Tecnologias de Gestão e Arranjos Produtivos: estudando o Setor de Vestuário no município de Colatina/ES

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1 Tecnologias de Gestão e Arranjos Produtivos: estudando o Setor de Vestuário no município de Colatina/ES Mônica de Fátima Bianco (UFES) mfbianco@npd.ufes.br Daniel Fragoso Galdino da Silva (UFES) danielfgs@yahoo.com.br Resumo Nas últimas décadas o setor de confecções tem sofrido grandes alterações. Estas alterações foram desde um maior controle da matéria prima, passando pela absorção das novas tecnologias nos processos produtivos, até chegar as diferentes formas de gestão organizacional. No entanto, ainda não se têm estudos atualizados que caracterizem o perfil do setor de confecções do município de Colatina, visando suas particularidades e formas de cooperação. Assim, este artigo visa avaliar a interação das empresas do pólo e as singularidades de gestão existentes no mesmo e tem como objetivo elaborar um diagnóstico das empresas pertencentes ao aglomerado da indústria do vestuário no município e das formas de interação destas, no período atual (2003/2004), por meio da aplicação de um questionário elaborado, para uma abordagem de pesquisa quantitativa. Desse modo,, foi possível fazer um diagnóstico preliminar das formas de interação entre as empresas do pólo de confecções de Colatina e coletar dados interessantes sobre suas estratégias de atuação no mercado. Palavras chave: Aglomerados industriais, Pólo de confecções, Tecnologias de gestão 1. Introdução: justificativa, método e estrutura do trabalho Pode-se dizer que a teoria clássica de gestão foi concebida para um ambiente estável, para gerir a produção em massa. Em sua lógica, a otimização das partes implica na otimização do todo. Neste caso, a lógica da eficiência estava voltada para otimização de todos os recursos. Voltada para dentro da empresa, privilegiando a especialização e a departamentalização na gestão das atividades. Todavia, a intensificação da concorrência internacional (final da década de 80 e década de 90, séc. XX) cria pressão para adotar-se modelos mais eficientes, o que não garante que as empresas tenham sucesso em suas tentativas de retomada. A concorrência já não ocorre somente no aspecto preço, pode-se concorrer pela qualidade, pelo prazo, pela diversidade. O ambiente em transformação, cria a necessidade de adaptação e de uma outra lógica de gestão dos recursos. As decisões a serem tomadas necessitam de respaldo, ou seja, de uma nova racionalidade de eficiência. Neste caso, o ambiente instável provoca reações na organização de forma que há influência de fora para dentro. Uma reação que implica em reestruturar e reorganizar inclusive a área operacional para responder a esse ambiente. Neste contexto econômico transformado, as grandes empresas japonesas, anteciparam-se rapidamente, estabelecendo novos parâmetros de competição, adiantando-se àquelas empresas inseridas no know-how mecanicista. E, consolida-se a idéia de que há um novo modelo, que representa uma forma diferente de organização e de gestão dos recursos. Esse modelo de organização, que atende ao ambiente de competitividade em que as empresas estão inseridas principalmente a partir dos anos 90, foi consagrado por Womack et alii (1990) com o termo lean, isto é, enxuto. Numa empresa enxuta, o erro e o desperdício são sinônimos de problemas graves, pois os prazos também são enxutos. ENEGEP 2004 ABEPRO 3753

