JEFFERSON B. MENDES ENG. FLORESTAL, M.SC.

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1 FAO FOOD AND AGRICULTURE ORGANIZATION OF THE UNITED NATION Incentivos e Mecanismos Financeiros para o Manejo Florestal Sustentável na Região Sul do Brasil RELATÓRIO: JEFFERSON B. MENDES ENG. FLORESTAL, M.SC. R03_FAO_01_MECANISMOS_FINANCEIROS CURITIBA, 06 DE FEVEREIRO DE 2004

2 Conteúdo AGRADECIMENTOS 1 SUMÁRIO EXECUTIVO 1 I. INTRODUÇÃO 7 II. O SETOR FLORESTAL NACIONAL - CONJUNTURA E TENDÊNCIAS O SETOR FLORESTAL BRASILEIRO O SETOR FLORESTAL NA REGIÃO SUL HISTÓRICO DA ATIVIDADE FLORESTAL ANÁLISE CONJUNTURAL ESTATÍSTICAS SETORIAIS REGIÃO SUL POLÍTICAS NACIONAIS PARA O SETOR FLORESTAL PNF PPA ( ) PNMA II PPG PRONABIO 36 III. MECANISMOS E INCENTIVOS FINANCEIROS LINHAS DE FINANCIAMENTO PRONAF FLORESTAL PROPFLORA FUNDOS DE APOIO À CONSERVAÇÃO FNMA FUNBIO PROBIO FOMENTO FLORESTAL EMPRESARIAL MECANISMOS GOVERNAMENTAIS ESTADUAIS INSTRUMENTOS LEGAIS MECANISMOS FINANCEIROS DIVERSOS E MECANISMOS POTENCIAIS OUTROS MECANISMOS FINANCEIROS PRINCIPAIS PROPOSTAS DE MECANISMOS FINANCEIROS MECANISMOS E INCENTIVOS DIVERSOS E DE OUTROS SETORES 79

3 IV. ANÁLISE CRÍTICA DOS MECANISMOS EFETIVIDADE DOS PRINCIPAIS MECANISMOS FINANCEIROS PRONAF FLORESTAL PROPFLORA FOMENTO EMPRESARIAL PROGRAMA FLORESTAL CATARINENSE PROPOSTAS PARA MELHORIA DOS MECANISMOS 86 V. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES 89 VI. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 93 VII. ANEXOS 97 ANEXO 1 - TERMOS DE REFERÊNCIA DO ESTUDO: STUDY ON FINANCIAL MECHANISMS FOR SUSTAINABLE FOREST MANAGEMENT IN SOUTH AMERICA - PHASE I SOUTHERN CONE 98 ANEXO 2 - PRINCIPAIS MECANISMOS NACIONAIS DE FINANCIAMENTO E DE INCENTIVO AO MANEJO FLORESTAL SUSTENTÁVEL 100 ANEXO 3 - LINHAS TEMÁTICAS DO FUNDO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE (FNMA) 103 ANEXO 4 - DESCRITIVO DO PRONAF FLORESTAL 104 ANEXO 5 - DESCRITIVO DO PROPFLORA 108 ANEXO 6 - INSTITUIÇÕES CREDENCIADAS DO BNDES (PROPFLORA) 112 ANEXO 7 INSTRUMENTOS LEGAIS NACIONAIS E ESTADUAIS INSTRUMENTOS LEGAIS DA POLÍTICA FLORESTAL NACIONAL INSTRUMENTOS LEGAIS DA REGIÃO SUL 118 ANEXO 8 - RELATÓRIO DO WORKSHOP SOBRE FINANCIAMENTO REALIZADO NA SBS EM 20/03/ ANEXO 9 - SÍNTESE DA METODOLOGIA DE TRABALHO 134 ANEXO 10 - CONTATOS REALIZADOS E REDE REGIONAL DE INFORMAÇÕES 135 ANEXO 11 - PARECER DOS STAKEHOLDERS 136

4 Lista de Tabelas Tabela 1.1. Estrutura Lógica do Relatório...10 Tabela 2.1. Área Plantada com Pinus e Eucalyptus no Brasil...13 Tabela 2.2. Evolução da Área Florestal Original na Região Sul do Brasil...15 Tabela 2.3. Área Plantada/Reflorestada na Região Sul (ha)...19 Tabela 2.4. Remanescente de Floresta Nativa na Região Sul do Brasil (2002)...19 Tabela 2.5. Quantidade Produzida dos Principais Produtos da Extração Vegetal e da Silvicultura no Brasil e na Região Sul em Tabela 2.6. Valor da Produção dos Principais Produtos da Extração Vegetal e da Silvicultura no Brasil e na Região Sul em 2002 (R$)...22 Tabela 2.7. Valor da Exportação de Produtos Florestais Não-Madeireiros e Madeireiros na Região Sul em 2003* (000 US$)...24 Tabela 2.8. Linhas Temáticas e Metas do PNF...27 Tabela 2.9. Indicativo de Fontes para o PNF em Junho/2002 (R$ milhões)...30 Tabela 3.1. Tipos de Mecanismos e Incentivos Financeiros Aplicáveis à Região Sul do Brasil...40 Tabela 3.2. Resultados Parciais do PRONAF Florestal (Jan-Out/2003)...42 Tabela 3.3. Situação do Programa PROPFLORA até 30/Setembro/ Tabela 3.4. Distribuição Regional do Desembolso do PROPFLORA (Jan-Ago/2003)...45 Tabela 3.5. Duração e Limites Financeiros do FNMA Demanda Induzida...47 Tabela 3.6. Projetos Aprovados para a Região Sul pelo FNMA entre Tabela 3.7. Modalidades de Fomento Florestal Praticadas pelas Empresas no Sul do Brasil 54 Tabela 3.8. Benefícios Proporcionados Pelo Fomento Segundo as Empresas...56 Tabela 3.9. Principais Instrumentos Legais Relacionados ao Manejo Florestal Sustentável.72 Tabela 4.1. Pontos Fortes e Fracos dos Principais Mecanismos Financeiros...82 Tabela Anexo 4.1. Regiões Geográficas e Unidades da Federação Contemplados Pelo PRONAF Florestal Tabela Anexo 4.2. Número de Municípios Totais e Contemplados pelo PRONAF Florestal nos Estados da Região Sul Lista de Figuras Figura 1.1. Região Sul do Brasil... 7 Figura 3.1. Grupos de Mecanismos e Incentivos Financeiros da Região Sul...39

