Res Musica. 22 October /2. 6 Flitcroft Street, London WC2H 8DJ T +44 (0)

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1 Res Musica 22 October /2 6 Flitcroft Street, London WC2H 8DJ T +44 (0)

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3 ARTHUR NESTROVSKI, DIRETOR ARTÍSTICO DA ORQUESTRA SINFÔNICA DO ESTADO DE SÃO PAULO 22 de outubro de 2013 por Jean-Christophe Le Toquin A turnê europeia da Orquestra Sinfônica de São Paulo em outubro de 2013, que começou em Paris, é a mais ambiciosa que já foi realizada. Por vinte dias a orquestra vai aparecer em quinze concertos em treze cidades de seis países e, pela primeira vez, na Berlin Philharmonie, Royal Festival Hall e Salle Pleyel. As duas outras principais turnês na região ocorreram em 2010 e 2012 e incluíram outras salas de prestígio como a Concertgebouw e a Musikverein. A ResMusica encontrou-se com Arthur Netstrovski em Paris para entender o que impulsiona o desenvolvimento recente, mas intenso, dessa orquestra. Somos de fato parte do seu mundo. ResMusica: O que causou o desenvolvimento vigoroso da Sinfônica de São Paulo na última década, com regente como John Neschling e, recentemente, Marin Alsop? Arthur Nestrovski: Esta turnê europeia celebra o 60º aniversário da orquestra. Até 1997 houve muitos altos e baixos, principalmente baixos. Então John Neschling tornouse diretor musical e regente principal, e esta foi uma revolução. Eu diria que o verdadeiro início se deu em 2005 com o que chamamos de "organização social", um modelo criado por Fernando Henrique Cardoso, o presidente do Brasil em Seguindo esse modelo, o Estado delega a gestão de serviços considerados essenciais, mas em cujas áreas ele carece de experiência. Uma fundação foi criada para gerir a orquestra, e um contrato de cinco anos é assinado com o Estado. O orçamento e as atividades são examinados com minúcia e a orquestra tem uma visibilidade de cinco anos para construir e desenvolver a sua atividade. O próprio Sr. Cardoso é presidente da Fundação desde RM: De onde vem o seu financiamento? AN: Em 2013 estamos trabalhando com um orçamento de 33 milhões de euros, que não é enorme, mas nos permite executar uma série de atividades. Cinquenta e oito por cento vem do Estado de São Paulo, e o restante é proveniente de ingressos, aluguel da sala, patrocinadores e doadores. Isso nos permite convidar solistas de alto nível, nacionais e

4 estrangeiros. Só para citar artistas franceses, Nathalie Stutzmann é a nossa artista residente deste ano, Jean-Efflam Bavouzet será em 2014; Jean-Yves Thibaudet e Yan Pascal Tortelier estão se apresentando conosco. O caixa tem sido forte o suficiente nos últimos três a quatro anos para nos ajudar a fazer isso. RM: Sob gestão de John Neschling, a orquestra começou a gravar com selos como Bis, Chandos e Naxos, e o ResMusica premiou com uma "Clef d'or ResMusica 2009" a caixa de sete CDs com Complete Choros & Bachianas Brasileiras de Villa-Lobos. Que projetos vocês estão desenvolvendo? AN: Acabamos de anunciar que vamos iniciar uma gravação com o selo Decca das obras de Villa-Lobos conduzidas por Marcelo Lehninger uma estrela de 32 anos, bem como outras músicas brasileiras conduzidas por Marin Alsop. Marin continuará as composições integrais de Prokofiev pelo selo Naxos, assim como as sinfonias completas de Villa-Lobos. RM: Quais são os objetivos de sua turnê europeia? AN: Queremos nos colocar sob a apreciação da mídia, por duas razões. A primeira é ser parte da cena internacional, fazer com que os artistas toquem conosco. Solistas vêm até nós por várias razões, incluindo essa turnê. Isso é estratégico. Estamos longe dos principais centros musicais, é preciso dar-lhes um incentivo. A segunda razão diz respeito à nossa legitimidade no Brasil, ao mostrarmos que temos acesso a estes lugares e pessoas. Essa turnê foi planejada com dois anos de antecedência e eu sou o diretor artístico há quatro anos. Não comecei do zero. RM: Seus músicos também são bastante internacionais AN: Um terço são estrangeiros, provenientes de 17 países. A orquestra é um caldeirão de culturas, assim como São Paulo. RM: Qual é o seu repertório? AN: Primeiramente, em relação a Brahms, Beethoven, Schumann, Mozart nós somos a referência em nosso próprio contexto. Em segundo vem a música do século XX. Em terceiro lugar a música brasileira, pois se nós não a promovermos, quem o fará? E em quarto é a música contemporânea. Nós não temos apenas a orquestra, temos uma orquestra de câmara, um coro de 55 cantores, um quarteto de cordas, sediamos recitais,

