6.2 Edifício Normandie

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1 Edifício Normandie Foto: endereço e localização Av. 9 de Julho Centro pça. roosevelt r. martins fontes r. martinho prado lig. leste-oeste av. 9 de julho Fotos do ed. Normandie em 1955 Fonte: Revista Acrópole 219, 1957, p.95. construção C.N.I. (Engº resp. Roberto Zuccolo) terreno Irregular m² unidades 1º ao 7º pav.: 10 kitch. de 30m², 2 ap. de 52m² 8º ao 19º pav: 10 kitch. 30m2 20º pav.: 5 ap. de 52m² 21º pav: 5 ap. de 46m² Total: 214 unidades publicações Acrópole 219, 1957, p coef. de aproveitamento Área total = m² taxa de ocupação 60 % conservação péssima descaracterização Média

2 51 A Avenida 9 de Julho e o Plano de Avenidas Nos anos, 1930 e 1940, o modelo rodoviarista se consolidara através do Plano de Avenidas de Prestes Maia. Este plano expansionista baseava-se na adoção de uma estrutura viária radial-perimetral de modo a expandir a área central, além de possibilitar e ordenar o crescimento vertical e horizontal da cidade em anéis sucessivos. O projeto previa a construção e alargamento de avenidas, gerando fluidez ao tráfego entre o centro e os bairros; estas avenidas, além do papel viário, definiram vetores de expansão vertical na cidade. Seu sucesso parcial se deu apenas com a nomeação de Prestes Maia como prefeito, que implantou o perímetro de irradiação, expandindo o centro e conseqüentemente, a ocupação vertical. (AMARAL DE SAMPAIO, 2002 p.133) Com Maia à frente da prefeitura foram executadas a Av. Ipiranga, o alargamento da Av. Senador Queiróz e São Luiz, projetos da 23 de Maio e da Radial Leste e construção da avenida Tiradentes e da 9 de Julho; esta foi um importante exemplo de vetor de verticalização, onde mais de 100 edifícios foram erguidos por empreendedores privados, voltados à habitação coletiva de baixo custo entre 1945 e Dentre esses edifícios, encontramos alguns interessantes exemplares da arquitetura moderna, como o edifício Guatemala, de 1955, do arquiteto Francisco Beck. (AMARAL DE SAMPAIO, 2002 p.134) O edifício Normandie, projetado por Franz Heep em 1953 e entregue em 1957, também está inserido neste importante vetor de verticalização criado pelo Plano de Avenidas, que é a avenida 9 de Julho. É o edifício com o maior número de unidades projetado por Heep em São Paulo, totalizando 214, sendo que 209 são do tipo kitchenette 27. A reportagem da revista Acrópole nº 219 destaca que a opção por se construir um edifício de kitchenettes na avenida 9 de julho se dá pelo fato dela ser uma via de grande movimento, o que não atrai famílias, e sim, pessoas solteiras ou casais sem filhos. No Normandie, Heep inaugura algumas tipologias que serão repetidas diversas vezes por ele mesmo em outros projetos posteriores. A fachada, marcada pelas floreiras, por elementos curvos de concreto que separam as unidades, e pelos caixilhos com peitoris e bandeiras móveis, será reproduzida com pequenas variações nos edifícios Arapuã (1953), e no Japurá (1954). As soluções de planta das kitchenettes do Normandie, serão amplamente reproduzidas em outros edifícios de Heep, como o Icaraí 28 (1953), o Arapuã (1953), o Araraúnas 29 (1955), o Marajó (1955) e o Guaporé 30 (1956). Plano de Avenidas de Prestes Maia Fonte: plans/h2pl-av/index.html Acesso em abril de 2009 Edifício Guatemala 1955 Francisco Beck Fonte: AMARAL DE SAMPAIO, 2002 (28) - Ver análise do edifício Icaraí na página 78 (29) - Ver análise do edifício Araraúnas na página 183 (30) - Ver análise do edifício Guaporé na página 202 (31) - O apartamento do tipo Kitchenette é o que possui geralmente como programa uma cozinha, um banheiro e um único espaço destinado a estar, comer e dormir. Este termo que o designa é oriundo do nome dos kits de cozinha compactas utilizadas nestes apartamentos (p.56)

