FUTEBOL MODERNO: A PARTICIPAÇÃO DO ESPORTE CLUBE SÃO LUIZ DE IJUÍ RS, GESTÕES 2004 A 2014

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1 0 UNIJUÍ UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL DHE DEPARTAMENTO DE HUMANIDADES E EDUCAÇÃO CURSO DE EDUCAÇÃO FÍSICA FUTEBOL MODERNO: A PARTICIPAÇÃO DO ESPORTE CLUBE SÃO LUIZ DE IJUÍ RS, GESTÕES 2004 A 2014 EDUARDO MACUGLIA Ijuí RS 2015

2 1 EDUARDO MACUGLIA FUTEBOL MODERNO: A PARTICIPAÇÃO DO ESPORTE CLUBE SÃO LUIZ DE IJUÍ RS, GESTÕES 2004 A 2014 Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Graduação em Educação Física da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul UNIJUÍ, como requisito parcial para a obtenção do grau de Licenciatura em Educação Física. Orientador: Prof. Dr. Leopoldo Schonardie Filho Ijuí RS 2015

3 Dedico este Trabalho de Conclusão de Curso, primeiramente a Deus, pois minha fé sempre foi muito grande e acreditei sempre na vontade de Deus. Agradeço a minha família por estar sempre ao meu lado, em todos os momentos, nunca me deixaram sozinho e sempre acreditaram no meu potencial de vencer na vida, me incentivando, apoiando e entenderam minhas dificuldades, especialmente a minha Mãe, meu Pai e meu Irmão que estão sempre presente no meu viver. 2

4 3 AGRADECIMENTOS Agradeço primeiramente a Deus, por ter me abençoado e me iluminado por toda a minha trajetória acadêmica e pessoal. Ao professor Leopoldo Schonardie Filho, pelo apoio e disponibilidade na orientação deste trabalho. A todo corpo docente do Curso de Graduação em Educação Física da UNIJUÍ que me proporcionou a conclusão deste Curso.

5 4 RESUMO Vindo da Inglaterra pelo jovem Charles Miller, o futebol teve seu desenvolvimento no Brasil no final do século XIX. No Brasil, os praticantes eram trabalhadores de grandes empresas qualificadas e de clubes de renome. A difusão deste esporte no Brasil se deve em muito aos meios de comunicação que o transformaram no esporte número um dos brasileiros. A pesquisa tem como objetivo principal entender a evolução histórica do esporte moderno na modalidade futebol de campo e a sua influência no Esporte Clube São Luiz de Ijuí RS. A metodologia utilizada foi pesquisação, desenvolvida em dois momentos. Inicialmente foi feito um levantamento literário sobre a evolução do esporte moderno no futebol e a sua vinda para o Brasil. A seguir foi realizada uma pesquisa de campo com cinco Diretores de Futebol no Esporte Clube São Luiz de Ijuí, no período de 2004 a 2014, respondendo um questionário com dez questões semiestruturadas. As respostas mostraram que nas gestões de 2004 a 2014 o Esporte Clube São Luiz adaptou-se a evolução do esporte moderno dentro das capacidades administrativas e de escolaridade de seus dirigentes. Também para a ascensão nas categorias nacionais do futebol, o Clube depende muito do apoio da comunidade, das contratações da comissão técnica e de atletas. Todo êxito do clube gira no cenário futebolístico, no respaldo financeiro e na forma de gestão dos seus Diretores de Futebol. Palavras-Chave: Individualização. Sociedade. Diretores de Futebol. Cultura Corporal de Movimento.

6 5 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO JUSTIFICATIVA PROBLEMA OBJETIVOS Objetivo Geral Objetivos Específicos REFERENCIAL TEÓRICO FUTEBOL FUTEBOL MODERNO PREPARADOR FÍSICO TÉCNICO DE FUTEBOL DE CAMPO DIRETOR DE FUTEBOL DE CAMPO CULTURA CORPORAL DE MOVIMENTO O ESPORTE MODERNO E SUAS CARACTERÍSTICAS INDIVIDUALIZAÇÃO NO ESPORTE ESPORTE MODERNO NO BRASIL: CHEGADA DO FUTEBOL EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO ESPORTE CLUBE SÃO LUIZ DE IJUÍ METODOLOGIA TIPO DE PESQUISA POPULAÇÃO E AMOSTRA INSTRUMENTOS Cuidados Éticos Questionário Aplicado aos Entrevistados PROCEDIMENTOS APRESENTAÇÃO, ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS CONSIDERAÇÕES FINAIS REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANEXOS... 53

7 6 1 INTRODUÇÃO Procura-se entender de forma mais aprofundada de que maneira se desenvolveu o futebol de campo dentro do Esporte Clube São Luiz no município de Ijuí. Este clube considerado inicialmente amador após alguns anos se tornou profissional. O clube em sua história possui relatos que o amadorismo prevaleceu dos anos de 1930 até 1950, a partir daí passou a ser profissional, integrando a segunda divisão do Campeonato Gaúcho. O Esporte Clube São Luiz de Ijuí tem a sua principal atividade voltada ao esporte, que segundo Bracht (2011, p. 21), o esporte é uma atividade corporal de movimento de caráter competitivo, vindo de uma cultura europeia por volta do século XVIII, se expandindo para o restante do mundo. Basicamente a ampliação da nomenclatura para o chamado esporte moderno foram as evoluções no campo social, industrial e cultural, principalmente na sociedade europeia. Exigindo mudanças, melhorias nas regras do modo mais sofisticadas, nas atividades corporais e adaptando-se ao meio cultural de cada povo. Assim, segundo Proni e Lucena (2002, p. 71),... todas as transformações ocorridas nos esportes modernos advêm de um aparato burocrático. Um dos exemplos é a mídia que transforma os esportes em mercadoria. Para ilustrar e transformar em pesquisa de campo, com base no tema esporte moderno, optamos em analisar o Esporte Clube São Luiz de Ijuí, na modalidade futebol profissional, rendimento/espetáculo, sob os olhares dos Diretores de Futebol, do período de 2004 a A pesquisa está dividida em capítulos que inicialmente apresenta os objetivos da mesma, seguindo a base teórica que dá sustentação para justificar seu desenrolar, a metodologia empregada que sustenta a pesquisa de campo e análise/discussão dos dados fornecidos pelos Diretores de Futebol do clube que discute com a literatura. Também é uma homenagem que fizemos ao clube de futebol, o qual foi e é uma entidade de possibilidades profissionais e do qual me orgulho em pertencer ao quadro técnico. 1.1 JUSTIFICATIVA A opção para estudar este tema deve-se inicialmente ao interesse pela história do futebol em minha cidade natal, mais precisamente no Esporte Clube São

