos que são resultados da inter-relação entre a drenagem, a ocupação do relevo e o processo erosivo em cortes no talude. O desmatamento é outra alteração significativa na paisagem, na área de estudos foram identificados trechos desmatados e descampados, além de extensa área de armazenamento de areia, possivelmente relacionada a construção da rodovia. 344

345 Desse modo, uma a avaliação inadequada das características geomorfológicas na construção de estradas pode resultar em variados problemas na fase de construção. Esta avaliação, nas palavras de Ross (2000), deve promover um diagnóstico que considere os impactos indiretos como processos erosivos, movimentos de massa, inundações e assoreamento, e diretos como cortes, aterros, desmontes, canalização e outros. A figura 6 apresenta alguns processos que merecem destaque no planejamento ambiental. Figura 6 Alterações no relevo e necessidade de planejamento ambiental. Em A, tamponamento de riacho no bairro Satélite; em B, ocupação desordenada do relevo e descarte de pneu para contenção de encosta no bairro Bela Vista; em C e D, alterações do relevo decorrentes de construção de rodovia, com destaque para sulcos e ravinas no talude Fonte: os autores (2017) CONCLUSÃO A distribuição espacial das quatro classes de relevo da área de estudo estão relacionadas com o substrato geológico da bacia e à própria relação com o canal principal, no caso o rio Poti, uma vez que a inter-relação dessas características proporcionam um importante estudo ambiental, como apresentado no decorrer deste estudo. Quando ao relevo, percebeu-se um significativo desnível topográfico (entre 70 e 250 metros) evidenciando as existência de trechos mais íngremes na área rural do município e relacionado com a formação geológica Pedra de Fogo. 345

346 Além disso, as características de relevo e as modificações no ambiente associadas, limitam e/ou condicionam a ocupação do relevo, sendo necessária portanto a atuação do planejamento ambiental. Nesse sentido, constatou-se na área de estudo, um processo gradativo de ocupação do relevo de forma desordenada de modo que há de se considerar ainda a importância de planejamento que sirva como mecanismo mitigador de danos, impactos, riscos e vulnerabilidades. Diante desses cenários torna-se oportuno indicar a implantação de unidades de conservação em determinadas áreas, principalmente na zona rural, com vistas a preservação e manutenção das características morfológicas do relevo, além da fauna e flora. REFERÊNCIAS AB SÁBER, A. N. Um conceito de geomorfologia a serviço das pesquisas sobre o Quaternário. Geomorfologia. n. 18, IG-USP, S. Paulo, ALMEIDA, F. F. M. et al. Províncias estruturais brasileiras. In: SIMPÓSIO DE GEOLOGIA DO NORDESTE, 8., Campina Grande, Anais... Campina Grande, BISHOP, M. P. (et al). Geospatial technologies and digital geomorphological mapping: Concepts, issues and research. Geomorphology, v. 137, n. 1, BRASIL. Lei nº , de 25 de maio de Brasília, CAMPELO, F. Potencialidade hidrogeológica do estado do Piauí. In: PFALTZGRAFF, P. A. S.; TORRES, F. S. M; BRANDÃO, R. L. (Orgs) Geodiversidade do estado do Piauí. Recife: CPRM, CUNHA, S. B.; GUERRA, A. J. T. Geomorfologia e meio ambiente. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, GOMES, M. L. Análise ambiental e avaliação quali-quantitativa da bacia hidrográfica do rio Catú (Aquiraz/Horizonte-Ceará). Recife, f. Tese (Doutorado em Geografia) Universidade Federal de Pernambuco. LIMA, E. A. M.; BRANDÃO, R. L. Geologia. In: PFALTZGRAFF, P. A. S.; TORRES, F. S. M; BRANDÃO, R. L. (Orgs.) Geodiversidade do estado do Piauí. Recife: CPRM, LIMA, I. M. M. F. O relevo de Teresina, PI: compartimentação e dinâmica atual. In: ENCONTRO NACIONAL DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EM GEOGRAFIA, 9., Goiânia, Anais... Goiânia, Teresina: Urbanização e Meio Ambiente. In: Scientia et Spes. v. 1, n. 2, PERETTO, A.; SOUZA, C. A. Bacia Hidrográfica do Córrego Santíssimo: Aspectos Geoambientais e Uso da Terra. Revista Geopantanal, v. 5, p , PIRES, J. S. R.; SANTOS, J. E.; DEL PRETTE, M. E. A utilização do Conceito de Bacia Hidrográfica para a conservação dos Recursos Naturais. In: SCHIAVETTI, A; CAMARGO, A. F. M. Conceitos de Bacias Hidrográficas: teorias e aplicações. Ilhéus, Editus,

