Villa-Lobos e o ideal da arte nacionalista - o encontro entre o erudito e o popular

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1 TÍTULO E SUBTÍTULO DA SÉRIE Os Quartetos Série: Villa Lobos: A Integral dos Quartetos de Cordas SINOPSE DO PROGRAMA Conhecer e apreciar a obra do brilhante Heitor Villa-Lobos. Essa é a proposta de A Integral dos Quartetos de Cordas, uma série que apresenta algumas das obras que o maestro compôs especificamente para quartetos, uma formação tradicional que exige enorme conhecimento musical para que seus poucos instrumentos deem conta da melodia e da harmonia. Os professores convidados do programa Sala de Professor fizeram uma proposta de História e Música que traça as relações entre o desenvolvimento brasileiro no início do século 20 e as transformações artísticas provocadas pelo modernismo. PROFESSORES Danilo Tomic Música Rafael Leporace História TÍTULO DO PROJETO Villa-Lobos e o ideal da arte nacionalista - o encontro entre o erudito e o popular APRESENTAÇÃO O documentário Villa-Lobos é uma excelente oportunidade para os professores de Música e História desenvolverem em conjunto e de forma inovadora seus conteúdos. O professor de Música poderá trabalhar o quarteto de cordas em sua composição e mudanças de sua estrutura ao longo dos anos. Já a História poderá interpretar o contexto cultural do Brasil na década de 1920 como agente de interferência para o desenvolvimento da Primeira República. 1

2 UM OLHAR PARA O DOCUMENTÁRIO A PARTIR DA MÚSICA Nossa sugestão para abordar e trabalhar esse vídeo na área de Música poderá ser dividida em duas sequências didáticas. Na primeira, propomos o estudo do quarteto de cordas como grupo instrumental dentro da tradição da música erudita europeia, suas particularidades e sua história. Na segunda, sugerimos que seja abordado especificamente o Quarteto nº 5 de Villa-Lobos (o Quarteto popular ), procurando fazer com que os alunos entendam a estrutura da composição, além da identificação dos materiais musicais que o caracterizam como brasileiro. A seguir descreveremos de forma detalhada cada sequência didática. 1. O Quarteto de Cordas O quarteto de cordas é um grupo musical composto por quatro músicos que tocam dois violinos, uma viola e um violoncelo. Surgiu no final do século XVIII e tornou-se um formato especialmente desafiador para os compositores, pois a partir deste poderiam representar um ambiente sonoro de essencialidade criativa. Essa formação foi estabelecida por Joseph Haydn ( ), que chegou a compor 68 quartetos com essa configuração. Depois de Haydn, seus seguidores no chamado período clássico - Mozart, Beethoven e Schubert - escreveram inúmeras peças do gênero, as estabelecendo como prática para a criação musical clássica, ao lado das sinfonias e das sonatas para piano e outros instrumentos. O sucesso da formação do quarteto de cordas se estabeleceu como um dos principais exercícios composicionais, fazendo parte da lista de trabalhos de qualquer aspirante a compositor erudito. Fato que influenciou vários compositores a escreverem ao menos um quarteto de cordas ao longo de sua vida musical, pois por meio dessa formação poderiam demonstrar suas habilidades composicionais e estéticas musicais. Para ilustrar a importância do quarteto de 2

3 cordas, listaremos alguns compositores e o número de quartetos de corda que criaram: Haydn, 68; Mozart, 23; Beethoven, 16; Schubert, 15; Schumann, 3; Brahms, 3; Dvorak, 14;Ravel, 1; Debussy, 1; Bartok, 6 e Schostakovich, 15. Até na música popular contemporânea há a presença dessa formação, como na canção Eleonor Rigby, dos Beatles. Para aprofundar o assunto, propomos que o professor divida a classe em grupos e desenvolva a atividade descrita a seguir. Em um primeiro momento cada grupo será responsável por uma parte da pesquisa. O objetivo final será formar uma exposição com os trabalhos, que constituirão um painel sobre o tema. Sugerimos a divisão das pesquisas entre os grupos: Instrumentos que compõem o quarteto de cordas:violino, viola e violoncelo. Produção de quatro desenhos coloridos dos instrumentos em tamanho real; Seleção de gravações para cada instrumento isolado e também o quarteto reunido. Nessa seleção devem ser pesquisados trechos que possibilitem ouvir cada um dos instrumentos e o conjunto; Pesquisa sobre a história da formação dos quartetos de corda, sendo um grupo responsável pelo período clássico e outro pelos períodos posteriores; Pesquisa sobre a forma do quarteto e sua estrutura original em quatro movimentos com as posteriores mudanças da estrutura original; Pesquisa sobre a forma sonata e sua estruturação com 2 temas ( masculino e feminino ). Os alunos desse grupo precisarão produzir gráficos sobre a forma sonata usando algum quarteto, como o de Ravel; Pesquisa sobre o Minueto, típico do 3º movimento do quarteto, e sua estrutura em duas partes que se somam ao Trio, com mais duas partes; 3

