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1 Fundação Oswaldo Cruz Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães Departamento de Saúde Coletiva Ministério da Saúde Residência Multiprofissional em Saúde Coletiva Fundação Oswaldo Cruz FIOCRUZ Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães - CPqAM Mirella Muzzi de Lima PROJETO DE PESQUISA Relacionamento dos dados de mortalidade (SIM) e AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DO ATENDIMENTO NAS nascimento (Sinasc) identificando o grau de UNIDADES DE PRONTO ATENDIMENTO E REDE DE completitude das informações em Pernambuco. ATENÇÃO BÁSICA DO MUNICIPIO DE RECIFE Antonio da Cruz Gouveia Mendes COORDENADOR Betise Mery Alencar Sousa Macau Furtado Petra Oliveira Duarte Renata Florêncio Santiago Recife, 2 RECIFE 2009

2 Mirella Muzzi de Lima Relacionamento dos dados de mortalidade (SIM) e nascimento (Sinasc) identificando o grau de completitude das informações em Pernambuco. Monografia apresentada ao Programa de Residência Multiprofissional em Saúde Coletiva do Departamento de Saúde Coletiva, Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães, Fundação Oswaldo Cruz para a obtenção do título de especialista em saúde coletiva Orientador: Domício Aurélio de Sá RECIFE 2009

3 Catalogação na fonte: Biblioteca do Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães L732r Lima, Mirella Muzzi de. Relacionamento dos dados de mortalidade (SIM) e nascimento (Sinasc) identificando o grau de completitude das informações em Pernambuco/Mirella Muzzi de Lima. Recife: M. M. de Lima, f.: il. Trabalho de conclusão de curso (Programa de Residência Multiprofissional em Saúde Coletiva) Departamento de Saúde Coletiva, Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães, Fundação Oswaldo Cruz. Orientador: Domício Aurélio de Sá. 1. Mortalidade Infantil. 2. Sistemas de Informação. I. Sá, Domício Aurélio de. II. Título CDU 314.4

4 Mirella Muzzi de Lima Relacionamento dos dados de mortalidade (SIM) e nascimento (Sinasc) identificando o grau de completitude das informações em Pernambuco Artigo apresentado ao Programa de Residência Multiprofissional em Saúde Coletiva do Departamento de Saúde Coletiva, Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães, Fundação Oswaldo Cruz para o obtenção do título de especialista em saúde coletiva Aprovado em: / / BANCA EXAMINADORA Domício Aurélio de Sá Mestre em Saúde Pública Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães - CPqAM Luiz Cláudio Oliveira Mestre em Saúde Pública Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães - CPqAM

5 Relacionamento dos dados de mortalidade (SIM) e nascimento (Sinasc) identificando o grau de completitude das informações em Pernambuco. The mortality data relationship (SIM) and birth (Sinasc) identifying the fulfilling of the information of Pernambuco Antônio da Cruz Gouveia Mendes 1 ; Mirella Muzzi de Lima 2 ; Domício Aurélio de Sá 3 ; Luiz Cláudio de Souza Oliveira 4 ; Lívia Teixeira de Souza Maia 5 1: Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães Fiocruz-PE Endereço: Av. Moraes Rego, s/n - Cx. Postal Campus da UFPE - CEP: Telefone: amendes@cpqam.fiocruz.br Endereço residencial: Rua Dom Sebastião Leme nº57 apt. 301 Graças Recife Pernambuco CEP: , 3, 4, 5: Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães Fiocruz-PE Fonte de Financiamento: Convênio com a Secretaria de Vigilância à Saúde Ministério da Saúde Considerações Éticas: Este estudo é parte integrante da pesquisa intitulada Integração de Banco de Dados como Metodologia para Melhoria do Acesso e Qualidade da Informação da Gestão em Epidemiologia financiada pelo Ministério da Saúde mediante convenio com a Secretaria de Vigilância à Saúde e aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da FIOCRUZ /PE sob o registro CEP/CPqAM/Fiocruz: 67/07, CAAE: Este artigo foi encaminhado para a revista Ciência e Saúde coletiva