347 ROSS, J. L. S. Geomorfologia aplicada aos EIAs-RIMAs. In: GUERRA, A. J. T.; CUNHA, S. B. (Orgs.) Geomorfologia e meio ambiente. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, RUFFINO, P. H. P.; SANTOS, S. A. Utilização do conceito de bacia hidrográfica para capacitação de educadores. In: SCHIAVETTI, A; CAMARGO, A. F. M. Conceitos de Bacias Hidrográficas: teorias e aplicações. Ilhéus, Editus, TUCCI, C. E. M. Hidrologia: ciência e aplicação. 3.ed. Porto Alegre: ABRH, VIANA, B. A. S. Caracterização estratigráfica, química e mineralógica do massará e conflitos socioambientais associados a sua exploração em Teresina, PI, Brasil. Belo Horizonte, f. Tese (Doutorado em Geografia) Universidade Federal de Minas Gerais. 347

348 BASES GEOMORFOLÓGICAS COMO SUBSÍDIO AO ORDENAMENTO TERRITORIAL DO MUNICÍPIO DE GUAIÚBA- CEARÁ Eixo Temático: Geomorfologia e Planejamento Ambiental Patrícia Andrade de Araújo Universidade Estadual do Ceará Doutoranda araujogeografia@gmail.com Maria Taylana Marinho Moura Universidade Estadual do Ceará Mestranda taylana10@hotmail.com Marcos José Nogueira de Souza Universidade Estadual do Ceará Professor Doutor Titular marcosnogueira@uece.br Resumo: O adensamento demográfico associado à problemática ambiental na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF) tem comprometido a qualidade dos sistemas naturais. Partindo dessa premissa, emerge a necessidade urgente de implantar políticas públicas voltadas para o ordenamento territorial. O município de Guaiúba localiza-se a aproximadamente 38 km de Fortaleza, Estado do Ceará no Nordeste brasileiro. Objetivou-se demonstrar o significado do mapeamento geomorfológico para subsídios ao ordenamento territorial de Guaiúba. Foram delimitadas três compartimentos geormofológicos: planícies de acumulação, depressão sertaneja e maciços residuais. A aplicabilidade do mapeamento implica em subsidiar o planejamento ambiental, de modo que contemple as atividades econômicas e o contexto geoambiental. Palavras-Chaves: Mapeamento geomorfológico. Feições geomorfológicas. Planejamento Territorial. Abstract: The population density associated with the environmental problem in the Fortaleza Metropolitan Region (RMF) has compromised the quality of natural systems. Starting from this premise, emerges the urgent need to implement public policies geared to territorial planning. The municipality of Guaiúba is located approximately 38 km from Fortaleza, State of Ceará in the Brazilian Northeast. The objective of this study was to demonstrate the significance of 348