3 52 bloco principal circ. vertical Terreno, implantação, volumetria e entorno O terreno, de topografia plana, onde situa-se o Normandie, é conformado por um L, onde o maior lado, de 43,65m, alinha-se com a avenida 9 de Julho. O lote, apesar de irregular, possui todos os seus ângulos retos, com exceção do que se forma entre a face principal e a face lateral esquerda, para quem da 9 de julho o vê de frente. av. 9 de julho Pavimento térreo circ. vertical bloco principal av. 9 de julho 1º ao 8º andar O partido de implantação acompanha a geometria do lote; o corpo elevado, disposto de modo transversal ao terreno, está recuado no térreo, 11,60m do alinhamento com a avenida 9 de Julho e encosta nas duas divisas laterais; o pavimento nomeado de térreo, está na verdade elevado em relação ao nível da avenida cerca de 2,00m, ao passo que o subsolo encontra-se abaixo do nível dela com a mesma medida. A partir do 1º pavimento, até o 18º, o corpo elevado encontra-se recuado 9,65m do alinhamento, o que significa que estes pavimentos projetam-se cerca de 2,00m em balanço sobre o térreo. Os primeiros oito pavimentos, mais o térreo e o subsolo, faceiam as divisas laterais; a partir do 8º pavimento, há recuos de 4,40m em ambos os lados, soltando o restante da torre das laterais. O 19º é o primeiro pavimento a sofrer interferência do escalonamento obrigatório, recuando-se cerca de 1,00m em relação ao alinhamento dos pavimentos inferiores. A mesma situação ocorre sucessivamente com o 20º e o 21º pavimentos. O recuo de 9,65m do corpo elevado em relação ao alinhamento, permitiu o ganho de altura do edifício e conferiu unidade à fachada, pois graças ao recuo, o escalonamento da torre só ocorre nos últimos 9,45m, dos 70,10m totais, tirando do observador, localizado no térreo, a percepção deste escalonamento. 9º ao 18º andar circ. vertical bloco principal av. 9 de julho

4 53 Edifício Itália Adolf Franz Heep - Construções baixas escoram o entorno. Foto: Croqui do entorno do Ed. Normandie Edifício Normandie - Terraços que abraçam e convidam. Foto: Edifício Normandie - Diálogo com o entorno - Alinhamento de terraços Foto: Edifício Eiffel Oscar Niemeyer Foto: No projeto do Normandie, Heep se deparou com um contexto já bastante construído, o que pode esclarecer algumas soluções de ajuste ao entorno utilizadas por ele. Nos primeiros sete pavimentos, onde a torre encosta nas divisas laterais, surgem terraços trapezoidais que alinhamse com os edifícios vizinhos (...)como a escorar o entorno para o desenvolvimento da torre (BARBOSA, 2002, p.67). Além disso, os terraços presentes nos primeiros sete andares, abraçam a cidade, causando uma sensação convidativa. Uma solução semelhante também foi adotada por Oscar Niemeyer no projeto do edifício Eiffel, de 1954, localizado na praça da República. No edifício Itália (1956), de autoria do próprio Heep, esta possibilidade será aperfeiçoada(...) com suas construções baixas no alinhamento fazendo um contraponto com a torre (BARBOSA, 2002, p.67) e como no Normandie, escorando o entorno.