6 RESUMO O objetivo do trabalho foi relacionar os óbitos de menores de 1 ano contidos no Sistema de Informação sobre Mortalidade de 2005 com os nascimentos captados pelo Sistema de Informação sobre Nascidos Vivos, referentes ao estado de Pernambuco, analisando a distribuição desses registros segundo porte municipal e a completitude de variáveis comuns aos dois sistemas. O relacionamento dos dois sistemas foi realizado através da técnica de Linkage. O banco de dados relacionado foi analisado segundo o tipo de relacionamento, componente neonatal e pós-neonatal e porte populacional dos municípios de residência. Para a análise do preenchimento foram consideradas as variáveis sexo, peso ao nascer, raça/cor, idade da mãe, instrução da mãe, tipo de parto, tipo de gravidez e duração da gestação. Após o cruzamento dos bancos verificou-se que mais de 80% dos óbitos infantis do Estado concentram-se em municípios de pequeno e médio porte. Além disso, foi observado um aumento significativo na completitude das informações analisadas, com uma maior contribuição do Sinasc para o incremento de informações no SIM. O linkage possibilitou uma redução no percentual de campos ignorados de todas as variáveis analisadas para menos de 1%, em ambos os sistemas, mostrando-se uma importante ferramenta para o conhecimento e aprimoramento da qualidade das informações sobre mortalidade infantil. Palavras-Chave: Mortalidade Infantil; Sistemas de Informação

7 ABSTRACT The study objective was to relate the death of 1 year minors in the System of Information on Mortality of 2005 with the births caught by the System of information on been born livings creature, referring to the state of Pernambuco, analyzing the distribution of these registers according to the city population and the fulfilling of common variables to the two systems. The relationship of the two systems was carried through the technique of Linkage. The data base related was analyzed according to relationship type, neonatal component and after-neonatal and number of inhabitants of the residence cities. For the analysis of the fulfilling were considered the following variables: sex, birth weight, race/color, mother age, mother instruction, childbirth type, pregnancy type and duration. After the data bases crossing was observed that more than 80% of the infant deaths of the State were concentrated in small and medium cities. Moreover, a significant increase in the fulfilling of the analyzed information was observed, with a bigger contribution of the Sinasc for the increment of information in SIM. The use of linkage made possible a reduction in the percentage of ignored fields of all the variables analyzed for less than 1%, in both systems, revealing to an important tool for the knowledge and improvement of information quality on infant mortality. Key words: Infant Mortality; Information System

8 7 INTRODUÇÃO Embora alguns avanços tenham ocorrido, em grande parte do Brasil, a mortalidade infantil ainda apresenta número bastante acima dos observados em países desenvolvidos 1, 2. Nessas localidades onde o risco de morrer durante o primeiro ano de vida é elevado torna-se condição essencial a busca por indicadores de qualidade que evidenciem esta situação 3. O coeficiente de mortalidade infantil, há muito, vem sendo considerado um indicador clássico das condições de vida, em virtude da sua estreita relação com o nível de desenvolvimento sócio-econômico e de saúde de uma população 4, 5, 6, 2, 7 ; sua interpretação permite analisar o risco que tem um nascido vivo de ir a óbito antes de completar seu primeiro ano de vida 8, 6. Porém, apesar do consagrado uso do coeficiente de mortalidade infantil como um excelente indicador da saúde pública, a maioria dos países em desenvolvimento não dispõe de informações com qualidade satisfatória para calcular este evento, tornando-se difícil a obtenção de dados reais em virtude das limitações presentes nas fontes de informações 5, o que compromete a análise dos fatores que influenciam a mortalidade e, conseqüentemente, dificulta as ações de intervenção 9. Devido à importância que os registros dos eventos vitais representam para a formulação de indicadores de saúde, a qualidade desses dados (tanto do ponto de vista qualitativo como quantitativo) passou a ser objeto de preocupação por parte dos estudiosos, principalmente de demógrafos e epidemiologistas 9. Com isso, muitos estudos foram e ainda são realizados com o intuito de avaliar não apenas as fontes primárias de informação como também os próprios sistemas informatizados em diversas localidades, utilizando diferentes metodologias e propondo possíveis soluções aos obstáculos encontrados 10, 11, 12, 13, 14, 15. Os resultados dos diversos estudos realizados sobre a qualidade da informação em saúde em diferentes regiões do país mostram que mesmo com o progressivo aperfeiçoamento

