PROFESSOR DE EDUCAÇÃO FÍSICA E A DITADURA MILITAR NO BRASIL comandado ou comandante?

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1 PROFESSOR DE EDUCAÇÃO FÍSICA E A DITADURA MILITAR NO BRASIL comandado ou comandante?

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3 PROFESSOR DE EDUCAÇÃO FÍSICA E A DITADURA MILITAR NO BRASIL COMANDADO OU COMANDANTE? WESLEY BATISTA ARAÚJO SHEILA DOS SANTOS SILVA

4 2012 Wesley Batista Araújo; Sheila Aparecida Pereira dos Santos Silva Direitos desta edição adquiridos pela Paco Editorial. Nenhuma parte desta obra pode ser apropriada e estocada em sistema de banco de dados ou processo similar, em qualquer forma ou meio, seja eletrônico, de fotocópia, gravação, etc., sem a permissão da editora e/ou autor. Ar12 Araújo, Wesley Batista; Silva, Sheila Aparecida Pereira dos Santos. Professor de Educação Física e a Ditadura Militar no Brasil: Comandado ou comandante?/wesley Batista Araújo; Sheila Aparecida Pereira dos Santos Silva. Jundiaí, Paco Editorial: p. Inclui bibliografia. ISBN: Educação Física 2. Educação 3. Ditadura Militar 4. Golpe Militar. I. Araújo, Wesley Batista II.Silva, Sheila Aparecida Pereira dos Santos. Índices para catálogo sistemático: 1. Educação Física Esportes História do Brasil Escola Métodos de Ensino. Pedagogia. A Escola Política Escolar 371 CDD: IMPRESSO NO BRASIL PRINTED IN BRAZIL Foi feito Depósito Legal Rua 23 de Maio, 550 Vianelo - Jundiaí-SP contato@editorialpaco.com.br

5 AGRADECIMENTOS À Universidade São Judas Tadeu que, por meio do trabalho dedicado dos professores, alunos e funcionários do curso de Pós-Graduação/Mestrado, foi o cenário para o desenvolvimento deste livro. Aos professores e professoras por mim entrevistados, que além do excelente acolhimento, compartilharam de forma intensa suas experiências do cotidiano pedagógico. À professora Sheila, que com sutileza e tenacidade soube me indicar os caminhos na produção desta obra. E, por fim, agradeço a família que tenho e a minha princesinha Nicole, que em meados de 2010 veio abrilhantar nossas vidas.

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7 Prefácio Ao ser convidada por Wesley Araújo, o autor, e pela Profa. Dra. Sheila Silva, orientadora do trabalho de mestrado, pensei que seria um exercício pessoal de dedicação e de sensibilidade. De dedicação, pois não se prefacia um livro sem estudá-lo por inteiro; conversando, pensando, indagando, assinalando, e... fazendo orelhas em suas páginas (sinto muito dizer, mas faço isso) e outro de sensibilidade, pois, lendo e questionando, também me ponho a pensar como é o seu autor; o que o mobiliza, que história de vida tem; o que o anima... Enfim, por meio das muitas e densas folhas digitadas letra por letra, exaustivamente escritas e muitas vezes refeitas, além das ideias, Wesley também me levou rever e descobrir outras e novas formas de enxergar uma realidade que vivi. A obra de Wesley Araújo contextualiza o cenário internacional e nacional; modelos, inclinações históricas, sociais, políticas, culturais, formas de entender o mundo e de vivê-lo, particularmente no Brasil, nos anos da Ditadura Militar. Buscando responder se o regime ditatorial provocou alterações na docência da Educação Física escolar, o estudioso faz uma cuidadosa análise do curso de graduação em Educação Física em uma Instituição em Jundiaí; cidade do interior do estado de São Paulo; as razões de sua fundação, a organização curricular, os programas de Estudos dos Problemas Brasileiros, Sociologia, Voleibol e de Psicologia, além de indicar a tendência à esportivização (práxis da época) e o caráter pretensamente inovador com a inclusão de conteúdos humanistas. Para o pesquisador, o exercício profissional reflete a formação acadêmica que, ao longo do tempo, ajusta- -se frente à realidade com a qual o docente se depara. Em extenso e interessante capítulo apresenta proposições e diálogos com seis docentes homens e mulheres; o percur-

