A autora sustenta, em síntese, para justificar a obtenção da pretendida tutela antecipatória, o que se segue (fls. 25/26):

Tamanho: px
Começar a partir da página:

Download "A autora sustenta, em síntese, para justificar a obtenção da pretendida tutela antecipatória, o que se segue (fls. 25/26):"

Transcrição

1 TUTELA ANTECIPADA NA AÇÃO CÍVEL ORIGINÁRIA SÃO PAULO RELATOR : MIN. CELSO DE MELLO AUTOR(A/S)(ES) :EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELÉGRAFOS - ECT ADV.(A/S) :RAIMUNDA MÔNICA MAGNO ARAÚJO BONAGURA E OUTRO(A/S) ADV.(A/S) RÉU(É)(S) :JOSÉ ROBERTO PADILHA :EMPRESA METROPOLITANA DE TRANSPORTES URBANOS DE SÃO PAULO S/A - EMTU/SP ADV.(A/S) : ANTONIO DE OLIVEIRA E OUTRO(A/S) LIT.PAS.(A/S) :PORTAL EXPRESS TRANSPORTES RÁPIDOS LTDA - ADV.(A/S) ME :EDUARDO BANNO DECISÃO: Trata-se de ação cominatória com pedido de tutela antecipada, ajuizada pela Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos ECT, com o objetivo de a. anular a contratação de PORTAL EXPRESSTRANSPORTES RÁPIDO LTDA. ME, decorrente do PREGÃO Nº 018/2007, que tem por objeto os serviços de transporte de malotes ( ) ; b. determinar que a Ré se abstenha iniciar procedimento de licitação que tenha como objeto a entrega de correspondência, bem como a agrupada, documentos ou objetos enquadrados como tal ( ) e c. que seja estabelecida multa diária no caso de descumprimento de qualquer dos pontos da sentença (fls. 27 grifei). A autora sustenta, em síntese, para justificar a obtenção da pretendida tutela antecipatória, o que se segue (fls. 25/26): A violação do monopólio postal praticada pela Ré configura clara afronta aos serviços públicos, pois, além de macular a credibilidade dos Correios junto à sociedade, a conduta resulta em prejuízo ao Erário Público, na medida em que as tarifas e preços postais cobradas pela ECT configuram receita pública destinada especificamente a subsidiar a prestação do serviço postal em todo o território nacional. Noutro naipe, se o exercício ilegal da atividade postal não for

2 coibido pela antecipação da tutela aqui pretendida, difícil e insatisfatória será a posterior reparação de danos, pois, além da receita que a ECT deixará de perceber, tormentosa será a quantificação do impacto que tal perda de receita representaria na manutenção e expansão da rede postal pública Além disso, considerando que durante décadas a ECT é tida como a instituição pública mais confiável no Brasil dificilmente uma indenização de caráter compensatório poderia reparar a credibilidade de uma instituição pública de tal porte. A prevalência da prestação de serviços paralelos de Correios promovida pela RÉ constitui, indubitavelmente, não só desrespeito à legislação aplicável, como também é ato lesivo às atividades da autora, que exerce o munus constitucional, refletindo em toda a comunidade. Assim, tem-se de forma inequívoca que a autora, por força do Decreto-Lei nº 509/69 bem como da Lei nº 6.538/78, cuida de executar o serviço postal que é público por natureza, e que o Estado assume como próprio, e ressalte-se que a quebra da exclusividade do serviço postal da União é crime tipificado na Lei Postal, e configura invasão de competência exclusiva União (artigo 21, X, e 22, V, da Constituição Federal de 1988). Deste modo, estão amplamente demonstrados os requisitos que autorizam a concessão da tutela antecipada, inaudita altera parte, consoante o disposto nos artigos 273 e 461, 3º, do Código de Processo Civil, no sentido de que a Ré suspenda, imediatamente a execução do contrato decorrente PREGÃO Nº. 018/2007, cujo objeto refere-se a prestação de serviços de coleta e entrega de correspondência agrupada e outros sujeitos ao regime de exclusividade do serviço postal, conforme fundamentado. (grifei) A Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos de São Paulo EMTU/SP, por sua vez, ao impugnar tal pretensão, assim se manifestou (fls. 106/113): Inicialmente, faz-se mister esclarecer que a RÉ é empresa de economia mista integrante da Administração Pública Estadual 2

3 Indireta, atuante, principalmente, no planejamento, gerenciamento e na elaboração de projetos atinentes ao transporte coletivo intermunicipal de passageiros das Regiões Metropolitanas do Estado de São Paulo. Também é necessário ilustrar que, em decorrência de suas atividades, mantém filiais nas cidades São Bernardo do Campo, Praia Grande e Campinas, havendo a necessidade de comunicação entre a sede e as filiais. Lógico também, que em decorrência da centralização de seu Departamento de Compras, na cidade de São Bernardo do Campo, a empresa necessite de veículos para o transporte de bens entre suas filiais. Assim, desde o ano de 2002, vem licitando a contratação do serviço de coleta e entrega de malote entre as suas filiais. O malote serve para transportar bens entre as filiais, carregando por exemplo, desde um prego ou parafuso e até um galão de água de 20 (vinte) litros. A partir da aquisição, na cidade de São Bernardo do Campo, estes bens são distribuídos, quando necessário, pelas filiais. Este serviço não está e nem poderia estar contemplado nos artigos 7º e 9º da Lei Federal 6538 de 22 de junho de Acrescente-se que, tais serviços já são licitados desde 2002, e jamais foram questionados pela AUTORA. Ademais, a referida licitação teve como principal objetivo à obtenção de uma maior agilidade, além de uma sensível redução de custos aos cofres públicos, uma vez que, anteriormente, as referidas entregas e coletas eram feitas mediante a contratação específica para cada bem transportado. Ao contrário do que tenta aduzir a AUTORA, a EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELÉGRAFOS, com todo o nosso respeito, não oferece o serviço que tenta contestar e, ao que parece, não tem a menor condição de fazê-lo, eis que sua estrutura é insuficiente. Apenas para se ter uma ideia destas grandezas, bastaria olhar a questão dos serviços prestados pelas empresas de motoboys. A AUTORA possui cerca de 57 mil carteiros 3

