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1 INVENTÁRIO PORTAGE OPERACIONALIZADO: IMPLEMENTAÇÃO DE UM PLANO DE ENSINO INDIVIDUALIZADO COM UMA CRIANÇA COM PARALISIA CEREBRAL BAGAGI, Priscilla dos Santos 1 ; MIURA, Regina K.K. 2 Resumo Este trabalho apresenta a implementação de um plano de ensino individualizado sendo utilizado o Inventário Portage Operacionalizado. Tal instrumento pode apontar as áreas que se apresentam defasadas e possibilitar a elaboração de um plano de ensino individual que permita intervir pedagogicamente e também em diversos âmbitos profissionais compatíveis com as necessidades e ritmo de aprendizagem da criança. A pesquisa foi realizada com uma criança que apresenta o diagnóstico de paralisia cerebral com idade de 3 anos. Inicialmente foi realizado o levantamento de seus dados de rotina, com relatos da mãe, seguido de observações da criança e identificação de dados que permitiram a elaboração de planos de ensino individualizados, que priorizavam os objetivos para as áreas com maior déficit, uma intermediária e uma menos defasada, concomitantemente, sendo contempladas as áreas de auto-cuidados, cognição e socialização. A implementação dos planos de ensino foi realizada nos mesmos horários em que haviam ocorrido as observações; os mesmos foram apresentados à mãe que foi orientada para a continuidade do trabalho na rotina da casa. Após o decorrer do semestre letivo foi realizada nova coleta de dados para verificação dos avanços obtidos pelo aluno. Essa nova coleta seguiu as instruções contidas no Guia Portage e os dados seqüêntes às avaliações demonstraram que houve uma progressão de acertos a partir das intervenções realizadas. Palavras chave: Guia Portage; plano de ensino; intervenção; paralisia cerebral. Introdução Este trabalho apresenta a implementação de um plano de ensino individualizado sendo utilizado o Inventário Portage Operacionalizado: intervenção com famílias que busca fornecer informações sobre a implementação de uma avaliação informal e de um plano de ensino individualizado buscando o desenvolvimento de crianças em fase pré-escolar. A atual demanda de questionamentos por parte de profissionais e pais de crianças em fase préescolar que alegam não saber como intervir junto a essa criança leva a reflexão sobre a necessidade de um instrumento que possibilite a avaliação informal de crianças. Tal instrumento, pode apontar as áreas que se apresentam defasadas e possibilitar a implementação de um plano de ensino individual que permita intervir pedagogicamente e 1 Programa de Pós Graduação em Educação Mestrado, Universidade Estadual Paulista Campus de Marília. pbagagi@hotmail.com 2 Doutora em Educação - Departamento de Educação Especial Universidade Estadual Paulista Campus de Marília 1841

2 também em diversos âmbitos profissionais compatíveis com as necessidades e ritmo de aprendizagem da criança. O Guia Portage abrange todas as características acima citadas e por isso foi escolhido como referencial para a implementação de um plano de ensino individualizado com uma criança que apresenta o diagnóstico de paralisia cerebral com idade de 3 anos. O objetivo desse trabalho é apresentar a elaboração de um plano de ensino, partindo da entrevista preliminar realizada com a mãe e a avaliação informal, sendo identificadas as áreas de desenvolvimento que se encontravam em déficit, a implementação do plano de ensino e a avaliação dos avanços obtidos no trabalho com o aluno. Para a implementação do plano de ensino foi necessário a colaboração da família, que esteve presente na figura da mãe de maneira atenciosa e cooperativa, tanto nos momentos iniciais de realização da entrevista, quanto durante o planejamento e a intervenção do plano e as orientações realizadas. Desenvolvimento Inicialmente foi realizado o levantamento de dados sobre a rotina do aluno por meio da realização da entrevista preliminar junto com a mãe, durante os momentos em que ela esperava o atendimento do filho pelos profissionais da fisioterapia e terapia ocupacional. O passo seguinte foi à observação da criança durante a realização de atendimentos em que eram realizadas de maneira lúdica as atividades propostas no Inventário Portage. Essa observação ocorria uma vez por semana, após o atendimento na fisioterapia, às quintas-feiras. Devido ao fato de o aluno já ser conhecido pela estagiária, a interação com o mesmo já existia, sendo a criança muito comunicativa e participativa em todas as situações que envolviam jogos e brincadeiras recreativas. Durante os atendimentos foram realizadas muitas atividades estabelecidas de acordo com cada área de observação, em algumas foi possível observar o êxito do aluno, em outras não foi possível observar o rendimento do aluno. A partir dos dados coletados foram elaborados planos de ensino individualizados, que priorizavam os objetivos para as áreas com maior déficit, uma intermediária e uma menos defasada, concomitantemente. Esses dados são apresentados na Tabela 1. Tabela 1 Identificação de áreas com maior déficit, intermediária e menos defasada. 1842