9 8 do Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM) e do Sistema de Informação sobre Nascidos Vivos (Sinasc), com crescente nível de cobertura e melhoria da qualidade dos dados 11, 16, 5, ainda são notórias diversas limitações para a obtenção do coeficiente de mortalidade infantil em vários municípios brasileiros, principalmente nas regiões Norte e Nordeste 16. Alguns dos fatores que comprometem a qualidade da informação disponibilizada pelos sistemas são a falha no preenchimento da Declaração de Óbito (DO) 14, 15, 17, incluindo o erro na classificação da causa básica da morte, a subnotificação 4, 17, o sub-registro 4, 18 e presença de variáveis ignoradas ou não preenchidas 16, 19. Além disso, ambos os sistemas têm apresentado a subinformação e a baixa confiabilidade dos dados 12, 20, 21. O preenchimento dos campos das declarações de nascimentos (DN) e óbitos (DO) representa a completitude dos registros, um dos vários atributos de qualidade dos sistemas de informações. Alguns autores 19 utilizam o termo incompletitude em referência à falta de informação de determinadas variáveis, expressa pelos campos em branco ou preenchidos com o código de informação ignorada. Este aspecto da qualidade dos sistemas de informação é bastante estudado tanto para o SIM como para o Sinasc, revelando uma diversidade de resultados não apenas entre os sistemas analisados, como também entre as variáveis dentro de um mesmo sistema e entre diferentes localidades 1, 5, 19, 21, 22. Um dos métodos utilizados para analisar os atributos que conferem qualidade aos sistemas de informação é o relacionamento de banco de dados ou linkage. O interesse em relacionar registros em diferentes bases de dados tem aumentado gradativamente em função do avanço tecnológico na área da informática, ao tornar disponíveis aplicativos e máquinas cada vez mais eficazes e disponibilizar grandes bancos de dados informatizados 23. O uso da técnica de linkage consiste na ligação ou unificação de dois ou mais banco de dados e vem sendo bastante utilizado em pesquisas com diversificados propósitos, permitindo

10 9 uma maior utilização dos dados existentes nos diferentes sistemas de informação, com estudos de relativo baixo custo operacional 24. No estudo da mortalidade infantil esta metodologia tem sido bastante empregada e tem se mostrado uma ótima ferramenta. Nestes casos é comum o compartilhamento das informações dos dois principais sistemas que contêm registros de nascimentos e óbitos em menores de um ano, isto é, SINASC e SIM, respectivamente 25. Dentre os diversos estudos que empregaram esta metodologia de análise de dados, os autores concluem que o linkage representa uma técnica de excelente viabilidade 24, 26, 27, trazendo como vantagens a possibilidade de análises mais detalhadas da qualidade de dados oficiais 16, custo relativo baixo 21, 24 e o ganho de informações comuns aos sistemas relacionados 11, 28, 29. Além disso, permite a formulação de críticas à qualidade dos sistemas, servindo como estímulo para o aperfeiçoamento dos mesmos 29. Diante da complexidade e o dinamismo dos processos que envolvem a mortalidade infantil, e considerando que o uso da informação no planejamento, monitoramento, avaliação e gestão das ações e serviços de saúde é o diferencial de qualidade do processo decisório, devem ser adotadas estratégias que visem melhorar a qualidade da informação disponibilizada de modo que estas possam refletir a situação do evento analisado. Assim, a integração de bases de dados constitui-se em um importante instrumento para análise da confiabilidade e validade dos dados, e, portanto, para melhoria da qualidade da informação. Neste sentido, o objetivo do trabalho foi relacionar os óbitos de menores de 1 ano contidos no SIM de 2005 com os nascimentos captados pelo Sinasc, referentes ao estado de Pernambuco, analisando a distribuição desses registros segundo porte municipal e a completitude de variáveis comuns aos dois sistemas.