4 distribuídos pelo Brasil, enquanto que, só na grande São Paulo, a iniciativa privada faz uso de cerca de 300 mil motoboys para a entrega e coleta de pequenos volumes. Frise-se que, para a execução de serviços postais de que necessita, a RÉ continua contratando regularmente com a AUTORA. Em que pese os elementos necessários ao esclarecimento de que os serviços de coleta e entrega de malotes com carro e condutor, utilizados pela RÉ não são abrangidos pela Lei dos Serviços Postais serem de fácil percepção, a AUTORA insiste em afirmar que o objeto licitado consiste na execução de serviço postal, o qual considera monopólio da União, com base no artigo 21, inciso X, da Constituição Federal.... Assim, resta claro concluir, com base nos elementos apresentados, que a presente demanda, promovida pela EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELÉGRAFOS-ECT, é infundada, logo, improcedente. É evidente que os serviços licitados pela EMPRESA METROPOLITANA DE TRANSPORTES URBANOS DE SÃO PAULO S/A EMTU/SP, não configuram serviços postais, sendo distintos daqueles contemplados pela Lei Federal 6.538/78, portanto, não justificam qualquer questionamento judicial, ou extrajudicial, por parte da AUTORA. Ainda assim, em caso de uma remota discordância desse entendimento, a pretensão da AUTORA também não merece prosperar, uma vez quê, com fundamento nos elementos supra aduzidos, os serviços postais configuram atividade econômica explorada sem o condão de monopólio estatal. (grifei) Instada a se manifestar, a empresa Portal Express Transportes Rápidos LTDA. ME, litisconsorte passiva, aduziu os seguintes fundamentos (fls. 220/221): A vencedora da licitação, ora contestante, presta serviços de COLETA E ENTREGA DE MALOTES COM MOTORISTA, cousa não realizada pela Autora, na forma em descrita na licitação sob 4

5 comento. Entretanto, a fim de eliminar dúvidas acerca dos materiais que são transportados (e não correspondências), apresenta o rol de objetos transportados: a) Galões de água; b) Papel higiênico e sulfites; c) Cadeiras e móveis de escritório; dentre outras coisas e bens 6. Pois bem, considerando que não se trata de correspondências, papéis e cartas, como tentou demonstrar a Autora, verifica-se que não lhe assiste razão nos fundamentos de seu pedido, haja vista que não se trata do objeto mencionado pela propedêutica. 7. Ademais, vale ressaltar que o mencionado artigo 7º, da Lei de 1978, disposto pela vestibular, não contempla os bens e coisas supra mencionadas, de forma que não podem ser consideradas, ainda que latu sensu, como correspondências. 8. A própria Autora menciona às fls. 04, o que são objetos de correspondências, não estando previstos os bens supra indicados. 9. No tocante à citada exclusividade, melhor sorte não lhe resta. Com efeito, no artigo 21, X, da Constituição Federal, aposta pela própria Autora, é da competência da União manter o serviço postal e o correio aéreo nacional, todavia, sem qualquer menção à exclusividade. 10. Vale dispor que no artigo supra, não há qualquer menção à exclusividade ou que deva manter o monopólio postal, mas tão somente, a manutenção de serviço postal e o Correio Aéreo Nacional. 11. Portanto, reiterando informação alhures exposta a, ora contestante, não transporta correspondências, ainda que agrupadas, nos termos das definições da Autora. (grifei) Sendo esse o contexto, passo a analisar o pedido de tutela antecipatória deduzido na presente causa. E, ao fazê-lo, indefiro o pleito em questão, por não se me afigurarem ocorrentes, na espécie, os pressupostos 5

6 necessários ao acolhimento dessa postulação (CPC, art. 273, na redação dada pela Lei nº 8.952/94). É que entendo descaracterizada ao menos nesta fase preliminar do processo e em juízo de sumária cognição a possibilidade de lesão irreparável ou de difícil reparação, apoiando-me, para tanto, sempre em caráter delibatório, nos fundamentos que dão suporte à contestação deduzida pela Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos de São Paulo. É importante rememorar, neste ponto, que o deferimento da medida liminar, resultante do concreto exercício do poder geral de cautela outorgado aos juízes e Tribunais, somente se justifica em face de situações que se ajustem aos seus específicos pressupostos: a existência de plausibilidade jurídica ( fumus boni juris ), de um lado, e a possibilidade de lesão irreparável ou de difícil reparação ( periculum in mora ), de outro. Sem que concorram esses dois requisitos que são necessários, essenciais e cumulativos, não se legitima a concessão da medida liminar. Sendo assim, e sem prejuízo de ulterior reapreciação da matéria, quando do julgamento final da presente ação, indefiro o pedido de antecipação dos efeitos da tutela jurisdicional. Publique-se. Brasília, 09 de junho de Ministro CELSO DE MELLO Relator 6