João Rodrigues Tavares Junior 1 Ana Lúcia Bezerra Candeias 2. Departamento de Engenharia Cartográfica - DECART joaoufpe@gmail.com; analucia@ufpe.

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1 LOCALIZAÇÃO DE ATERROS NO RECIFE ANTIGO, PERNAMBUCO A PARTIR DO GEORREFERENCIAMENTO DOS MAPAS HOLANDÊS DE 1648, INGLÊS DE 1907, DA PLANTA CADASTRAL DE 1990 E DA IMAGEM HRC-2008 Location of landfill in Recife Antigo, Pernambuco from georeferenced of Dutch Map of 1648, English Map of 1907, Cadastral Map of 1990 of and HRC-2008 Image João Rodrigues Tavares Junior 1 Ana Lúcia Bezerra Candeias 2 1,2 Universidade Federal de Pernambuco - UFPE Departamento de Engenharia Cartográfica - DECART joaoufpe@gmail.com; analucia@ufpe.br RESUMO Este artigo mostra como as tecnologias da geoinformação podem auxiliar na análise histórica multitemporal do terreno para diversos fins tais como: intervenções na construção civil e, em prováveis achados arqueológicos na área. Foram usados o mapa Holandês de 1648, o mapa Inglês de 1907, a imagem HRC-CBERS-2B de 2008, e a planta cadastral de 1990, na escala de 1:1000, georreferenciados em WGS84-UTM para localizar os aterros na área analisada. Foram usados seis pontos no georreferenciamento dos mapas de 1648 e A partir daí fez-se a sobreposição dos dois mapas, da planta e da imagem HRC. Tomou-se a planta cadastral como base cartográfica de referência. Os aterros e o crescimento urbano podem ser analisados em termos de área e forma das feições. Por exemplo, A Rua do Bom Jesus, a Igreja da Madre de Deus, a Rua Vigário Tenório e o Shopping Alfândega foram construídos em solo firme. Já os armazéns da área portuária foram construídos nas áreas aterradas. Fazendo-se uma quantificação das áreas aterradas temos que em termos percentuais, comparando a área atual com a área em 1648, que a área estudada do Recife Antigo era bem menor e somava apenas um total de 39,67% da área atual. Deste valor tinha-se que 22,35% eram de solo firme e 17,32% de área alagável. Palavras chaves: Sensoriamento Remoto, Mapa Inglês, Mapa Holandês, Aterros. ABSTRACT This article shows how geoinformation technology can help in multitemporal historical analysis of land to various purposes such as interventions in construction and archaeological investigation in the area. We used the Dutch map of 1648, the English map of 1907, the HRC image CBERS-2B-2008, and the cadastral plant of 1990, scale of 1:1000, georeferenced in WGS84, UTM to locate landfills in the analyzed area. Six points were used in the georeferenced of maps from 1648 and After that did the overlap of the two maps, cadastral plant and HRC image. Cadastral plant was the base reference. Landfills and urban growth can be analyzed in terms of area and shape features. For example, Bom Jesus street, Church of Madre de Deus, Vigário Tenório street and the Shopping Alfândega and were built on solid ground. Already the warehouses of the port area were built in grounded areas. A quantification of areas that have landed was made. Comparing current area with the map of 1648, of Recife Antigo study area was seen that much lower and amounted to a total of only 39.67% of the current area. Firm ground was a total of 22.35% and wetland was a total of 17.32%. Keywords: Remote Sensing, English Map, Dutch map, Cartography History of Recife. 1