8 7 Luiz de Ijuí. Neste sentido, após investigar o pensamento de autores referente ao esporte moderno, como Del Priore e Melo (2009), Franzini (2009), Elias (1993), Bracht (2011), Proni e Lucena (2002), Guttmann (1978), entre outros, tivemos o interesse em aprofundar os estudos. Saber mais sobre este universo complexo que envolve o desenvolvimento de um Clube de futebol através do planejamento dos Diretores de Futebol, juntamente com as informações extraídas do futebol moderno, foram os elementos que nos estimularam para pesquisarmos o tema, como investigação de campo o Esporte Clube São Luiz de Ijuí. Assim, tomamos como base as informações históricas de existência do Esporte Clube São Luiz de Ijuí durante os séculos XX e XXI, e a participação de pessoas nestes períodos, entre elas nossos próprios familiares. Esta trajetória do Clube despertou-nos o interesse em pesquisar sobre a participação do esporte moderno de futebol de campo e junto a história do Esporte Clube São Luiz de Ijuí. Como pesquisa de campo, delimitamos um período de dez anos (2004 a 2014), com relatos dos Diretores de Futebol que foram gestores nesta época. Este recorte de tempo nos facilitará a compreensão e relatará as diferentes formas de administrar o Esporte Clube São Luiz de Ijuí como clube profissional na prática do futebol de campo. 1.2 PROBLEMA Na visão dos Diretores de Futebol de campo do Esporte Clube São Luiz de Ijuí, gestão de 2004 a 2014, o Clube acompanhou a evolução do esporte moderno? 1.3 OBJETIVOS Objetivo Geral Entender a evolução histórica do esporte moderno no futebol de campo e a sua influência no Esporte Clube São Luiz de Ijuí, através de relatos dos Diretores de Futebol, nas gestões de 2004 a 2014.

9 Objetivos Específicos - Analisar os documentos arquivados pela diretoria do Esporte Clube São Luiz de Ijuí, identificando os Diretores de Futebol, entre os anos de 2004 a Compreender as diferentes formas de planejamento de cada Diretor de Futebol, em cada ano de mandato. - Influência ou não do esporte no moderno futebol na equipe profissional do Esporte Clube do São Luiz de Ijuí, nos anos de 2004 a 2014.

10 9 2 REFERENCIAL TEÓRICO Inicialmente buscaremos esclarecer alguns conceitos básicos que irão darnos sustentação a nossa pesquisa de campo e esclarecer ainda mais os nossos objetivos e as questões levantadas que foram respondidas pelos Diretores de Futebol durante suas gestões. 2.1 FUTEBOL O futebol moderno teve origem nas terras inglesas, em meados do século XIX. Neste período houve uma transformação em relação à introdução desta prática para o mundo, o jogo sendo institucionalizado como esporte.... em 1863, o Association Football, fruto de um acordo entre doze clubes, que passaram, a partir de então, a se submeter as regras comuns e a entidade dirigente maior, a Football Association (FA). Daí por diante essas regras passaram constantemente aprimoradas, no sentido de limitar o número de membros de cada equipe, estabelecer as dimensões do campo e de suas metas, definir o tempo de jogo e, sobretudo, diferenciar o permitido do proibido (FRANZINI apud DEL PRIORE; MELO, 2009, p. 108). Segundo Franzini (apud DEL PRIORE; MELO, 2009), a partir deste momento o futebol passou a se desenvolver mundialmente, onde adeptos deste esporte procuraram se aprofundar da parte teórica/prática e disseminaram o esporte em suas sociedades como, por exemplo, Charles William Miller, um dos idealizadores do futebol no Brasil. Esta pessoa em 1894 teve um contato muito próximo com a prática do futebol, devido ao período de estudos que passou na Inglaterra, país idealizador da modalidade esportiva, com isso aprofundou seus conhecimentos e trouxe para o Brasil o esporte. 2.2 FUTEBOL MODERNO O futebol moderno no Brasil teve seu desenvolvimento no final do século XIX, onde o seu aparecimento foi direcionado a certos setores da sociedade, os praticantes eram trabalhadores de grandes empresas, bem qualificados e jovens de

11 10 clubes de renome. Após todo esse processo, a modalidade tornou-se conhecida através dos meios de comunicação. Segundo as observações de Guedes (apud DEL PRIORE; MELO, 2009, p. 454),... disparando um processo intricado de dimensões inimagináveis, transformou-se, a cabo de pouco mais do que um século, no principal veículo de produção da brasilidade. Desta forma, o futebol ficou conhecido em todos os estados brasileiros, sendo praticado por todas as camadas da população, dentro de clubes, de escolinhas, de escolas e também como prática lúdica na forma de lazer. Com o desenvolvimento em todos os Estados, começou a surgir clubes interessados em competir entre si, possibilitando então o aparecimento de ligas/campeonatos divididos primeiramente em regiões próximas como, por exemplo, eixo Rio/São Paulo. Desse modo bastante elaborado, o campo de futebol, no Brasil, transformou-se também em campo de debates sobre povo brasileiro, possibilitando que se reproduzissem, nas avaliações sobre desempenho em eventos esportivos, debates que ocupavam intelectuais diversos (GUEDES apud DEL PRIORE; MELO, 2009, p. 460). Com este desenvolvimento, o Brasil é conhecido mundialmente pela diferente visão e prática do futebol moderno inserido em nossa sociedade, havendo um certo jeito de se praticar a modalidade, hoje sendo chamado de futebol arte. 2.3 PREPARADOR FÍSICO A preparação física evolui e muito com o passar dos anos devido ao desenvolvimento dos clubes e do futebol mundialmente. Toda essa evolução fez parte da história do futebol brasileiro, devido ao esporte se tornar conhecido em todo nosso território e assim com o surgimento das equipes, os envolvidos eram capacitados para serem responsáveis pela parte técnica, tática e física dos times, mas aqui mais especificamente do desenvolvimento físico dos atletas. Os primeiros indícios de treinamento físico no Brasil datam do início do século passado, por volta de As equipes paulistas tentaram substituir os treinamentos que reproduziam partidas, por outros tipos de treinamentos. O motivo inicial talvez tenha sido a dificuldade de se encontrarem atletas para realização desses treinos. O emprego de exercícios de condicionamento físico, como corridas de 100, 200, 400 e 800 metros, além