5 Tabela de Siglas SIGLA ABIMCI ABRACAVE AFUBRA AMA APA APEX ATER ATPF-RS BACEN BASA BDMG BNDES BID (IADB) BIRD BRACELPA BRDE CIC COBIO CONAFLOR CONAMA CNPq CREDIFLOR DVPF EMBRAPA EMATER EPAGRI FAEP FAO FATMA FEBRABAN FIRJAN FISET FNMA FUPEF FUNAI FUNBIO FUNDEFLOR INSTITUIÇÕES, PROGRAMAS ou DOCUMENTOS Associação Brasileira da Indústria de Madeira Processada Mecanicamente Associação Brasileira de Florestas Renováveis Associação dos Fumicultores do Brasil Apoio ao Monitoramento e Análise Área de Proteção Ambiental Agência de Promoção de Exportações do Brasil Assistência Técnica Autorização de Transporte de Produtos Florestais no Estado - RS Banco Central do Brasil Banco da Amazônia Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social Banco Interamericano de Desenvolvimento (Inter-American Development Bank) Banco Internacional para a Reconstrução e o Desenvolvimento Associação Brasileira de Celulose e Papel Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul Certificado de Investimento Coletivo Coordenação Geral de Diversidade Biológica Comissão Coordenadora do Programa Nacional de Floresta Conselho Nacional do Meio Ambiente Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico Conta de Reposição Florestal Obrigatória Declaração de Venda de Produtos Florestais Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina S.A. Federação da Agricultura do Estado do Paraná Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (Food and Agriculture Organization of the United Nations) Fundação do Meio Ambiente (Santa Catarina) Federação Brasileira das Associações dos Bancos Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro Fundo de Investimentos Setoriais Fundo Nacional do Meio Ambiente Fundação de Pesquisas Florestais do Paraná Fundação Nacional do Índio Fundo Brasileiro para a Biodiversidade Fundo de Desenvolvimento Florestal (Rio Grande do Sul)

6 SIGLA INSTITUIÇÕES, PROGRAMAS ou DOCUMENTOS FUNDES Fundo de Desenvolvimento Econômico e Social GEF Fundo para o Meio Ambiente Global (Global Environment Facility) GTA Grupo de Trabalho Amazônico IAP Instituto Ambiental do Paraná IBAMA Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis IBDF Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística ICMS Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços IFF Fórum Inter-governamental sobre Florestas INCRA Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária IR Imposto de Renda MAPA Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento MCT Ministério da Ciência e Tecnologia MDA Ministério do Desenvolvimento Agrário MDIC Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior MF Ministério da Fazenda MMA Ministério do Meio Ambiente MPO Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão MRE Ministério das Relações Exteriores MS Ministério da Saúde OGU Orçamento Geral da União ONG Organização Não-Governamental PAPS Programa de Apoio à Produção Sustentável PDA Projetos Demonstrativos PFM Programa de Florestas Municipais PMF Plano de Manejo Florestal PMFS Plano de Manejo Florestal Sustentável PNF Programa Nacional de Florestas PNMA Programa Nacional do Meio Ambiente PNUD Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento PPA Plano Plurianual PPG7 Programa Piloto para Proteção de Florestas Tropicais do Brasil PR Estado do Paraná PROBIO Projeto de Conservação e Utilização Sustentável da Diversidade Biológica Brasileira PRODEFLOR Programa Estadual de Desenvolvimento Florestal PRODEX Programa de Apoio ao Desenvolvimento do Extrativismo Vegetal PROEX Programa de Financiamento às Exportações PROFLORESTA Programa de Apoio ao Desenvolvimento Florestal PRONABIO Programa Nacional da Diversidade Biológica PRONAF Florestal Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar - Florestal PROPFLORA Programa de Plantio Comercial e Recuperação de Florestas PROSOLO Programa de Incentivo ao Uso de Corretivos de Solos RCS Requerimento para Corte Seletivo

7 SIGLA RESEX RMA RPPN RS RSC SAF SBS SC SECEX SEMA SERFLOR SISLEG SISNAMA SNUC SPRN SS ST SUDERHSA TNC UC ZPF INSTITUIÇÕES, PROGRAMAS ou DOCUMENTOS Reservas Extrativistas Rede de Organizações Não-Governamentais da Mata Atlântica Reserva Particular do Patrimônio Natural Estado do Rio Grande do Sul Requerimento Simplificado de Corte Sistemas Agroflorestais Sociedade Brasileira de Silvicultura Estado de Santa Catarina Secretaria de Comércio Exterior Secretaria do Meio Ambiente Sistema Estadual de Reposição Florestal Obrigatório Sistema de Manutenção, Recuperação e Proteção da Reserva Florestal Legal e Áreas de Preservação Permanente Sistema Nacional do Meio Ambiente Sistema Nacional de Unidades de Conservação Subprograma de Política de Recursos Naturais Solicitação Simples (Rio Grande do Sul) Selos de Transporte Superintendência de Desenvolvimento de Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental Estado do Paraná The Nature Conservancy Unidade de Conservação Zona de Processamento de Produtos Florestais Tabela de Pesos e Medidas SIGLA ha hectare = m 2 km quilômetro m 3 metro cúbico st estéreo R$ Real t Tonelada US$ Dólar Americano PESOS e MEDIDAS