3 Áreas Idade x Razão % Razão % Razão % Razão % Razão % Razão % Razão % Socialização 28/28 13/ /8 5 5/ /9 55 4/ /83 71 Linguagem 1/1 18/18 28/ / / / /99 92 Auto-cuidados 12/ / /27 48 /15 /23 /15 31/15 29 Desenvol.motor 33/ / /17 23 /15 /16 /29 43/1 31 Cognição 14/14 9/1 9 9/ / /22 23 /22 48/18 44 De acordo com os dados coletados em cada área ao longo dos atendimentos, definiu-se que seriam elaborados e implementados três planos de ensino individualizados para o aluno referentes às áreas que apresentaram: 1)maior porcentagem de acertos 2) menor porcentagem de acertos e 3) a área que atingiu a média entre os resultados obtidos. Diante dos dados coletados optou-se por elaborar e colocar em prática planos de ensino que contemplassem as áreas de auto-cuidados, cognição e socialização. Para a elaboração desde planos de ensino foi necessário certificar-se de que as instruções oferecidas ao aluno estavam claras e objetivas, com base no grau de dificuldade e nas condições do ambiente. O primeiro plano de ensino abrangeu a área de auto-cuidados, e teve como objetivo o treino para que o aluno traçasse um (V) em imitação, de forma que as linhas se unissem e formassem um ângulo menor que 45º conforme orientações do guia, item 53. Para tanto, durante o atendimento foi apresentado ao aluno uma folha onde estava traçado um (V) em canetinha e solicitado que o aluno passasse o dedo indicador sobre a linha. A realização dessa atividade contou com quatro tentativas sendo a realização sem intervenção a partir da terceira. Como o aluno apresentou 5% de acertos à atividade foi repetida, sendo os resultados modificados e seu acerto registrado com maior frequência 1843

4 O segundo plano de ensino abrangeu a área socialização, que teve como objetivo o treino para que o aluno explorasse ativamento seu ambiente, percorrendo o sozinho, ou mesmo tentanto abrir pacotes sozinhos, seguindo as orientações do item33 do Guia.Esse plano foi implementado durante a aula observada na EMEI que o aluno freqüentava, o mesmo foi levado a uma sala nova onde foi colocado no chão próximo à estagiária. O aluno deveria iniciar a exploração do ambiente, independentemente, ou a estagiária faria o convite para conhecerem junto a nova sala. A realização dessa atividade contou com duas tentativas sendo a realização das mesmas em dias e locais diferentes. O aluno contemplou os objetivos sem necessidade de auxílio ou intervenções. O terceiro e último plano de ensino abrangeu a área cognição, que teve como objetivo o treino para que o aluno emparelhasse objetos com a figura do mesmo objeto (item 22 do Guia). Para a realização dessa atividade foram utilizados brinquedos diversos, como: bola, boneca, chocalho, dado, carrinho, óculos, frutas de plástico; livro em relevo,materiais disponíveis na Biblioteca Interativa do CEES. Durante o atendimento, foram apresentados ao aluno vários brinquedos para que os explorasse livremente. Após um período de tempo que dependeu do interesse do aluno pelos brinquedos, o mesmo foi convidado a observar o livro em relevo. Durante a exploração do livro o aluno foi questionado se conhecia ou já havia visto a figura apresentada no livro em algum lugar. Sequencialmente foi solicitado ao aluno que pegasse o objeto que parecia com o apresentado no livro. A realização dessa atividade contou com quatro tentativas e a realização das mesmas ocorreram em dias diferentes. O aluno contemplou os objetivos, sendo necessária a intervenção somente no primeiro dia. A implementação dos planos de ensino foi realizada nos mesmos horários em que haviam ocorrido as observações; os mesmos foram apresentados à mãe que foi orientada para a continuidade do trabalho na rotina da casa. Após o decorrer do semestre letivo foi realizada nova coleta de dados para verificação dos avanços obtidos pelo aluno. Essa nova coleta seguiu as instruções contidas no Guia Portage e os dados seqüêntes às avaliações demonstraram que houve uma progressão de acertos a partir das intervenções realizadas. Avaliação 2 - Área Desenvolvimento motor l de acertos 1844