12 11 de luta romana, ginástica alemã e halteres, passou a ser rotina entre as equipes. O importante a ser ressaltado era a preocupação com a força e não com a velocidade dos atletas (SANTOS NETO, 2000, p. 117). Com isso, vale ressaltar a total importância do preparador físico durante os treinamentos já citados. Com o passar dos anos o profissional procurou capacitar-se e melhorar o planejamento e a forma de trabalho do treinamento físico aplicado aos atletas de futebol. Segundo Bompa (2002, p. 59), o treinamento físico é um dos mais e, em alguns casos, o mais importante ingrediente do treinamento para alcançar o desempenho máximo. Desta forma, com o desenvolvimento das equipes mundialmente e os níveis de competitividade nos jogos, coube aos profissionais da área aplicar total conhecimento adquirido no treinamento, identificando as ausências e as dificuldades em sua equipe e que durante as partidas e os campeonatos de pouca e longa duração, o objetivo seja alcançado, ou seja, superar o adversário. Os principais objetivos do treinamento físico são: o desenvolvimento do potencial fisiológico e das habilidades motoras (DANTAS, 2003, p. 41). Seguindo o pensamento de Dantas (2003), o treinamento físico qualificou o desempenho dos atletas de uma forma geral, pois além das habilidades motoras, o potencial de rendimento dentro de campo foi superior com o treinamento aplicado, melhorando a capacidade muscular e cardiorrespiratória do atleta. Segundo Frisselli e Mantovani (1999, p. 39), a função do preparador físico ainda carece de um melhor entendimento, quanto a real importância desse profissional, por parte dos dirigentes esportivos, imprensa especializada e público em geral. A função de preparador físico ainda carece de alguns estudos específicos, pois a sua imagem ainda é vista como apenas um membro da comissão técnica, responsável pelo rendimento físico dos atletas, mas, além disso, precisa estar inserido no dia a dia dos atletas, na recuperação de lesões, no treinamento da capacidade cardiorrespiratória e resistência muscular. 2.4 TÉCNICO DE FUTEBOL DE CAMPO Técnico de futebol de campo é um cargo de total importância no clube de futebol. Existem diversas normas e leis que o treinador/técnico pode apresentar no seu mandato no clube que o contratou, juntamente com a diretoria, dependendo

13 12 apenas deles para tomar quaisquer decisões relacionadas ao desempenho técnicotático do time, tendo o direito de qualquer mudança dentro e fora de campo. Segundo Castelo e Barreto (1998), o treinador é uma das figuras fulcrais, no fenômeno desportivo e a sua atividade profissional, gira em torno de cinco temas fundamentais, sendo eles, (i) o estatuto e a função; (ii) a autoridade; (iii) os estilos de liderança; (iv) as características da personalidade e (v) as suas competências desportivas (MACHADO, [s.d.]). Conforme a citação de Castelo e Barreto (1998), o técnico deve ser especializado na modalidade esportiva que aqui comentamos. O futebol de campo, conhecendo as dimensões e sendo capaz de analisar os aspectos importantes do treino/competição e, daí qualificar a aprendizagem, aperfeiçoamento e consolidação dos aspectos técnico-táticos dos seus atletas e da sua equipe. O papel do técnico de futebol de campo é de total responsabilidade para o desenvolvimento de uma equipe de futebol. Ele é a voz de comando, ele é o exemplo a ser seguido, por isso o técnico deve ser bem comunicativo com seus atletas e demais membros da comissão técnica, havendo um ótimo relacionamento com todos os envolvidos no ambiente do futebol. Além disso, é o grande responsável pelo desenvolvimento da equipe. Sua função também exige entendimento sobre o ser atleta/indivíduo para prepará-los no campo de jogo e fora dele, para superar novos desafios e metas, estando preocupado não apenas com os resultados dentro de campo e sim com o desempenho dos seus atletas, falando aqui na saúde física, mental e cognitiva dos mesmos. 2.5 DIRETOR DE FUTEBOL DE CAMPO O Diretor de Futebol tem como conceito o cargo de total responsabilidade dentro do clube, devido a influência dele com todos os membros e as tomadas de decisões juntamente com o presidente e vice que deve ter, relacionado ao planejamento do clube no ano e também nas contratações tanto de jogadores quanto da comissão técnica. Cabe ao Diretor de Futebol ter total transparência na contratação da comissão técnica e demais envolvidos, sendo cargo que exige a presença fundamental do mesmo no dia a dia do clube, tanto para acompanhar o

14 13 desenvolvimento da equipe quanto para solucionar os problemas que o time pode apresentar no decorrer do campeonato ou dos treinamentos. O administrador esportivo, para realizar um bom trabalho, precisa ter desenvolvido algumas características, competências e acima de tudo conhecimento. Em estudo realizado, Correa (2006), apresenta algumas competências julgadas importantes, que deveriam ser trabalhadas internamente com os dirigentes dos clubes de futebol. Encabeçam a lista: conhecimentos gerais, conhecimentos específicos do ambiente profissional e conhecimentos procedimentais, além de outras competências. Segundo o autor, grande parte dos clubes de futebol estão em estágio inicial no processo de construção dessas qualidades tão importantes para exercer uma boa gestão (SPESSOTO; AZEVÊDO, 2007). O Diretor deve ter uma postura totalmente diferenciada, relacionado ao conhecimento e comportamento dos atletas e comissão técnica, tentando aproximar todos e orientar que o time é um grupo, onde que se um acerta, todos acertam e se um erra, todos erram. O Diretor deve ser o sujeito da palavra final, juntamente com o presidente, pois acompanha os fatos que ocorrem no dia a dia do clube, tendo total autorização do presidente em qualquer tomada de decisão relacionada às contratações, às demissões e às multas aos que forem envolvidos. 2.6 CULTURA CORPORAL DE MOVIMENTO O termo cultura corporal de movimento é muito argumentado dentro do campo da Educação Física, devido a grande dimensão histórico-social ou cultural do corpo e do movimento. O conceito de cultura corporal de movimento deve ser entendido a partir do processo de ruptura com a visão biologicista-mecanicista do corpo e do movimento situado de forma hegemônica na Educação Física até o início da crise epistemológica ocorrida nos anos 80 (GONZÁLEZ; FENSTERSEIFER, 2005, p. 109). Através deste conceito o corpo passa a ser entendido como uma ligação entre a cultura e o movimento, sendo parte integrante do processo de desenvolvimento histórico, permeando uma nova visão do conceito geral da Educação Física.