4 Pesquisa sobre a forma Rondó (A-B-A-C-A), típica do 4º movimento do quarteto. Para os três últimos temas, o professor precisará instruir os alunos sobre o significado de forma para a música, e como o compositor estrutura os materiais musicais no tempo, fazendo as mudanças e as repetições. 2. O Quarteto de cordas n 5 de Villa Lobos A segunda etapa do trabalho desenvolverá o quarteto de cordas de Heitor Villa-Lobos, mais especificamente o de nº 5, o quarteto popular. O professor precisará discorrer sobre as diferenças entre popular e erudito para que os alunos entendam a natureza diversa dessas duas formas de expressão musical. Em certo momento da história da Música essas formas acabaram por se aproximar nas obras dos compositores ditos nacionalistas. No Brasil, apesar de não ter sido o primeiro a utilizar elementos rítmicos, melódicos e temáticos em suas composições eruditas, Villa-Lobos destacou-se por utilizar de forma recorrente elementos musicais retirados do manancial popular e folclórico. Essas composições ganhavam roupagem sofisticada, de música de concerto, que posteriormente foram disseminadas pelo mundo. Villa-Lobos nasceu em 1887, no Rio de Janeiro, e cresceu no berço da jovem República, que ansiava por se afirmar aos poucos como nação de homens livres, mas carentes de novos nomes na Literatura, Música e nas Artes Visuais. Com o passar do tempo essa carência foi suprida por figuras que aos poucos despontaram em suas áreas. E foi na Semana de 1922 que afinal vários desses artistas, se reuniram na discussão sobre as raízes e fontes de inspiração da arte brasileira. José Miguel Wisnik, em seu artigo Entre o erudito e o popular, conta características e opiniões de alguns Modernistas que participaram da Semana de Arte Moderna de 1922, dentre esses, Villa-Lobos. [...] 4

5 Comecemos por Heitor Villa-Lobos, o mais importante músico erudito brasileiro deste século. Filho de um funcionário da Biblioteca Municipal, professor e instrumentista amador que o formou no estudo do violoncelo e na admiração por Bach, o jovem Heitor saltava a janela, durante os anos dez, para ir ao encontro dos chorões e sambistas cariocas, músicos populares da noite, entre os quais era conhecido pelo apelido de Violão Clássico. Há muito de simulação na versão de vida e obra criada para si pelo próprio compositor (incluindo a famosa viagem que teria feito pelo Brasil inteiro recolhendo música popular e indígena, até os mais recônditos rincões do Amazonas), mas a verdade é que essa fuga para a boemia carioca, assim como traços de suas viagens musicais pelo Brasil, estão estampados em sua obra, do Noneto (1923) aos Choros (anos 20) e às Bachianas brasileiras (anos 30). Na década de vinte, quando se tornou conhecido em Paris, impressionando pela força algo bárbara de suas sonoridades, declarou à imprensa francesa (mentindo como Macunaíma) que suas melodias, autenticamente indígenas, tinham sido anotadas por ele em plena selva amazônica, na iminência de ser devorado por canibais que cantavam e dançavam. [...] A figura de Villa-Lobos domina largamente o panorama da música erudita brasileira neste século, estando sua personalidade indissociavelmente ligada ao arco produtivo do modernismo. Compondo, na década de dez, obras inicialmente marcadas por um romantismo tardio e muitas vezes descritivista, chega à Semana de Arte Moderna, de 1922, como figura de destaque, com peças onde se ouve certa liberação da dissonância, a relativização dos encadeamentos harmônicos e a utilização de novas combinações instrumentais, como no Quarteto simbólico (1921), para flauta, saxofone, celesta e harpa, com coro oculto de vozes femininas. Ao mesmo tempo, ensaia algumas peças características inovadoras, como as Três danças africanas ( ), onde combina ritmos sincopadamente brasileiros com a escala debussysta de tons inteiros. Mesmo com esses procedimentos ainda timidamente modernos (mesmo que apresentados com sua conhecida desenvoltura), que remetem a linhas da música francesa do fim do século, Villa-Lobos provocou escândalo e muita reação no meio musical brasileiro, ainda marcado por um gosto predominantemente novecentista. Imediatamente após a Semana de 22, no entanto, que terá funcionado como um aguilhão provocador, o compositor expande o arco das sonoridades, das pesquisas instrumentais, das agregações politonais, da complexidade das texturas rítmicas, e passa 5

