UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

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1 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU INSTITUTO A VEZ DO MESTRE O CONTRATO DE SEGURO E O DIREITO DO CONSUMIDOR Por: Raquel da S. M. Alves Orientador Prof. Sergio Ribeiro Prof. William Rocha Rio de Janeiro 2006

2 2 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU INSTITUTO A VEZ DO MESTRE O CONTRATO DE SEGURO E O DIREITO DO CONSUMIDOR Apresentação de monografia à Universidade Candido Mendes como condição prévia para a conclusão do Curso de Pós-Graduação Lato Sensu em Direito do Consumidor. Por: Raquel da S. M. Alves

3 3 AGRADECIMENTOS...ao Dr. Ricardo Bechara Santos, Emilia Carvalho, aos amigos, que ao meu lado me incentivaram a concluir esta nova etapa.

4 4 DEDICATÓRIA...A minha Família.

5 5 RESUMO O mercado Segurador no Brasil é intenso, em crescimento, mas nos defrontamos com um consumidor muito pouco conhecedor do que é seguro, da sua importância na vida social, e como a legislação em vigor atua nos contratos firmados. Os tempos mudaram, o consumidor evoluiu e passou a ter mais consciência e exige clareza em suas relações de consumo e prestação de serviços, mas quando apresentamos um contrato de seguro, ainda existem dúvidas, receio em se contratar. Muitos consumidores, não compreendem a real função de um contrato de seguro, acreditam que formalizar tal contrato é um desperdício, pois não acreditam na incerteza do fato. O objetivo deste trabalho é apresentar a evolução do contrato do seguro no mercado brasileiro, o que mudou com o código de defesa do consumidor em conjunto com as alterações do código civil. Como também, esclarecer a responsabilidade do corretor de seguros, representante do consumidor/segurado, na contratação do seguro, através da apólice que no caso, trata-se do contrato.

6 6 METODOLOGIA Estudo da doutrina, Jurisprudências e legislação, utilizando-se do Código de Defesa do Consumidor, Código Civil, Resoluções Superintendência de Seguros Privados -SUSEP e artigos de revistas relacionadas a matéria.

7 7 SUMÁRIO INTRODUÇÃO 08 CAPÍTULO I - Conceito de Seguro 10 CAPÍTULO II - Expressões Securitárias 14 CAPÍTULO III O contrato de Seguro e o CDC 25 CAPÍTULO IV - Cláusulas Abusivas e Limitadoras 34 CAPÍTULO V Prescrição e o CDC 42 CONCLUSÃO 44 BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 46 FOLHA DE AVALIAÇÃO 48

8 8 INTRODUÇÃO O contrato de Seguro ainda não é muito conhecido pelos consumidores, talvez por sua característica técnica e por seus termos específicos. Apesar de grande parte dos consumidores firmarem, em algum momento, um contrato de seguro. Visando apresentar um pouco da evolução, do histórico do Seguro no Brasil, comentando as mudanças dos conceitos e procedimentos adotados após a criação do Código de Defesa do Consumidor. Com um consumidor mais consciente e cuidadoso, as cláusulas contratuais e rotinas da regulação de um sinistro passaram a ser revistas, tornando o mercado mais cauteloso visando atender o consumidor em conformidade com a lei. As relações de consumo relacionadas ao contrato de seguro se encontram norteadas e fundamentadas pelo Código de Defesa do Consumidor, apesar da natureza jurídica do contrato se encontrar devidamente descrita e fundamentada no Código Civil. De acordo com o que diz o artigo 3º do CDC, não há o que se duvidar que a relação de consumo criada através da formalização de um contrato de seguro, se encontra prevista no Código de Defesa do Consumidor. Como se percebe no Artigo 3º do CDC in verbis: Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bom como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividade de produção, montagem,criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços. Parágrafo 2º: Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as decorrentes de caráter trabalhista.

9 9 De acordo com o fundamentado no artigo citado acima, não há dúvidas de que as Seguradoras deveriam alterar, melhorar e conscientizar seus consumidores.

10 10 CAPÍTULO I CONCEITO DE SEGURO São várias as definições que temos a respeito do contrato de seguro, como também, são vários os ramos e tipos de contratos existentes. O mais conhecido e comercializado no mercado brasileiro é o Seguro de Automóvel. O contrato de seguro estará sendo tratado, com suas características próprias, cláusulas abusivas, formas de contratação. Há como se imaginar o mundo moderno sem a existência do Contrato de Seguro? Como imaginar a relação de consumo será que um cidadão comum se sentiria garantido ao comprar um bem desejado sem um contrato de Seguro? Acredito que viveríamos à beira de um caos. Mas como conceituar Seguro? [...]Seguro é um sistema pelo qual um risco é transferido por uma pessoa, uma empresa ou uma organização para uma companhia de Seguros, que a reembolsa por sinistros cobertos e provê a pulverização dos custos dos sinistros entre todos os segurados [...] (BARRY D. Smith, Como funciona o Seguro, 2ª ed, Funenseg,Rio de Janeiro,pág 02.) 1 Para entendermos o contrato de seguro, temos que entender como tudo começou, como foram os primeiros contratos, demonstrando a partir da evolução histórica da sociedade. 1.1 A origem das atividades seguradoras no Brasil - Histórico De acordo com os dados apresentados pela Superintendência de Seguros Privados e doutrina, a atividade seguradora no Brasil iniciou-se em 1808, com a abertura dos portos ao comércio internacional. Tendo sido a 1 Esta publicação faz parte de um ensino a distancia ministrado pela Funenseg em conjunto com o American Institute of Chartered Propert Casualty Underwrites/Insurance Institute of América AICPCU/IIA, que busca treinar profissionais do mercado segurador.