349 geomorphological mapping for subsidies to Guaiúba land use planning. Three geomorphological compartments were delimited: accumulation plains, sertaneja depression and residual masses. The applicability of the mapping implies subsidizing the environmental planning, so that it contemplates the economic activities and the geoenvironmental context. Keywords: Geomorphological mapping. Geomorphological features. Territorial Planning. INTRODUÇÃO Nas últimas décadas a geografia física e a geomorfologia vêm se preocupando com as questões ambientais, com o intuito de melhor avaliar as relações da natureza com a sociedade. Desse modo, diante do entendimento da dinâmica morfogenética, a sociedade pode organizar o espaço geográfico de acordo com a capacidade de suporte da natureza, promovendo a sustentabilidade ambiental e o uso racional dos recursos naturais disponíveis. A geomorfologia vem ocupando espaço frente à aplicabilidade dos seus objetivos para projetos de planejamento, tendo na cartografia geomorfológica uma ferramenta muito útil para o ordenamento territorial. Pretende-se demonstrar o significado do mapeamento geomorfológico para indicar subsídios ao ordenamento territorial do município de Guaiúba (Figura 1) localizado na Região Metropolitana de Fortaleza, Estado do Ceará no Nordeste brasileiro. De modo complementar, visase: Compreender a ação dos processos morfodinâmicos relacionados com as atividades socioeconômicas; Subsidiar as políticas de ordenamento territorial do município de Guaiúba. Figura 1: Mapa de Localização do Município de Guaiúba-CE. Fonte: Elaborado pelos autores,

350 O município de Guaiúba tem como limites ao Norte, os Municípios de Pacatuba e Maranguape; ao Sul, os Municípios de Redenção e Acarape; a Leste, os Municípios de Pacajus, Horizonte, Itaitinga e Pacatuba; e a Oeste, os Municípios de Redenção, Maranguape e Palmácia. O principal acesso à Guaiúba se dá pela rodovia CE- 060, distando em linha reta, cerca de 38 km da capital cearense (CEARÁ, 2015). Segundo o senso de 2010 (IBGE) a população é de habitantes, com densidade demográfica de 94,83 hab/km² com percentual significativo residindo nos pequenos núcleos urbanos. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA A abordagem geomorfológica nos estudos ambientais serve como suporte para o entendimento dos ambientes naturais, onde a sociedade se estrutura, realiza suas atividades econômicas como a extração dos recursos para a sobrevivência e, portanto, organizam o espaço geográfico (ROSS, 2012). Segundo Souza e Oliveira (2011), a aplicabilidade do mapeamento abrange um caráter multidisciplinar, na medida em que serve de base para a compreensão das estruturas espaciais, relacionando os aspectos físicos, socioeconômicos e subsidiando as tomadas de decisões, como planos diretores e zoneamentos ambientais. Ao apresentar um estudo geomorfológico do ponto de vista ambiental, deve-se levar em consideração os três níveis de abordagem proposto por Ab'Sáber (1969): a compartimentação topográfica, que inclui observações relativas aos diferentes níveis topográficos e características do relevo; a estrutura superficial da paisagem, que constitui um importante elemento na reconstituição recente da história natural; por fim trata da paisagem, objetivando compreender a ação dos processos morfodinâmicos atuais, inserindo-se na análise do antropismo como agente modificador. Segundo Ross (2014), os mapas geomorfológicos apresentam um grau de complexidade decorrente da dificuldade de se apreender e representar uma realidade relativamente abstrata as formas de relevo e sua dinâmica e gênese, representados por formas de relevo nas diferentes dimensões (vertente, colina, morro, etc...). Argento (2015) acentua que o mapeamento geomorfológico se traduz como uma carta fundamental, principalmente para gerar informações e cenários ambientais. Nessa perspectiva, o geoprocessamento dispõe de ferramentas para a elaboração de mapeamento geomorfológico, juntamente com técnicas de sensoriamento remoto. A utilização dos softwares livres empregadas no Sistema de Informação Geográfica (SIG) favorece substancialmente, o poder pragmático da geomorfologia, que se constitui, assim em um importante subsídio ao planejamento ambiental. Sob a ótica da compreensão do conceito de cenários ambientais, Souza (2006) considera algumas ações que devem ser inseridas, para almejar os cenários desejáveis para o ordenamento 350