5 Figura 1 - Porcentagem de acertos, de acordo com a faixa etária na Área de Desenvolvimento motor, durante a primeira avaliação, antes da intervenção e segunda avaliação, após intervenção. Avaliação 2 - Área Socialização Total de acertos 2 a 1 1 a 2 2 a 3 3 a 4 4 a 5 5 a 6 faixa etária Figura 2 - Porcentagem de acertos, de acordo com a faixa etária na Área de Socialização, durante a primeira avaliação, antes da intervenção e segunda avaliação, após intervenção. Avaliação 2 - Área Autocuidados Total de acertos 2 a 1 1 a 2 2 a 3 3 a 4 4 a 5 5 a 6 F aixa etária 1845

6 Figura 3 - Porcentagem de acertos, de acordo com a faixa etária na Área de autocuidados, durante a primeira avaliação, antes da intervenção e segunda avaliação, após intervenção. Avaliação 2 - Área Cognição Total de acertos 2 a 1 1 a 2 2 a 3 3 a 4 4 a 5 5 a 6 Faixa etária Figura 4 - Porcentagem de acertos, de acordo com a faixa etária na Área de cognição, durante a primeira avaliação, antes da intervenção e segunda avaliação, após intervenção. Avaliação 2 - Área Linguagem Total de acertos 2 a 1 1 a 2 2 a 3 3 a 4 4 a 5 5 a 6 faixa etária Figura 5 - FIGURA 5. Porcentagem de acertos, de acordo com a faixa etária na Área de linguagem, durante a primeira avaliação, antes da intervenção e segunda avaliação, após intervenção. Conclusão A partir da elaboração de planos de ensino individuais e implementação na rotina do aluno, pode-se afirmar que os objetivos propostos foram alcançados. Desenvolver esse estudo serviu 1846

7 como forma de assimilação da necessidade de um instrumento de avaliação e sistematização de dados, que proporcione a identificação de objetivos para a intervenção e oriente com relação aos critérios para a avaliação e intervenção pedagógica junto à criança. Faz-se necessário que as orientações passadas à mãe sejam claras, visto que, com o conhecimento do Guia, as atividades, como seu desenvolvimento e objetivos podem se tornar claras ao pesquisador que tem contato constante com o material e não á família que continuará a implementação das orientações no ambiente doméstico. Referências FINNIE, N. A. O manuseio em casa da criança com Paralisia Cerebral. São Paulo: Manole, 19, 2. Ed. HOFFMANN, R.A.; TAFNER, M. A.; FISCHER, J. Paralisia Cerebral e Aprendizagem: um estudo de caso inserido no ensino regular. Disponível em (acesso em 1/8/8). MANCINI, M. C. (et al) Comparação do desempenho de atividades funcionais em crianças com desenvolvimento normal e crianças com paralisia cerebral. In: Arquivos Neuropsiquiatria. 22; (2-B): MITTLER, P. J. Educação Inclusiva: contextos sociais. Porto Alegre: Artmed, 23. WILLIAMS, L. C. ; AIELLO, A. L. R. O Inventário Portage operacionalizado: intervenção com famílias. São Paulo: Memnom,