11 11 primeira sociedade de seguros a funcionar no país a "Companhia de Seguros BOA-FÉ", em meados de fevereiro de 1808, cujo foco principal é o seguro marítimo, já que esta era a atividade em ascensão e com um risco imensurável a época. Interessante ressaltar que a atividade seguradora nos restante do mundo, já era desenvolvida. Notícias mais remotas datam de século XIV, onde se presume que tenha sido na cidade de Flandres (Itália), em 1340 tenha surgido o primeiro contrato de Seguros. As primeiras apólices, que são os contratos de seguros, datam de 1385 na cidade de Pisa e 1397 na Cidade de Florença (Itália). Brasil. Dando o enfoque ao histórico, segue abaixo a evolução do contrato no Com o surgimento da primeira Seguradora, 1808, o Brasil não possuía uma legislação, até mesmo por não existir a República. Era, então, o contrato do seguro marítimo regulado pelas leis portuguesas. Fora com a promulgação do "Código Comercial Brasileiro" (Lei n 556, de 25 de junho de 1850), que temos o seguro marítimo regulado em todos os seus aspectos. Somente em 1862 é que as Companhias estrangeiras abriram sucursais no território nacional. Contudo, em 05 de setembro de 1895, com a Lei 294, é que ficou promulgado que as companhias estrangeiras deveriam manter as reservas técnicas no Brasil, evitando assim a pratica utilizada anteriormente, ou seja, os recursos não eram aplicados no território nacional, mas retornava ao país de origem. Diante da obrigatoriedade dos recursos serem investidos no Brasil para evitar a evasão dos recursos, com isso, algumas seguradoras estrangeiras preferiram fechar suas representações no Brasil. Em 1901, através do Decreto n e regulamento anexo, conhecido como "Regulamento Murtinho", que ficou regulamentado de forma mais eficiente a atuação das seguradoras dos ramos vida, marítimo e terrestres que se encontravam instaladas no Brasil, ou as que desejassem ingressar ao

12 12 mercado nacional. O Regulamento Murtinho criou a "Superintendência Geral de Seguros", órgão subsidiado ao Ministério da Fazenda, centralizando assim todos os assuntos pertinentes ao seguro. Tendo sido este órgão, posteriormente substituído pela Inspetoria de Seguros, em 1906, pelo Decreto n Mas foi em 1916, com o Código Civil, que o ordenamento jurídico avançou no que diz respeito ao contrato de seguro no Brasil. Como muito bem apresentado na doutrina foi com os preceitos formulados pelo Código Civil e pelo Código Comercial que passou então o Brasil apresentar um conjunto de normas que passariam a compor o que se chama Direito Privado do Seguro. Estando assim disciplinado, regulamentando os direitos e obrigações do contrato de seguro, das partes envolvidas, dirimindo desta forma os conflitos de interesses. Vários outros fatos históricos ocorrem no decorrer dos anos, tendo sido criados novos decretos, transferência inspetoria do Ministério da Fazenda para o do trabalho (1933 Decreto ), órgão este que fora extinto em 1934, criando-se assim o chamado Departamento Nacional de Seguros Privados e Capitalização DNSPC (Decreto n ). Temos ainda o registro histórico da promulgação da Constituição de 1937, quando fora estabelecido o Princípio de Nacionalização do Seguro. Dando continuidade aos fatos, tivemos o Decreto 5901, com a criação dos seguros obrigatórios para comerciantes, industriais e concessionários de serviços públicos, pessoas físicas ou jurídicas, contra os riscos de incêndios e transportes. O Instituto de Resseguros do Brasil, conhecido no mercado segurador como IRB, através do Decreto-lei n 1.186/1939, é que as seguradoras passaram a ser obrigadas a ressegurar ao IRB as responsabilidades que excedessem sua capacidade de retenção própria, que, através da retrocessão, passou a compartilhar o risco com as sociedades seguradoras em operação no Brasil. Seguindo a ordem cronológica dos fatos, temos: No ano de 1966, é instituído o Sistema Nacional de Seguros Privados, composto pelo Conselho Nacional de Seguros Privados (CNSP);

13 13 Superintendência de Seguros Privados (SUSEP); Instituto de Resseguros do Brasil (IRB); sociedades autorizadas a operar em seguros privados; e corretores habilitados. Conforme exemplificado, anteriormente como sendo uma das legislações básicas, o Decreto-lei n 73/66, extinguiu a Inspetoria de Seguros, criando a Superintendência de Seguros Privados, como também, pelo mesmo Decreto fora instituído o Sistema de Seguros Privados, criando o Conselho Nacional de Seguros Privados CNSP. Neste período temos a ampliação da atividade do seguro pelo poder Estatal, com a concentração das seguradoras visando capitalizá-las, como também, temos a entrada dos bancos na atividade com a capitação de novos contratos, como atualmente é realizado. Na década de 1990, como plano diretor, o Brasil passa a atuar com mais expressão no mercado externo, isto devido a nova política de privatizações que surgia no país, objetivando um mercado segurador não tão controlado no desenvolvimento. Conseqüentemente temos a queda do monopólio do IRB, isto com a EC13/66 com a nova redação ao inc II do artigo 192 da CF/88, que retirou do texto o órgão oficial ressegurador, possibilitando a queda do monopólio do IRB. O IRB até o momento não foi privatizado, com a ocorrência de tal fato, o mercado segurador será ampliado. Com o advento do Código de Defesa do Consumidor, a Lei 8078/1990 e as alterações promovidas ao Código Civil, pela Lei /2002, as seguradoras passam a ter mais atenção às cláusulas contratuais ao comercializarem seus produtos Contrato de Seguro, passando os segurados terem como reclamar, expor as cláusulas abusivas perante o Judiciário. No Brasil, o contrato de seguro privado é regido praticamente pela seguinte Legislação básica: - Decreto Lei 73 de 21/11/1996; - Lei de 10/01/2002 Código Civil; - Lei de 11/09/1990 Código de Defesa do Consumidor.

14 14 CAPÍTULO II EXPRESSÕES SECURITÁRIAS Antes de tudo é primordial esclarecer alguns conceitos utilizados nos contratos de seguros, que na maioria das vezes é confundido não só pelos segurados como também pelo aplicador do direito, nos casos concretos. Focando principalmente a figura do Corretor na relação do contrato de seguros, uma vez que este é o preposto do segurado, e não conforme se verifica no dia-a-dia, onde há um grande equívoco em considerá-lo como sendo funcionário da Seguradora. São elementos essenciais para a formalização do contrato de seguros: a Cia seguradora, Segurado, Risco, Prêmio e Indenização, elementos que estarão sendo conceituados para melhor entendimento antes de analisarmos o contrato propriamente. 2.1 Seguro É a transferência do risco por uma pessoa a uma empresa de Seguros, que reembolsará (indenizará) dentro do estipulado e acordado através do contrato. Ressaltando que o risco é incerto e determinado, a ocorrência de algum fato que não esteja determinado no contrato não haverá cobertura. 2.2 Risco Segundo o dicionário Vocábulo Jurídico do respeitável jurista Plácito e Silva, temos o seguinte conceito 2 : [...]Do italiano risico, de riscar (arriscar), é usado com dois sentidos bem distintos: Risco é o traço ou a linha que se faz com a pena ou qualquer outro instrumento de escrever ou desenhar. 2 SILVA, Plácido e, Vocabulário Jurídico, 11ª ed, RJ, 1989.

