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1 PUBVET, Publicações em Medicina Veterinária e Zootecnia. Disponível em: < Fatores ambientais que influem no tempo de corridas de cavalos Puro- Sangue Inglês Mota, M.D.S. e Abrahão, A.R. Departamento de Melhoramento e Nutrição Animal, FMVZ Unesp, Botucatu, Brasil, Caixa postal 560, CEP RESUMO Desde sua introdução no Brasil, em 1871, a raça Puro-Sangue Inglês desenvolveu-se intensamente, constituindo-se atualmente em uma enorme indústria que emprega milhares de pessoas e movimenta milhões de dólares anualmente. Apenas o valor imobilizado nos 15 mil animais em atividade, cinco mil éguas de cria, 350 garanhões e o restante dos animais em treinamento, supera um bilhão de dólares. O objetivo deste trabalho foi estudar a influência de alguns fatores ambientais sobre o tempo (s) de corridas de cavalos da raça Puro-Sangue Inglês no Brasil. Os dados foram fornecidos pela empresa Turftotal Ltda. e consistiam de tempos de corrida de animais ao longo de onze anos ( ), nos hipódromos de Cidade Jardim (São Paulo) e Gávea (Rio de Janeiro). As análises estatísticas foram realizadas a partir do procedimento GLM do programa SAS. O modelo utilizado para a

2 avaliação incluiu os efeitos de sexo (macho e fêmea), hipódromo, número de competidores no páreo (5 a 12), raia (grama ou areia), posição de largada (1 a 11), mês e ano da corrida, idade (3 a 7 anos), período da corrida (diurno ou noturno), além das covariáveis distância do páreo (1.000 a m), peso do cavalo (320 a 598 kg) e peso do jóquei (50 a 60 kg). Todos os fatores considerados no modelo foram significativos (P<0,0001) e as interações entre eles não se mostraram importantes. O tempo médio de corrida observado foi 80,68 s com coeficiente de variação de 2,25%. Machos, raias de grama, período diurno e hipódromo Cidade Jardim apresentaram médias de tempo significativamente melhores. Corridas realizadas com cinco competidores e mês de fevereiro foram as que se mostraram com melhor desempenho. As posições de largada mais internas foram significativamente melhores que as externas. Observou-se tendência dos tempos de corrida crescerem dos 3 aos 5 anos, passando a piorar após esta idade. A avaliação das covariáveis peso do cavalo e peso do jóquei evidenciou piora de 0,036 s e 0,56 s no tempo de corrida para cada kg a mais de peso no cavalo e jóquei, respectivamente, ao passo que para a distância este aumento foi de 0,065 s para cada metro a mais percorrido. Palavras-chave: eqüinos, desempenho em corridas, efeitos de ambiente INTRODUÇÃO Desde sua introdução no Brasil, em 1871, a raça Puro-Sangue Inglês desenvolveu-se intensamente, constituindo-se atualmente em uma enorme indústria que emprega milhares de pessoas e movimenta milhões de dólares anualmente. Apenas o valor imobilizado nos 15 mil animais em atividade, cinco mil éguas de cria, 350 garanhões e o restante dos animais em treinamento, supera um bilhão de dólares (Ielo, 2000). Apesar de relativamente bem estudado nesta raça, o tempo em corridas, excetuando-se Austrália e Japão, vem sendo considerado apenas para animais vencedores, uma vez que informações para as demais colocações raramente