2 Neste modelo, está presente um discurso de adequação as exigências do ambiente competitivo, atendendo a um mercado que requer variabilidade de produtos, que por sua vez, requer flexibilidade de recursos e Tecnologias de Gestão que atendam a estas dinâmicas do contexto organizacional. É neste contexto que em fins dos anos 80, o poder público brasileiro promove o incremento de políticas governamentais com vistas a facilitar a entrada de produtos estrangeiros no país (GUIMARÃES, 1996, apud, SIMÕES Jr. 2002). A indústria do vestuário brasileira era mera passageira no vôo nacional rumo à globalização, segundo Simões Jr. (2002), caracterizada a época, exceto raras exceções, pela pouca profissionalização gerencial, equipamentos obsoletos, baixa escolaridade, despreparo técnico dos profissionais administrativos e de produção, pouco controle dos custos reais, inexistência de políticas comerciais e de investimentos de longo prazo, baixo índice de investimento em desenvolvimento e pesquisa de novos produtos, e baixo investimento em melhorias das técnicas de produção. Ainda segundo o autor, tanto o choque de estabilidade, quanto o de competitividade promovidos pelo poder público, lançou de maneira abrupta as empresas nacionais num ambiente até então desconhecido pela maioria das organizações brasileiras, onde a sobrevivência passou a ser prêmio para aqueles que privilegiassem, eficiência produtiva, custos enxutos, e qualidade. É, portanto neste cenário, que se desenrola um processo de mudança na forma produtiva das empresas, e cujos impactos se fazem sentir tanto no ambiente externo, quanto interno das organizações, introduzindo novas dinâmicas aos relacionamentos, comportamentos e práticas de gestão, adicionando novos ingredientes aos aspectos gerenciais/organizacionais (SIMÕES Jr., 2002). Exemplo disso, é o caso das terceirizações, que já no início da década de 90, começavam a despontar como uma das tecnologias mais utilizadas por gestores de companhias nacionais que se viam às voltas com a necessidade de inserir dinâmicas flexibilizantes em suas organizações (BORGES e DRUCK, 2001). Outro, correlacionado de certa forma com este, é o caso das aglomerações industriais que aproximam empresas de um mesmo ramo para atuarem conjuntamente, determinando opções estratégicas que possibilitem maior competitividade para o grupo. Ambos aspectos presentes no ramo do vestuário. É nesta segunda forma de atuação, uma rede de organizações com configuração de aglomerado industrial que se baseia a proposta deste estudo, ou seja, analisar o aglomerado de empresas do setor de vestuário no município de Colatina/ES. O objetivo deste estudo é estabelecer um diagnóstico das principais empresas componentes deste agrupamento, buscando caracterizar o nível de formalidade desse arranjo produtivo e conhecer as empresas participantes; as formas de atuação e interação entre as empresas e delas para com outros organismos; e de certa forma compreender a lógica de estruturação e funcionamento do aglomerado, além de conhecer as variáveis de mercado consideradas importantes para essas empresas. Para realizar tal proposta, a metodologia utilizada foi, primeiro, para um melhor entendimento a respeito da concepção e formação de aglomerados industriais realizado um levantamento bibliográfico com diversos autores da área. Além disso, foi feito um levantamento de dados junto aos organismos competentes (FINDES, BANDES, SEBRAE, entre outros), para caracterização do setor de vestuário no estado do ES e particularmente em Colatina. Segundo, foi formatado um modelo de questionário com 22 questões e enviado para 123 empresas do setor de vestuário de Colatina, todas aquelas que estavam com o CNPJ válido em jan/2004, conforme o banco de dados da FINDES (Federação das Indústrias do Espírito Santo), para coleta dos dados, sendo esse questionário de teor quantitativo. Desse modo, como método de abordagem, delineou-se uma pesquisa quantitativa, com aplicação de questionário enviado ENEGEP 2004 ABEPRO 3754