351 territorial: implantação do Zoneamento Econômico Ecológico-ZEE que abriga a compreensão integrada e holística da realidade geoambiental e socioeconômica do território; o zoneamento como instrumento capaz de garantir o ordenamento territorial deve ser modulado no tempo, em função do enriquecimento do banco de dados e de informações e análises disponíveis a cada momento; elaboração de planos diretores de desenvolvimento sustentável com a caracterização socioambiental integrada; ocupação demográfica e produtiva compatível com a capacidade de suporte dos recursos naturais e conforme o seu estado de conservação; reestruturação fundiária orientada para o desenvolvimento de atividades agropecuárias feito em bases sustentáveis; desenvolvimento urbano com a identificação de vocações produtivas para os pequenos núcleos (SOUZA, 2006). PROCEDIMENTOS OPERACIONAIS As etapas do trabalho seguem procedimentos adotados, de modo consagrado, nos levantamentos geomorfológicos: Revisão de conhecimentos Nesta etapa da pesquisa foram realizadas leituras que auxiliaram no seu desenvolvimento como, por exemplo, livros, artigos, dissertações e teses que tratam dos estudos geomorfológicos ambientais, ordenamento territorial e acerca das geotecnologias, como técnicas de sensoriamento remoto e Sistema de Informações Geográficas SIG. Foram realizadas consultas aos bancos de dados dos órgãos estaduais (SEMACE, FUNCEME, COGERH, IPECE, UECE) e órgãos federais (IBGE, CPRM, INPE, UFC), bem como à Prefeitura do Município de Guaiúba, para levantar dados estatísticos e socioeconômicos sobre a área. Cartografia básica e temática Durante essa fase, foi feita a compilação da base cartográfica impressa e digital. Dentre os materiais utilizados no mapeamento geomorfológico do município de Guaiúba, destacam-se: A divisão política atual dos municípios e distritos do Ceará, juntamente com a malha das rodovias, além de outras convenções cartográficas disponibilizadas pela base cartográfica do IBGE (2015), no formato shapefile (shp). Foram consultados os principais recursos hídricos disponibilizados pela base digital em formato shapefile da Secretária de Recursos Hídricos do Ceará (SRH) 2011, retificada pelo modelo digital de terreno. Além de ser utilizada com sinais convencionais, destacando os cursos d água superficiais, foi de fundamental importância para relacionar à dinâmica hidrogeológica e hidroclimática, com as feições geomorfológicas identificadas. 351

352 O mapa geológico da Região Metropolitana de Fortaleza de 1995, do Serviço Geológico do Brasil -CPRM, na escala 1: , foi utilizado para consultar os aspectos geológicos relevantes para o mapeamento geomorfológico ambiental. Interpretação de produtos de sensoriamento remoto A imagem utilizada na pesquisa refere-se à cena 217/63 do satélite Landsat 8, com resolução espacial de 15 metros, datada de agosto/2015, obtida através do USGS. Ressalta-se que para a fusão da banda pancromática com a composição colorida Red, Green e Blue -RGB 654 foi utilizado o software livre SPRING 5.3. Com o intuito de obter informações do relevo a partir de Modelos Digitais de Elevação (MDE), que servissem de orientação para o mapeamento altimétrico, curvas de nível, declividade, rede de drenagem e para auxiliar na delimitação do relevo, buscou-se dados SRTM adquiridos por sensores orbitais, especificamente a cena 04_S_39_ZN.tif, que corresponde à área de estudo. Controle de campo Esta fase da pesquisa foi é de extrema importância para o seu desenvolvimento, possibilitando verificar os diferentes níveis topográficos e características do relevo, a vulnerabilidade do terreno e avaliar a ação dos processos morfodinâmicos atuais. Foram realizadas quatro atividades de campo durante o ano de 2016, na ocasião foram visitados todos os distritos e algumas comunidades do município. Para melhor caracterizar a dinâmica dos componentes geoambientais e criteriosamente os geomorfológicos, as atividades de campo ocorreram em períodos chuvosos e secos. Análise das informações superficiais A fase do mapeamento seguiu uma integração dos dados citados em conjunto com a leitura da dinâmica, própria da gênese de cada modelado. Nesse sentido, são destacadas as estruturas litológicas, as curvas de níveis, o MDT, a hipsometria, a declividade, o padrão de dissecação e o adensamento da drenagem. Dessa forma, o mapeamento na escala de 1: das feições de relevo do município teve como base a ficha de campo da disciplina de Geomorfologia Ambiental, ministrada pelo prof. Dr. Marcos José Nogueira de Souza em A tabela de atributos foi gerada no software livre QGIS, utilizando ferramentas básicas de edição de shapefile. A caixa de ferramentas na extensão Sextante no módulo GRASS, especificamente o algoritmo r-reclass, usado para a obtenção dos dados de declividade e o complemento Terrain Profile gerou automaticamente o MDE em dimensão 3D, auxiliando na análise dos dados. RESULTADOS E DISCUSSÕES 352