2 1. INTRODUÇÃO A informação espacial sempre foi crucial para a história antiga e atual na gestão e tomada de decisão de uma cidade. Isto não é diferente para o caso do Recife. Na ocupação das ilhas do estuário do Rio Capibaribe e Rio Beberibe em Pernambuco, que foi iniciada no século 17, tem-se historicamente que esta ocupação foi retratada a partir de mapas portugueses, holandeses e ingleses. Esta cartografia local servia para o planejamento e expansão urbana e para defesa militar. Para os holandeses na época que estiveram em Pernambuco, por exemplo, era decisiva a informação espacial, considerando que as forças luso-brasileiras conheciam muito bem o terreno, e usavam intensamente estes subsídios nas táticas de guerrilha e emboscadas (ALBUQUERQUE, 2007; PEREIRA, 2006). VASCONCELLOS e SÁ (2011) apresentam um relato da visualização cartográfica da evolução da Região Metropolitana do Recife (RMR) detalhando historicamente estas etapas desde 1534 até Um estudo da evolução urbana do Recife antigo pode ser encontrado em MENESES (1988) em seu Atlas histórico cartográfico do Recife. Os acidentes geográficos do estado e o Recife Antigo estão entre os primeiros relatos de mapeamento da época da chegada dos portugueses ao Brasil, no século XVI. Os holandeses, no período de elaboraram mapas para organizar táticas de tomadas de fortificações, estudaram os terrenos não inundáveis, analisaram a estabilidade de estruturas submetidas a ondas e marés, além de estudaram os obstáculos oferecidos pela hidrografia e relevo. No início do século XX, com a vinda dos ingleses para Recife, houve a construção de mapas e plantas urbanas usando o método topográfico para projeto e construção de infraestruturas como ferrovias e estradas. 1.1 Análise multitemporal com mapas antigos do Recife e os aterros TAVARES JR e CANDEIAS (2011) descrevem o desenvolvimento histórico dos mapas em Pernambuco e propõem uma análise multitemporal com mapas antigos e imagem HRC/CBERS. Estes autores relatam que a cidade do Recife teve sua origem nas ilhas e sobre o antigo cordão litorâneo original do estuário do Rio Capibaribe e Rio Beberibe, e sua ocupação, em particular do Recife Antigo, se expandiu por aterros produzindo níveis de aterros do leito do Rio Capibaribe, demolição de quadras inteiras, elevação da cota das áreas já construídas, transformações estudadas por arquitetos, arqueólogos e geógrafos. A cidade do Recife era ligada a cidade de Olinda por um cordão litorâneo (depois cortado dando lugar a Ilha do Recife) e oferecia, desde sua origem em uma vila de pescadores, abrigo às embarcações estrangeiras, desembarque de soldados e escoamento do açúcar, entre outras funções. Estudos sobre a localização espacial de ruas, edificações importantes, tem recorrido à sobreposição de mapas antigos para reconstituir a localização destas ruas e imóveis, moradias de importantes dirigentes, e com isto produzido plantas urbanas sobrepostas na mesma escala de distintas épocas (MENEZES, 1988). SANTOS e ALBUQUERQUE (2003) apresentam justificativas para o Recife antigo sofrer intervenções de sucessivos aterros e eles afirmam que foram feitos para a expansão do povoamento inicial do Recife que era de uma pequena vila em uma estreita faixa arenosa entre o mar e o Rio Beberibe para dar suporte a criação do Porto para escoamento da produção da Capitania de Pernambuco. Com o período da ocupação holandesa no Nordeste do Brasil, no século XVII, ocorreram novos aterros. Segundo estes autores, o estudo das camadas de aterro permite um melhor entendimento no que concerne à dimensão das intervenções antrópicas no curso dos rios que cortam a cidade e da evolução. A Figura 1 apresenta um mapeamento multitemporal do mapeamento do Bairro do Recife Antigo que retrata esta área do período entre 1631 à Esta Figura mostra modificações no terreno da área analisada e sua evolução urbana. O resultado desta evolução foram sucessivos aterros no Recife antigo. 2