15 14 Todo indivíduo que nasce em um grupo possui suas individualidades, mas acontecem inter-relações com o meio em que está inserido e, principalmente, relacionando com tempos pretéritos. Assim, com o desenvolver do indivíduo acontecem diferentes mudanças na vida pessoal e social do mesmo. 2.7 O ESPORTE MODERNO E SUAS CARACTERÍSTICAS O que conhecemos hoje como esporte moderno precisa ser entendido como uma transformação social ao longo dos anos, devido a sua identidade que primeiramente foi difundida nas classes da elite, logo após sendo espalhada por diversos blocos da sociedade, tudo isso vindo de uma sociedade conservadora como a europeia. Conhece-se como esporte moderno, uma atividade corporal de movimento de caráter competitivo, vindo de uma cultura europeia por volta do século XVIII, se expandido para o restante do mundo (BRACHT, 2011, p. 21). Esse esporte moderno surgiu através de modificações esportivas: [...] de elementos da cultura corporal de movimento das classes populares inglesas, como os jogos populares, tendo exemplos citados como os inúmeros jogos com bola e também elementos da cultura corporal de movimento da nobreza inglesa. Processo iniciado em meados do século XVIII e com intensificação no final do século XIX e início do século XX (BRACHT, 2011, p ). Em torno de 1800, os jogos populares começaram a ficar fora de uso, pois os processos de industrialização e urbanização levaram a novos padrões e novas condições de vida, sendo assim, os jogos não eram mais compatíveis. Os jogos tradicionais que estavam ligados às festas (da colheita, religiosas, etc.) não eram mais de grande importância, mas vale ressaltar que os jogos sofreram nas mãos do poder público, onde eram reprimidos. Um exemplo de prática corporal reprimida foi a capoeira, onde houve uma grande perseguição violenta por parte das autoridades nos anos de 1910 e 1930 (BRACHT, 2011, p. 22). A Inglaterra era um país que não sofria com este problema, relacionado com o poder público. Neste país desenvolveram-se os jogos populares e tendo como lugar as escolas públicas, pois não eram percebidos os mesmos como ameaça à propriedade e à ordem pública. Vai ser nas escolas públicas que aqueles jogos (o

16 15 caso clássico é o futebol) vão ser regulamentados e aos poucos assumir as características (formas) do esporte moderno (BRACHT, 2011, p. 22). Salvador (2004) afirma que o esporte é filho das revoluções burguesas, neto do Renascimento e da Idade Média surge de meios culturais diversificados que convergiram para um único modelo esportivo: a mercantilização. O esporte moderno evoluiu rapidamente por via do industrialismo, tendo o liberalismo como ideologia e o capitalismo como modelos que haviam de ser seguidos. Em suma, Proni (1998, p. 70) destaca a seguinte posição do esporte moderno na sociedade de consumo: [...] se hoje o esporte ocupa uma posição de destaque na mídia, isto deve ser examinado a partir do modo como ele se insere numa sociedade na qual predomina o consumo de massa. Podemos facilmente constatar que a difusão e a popularização das práticas esportivas de um modo geral ajudaram a criar novos modelos sociais e a disseminar certos estilos de vida esportivos, o que propiciou condições para o surgimento e crescimento de indústrias de materiais e equipamentos destinados àquelas práticas. Paralelamente, a paixão despertada pelos esportes de alto rendimento (como o futebol) ajudou a formar um público de espectadores de competições esportivas teatralizadas (o que se manifesta, inclusive, no comportamento das torcidas uniformizadas). E com o desenvolvimento dos meios de comunicação de massa, em especial das transmissões televisivas via satélite, os eventos esportivos ganharam uma visibilidade e um interesse social muito maior. O esporte assumiu suas características básicas, que podem ser resumidas em: competição, rendimento físico e técnico, recorde, racionalização e cientificização do treinamento (BRACHT, 2011, p. 22). Para Guttmann (apud BRACHT, 2011), o esporte é de certa forma uma racionalização do romântico, um misto de raízes arcaicas e míticas e regulação racional moderna. Ele ainda identificou sete características básicas do esporte moderno que são: secularização; igualdade de chances; especialização dos papéis; racionalização; burocratização; quantificação; busca do recorde (BRACHT, 2011, p ). Algumas dessas características foram encontradas em outras épocas, porém todas essas se referem ao esporte moderno e são inter-relacionadas. A secularidade, primeira característica do esporte segundo Guttmann (1978) diz que as culturas primitivas raramente tinham uma palavra para definir o esporte em nosso senso. Segundo Culin e o historiador Diem (apud PRONI; LUCENA, 2002, p. 65), todos os jogos tiveram caráter de cultismo e foram jogados de forma cerimonial.

17 16 Guttmann (apud PRONI; LUCENA, 2002, p. 65) questionava: se os esportes, no meio primitivo, eram algo de culto religioso ou se faziam parte de um setor independente, em que eles eram parte de uma forma de vida secular. O esporte era considerado uma competição física sem fins utilitários, uma afirmação bem contrária do que diz Diem, na qual os jogos e competições eram apenas de caráter religioso natural e um fim utilitário, portanto, através desta afirmação dá para se ter a ideia de que não aconteceram esportes nos povos primitivos. 66) revela que: Seguindo o mesmo raciocínio, Guttmann (apud PRONI; LUCENA, 2002, p. [...] esta ideia de Diem é infundada, pois não se pode ampliar tanto o termo religião a ponto de ser colocado todo o comportamento humano dentro da esfera do sagrado. Mesmo sendo o esporte o oposto do exercício físico, pode ser encontrado na vida primitiva dos adultos, associado com alguma forma de significação religiosa. Um exemplo de secularidade foi o povo romano que não tinham competições e nem festivais, eles se exercitavam para manter a forma física e para participar de eventos. Guttmann (apud PRONI; LUCENA, 2002, p. 66) questiona a tendência de se considerar os esportes gregos como antecessores dos esportes modernos. Para ele esses esportes estão mais próximos das atividades dos povos primitivos do que das olimpíadas da era moderna. Os esportes gregos eram considerados efeminados pelos romanos e os mesmo consideravam, os esportes como brigas, corridas de bigas e coisas do gênero. Falando em caráter secular, os esportes romanos estão mais próximos do esporte de nossos dias. Tem-se a ideia de esporte espetáculo, como estamos vendo em nossa sociedade atualmente (PRONI; LUCENA, 2002, p. 66). Já a segunda característica dos esportes modernos é a igualdade de chances ou oportunidades de participação, esta não era encontrada nos povos primitivos, pois o caráter das práticas desse povo era mais religioso que qualquer outra coisa, as equipes eram montadas pelos Deuses. Foram os gregos que tiveram a primeira manifestação efetiva de igualdade, os mesmos atribuíram os mesmo direitos a todos os participantes, tendo como exemplo a divisão de homens e mulheres pela maturidade sexual. Já o povo romano aceitava a tal igualdade, mas não era executada. Em seu maior evento, as lutas de gladiadores, havia lutas entre