15 Risco é o perigo, é o temor ou receio de qualquer coisa que nos possa trazer um mal.[...] (SILVA, Plácido e, Vocabulário Jurídico, 11ª ed, RJ, 1989.) 15 No caso em questão a segunda definição é a que é utilizada no ramo segurador, ou seja, risco nada mais é do que a probabilidade de perda, um dano, um prejuízo. São fatos incertos, futuros, inesperados. Segundo exposto pelo prof. João Marcos 3, há condições mínimas a serem verificadas ao se avaliar o risco é passível de se constituir objeto de contrato. Como citado na mesma doutrina: o risco tem que ser futuro e incerto; Risco possível; a satisfação a necessidade econômica; deve ser lícito e fortuito. Melhor analisando: Risco incerto e futuro: é a incerteza da ocorrência do risco a base do contrato, a incerteza é diretamente relacionada a quando ocorrerá e se ocorrerá o risco previsto. Sendo certo que o princípio máximo do contrato de seguros é que não tenha ocorrido o risco, o dano, logo o fato tem que ser futuro para que o contrato seja validado. Risco Possível e Lícito: tem que existir a probabilidade da ocorrência do risco, caso contrário não há como se firmar o contrato de seguros. O risco tem que ser lícito, não havendo participação ilícita das partes. Risco Fortuito, ou seja, se ocorrer não pode ter tido a participação das partes. Muito bem definido no Código Civil em seu artigo 762. nulo será o contrato para garantia de risco proveniente de ato doloso do segurado, do beneficiário, ou de representante de um ou de outro. Para análise do contrato do seguro, da aceitação do risco deve ser analisado todos os fatores, devendo ser observado os grupos da sociedade, do mais culto ao mais ignorante, pois cada um agirá de acordo com suas particularidades, conhecimentos e crenças. Por exemplo, o risco de uma criança ao cruzar uma pista é superior ao de um adulto. O risco é mais evidente no caso da criança se comparado ao adulto. 3 MARTINS, João Marcos, Direito de Seguro, 1ª ed, RJ, 2002.

16 16 Um exemplo concreto utilizado por algumas seguradoras, na análise do risco e cálculo atuarial do valor do prêmio é a utilização do chamado questionário técnico da avaliação do risco, quando o proponente responde questionamentos a respeito da idade, quantas pessoas dirigem o veículo, idade dos condutores, etc. 2.3 Mutualismo Conforme o Conceito de Mutualismo pelo Dicionário de Seguro, (Funenseg, 1996,p. 93) [...] É um dos princípios fundamentais que constitui a base de toda a operação de seguro. A reunião de um grande número de expostos aos mesmos riscos possibilita estabelecer o equilíbrio aproximado entre o valor do prêmio e o risco assumido[...] Condição para existência dos contratos de seguros é o mutualismo, já que somente em grupo é que se pode suportar a perda de um. O mutualismo foi muito bem definido pelo Prof. Sergio Cavalieri Filho 4 : [...]está-se falando de uma comunidade submetida aos mesmos riscos, de um agrupamento de pessoas expostas aos mesmos perigos, às mesmas probabilidades de dano, razão pela qual decidem contribuir para a formação de um fundo capaz de fazer frente aos prejuízos sofridos pelo grupo. (...) É por isso que se diz que o segurador moderno é um administrador de fundos mutuais.[...] 2.4 Prêmio É o valor pago pelo segurado ao segurador conforme coberturas contratadas. O valor do prêmio é determinado através de vários cálculos atuariais até que a Cia seguradora possa chegar a um preço considerável. FILHO, Sergio Cavalieri, Programa de Responsabilidade Civil, 6ª edição, Malheiros Editores, 2005.p.447.

17 2.5 - Indenização 17 É o valor recebido pelo segurado, conforme apólice de seguro contratado. A indenização somente será liberada se o dano causado for causado por um risco previsto conforme as condições da apólice contratada. O valor da indenização será o valor máximo da responsabilidade da seguradora. O valor máximo da responsabilidade da seguradora, é o limite máximo, conforme contratado, que o segurador irá suportar. Buscando uma definição mais acadêmica, não se pode deixar de citar a apresentação do jurista Plácido e Silva, em sua obra Vocabulário Jurídico, (SILVA, Plácido: Vocabulário Jurídico Vol. II, 11ª Edição p.452) 2.6 Franquia [...] Derivado do latim indemnis (indene), de que se formou no vernáculo o verbo indenizar(reparar, recompensar, retribuir), em sentido genérico quer expremir toda compensação ou retribuição monetária feita por uma pessoa a outrem, para reembolsar de despesas feitas ou para ressarcir de perdas tidas[...] É o valor que o segurado irá suportar em caso de sinistro, este valor é determinado na apólice e influenciará no valor do prêmio a ser pago. Franquia nada mais é do que o valor que será pago pelo segurado no caso de ocorrência do sinistro, sendo o valor que ultrapassar a franquia de responsabilidade da seguradora até o limite máximo contratado. Interessante esclarecer que a franquia é uma cláusula contratual, dependendo do tipo de contrato de seguro, pode ser maior, menor ou até mesmo não existir. Um exemplo simples da cobrança da franquia, ocorre quando um veículo segurado é colidido e sofre danos parciais, os reparos cujo o valor ultrapassar o valor da franquia estipulada na apólice será de responsabilidade da seguradora, ou seja, o segurado pagará ao prestador / oficina o valor da franquia e o restante do orçamento será pago pela Cia Seguradora. No caso de perda total, pagamento integral do valor contratado, não há pagamento de franquia por parte do segurado.