8 AGRADECIMENTOS O autor agradece aos profissionais e instituições que contribuíram para a elaboração e validação deste documento. Em particular, agradecimentos são expressos aos Srs. Marcelo Wiecheteck (Eng. Florestal, M.Sc., Ph.D.) e Jairo A. V. Reinhardt (Eng. Florestal) por suas colaborações na elaboração do documento, Sr. Eduardo Mansur (Forestry Officer da Food and Agriculture Organization of the United, FAO Roma), Sr. Fernando Paiva Scardua (Oficial Nacional Florestal - FAO Brasil), Dr. Luiz Roberto Graça (Pesquisador Sênior em Economia Florestal da EMBRAPA Florestas), Sr. Luciano Pizzatto (Diretor Presidente da Indústria Pedro N. Pizzatto Ltda, ex-deputado Federal) e Sra. Maria Eliza Martorano Bathke (Gerente de Desenvolvimento Florestal da Secretaria de Estado de Agricultura e Política Rural de Santa Catarina) pelos valiosos comentários e sugestões na revisão do manuscrito. O autor agradece em especial à Food and Agriculture Organization of the United Nations (FAO) pela contratação da consultoria e pelo suporte financeiro para a realização do estudo. Agradecimentos são estendidos às instituições MMA, MAPA, MDA, SEMA-PR, IAP, SEMA-SC, SBS, EMBRAPA/CNPF,UNICENTRO, APRE, Secretaria de Estado do Planejamento e Coordenação Geral do Paraná, e às empresas Klabin do Paraná e Rigesa por suas contribuições. SUMÁRIO EXECUTIVO O presente documento apresenta os resultados da consultoria solicitada pela FAO (Food and Agricultural Organization of the United Nations) para investigar os Incentivos e Mecanismos Financeiros para o Manejo Florestal Sustentável (MFS) na Região Sul do Brasil. O documento está estruturado em capítulos, que abordam seqüencialmente os diferentes grupos temáticos enfocados nos objetivos do estudo: I - Introdução, II - O Setor Florestal Nacional Conjuntura e Tendências, III Mecanismos e Incentivos Financeiros (subdivididos em Linhas de Financiamento, Fundos de Apoio à Conservação, Fomento Florestal, Instrumentos Legais, e Mecanismos Financeiros Diversos e Mecanismos Potenciais), VI Análise Crítica dos Mecanismos, e VII Conclusões e Recomendações, além de anexos. O Capítulo I (INTRODUÇÃO) apresenta um panorama histórico e conjuntural do setor florestal no país, abordando sua formação, políticas para o desenvolvimento florestal, sua inserção no desenvolvimento do país, os principais fatores e ações relacionados a este processo, bem como os fatores que vêm dificultando a mudança pela qual o setor vem passando. O Capítulo II (O SETOR FLORESTAL NACIONAL - CONJUNTURA E TENDÊNCIAS) traçou um panorama do setor florestal brasileiro, com ênfase na região Sul e das políticas nacionais para o setor. Evidencia-se sua importância através da participação em 4,5% no Produto Interno Bruto (PIB), faturamento anual de US$ 21 bilhões, arrecadação de cerca de US$ 2 bilhões em impostos e geração de 2 milhões de empregos diretos e indiretos. Ressaltou-se a relevância dos programas de reflorestamento, notadamente com Pinus e Eucalyptus, que a partir de investimentos estimados em US$ 10 bilhões, imprimiram um crescimento 1

9 significativo ao setor, servindo de base para sua estruturação e consolidação. Os reflorestamentos adquiriram expressiva importância econômica e social, gerando empregos, elevando a renda, viabilizando o setor e promovendo a produção e exportação de produtos florestais em larga escala. A partir da existência de um déficit entre a oferta e a demanda de madeira industrial nos curto e médio prazos, aliada ao consumo de produtos florestais para outros fins, identifica-se a necessidade premente de se estruturar mecanismos financeiros eficazes para a atividade florestal. Para minimizar este déficit o Programa Nacional de Florestas (PNF), iniciativa política federal para o setor, indicou a necessidade de plantio florestal de 630 mil ha/ano no país nos próximos 10 anos. No entanto, nos últimos cinco anos, os plantios não ultrapassaram 250 mil ha/ano, dos quais 90% foram realizados por grandes empresas. Na região Sul, o setor florestal foi descrito sob a ótica de uma análise conjuntural, complementado com estatísticas setoriais envolvendo a produção, consumo e exportação de produtos florestais madeireiros e não-madeireiros, destacando sua importância no panorama nacional. As atividades de base florestal encontram vantagens comparativas na região Sul, notadamente em função das condições edafo-climáticas favoráveis e do baixo custo relativo das madeiras de reflorestamento. Na região, os reflorestamentos têm sido o principal fator de competitividade de sua indústria de base florestal, com decréscimo ano após ano na participação de madeira de florestas nativas para o processamento mecânico. Dos 4,8 milhões ha com florestas plantadas no Brasil, a região Sul responde por 27,1 % (1,3 milhões ha), distribuídos 14,0 % no Estado do Paraná ( ha), 5,3 % em Santa Catarina ( ha) e 7,5 % no Rio Grande do Sul ( ha). Nas regiões Sul e Sudeste, o MFS aplicado às florestas nativas vem sofrendo sérias restrições políticas e legais para sua implementação. Em função do desenvolvimento florestal recente no Sul do Brasil estar baseado na sua maioria em florestas plantadas, os mecanismos e incentivos financeiros à atividade florestal na região devem implicar necessariamente em uma abordagem que inclua a questão das florestas plantadas. Na análise das políticas nacionais para o setor florestal identifica-se o surgimento de várias iniciativas, governamentais e não-governamentais, procurando oferecer respostas e mecanismos para o encaminhamento de soluções dentro do mesmo. Entre as iniciativas atuais, destaca-se o Programa Nacional de Florestas (PNF), atualmente o principal instrumento político nacional para o setor. Outras políticas e ações governamentais, com maior ou menor impacto sobre o desenvolvimento e o MFS, incluem o Plano Plurianual do Governo Federal (PPA ), o Programa Nacional do Meio Ambiente (PNMA), o Programa Piloto para Proteção de Florestas Tropicais no Brasil (PPG7) e o Programa Nacional da Diversidade Biológica (PRONABIO). As mesmas estão descritas conforme seus objetivos e resultados previstos e realizados. No caso do PNF, a questão fundamental para seu sucesso vem a ser a necessidade de recursos para sua implantação e execução, sendo apontadas diversas fontes potenciais nacionais e internacionais. Este programa é tipicamente estruturante de uma política nacional, não se constituindo por si em fonte direta de financiamento ao MFS. O Capítulo III (MECANISMOS E INCENTIVOS FINANCEIROS) descreve os diversos mecanismos e incentivos financeiros existentes para promover o MFS de florestas nativas e de reflorestamentos, disponíveis e aplicáveis à região Sul. Por natureza, os mesmos são diversificados de acordo com suas características e abrangência, apresentando interfaces entre si, via de regra de forma complementar. No estudo, os mecanismos foram agrupados em cinco categorias: 2