3 pelo correio, solicitando preenchimento e devolução em envelope selado e anexo ao mesmo. Esse questionário passou por um pré-teste em organizações (quatro) escolhidas ao acaso e que fossem de fácil acesso aos pesquisadores, depois da análise desta etapa, ele passou a ser aplicado no mês de fevereiro de 2004, tendo em vista que se avaliou esse ser o momento propício, dada a sazonalidade da produção no setor. O retorno obtido foi de 24,8%, o que garantiu a validade da amostragem realizada. Para sistematização e análise dos dados, utilizou-se a ferramenta SPSS 12.0 for windows um software estatístico de tabulação e análise de dados, gerando relatórios e gráficos. No entanto, é importante ressaltar que este tipo de método de pesquisa tem suas limitações, dado que a base está somente representada por empresas formalizadas, estando as demais excluídas e que os respondentes tendem a ser aqueles de certa forma mais interessados e integrados, pois o procedimento exige uma certa dose de iniciativa por parte dos gestores das empresas participantes. Com o objetivo de apresentar e discutir os resultados alcançados até o momento, após aproximadamente um ano de estudos, estruturou-se este artigo da seguinte forma, além dessa introdução, um item discutindo a conceituação e análise de aglomerados industriais, outro apresentando dados do setor do vestuário no estado do ES e no município estudado, outro apresentando os resultados da pesquisa e por fim elaborou-se o item considerações finais. 2. Aglomerados industriais em discussão: uma questão não tão simples Primeiramente, é necessário que se conceitue as diversas classificações e definições de aglomerados industriais. Um dos primeiros conceitos sobre o tema encontrado foi o de Filière (fila), cujos estudos desenvolvidos no final dos anos sessenta e meados da década de setenta, têm como maior centro de estudos a Europa, especialmente a França, em que foram estudadas cadeias de transformação de bens e produtos. De acordo com essa abordagem, o estudo das cadeias produtivas permite a identificação de relevantes questões para a melhoria de desempenho e conseqüentemente de competitividade, através da identificação dos chamados nós, que são os principais pontos onde se estabelecem as políticas de toda a cadeia produtiva (Kliemann Neto, 2002). Ao longo da década de 80 surge um outro conceito no cenário industrial, o conceito de cluster. Segundo Porter, 1991 (apud, Ribas Jr 2003, pág 31): Cluster é um agrupamento ou aglomerado de empresas em torno de um negócio. As empresas são diferentes mas o negócio é o mesmo. Cada empresa faz uma parte cada vez menor, mais especializada. Existem diversas empresas confeccionando partes que podem contribuir para um produto final acabado e não impedindo a concorrência entre elas. Para Kliemann Neto (2002), de forma diferenciada da Filière, os clusters são típicos de determinados segmentos e regiões e não genéricos. Vale ressaltar ainda que os fatores que viabilizam o crescimento dos clusters regionais não são, necessariamente, os mesmos que fornecem ao local sua vantagem inicial (AMATO NETO, 2000). Como exemplo temos a criação de conhecimento específico da indústria, o desenvolvimento das redes de compradores e fornecedores e as pressões competitivas locais, que forçam as firmas a inovar e melhorar, que não eram considerados a princípio fatores relevantes para a formação do cluster, mas acabam por se tornar fatores decisivos para o sucesso do mesmo, chegando até mesmo a suplantar quaisquer possíveis vantagens iniciais decorrentes da localização do cluster. Diversas vantagens advêm da criação de um cluster, segundo Kliemann Neto (2002, p.3): Assim, em que pese a globalização comercial dos dias de hoje, os Clusters apresentam algumas características que os estimulam, como sejam o maior ENEGEP 2004 ABEPRO 3755

4 acesso à fornecedores, o acesso a sistemas de informações especializados, o marketing vinculado à fama, o acesso equivalente a instituições e bens públicos, o estímulo à inovação pela competição existente e a melhoria da avaliação de desempenho das empresas participantes. Nesta mesma linha de análise, Cassiolato e Lastres (2003, p.21) apontam três principais motivos para a formação das Redes de Cooperação Produtiva pelas MPEs (micro e pequenas empresas): Em primeiro lugar, o reconhecimento de que o aproveitamento das sinergias coletivas geradas pela participação em aglomerações produtivas locais efetivamente fortalece as chances de sobrevivência e crescimento, particularmente das MPEs, constituindo-se em importante fonte geradora de vantagens competitivas