3 (a) Mapa referência: J. Teixeira Albernazi (b) Mapa referência: anônimo, in Barleus (c) Mapa referência: C. B. Golijath (d) Mapa referência: Velloso / Corte Real (e) Mapa referência: anônimo, biblioteca de Évora (f) Mapa referência: J. F. Portugal (g) Mapa referência: Eliziário / Mamede (h) Mapa referência: Douglas Fox Fig. 1 Evolução Urbana no Recife Antigo. Fonte: A partir dos mapas do Recife Antigo, Pernambuco, dos séculos 17, 18 e 19 é possível analisar diferentes momentos do crescimento urbano e também dos sucessivos aterros nos bairros de Santo Antônio, São José, Coelhos, Santo Amaro e Recife Antigo e podem ser vistos como planos de informação com dados do terreno para uma análise multitemporal. Estes planos podem ser comparados com as informações vetoriais da Base Cartográfica e também confrontadas a partir da informação raster de uma imagem de Sensoriamento Remoto e ou fotografia aérea. Neste trabalho se analisa quantitativamente, os sucessivos aterros para o Recife Antigo e a Base Cartográfica (Planta Cadastral de 1990) além de uma imagem do sensor HRC/CBERS do ano de 2008 como informação atual da área e compara-se com as mudanças sofridas com o Mapa Holandês de 1648 e o Mapa Inglês de No processo de georreferenciamento foram utilizadas as informações obtidas em TAVARES JR e CANDEIAS (2011) e também os respectivos cuidados deste procedimentovistos naquele trabalho. A partir dos dados 3

4 georreferenciados é possível analisar os mapas antigos sob a ótica dos aterros ocorridos na região do Bairro do Recife Antigo e seu entorno. Além disto, estes mapas podem facilitar na avaliação inicial do terreno na área da geotecnia, nas intervenções arqueológicas da área. 2. METODOLOGIA A metodologia do presente trabalho é dividida nas seguintes etapas: 1- Pesquisa dos mapas antigos com edificações comuns; 2- Levantamento de pontos em comum das estruturas originais resgatados por arqueólogos dos anos 1600 até o presente da área do Recife Antigo; 3- Georreferenciamento dos mapas com mesmo sistema geodésico de referência e sistema de projeção; 4- Obtenção de coordenadas GPS das estruturas comuns aos mapas; 5- Sobreposição e transparência dos mapas; 6- Análise visual e medição de diferenças de áreas geradas na sobreposição de mapas antigos e imagem: um holandês de 1648, com inglês de 1907, (planta da cidade do Recife na escala original de 1/ de Sir Douglas Fox e H. Michell Whitley), com uma imagem pancromática CBERS-2B/HRC de 2008 em SAD/69 (South American Datum 1969). As sobreposições foram realizadas na seguinte ordem com os pares HRC-planta cadastral e HRC- planta cadastral. 7- Digitalização e avaliação das áreas de aterro. Foram definidos seis pontos (Figura 2) homólogos das edificações remanescentes resgatados por estudos arqueológicos para o georreferenciamento dos mapas com a imagem HRC/CBERS. Estes pontos representam a ligação geográfica entre os mapas e as imagens: P1- pátio do Forte de Cinco Pontas; P2- cruzamento do Cais da Alfândega com a Av. Marques de Olinda, P3- a parte de trás do prédio da Sinagoga Kahal Zur Israel; P4- parte da estrutura de defesa na Travessa Bom Jesus; P5- poço do Forte do Brum; P6- bastião sudeste do Forte do Brum. Utilizou-se um polinômio de 1º grau para o trabalho e seis pontos homólogos, estabelecendo assim um vínculo cartográfico e de posicionamento de estruturas representadas entre os mapas. Todos os mapas e a imagem são georreferenciados em WGS84. A imagem do CBERS 2-B/HRC possui as seguintes características: pancromática (banda µm), oito bits, e pixel de 2,7 m (INPE, 2013). A Figura 2 mostra os seis pontos homólogos para a imagem HRC de 2008, planta cadastral do projeto UNIBASE de 1990 (Base Cartográfica), mapa de 1907 e mapa de A aquisição dos pontos foi a mesma de TAVARES e CANDEIAS (2011). 4