10 Linhas de Financiamento, Fundos de Apoio à Conservação, Fomento Florestal, Instrumentos Legais, e Mecanismos Financeiros Diversos e Mecanismos Potenciais. Desde o final dos incentivos fiscais, o setor florestal do país não conta com recursos de créditos em sistema de financiamento regulares para atender o crescimento e o desenvolvimento das fontes de suprimento de matéria-prima de forma sustentável. Apesar da escassez de incentivos financeiros ao MFS de florestas nativas e ao reflorestamento, a obrigatoriedade de reposição florestal por parte dos consumidores de matéria prima florestal e de recuperação da Reserva Legal (RL) e de Áreas de Preservação Permanente (APP), aliada à rentabilidade econômica de empreendimentos florestais têm sido estímulos concretos ao plantio e ao MFS no país. As Linhas de Financiamento (Capítulo III-1) e de crédito ao plantio florestal no país são diversificadas de acordo com suas áreas temáticas, regiões de abrangência, processo seletivo, limites e forma do financiamento, e instituições ou público a que se destinem. Diversas dificuldades e resistências à sua plena utilização para o plantio de florestas têm sido apontadas, com destaque aos prazos para amortização e retorno e garantias exigidas, apesar do crescimento significativo do interesse por práticas mais adequadas de condução dos recursos florestais. As principais linhas de financiamento do governo federal para o plantio florestal e MFS, aplicados à região Sul, são os programas PRONAF Florestal (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar Florestal) e o PROPFLORA (Programa de Plantio Comercial e Recuperação de Florestas). O PRONAF Florestal aplica-se para pequenos proprietários rurais que praticam agricultura familiar, enquanto o PROPFLORA aplica-se para médios e pequenos proprietários. Estas linhas estão descritas conforme suas abrangências e resultados previstos e realizados. Os Fundos de Apoio à Conservação (Capítulo III-2) constituem outra categoria de mecanismos financeiros ao MFS, com características distintas das linhas de financiamento e de crédito. Entre os diversos fundos nacionais, com aplicação na região Sul, o estudo aborda os seguintes fundos do Ministério do Meio Ambiente (MMA): FNMA (Fundo Nacional do Meio Ambiente), o FUNBIO (Fundo Brasileiro para a Biodiversidade) e o PROBIO (Projeto de Conservação e Utilização Sustentável da Diversidade Biológica Brasileira), os dois últimos como fundos de investimentos do Programa PRONABIO. O Fomento Florestal (Capítulo III-3) está subdividido nos subcomponentes Fomento Empresarial e Mecanismos Governamentais Estaduais, estes incluindo programas de fomento florestal no âmbito do poder público estadual. O Fomento Empresarial, como estratégia para garantir o abastecimento de matéria prima no longo prazo das indústrias de base florestal, vem crescendo devido à entrada da silvicultura do Pinus e do Eucalyptus na chamada economia de mercado. O estudo descreve os cinco modelos de fomento adotados: doação de mudas, venda de mudas, renda antecipada, parceria florestal e 3

11 arrendamento, especificando o público alvo e as responsabilidades do fomentado e do fomentador. O estudo indica riscos que os modelos apresentam para a sustentabilidade econômica, social e ambiental dos produtores rurais e descreve os principais fatores pelos quais os produtores rurais têm dificuldade em aceitar o fomento florestal, que são ainda mais restritivos ao se tratar de espécies nativas. O outro subcomponente, Mecanismos Governamentais Estaduais, trata dos instrumentos públicos para promover o desenvolvimento florestal em regiões potencialmente viáveis. Os programas desenvolvidos pelos governos estaduais constituem uma alternativa promissora na ampliação da área florestal entre os pequenos e médios agricultores, para fins produtivos e de conservação. O Estado do Paraná vem desenvolvendo programas para fomentar e estimular o reflorestamento estadual desde os anos 80, com destaque para o Sistema Estadual de Reposição Florestal Obrigatória (SERFLOR), o Sistema Estadual de Manutenção, Recuperação e Proteção de Reserva Florestal Legal e Áreas de Preservação Permanente (SISLEG), o recém criado Programa Paraná Biodiversidade, além do consagrado Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços com Fins Ecológicos (ICMS Ecológico), o qual tem sido difundido em outros estados do país. No Estado de Santa Catarina, o destaque é para o Programa Florestal Catarinense que tem sido a principal iniciativa estadual de fomento de plantios florestais para os produtores rurais. Este programa inova ao incorporar o cultivo de florestas à outras atividades no meio rural, mantendo os produtores em campo e atendendo suas necessidades (oportunidades de trabalho e renda) além de proteger remanescentes de matas nativas e ampliar a base florestal do estado. No Estado do Rio Grande do Sul ressalta-se o Fundo de Desenvolvimento Florestal (FUNDEFLOR), que busca promover o desenvolvimento florestal junto aos produtores rurais e a empresas do setor. Com relação aos Instrumentos Legais (Capítulo III-4), o estudo efetuou uma revisão dos principais componentes da legislação federal e estaduais que dão suporte às políticas nacionais e aos incentivos e mecanismos financeiros para o setor florestal, com ênfase no Sul do Brasil. Evidencia-se que a legislação brasileira aplicada ao manejo e proteção dos recursos naturais e às florestas plantadas têm evoluído de um modelo de Comando e Controle, seguido pela regulamentação do uso, buscando leis mais eficazes na criação de mecanismos de incentivos e de indução da atividade florestal. O Brasil possui uma legislação ambiental avançada, traduzida em uma crescente preocupação com o meio ambiente e a percepção de que o desenvolvimento sustentável e o crescimento econômico futuro dependerão de condições ecológicas protegidas. Tais instrumentos, em sua grande maioria, têm agido como incentivo à preservação e conservação dos recursos naturais, e em muitos casos como uma barreira à produção florestal não sustentável. Na análise dos Mecanismos Financeiros Diversos e de Mecanismos Potenciais (Capítulo III- 5), descrevem-se os mecanismos financeiros não abordados nas seções anteriores, as principais propostas de mecanismos, e a experiência de outros setores. A falta de consciência sobre a abrangência do setor florestal produtivo e sua organização vem a ser um entrave para a implementação de mecanismos setoriais. No tocante às principais propostas de mecanismos financeiros, destaque foi dado às propostas advindas do Fórum de Competitividade da Cadeia Produtiva de Madeira e Móveis, que identificou oportunidades para o financiamento e incentivo financeiro ao setor florestal. Também se considerou os mecanismos e incentivos de outros setores, que vêm sendo aplicados com sucesso em suas áreas. O Capítulo IV (ANÁLISE CRÍTICA DOS MECANISMOS) trata da Efetividade dos Principais Mecanismos Financeiros e de Propostas para Melhoria dos Mecanismos Financeiros. A 4