duradouras. Em segundo lugar, que os processos de aprendizagem coletiva, cooperação e dinâmica inovativa desses conjuntos de empresas assumem importância ainda mais fundamental para o enfrentamento dos novos desafios colocados pela difusão da chamada Sociedade da Informação ou Era do Conhecimento, crescentemente globalizada. Em terceiro lugar, que o entendimento desse conjunto de questões passou a constituir uma das principais preocupações e alvos das novas políticas de promoção de desenvolvimento tecnológico e industrial, com ênfase especial para as formas e instrumentos de promoção das MPEs. Na tentativa de efetuar-se uma classificação do aglomerado industrial do vestuário em Colatina, parece necessário discutir também, a concepção de Grandori & Soda (1995), elaborada a partir de uma compilação de diversos trabalhos. Os autores sugerem uma nova tipologia conhecida como Redes Inter-Empresariais. Essas são descritas e classificadas segundo seus graus de formalização, centralização e mecanismos de cooperação; neste caso as redes empresariais podem se apresentar como (i) sociais, (ii) burocráticas e (iii) proprietárias (GRANDORI & SODA, 1995, apud, AMATO NETO, 2001). A seguir, as conceituações segundo os autores: Redes Sociais as redes sociais têm por característica fundamental a informalidade nas relações interempresariais, isto é, prescindem de qualquer tipo de acordo ou contrato formal. Estão direcionadas para o intercâmbio da chamada mercadoria internacional (prestígio, status, mobilidade profissional e outros). Sendo subdivididas em redes sociais simétricas e assimétricas. Redes Sociais Simétricas caracteriza-se pela inexistência de poder centralizado, ou seja, todos os participantes dessa rede compartilham a mesma capacidade de influência. Redes Sociais Assimétricas caracteriza-se pela presença de um agente central, que tem por função primordial coordenar os contratos formais de fornecimento de produtos e/ou serviços entre as empresas e organizações que participam dessa rede. Redes Burocráticas as redes burocráticas, em oposição às redes sociais, são caracterizadas pela existência de um contrato formal, que se destina a regular não somente as especificações de fornecimento (de produtos e serviços), como também a própria organização da rede e as condições de relacionamento entre seus membros. Assim como para as redes sociais, pode-se subdividir as redes burocráticas em simétricas e assimétricas. Redes Burocráticas Simétricas as associações comerciais por auxiliarem o desenvolvimento de acordos formais de relacionamento entre diversas firmas dos mesmos setores, sem que prevaleçam interesses particulares, é um exemplo clássico e bastante comum de redes de burocráticas simétricas. ENEGEP 2004 ABEPRO 3756

5 Redes Burocráticas Assimétricas redes de agências, licenciamento e franquias são casos tradicionalmente conhecidos deste tipo de rede. Redes Proprietárias as redes proprietárias caracterizam-se pela formalização de acordos relativos ao direito de propriedade entre os acionistas de empresas, sendo também classificas em redes proprietárias simétricas e assimétricas. Redes Proprietárias Simétricas são as joint-ventures, geralmente empregadas na regulação das atividades de pesquisa e desenvolvimento (P&D), inovação tecnológica e de sistemas de produção de alto conteúdo tecnológico. Redes Proprietárias Assimétricas são normalmente encontradas nas associações do tipo capital ventures, que relacionam o investidor de um lado e a empresa parceira do outro. Essas são encontradas em maior freqüência nos setores de tecnologia de ponta, nos quais se estabelecem os mecanismos de decisão conjunta e até mesmo de transferência de tecnologia gerencial. Tendo isso em mente para futuras análises ao longo do texto, é possível abordar-se, no próximo item, dados que tracem um panorama no setor do vestuário, ambiente que envolve as empresas pesquisadas. 