18 2. 7 Proposta 18 Conforme artigo 759 do Código Civil, temos fundamentado: A emissão da apólice deverá ser precedida de proposta escrita com a declaração dos elementos essenciais do interesse a ser garantido e do risco A proposta é o documento utilizado pelo segurado para apresentar à seguradora a solicitação da cobertura do risco que deseja segurar. É na proposta que constam todas as informações e dados para que seja efetuado pela Seguradora a avaliação do risco e cálculo atuarial do valor do prêmio a ser pago com base nos valores e coberturas pleiteadas. Quando a proposta é preenchida pelo corretor, este deve ter conhecimento total do segurado, pois é também neste documento que se deve reforçar o princípio da boa-fé, para que as informações prestadas sejam verdadeiras. Artigo 765 do Código Civil, in verbis: O segurado e o segurador são obrigados a guardar na conclusão e na execução do contrato, a mais estrita boafé e veracidade dos fatos, tanto a respeito do objeto como das circunstancias e declarações a ele concernentes. Não podendo deixar de frisar que a legislação fundamenta no artigo 766 do CC, que se o segurado não fizer declarações verdadeiras e completas perderá o direito ao valor do seguro. Artigo 766 do Código Civil, in verbis: Se o segurado, por si ou por seu representante, fizer declarações inexatas ou omitir circunstancias que possam influir na aceitação da proposta ou na taxa do prêmio, perderá o direito á garantia, além de ficar obrigado ao prêmio vencido. Parágrafo único: Se a inexatidão ou omissão nas declarações não resultar de má-fé do segurado, o segurador terá direito a resolver o contrato, ou a cobrar, mesmo após o sinistro, a diferença do prêmio.

19 19 O princípio da Boa-fé é primordial na realização do contrato de seguros, como sabiamente exposto pela por Claudia Lima Marques em sua obra Contratos no Código de Defesa do Consumidor 5 : [...] O Código de Defesa do Consumidor, Lei 8.078/99, trouxe como grande contribuição a exegese das relações contratuais no Brasil a positivação do princípio da boa-fé objetiva, como linha teleológica de interpretação, em seu art.4º, III, e como cláusula geral, em seu art.51,iv, positivando em todo o seu corpo de normas a existência de uma série de deveres anexos às relações contratuais.[...] 6 [...] O caput do art.4º do CDC menciona além da transparência, a necessárias harmonia das relações de consumo. Esta harmonia será buscada através da exigência de boa-fé, nas relações de consumo e compatibilização da proteção do consumidor com a necessidade de desenvolvimento econômico e tecnológico, de modo a viabilizar os princípios nos quais se funda a ordem econômica (art. 170 da constituição Federal) sempre com base na boa-fé e equilíbrio nas relações entre os consumidores e fornecedores.[...] A boa-fé objetiva é considerada como uma regra de conduta, as partes precisam agir com a maior veracidade, honestidade, devendo a mesma ser apreciada antes mesmo da formalização do contrato. No caso, todas as informações prestadas na apresentação da proposta devem ser verídicas. Não podemos deixar de frisar que o seguro se baseia no mutualismo, logo qualquer dado ou informação irregular, inverídica podem abalar todo um levantamento de sinistralidade e cálculo atuarial, que poderá acarretar alterações no valor do prêmio final oferecido ao consumidor. 2.8 Apólice: Conforme exposto pelo Dicionário de Seguro da Funenseg, [...]É o instrumento do contrato de seguro pelo qual o segurado repassa a responsabilidade sobre os riscos, estabelecidos na mesma, que possam advir. A apólice 5 MARQUES, Claudia Lima, Contratos no Código de Defesa do Consumidor: O novo regime das relações contratuais, 4ª ed, São Paulo, p Ibid. p. 671

20 contém as cláusulas e condições gerais, especiais e particulares dos contratos e as coberturas especiais e anexos [...] (Dicionário de Seguro, Funenseg,,1996,p. 04) 20 É através da apólice que se prova a existência do contrato. Fato este fundamentado nos artigos 758 e 759 do Código Civil. Artigo 758 in verbis: O contrato de seguro prova-se com a exibição da apólice ou do bilhete do seguro, e, na falta deles, por documento comprobatório do pagamento do respectivo prêmio. Artigo 759 in verbis: A emissão da apólice deverá ser percebida de proposta escrita com a declaração dos elementos essenciais do interesse a ser garantido e do risco. A apólice deve conter todas as informações a respeito do contrato, do tipo do seguro que esta sendo contratado, de forma clara, com linguagem reconhecida pelo segurado para que não gere dúvidas. apólice. O artigo 760 do código Civil expõe o que deve conter descrito na A apólice ou o bilhete de seguro serão nominativos, à ordem ou ao portador, e mencionarão os riscos assumidos, o início e o fim da sua validade, o limite da garantia e o prêmio devido, e quando for o caso, o nome do segurado e do beneficiário. Parágrafo único: No seguro de pessoas a apólice ou o bilhete não podem ser ao portador. De acordo com a circular SUSEP 251/ artigo 5º, a validade da apólice, ou seja, a vigência que corresponde ao tempo da cobertura do seguro, terá seu início e término de vigência às 24 (vinte e quatro) horas das datas para tal fim neles indicadas. 7 É interessante registrar que a maioria dos contratos de seguros possui cobertura para um período de 12 meses, mas existem contratos conforme a modalidade/ramo do seguro que possuem vigência de anos, meses ou dias. 7 Art. 5 o Circular 251/2004 SUSEP in verbis: As apólices, os certificados de seguro e os endossos terão seu início e término de vigência às 24 (vinte e quatro) horas das datas para tal fim neles indicadas.