11 10 MÉTODO Foi realizado um estudo do tipo descritivo de corte transversal a partir dos registros de óbitos em menores de um ano do Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM) em 2005 e dos registros de nascimentos do Sistema de Informação sobre Nascidos Vivos (Sinasc) em 2004 e 2005 no estado de Pernambuco. O relacionamento das bases de dados dos sistemas foi realizado através da técnica de linkage, sendo utilizado o pareamento determinístico e o probabilístico. O determinístico foi realizado por meio da junção das variáveis presentes em ambos os sistemas por meio da variável-chave número da declaração de nascido vivo. Já o probabilístico foi executado pelo programa RecLinkIII. 30 Esse programa possibilita o relacionamento automático de registro utilizando parâmetros estimados probabilisticamente. Nesse trabalho o pareamento foi obtido por meio dos códigos fonéticos (suondex) do primeiro e do último nome da mãe combinados com o município de residência, a data de nascimento o sexo da criança. Foram considerados pares apenas os registros que apresentaram todas as variáveis coincidentes, sendo ainda realizada uma revisão de todos os pares identificados. Após o pareamento dos óbitos não fetais com o Sinasc, foram relacionados os registros de óbitos fetais com o banco de nascidos vivos a fim de identificar um possível erro de classificação. O banco de dados pareado foi analisado segundo o tipo de relacionamento, componente neonatal e pós-neonatal e porte populacional dos municípios de residência. Para a construção do porte populacional os municípios foram agregados em estratos de acordo com o número de residentes: porte 1 (municípios com menos de habitantes; porte 2 ( a ); porte 3 ( a ); porte 4 ( a ); porte 5 ( a 1 milhão); e o porte 6, com mais de 1 milhão de habitantes, no qual encontra-se a

12 11 capital pernambucana. Essa categorização foi realizada em função das diferenças existentes na qualidade da informação em localidades com menor e maior grau de desenvolvimento. Na análise da completitude foram considerados apenas os campos dos registros pareados, que apresentaram elevada taxa de concordância, variando de 71% (raça/cor) a 98% (tipo de gravidez). Nesse trabalho foram consideradas as seguintes variáveis comuns aos dois sistemas: sexo, peso ao nascer, raça/cor, idade da mãe, instrução da mãe, tipo de gravidez, tipo de parto e duração da gestação. Para esta avaliação foram consideradas informações incompletas aquelas cujos campos não estavam preenchidos e aquelas preenchidas com o código de ignorado.

13 12 RESULTADOS Análise do relacionamento entre SIM e Sinasc O linkage realizado entre o banco de dados de óbitos fetais e o de nascidos vivos identificou 31 erros de classificação, pareando tais registros probabilisticamente. Estes óbitos mal classificados foram acrescentados ao total de óbitos não fetais (3.267) registrados no SIM em Dos óbitos, (59%) foram pareados com os registros de nascidos vivos do Sinasc de 2004 e 2005 através do linkage determinístico, 949 (29%) através do pareamento probabilístico e 415 (13%) óbitos não foram pareados. O gráfico 1 apresenta a distribuição percentual dos registros do SIM e do Sinasc pareados e não pareados segundo porte municipal e tipo de linkage, sendo possível observar três padrões de distribuição distintos. Percebe-se o mesmo padrão nos portes 1 a 4, que representam municípios de pequeno e médio porte. Neste grupo o linkage probabilístico foi responsável por um importante incremento de pares, superior a 30%, enquanto o método determinístico atinge pouco mais que 50%, sendo observado ainda as maiores concentrações de registros não pareados, acima de 14%. Outro padrão pode ser observado no porte 5, com 70,5% dos registros pareados pelo método determinístico, 19,3% pareados probabilisticamente e 10,2% dos registros não pareados. E, por fim, um terceiro padrão é notado no porte 6, onde 90% dos óbitos foram pareados deterministicamente, 3,6% foram pareados através do linkage probabilístico e apenas 2,6% dos registros não obtiveram pares. (gráfico 1)