3 são registradas pelas associações de criadores de outros países. Isto significa, que a maior parte das pesquisas com tempo em Puro-Sangue Inglês trabalha apenas com o universo de ganhadores, limitando uma interpretação mais precisa em termos populacionais. Assim, o conhecimento dos fatores de ambiente que influenciam no tempo em corridas não somente dos vencedores é fundamental para elaboração de programas consistentes de melhoramento animal. Nesse sentido, o presente trabalho objetivou estudar a influência de alguns fatores ambientais sobre o tempo em corridas de cavalos da raça Puro- Sangue Inglês, a fim de aprofundar o conhecimento desta característica na população nacional e fornecer subsídios para elaboração de programas de criação mais consistentes. MATERIAL E MÉTODOS Os dados empregados neste estudo foram fornecidos pela empresa Turftotal Ltda. e abrangeram observações de tempo em corrida de animais ( machos e fêmeas) que correram em pista de areia (12.960; 57,7%) e grama (9.497; 42,3%) ao longo de 11 anos ( ), nos hipódromos de Cidade Jardim ( SP) e Gávea (8.886 RJ), em distâncias de 1000 a 1600 m. Cada páreo envolveu no mínimo cinco competidores, com média de 9,3 cavalos, e 80% das informações compreendiam-se entre 7 e 12 animais. A partir do horário e mês do páreo dividiu-se o período de corrida em diurno (meses de outubro a março e horário menor que 19:30 h e meses de abril a setembro e horário menor que 17:30 h) e noturno (abril a setembro e horário maior que 17:30 h e outubro a março e horário maior que 19:30 h), a fim de estudar a influência deste efeito sobre o tempo em corridas. Para a montagem dos arquivos, consistência e verificação dos efeitos ambientais que interferem no tempo em corridas, utilizou-se o programa estatístico SAS (1996).

4 O modelo linear empregado para a descrição dos dados envolveu os efeitos de hipódromo (Cidade Jardim e Gávea), sexo (macho e fêmea), número de competidores no páreo (5 a 12 animais), raia (areia ou grama), baliza (local de largada 1 a 11), mês (1 a 12) e ano (1992 a 2002) do páreo, idade ( 3 anos, 4, 5, 6 e 7 anos), período (diurno e noturno), além das covariáveis peso do jóquei (50 a 60 kg), peso do cavalo (320 a 579 kg) e distâncias (1000, 1100, 1200, 1300, 1400, 1500 e 1600 m). Ano e mês de nascimento, e interações entre os efeitos incluídos no modelo não se mostraram importantes em análises prévias. Testes de contraste foram realizados, ao nível de 5% de significância, para certas classes de efeitos fixos considerados relevantes. RESULTADOS E DISCUSSÃO O tempo médio em corrida observado foi 80,68s com coeficiente de variação de 2,24%, e o modelo para explicá-lo apresentou coeficiente de determinação (R 2 ) igual a 97,84%. Na Tabela 1 a seguir é apresentado um resumo da análise de variância para esta característica. Tabela 1. Resumo da análise de variância para tempo em corridas. Fontes de variação G.L. Quadrado Médio Pr>F Local ,68 0,0001 Sexo ,5 0,0001 Número de 7 521,50 0,0001 participantes Raia ,36 0,0001 Peso do cavalo ,49 0,0001 Baliza 10 12,03 0,0001 Peso do jóquei 1 28,52 0,0033 Ano páreo ,26 0,0001 Mês do páreo ,6 0,0001 Idade ,59 0,0001 Período ,9 0,0001 Distância ,59 0,0001

5 Os valores de contrastes dos efeitos de hipódromo, sexo, raia e período da corrida são apresentados na Tabela 2. Tabela 2. Valores de contrastes dos efeitos de hipódromo, sexo, raia e período da corrida. Efeito Classe Contraste (s) Hipódromo São Paulo 0,00 Rio de Janeiro 1,14 Sexo Macho 0,00 Fêmea 0,42 Raia Grama 0,00 Areia 2,94 Período Diurno 0,00 Noturno 0,36 Machos, pista de grama e hipódromo Cidade Jardim foram significativamente (P<0,0001) mais velozes, concordando com os relatos de Mota et al. (1998) em Puro-Sangue Inglês vencedores, embora estes autores tenham reportado diferenças menores entre as classes (inferioridades de 0,391s, 0,909s e 0,098s, respectivamente para fêmeas, pista de areia e hipódromo da Gávea). Corridas diurnas apresentaram-se significativamente mais rápidas (P<0,0001) que as noturnas, e nenhuma avaliação desta natureza foi encontrada na literatura. Fatores como temperatura, umidade e tipo de iluminação (artificial ou natural) podem, em parte, explicar esta diferença. Posições de largada (balizas) mais internas (1, 2 e 3) apresentaram tempos de corrida significativamente melhores (P<0,0001) que as demais, estando em concordância com resultados de Hintz e Van Vleck (1978). Segundo estes autores, posições de largada mais externas mostraram-se desvantajosas em relação a outras posições. Geralmente, em posições mais