8 so histórico, a atuação nas instituições e a visão de mundo de cada professor. Em cada relato observa-se uma existência plena de significados que revelam o estado de alma de cada um dos entrevistados; sua vocação, comprometimento com a formação dos estudantes, fé e energia empreendidas nas escolas seja para ministrar aulas seja para atuar junto à direção de modo a alterar a organização do espaço físico trocando madeiras por tijolos. Seria uma metáfora para a construção e legitimação da área? Nada, quase nada escapou ao autor; as leis e os tantos decretos existentes naquele então, os planos de ensino, os possíveis conteúdos e as emergentes questões ligadas à programação da aptidão física e do esporte verdadeiras ondas que nos invadiram com sua força imensa, fruto de um movimento internacional... E, sobretudo, a vontade de lecionar dos docentes, embora hoje reconheçamos não dispuséssemos do espírito científico que possuímos atualmente. O que se realizou na época estudada foi, certamente, aquilo que se julgou ser o melhor para cada realidade. Dentro das possibilidades e recursos, cada professor pode implementar com liberdade o método, a modalidade e a avaliação que entendesse como a mais adequada à sua turma. Essa novidade me parece ser muito significativa, pois vai de encontro à ideia presente em muitas obras. Se as aulas de Educação Física serviram como modeladoras de comportamento dos jovens, por que havia liberdade para ensinar apesar das orientações governamentais? Se a Educação Física escolar tinha um papel relevante, então por que foi tão malcuidada? Se as aulas e seus conteúdos atuavam de maneira a reproduzir as orientações do regime vigente, por que era destituída de recursos físicos e humanos? Sendo, como afirmam, um elemento tão importante para a manutenção da ordem e da criação de cidadãos acríticos, por que não houve supervi-

9 são e efetiva implantação do manual denominado Verdão? Por que a professora nunca teve o seu diário de classe supervisionado e os critérios de promoção dos estudantes variavam de docente para docente? E agora José?, com que versão ficamos? Ah! O tempo, ao que parece, revela muita coisa. Então, prefiro arriscar dizer que nem vítimas, nem algozes; mas, sim, sujeitos de seu tempo histórico. Isso não justifica. A ideia parece não se esgotar, ao contrário, nos anima sempre pensar que ainda temos muito a aprender! Ana Cristina Arantes é Graduada em Pedagogia e em Educação Física, Especialista em História de São Paulo pelo Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, Mestre em Educação Física e Doutora em Educação pela Universidade de São Paulo. Professora do curso de graduação em Educação Física das Faculdades Metropolitanas Unidas e do UNIFIEO.

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11 Sumário Introdução...13 Capítulo 1 Sobre a Ditadura Militar no Brasil...17 Capítulo 2 A Educação no período da Ditadura Militar no Brasil: a história que nos é contada As reformas educacionais no período da Ditadura...29 Capítulo 3 A história da EF no Brasil: o que conta a literatura especializada dos anos 1980 e Crítica à literatura especializada: para uma visão distante da linearidade...60 Capítulo 4 O contexto vivido e as histórias contadas sobre a formação de professores de EF...83

12 Capítulo 5 O professor de EF como aquele que educa por meio do esporte O Esporte na formação do profissional de EF A prática pedagógica dos professores de EF na escola Autonomia dos professores de EF em relação ao governo Capítulo 6 A compreensão dos professores sobre a EF do passado e do presente Referências...155