18 17 homens e mulheres, homens e anões, homens e animais, entre outras formas, tudo isso para a diversão do público presente no evento. Na atualidade essa igualdade é muito superior à proporcionada pelos gregos. Igualdade conformada pelas regras e transformações sofridas por elas no decorrer da história. As regras esportivas acompanharam o processo de civilidade da humanidade e deixaram de ser um facilitador das igualdades, tendo outro objetivo. No presente, mais que nunca, as regras passaram a ser transformadas para uma adequação das práticas a indústria do entretenimento. O vôlei, o futsal, enfim, as modalidades esportivas não mudam mais as regras para proporcionar isonomia ou civilidade, elas mudam para adequação midiática (PRONI; LUCENA, 2002, p. 68). Outras características do esporte moderno são: a racionalização e a própria burocratização, as regras são retomadas e colocadas em grande evidência. Para que houvesse igualdade no esporte moderno, duas características tiveram que ser superadas, segregação racial e a outra foi a segregação da mulher no esporte. Para Guttmann (apud PRONI; LUCENA, 2002, p. 69): [...] apenas depois do século XX é que a ideia de competições para mulheres começou a ser aceita. Na atualidade, o esporte ao mesmo tempo em que apresenta a igualdade, ou tenta apresentar, evidencia-se pela diferença das performances existentes ou, dito de outra forma, pela diferença apresentada entre as pessoas comuns e os atletas profissionais. A terceira característica dos esportes modernos é a especialização dos papéis e originou-se no século XV, onde nesse tempo os gregos foram os primeiros a adequar as aptidões às suas práticas esportivas. Essa característica, diferentemente dos esportes pré-modernos, era notória também nos esportes romanos. Os jogos medievais eram caracterizados pela não seleção de habilidades e por regras indefinidas e/ou pouco claras (PRONI; LUCENA, 2002, p. 70). Já no esporte moderno é exatamente o oposto. Entre as características estão a especialização de funções e a divisão do trabalho. A organização de eventos também mudou, transformando-se em competições esportivas de mega espetáculo. Essas transformações, impostas pela especialização, geraram o profissionalismo, ou seja, transformaram o tempo de trabalho do atleta em um tempo de especialização (PRONI; LUCENA, 2002, p. 70).

19 18 A quarta característica dos esportes modernos é a racionalização, onde Guttmann (apud PRONI; LUCENA, 2002, p. 71) relata que: [...] as regras sempre existiram entre os povos primitivos, houve apenas a mudança na natureza destas regras, deixaram de serem instruções divinas para se tornarem um artefato cultural. Um exemplo foi a caça, que exemplifica todo um processo de racionalização ocorrido internamente. Segundo Guttmann (apud PRONI; LUCENA, 2002), inicialmente, detentora de um caráter utilitário e desigual, a caça foi racionalizada transformando-se numa modalidade esportiva moderna, o tiro ao alvo. Os gregos, diferentes de outros povos que acreditavam que as performances atléticas eram fruto dos Deuses, foram os primeiros a racionalizar as bases do que hoje chamamos de treinamento esportivo (PRONI; LUCENA, 2002, p. 71). Todas as transformações ocorridas nos esportes modernos advêm de um aparato burocrático, outra característica dos esportes modernos. Na época atual, a mídia tem o controle do esporte, ela passou a transformar o mesmo em produto (PRONI; LUCENA, 2002, p. 71). Guttmann (apud PRONI; LUCENA, 2002, p. 72) entende que: [...] a distinção desenvolvida por Weber entre hierarquia primitiva dos povos antigos e a burocracia moderna, pautada em regras funcionais, é bastante adequada para a compreensão do processo de institucionalização da burocracia esportiva. O críquete foi a primeira modalidade esportiva a construir o aparato burocrático, em uma concepção moderna. Isso ocorreu no ano de 1787, na Inglaterra. A configuração do processo burocrático pode ser percebida, entre outras características, na elaboração de estratégias de desenvolvimento mundial implantados pelas organizações gestoras, na universalização das regras, no controle dos recordes, na produção de espetáculos, tudo em uma visão racionalmente moderna (PRONI; LUCENA, 2002, p. 72). Outra característica dos esportes modernos, relatada por Guttmann (apud PRONI; LUCENA, 2002, p. 72) é a quantificação dos esportes que:

20 19 [...] pode ser simbolizada invenção do cronômetro, ocorrido em A quantificação tornou-se um modo de vida, uma característica e uma necessidade, toda performance atlética tornou-se mensurável, essa necessidade vem da própria sociedade, a qual, mais que nunca, distinguese pela emergência da quantificação. Já a última característica dos esportes modernos citadas por Guttmann (apud PRONI; LUCENA, 2002, p ), a busca por recordes, é a única característica, das sete citadas que se encontra presente, apenas nos esportes prémodernos, mesmo esta característica existindo em esportes anteriores como uma tendência à comparação, mas a busca por recordes, nunca existiu. Guttmann (1978) nos diz que todas as características apresentadas são inter-relacionadas. E de uma forma didática, sintetiza no seguinte quadro os assuntos postos em discussão: Quadro 1: Características dos esportes em diferentes épocas Esportes Primitivos Esportes Gregos Esportes Romanos Esportes Medievais Esportes Modernos Secularidade Sim e Não Sim e Não Sim e Não Sim e Não Sim Igualdade Não Sim e Não Sim e Não Não Sim Especialização Não Sim Sim Não Sim Racionalização Não Sim Sim Não Sim Burocracia Não Sim e Não Sim Não Sim Quantificação Não Não Sim e Não Não Sim Recordes Não Não Não Não Sim Fonte: Proni e Lucena (2002, p. 73). O esporte, fenômeno conhecido mundialmente, a partir destas características apresentadas, tomou assalto o mundo da cultura corporal de movimento, esta cultura acabou esportivizando-se. Autores como Eichberg (1979) e Riagauer (apud BRACHT, 2011, p. 23), entendem que alguns princípios que passaram a reger a sociedade capitalista industrial acabaram sendo incorporados pelo esporte, como o caso do princípio do rendimento. A história de um esporte não é apenas uma atividade direcionada ao indivíduo ou grupo, nem apenas a um número de mudanças não padronizadas, mas uma sequência padronizada de alterações na organização, nas regras e na configuração atual do próprio jogo, o qual se orienta em direção a um estágio específico de equilíbrio de tensão (ELIAS, 1992, p. 231).