21 21 O contrato de seguros, por exemplo, o do ramo Automóvel, não é renovado automaticamente. A renovação do contrato do seguro deve ser solicitada antes do término da vigência e o segurado deverá comunicar a Seguradora a sua vontade em renovar o contrato. A não renovação do contrato acarreta o cancelamento, ou seja, em caso de sinistro, o mesmo não estará coberto por qualquer apólice, exceto se ocorrer à solicitação até a data fim da vigência. Nos casos em que o segurado (consumidor), no decorrer da vigência do contrato de seguro não teve qualquer sinistro envolvendo o veiculo segurado, por exemplo, terá direito a uma bonificação, ou seja, um desconto. Este bônus é uma prática comercial utilizada pelas Seguradoras, de acordo com as normas da SUSEP. O segurado (consumidor) poderá levar o Bônus adquirido para qualquer outra Cia. Seguradora que venha a renovar o seguro, mantendo o desconto ao final no valor do prêmio. 2.4 Corretor Conforme disposto no artigo 723 do Código Civil in verbis: O corretor é obrigado a executar a mediação com a diligência e prudência que o negócio requer,prestando ao cliente, espontaneamente, todas as informações sobre o andamento dos negócios; deve ainda, sob pena de responder por perdas e danos, prestar ao cliente todos os esclarecimentos que estiverem ao seu alcance, acerca da segurança ou risco do negócio, das alterações de valores e do mais que possa influir nos resultados da incumbência. Os corretores de Seguros são os representantes dos segurados, representam a parte que contrata o seguro. É um equivoco o entendimento de que o corretor é funcionário da seguradora, o corretor é um representante do segurado, conhecedor do produto que esta adquirindo em nome do segurado, logo, em determinadas situações não se pode alegar a hipossuficiência por parte do corretor perante o segurado. Ressalta-se que para ser corretor, o

22 22 mesmo deve ser devidamente habilitado através de registro junto a SUSEP. O Corretor de seguros tem a obrigação de avaliar o melhor produto e condições do produto que esta sendo comprado. O CDC no inciso VIII do artigo 6º ressalta que o consumidor é a parte mais fraca da relação, em uma relação contratual não pode haver uma parte mais forte do que a outra, tem que haver a harmonização. Desta forma, sendo o produto seguro comercializado através de um intermediário devidamente habilitado, perde-se a condição de consumidor hipossuficiente. Artigo 6º inciso VIII in verbis: São direitos básicos do consumidor: (...) VIII a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do ônus da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de experiências; Como muito bem exposto pelo prof. João Marcos Brito Martins, em sua obra Direito de Seguro, 2002, RJ Forense p , temos a seguinte definição: [...] A Lei do Corretor (lei 4.594/64) utiliza os verbos angariar e promover os contratos admitidos pela legislação vidente. Angariar é obter, pedindo a um e a outro. Promover significa ser a causa de; causar,gerar, provocar, originar,segundo definição corrente. Por tanto, o corretor é profissional autônomo operando por sua conta e risco, seja como pessoa física, seja organizado como pessoa jurídica. Em qualquer dos casos exigi-se a habilitação técnico-profissional para o exercício da profissão.[...] Citando a mesma doutrina, temos, também, sabiamente orientado: [...] O código 8 determina a responsabilidade objetiva do corretor de seguros quando organizando e operando como pessoa jurídica. Causando dano ao segurado, resultante da prestação do serviço, a empresa corretora de seguros responderá independentemente da existência 8 O Código mencionado no texto refere-se ao CDC.

23 de culpa.(...) Basta que se evidencie o dano e o nexo de causalidade entre o fato e o resultado para que reste caracterizada a responsabilidade do corretor na reparação dos prejuízos do segurado-consumidor[...] 23 A responsabilidade encontra-se amparada através do artigo 14 do CDC, conforme o artigo in verbis: O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos. Parágrafo 3º: O fornecedor de serviços só não será responsabilizado quando provar: I (...) II a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro. III- a responsabilidade pessoal dos profissionais liberais será apurada mediante a verificação de culpa. Na relação do contrato de seguro, o corretor é o profissional legalmente habilitado para promover ou angariar contratos de seguros, tendo para tanto responsabilidade legal. 2.5 SUSEP Atos Normativos: A Superintendência de Seguros Privados SUSEP, Autarquia vinculada ao Ministério da Fazenda, é o órgão responsável pelo controle e fiscalização dos mercados de seguro, previdência privada aberta e capitalização. Cabe a SUSEP, analisar os pedidos de autorização para funcionamento de novas seguradoras, fusão e até mesmo pedido de transferência acionária; baixar instruções referente a regulação das operações de seguro; determinar as condições gerais das apólices e tarifas utilizadas; analisar, autorizando ou não, as condições de coberturas especiais; analisar as reservas administrativas e judiciais das seguradoras; fiscalizar as operações das sociedades seguradoras; proceder a liquidação das seguradoras, entre outras funções determinadas no Decreto-Lei no 73, de 21 de novembro de A Superintendência de Seguros Privados, por ser um órgão fiscalizador e normatizador, suas circulares e resoluções visam ordenar a prática da comercialização dos contratos de seguro e regulação do sinistro, dentro dos

24 24 parâmetros legais, já que as normas são atos administrativos, não podendo ultrapassar ou ir contra a lei.

25 CAPÍTULO III 25 CONTRATO DE SEGURO E O CDC Segundo o Dicionário de Seguro, editado pela Funenseg, [...] Contrato de seguro é aquele, geralmente expresso em uma apólice, pelo qual o segurador, mediante o recebimento de uma remuneração, denominada prêmio se obriga a ressarcir o segurado, em dinheiro ou mediante reposição, dentro dos limites convencionados na apólice, das perdas e danos causados por um sinistro ou sinistros, ou a pagar um capital ou uma renda se, ou quando, verificar-se um evento relacionado com a vida ou as faculdades humanas[...] (Dicionário de Seguro, Funenseg, 1996,p. 44.) Com o advento do Código de Defesa do Consumidor, o mercado segurador teve a necessidade de melhorar seus produtos, serviços e principalmente a relação com o consumidor. Os manuais dos produtos que acompanham as apólices de seguros (contrato), foram alteradas, passaram a ser mais explicativas com as condições, obrigações e deveres das partes com total clareza, como disposto no artigo 46 do CDC., in verbis: Os contratos que regulam as relações de consumo não obrigarão os consumidores, se não lhes for dado a oportunidade de tomar conhecimento prévio de seu conteúdo, ou se os respectivos instrumentos forem redigidos de modo a dificultar a compreensão de seu sentido e alcance. O CDC fez com que o consumidor se visse amparado, passando a ter consciência e a pleitear por seis direitos. Devendo ser observado que o CDC trata da relação jurídica de consumo e não propriamente da natureza jurídica do contrato. Pode-se afirmar que o CDC veio para aperfeiçoar as relações de consumo com a objetividade de se tentar equilibrar a relação sem que ocorra abusividade. Ressaltando que o CDC não modifica os elementos básicos do contrato, estes elencados no Código Civil.