6 a fazer um amplo uso de referências às músicas populares brasileiras, montadas em agregados de células muitas vezes simultâneas e descontínuas. É, portanto, no movimento pelo qual des-reprime o lastro de sua experiência com a música popular, posto em contato com o repertório da vanguarda europeia, que Villa-Lobos desencadeia, nos anos vinte, o impulso gerador de sua obra, que se confunde com uma espécie de visão sonora do Brasil. Nesse sentido, a trajetória de Villa-Lobos identifica-se exemplarmente com o arco do grande ciclo [...], que vai da Semana de Arte Moderna a Brasília, às vésperas de cuja inauguração o compositor faleceu, em Algumas características gerais desse período vital, brilhante e fecundo da cultura brasileira podem ajudar a situar as próprias obras. Ele marca o momento em que a cultura letrada de um país escravocrata tardio enxergou na liberação de suas potencialidades mais obscuras e recalcadas, ligadas secularmente à mestiçagem e à mistura cultural, entremeadas de desejo, violência, abundância e miséria, a possibilidade de afirmar seu destino e de revelar-se através da união do erudito com o popular. O artigo de Wisnik possibilita maior entendimento sobre a estética da música de Villa-Lobos, nos permitindo observar a importância da junção do erudito com o popular na obra do compositor. O fato se reflete vivamente no quarteto de cordas nº 5, cujo subtítulo evidencia a junção de contrastes do quarteto popular, na tentativa de fazer um gênero puramente clássico (o quarteto de cordas) soar com elementos da música popular. Para aprofundar essa etapa, propomos que o professor realize uma atividade que terá como ponto de partida a discussão sobre o popular e o erudito, posteriormente analisando a estrutura do primeiro movimento do Quarteto nº. 5. O próprio texto do vídeo nos dá subsídios para essa análise (em 1h36min. e 50s.). O objetivo principal da atividade visa criar com os alunos painéis com esquemas de visualização da forma do quarteto nº 5. Executando uma escuta guiada, o professor poderá montar um esquema gráfico na lousa, tentando tornar análogas as grandezas de tempo e de espaço (vide esquema animado no programa). 6

7 Vale mencionar que o desenvolvimento dos esquemas gráficos pode contar com o auxílio da Matemática (Geometria), no estabelecimento das proporções dos vários trechos musicais. Outra parceria possível e interessante se dá com a disciplina de Artes Visuais, na construção de um grande painel com cenas relativas aos diferentes trechos musicais. De posse desse painel, os alunos podem ser conduzidos pelo professor de Teatro ou Dança (se houver) para a montagem de uma coreografia embalada pela música de Villa-Lobos. Material para os cartazes Cartolinas; Tesoura; Canetas hidrográficas grossas e finas de cores variadas; Réguas de 30 cm. Etapas As origens do quarteto de cordas; Identificação das diferenças entre quarteto de cordas clássico e posterior; Desenvolvimento dos conceitos de forma musical e forma sonata; Construção de esquemas gráficos de movimentos de forma sonata; A vida de Heitor Villa-Lobos e sua relação com a Semana de Arte Moderna de 1922; Identificação e desenvolvimento dos conceitos erudito e popular; Seleção dos trechos populares no 1º movimento do quarteto nº 5 de Villa-Lobos, os diferenciando dos outros trechos; Criação de esquema gráfico sobre o 1º movimento do quarteto nº 5, a partir do registro e cálculo dos tempos de cada trecho. Veja mais... Forma musical. Disponível em: < A forma sonata. Disponível em: < Programa ianalise mostrando a estrutura da forma sonata em tempo real. Disponível em: < UM OLHAR PARA O DOCUMENTÁRIO A PARTIR DA HISTÓRIA Abordar a obra do compositor Heitor Villa-Lobos em uma aula de História é tarefa desafiadora em vários aspectos. Talvez a principal dificuldade seja a pouca utilização da música como fonte de análise dos estudos da chamada história 7