353 A hipsometria foi elaborada com a intenção de ter informações acerca dos modelos de elevações do terreno, bem como permitir fazer correlações com características geológicas. A hipsometria gerada a partir das curvas de nível com equidistância de 10 metros mostra que Guaiúba apresenta um relevo relativamente plano, apresentando ainda, com menor expressão, áreas elevadas como os maciços e cristas. Os dados traduzem uma relação entre a altitude e as formas de relevo, solos, litologias e o uso da terra. As cotas altimétricas estão distribuídas na seguinte forma (quadro 1). 40 a 100 metros 100 a 200 metros 200 a 300 metros 300 a 400, 400 a 500 e ainda 500 a 600 metros 600 a 700 metros 700 a 800 metros Quadro 1: Cotas Altimétricas do Município de Guaiúba. Constitui-se como um dos principais compartimentos altimétricos identificados. É a maior área de abrangência do município, dominadas por litoestratigrafias do complexo gnáissico-migmatítico e manchas de (Granitoides e coberturas colúvioeluviais), recobertas em grande parte por solos Luvissolos e Neossolos Flúvicos. Áreas situadas principalmente próximas aos maciços da Aratanha/Baturité e serrotes Baú e Bolo; dominadas por litoestratigrafias do Complexo gnáissicomigmatítico, Complexo granitóide-migmatítico e manchas de Granitoides, recobertas por Argissolos Vermelhos Amarelos e em menor proporção próximo ao serrote do Bolo por Neossolos Litólicos. Corresponde a área de transição da depressão sertaneja/maciços. Presente ainda no topo dos serrotes do Baú e Bolo. Áreas dominadas por litoestratigrafias Complexo gnáissico-migmatítico, Complexo granitóide-migmatítico e manchas de Granitoides, recobertas por Argissolos Vermelhos Amarelos e Neossolos Litólicos. Correspondem aos compartimentos altimétricos dos maciços Aratanha e Baturité. Áreas dominadas por litotipos Complexo gnáissico-migmatítico, Complexo granitóide-migmatítico, recobertas por Argissolos Vermelhos Amarelos. Compartimento altimétrico pouco expressivo, presente nas serras da Aratanha e Baturité. Representa o menor compartimento altimétrico, situado no topo da Aratanha. Fonte: Elaborado pelos autores, No tocante à declividade, o município apresenta as seguintes distribuições, quadro 2. Maior parte do território municipal não possui limitações topográficas em relação à declividade. As áreas de relevo com declividade mais acentuada estão nos maciços de Baturité, Aratanha e nas cristas 353