26 26 É certo que há um desequilíbrio natural, propriamente dito, pois o fornecedor possui mais conhecimento técnico, sendo necessário a busca do equilíbrio. Equilíbrio este, imposto através do CDC diante das obrigações e deveres determinados no dispositivo legal. Mas o que é um contrato? Sua natureza jurídica? Pode-se dizer que contrato é o acordo de vontades, com a intenção de adquirir, modificar, resguardar ou extinguir direitos. Dentre todas as modalidades de contratos, temos o contrato de Seguros, que como exposto anteriormente, é o contrato pela qual uma das partes se obriga para com a outra, mediante o pagamento do prêmio, a garantir interesse relativo ao bem material ou corporal, a indenizá-lo de prejuízo de corrente do risco futuro previsto no contrato. Sendo assim podemos classificar o contrato de seguro como sendo um contrato bilateral, aleatório, oneroso, consensual, nominado, boa-fé e de adesão. 3.1 Definição Da Natureza Jurídica Do Contrato De Seguro: Bilateral É bilateral o contrato de seguro, porque tanto o segurador como o segurado, possuem obrigações e deveres a cumprir. O segurado deve pagar o prêmio estipulado, prestar as informações verídicas, já o segurador deve indenizar ou reparar o bem de acordo com os valores contratados em caso da ocorrência do evento danoso previsto no contrato. No caso da não ocorrência do dano/sinistro, poderia ser o contrato de seguro considerado como unilateral? A doutrina é clara e conforme o ensinamento do prof. João Marcos B. Martins, em sua obra O contrato de seguro, não há o que se definir o contrato de seguro como unilateral. O contrato será sempre bilateral, pois o segurador pode não pagar a indenização para certo indivíduo mas pagará para outro, em virtude do

27 27 mutualismo, fator determinante no contrato de seguro, ou seja, a seguradora sempre estará cumprindo seu dever conforme previsto no contrato. Não se deve analisar o contrato de forma individual, mas coletivamente em decorrência do mutualismo Aleatório Como nos ensina o prof. João Marcos Brito Martins, a definição de Aleatório no vocabulário de seguros: pode ser apresentada da seguinte forma: [...] do latim aleatorius, foi incorporado à linguagem jurídica, no mesmo sentido do vocabulário latino: designa tudo o que se prende ao acaso ou ao jogo da sorte.[...] (MARTINS, João Marcos Brito, O Contrato de Seguro, Ed. Forense, 1 edição, 2003, p. 19.) Silva : Sem deixar de mencionar a definição de contrato Aleatório por Plácido e [...]Deste modo, a qualificação indica sempre a condição importa ou admitida em um contrato, mediante a qual o seu cumprimento, ou a exigibilidade da obrigação decorrente, depende sempre da realização de evento futuro ou incerto[...] (SILVA, e Plácido, Vocabulário Jurídico Vol 1, ed. Forense, 11ª edição, Rio de Janeiro, p. 129) Sendo o contrato de seguro um contrato que visa indenizar (reparar) um dano causado por um evento com data e horário incerto, podendo sequer ocorrer, há como se classificar o contrato de seguro como sendo um contrato aleatório Oneroso É cento que a busca pela proteção patrimonial e corporal gera-se custos, tornando o contrato como oneroso. No contrato de seguro, o segurado paga o valor correspondente ao prêmio, que de certo é uma garantia de que na ocorrência do dano, o mesmo

28 28 será reparado ou indenizado em sua totalidade, conforme garantia contratual, propiciando a tranqüilidade material e psicológica Consensual As declarações de vontade constantes de escritos particulares, recibos e pré-contratos relativos às relações de consumo vinculam o fornecedor, ensejando inclusive execução específica, nos termos do artigo 84 e parágrafos (artigo 48 CDC). O contrato de seguro é comprovado com a apresentação da apólice, bilhete de seguros ou qualquer outro documento que comprove a relação através do pagamento do prêmio. Tal procedimento visa garantir ao segurado à exigência da emissão e apresentação da apólice. O contrato consensual é firmado através da simples vontade das partes, pois a exigência da apresentação do documento é tão somente comprobatória Nominado O contrato é nominado, pois se encontra fundamento em lei.. A fundamentação do contrato de seguro esta prevista nos artigos 757 a 802 da Lei /2002 Código Civil. Como também, é tratado no CDC, já que a Lei 8.078/90 trata a relação de consumo juntamente com a natureza jurídica do contrato Boa-fé Como excelentemente apresentado por Ernesto Tzirulnik: [...]Em um primeiro momento, a norma procura garantir que os comportamentos de cooperação e comunicação, visando a contratação, possuam os atributos da sinceridade e da colaboração, atentando para o interesse do outro contratante, de forma que o contato seja útil individualmente e socialmente, e que seja emanado de forma correta e completa. Em um segundo momento, formada a relação contratual, o dispositivo procura

29 garantir que as variações que possam ser relevantes e afetar o equilíbrio entre as prestações devidas sejam reveladas reciprocamente e recebam a atuação prática necessária para o melhor atendimento aos interesses de ambas as partes. A conduta das partes, ações e omissões, com base nesse suporte normativo, deve intensificar-se para manter o equilíbrio contratual obtido por ocasião da conclusão do contrato. A norma se especifica, como verá oportunamente, para contemplação das mais comuns e corriqueiras, determinando-se, assim, por exemplo, o nãoagravamento intencional do risco (Art. 768), o dever de reduzir as conseqüências do sinistro (art. 771), [...] (TZIRULNIK, Ernesto em sua obra O Contrato de Seguro, EMTS, SP, 2002, p.69.) 29 O grande consumerista Rizzato Nunes, em sua obra Curso de Direito do Consumidor 9 define: [...]A boa fé objetiva é uma espécie de pré-condição abstrata de uma relação ideal. Toda vez que no caso concreto, por exemplo, o magistrado tiver de avaliar o caso para identificar algum tipo de abuso, deve levar em consideração essa condição ideal a priori, na qual as partes respeitam-se mutuamente, de forma adequada e justa [...] 113: Temos, também, no Código Civil a Boa-fé elencada nos artigos 422 e Artigo 422 in verbis: Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua execução, os princípios de probidade e boa fé. Artigo 113 in verbis: Os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa fé e os usos do lugar de sua celebração. A boa-fé é a condição básica do contrato. Este princípio exerce valioso papel para a exata compreensão das cláusulas do contrato e das normas legais incidentes. Visando a confiança, a lealdade, honestidade na relação contratada, como disposto no artigo 765 do Código Civil: 9 NUNES, Rizzato, Curso de Direito do Consumidor, SP, Saraiva, 2005.p. 128.