8 cultural. Curiosa esta situação, visto que nós, professores de História, estamos acostumados a explorar, vez ou outra, obras clássicas das Artes Visuais e da Literatura, com o propósito de ilustrar momentos históricos específicos. Assim, sabemos que a obra de arte se relaciona ao momento histórico em que é produzida, e sabemos que podemos utilizá-la como objeto de análise para nossos estudos. Todavia, a música parece ter ficado de fora deste conceito de arte, e quando nos deparamos com uma obra musical, tratamos de desprezá-la, relegando-a a outra disciplina que não a nossa. Infelizmente, este aspecto também se faz presente no mundo acadêmico, e praticamente não temos fontes para o estudo da relação Música X História. Propomos ao professor o trabalho com o vídeo Villa-Lobos em sala de aula, analisando o desenvolvimento do Modernismo brasileiro na década de Heitor Villa-Lobos foi compositor de vasta obra que se desenvolveu a partir do prisma Modernista brasileiro, e teve importante participação na Semana de Arte Moderna de Dessa forma, o professor de História poderá utilizar o documentário para desenvolver conteúdos que contemplem: a Primeira República (ou República Velha ) de 1920, o Tenentismo e a Semana de Arte Moderna de A década que antecedeu a Revolução de 1930 é considerada por muitos historiadores fundamental para explicá-la, já que nos anos 1920 ganham fôlego os choques travados entre a estrutura política oligárquica excludente vigente desde fins do século XIX, e a sociedade em profunda transformação sedenta por mudanças. A ampliação dos setores urbanos proporcionou o fortalecimento da classe média e do operariado brasileiro, diversificando os interesses das elites econômicas do país. Diante desse novo cenário, o Brasil do Café-com-Leite e da Política dos Governadores começava a dar sinais de esgotamento. O ano de 1922 é simbólico nesse sentido por alguns fatores: Tensão na eleição de 1922 com Arthur Bernardes x Nilo Peçanha; 8

9 Irrupção do Tenentismo (que teve seu início em 1922, no movimento conhecido como o "Dezoito do Forte de Copacabana"); Criação do Partido Comunista; A Semana de Arte Moderna de O trabalho da relação entre a crise oligárquica e o Modernismo brasileiro, ou sua manifestação durante a Semana de Arte Moderna de 1922, traz ao professor a oportunidade de tornar sua aula de História mais interessante. O docente se aproxima de uma perspectiva histórica mais dinâmica e mais sintonizada com os novos paradigmas historiográficos que o século XX nos apresentou, saindo um pouco do viés exclusivamente econômico e político. Propomos ao professor iniciar sua explicação partindo de um breve panorama das transformações urbanas que aconteceram em alguns centros do país entre a proclamação da República e a década em questão. Mais especificamente recomendamos a análise do caso da cidade de São Paulo, já que ela serviu de cenário à Semana de Arte Moderna de Comece mostrando aos alunos que esta cidade, tendo recebido diversos investimentos provenientes da rentável economia cafeeira do oeste paulista em setores diversificados como indústria, comércio e área financeira, tornou-se a metrópole com maior crescimento demográfico do país no período em questão. Como nos lembra o historiador Nicolau Sevcenko, [...] atraídos por essa fabulosa acumulação de recursos, de oportunidades na indústria e no comércio ou vislumbrando a possibilidade de enriquecimento, multidões de famílias e indivíduos correram para São Paulo, vindos de todas as partes do Brasil, dos países platinos e dos quatro cantos do mundo (SEVCENKO, 2009). Apresente o gráfico e o mapa subsequente para ilustrar o crescimento de São Paulo. 9

10 FONTE: IBGE e Censo Brasileiro. Extraído de SEVCENKO, Nicolau. A cidade metástasis e o urbanismo inflacionário: incursões na entropia paulista. In: Rev. USP [online]. 2004, n.63, pp Disponível em < 10

11 Fonte: Empresa Paulista de Planejamento Metropolitano - Mapa de Expansão da Área Urbanizada da Região Metropolitana de São Paulo, 2002/2003. Paralelamente a essa questão, discorra sobre o fato de a Belle Époque, tão forte na virada do século XIX para o XX, encontrar-se em profunda crise graças à eclosão da 1ª Guerra Mundial, ficando relegada a um passado que não mais interessava, que já tinha se perdido. 11

