O CAVALO PAMPA - a pelagem que outrora era execrada vive hoje momentos de glória.

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1 O CAVALO PAMPA - a pelagem que outrora era execrada vive hoje momentos de glória. Bruno Teixeira de Andrade (Tropa J.D.) Markus Thulio A. Guimarães (Criatório Benfica) Este trabalho é dedicado à memória e obra de Marcio de Andrade, bem como à sua esposa Elisabeth Querioga de Andrade e às suas filhas, Liza e Tricia Andrade. Não conhecemos informações acerca da origem genética da pelagem pampa, como por exemplo, se resulta de fato ou não do cruzamento de outras pelagens ou não. Assim sendo, nós podemos inferir que esta decorre de uma genética própria, a genética pampa. Desde os tempos antigos, nós temos informações de notáveis animais dessa pelagem, podendo citar, por exemplo, o BUCÉFALO, o cavalo de Alexandre Magno, o Grande, que era pampa de baio. No Brasil, e mesmo na América, sabemos que os primeiros eqüinos para aqui trazidos, ainda nos primórdios do Período Colonial, eram os chamados cavalos comuns da península Ibérica e do norte da África, sendo estes descendentes dos cavalos Garrano, do Sorraia, do Andaluz Lusitano e do cavalo Bérbere. Vale destacar que destas raças nenhuma possuía animais pampas. Mas nós sabemos que num segundo momento houve a introdução de animais da pelagem pampa em todas as regiões da América, desde a América Central, de onde os animais se espalharam para o norte (México e Estados Unidos), e no Brasil, por Pernambuco vindo com os Holandeses de Nassau. Na região sul do Brasil houve também a introdução do cavalo de pelagem pampa através da colonização, nos primórdios do século XVII. Muitos destes animais se perderam e se adaptaram ao clima e às condições daquelas regiões: os pampas gaúchos. Posteriormente, estes cavalos selvagens foram capturados, novamente amansados e passaram a ser comercializados. O principal ponto de comercio para eqüinos e muares entre anos de 1733 e 1897 era feira de Sorocaba, no estado de São Paulo.

2 Os cavalos vindos do Sul, extremamente rústicos, de características peculiares, passaram a receber então a denominação de pampas, em decorrência das suas origens. Até então, o cavalo que hoje conhecemos como pampa era conhecido apenas como malhado. Os animais originários de Pernambuco chegaram ao Brasil após a invasão Holandesa e se interiorizaram acompanhando a pecuária, margeando o rio São Francisco, há séculos chamado Rio dos Currais. Há informações de que entre esses pampas dos holandeses alguns tinham andamento lateralizado. Este andamento foi de suma importância para o surgimento da marcha, que se deu a partir do cruzamento de cavalos laterais com animais de trote (diagonais). De tudo isso, nós podemos concluir que o pampa sempre existiu em quase todos os lugares e que, apesar das críticas que sofreu por parte de muitos, ele sempre se defendeu por suas qualidades e pelo interesse, amor e paixão de muitos. A pelagem pampa sempre provocou nas pessoas as mais diferentes reações: as que simplesmente eram apaixonadas pelo pampa; as que a consideravam uma pelagem normal como qualquer outra; as que a criticavam dizendo ser o pampa cavalo de menino, de mulher, de índio ou de bobo. Havia ainda aqueles que apreciavam o pampa, mas não ousavam revelar este fato. E mais... O cavalo pampa era criticado no Mangalarga, no Mangalarga Marchador e no Campolina, só não o era no Piquira. Porém, ele se defendeu bravamente ao longo dos anos, até que o seu tempo chegou pelas mãos beneméritas de alguém que ajudou o Mangalarga Marchador, o Campolina, o jumento Pêga e mais inúmeras espécies de animais domésticos MARCIO DE ANDRADE.

3 Márcio de Andrade Márcio teve a visão como poucos de que tudo tem que ter a sua casa, de pessoas a animais. Assim sendo, reuniu quantos amigos criadores do pampa que pode e fundaram sob sua direção a ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DOS CRIADORES DO CAVALO PAMPA. Já na criação do pampa, os fundadores tiveram a sabedoria de abrir as portas aceitando animais registrados em outras raças nacionais e abrigando os andamentos de Marcha Picada, Marcha Intermediária, Marcha Batida e Marcha Trotada com julgamentos independentes. Isso foi o bastante para que para que o pampa se tornasse uma coqueluche em todo o Brasil. Tudo porque passou a ter a sua própria casa. Foi com Márcio de Andrade que o Marchador passou a ser chamado o cavalo sem fronteiras, apesar de que, com ele, o Pampa já nasceu sem fronteiras. Este mesmo criador, e patrono da pelagem pampa, já vinham lutando também pela marcha picada, que sempre existiu, mas foi execrada durante um tempo, sendo até retirada do padrão do Marchador e voltando com a sua consagração no Pampa.