13 Introdução Cotidianamente, professores de Educação Física (EF) efetivam sua prática pedagógica em escolas ou fora delas. O contexto social, sem dúvida alguma, interfere nela por meio de diversos condicionantes. Sendo assim, compreender o papel que o professor de EF exerce em diferentes locais e em diferentes épocas contribui para que ele próprio perceba sua influência na constituição de pessoas e de sociedades, como para que a sociedade entenda os limites e possibilidades da atuação desse profissional. Via de regra, diversos segmentos sociais depositam imaginários sobre a atuação desse profissional que não coincidem e, às vezes, até conflitam com aquilo que o profissional de EF julga que seja o correto efetivar. Hoje, por exemplo, imagina-se que é o professor de EF que atua em escolas o responsável para que o Brasil identifique e desenvolva os talentos esportivos que trarão as medalhas desejadas nos próximos Jogos Olímpicos. Trata-se de mais um entre tantos imaginários que podem gerar equívocos e situações sobre as quais é difícil agir e cuja presença na história da EF brasileira parece que já está se tornando uma tradição. Sendo assim, com este livro buscamos contribuir para compreender como os professores de EF escolar efetivaram suas práticas pedagógicas num período específico da história brasileira o período da Ditadura Militar buscando identificar se e como a Ditadura Militar interferiu nelas e, a partir daí, comentar se aquela figura de professor de EF visto como marionete ou vítima desse sistema político se materializou na região estudada a cidade de Jundiaí, em São Paulo. Acreditamos que essa releitura sobre as práticas docentes se faz necessária ao percebermos que ainda é muito corrente a imagem criada pelo discurso acadêmico dos anos 1980 e 1990 que vitimizou os professores de EF que atuaram no 13

14 WESLEY BATISTA ARAÚJO & SHEILA DOS SANTOS SILVA período da Ditadura Militar, como se as leis, decretos, o autoritarismo e os cerceamentos tão comuns à época fossem totalmente capazes de enquadrar e controlar o professor no seu cotidiano pedagógico. Arriscamos, aqui, tecer uma crítica a tal literatura na primeira parte desta obra, buscando nos distanciar de uma visão de perspectiva parcial, linear e determinista que importantes intelectuais brasileiros se propuseram a tecer e que se tornaram referência quase exclusiva daqueles que se propuseram a enveredar pela história da EF em nosso país, correndo o risco de tomar tais histórias como únicas e verdadeiras, deixando à margem desse processo os seus mais importantes atores os professores. Aqui fizemos o caminho inverso, ou seja, buscamos ouvir os professores que atuaram no período, relatando seus anseios, interesses, angústias, enfim, buscando compreender como aqueles sujeitos rodeados por um forte regime opressor e autoritário efetivaram suas práticas pedagógicas. Seus depoimentos foram comentados e confrontados com a literatura exposta na primeira parte deste livro, sempre que possível destacando o contraste entre eles. Na segunda parte desta obra, mostraremos como a rebeldia do cotidiano por inúmeras vezes escapava às preconizações legais, e, por mais que houvesse um cerceamento nas ações docentes, os professores rompiam com o preestabelecido. Isso acontecia, não porque eram contra as políticas ditatoriais, mas porque muito do que foi imposto não convergia com as necessidades, expectativas e interesses dos professores daquele período histórico e, por isso, não foram levadas a cabo, por mais que uma vasta literatura insista nisso. Longe de serem as marionetes controladas por um governo consubstanciado com a classe dominante a fim de incutir suas ideologias, esses professores tiveram autonomia para decidir o que queriam fazer, como queriam e se pre- 14

15 PROFESSOR DE EDUCAÇÃO FÍSICA E A DITADURA MILITAR NO BRASIL tendiam fazer o que era preconizado pelo governo. Este, por sua vez, longe de ter a EF como menina dos olhos, como instrumento para o controle da sociedade urbana emergente, mal oferecia uma diretriz pedagógica adequada aos seus interesses ideológicos, deixando os professores à mercê da sua própria boa vontade e de seus recursos. Com isso, o que pretendemos aqui é contar outra face da história sobre as práticas pedagógicas de professores de EF no período da Ditadura Militar no Brasil, desta vez, a partir da visão daqueles que estiveram à frente de todo o movimento de implementação da EF pós-lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional n /71. Portanto, convidamos a romper com o discurso que vitimiza o professor, lançando-se numa história que não há bonzinhos e mauzinhos, mas sujeitos que lutam como podem na tentativa de validação e legitimação de seus interesses, expectativas e necessidades. No que tange a esta obra, os professores por nós entrevistados lutaram por um lugar ao sol em uma área historicamente incompreendida e, frequentemente, desdenhada pela própria Educação. 15