12 Feita essa introdução, o professor poderá explicar aos alunos que no campo cultural essas transformações também repercutiram, e a Semana de Arte Moderna de 1922, foi um bom exemplo para essa situação. A Semana de 22 poderá ser abordada pelo professor em dois momentos distintos. No primeiro momento sugerimos que sejam apresentadas aos alunos as suas características básicas, enriquecendo a exposição com imagens. Data: dias 13, 15 e 17 de fevereiro de Local: Teatro Municipal de São Paulo. Artistas (somente alguns nomes): Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Di Cavalcanti, Anita Malfatti, Victor Brecheret, Sérgio Milliet, Heitor Villa-Lobos, Guiomar Novaes, etc. Importância: é considerada o símbolo do Modernismo brasileiro, apesar de ainda não colocar o problema nacional em primeiro plano. O que importava mais, na época da Semana de 22, era mostrar como as artes no Brasil, e em especial em São Paulo, estavam dialogando com as vanguardas europeias. Para o segundo momento há a exposição do Modernismo brasileiro, explorando de maneira panorâmica suas características mais gerais. Ao fazer isso, o professor abrirá sua aula para um rico diálogo com outras disciplinas como Artes Visuais, Literatura e Música, fato que consequentemente auxiliará os alunos na compreensão da obra de Villa-Lobos. O professor poderá partir da ideia de que o Modernismo brasileiro se propunha a pensar em um novo Brasil, onde a mera cópia de modelos intelectuais e culturais dos centros europeus cederia espaço a uma arte autenticamente brasileira, arte marcada pelo encontro da cultura nacional com as vanguardas artísticas da Europa. Além disso, seria interessante mostrar outras questões levantadas e defendidas pelos intelectuais/artistas desse movimento, como por exemplo: A valorização das tradições culturais e folclóricas do país, pois os modernistas entendiam que sem elas seria impossível ao Brasil afirmar sua 12

13 autonomia perante outras nações do globo. Logo, o artista brasileiro teria que buscar suas fontes de inspiração em elementos "nacionais". A valorização da ideia de que ser moderno é ser nacional, com o universo "popular" como fonte para esse caráter nacional. Daí o porquê de o Modernismo brasileiro não romper com o passado, tal como outros movimentos modernistas de outros países o fizeram (por exemplo, o Futurismo italiano). A negação das estéticas parnasiana, romântica e realista, já que os modernistas entendiam que as linguagens artísticas deveriam se adequar à nova realidade vigente. Logo, eles defendiam novas estéticas que dialogassem com os ingredientes da vida moderna existentes no Brasil dos anos 20. A ambição universalista do movimento, isto é, o desejo dos modernistas pelo reconhecimento internacional. É importante o professor salientar que o pensamento modernista brasileiro não foi único e nem homogêneo, ou seja, ele apresentava em seu bojo diferentes propostas e perspectivas. Porém, essas ideias gerais serviram de denominador comum para as mais variadas vertentes ao longo de seu desenvolvimento. Após a apresentação das ideias gerais dos modernistas, é adequado ilustrar com exemplos a arte moderna brasileira. Este é o momento propício para exibição do documentário Villa-Lobos. Inicie exibindo imagens de algumas obras consagradas dos modernistas brasileiros, estabelecendo uma relação entre elas e as características gerais do movimento acima mencionadas. Sugerimos a exibição das obras: Artes plásticas: Abaporu e Operários, de Tarsila do Amaral, O Homem Amarelo, de Anita Malfati, e Samba, de Di Cavalcanti. Literatura: Manifesto antropófago e Manifesto da poesia pau-brasil, ambos de Oswald de Andrade; Macunaíma, de Mario de Andrade. Depois, apresente um trecho do vídeo sobre Villa-Lobos, ressaltando a questão de o compositor ter se preocupado em fazer menção às cirandas e outras formas musicais populares do Brasil em sua obra. Após a exibição das 13