14 13 Gráfico 1: Distribuição do percentual de pares e não pares do SIM e Sinasc, segundo porte municipal e tipo de Linkage, Pernambuco 2004/ ,0 90,0 80,0 70,0 60,0 50,0 40,0 30,0 20,0 10,0 0,0 Porte 1 Porte 2 Porte 3 Porte 4 Porte 5 Porte 6 Determinístico Probabilístico Não pareado Na análise dos óbitos em menores de 1 ano segundo os componentes da mortalidade infantil (neonatal e pós-neonatal) e o método utilizado para relacionar os bancos observa-se o mesmo padrão de distribuição da análise anterior. Ou seja, os municípios dos portes 1 a 4, com população inferior a 500 mil habitantes, apresentam os menores valores de pareamento determinístico e os maiores de probabilístico, tanto para os óbitos neonatais (0 a 27 dias) como para os pós-neonatais (28 a 364 dias). No porte 4, por exemplo, 62% dos óbitos neonatais foram pareados através do linkage determinístico, enquanto que os pós neonatais foram 28,3%. Quanto ao método probabilístico, a contribuição passou de 25% nos óbitos ocorridos até o 27º dia para 52,9% nos óbitos entre 28 e 364 dias. Com relação aos registros não pareados o porte 4 apresenta o maior valor (18,7%) dentre os óbitos pós-neonatais. Para os registros neonatais, municípios de pequeno e médio porte apresentam valores relativos acima de 10%, diferenciando-se dos municípios com mais de 500 mil habitantes que apresentaram 5,8% (porte 5) e 1,5% (porte 6) (tabela 1).

15 14 O porte 5 apresenta um padrão mais característico de município desenvolvido apenas no componente neonatal, com mais de 80% dos óbitos pareados através do linkage determinístico, se aproximando do porte 6 (95,6%). Entretanto, no pós-neonatal apenas 50% foram pareados deterministicamente, contra 89,5% no município com mais de 1 milhão de habitantes. Quanto aos registros que não obtiveram pares, este apresentou valor relativo muito semelhante aos municípios pequeno porte. Ou seja, este porte se caracteriza como um padrão intermediário (tabela 1). No geral, percebeu-se que 83,2% dos óbitos de menores de um ano concentraram-se nos municípios com população inferior a 500 mil habitantes (portes 1 a 4) o que reforça a importância do método de linkage na rotina dos serviços municipais de saúde para a melhoria da qualidade das informações (tabela 1). Tabela 1: Distribuição dos números absolutos de óbitos em menores de 1 ano, segundo porte municipal, tipo de Linkage e componente da mortalidade infantil, Pernambuco, 2005 Componente / tipo de linkage Porte Populacional Porte 1 Porte 2 Porte 3 Porte 4 Porte 5 Porte 6 n % n % n % n % n % n % Neonatal , , , , , , Determinístico 242 [63,9] 365 [65,0] 261 [66,8] 248 [62,0] 86 [82,7] 262 [95,6] 1455 Probabilístico 86 [22,7 121 [22,1] 87 [22,3] 100 [25,0] 12 [11,5] 8 [2,9] 414 Não Pareado 51 [13,5] 71 [13,0] 43 [11,0] 52 [13,0] 6 [5,8] 4 [1,5] 227 Pós Neonatal , , , , , , Determinístico 90 [37,0] 129 [33,4] 74 [35,4] 53 [28,3] 31 [50,0] 102 [89,5] 479 Probabilístico 116 [47,7] 192 [49,7] 102 [48,8] 99 [52,9] 20 [32,3] 6 [5,3] 535 Não Pareado 37 [15,2] 65 [16,8] 33 [15,8] 35 [18,7] 11 [17,7] 6 [5,3] 188 Total , , , , , , Total % 18,9 28,3 18,2 17,8 5,0 11,8 100 Nota: Foi excluído da análise 1 óbito pós-neonatal que apresentou município ignorado; Os 31 óbitos fetais pareados com o Sinasc (erros de classificação) foram agrupados aos registros neonatais Total