21 20 Elias (1992), em seu artigo a Gênese do Esporte questiona-se: Por que exatamente a forma cultural de esporte tornou-se hegemônica em nível mundial? Por que exatamente na Inglaterra nasceu ou se desenvolve esta forma de cultura corporal de movimento?. Essas questões elaboradas por Elias (1992) ajudaram na definição do entendimento da evolução da cultura corporal de movimento. O conceito de esporte pode ser dividido em um esquema dual, a representação do fenômeno esportivo: a) esporte de alto rendimento ou espetáculo; b) esporte enquanto atividade de lazer. O esporte que conhecemos, na escola, pode na verdade vincular-se a uma das duas perspectivas de esporte anteriormente referidas, embora pareçam predominar hoje, em maior ou menor grau, as características do esporte de rendimento. A manifestação que ainda fornece o modelo para o esporte escolar é o esporte de rendimento (BRACHT, 2011, p. 24). O esporte praticado como lazer também possui raízes ligadas ao esporte de rendimento ou espetáculo e que a ele muito se assemelham. Hoje, o esporte de alto rendimento é mais conhecido como esporte espetáculo, pois já é transformado em mercadoria, pelos meios de comunicação, por exemplo, o rádio e a televisão, onde são divulgados os eventos e notícias relacionadas ao esporte. Segundo Digel (apud BRACHT, 2011, p. 25): [...] o esporte espetáculo constitui hoje um sistema que pode ser resumido nos seguintes pontos: possui um aparato para a procura de talentos normalmente financiados pelo Estado e, além disso, promove o desenvolvimento tecnológico, com o desenvolvimento de aparelhos para a utilização completa do material humano ; tendo vários atletas que a principal ocupação é o esporte; possui um público consumidor que financia a parte do esporte-espetáculo; os meios de comunicação de massa são coorganizadores do esporte-espetáculo; possui um sistema de gratificação que varia em função do sistema político-societal. Então para diferenciar os dois tipos de manifestações esportivas temos o esporte espetáculo ou rendimento, aquele que visa o resultado, tendo características de empreendimento, de serviços capitalistas, ocorrendo lucros dentro do esporte. Quem adere a esta ideia são os profissionais ligados à área, como os dirigentes esportivos e a administração empresarial de cada clube.

22 21 [...] o esporte que nasceu dos jogos realmente populares, isto é, produzidos pelo povo, retorna ao povo, como folk music, sob a forma de espetáculos produzidos para o povo. O esporte espetáculo apareceria mais claramente como uma mercadoria de massa e a organização de espetáculos esportivos como um ramo entre outros do show business, se o valor coletivamente reconhecido à prática de esportes (principalmente depois que as competições esportivas se tornaram uma das medidas da força relativa das nações, ou seja, uma disputa política) não contribuísse para mascarar o divórcio entre a prática e o consumo e, ao mesmo tempo, as funções do simples consumo passivo (BOURDIEU, 1983, p. 144). O esporte de alto rendimento está fortemente ligado ao esporte enquanto lazer, pois grande parte dos seus praticantes, por exemplo, são os trabalhadores, que visam através dos meios de comunicação descobrir e conhecer a nova prática esportiva, tendo a oportunidade de vivenciar a modalidade, sem obter resultados, procurando mais pelo lado de recreação em seu contexto pessoal. O esporte de alto rendimento ou espetáculo aproxima-se do mundo do trabalho, onde cada vez mais o ser humano está inserido, enquanto o esporte como lazer circunscrevem-se no mundo do não trabalho. O sentido interno das ações no interior da instituição do esporte-espetáculo é pautado pela vitória ou derrota, da maximização do rendimento e da racionalização dos meios. No esporte como forma de lazer outros códigos apresentam-se como relevantes e capazes de orientar a ação, por exemplo, ligados à saúde, ao prazer da prática e à sociabilidade (BRACHT, 2011, p. 27). Mas claro que temos uma diferenciação entre os fenômenos esportivos e cabe observar que existem obviamente diferenças na função social e nas características do esporte de país para país, cada um com uma cultura diferenciada. O economista Proni (1998, p ), ao discutir o referido texto sobre o fenômeno esportivo argumenta em direção semelhante e aponta outras limitações, desenvolvendo o seguinte raciocínio: Nota-se que uma das características mais marcantes das sociedades modernas o elevado grau de mercantilização das relações sociais não tem um lugar de destaque nesse modelo analítico. A justificativa de Guttmann é que a comercialização dos espetáculos esportivos e a profissionalização dos atletas seriam fenômenos específicos do esporte em países de economia capitalista, não se verificando em nações socialistas. Como ele pretendia elaborar uma interpretação do esporte moderno que apreendesse as características básicas essencialmente invariantes ou seja, que pudessem ser encontradas em maior ou menor grau em qualquer sociedade do século XX, independentemente do tipo de regime político ou desenvolvimento econômico, a mercantilização não poderia ser incluída entre as categorias centrais que conformam o seu modelo (PRONI; LUCENA, 2002, p. 74).