5 temos uma academia de vinte jovens instrumentistas e vinte cantores desde 2006 quatro deles ingressaram na orquestra. Realizamos três a quatro concertos por semana, e oitenta por cento do espaço é ocupado por assinaturas. Pela primeira vez, em 2012, nós organizamos um festival de inverno em julho, em Campos de Jordão, que é o nosso Tanglewood. Temos também uma editora que publica seis novas obras por ano de compositores brasileiros. Também encomendamos, juntamente com outras instituições, obras de artistas internacionais como John Adams e Marc-André Dalbavie. RM: A orquestra desenvolve uma especificidade brasileira? AN: O que a torna uma orquestra brasileira é a natureza enciclopédica do nosso trabalho. Na América Latina não há mais ninguém com o mesmo tamanho e estatura. Somos uma orquestra internacional, somos de fato parte do seu mundo. RM: Como você vê o futuro da música clássica? AN: O formato dos concertos vai mudar, haverá mais programas buscando atingir públicos maiores, talvez mais apresentações ao ar livre, no final da noite ou na parte da tarde, mais concertos digitais fizemos isso cinco vezes até agora não imagino que o repertório mude muito. E também cuidamos das novas gerações, temos 120 mil crianças e adolescentes que frequentam nossos concertos todos os anos! RM: Qual é o seu sonho, no que diz respeito à música clássica? AN: Eu gostaria que as pessoas fossem às salas de música clássica como vão ao cinema, para ouvirem os novos autores e de vez em quando frequentassem os clássicos. A música clássica é a única arte na qual as pessoas só ouvem as antigas obras. Para a nossa turnê europeia sugerimos muitas coisas, mas a 5ª Sinfonia de Prokofiev foi até onde conseguimos chegar. Sugerimos a Sinfonia, de Luciano Berio, que só foi aceita em um lugar, em Londres. RM: Quais são os compositores que ouviremos daqui a vinte anos, como acontece hoje com Prokofiev e Shostakovich? AN: Eu diria Kalevi Aho, Magnus Lindberg, Thomas Adès, John Adams, Anna Clyne. No Brasil há compositores talentosos cuja música quase cruza fronteiras com a música

6 popular, como Clarice Assad e André Mehmari. Penso também em Enrico Chapela, do México. RM: Houve recentemente algumas declarações polêmicas de diferentes regentes de alta notoriedade na França e na Rússia sobre a capacidade das mulheres para terem uma carreira como regente. Será que Marin também teve de enfrentar problemas semelhantes de percepção em sua empreitada com a orquestra de São Paulo? AN: Nem um pouco. É difícil acreditar que gênero ainda seja um problema, em tantos lugares, hoje em dia e nesta época. A presidente do Brasil é uma mulher, e a última pessoa a assumir a prefeitura de São Paulo também era mulher. São Paulo é uma cidade cosmopolita e aberta, e na Orquestra Sinfônica de São Paulo estamos muito orgulhosos por termos Marin Alsop como regente principal não por causa de seu gênero, mas porque ela é uma grande regente e uma figura inspiradora para todos nós. Ela veio em setembro de 2010 pela primeira vez para a 7ª de Mahler. A princípio ela viria apenas uma vez, mas no segundo dia já estávamos discutindo projetos conjuntos. Poucos meses depois ela foi nomeada como o regente principal da orquestra, começando em 2012!