16 15 Análise da (in) completitude das variáveis comuns ao SIM e Sinasc Para a análise da completitude foram avaliadas 8 variáveis comuns ao SIM e ao Sinasc, considerando apenas os registros pareados. Na análise dos sistemas, além do cálculo de completitude, foram apresentadas as proporções de campos com informação ausente em relação ao total de campos existentes, que corresponde ao total de registros pareados multiplicados pela quantidade de variáveis estudadas. De acordo com a tabela 2, antes do relacionamento dos bancos o SIM apresentava, do total de campos, (11,1%) com falta de informação, ou seja, um grau de completitude geral de 89,9%. Com exceção da variável sexo, todas as demais apresentaram mais de 10% de incompletitude, sendo a instrução da mãe a variável com pior nível de preenchimento, apresentando 476 registros (16,5%). Já o Sinasc apresentou valores absolutos e relativos bem inferiores em relação à ausência do preenchimento das variáveis, apresentando um total de 0,8% de campos incompletos. Com exceção das variáveis instrução da mãe (1,6%) e raça/cor (2,9%), o restante possuía menos de 1% de ausência de informação. Com o método de relacionamento dos bancos dos dois sistemas foi possível resgatar um considerável número de campos não preenchidos. Esta contribuição ocorreu de maneira mais significativa do Sinasc para o SIM, embora este último tenha incrementado ao Sinasc 64 campos preenchidos referentes à variável raça/cor e 29 campos da variável instrução da mãe. Após o linkage foi possível reduzir para apenas 0,3% (73 campos) de registros com informação ignorada ou ausente, em ambos os sistemas. Ou seja, o grau de completitude do preenchimento das variáveis passou para 99,7%, com variações entre 0 (idade da mãe, tipo de gravidez e tipo de parto) e 0,7% para a variável raça/cor (tabela 2).

17 16 Tabela 2: Distribuição das freqüências ignoradas das variáveis comuns ao SIM e ao Sinasc, antes e após o Linkage dos bancos de dados, Pernambuco, 2004/2005. Variáveis Pré-linkage Pós-linkage SIM Sinasc SIM / Sinasc n % n % n % Sexo 15 0,5 13 0,5 10 0,3 Peso ao nascer ,6 20 0,7 14 0,5 Raça/Cor ,1 85 2,9 21 0,7 Idade da mãe ,7 2 0,1 1 0,0 Instrução da mãe ,5 47 1,6 18 0,6 Tipo de gravidez ,6 0 0,0 0 0,0 Tipo de parto ,7 2 0,1 1 0,0 Duração da gestação ,0 18 0,6 8 0,3 Total de registros pareados , , ,0 Total de registros incompletos , ,8 73 0,3 Total de campos , , ,0