3. Apresentando dados do Setor do Vestuário: para o estado do ES e município de Colatina A indústria de confecções no ES só veio a se desenvolver na década de 50, por meio de incentivos, tanto da política estadual, como do Governo Federal que, apesar de não terem se concentrado nesse setor específico, acabaram por proporcionar um aumento na procura por diversos produtos, que envolvem a produção do setor de confecção (FREITAS, 1993). Foi nesse período que surgiram as três primeiras indústrias de confecção do ES, sendo duas localizadas em Colatina e uma na capital. Mais recentemente, segundo dados da Gazeta Mercantil (dezembro de 2001), a indústria de confecções do Espírito Santo é formada por cerca de 1,9 mil empresas, as quais empregam 22 mil pessoas. A maior parte da mão-de-obra, cerca de 85%, é formada por mulheres. O setor tem faturamento anual ao redor de R$ 1 bilhão. Em 2000, a produção foi de cerca de 70 milhões de peças, ante 63 milhões no ano anterior (GAZETA MERCANTIL, dez. 2001). Além disso, há informações que o mercado consumidor do Espírito Santo é muito pequeno, estima-se que represente apenas 1,7% do total do país. Apenas o interior de São Paulo tem consumo 11 vezes maior. Assim, as empresas são obrigadas a direcionar suas vendas para outras regiões do País. A maior parte da produção estadual, cerca de 65%, é voltada para outros estados, com destaque para São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Bahia. No entanto, as companhias querem aumentar ainda mais suas vendas para fora do Espírito Santo e a estimativa era de que fechassem 2003 com vendas para fora do estado em torno de 90% da produção local (GAZETA MERCANTIL, dez. 2001). Outros aspectos importntes, mais específicos da região devem ser considerados. Logo, a região onde hoje se encontra Colatina, no norte do ES, começou a ser colonizada em meados do século XIX. Com o declínio da agricultura cafeeira, muitas famílias de imigrantes ficaram sem trabalho, foi então que buscaram na confecção familiar uma fonte de sustento. Em função da necessidade de suprir a demanda de roupas para os trabalhadores rurais, especialmente no período da colheita, surge a indústria de vestuário familiar ainda na década de 60 (DADALTO E VILAÇA, 2001). Como dito anteriormente, o segmento da indústria do vestuário despontou no município ainda na década de 50, com a criação de duas empresas, chegando no ano de 2000 a um total de 514 ENEGEP 2004 ABEPRO 3757

6 firmas ativas. Entre os anos de 1960 e 2000 foi criado um total de 577 firmas nos ramos de confecção de roupas: do vestuário infantil, íntima, para banho, e agasalhos (DADALTO E VILAÇA, 2001). Atualmente, Colatina se destaca como o maior pólo de confecções, em termos de receita, do estado, como pode ser constatado na Tabela 1, a seguir: Fonte: Revista 150 Maiores Empresas do Espírito Santo, ed Tabela 1 - As 10 Maiores Indústrias Têxteis e de Confecções do ES. 4. Resultados Obtidos neste estudo: apresentação e análise No estudo realizado pôde-se constatar que 71,4% dos respondentes eram os proprietários do negócio, sendo que as empresas iniciaram suas atividades há mais de 10 anos em 64,7% dos casos, ou seja, tratam-se de empresas com solidez no mercado. Dentre as empresas respondentes pode-se considerar pequena empresa (classificação SEBRAE) cerca de 42,9% dos casos, ou seja, empresas com o número de empregados na faixa de 20 a 99. Quanto ao faturamento, 32,1% das empresas estão na faixa de R$ 1,1 milhões a R$ 7,87 milhões, ou seja, pequena empresa pela classificação da Receita Federal, sendo que 28,6% destas empresas tiveram um aumento de 20% no seu faturamento no ano de 2003, quando comparado ao do ano anterior. Quanto às estratégias de mercado, dentre as empresas respondentes, 71,4% lançam três ou mais coleções por ano, procurando se adequar ao mundo da moda, mostrando certa flexibilidade na produção. Além disso, em 32,1% dos casos produzem em média de 26 a 50 itens por coleção, outra vez demonstrando a necessidade de flexibilidade, tendo em vista a produção diversificada. Além disso, para caracterização do mercado, em resposta a questão sobre os segmentos