12 eficácia dos principais mecanismos financeiros para o MFS foi avaliada através de análise crítica envolvendo os pontos fortes e pontos fracos dos mesmos. Os mecanismos avaliados foram o PRONAF Florestal, PROPFLORA, Fomento Empresarial e Programa Florestal Catarinense, de acordo com os seguintes componentes: divulgação para o público alvo, processo para contratação do financiamento, condições do financiamento, agentes financeiros, licenciamento florestal e ambiental, assistência técnica, relação do produtor com o mercado e adequação ambiental. Os mecanismos financeiros para o MFS têm apresentado, em maior ou menor grau, deficiências e distorções operacionais para sua efetiva implementação e funcionalidade. As Propostas para Melhoria dos Mecanismos Financeiros se fundamentam na análise crítica, além de contribuições de representantes chaves do setor e das sugestões e reivindicações apresentadas no workshop da Sociedade Brasileira de Silvicultura - SBS (2003) e no documento Florestamento na Região Sul do Brasil Uma Análise Econômica (BRDE, 2003). Em síntese, este estudo levantou e caracterizou os principais incentivos e mecanismos financeiros existentes e disponíveis para o MFS na região sul do Brasil, colaborando na busca de soluções para as mudanças pela qual o setor vem passando. Observou-se a existência de uma ampla e complexa gama de incentivos e mecanismos disponíveis, na forma de aportes financeiros (linhas de financiamento e fundos disponibilizados pelos governos estaduais e federais), programas de fomento (ações e incentivos realizados pelas empresas e órgãos governamentais para a formação de florestas plantadas), instrumentos legais (conjunto de leis, decretos e portarias que incentivam ou dificultam o manejo florestal) e outros mecanismos ou incentivos que não se enquadram nos grupos anteriores. Os mesmos têm apresentado, em maior ou menor grau, deficiências e distorções operacionais para sua efetiva implementação. Ao mesmo tempo em que muitos mecanismos agem como incentivo, acabam também tendo papel de obstáculo ao desenvolvimento e MFS. O estudo traçou ainda uma análise crítica de como estes mecanismos estão sendo aplicados, as instituições envolvidas na implementação, o público alvo e a eficácia dos mesmos, com recomendações para aperfeiçoá-los. Entre elas, destacam-se as necessidades de: Adoção de uma política agressiva de divulgação dos programas e mecanismos existentes, notadamente as linhas de financiamento do PROPFLORA e do PRONAF Florestal; Promoção de ampla discussão junto aos agentes financeiros aumentando o diálogo destes com o setor, visando sanar a falta de conhecimento na atividade e reformular as condições vigentes dos programas, de forma a adequá-los à realidade da atividade e do país; Obtenção de completo envolvimento e comprometimento dos agentes financeiros/bancos oficiais com os programas; Direcionamento dos financiamentos para regiões com vocação florestal e com mercado consumidor, visando garantir a renda futura dos proprietários; Garantia dos recursos atuais e futuros disponíveis para serem aplicados nos programas (permitindo sua continuidade), vinculando-os à fontes seguras e estáveis de recursos; Estabelecimento de parcerias chaves entre os diferentes stakeholders (ministérios, secretarias estaduais, prefeituras, EMATER, empresas e associações), garantindo a efetividade dos programas e a inserção dos beneficiários às cadeias produtivas do setor; Flexibilização das garantias exigidas através de: (1) parcerias com empresas 5

13 florestais e grupos interessados (que ofereceriam as garantias aos agentes financeiros), (2) adoção do modelo equivalência-produto no pagamento do crédito, e (3) contratos de compra e venda futura de madeira; Plurianualidade no financiamento de projetos florestais, de forma a garantir a sustentabilidade do negócio; Ampliação do escopo dos programas vigentes de forma a financiar projetos agroflorestais e silvipastoris para dispersar os riscos e antecipar receitas; Aprimoramento das linhas de financiamento atuais, incorporando elementos potencialmente viáveis de mecanismos financeiros de outros setores da economia; Ampliação do tempo de carência e de financiamento para atender as especificidades do cultivo do Pinus; Promoção do manejo sustentável de florestas nativas, notadamente em áreas de Reserva Legal, prevista na legislação, mas não realizada na prática por problemas burocráticos e administrativos por parte de órgãos do governo; Estímulo para que as empresas, associações e cooperativas promovam parcerias agindo como facilitadores no processo de empréstimo aos produtores e beneficiários potenciais. Como medida adicional de incentivo ao MFS cita-se a possibilidade de se trabalhar, no plano político-legislativo, na redução de impostos sobre a propriedade e Módulos Fiscais em áreas reflorestadas, além da isenção da ITR já existente para Reserva Legal e Área de Preservação Permanente e para RPPN. O estudo fornece ainda uma relação de profissionais e instituições chaves dos setores florestal, financeiros e correlatos que poderão contribuir para o aprimoramento dos mecanismos e incentivos para o financiamento do MFS. O estudo foi submetido a stakeholders de instituições chaves do setor, que contribuíram com pareceres e comentários sobre os mecanismos financeiros e possíveis novos mecanismos para financiar o MFS e a atividade florestal na região Sul. Pretende-se que este estudo sirva como um instrumento aplicado na busca de soluções eficazes para a implementação do MFS e do desenvolvimento florestal do setor na região Sul do Brasil. O mesmo contribui ainda através da disponibilização de informações e da divulgação dos incentivos e mecanismos existentes ao público alvo potencial (governos, empresas, profissionais, agentes financeiros, proprietários rurais e a sociedade organizada como um todo). 6

14 I.. INTRODUÇÃO O presente documento, intitulado Incentivos e Mecanismos Financeiros para o Manejo Florestal Sustentável na Região Sul do Brasil (Figura 1.1), apresenta os resultados da consultoria solicitada pela FAO-Food and Agricultural Organization of the United Nations para atender os termos de referência que constam no documento Study on financial mechanisms for sustainable forest management in South America - Phase I Southern Cone, de agosto de 2003 (Anexo 1). Figura 1.1. Região Sul do Brasil No passado, o Manejo Florestal Sustentável (MFS) era considerado, na maioria dos países, no contexto de sustentabilidade de fontes da madeira. Nas últimas décadas, o manejo da produção sustentado da madeira, como MFS, foi substituído por um conceito mais amplo. O contexto utilizado neste estudo abrange, além da sustentabilidade da produção florestal (notadamente de madeira para diferentes fins), os aspectos de sustentabilidade social e preservação e conservação dos recursos naturais. Desde meados da década de 70, o setor florestal brasileiro vem realizando um processo importante e conturbado de mudança para substituir o tradicional modelo de extrativismo florestal pelo de manejo sustentável 1 das florestas. 1 Economicamente viável, socialmente justo e ambientalmente correto. 7