30 Artigo 765 in verbis: O segurado e segurador são obrigados a guardar na conclusão e na execução do contrato, a mais estrita boa-fé e veracidade, tanto a respeito do objeto como das circunstâncias e declarações a ele concernentes. 30 O princípio da Boa-fé visa uma relação harmoniosa, e ainda é previsto não só no CDC como no código civil que não havendo a boa fé, o contrato será anulado. Os contratantes devem agir de acordo com os preceitos legais. Segundo o jurista Plácido e Silva, ao tratar do tema no vocabulário jurídico, assim define a Boa-fé: [...]Sempre se teve boa fé no sentido de expressar a intenção pura, isenta de dolo ou engano, com que a pessoa realiza o negócio ou executa o ato, certa de que está agindo na conformidade do direito, conseqüentemente, protegida pelos preceitos legais.[...] 10 (SILVA, e Plácido, Vocabulário Jurídico Vol I, ed. Forense, São Paulo,1989, p. 326) Na relação contratual securitária, devido o princípio do mutualismo, não se pode analisar de forma individual, o coletivo deve ser considerado como o todo, de certo as declarações prestadas pelo segurado no momento da apresentação da proposta devem ser verdadeiras. A Lei protege aquele que age de boa-fé, mas na inobservância deste princípio primordial na relação contratual por parte do segurado causará a perda da garantia contratual, sem qualquer devolução do valor do prêmio que já tenha sido pago. (artigo 765 e 766 CC). Artigo 765 do Código Civil in verbis: O segurado e o segurador são obrigados a aguardar na conclusão e na execução do contrato, a mais estrita boafé e veracidade, tanto a respeito do objeto como das circunstâncias e declarações a ele concernentes. Artigo 766 do Código Civil in verbis: 10 SILVA, e Plácido, Vocabulário Jurídico Vol I, ed. Forense, São Paulo,1989, p. 326

31 Se o segurado, por si ou por seu representante, fizer declarações inexatas ou omitir circunstâncias que possam influir na aceitação da proposta ou na taxa do prêmio, perderá o direito à garantia, além de ficar obrigado ao prêmio vencido. 31 Parágrafo único. Se a inexatidão ou omissão nas declarações não resultar de má-fé do segurado, o segurador terá direito a resolver o contrato, ou a cobrar, mesmo após o sinistro, a diferença do prêmio. O artigo 51 do CDC define como sendo cláusulas abusivas as que se apresentarem contra o sistema de proteção do consumidor, dentro do qual se insere tal princípio da boa-fé por expressa disposição do artigo 4º, caput e inciso III. Segundo o inciso IV do artigo 51 do CDC são nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais relativas ao fornecimento de produtos e serviços que estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que coloquem o consumidor em desvantagem exagerada, ou sejam incompatíveis com a boa-fé ou a equidade Adesão Segundo o doutrinador Rizzato Nunes: [...]São contratos que acompanham a produção. Ambos produção e contratos são decididos unilateralmente e postos à disposição do consumidor, que só tem como alternativa, caso queira ou precise adquirir o produto ou o serviço oferecido, aderir às disposições préestipuladas.[...] ( NUNES, Rizzato, Curso de Direito do Consumidor. São Paulo, ed Saraiva, 2005 p. 581.} 11 Diante do cotidiano que vivemos, com o intuito de agilizar a contratação de determinados serviços, o qual enquadra-se o seguro, formalizam-se contratos de massa, cujas as cláusulas e condições são pré-estabelecidas pelo fornecedor. O contrato vem pronto para ser firmado pelo consumidor sem margem para alterações..

32 32 O contrato de seguro é um contrato de adesão, pois suas cláusulas, coberturas, exclusões, deveres e obrigações são pré-determinadas de acordo com o ramo de seguro que se deseja contratar. O CDC foi a primeira legislação brasileira que regulamentou esta forma de contrato. O contrato de adesão é citado no Código Civil no artigo 423 e 424, mas é no CDC que temos a definição e como interpretar o tipo de contrato, isto no artigo 54 e parágrafos. Artigo 54 do CDC in verbis: Contrato de adesão é aquele cujas cláusulas tenham sido aprovadas pela autoridade competente ou estabelecidas unilateralmente pelo fornecedor de produtos ou serviços, sem que o consumidor possa discutir ou modificar substancialmente seu conteúdo. A opção da aceitação é do consumidor, que ao ler o contrato aceitará ou não as condições. O fornecedor não pode determinar a aceitação do contrato. O contrato de adesão deve respeitar só princípios fundamentais do CDC, ou seja, principio da boa-fé (artigo 4º - III) e o princípio da proporcionalidade (artigo 51 IV e parágrafo 1º). O contrato tem que ser apresentado com uma linguagem legível, utilizando-se o princípio da legitimidade das cláusulas contratuais. A simples leitura da apólice juntamente com as condições gerais do produto tem que dá ao consumidor o total conhecimento do que esta adquirindo, isso pela simples leitura. Tais determinações encontram-se fundamentadas através do artigo 46 do CDC, sendo: Os contratos que regulam as relações de consumo não obrigarão os consumidores, se não lhes for dada a oportunidade de tomar conhecimento prévio de seu conteúdo, ou se os respectivos instrumentos forem redigidos de modo a dificultar a compreensão de seu sentido e alcance. Acredita-se que a definição dada por Nelson Nery Junior a respeito de contrato de adesão exemplifica de forma clara o que é este tipo de contrato: [...] A contratação em massa, exigência das economias de escala, deve ser exercida de forma compatível com 11 NUNES, Rizzato, Curso de Direito do Consumidor. São Paulo, ed Saraiva, 2005 p. 581.