do vestuário em que atuam, em que se admitia mais de uma resposta, 79% das respondentes indicaram segmento feminino, 79% masculino, 14% infantil, 7% uniforme e 7% praia. Quanto ao fornecimento, o estudo mostra dados bastante enfáticos, cerca de 92,9% das empresas possuem fornecedores fora do ES, demonstrando uma questão logística importante para setor que depende de transportes e prazos atrelados a essa realidade. O dado também é interessante sob o aspecto de formação do aglomerado no local, afastando a interpretação de proximidade com os fornecedores como um fator de relevância para a formação do mesmo, ou de outros até por esse motivo isolado; além de indicar que o pólo não teve a capacidade de atrair empresas fornecedoras para a região ao longo dos anos, o que também pode ser visto como uma futura oportunidade de mercado. ENEGEP 2004 ABEPRO 3758

7 Poucos aspectos financeiros foram pesquisados, no entanto é possível dizer que dessas empresas, 60,7% utilizam-se apenas de recursos próprios, como origem dos recursos investidos na empresa, demonstrando um espírito empreendedor e concomitantemente conservador por parte dos proprietários. Ao mesmo tempo, 50% definem seus preços de venda, baseados em ferramentas eletrônicas como softwares específicos ou planilhas e 75% utilizam fluxo de caixa, visando reduzir a ocorrência de fatos como: concentração de pagamentos e despesas elevadas. O aglomerado possui alto grau de informalidade, 42,9% das empresas respondentes não possuem qualquer tipo de contrato com seus clientes e 46,4% nem qualquer tipo de contrato com os fornecedores. O contato formal com Centros de Pesquisa é realizado somente por 7,1% das empresas respondentes, com Universidades não passa de 10,7% e com Associações de Classe ou Sindicatos é de apenas 32,1%. Pode-se ressaltar ainda, o pouco apoio governamental ao longo dos anos, refletido no baixo contato formal também neste caso, 7,1%. No quesito em análise sobre o relacionamento entre as empresas participantes do pólo, e respondentes, 42,9% da interação citada se resume a troca de informações. No relacionamento com órgãos públicos, 21,4% também se resumem a esse tipo de interação e 10,7% à capacitação de Recursos Humanos. Quanto às vantagens relacionadas à localização do pólo, 89,3% consideram importante ou muito importante a localização em relação à infra-estrutura física e de serviços disponíveis. Quando a questão se volta para o quesito mão-de-obra, 71,4% consideram muito importante e 28,6%, importante, ou seja 100% delas avaliaram como fator de alta relevância. No caso de analisar-se a importância da proximidade do pólo com os fornecedores, embora os dados reais demonstrem que 92,9% dos fornecedores são de fora do ES, dado apresentado antes, para 53,6% dos respondentes essa proximidade é considerada como importante ou muito importante. Isso demonstra que os respondentes firmam um desejo ao responderem as questões, mais do que tentam exprimir a realidade dos fatos. Com relação aos principais fatores responsáveis pela manutenção da capacidade competitiva do pólo, 67,9% das empresas respondentes consideram a matéria-prima como fator muito importante e 71,4% deles também consideram mão-de-obra como muito importante. O nível tecnológico do equipamento é muito importante para 64,3% e para 82,1% são muito importantes inovações em design e estilo dos produtos. Quanto aos incentivos ficais, 60,7% consideram muito importantes e quanto aos custos de financiamentos, 57,1% consideram que são muito importantes e que, portanto atualmente se colocam como um fator adverso à competitividade. Há outros dados e fatores a se comentar, mas acredita-se que esse diagnóstico inicial do aglomerado seja o bastante para os propósitos traçados para este artigo. 