15 Esta mudança radical é resultado, principalmente, do entendimento da sociedade brasileira quanto à importância da sustentabilidade dos recursos naturais para o desenvolvimento do país, e da necessidade deste em atender os preceitos estabelecidos por uma economia globalizada. Esta mudança vem ocorrendo de forma lenta, com avanços e retrocessos, em função de sua complexidade. Atualmente, diversos fatores e ações vêm facilitando este processo, com destaque para os seguintes: interesse governamental em fortalecer a economia florestal, em decorrência das vantagens da silvicultura brasileira em relação aos demais países produtores (maior crescimento das florestas, menor custos de produção, disponibilidade de grandes áreas para plantios, processos de produção modernos e competitivos); disponibilidade de tecnologias eficazes de manejo florestal, notadamente para florestas plantadas (e em grau limitado para florestas nativas), desenvolvidas pelas universidades e pelas empresas privadas e governamentais de pesquisa; demanda altamente aquecida por produtos florestais, principalmente em decorrência das exportações favorecidas pela atual taxa cambial (± R$ 2,95 por US$ 1,00), associada a uma oferta restrita de matéria prima florestal; consciência do setor florestal quanto à necessidade de uma política florestal fundamentada no conceito de sustentabilidade socioeconômica e ambiental e que seja implementada de forma integrada às demais políticas de desenvolvimento rural e industrial; na impossibilidade de aumentar os plantios florestais em grandes extensões de área, principalmente na região Sul, a alternativa tem sido a busca de parcerias com pequenos e médios produtores rurais; o atual governo brasileiro, iniciado em 2003, sinalizou claramente a opção pela inclusão da agricultura familiar em todos os níveis da produção agropecuária e florestal; Por outro lado, há fatos históricos e fatores que vêm dificultando seriamente esta mudança, com destaque para: ausência de política florestal consistente durante as décadas de 80 e 90, nos níveis federal e estadual; tradição essencialmente agrícola do produtor rural brasileiro; assistência técnica rural governamental sem tradição florestal e tecnologia silvicultural adequada; legislação ambiental restritiva ao uso da propriedade e dos recursos naturais, desestimulando os produtores rurais e outros possíveis investidores a ingressarem na atividade florestal, mesmo a de florestas plantadas; 8

16 regulação excessiva da silvicultura do Pinus e do Eucalyptus por parte do poder público, gerando custos desnecessários para o plantio, corte, transporte e reposição florestal; limitações na oferta atual e futura de madeira proveniente de florestas plantadas, em decorrência da redução significativa dos plantios florestais entre 1986 e 1997, causada pela falta de uma política governamental de incentivos para a atividade, e também pela falta de investimentos em reflorestamento por parte das indústrias consumidoras de matéria-prima florestal devido à disponibilidade limitada de capital por parte das menos capitalizadas; limitações na oferta de madeira originada de florestas nativas, devido a aplicação da legislação ambiental de forma restritiva em decorrência da incapacidade das empresas e do governo brasileiro em efetivar a prática do manejo florestal sustentável; risco e incerteza da economia brasileira, conjunturalmente e estruturalmente, não incentivando investimentos de longo prazo em florestas; políticas e ações governamentais, muitas vezes, desarticuladas, conflitantes, sobrepostas e fragmentadas: no que se refere às atividades florestais, aos conflitos sociais e à conservação ambiental; conflitos de objetivos entre os movimentos ambientais, as empresas, os produtores rurais e os movimentos sociais, no que se refere ao modelo silvicultural a ser adotado, tanto para as florestas nativas quanto as plantadas; conflitos estes agravados pela ineficácia de processos efetivos de organização e comunicação; linhas de financiamento disponíveis para a silvicultura atendem apenas parcialmente as necessidades das principais espécies comerciais (como o Pinus), principalmente no que se refere à carência e ao prazo de pagamento. Representantes do setor florestal e da sociedade organizada vêm analisando, discutindo e apontando soluções para estes problemas. Exemplo disto foi o fórum recentemente promovido pela Sociedade Brasileira de Silvicultura (SBS), com a presença de diferentes setores do governo federal e da sociedade organizada, de forma a efetivamente viabilizar a atividade de base florestal no país. Objetivo do Estudo O presente estudo tem por objetivo colaborar com este processo de busca de soluções. Para isto, disponibiliza as seguintes informações: síntese do papel do setor florestal no desenvolvimento socioeconômico do Sul do Brasil, incluindo informações atualizadas sobre as abordagens e estratégias existentes para promover o manejo florestal sustentável; descritivo dos principais mecanismos e incentivos aplicados para financiar o manejo florestal sustentável na região do estudo; 9

17 análise crítica de como estes mecanismos estão sendo aplicados, as instituições envolvidas na sua implementação, o público alvo beneficiário e a eficácia dos mesmos; identificação de mecanismos potenciais de outros setores com interfaces que possam ser adaptadas e aplicadas ao setor florestal; relação das pessoas e instituições chaves dos setores florestal, financeiros e correlatos que poderiam contribuir para o aprimoramento da rede nacional / regional que produz e distribui conhecimentos relativos aos mecanismos e incentivos para o financiamento do manejo florestal sustentável; proposições sobre como manter e melhorar esta rede; síntese dos procedimentos (metodologia) utilizados para obter as informações solicitadas; e parecer dos stakeholders consultados para validar o relatório sobre os resultados e impactos dos mecanismos financeiros, tradicionais e recentes, e sobre possíveis novos mecanismos para financiar o manejo sustentável. Estrutura Lógica do Relatório Os incentivos e mecanismos financeiros para o Manejo Florestal Sustentável identificados e avaliados neste documento estão organizados em cinco grupos, a saber: Linhas de Financiamento: linhas e fundos de financiamento disponibilizados pelos Governos Estaduais e Federais, do Sul do Brasil; Fundos de Apoio à Conservação: fundos diversos não financiáveis, alocados para instituições públicas e privadas; Fomento Florestal: ações e incentivos realizados pelas empresas e órgãos governamentais para a formação de florestas plantadas; Instrumentos Legais: conjunto de leis, decretos e portarias que servem como incentivo ou como obstáculo ao manejo florestal; e Mecanismos Financeiros Diversos e Mecanismos Potenciais: incentivos e mecanismos que não se enquadram nos grupos anteriores, bem como mecanismos financeiros de outros setores. Considerando este agrupamento, o relatório está organizado, de forma a disponibilizar ao leitor as informações solicitadas com oportunidade, permitindo também um entendimento estruturado da situação histórica e conjuntural e consultas específicas com rapidez, quando necessário (Tabela 1.1). Tabela 1.1. Estrutura Lógica do Relatório 10