5 54 Térreo e subsolo loja 89 m² loja 96 m² loja 112 m² loja 58 m² av. 9 de julho Esquema de distribuição do pavimento térreo circulação horizontal circulação vertical lojas loja 101 m² loja 110 m² loja 82 m² loja 100 m² loja 77 m² Esquema de distribuição do subsolo loja loja 93 m² 121 m² loja loja 110 m² 133 m² O térreo do Normandie, como já mencionado anteriormente, encontra-se 2,00m acima do nível da 9 de Julho, ao passo que o subsolo situa-se 2,00m abaixo dela. Esta decisão projetual pode ser justificada por algumas hipóteses; a avenida 9 de Julho encontra-se no fundo de um vale, onde passa um rio, hoje canalizado, fato que pode sinalizar a presença de um nível d água elevado, dificultando e encarecendo escavações, e desta forma, induzindo a uma opção por um subsolo semi-enterrado, minimizando estas escavações. Ambos os pavimentos, térreo e subsolo, são destinados à lojas comerciais; a opção por deixá-los meio nível acima e abaixo da via faz com que o pedestre consiga perceber visualmente a existência das lojas em ambos os pavimentos, além de favorecer o acesso a elas. Uma rampa curva vence o desnível entre a 9 de Julho e o pavimento térreo, configurando um percurso de entrada, desembarque, e saída de veículos, além de também servir ao acesso de pedestres; a vantagem conseguida com a adoção desta solução é a imponência que o térreo do edifício ganha por estar 2,00m acima do nível da rua, reforçada ainda mais pela simetria da planta, que refletese na fachada. O pedestre ainda pode acessar o térreo por escadas situadas em ambas as extremidades da planta e cobertas pelos terraços trapezoidais dos apartamentos. No térreo, o acesso social do edifício encontra-se na porção central da planta; um corredor de 5,00m de largura e paredes curvas, segue na diagonal em direção ao fundo do lote, chegando ao hall de elevadores e escadas, que conduzem aos andares habitacionais. Os pavimentos superiores projetam-se 2,00m em relação ao alinhamento do térreo, criando um balanço que configurou um passeio coberto para as cinco lojas deste pavimento, protegendo suas vitrines e acessos das intempéries. O acesso às sete lojas do subsolo se dá por três escadas, sendo duas nas extremidades da planta e uma na porção central, que vencem o desnível de 2,00m existente entre este pavimento e a 9 de Julho. As áreas não edificadas do subsolo, que correspondem ao recuo frontal, são dotadas de jardins que possuem hoje árvores altas, que chegam até o segundo pavimento de apartamentos. Lojas do térreo e subsolo. Foto:

6 55 Circulação Vertical Pavimento tipo e unidades A circulação vertical do edifício Normandie se dá em um volume irregular de cantos arredondados, destacado da lâmina principal do edifício e situado na parte posterior desta, voltada para os fundos do lote. Este volume de circulação vertical é o único elemento do projeto que rompe a simetria da planta, e consequentemente, da fachada posterior do edifício; essa quebra de simetria deu-se por uma condicionante geométrica do terreno, como mostra o croqui abaixo. Quatro elevadores, sendo três sociais e um de serviço, levam do térreo ao 21º pavimento. Do 1º ao 21º, as escadas são lineares sem patamar intermediário. Somente nas transposições do 1º pavimento para o térreo e deste para o subsolo, ela se torna curva, em forma de ferradura, também sem patamar intermediário. A adoção de um volume destacado da lâmina principal para a realização da circulação vertical, era uma prática corrente na época do Normandie, não só na obra de Heep, como na de muitos outros arquitetos contemporâneos a ele; esta solução é encontrada na obra de Franz Heep nos edifícios Icaraí (1955), Arapuã (1953), Araraúnas (1955) e Arlinda (1958), além de também ser utilizada no Ed. Copan, de Oscar Niemeyer. Em todos os andares destinados às habitações (1º ao 21º), o arranjo espacial dos pavimentos se dá por um corredor linear voltado para a face posterior da lâmina principal, que iluminado e ventilado por cobogós de concreto, distribui os fluxos para os apartamentos, voltados para a face principal. O Normandie conta com seis situações distintas na distribuição e tamanhos dos apartamentos nos pavimentos tipo, fruto dos recuos que o edifício sofre ao longo do seu desenvolvimento vertical. Do 1º ao 7º pavimento, o bloco principal de apartamentos alinha-se com as duas divisas laterais do lote, acarretando numa maior área do pavimento tipo e possibilitando a distribuição de doze unidades do tipo kitchenette, dispostas lado a lado, todas voltadas para a avenida 9 de Julho, com orientação sudeste. As duas unidades das extremidades da planta do pavimento tipo, do 1º ao 7º andar, contam com 52m² de área e possuem largura 1,00m maior que as dez demais, que contam com 30m² cada. Além disto, as unidades das extremidades ainda possuem os terraços trapezoidais, que projetam-se até o alinhamento com os edifícios lindeiros. 52m² 30m² 30m² 30m² 30m² 30m² 30m² 30m² 30m² 30m² 30m² 52m² Esquema de distribuição do pavimento tipo do 1º ao 7º andar Fachada posterior do Ed. Copan - Oscar Niemeyer Corpo de circulação vertical destacado da lâmina principal. Foto: circulação horizontal circulação vertical unidades