6 internas os cavalos têm mais chances de vencer, uma vez que é mais fácil conseguirem uma boa posição no inicio da corrida (Horse Racing, 2001). Além disso, estas diferenças devido à posição de largada podem ocorrer em função dos jóqueis evitarem correr por fora em uma curva. Assim, no inicio da corrida, os jóqueis que largaram em posições mais externas freqüentemente contém o ritmo de seus cavalos, deslocando-os para parte mais interna da pista, a fim de não correrem por fora na primeira curva (Hintz e Vanvleck, 1978). Isto porque, os cavalos perdem terreno enquanto correm por fora, e, dependendo do tempo em que ficam nesta posição, podem ser adversamente afetados. O número de competidores no páreo afetou significativamente o tempo em corridas, com nítida tendência de piorar a medida em que o número de animais aumentava. Páreos com 5 animais foram significativamente (P<0,0001) mais rápidos que os demais, enquanto que os piores desempenhos acontecem em corridas com 10, 11 e 12 participantes. Este resultado discorda do reportado por Mota et al. (1998), também em Puro- Sangue Inglês nacionais, e esta diferença, em parte, pode ser devida a consideração de apenas animais vencedores feita por estes autores. A idade dos animais ao páreo afetou significativamente o tempo em corridas, com clara tendência de melhoria dos 3 (+ 0,59s) aos 5 anos, idade em que começam a piorar (6 anos +0,21s e 7 anos +0,45s). Resultados semelhantes foram observados por Buttram et al. (1988), Ojala e Van Vleck (1981) e Villela et al. (2002), mas diferiram dos relatados por Oliveira (1989) e Mota et al. (1998), também em Puro-Sangue Inglês no Brasil, os quais não encontraram diferenças significativas de idade na velocidade e melhor tempo de cavalos vencedores, respectivamente. Embora tenha se observado influências significativas de mês e ano do páreo, com os melhores desempenhos ocorrendo em fevereiro e 1999, e os piores em julho e 1994, não se constatou nenhuma tendência que definisse um padrão para estes efeitos. A avaliação da covariável distância da corrida (Figura 1) evidenciou aumento de 0,065s para cada metro a mais percorrido. Por outro lado, as

7 regressões do tempo sobre o peso do jóquei (Figura 2) e peso do cavalo (Figura 3) indicam piora de 0,56s e 0,036s, no tempo de corrida para cada kg a mais de peso do jóquei e do cavalo, respectivamente. Figura 1 Regressão linear do tempo (s) sobre a distância (m) da corrida Figura 2 Regressão linear do tempo (s) sobre o peso do jóquei (kg)

8 Figura 3 Regressão linear do tempo (s) sobre o peso do cavalo (kg) REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BUTTRAM, S.T.; WILSON, D.E.; WILLHAM, R.L., 1988: Genetics of racing performance in the American Quarter horse. III. Estimation of variance components. J. Anim. Sci. 66: HINTZ, R.L., VAN VLECK, L.D Factors influencing racing performance of the Standardbred pacer. J. Anim. Sci. 46: HORSE RACING Glossary. Internet : IELO, M Puro-sangue, negócio bilionário. O Estado de São Paulo, suplemento Cavalos K - 3, São Paulo, MOTA, M. D. S.; OLIVEIRA, H. N.; SILVA, R.G., 1998: Genetic and environmental factors that affect the best time of Thoroughbred horses in Brazil. J. Anim. Breed. Genet. 115: OJALA, M. J.; VAN VLECK, L. D., 1981: Measures of racetrack performance with regard to breeding evaluation of trotters. J. Anim. Sci. 53: OLIVEIRA, L.F.S Fatores que influem no desempenho e seleção de cavalos de corrida da raça P.S.I..Universidade de São Paulo, Piracicaba. Dissertação de mestrado. SAS, Systems Analyses Statistical. User s guide: basics and statistics. SAS Inst. Inc. Cary, NC, 956p. VILLELA, L.C.V.; MOTA, M.D.S.; OLIVEIRA; H.N., 2002: Genetic parameters of racing performance traits of Quarter horses in Brasil. J. Anim. Breed. Genet. 119,