18 Capítulo Sumário Executivo Conteúdo /Objetivo síntese dos resultados do trabalho. I. Introdução apresentar o trabalho e mostrar o contexto em que se insere. II. Setor Florestal Nacional Conjuntura e Tendências III. Mecanismos e Incentivos Financeiros IV. Análise Crítica dos Mecanismos IX. Conclusões e Recomendações síntese numérica sobre a importância do setor florestal brasileiro e da região Sul. 1. Linhas de Financiamento: linhas e fundos de financiamento governamentais, federais e estaduais, para a atividade florestal de produção e de conservação. 2. Fundos de Apoio à Conservação: fundos diversos não financiáveis, alocados para instituições públicas e privadas; 3. Fomento Florestal: programas e modelos de fomento florestal desenvolvidos pelo setor empresarial e pelos Governos Federal e Estaduais. 4. Instrumentos Legais: legislações que incentivam ou dificultam a atividade florestal em regime de manejo sustentável. 5. Mecanismos Financeiros Diversos e Potenciais: mecanismos financeiros diversos do setor florestal em outras regiões e de outros setores, com potencial de aplicação. pontos fortes e pontos fracos dos principais mecanismos existentes. principais pontos a serem observados para melhorar a efetividade dos mecanismos financeiros. X. Anexos Parecer dos stakeholders quanto ao trabalho, rede de pessoas e instituições afins aos mecanismos, detalhamento dos principais mecanismos estudados, síntese da metodologia do trabalho e contatos realizados. 11

19 II.. O SETOR FLORESTAL NACIONAL - CONJUNTURA E TENDÊNCIAS 1. O SETOR FLORESTAL BRASILEIRO A importância do setor florestal brasileiro, envolvendo toda a cadeia produtiva ligada à produção de florestas e de produtos florestais, é confirmada por sua participação em 4,5% no Produto Interno Bruto (PIB), faturamento anual de US$ 21 bilhões, arrecadação de cerca de US$ 2 bilhões em impostos e geração de 2 milhões de empregos diretos e indiretos (BRDE, 2003; SBS, 2003, ABIMCI, 2003). A atual política econômica tem concentrado esforços no aumento das exportações e na geração de superávit na balança de pagamentos, e o setor florestal contribui significativamente para o país diminuir sua dependência externa de capitais. Dos quase US$ 60 bilhões exportados pelo Brasil em 2002, o setor de base florestal participou com aproximadamente 7% (ABIMCI, 2003). Alguns segmentos do setor despontam como geradores de divisas líquidas significativas para o país, a exemplo do setor de madeira sólida, cujas importações são insignificantes. Esse aspecto é relevante ao se comparar com outros setores da economia, considerados grandes exportadores, mas que demandam grande volume de importação para suportar a produção. O Brasil é o país com maior diversidade biológica e possui entre 15% e 20% do total de espécies do planeta. Seus biomas contam com mais de 55 mil tipos de vegetais e mais de 150 mil espécies de animais conhecidos em ecossistemas como a Amazônia, Mata Atlântica e Cerrado. O país possui a segunda maior cobertura florestal do mundo, representando 14,5% da superfície total de 3,87 bilhões ha (FAO, 2001). Dos 845,7 milhões ha do território nacional, 63,7% são cobertos por florestas nativas e apenas 0,6% por florestas plantadas. Essa ampla extensão de cobertura florestal fornece ao país potencial produtivo considerável de produtos florestais madeireiros e não-madeireiros. Até início dos anos 60, as florestas nativas foram a principal fonte de suprimento de madeira para o setor de base florestal, sendo exploradas sem critério racional. O desmatamento, principalmente para fins agrícolas e de pecuária, aliado ao manejo florestal não sustentável em larga escala e por longo período, levou à degradação ambiental e ao comprometimento da eficiência do setor florestal em grande parte do território nacional. O plantio de florestas no Brasil passou a ter expressão a partir da década de 60, quando da criação, pelo governo federal, dos incentivos fiscais para reflorestamento (FISET), dentro do Programa Nacional de Desenvolvimento (PND), visando gerar matéria-prima florestal para viabilizar as indústrias de papel e celulose e siderurgias. Além destes incentivos, a promulgação do Código Florestal em 1965 e a criação do Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal (IBDF) em 1967 foram ações que ajudaram a definir uma nova política florestal para o País, promovendo o reflorestamento em larga escala. Os programas de reflorestamento com incentivos fiscais imprimiram, entre 1967 e 1986, um crescimento significativo ao setor florestal, servindo de base para sua estruturação e consolidação. Os reflorestamentos concentraram-se nas regiões Sul e Sudeste, com recente 12

20 expansão para as regiões Nordeste e Centro-Oeste. Os mesmos adquiriram expressiva importância econômica e social, gerando empregos, elevando a renda, viabilizando o setor e promovendo a produção e exportação de produtos florestais em larga escala. Os plantios florestais, em sua maioria foram implantados com espécies de Pinus (notadamente P. elliottii e P. taeda), ou Eucalyptus (em sua maioria E. saligna e E. grandis). Outras espécies plantadas, com interesse comercial, são as Acácias, Teca e Araucária (ABIMCI, 2003). As florestas plantadas no Brasil ocupam cerca de 4,8 milhões ha, aproximadamente 3,0 milhões ha com Eucalyptus (64%) e 1,8 milhão ha com Pinus (36%) (Tabela 2.1). Do total de florestas plantadas, 75% estão vinculadas diretamente às indústrias e 25% estão disponíveis para consumo no mercado de madeira roliça em geral (SBS, 2003). Tabela 2.1. Área Plantada com Pinus e Eucalyptus no Brasil Estado Pinus Eucaliptos Total ha % ha % ha % Amapá % % % Bahia % % % Espírito Santo 0 0% % % Mato Grosso do Sul % % % Minas Gerais % % % Pará % % % Paraná % % % Rio Grande do Sul % % % Santa Catarina % % % São Paulo % % % Outros % % % Total % % Fonte: SBS, Disponível em % A maior concentração de plantios florestais está no Estado de Minas Gerais (35%), seguido por São Paulo (16%) e Paraná (14%), destacando-se ainda os Estados da Bahia (9%), Santa Catarina (7%) e Rio Grande do Sul (5%), que totalizam 88% dos plantios no país. A concentração de plantios nesses Estados é decorrente de sua vocação para a produção de papel, celulose e produtos de madeira sólida (ABIMCI, 2003; SBS, 2003). O rápido crescimento, a boa qualidade da madeira, adaptabilidade ao clima e solos, e proximidade de mercados consumidores foram os principais fatores que levaram ao sucesso da implantação destes reflorestamentos. Os plantios com Pinus concentram-se na região Sul, totalizando 58% do total plantado. Essa distribuição justifica-se pela alta adaptabilidade do gênero à região, fornecendo a base florestal para a indústria madeireira local. Os plantios com Eucalyptus concentram-se na região Sudeste do país, tendo o Estado de Minas Gerais cerca de 51% do total plantado com a espécie no país, seguido pelo Estado de São Paulo com 19%. Essa distribuição justifica-se pela concentração de indústrias de papel, celulose e de siderurgia na região (ABIMCI, 2003). 13