14 imagens e do vídeo, o professor deverá solicitar que os alunos respondam a seguinte questão: O que a Semana de 22 e o Modernismo brasileiro têm a ver com a crise da Primeira República dos anos 1920? Como resposta sugerida, o professor poderá discorrer sobre a importância deste momento das artes no Brasil, na reflexão do desejo de inserção do país à ordem urbana/industrial de seu tempo. Essa pode também ter sido a justificativa para São Paulo servir de cenário para a Semana de Arte Moderna, já que na época representava o símbolo do progresso e modernidade por oferecer às pessoas um modo de vida tipicamente urbano e cosmopolita, com arranha-céus, automóveis, indústrias, teatros e modernos traçados urbanísticos. Encerrada a atividade, lembre-se que poderá abordar a questão do Modernismo brasileiro durante suas aulas referentes à Era Vargas, visto que diversos artistas modernistas dos anos 1920 se tornarão agentes políticos do governo varguista, imbuídos da missão de desenvolverem e propagarem uma cultura que era pensada como nacional. Como forma de avaliação da atividade proposta, o professor poderá cobrar em exames mensais ou bimestrais (testes, provas, exercícios, etc.) questões que permitam que os alunos expliquem as características de obras do Modernismo brasileiro, e que ao mesmo tempo os levem à reflexão sobre a relação da Semana de 22 com o conturbado contexto nacional dos anos Material Computador; DVD player. Etapas Explicar a Semana de Arte Moderna de 1922; Explicar o Movimento Modernista Brasileiro, ilustrando-o com imagens de algumas de suas obras; Apresentar o vídeo Villa-Lobos aos alunos; Relacionar o Modernismo brasileiro com a crise da Primeira República. 14

15 BIBLIOGRAFIA, SUGESTÕES DE LEITURA E OUTROS RECURSOS Livros e revistas BRITO, Mário da Silva. História do Modernismo Brasileiro: Antecedentes da Semana de Arte Moderna. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, ESTRELLA, Arnaldo. Os quartetos de cordas de Villa-Lobos. Rio de Janeiro: MEC/DAC, FERREIRA, Marieta de Moraes; PINTO, Surama Conde Sá. A Crise dos anos 20 e a Revolução de Trinta. Rio de Janeiro: CPDOC, Disponível em: < GRIFFITHS, Paul. The String Quartet: A History. New York: Thames and Hudson, HORTA, Luis Paulo. Villa-Lobos, uma introdução. Rio de Janeiro: Zahar Editores, KIEFER, Bruno. Villa-Lobos e o modernismo na música brasileira. Porto Alegre: Editora Movimento; Brasília: Instituto Nacional do Livro, LORENZO, H. C.; COSTA, W. P. (Org.). A década de 1920 e as origens do Brasil moderno. São Paulo: Ed. Unesp, MARIZ, Vasco. Heitor Villa-Lobos compositor brasileiro. Rio de Janeiro: Zahar Editores, MICELI, Sergio. Intelectuais à brasileira. São Paulo: Companhia das Letras, MICELI, Sergio. Nacional estrangeiro: história social e cultural do modernismo artístico em São Paulo. São Paulo: Companhia das Letras, MORAES, Eduardo Jardim de. Modernismo revisitado. In: Estudos Históricos, Rio de Janeiro, v. 1, no. 2: , Disponível em: < MOTTA, Marly Silva da. 1922: em busca da cabeça do Brasil moderno. Rio de Janeiro, CPDOC, Disponível em: < >. 15

16 OLIVEIRA, Lúcia Lippi. A questão nacional na Primeira República. São Paulo: Brasiliense, Disponível em: < ORTIZ, Renato. Cultura brasileira e identidade nacional. São Paulo: Brasiliense, ROSEN, Charles Rosen (1971). The Classical Style: Haydn, Mozart, Beethoven. London: Faber & Faber, SEVCENKO, Nicolau. Orfeu extático na metrópole: São Paulo, sociedade e cultura nos frementes anos 20. São Paulo: Companhia das Letras, VELLOSO, Mônica P A brasilidade verde-amarela: nacionalismo e regionalismo paulista. In: Estudos Históricos, 6 (11): Disponível em: < WISNIK, José Miguel. Entre o erudito e o popular. In: Revista de História, nº 157, São Paulo: USP, dez. 2007, versão impressa: ISSN Disponível em: < WISNIK, José Miguel. O Coro dos Contrários: a música em torno da semana de 22. São Paulo: Duas Cidades/Secretaria da Cultura, Ciência e Tecnologia, Sites e outros recursos Os 90 anos da Semana de Arte Moderna. Disponível em: < >. 80 anos da Revolução de 30. Disponível em: < Semana de Arte Moderna Itaú Cultural. Disponível em: < s_texto&cd_verbete=344 > Modernismo brasileiro MAC USP. Disponível em: < ndex.htm> Semana de Arte Moderna. Disponível em: < >. 16

17 Primeira fase do Modernismo: renovação e divulgação de obras e ideias modernistas e os manifestos. Disponível em: < > Semana de 1922: o início do modernismo brasileiro. Disponível em: < Manifesto Antropofágico e a teoria modernista do Brasil. Disponível em: < 17