5. Considerações Finais Tomando-se como base o referencial teórico elaborado e os dados coletados, pode-se dizer que o aglomerado industrial do vestuário em Colatina pode ser classificado de um modo geral como redes sociais simétricas. Constatou-se que o pólo de confecções de Colatina possui uma relevante atuação social, pois é gerador de um grande número de postos de trabalho, contribuindo para a melhoria de vida da população dessa cidade. Pode-se dizer ainda que a grande maioria dos empresários que lá instalam suas empresas investe exclusivamente seu próprio capital, sem ajuda de terceiros, o que evidencia o espírito empreendedor e perfil conservador dos membros do pólo. Outro fator importante que se pôde constatar foi que a maioria das empresas constituintes do pólo e respondentes está lá estabelecida há mais de 10 anos, o que indica que o pólo é propicio a empresas que queiram investir em longo prazo. Constatou-se também a grande peculiaridade ENEGEP 2004 ABEPRO 3759

8 da formação desse pólo, que venceu fatores adversos à formação do mesmo, tais como a inexistência de fornecedores de matéria-prima na região e o alto volume de clientes externos. Enfim, as informações identificadas neste estudo são relevantes para um melhor entendimento das relações de cooperação do setor de vestuário no município de Colatina/ES, assunto esse que por ser recente não possui um vasto material técnico-científico e empírico disponível. Esse tipo de estudo pode ser um ponto de referência para outros estudos de pólos regionais que possam vir a ser realizados nesta, ou em outras regiões, e assim contribuir para se traçar políticas públicas ou identificar aspectos relevantes para a melhoria dos processos de gestão das empresas e órgãos envolvidos com políticas para este setor ou outros que possam vir a ser estudados. É importante ressaltar que esse diagnóstico é uma análise preliminar do pólo de Colatina, abrindo espaço para futuras análises e deve-se ainda complementar estudos como este, com uma abordagem de pesquisa qualitativa, para um estudo mais aprofundado deste ou outro pólo industrial. Referências ALBUQUERQUE, E. M. Projeto de Pesquisa Arranjos e Sistemas Produtivos Locais e as Novas Políticas de Desenvolvimento Industrial e Tecnológico - Análise da Performance Produtiva e Tecnológica dos Clusters Industriais na Economia Brasileira. IE/UFRJ, AMATO NETO, J. Redes de Cooperação Produtiva e Clusters Regionais. São Paulo: Atlas, Análise Regional: Espírito Santo. Panorama Setorial: Gazeta Mercantil. São Paulo: BANDES Banco de Desenvolvimento do Estado do Espírito Santo S/A Competitividade da Indústria do Vestuário Capixaba: diagnóstico preliminar e proposições básicas. Vitória: BANDES, Julho, BORGES, A.; DRUCK, G. Terceirização: balanço de uma década. In: Congresso da Sociedade Brasileira de Sociologia SBS, 10., 2001, Fortaleza. Anais... Fortaleza: SBS, CALIMAN, O. Confecção. Vitória: Futura, Disponível em: Acesso em : 3 jan DADALTO, M. C. O Relacionamento Social-Econômico-Gerencial interfirmas: o caso do aglomerado da indústria do vestuário de Colatina. Dissertação de Mestrado. FACE-UFMG, DADALTO, M. C.; VILAÇA, A. Confecção da Memória: Uma História da Indústria de Vestuário de Colatina. Colatina: SINVESCO, FINDES. Revista 150 Maiores Empresas Espírito Santo. Vitória: Editora da FINDES, ed FREITAS, A.. Impacto de Políticas Industriais no Espírito Santo: A Indústria de Confecção. Vitória: Universidade Federal do Espírito Santo, KLIEMANN NETO, F. J. A Emergência da Mesoanálise como forma de avaliação de Cadeias Produtivas e da competitividade empresarial sistêmica. ENEGEP, LASTRES, H. M. M.; CASSIOLATO, J. E. O foco em arranjos produtivos e inovativos locais de micro e pequenas empresas. In LASTRES, H. M. M.; CASSIOLATO, J. E.; MACIEL, M. L. (Orgs.) Pequena Empresa Cooperação e Desenvolvimento Local. 1.ed. Rio de Janeiro: Relume Dumará, RIBAS JUNIOR, O. T. Ferramenta para Monitoramento e controle de informações sobre cadeias produtivas. Dissertação de Mestrado. UFSC, SIMÕES JR., C. A. R. Terceirização de atividades produtivas: um estudo de caso na indústria do vestuário capixaba. Dissertação de Mestrado. UFES/CCJE/PPGA, WOMACK, J. P. et alii (1990). The Machine that Changed the World. New York: Macmillan. ENEGEP 2004 ABEPRO 3760