21 O desenvolvimento da silvicultura no Brasil e as condições naturais favoráveis têm propiciado, além de ganhos em produtividade, redução na rotação das florestas plantadas, reduzindo custos de produção. O menor custo da madeira reflorestada no Brasil, em relação a outros países, cria importantes vantagens de custos na produção industrial de produtos florestais, podendo ser até 25% mais baixos, como no caso da celulose (Toresan, 2003). De acordo com o Ministério do Meio Ambiente (MMA), os investimentos na atividade florestal no Brasil, entre 1967 e 1986, somaram cerca de US$ 10 bilhões e resultaram em um superávit na oferta de madeira. Problemas de financiamento e o mau uso dos incentivos provocaram redução do programa a partir de 1983, e contribuíram para o seu encerramento em 1988, causando uma redução drástica nos plantios florestais, e com isso, comprometendo a expansão da oferta de matéria prima florestal de florestas plantadas para atender a demanda crescente (industrial e não-industrial). Apesar do FISET Florestal ter respondido pela expansão da área reflorestada brasileira em 6,2 milhões de ha (com média anual de plantio de 312,6 mil ha, Abimóvel-BNDES), não se propõe, como política de mecanismo financeiro à atividade florestal, um retorno puro e simplesmente ao sistema de incentivos fiscais, no modelo como o FISET operou. Ao invés disto, este documento apresenta mecanismos alternativos, vigentes ou potenciais, que podem servir como estímulo concreto ao Manejo Florestal Sustentável de florestas nativas e/ou plantadas na região sul do país. Ao se discutir os resultados advindos do fim do FISET Florestal, cabe destacar que a média anual de plantio caiu de 400 mil ha entre para cerca de 200 mil ha em 1983, e ainda menos após este período, mantendo-se em um patamar reduzido até meados dos anos 90. Os plantios no período pós-incentivos fiscais foram em larga escala conduzidos por empresas mais capitalizadas, notadamente as do ramo de celulose e papel (Kengen e Graça, 1999) e por algumas instituições governamentais estaduais. Paralelamente, algumas grandes empresas florestais iniciaram programas de fomento florestal com proprietários rurais em suas regiões de atuação. Estudos recentes da SBS, ABIMCI, Silviconsult, e de outras instituições, apontam a existência de um possível déficit entre a oferta e a demanda de madeira para atender as necessidades da indústria de base florestal no curto e médio prazos. Alia-se a isto o consumo de produtos florestais para outros fins, como lenha não-industrial, acentuando este descompasso. Para minimizar este déficit, o Programa Nacional de Florestas (PNF) indicou a necessidade de plantio florestal de 630 mil ha/ano no país. Com base nas tendências de crescimento de produção e consumo dos principais produtos florestais, o PNF sugere o plantio anual distribuído conforme os diferentes produtos florestais: lenha (80 mil ha/ano), madeira serrada (130 mil ha), carvão vegetal (250 mil ha) e celulose e papel (170 mil ha). Essa necessidade é evidenciada com base na produção e consumo da ordem de aproximadamente 300 milhões m 3 /ano no país. Mesmo deficitárias de matéria-prima industrial, as florestas plantadas têm assumido um grau de importância cada vez maior no cenário florestal brasileiro. Os movimentos e leis de cunho ambiental, de um lado, e a crescente necessidade imposta pela própria economia de base florestal levou a região Sul a promover uma substituição das matas nativas pela silvicultura como fonte de matéria-prima industrial. 14

22 2. O SETOR FLORESTAL NA REGIÃO SUL 2.1 Histórico da Atividade Florestal Em um período de aproximadamente 64 anos, de 1940 a 2004, a área original de florestas na região sul do Brasil foi reduzida em 66,8%, de aproximadamente 37,61 milhões de hectares para 12,47 milhões ha. Entre os três estados, o Paraná é o que sofreu a maior redução, 71,1%, seguido por Santa Catarina (68,6%) e o Rio Grande do Sul (49,9%) (Tabela 2.2). Tabela 2.2. Evolução da Área Florestal Original na Região Sul do Brasil UF Superfície Área Florestal Original Área Nativa Remanescente Áreas Florestais (ha) - Estágios Estadual (ha) ha (1) % Sup. Estadual ha % Veget. Original % Sup. Estadual Inicial Médio Avança do (2) Reflorest amento PR ,0% ,9% 22,6% SC ,0% ,4% 31,4% n.d. n.d. n.d RS ,1% ,1% 17,5% n.d SUL ,1% ,2% 21,6% n.d. n.d. n.d Nota RS: (1) Cobertura em 1940, aproximada e (2) Estágio avançado no RS está somado ao estágio médio Nota SC: Área Relativa ao Remanescente de Mata Atlântica Fonte: PR - Atlas da Vegetação do Estado do Paraná (Maio, 2003). FUPEF Fonte: SC - Atlas de Remanescentes da Mata Atlântica (2002), Fundação SOS Mata Atlântica; SBS (reflorestamento) Fonte: RS - Inventário Florestal do Rio Grande do Sul (2001). UFSM n.d. não definido Segundo o livro Araucária, A Floresta do Brasil Meridional (Koch e Correia, 2002), na segunda metade do século XIX, a intensificação do processo de colonização da região Sul, principalmente por imigrantes europeus, teve nas florestas o seu principal recurso. Esta foi a principal fonte de alimentação, energia e matéria-prima para construções utilizada pelos colonos. O crescimento populacional, a abertura da Estrada da Graciosa (1873) e a construção da Ferrovia Curitiba-Paranaguá (1885) intensificaram a exploração e a exportação madeireira, principalmente do Pinheiro do Paraná (Araucaria angustifolia), e também a abertura de novas áreas para agricultura. Rapidamente, a exploração florestal tornou-se o motor da economia do Sul do Brasil. Com o início da Primeira Grande Guerra, em 1914, houve um crescimento significativo das exportações de madeira. Entre 1915 e 1970, a exploração extrativista de madeira e a expansão das fronteiras agrícolas tiveram o seu auge. Segundo o Anuário Brasileiro de Economia Florestal, entre 1915 e 1960, o Brasil exportou 18,5 bilhões de m 3 de madeira, em sua quase totalidade das Florestas de Araucária. Maack (citado por Koch e Correia, 2002), já em 1939 escrevia sobre o desmatamento fora do controle, e em 1948 solicitou leis para disciplinar a ocupação da terra. Entretanto, o efeito esperado foi o oposto; em 1949, o Governo Brasileiro promulgou lei dobrando os impostos de áreas florestais, o que intensificou o desmatamento. As companhias colonizadoras de terra, principalmente entre 1950 e 1960, promoveram a exploração intensiva das florestas e o desmatamento para a formação de propriedades agrícolas. A agricultura neste período tinha no pousio o seu principal sistema de 15