18 17 DISCUSSÃO O método de linkage dos bancos do SIM e do Sinasc visa identificar informações que estão presentes em um sistema e ausentes ou incompletas no outro, contribuindo para a melhoria da qualidade das informações referentes aos nascimentos e óbitos infantis. A distribuição dos óbitos segundo componente neonatal e pós-neonatal e porte municipal possibilitou o conhecimento das desigualdades existentes entres os municípios de Pernambuco, em relação à qualidade da informação produzida. Estudos 10, 26 sobre as estatísticas vitais brasileiras apontam para o maior número de óbitos ocorridos no período neonatal, especialmente no precoce, evidenciando a necessidade de melhoria na assistência prestada na gestação e no parto. E, com relação à qualidade da informação, espera-se uma melhor qualidade dos registros vitais de nascimentos e óbitos neonatais, considerando que a maioria desses eventos acontece em hospitais. Na estratificação do Estado por porte municipal, buscou-se classificar os municípios nas categorias pequeno, médio e grande porte, partindo do pressuposto da existência de diferentes níveis de qualidade dos sistemas de informação. Os municípios considerados de pequeno porte, com menos de habitantes (portes 1 e 2) concentram 82,7% dos municípios do Estado; já os de médio porte (portes 3 e 4) representam 16,2% dos municípios; e os municípios de grande porte populacional (> 500 mil habitantes), sendo representados por apenas dois municípios (portes 5 e 6). A hipótese é que, no geral, os municípios menores apresentam as piores condições estruturais para o gerenciamento das informações prejudicando a qualidade e agilidade dos sistemas. Neste estudo, embora os óbitos neonatais, quando comparados aos pós-neonatais, tenham apresentado um maior número de registros pareados deterministicamente, indicando uma melhor qualidade das informações, os valores encontram-se ainda aquém do esperado. Apenas os municípios com população acima de 500 mil habitantes obtiveram mais de 80%

19 18 dos óbitos neonatais pareados através do linkage determinístico, o que corrobora com a hipótese de que municípios menores, no geral, apresentam maiores problemas na qualidade das informações. A distribuição dos óbitos infantis por tipo de linkage realizado, porte municipal e, posteriormente, componentes da mortalidade infantil revela um deslocamento dos padrões dos portes. Os resultados apresentados nos municípios de pequeno e médio portes se comportaram de maneira muito semelhante, enquanto que o porte 5 assumiu uma posição intermediária entre o pequeno e o grande porte. Ou seja, municípios com população entre 50 e 500 mil habitantes apresentaram valores semelhantes aos de população abaixo de 50 mil (portes 1 a 2), tanto para os óbitos neonatais como para os pós-neonatais. Apesar da distorção nos padrões esperados dos portes municipais, os resultados mostram que à medida que aumenta o número de habitantes, melhores são as informações produzidas. Logo, quanto maior o município, maiores são os registros pareados deterministicamente e menor a ocorrência de não pares. Consequentemente, quanto menor o município, maior é a contribuição do linkage probabilístico e um número maior de registros não são pareados. Os resultados evidenciam a necessidade da adoção de estratégias prioritárias principalmente para os municípios de pequeno e médio portes, com população inferior a 500 mil habitantes. Em Pernambuco, estes municípios concentraram 83,2% dos óbitos de menores de 1 ano, refletindo diretamente no coeficiente de mortalidade infantil do Estado. A técnica de linkage deve ser uma das medidas implementadas na rotina dos serviços municipais de saúde, devendo a gestão estadual incentivar essa adoção e utilizá-la para o relacionamento dos seus bancos de dados consolidados. Outra estratégia importante para o aprimoramento da qualidade dos sistemas de informação é o maior investimento na área de vigilância à saúde,