23 22 Guttmann (apud PRONI; LUCENA, 2002, p. 74) procurou caracterizar os esportes de alto rendimento, não se aplicando adequadamente aos esportes praticados atualmente em escolas, universidades, clubes associativos, etc.. Deste modo, fica o pensamento em relação às sete características apresentadas por Guttmann (1978), se realmente o esporte moderno conviveu, tanto no passado quanto no presente com as mesmas e também se o esporte de alto rendimento faz com grande importância parte dos esportes modernos. 2.8 INDIVIDUALIZAÇÃO NO ESPORTE Com o passar dos anos busca-se entender qual a importância da prática esportiva com relação à sociedade mundial e neste momento preferencialmente no Brasil. Também com o objetivo de lançar novas ideias sobre o esporte como prática no contexto de um país, tendo sua própria colonização e sua ideologia. Falando em individualização, no Brasil ocorreram práticas esportivas, resultados de uma classe social, havendo formação de condutas e um processo que anda até os dias atuais. Segundo Elias (apud PRONI; LUCENA, 2002, p ): [...] em todas as ondas de expansão que ocorreram quando um modo de conduta de um pequeno grupo se expandiu para classes mais numerosas em ascensão, duas fases podiam ser claramente distinguidas: uma fase de colonização, ou assimilação, na qual a classe mais baixa e numerosa era ainda claramente inferior e estava pautada pelo exemplo do grupo superior tradicional que, intencionalmente ou não, saturou-a com seu próprio padrão de conduta, e uma segunda fase de repulsão, diferenciação ou emancipação, na qual os grupos em ascensão aumentam perceptivamente seu poder social e autoconfiança, enquanto o grupo superior é forçado a uma maior moderação e isolamento e tornam-se maiores os contrastes e tensões na sociedade. A partir de aspectos inter-relacionados, como a formação dos Estados Modernos, a democratização funcional, um autocontrole crescente e a difusão cada vez maior de práticas diferenciadoras como os esportes ungidos por uma rede (PRONI; LUCENA, 2002, p ). Por meio de processos de diferenciação e interdependência podemos observar, mais claramente, os diferentes comportamentos sociais e formas de relacionamentos atuais, havendo ainda a capacidade de entender a evolução e o significado das ações no esporte. O esporte em nossa sociedade é entendido de

24 23 uma forma diferenciada, de anos passados, nos quais outras formas de lazer eram consideradas esporte, acontecendo então mudanças no decorrer dos séculos. O mesmo faz com que apareça em novas relações sociais o interesse na prática esportiva e também ao termo conhecer o outro e não havendo restrições, fazendo com que o praticante chegue ao seu objetivo pessoal, sentindo-se realizado com o esporte. Trata-se a individualização como um meio de desencadear autocontroles individuais, relacionados à vida pessoal do praticante esportista, sendo assim, o processo de viver bem, viver mais tempo. É importante lembrar também das ações miméticas, caracterizando essas ações à pessoa praticante, seja como atleta ou como observador, transpondo emoções na busca de realizações de atividades de lazer, mesmo acontecendo em ambiente limitado ou sob controle. Procura-se então entender a individualização em um termo mais generalizado, relacionando a sociedade com o processo de diferenciação crescente, e já a mimesis, entendido no ambiente do lazer, do lazer esportivo, sendo assim, não apenas como uma prática especializada, mas referente também à participação e ao comportamento. 2.9 ESPORTE MODERNO NO BRASIL: CHEGADA DO FUTEBOL Primeiramente o futebol foi conhecido mundialmente pela elite inglesa, um esporte que tinha como objetivo superar o adversário, de forma que a bola elemento fundamental da modalidade, objeto redondo, ultrapassasse a linha da goleira adversária. No princípio era a bola. Desde a mais remota antiguidade, os mais diferentes povos já corriam atrás dela: chineses, japoneses, egípcios, gregos, romanos, italianos, normandos, bretões, astecas, guaranis e sabese lá quantos outros. Todos eles, ainda que cada qual a sua maneira, fizeram-na peça de rituais de confrontos, ou, simplesmente, de diversão (FRANZINI apud DEL PRIORE; MELO, 2009, p. 107). Em diferentes povos o jogo era praticado como forma de diversão, competição ou até mesmo lazer. Portanto, essa prática tornou-se um esporte institucionalizado, passando a ter regras pré-estabelecidas.

25 24 Em outras palavras, neste século começaram a transformar o que era jogo em esporte, submetido tanto a regras universais e bem definidas quanto a uma estrutura organizacional responsável por zelar pelo seu comprimento e administrar as competições entre as equipes (FRANZINI apud DEL PRIORE; MELO, 2009, p. 107). Através dos movimentos sociais e esportivos ingleses, o Brasil mergulhou nesta cultura primeiramente praticada por marinheiros vindos da Inglaterra que usavam esta prática como forma de lazer nos portos da costa brasileira. Mas a prática do futebol apenas começaria, contudo a tomar corpo nos anos de 1894, havendo o contato entre o esporte e a escola, acontecendo, por exemplo, com que muitos estudantes, depois da conclusão do curso, procurassem com mais interesse criar condições e formas de continuar jogando em outros cenários, outros locais do nosso país, o futebol. O paulista Charles William Miller foi um deles: em 1894, após passar dez anos estudando na Inglaterra, país natal de seus pais, voltou a São Paulo, munido de um livro de regras do Association Football, duas bolas para a sua prática, uma bomba de ar para enchê-las, um par de chuteiras, uma camisa do time do Banister Court School e outra do Saint Mary s Football Club, ambos de Southampton, pelos quais se destacara como atacante (FRANZINI apud DEL PRIORE; MELO, 2009, p. 113). Após a chegada de Charles Miller no Brasil, o futebol começou a se difundir em diferentes camadas da sociedade brasileira. Primeiramente este esporte foi praticado por indivíduos da elite social, onde formavam equipes e competiam entre si. Em São Paulo, onde Charles Miller promovera o primeiro jogo em 1895, entre funcionários da Companhia de Gás e funcionários da São Paulo Railway (em sua maior parte sócios do The São Paulo Athletic Club, como o próprio Miller), já existiam cinco clubes intensamente dedicados a sua prática: São Paulo Athletic, Associação Athletica Mackenzie College, Sport Club Germania, Spor Club Internacional e Club Athletico Paulistano (FRANZINI apud DEL PRIORE; MELO, 2009, p. 116). Neste momento o Brasil passa por um momento de desenvolvimento, tanto no movimento de estudantes que saíram para se especializar em diferentes áreas quanto de imigrantes vindos para o país buscando novas terras e com isso trazendo suas culturas como educação, lazer e hábitos religiosos. Destacam-se assim os clubes formados por imigrantes.