4 OS CAVALOS PAMPAS Na tropa da Fazenda Campo Grande a pelagem pampa foi introduzida com o cavalo Passa Tempo (pampa de preto), mas existem registros antigos do senhor Francisco Teodoro de Andrade, precursor da marca F, montando um pampa. Francisco Teodoro era o pai do Gabriel Augusto de Andrade, avô do Bolivar de Andrade e, logo, bisavô do Marcio de Andrade. Marcio representava, portanto, a quarta geração de gestores da Fazenda Campo Grande. Bolivar de Andrade montado em Turista de Passa Tempo, no Parque da Gameleira. O cavalo de nome Passa Tempo foi adquirido em Conceição do Rio Verde, Sul de Minas Gerais, e era filho do Beduíno com a Pintura. Esse reprodutor foi consagrado numa foto em que aparece montado, e bem montado, pelo emérito presidente Juscelino Kubitschek.

5 Passa Tempo ratificou as suas qualidades através dos anos como um importante reprodutor para a seleção desenvolvida no criatório Campo Grande e, posteriormente, como um importante pilar para raças Pampa, Campolina e Mangalarga Marchador. Este cavalo gerou, dentre outros, Urânio de Passa Tempo, pai da Barbacena da Porteira de Tábua e avô do Gabarito da Porteira de Tábua, Campeão Nacional no ano de 1987 e pai de duas Campeãs das Campeãs Nacionais de Marcha no Mangalarga Marchador, o único garanhão a alcançar tal feito até os dias atuais. Passa Tempo montado por Juscelino Kubitschek, no Parque da Gameleira. Passa Tempo ainda deixou no criatório um importante lote de matrizes, como a Raridade, Viúva, Xinga, Vitrine, Palestina, Celebridade e Zoologia de Passa Tempo, mas foi acasalado com a com a Campo Grande Jóia que ele gerou o seu principal filho (e substituto), o Turista de Passa Tempo, um cavalo de extraordinária beleza que possuía no flanco esquerdo uma pinta lembrando o mapa da America do Sul.

6 Turista de Passa Tempo Turista foi, assim como o seu pai, um ilustre reprodutor. A sua influencia no criatório Passa Tempo tornou-se consideravelmente elevada, sendo de grande valia lembrarmos dois de alguns dos seus produtos nascidos na Campo Grande: Zum Zum de Passa Tempo (por Campo Grande Jaguara) e Falado de Passa Tempo (por Sabida de Passa Tempo). Zum Zum foi muito importante para o criatório A.F., do Aloysio de Andrade Faria, onde deixou exemplares de escol, como o A.F. Diadorin, A.F. Emir, Tri Campeão Nacional de Marcha, e A.F. Feitiço.Todos referencias em andamento. O Falado de Passa Tempo, belíssimo pampa, já foi mais influente e importante para o seu criatório do que o seu irmão. Na sua linha materna o Falado era neto do Herdade Aviador, castiço reprodutor oriundo da seleção do Sr. José de Andrade Reis Dié, e ainda descendia de éguas oriundas do criatório Angahy, que ajudaram a formar as bases para o criatório Passa Tempo ainda quando a criação estava sob os comandos do Sr. Gabriel de Andrade.

7 Falado de Passa Tempo Lembro-me de que numa nacional realizada em Belo Horizonte, o Falado entrou montado por Antonio Peão (83 anos) no Parque da Gameleira, quando o parque ainda não havia recebido o nome Bolivar de Andrade, depois de ter saído da fazenda Campo Grande, em Passa Tempo, e marchado por 130 km num período de pouco mais de 17 horas, relata o Bruno Teixeira de Andrade. Falado gerou o Índio de Passa Tempo, ainda vivo e servindo à Rima Agropecuária. Essa linha de pampas se encarregou de espalhar a pelagem por grande parte do Brasil. Houve ainda na Fazenda Campo Grande outro importante reprodutor de pelagem pampa, o Invasor de Passa Tempo. Este era um filho do Zape de Passa Tempo com a Cobiça de Passa Tempo, sendo, portanto bisneto por duas vezes do genearca Passa Tempo. A Vila de Passa Tempo, uma das mais belas de suas filhas, é considerada uma das éguas de melhor andamento nascidas neste criatório.

8 Invasor de Passa Tempo No Sul de Minas sempre houve pampas, mas é forçoso reconhecer que o mais famoso deles foi Sincero JB. A tropa JB era constituída basicamente de castanhos, tordilhos e alguns pretos. Lá o pampa foi introduzido por Neon JF, que o Urbano Junqueira de Andrade, um dos responsáveis por todo o sucesso e influencia da Fazenda Campo Lindo, recebeu de presente de seu tio Zezico. Neon descendia do Capitel SP- pampa de tordilho, e do Bordado, ambos responsáveis pela admissão da pelagem Pampa nas raças Mangalarga Marchador e no Mangalarga, por aqueles animais que não descendem de cavalos provenientes da seleção da linhagem Passa Tempo.