354 (serrote do Baú e serrote do Bolo). Frisa-se que é um dado importante, uma vez que, a declividade pode ser considerada um fator limitante ao uso e ocupação da terra, além de ser parâmetro para a delimitação de áreas de preservação permanente. Assim sendo, esta é uma informação é útil para o ordenamento territorial. Quadro 2: Declividade do Município de Guaiúba. RELEVO ÁREA PORCENTAGEM CARACTERÍSTICAS Relevo plano 78,04 km² 29,04% Superfície de topografia horizontal, onde os desnivelamentos são muito pequenos. Relevo suave 107,20 km² 40,17% Apresenta declives suaves. ondulado Relevo ondulado 34,77 km² 13,02% Exibi declives acentuados. Relevo forte 33,21 km² 12,44% Declives fortes ondulado Relevo montanhoso 13,64 km² 5,11% Superfície de topografia vigorosa, formas acidentadas, desnivelamento relativamente grandes. Fonte: Elaborado pelos autores, Destarte, a paisagem natural de Guaiúba, do ponto de vista geomorfológico, é diversificada compreendendo áreas dissecadas e aplainadas. Na escala de mapeamento de 1: foi possível identificar três unidades geomorfológicas, planície de acumulação, depressão sertaneja e parte dos maciços residuais de Baturité e da Aratanha. PLANÍCIE DE ACUMULAÇÃO As planícies fluviais têm aproximadamente 42,80 km². Para Souza (1988) essas áreas são de acumulação decorrente da ação fluvial. Em geral, constituem áreas de diferenciação nos sertões semiáridos, por abrigarem as melhores condições de solos e disponibilidade hídrica. Nesta feição tem-se o extrativismo mineral. As cerâmicas adquirem um papel de destaque dentro do município, situadas predominantemente próximas às planícies fluviais, por exemplo, na planície do rio Baú. A produção é baseada em métodos tradicionais, como a retirada da vegetação para a produção de lenha (fonte energética) na queima e confecção de tijolos e telhas (ARAÚJO, 2016). Frisa-se a importância desta atividade econômica que tem contribuído para a geração de emprego e renda no município. Todavia, a presença das olarias impõe modificações no relevo, na drenagem, causando alterações na paisagem. Dentre outros, destacam-se a erosão dos solos devido à retirada indiscriminada de argila, gases poluentes expelidos pelos fornos, que podem vir a causar 354

355 doenças respiratórias na população local e comprometimento da planície de inundação (ARAÚJO, 2016). Nota-se que a pressão urbana e o crescente adensamento populacional conjuntamente com a falta de gestão política de desenvolvimento urbano comprometem a qualidade dos recursos hídricos, cujos rios confluem para o açude Pacoti. O fato se torna mais relevante pelo fato deste reservatório atender a parte da demanda de abastecimento da RMF. DEPRESSÃO SERTANEJA A depressão sertaneja é a unidade geomorfológica de Guaiúba com maior expressão, englobando aproximadamente 167,60 km², exibindo topografia plana ou levemente ondulada formando pedimentos na base dos maciços cristalinos. Segundo Souza e Oliveira (2006), a semiaridez pronunciada durante o Pleistoceno promoveu complexos esquemas de erosão diferencial no nordeste brasileiro, havendo o aplainamento de grandes compartimentos do relevo. A existência da superfície pediplanada conservada significa o retorno ao clima semiárido, razão pela qual os processos de pediplanação se faziam a partir dos novos níveis de base. As áreas aplainadas e dissecadas do município de Guaiúba, como indica a Figura 2, mostram claramente a relação direta com os climas pretéritos. Figura 2- Áreas aplainadas e dissecadas no Município de Guaiúba-Ce. Fonte: Os autores, Destaca-se na depressão sertaneja o empobrecimento da biodiversidade, fato, ocasionado principalmente pelas práticas agrícolas temporárias ligadas ao período chuvoso, inexistência de alta tecnologia e uso de agrotóxico indiscriminado e ainda a presença de desmatamento e queimadas. A área encontra-se bastante descaracterizada da vegetação nativa, tanto nos aspectos fisionômicos como florísticos (ARAÚJO, 2016). 355