26 25 No final do século XIX e início do século XX o esporte mais praticado era conhecido como críquete, onde os praticantes procuravam como uma forma de lazer, após esta modalidade, começou a surgir e com mais fanatismo o futebol. Os exemplos citados não se esgotam em si, é claro; apenas ilustram um movimento que, de norte a sul do país, tornava-se cada vez mais comum na virada do século XIX para o século XX. Isto não significa, porém, que a aclimatação do futebol no Brasil foi fácil, muito menos natural, já que a existência de um punhado de adeptos nem sempre correspondia a existência de condições para a sua prática (FRANZINI apud DEL PRIORE; MELO, 2009, p. 113). O futebol no Brasil tornou-se uma modalidade esportiva conhecida e praticada pela maioria dos Estados brasileiros e começava a ter um caráter mais popular, aceitando a integração de indivíduos de diferentes classes sociais. Além disso, o futebol foi introduzido em diversas escolas, propiciando a expansão da prática para os alunos. Surgiram então equipes que disputavam competições mais precisamente no eixo Rio/São Paulo, pois foi nestes dois Estados que o futebol acabou se desenvolvendo com maior velocidade, sendo assim, tanto a elite quanto as camadas mais populares formaram equipes para competições. Antes que isso acontecesse, porém, deu-se que a bola caiu-se nos pés de outras camadas sociais, que não gozavam do privilégio de fazer parte de um seleto club ou estudar em colégios não menos exclusivos, como o Alfredo Gomes ou Albílio, onde o futebol passara a fazer parte da formação dos corpos e mentes dos alunos, com vistas a promoção daquele mesmo desenvolvimento físico da raça saudado na ocasião do primeiro jogo entre paulistas e cariocas. Novos personagens, novos interesses e, sobretudo, novas apropriações do jogo entravam assim em cena, ou melhor, em campo, e para transformá-lo em modo decisivo e indelével (FRANZINI apud DEL PRIORE; MELO, 2009, p. 120). A partir deste momento os introdutores desta prática no Brasil além de desenvolver esta modalidade pela grande parte dos Estados, também sentiram a necessidade de criar regras e ligas de competições, estabelecendo os padrões de cada uma delas. O surgimento de mais equipes trouxe a preocupação com a criação de uma instituição que pudesse organizar e planejar melhor as partidas que aconteciam entre as equipes de diferentes Estados durante as competições.

27 26 O primeiro movimento nesse sentido se deu em 1915, com a fundação no Rio de Janeiro, da Confederação Brasileira de Desporto (CBD), com o propósito de congregar os interesses das diversas ligas e federações esportivas estaduais e, assim, representar oficialmente o Brasil junto à Federação Internacional de Football Association, a Fifa, entidade máxima do futebol mundial, fundada em 1904 (FRANZINI apud DEL PRIORE; MELO, 2009, p ). A trajetória do futebol como já havia relatado passa como esporte amador e de elite, somente as camadas mais abastadas o praticavam, sendo chamada assim essa fase amadora e romântica do futebol brasileiro. Entretanto, dois fatores, além do surgimento de equipes amadoras, merecem atenção, pois irão sem sombras de dúvidas fazer parte do processo de profissionalização do futebol em nosso país. Já nesta década os dirigentes de clubes premiavam seus atletas por conseguirem chegar ao objetivo planejado, ou seja, indiretamente um benefício trabalhista, então sendo identificado como algo relacionado ao profissionalismo. E o amadorismo foi-se desmascarando. Em 1915 já não era escândalo a gratificação aos jogadores feita às claras em qualquer clube de São Paulo ou do Rio, de Pernambuco ou do Rio Grande do Sul (CORREA, 1933, p ). Toda essa mudança é devido as equipes amadoras, ao participarem de alguma liga e conseguirem chegar ao objetivo sonhado, de alguma forma os membros da diretoria do clube amador irão realizar uma espécie de prêmio, ou seja, o bicho, forma de se dizer onde os cargos superiores do futebol beneficiam os seus jogadores, após conseguir conquistar o objetivo. Com esse tipo de atitude, cabe pensar que o amadorismo realmente terá vida curta no país. O amadorismo, regime vigente no futebol brasileiro por um período de aproximadamente trinta anos, teve o seu ocaso em Era denominado amador, pois entre outras características fundamentais, proibia, através dos estatutos das primeiras associações e federações que os jogadores recebessem qualquer benefício que configurasse uma remuneração para jogar (TOLEDO, 2000, p. 10). O futebol de campo foi considerado amador até um certo ponto, pois percebe-se que a remuneração acabou sendo introduzida e se tornando um dos principais fatores da evolução desta modalidade, acontecendo então a transição do

28 27 amadorismo para o profissionalismo, onde boa parte dos envolvidos recebia algum benefício dentro e fora de campo. No Brasil, o futebol de campo passou a ser conhecido profissionalmente, subdividido em três momentos, segundo Toledo (2000, p ): [...] teve início com o fim do amadorismo e durou até meados dos anos 40, empenhou-se em acabar com os resquícios do amadorismo às escondidas, conhecido como marrom, regulamentando os ganhos financeiros dos jogadores, sobretudo nos campeonatos mais organizados. Um segundo momento do profissionalismo pela ingerência do Estado Novo, que passou a regulamentar de maneira centralizadora as diretrizes do esporte nacional, com a criação do CND Conselho Nacional de Desportos, em 1943, fiscalizando clubes, federações e confederações. O terceiro momento, inaugurado por volta da primeira metade dos anos 90, se desdobra na atual conjuntura. Paulatinamente, vem-se substituindo a centralização burocratizada característica do período anterior, ampliando os processos de profissionalização não somente entre os jogadores, o que se exemplifica com a regulamentação da Lei Pelé, que estabelece o fim da Lei do Passe, como também no gerenciamento dos clubes, federações e confederações, com nítida participação de empresas privadas patrocinando e conduzindo os negócios esportivos. Com os três momentos citados anteriormente podemos ter a clara certeza que o futebol de campo desenvolveu de maneira rápida com a introdução do esporte com remuneração. No início o esporte era remunerado às escuras, onde poucos eram beneficiados e sem divulgação, é provável que estes eram os jogadores da elite. Após este fato ocorrer, foi através da criação do Conselho Nacional de Desportos que todos os envolvidos no esporte teriam informações arquivadas, registros dos benefícios ganhos. Por fim, com a criação da Lei Pelé em 24 de março de 1998, houve mais ainda a participação de indivíduos interessados em patrocinar aqueles que os interessavam, aqui falamos em atletas, clubes, comissão técnica e demais envolvidos neste meio, mas claro com total legalidade e transparência por parte dos órgãos superiores. O desenvolvimento do futebol de campo profissional em nosso país é um exemplo clássico da evolução desta trajetória esportista que está ligada ao jogo como espetáculo de massa, que mobiliza diferentes camadas da sociedade, um esporte espetáculo, visado e deslumbrado pelo povo brasileiro e enaltecido pela mídia, que ao longo dos anos mais adeptos fazem parte do meio futebolístico.