7 56 Projeto da cozinha de uma Kitchenette Fonte: Revista Acrópole 219, 1957, p.113. Planta de uma unidade de 30m² do Normandie. As plantas das kitchenettes de 30m² são compostas por uma cozinha, um banheiro e uma sala-living. A cozinha conta com 1,00m de largura por 0,80m de profundidade, cujo detalhamento aparece na publicação da revista Acrópole nº 219. Uma geladeira se encaixa sob a pia de mármore, que conta com uma cuba e um espaço suficiente para a colocação de um fogão de duas bocas. Acima da cuba, encontram-se duas prateleiras de granilite. Heep desenhou este pequeno espaço em todos os seus detalhes, com equipamentos muito compactos. O conceito de kitchenette desta época em São Paulo, se apropriava de alguns elementos da cartilha de habitação mínima de Le Corbusier, que tinha como prerrogativa a não necessidade de espaços generosos para serviços como cozinha e lavanderia dentro do apartamento, afinal a célula 31 de habitação (termo para se definir uma unidade unifamiliar) fazia parte de uma unidade de habitação auto-suficiente, dotada de serviços coletivos, dispensando-os de estarem dentro de cada apartamento. Neste caso paulistano, a unidade de habitação não é auto-suficiente, como a de Le Corbusier, mas o fato do edifício de kitchenettes estar inserido num contexto urbano bem servido de opções para as refeições, a compactação da cozinha se torna viável. As lavanderias são ausentes nas kitchenettes, mais uma vez pressupondo que serão utilizados os serviços da cidade. Outra possível explicação para se justificar as dimensões reduzidas da cozinha é o fato de não existirem na época tantos equipamentos eletro-eletrônicos disponíveis no mercado. Hoje, com a grande variadade desses equipamentos, muitas das cozinhas do Normandie foram reformadas, aumentando a sua área e diminuindo a do banheiro, que possuia medidas mais generosas devido à presença do bidê, fato recorrente na época. (31) - Termo extraído de SAMPAIO, Maria Ruth Amaral de (org.). A Promoção Privada de Habitação Econômica e a Arquitetura Moderna, São Carlos: RiMa, 2002