356 As condições de fertilidade do solo também são afetadas devido ao mau uso da terra. Com o desmatamento o solo fica exposto às ações erosivas e as queimadas causam a eliminação dos microrganismos reduzindo consideravelmente a matéria orgânica do solo. A criação do gado bovino tem se dado predominantemente de forma extensiva em pequenas, médias e grandes propriedades. Assim sendo, esta atividade tem contribuído para justificar profundas transformações na paisagem, com o desmatamento para ampliar as pastagens e consequentemente intensificando a ação dos processos morfodinâmicos (ARAÚJO, 2016). Ressalta-se ainda nesta feição a maior ocupação demográfica da área, como a sede do município e distritos. Estes pequenos núcleos urbanos tiveram sua expansão sem obediência aos requisitos mínimos do ordenamento territorial. MACIÇOS RESIDUAIS Os maciços residuais apresentam extensões variadas com características comuns, como a dissecação em formas de topos aguçados e convexas. Aproximadamente 56,50 km² da área têm superfícies dissecadas em serras, cristas, morros, colinas e lombadas. Para Souza e Oliveira (2006) os movimentos tectônicos passados e as variações climáticas do Cenozoico influenciaram na evolução dos maciços justificando suas características geomorfológicas. Sobre o maciço de Baturité, Souza (1988) acrescenta que se constitui um dos mais expressivos compartimentos de relevos elevados próximo ao litoral e tem orientação no sentido Norte-Nordeste e Sul-Sudoeste - NNE/SSW. A morfologia da porção úmida, sujeita à morfogênese química, é muito dissecada com formas convexas, lombas, cristas, interflúvios tabulares e vales. No tocante às cristas residuais, estas possuem áreas de dimensões menores que os maciços residuais, apresentando-se dispersas pela depressão sertaneja. Resultam do trabalho de erosão diferencial em setores de rochas muito resistentes, ocasionando a elaboração de relevos rochosos ou com solos muito rasos, declives íngremes e fortes limitações à ocupação humana (SOUZA, 2000). Em relação às atividades econômicas desta feição reiteram-se as mesmas supracitadas nas áreas aplainadas. POTENCIALIDADES E LIMITAÇÕES No município predominam pequenas propriedades e assentamentos com práticas de agricultura de subsistência e pecuária extensiva. As práticas econômicas predatórias marcam o município e têm efeitos diretos na sociedade. Diante do exposto, tornam-se necessárias ações humanas que ultrapassem os limites de interesses econômicos e priorizem a sustentabilidade dos recursos naturais, 356

357 assim sendo a ação antrópica deve atender as condições de potencialidades e limitações do ambiente. As bases geomorfológicas servem de subsídio para a elaboração de cenários desejáveis promovendo sustentabilidade ambiental. Destacam-se na compartimentação geomorfológica as seguintes potencialidades, nas planícies: reservas hídricas, solos férteis, a pesca, o extrativismo mineral; as superfícies aplainadas: a topografia favorável, a agropecuária, o extrativismo vegetal; as superfícies dissecadas: as condições hidroclimáticas favoráveis, média à alta fertilidade dos solos, o ecoturismo, o extrativismo vegetal e mineral. Expõe-se quanto as principais limitações, nas planícies: as inundações periódicas, dificuldades de mecanização dos solos, áreas protegidas por legislação ambiental; superfícies aplainadas: solos pouco profundos e susceptíveis a erosão, chuvas escassas e irregulares; superfícies dissecadas: declividade forte das vertentes, Impedimentos à mecanização, alta suscetibilidade à erosão, áreas protegidas pela legislação ambiental em encostas com declividade fortes. A figura 3 apresenta informações de hipsometria, declividade, mapeamento geomorfológico e como suas feições estão especializadas no município de Guaiúba. Figura 3- Mapeamento geomorfológico, hipsométrico e declividade do Município de Guaiúba-Ce. Fonte: Elaborado pelos autores,

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