33 os princípios fundamentais da ordem econômica, dentre os quais está a defesa do consumidor (art.170 nºv, CF). A rapidez que deve informar esse tipo de contratação, que implica necessariamente a conclusão do negócio com base em cláusulas preestabelecidas, não deve servir de pretexto para que incluam, no bojo de um longo formulário de futuro contrato de adesão, clausulas draconianas consideradas pelo CDC como abusivas.[...] (JUNIOR, Nelson Nery, Código de Defesa do Consumidor Comentado pelos autores do anteprojeto, 8º ed, Rio de Janeiro, Forense, p. 625.) JUNIOR, Nelson Nery, Código de Defesa do Consumidor Comentado pelos autores do anteprojeto, 8º ed, Rio de Janeiro, Forense, p. 625.

34 34 CAPÍTULO IV CLÁUSULAS ABUSIVAS E LIMITADORAS Esta prevista no CDC uma relação de procedimentos contratuais que o prestador de serviço e/ou fornecedor não devem promover, caso contrário passam a agir de má-fé, sendo esta assunto tratado no capítulo V do CDC.. 13 Ressalta-se que o CDC não descreveu todas as condições, até mesmo porque isto não é possível, já que a sociedade vive em constantes mudanças. O legislador, ciente de que não poderia elencar todas as situações abusivas, buscou prever situações abusivas, podendo ser apreciada legislações conforme previsto no direito, conforme fundamentado no artigo 7º: Os direitos previstos neste código não excluem outros decorrentes de tratados ou convenções internacionais de que o Brasil seja signatário, da legislação interna ordinária, de regulamentos expedidos pelas autoridades administrativas competentes, bem como dos que derivem dos princípios gerais do direito, analogia, costumes e equidade. Parágrafo único: Tendo mais de um autor a ofensa, todos responderão solidariamente pela reparação dos danos previstos nas normas de consumo. De acordo com o exposto no CDC, são práticas abusivas: a) colocação no mercado de produtos ou serviços nocivos, previsto no artigo 10 do CDC; b) comercialização de produtos e serviços impróprios, previsto nos artigos 18, 6, e 20, 2 ), c) não emprego de peças de reposição adequadas, previsto no artigo 21; 13 Capítulo V Das Praticas Comerciais, Seção IV, Das Praticas Abusivas, artigos 39 a 41 e Seção II, Das Clausulas Abusivas, artigos 51 a 53.

35 d) falta de componentes e peças de reposição, previsto no artigo 32; 35 e) ausência de informação, na venda à distância, sobre o nome e endereço do fabricante, também previsto no artigo 33; f) divulgação de publicidade clandestina, previsto no artigo 35 e abusivo, previsto no artigo 37, 2 ; g) cobrança irregular de dívidas de consumo, previsto no artigo 42; h) acesso aos dados a respeito o consumidor, previsto no artigo 43; i) constar clausula abusiva, previsto no artigo 51; Como sabiamente dito pela professora Claudia Lima Marques 14 : [...] para proteger a confiança do consumidor, instituíramse novas garantias legais de adequação do produto, de segurança e fala-se mesmo em garantia da durabilidade. Para proteger o equilíbrio contratual, a equidade de distribuição de direitos e deveres contratuais, serão cláusulas abusivas afastadas por normas imperativas.[...] Claudia Lima Marques expõe que o CDC passa a controlar o conteúdo dos contratos de consumo, observando a equidade das cláusulas de suas prestações e contraprestações, dos direitos e deveres. Sendo este controle exercido com o auxilio do Ministério Público e entidades não governamentais de proteção do consumidor, como por exemplo, o IDEC 15. A abusividade constatada nos contratos apresentam sua formação na ausência da razoabilidade, o que causa o desequilíbrio no contrato. Como A legislação brasileira interpreta os contrato de Seguro a luz do CDC, estes são passíveis as sanções administrativas e penais previstas capítulo VII do CDC, que dispõe a respeito das sanções administrativas (artigo 55 a 60), e Título II, das infrações penais (artigo 61 a 80). De certo que a adoção de uma prática abusiva, gera um direito à reparação. 14 MARQUES, Claudia Lima, Contratos no Código de Defesa do Consumidor, 4º ed, São Paulo, p IDEC Instituto de Defesa do Consumidor, organização não governamental em pró dos consumidores. Site:

36 36 Por ser o contrato de seguros, um contrato de adesão, o artigo 47 do CDC é de fundamental apreciação, pois as normas devem ser claras, independente do tipo de consumidor e contrato. Devendo ser analisado não somente o contrato, mas tudo que levou o consumidor a aceitá-lo, ou seja, a publicidade, os intermediários, as práticas comerciais, as ofertas e garantias. De certo revela a importância dos contratos de seguro para tornar o direito dos contratos mais social, a fim de tornar o desequilíbrio entre as partes menos alarmante. Artigo 47 in verbis: As cláusulas contratuais serão interpretadas de maneira mais favorável ao consumidor. Sem deixar de citar o exposto por Nelson Nery Júnior 16 : podemos tomar a expressão cláusulas abusivas como sinônimo de cláusulas opressivas, cláusulas onerosas, ou, ainda, cláusulas excessivas. Em virtude do constante movimento social, o CDC exemplificou as cláusulas abusivas, sendo claro que a mesma é considerada nula de pleno direito, pois não pode haver cláusula que cause dano ao consumidor. Pela forma que é apresentado um contrato de adesão, que visa atender uma grande massa de consumidores, poderá ser encontrado os chamados vícios da manifestação da vontade, já que poderá haver uma redação ou outra de forma capciosa, e até mesmo limitando o direito do consumidor. A limitação restringe determinada situação, devendo a mesma ser apresentada de forma clara, direta ao consumidor. O CDC prevê a inclusão das clausulas limitativas, conforme descrito no parágrafo 4º do artigo 54: Contrato de adesão é aquele cujas cláusulas tenham sido aprovadas pela autoridade competente ou estabelecidas unilateralmente pelo fornecedor de produtos ou serviços, sem que o consumidor possa discutir ou modificar substancialmente seu conteúdo. 16 JUNIOR, Nelson Nery, Código de Defesa do Consumidor Comentado pelos autores do anteprojeto, 8º ed, Rio de Janeiro, Forense, p. 558