8 57 A sala-living é um espaço de 3,25m de largura por 5,20m de comprimento, que pode abrigar as funções de dormir, estar e comer. Ainda há um espaço, de 1,00m de largura por 1,30m de comprimento, ladeado pela cozinha, que funciona como um closet, abrindo-se para a salaliving. Planta da unidade de 52 m². É importante salientar que o termo kitchenette, amplamente utilizado no Brasil para designar estas unidades como as do Normandie, teve provável origem no nome do kit de cozinha compacta para esse tipo de apartamento (ver p.56) que se assemelha a um quarto de hotel, possuindo além da cozinha, um banheiro e ambientes de estar e dormir que se situam no mesmo espaço. Pela data de projeto, acredita-se que o Normandie foi o primeiro edifício, projetado por Heep, a possuir este tipo de planta, que viria a ser largamente reproduzida posteriormente, com pequenas variações, em sua obra residencial vertical em São Paulo. As unidades de 52m² das extremidades da plantas do 1º ao 7º pavimento, também são kitchenettes, mas possuem um arranjo espacial diferente das de 30m², pois são mais largas em 1,00m; isto permite dimensões mais generosas para a cozinha, o banheiro e a sala-living. Além disso, nesta unidade há uma meia parede que separa o ambiente de dormir do de estar. Há ainda a presença do terraço trapezoidal de 13,00m². Fachada do Ed. Normandie atualmente Foto:

9 58 30m² 30m² 30m² 30m² 30m² 30m² 30m² 30m² 30m² 30m² Esquema de distribuição do pavimento tipo do 8º ao 19º andar circulação horizontal circulação vertical unidades No 8º pavimento, a lâmina principal sofre um recuo de 4,40m em ambas as laterais; desta forma eliminam-se as duas unidades maiores das extremidades, resultando num pavimento tipo com 10 unidades do tipo kitchenette, com 30m² cada, idênticas às dos pavimentos inferiores. Esta situação se repete até o 18º andar. O que difere o 8º pavimento dos demais superiores até o 18º, é o fato dele possuir terraços nas extremidades da planta, onde localizavam-se, nos pavimentos inferiores, as unidades maiores. O 19º pavimento é o primeiro a sofrer o recuo de 1,00m em relação aos andares inferiores, no sentido longitudinal, devido ao escalonamento obrigatório. O arranjo das unidades não muda, em relação aos pavimentos inferiores; a única variação é a diminuição dos comprimentos das salas das unidades, para o ganho de terraços. 52m² 52m² 52m² 52m² 52m² Esquema de distribuição do 20º pavimento No 20º pavimento, o recuo de mais 1,20m no sentido longitudinal, em relação ao andar inferior, trouxe a necessidade de uma mudança nas unidades; agora, ao invés de dez kitchenettes, o pavimento conta com cinco unidades de 52m² e um dormitório; são as únicas unidades não-kitchenettes em todo o edifício. Os apartamentos contam com um corredor de acesso que separa a cozinha do banheiro, chegando ao dormitório e à sala de estar; uma área de serviço de 2,00m² ladeia a cozinha, de 5,20m². O banheiro é um espaço de geometria quadrada com 4,90m² que permite uma boa distribuição das peças sanitárias e do box. A sala de estar também é um espaço de geometria praticamente quadrada, contando com 13m² de área, abrindo-se para um terraço, cujo comprimento de 6,65m coincide com a largura do apartamento. O dormitório, também quadrado, com 11,00m², ladeia a sala de estar e também se abre para o terraço. Este arranjo espacial descrito tornou-se corrente na obra de Heep para os apartamentos de andares escalonados de edifícios com características semelhantes às do Normandie, como por exemplo, o Araraúnas (1955) e o Guaporé (1956). Planta da unidade de 52m² do 20º pavimento

10 59 No 21º pavimento, mais uma vez reduzido no sentido longitudinal em relação ao 20º devido ao escalonamento, o arranjo espacial é semelhante ao deste pavimento. Porém, unidades passam a ter 46m² e voltam a ser kitchenettes, com a sala de estar e o dormitório dividindo o mesmo espaço. As áreas molhadas deste apartamento, não sofrem alterações em relação às unidades do 20º andar. Estrutura 46m² 46m² 46m² 46m² 46m² Esquema de distribuição do 21º pavimento circulação horizontal circulação vertical unidades A estrutura do Normandie possui, no sentido longitudinal, um vão de 3,25m, que corresponte exatamente à largura das kitchenettes. Do 1º ao 7º andar, a presença dos apartamentos das extremidades que faceiam as divisas laterais representa a única variação no vão, que é de 4,25m, devido à necessidade de uma largura maior para estes apartamentos. No sentido transversal há três linhas de pilares, separadas por um vão de 5,00m. A fachada do Normandie é livre, já que a primeira linha de pilares encontra-se recuada 2,00m dela provocando um balanço do bloco principal em sua porção frontal. Não há transições estruturais, de modo que no térreo e no subsolo, o módulo estrutural permanece o mesmo dos andares superiores. Isto acarretou em lojas com muitos pilares em seus interiores, prejudicando seus espaços; é possível que a decisão da não utilização de transições possa ter ocorrido por razões econômicas. Planta da unidade de 46m² do 21º pavimento