5 Fig. 2 Pontos homólogos: Mapa Holandês de 1648, Mapa Inglês de 1910, Imagem HRC 2008, Planta Cadastral de Fonte: TAVARES JR e CANDEIAS (2011) 3. RESULTADOS E CONSIDERAÇÕES FINAIS O resultado da sobreposição para se observar as áreas aterradas são apresentados na Figura 3. A sobreposição do mapa de 1648 com o mapa de 1907 é mostrado na Figura 3(a). A sobreposição da Imagem HRC/CBERS 2008 com o mapa de 1648 é mostrada na Figura 3(b). E a sobreposição da imagem HRC/CBERS 2008, base cartográfica 1990, mapa de 1907, com o mapa de 1648 é vista na Figura 3(c). Observa-se uma grande diferença no terreno no decorrer dos anos 1648 a 2008 e que grande parte do atual Recife Antigo (imagem HRC-CBERS) CBERS) foi construída a partir de aterros (Figura 3(c)). 5

6 (a) Mapa de 1648 e Mapa de 1907 (b) Imagem HRC/CBERS 2008 e Mapa de (c) Imagem HRC/CBERS 2008, Base Cartográfica 1990, Mapa de 1907, e mapa de Fig. 3 Sobreposição da imagem HRC/CBERS2008, mapas de 1648 e 1907 e base cartográfica de A Figura 4 apresenta uma análise multitemporal da área. Comparando esta figura com a Figura 1 (h) observase que a Rua do Bom Jesus, a Igreja da Madre de Deus, a Rua Vigário Tenório e o Shopping Alfândega foram construídos em solo firme. Já os armazéns da área portuária foram construídos nas áreas aterradas. Fazendo-se uma quantificação das áreas aterradas temos pela Figura 4 que, em termos percentuais, comparando a área atual com a área em 1648 observa-se que a área estudada do Recife Antigo era bem menor e somava apenas um total de 39.67% da área atual. Deste valor tinha-se que 22.35% era de solo firme e 17.32% de área alagável. Estes valores foram obtidos a partir dos planos de informação que geraram a Figura 4. A informação espacial é importante na gestão e na tomada de decisão de uma cidade. Futuras intervenções da Engenharia Civil que estão previstas para a área do Recife Antigo, Pernambuco, e prováveis achados arqueológicos podem se utilizar dos recursos da análise mutitemporal apresentados neste artigo para auxiliá-los. 6

7 Recife Antigo 1648, 1907, 1990 e µ LEGENDA Mapa Terra Firme Mapa Área Alagável Mapa Contorno Base Cartog Meters HRC/CBERS Contorno WGS84 UTM 24S Planta cadastral do projeto UNIBASE de 1990 Mapa Inglês 1907 Mapa Holandes 1648 HRC-CBERS 2008 Fig. 4 Análise multitemporal da área REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALBUQUERQUE, M. Arqueologia O Forte do Brum. Revista da cultura. Ano VII. No. 13. pp Instituto Nacional de pesquisas Espaciais - INPE. Acessível na URL Consulta em 16/09/2013. MENESES, J. L M. Atlas histórico cartográfico do Recife. Fundação Joaquim Nabuco. Editora Massangana. 110p PEREIRA, S. C. Caminhos na resistência o espaço do Recife durante a ocupação neerlandesa ( ) em Pernambuco (Brasil). Dissertação de mestrado. Programa de Pós-Graduação em Geografia. Recife p. SANTOS, A. P. P. dos; ALBUQUERQUE, M. Do istmo à ilha: Arqueologia Histórica e o estudo dos aterros do Recife Antigo. In: Congresso da Sociedade de Arqueologia Brasileira Arqueologias da América Latina, 12., 2003, São Paulo. Resumos... São Paulo: All Prints Produções, p

8 TAVARES JR e CANDEIAS A. L. B. Avaliação qualitativa de mapa inglês e holandês do Recife antigo e bairro de Santo Antônio e São José, Pernambuco, usando imagens CBERS/HRC. In: Anais do I Simpósio Brasileiro de Cartografia Histórica. pp Acessível na URL df. Acessado em 16/09/2013 VASCONCELOS, T. L. e SÁ, L. A. C. M. A Cartografia Histórica da Região Metropolitana do Recife. In: Anais do I Simpósio Brasileiro de Cartografia Histórica. pp Acessível na URL f. acessado em 16/09/2013 8