9 Capitel SP montado por Arnaldo Almeida Prado Um dia em que eu e o Urbano estávamos no pasto indo a um retiro ele me mostrou uma árvore e disse: foi ali que nasceu o Sincero!, e acrescentou que ao se aproximar pensou: nasceu um reprodutor!, lembra o Bruno. Neon JF

10 Sincero era um cavalo médio, forte, refinado e de beleza ímpar. Nunca o montei, mas sempre ouvia que era ótimo de sela. A sua mãe era a Jogatina JB, uma filha do Sargento JB, que por sua vez é o cavalo de maior influencia no criatório JB, afirma o Bruno. Sincero JB Duque JB, Xarada JB, Carioca JB, Apolo JB e Atrevido JB são alguns dos destacados filhos do Sincero nascidos no criatório JB. Para a pelagem pampa talvez o Atrevido seja o mais importante, apesar de todos os outros animais citados apresentarem descendentes pampas que também escreveram seu nome na história das raças Mangalarga Marchador e Pampa. Voltando ao Atrevido... Ele possuía uma presença que calava as pessoas. Era bonito por demais! Esse eu montei! Na ocasião eu disse ao Urbano que ele não era macio, ao que o Urbano respondeu que aquele andamento fora imposto a ele pelo João peão, voltando de uma exposição em São Paulo, conta o Bruno. Nesta ida a S. Paulo para uma Nacional, o João peão começou a competição triste, pois o Juiz português examinou rapidamente o Atrevido e mandou o peão esperar na cerca. Depois de examinar todos os demais cavalos e colocá-los em ordem, o juiz chamou o João e colocou o Atrevido à frente de todos. Atrevido conquistara então o titulo de Campeão Nacional!

11 Atrevido JB montado por João Peão O Sincero vem a ser pai também do Zinco da Lagoa Negra (por Kerozene), Campeão Nacional de Marcha e importante reprodutor para a difusão da pelagem pampa, relatando alguns até que há influencia direta deste reprodutor sobre alguns cavalos pampas da raça Campolina.

12 Zinco da Lagoa Negra Sincero e Atrevido, através dos seus descendentes, espalharam pampas que hoje estão por todo o Brasil. Palhaço de Ituverava é um exemplo deste. Nascido no criatório JB e batizado com o nome de Omelete, o Palhaço era filho do Atrevido JB e é pai de inúmeros animais de destaque, dentre eles: Tigrão Kafe, Grande Campeão Nacional da Raça e pai de inúmeros Campões Nacionais, Elo Kafe da Nova, Grande Campeão Nacional da Raça, pai de mais de 35 filhos Campões Nacionais, destacando o Épico Capim Fino, Bi Grande Campeão Nacional da Raça e o Stilo de Três Corações, Campeão dos Campeões Nacionais da Raça, além de ser avô da Fascinação MFC e da Vaidade da Santa Esmeralda, ambas Grandes Campeãs Nacionais da Raça. Há ainda a Única Kafe, irmã própria do Elo e uma das mais lindas éguas pampas já nascidas, Reservada Campeã Nacional Jovem da Raça e mãe do Galante do Expoente, Campeão dos Campeões Nacionais de Marcha.

13 Palhaço de Ituverava (Omelete JB) Outro importante cavalo pampa passou pelo Sul de Minas e se caracterizou como um dos grandes sementais das raças Mangalarga e Marchador Marchador: Único Lobos. Único Lobos

14 No criatório dos Lobos toda a tropa era alazã, dentre machos e fêmeas, com exceção da égua Quaresma, que era pampa de preto, e do Príncipe J.D., que o Anibal Junqueira havia adquirido de meu pai, José Donato. Príncipe era um filho da Rainha J.D. que era pampa de castanho, com o Herdade Ouro Preto, tordilho, nascido no Anghay. Ele possuía uma conformação impecável, marcha batida clássica, além de uma rara beleza! afirma, saudoso, o Bruno. Assim sendo, Anibal cruzou a única égua pampa com o único reprodutor pampa que ele possuía, resultando no nascimento de um potro pampa batizado pelo nome de Único Lobos. Príncipe JD Nesta foto, tirada durante uma Convenção Nacional realizada em Caxambu/MG, no ano de 1981, dois filhos do Sincero JB Campeões Nacionais de Marcha foram apresentados em pista, sendo eles o Charlatão J.G., montado pelo Newton Sturzeneker (criatório Porto Azul), puxando a fila, e o Zinco da Lagoa Negra, ao final da fila.

15 E assim, tomamos conhecimento que o cavalo pampa sempre esteve presente, a todo o momento se fazendo influente, faltando talvez em certo instante o reconhecimento devido. Em todo o tempo houve também nobres homens que lutaram para que essa genética não se perdesse, cuja memória nós e os nossos posteriores deveremos reverenciar, tomando-os como exemplo, como se ainda estivessem entre nós. O passado de obstáculos vencidos é o recente legado, o compromisso com presente e o futuro como um desafio afirmam o que em outro momento disse Márcio de Andrade: O bom senso sempre prevalecerá!.