11 60 Perspectiva do Normandie, visto da av. 9 de Julho

12 61

13 62 Fachadas O Normandie possui sua principal face voltada para a av. 9 de Julho; esta, por ser a mais importante na interface com a cidade, recebeu um tratamento arquitetônico diferenciado. A fachada dos fundos, mesmo com o fato de, hierarquicamente, ser menos importante que a primeira, também é notada por quem trafega em ruas do entorno, e por isso, também foi concebida de modo a contribuir positivamente com a paisagem urbana. No térreo e subsolo, predominam na fachada principal as portas de acesso ao hall que conduz às moradias, na porção central, e as portas das lojas, no restante da face frontal. Separando o subsolo do térreo e este do primeiro pavimento, há faixas de 1,00m de altura, compostas por elementos vazados em concreto, que correm por todo o comprimento da fachada. Lojas do térreo e rampa de acesso. Foto:

14 63 Do 1º ao 18º pavimento, a fachada do Normandie segue a mesma tipologia, porém, os primeiros sete andares possuem os terraços trapezoidais já mencionados anteriormente, localizados nas extremidades do bloco principal, que estabelecem uma relação do edifício com o entorno, além de atribuírem ao edifício uma sensação convidativa, no sentido de abraçar a cidade. Fachada do Ed. Normandie atualmente Foto: Destacam-se na fachada, ao longo do desenvolvimento vertical do edifício, dois itens marcantes: as floreiras e os elementos de concreto que separam as janelas. As floreiras, além de exercerem o seu papel funcional, também são elementos importantes na atribuição de horizontalidade à fachada, com a intenção de reduzir a sensação vertical que o edifício, com seus vinte e um andares, fatalmente transmite. Ao se observar a fachada do Normandie, num primeiro momento, crêse que as floreiras são vigas salientes que marcam as transições entre os pavimentos, mas na verdade, elas estão 60cm acima das lajes. A fachada do edifício é livre, ou seja, a estrutura encontra-se recuada dela cerca de 2,00m, possibilitando liberdade quanto aos tamanhos e quantidades de aberturas. Quanto aos elementos de concreto, além de individualizarem as unidades, impedindo a comunicação visual entre as kitchenettes tão próximas

15 64 bandeira ar quente floreira peitoril ar frio Sistema de ventilação natural. Elementos de fachada. Fonte: Revista Acrópole 219, 1957, p.112. entre si, eles também servem como uma espécie de brise; a orientação sudeste do edifício promove uma incidência de luz solar na fachada principal de modo diagonal, desta forma, as lâminas de concreto, impedem que os raios do forte sol da tarde incidam diretamente nas unidades residenciais. Além das questões funcionais, as lâminas de concreto atribuem uma forte identidade à fachada do Normandie, estabelecendo um interessante ritmo visual, para quem vê o edifício de baixo para cima. As aberturas das unidades, voltadas para a fachada principal, são compostas por caixilhos de duas folhas de correr, em vidro e aço, cujo comprimento corresponde à largura do apartamento. Sob a floreira há um peitoril basculante em vidro. A bandeira, sobre o caixilho principal, também bascula; este sistema de peitoris e bandeiras basculantes tem a função de promover a troca de ar no apartamento, de modo que o ar frio entra pela parte inferior (peitoril) e o ar quente sai pela parte superior (bandeira). Esta tipologia de fachada descrita será retomada por Heep, com pequenas variações, no edifício Arapuã (1953) e no Japurá (1954).