20 19 garantindo infra-estrutura adequada e condições de trabalho para as equipes envolvidas nas atividades de coleta dos dados, processamento, análises e retro-alimentação das informações. Quanto à completitude, a contribuição, como era esperada, ocorreu de modo mais expressivo do Sinasc para o SIM, em virtude dos próprios objetivos dos sistemas. A concepção principal do Sinasc é o monitoramento de fatores de riscos, visando evitar os óbitos infantis e maternos. Em Pernambuco o percentual médio do conjunto de variáveis analisadas que estavam sem preenchimento foi de 11,1% para o SIM e 0,8% para o Sinasc, além de elevadas taxas de concordância, caracterizando bons sistemas de informação, como já apontado por outros autores 19. Mesmo assim, o linkage permitiu um incremento de 9,8% na completitude das variáveis comuns aos dois sistemas, passando para 99,7%. Outros estudos 1, 31 em localidades distintas revelaram percentuais de campos incompletos nas declarações de óbitos de menores de 1 ano bastante superiores aos encontrados em Pernambuco. Tal fato reforça a potencialidade da utilização do relacionamento dos bancos de dados como uma importante estratégia para o aprimoramento da qualidade dos sistemas nacionais de informação em saúde. Como os resultados apontaram, o linkage possibilitou o resgate de um grande número de informações que estavam incompletas em ambos os sistemas, além de identificar erros de classificação dos óbitos que modificam os indicadores de mortalidade infantil do Estado. Neste sentido, esta técnica se configura como excelente ferramenta para melhoria da qualidade das informações produzidas, além de favorecer a dinâmica dos serviços de vigilância, sobretudo referentes às estatísticas vitais.

21 20 REFERÊNCIAS 1. Soares JAS, Horta FMB, Caldeira AP. Avaliação da qualidade das informações em declarações de óbitos infantis. Rev Bras Saúde Mater Infant 2007; 7(3): Caldeira PA, França E, Perpétuo IHO, Goulart EMA. Evolução da mortalidade infantil por causas evitáveis, Belo Horizonte, Rev Saúde Pública 2005; 39(1): Hartz ZMA, Champagne F, Leal MC, Contandriopoulos AP. Mortalidade infantil evitável em duas cidades do Nordeste do Brasil: indicador de qualidade do sistema local de saúde. Rev Saúde Pública 1996; 30(4): BRASIL. Ministério da Saúde. Sistemas de Informações sobre Mortalidade (SIM) e Nascidos Vivos (Sinasc) para os profissionais do Programa Saúde da Família. 2. ed. Brasília: Ministério da Saúde, Andrade CLT, Szwarcwald CL. Desigualdades sócio-espaciais da adequação das informações de nascimentos e óbitos do Ministério da Saúde, Brasil, Cad Saúde Pública 2007; 23(5): Frias PG, Vidal AS, Pereira PMH, Lira PIC, Vanderlei LC. Avaliação da notificação de óbitos infantis ao Sistema de Informações sobre Mortalidade: um estudo de caso. Rev Bras Saúde Mater Infant 2005; 5(Supl 11): Duchiade MP, Carvalho ML, Leal MC. As mortes em domicílio de menores de um ano na região metropolitana do Rio de Janeiro em 1986 um evento-sentinela na avaliação dos serviços de saúde. Cad Saúde Pública 1989; 5(3): Duarte CMR. Reflexos das políticas de saúde sobre as tendências da mortalidade infantil no Brasil: revisão da literatura sobre a última década. Cadernos de Saúde Pública 2007; 33(1): Paes NA, Albuquerque MEE. Avaliação da qualidade dos dados populacionais e cobertura dos registros de óbitos para as regiões brasileiras. RevSaúde Pública 1999; 33(1): Santa Helena ET, Rosa MB. Avaliação da qualidade das informações relativas aos óbitos em menores de um ano em Blumenau, Rev Bras Saúde Mater Infant 2003; 3(1): Mello-Jorge MHP, Laurenti R, Gotlieb SLD. Análise da qualidade das estatísticas vitais brasileiras: a experiência de implantação do SIM e do SINASC. Rev C S Col 2007; 12(3): Mendonça EF, Goulart EMA, Machado JAD. Confiabilidade da declaração de causa básica de mortes infantis em região metropolitana do sudeste do Brasil. Rev Saúde Pública 1994; 28(5):

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