16 65 O coroamento do Normandie se dá nos três últimos pavimentos, que são os escalonados. Há uma ruptura com a tipologia predominante; os elementos que separam os apartamentos não são mais as lâminas de curvas de concreto, e sim, muros com ângulos retos. Além disso, os caixilhos são agora portas de correr e não ocupam mais toda a largura do vão estrutural, resultando em uma maior área de fachada preenchida por alvenaria. Nos andares escalonados, os apartamentos possuem terraços cobertos. Na fachada posterior predominam os panos de cobogós 32 de concreto, presentes nos corredores. Esta grande face permeável de cobogós é rompida pelo corpo opaco de circulação vertical, que é deslocado do eixo do edifício conferindo à fachada dos fundos uma conformação assimétrica, ao contrário da fachada principal. Nota-se a preocupação de Heep com a fachada dos fundos do Normandie, já que ela é facilmente notada por quem trafega na rua Avanhandava, situada atrás do edifício. Situação Atual Fachada dos fundos, vista da rua Avanhandava Fonte: Revista Acrópole 219, 1957, p.97. Hoje, o Normandie se encontra muito degradado; além da falta de manutenção, nota-se que os caixillhos originais vêm sendo trocados por novos muito diferentes entre si, comprometendo a unidade da fachada. Além disso, o fechamento dos terraços trapezoidais trouxe um empobrecimento considerável da volumetria. (32) - Cobogó é um sinônimo de elemento vazado

17 66 planta do pav. térreo esc. 1: rampa de acesso 2 - hall social - portaria 3 - hall de elevadores sociais 4 - zelador 5 - lojas 6 - estoques 7 - banheiros

18 67 planta do pav. térreo esc. 1: lojas 2 - estoques 3 - banheiros 4 - medidores 5 - molas dos elevadores

19 planta do 1º ao 7º pav. esc. 1:250 1 kitchenette - 52 m² 1 - cozinha 2 - banheiro 3 - ambiente de dormir 4 - ambiente de estar 5 - terraço 2 kitchenette - 30 m² 1 - banheiro 2 - cozinha 3 - closet 4 - sala-living

20 69 1 planta do 8º pav. esc. 1:250 1 kitchenette - 30 m² 1 - banheiro 2 - cozinha 3 - closet 4 - sala-living

21 70 1 planta do 9º ao 18º pav. esc. 1:250 1 kitchenette - 30 m² 1 - banheiro 2 - cozinha 3 - closet 4 - sala-living

22 71 1 planta do 19º pav. esc. 1:250 1 kitchenette - 30 m² 1 - banheiro 2 - cozinha 3 - closet 4 - sala-living

23 72 1 planta do 20º pav. esc. 1:250 1 apto. 1 dorm m² 1 - cozinha 2 - área de serviço 3 - banheiro 4 - sala de estar 5 - dormitório 6 - terraço

24 planta do 21º pav. planta esc. 1:250 do 21º pav. esc. 1:250 1 kitchenette - 46 m² 1 - cozinha 2 - área de serviço 3 - banheiro 4 - sala-living 5 - terraço

25 74 corte AA

26 75 fachada av. 9 de julho

27 76 fachada posterior

28 77 detalhe de fachada - térreo Rampas de acesso ao térreo, meio nível acima da 9 de Julho; imponência à fachada, mesmo sendo um edifício destinado às classes menos abastadas. detalhe de fachada Floreiras que conferem horizontalidade. Lâminas de concreto que individualizam as unidades trazendo privacidade, além de proteção solar e um interessante ritmo na fachada, para quem vê o edifício de baixo e lateralmente. detalhe de fachada - coroamento. Os três últimos pavimentos são escalonados rompendo com a tipologia predominante; presença dos terraços descobertos.