Relatório da administração, um estudo da sua apresentação como elemento de evidenciação.

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1 Relatório da administração, um estudo da sua apresentação como elemento de evidenciação. MARCOS ROBERTO DE SOUZA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO DANIEL GUSTAVO VIEGAS DE LIMA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO RESUMO Os relatórios da administração de inúmeras empresas têm sido publicados sem atender as recomendações mínimas da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) para sua elaboração, não permitindo aos usuários desses relatórios tomar decisões com maior margem de segurança. O objetivo do presente trabalho é verificar se as principais empresas do setor financeiro brasileiro estão inseridas nessa problemática, não apresentando o relatório da administração de forma elucidativa aos usuários. O estudo é realizado através da verificação quantitativa do atendimento dos relatórios da administração as normas da CVM, e também por meio da análise crítica de sua apresentação. É objeto de estudo os relatórios da administração referentes ao exercício de 2003 dos quatros maiores conglomerados financeiros do Brasil, sendo eles: Banco Bradesco S.A., Banco Itaú S. A, Banco do Brasil S. A e Banco Unibanco S.A., utilizando como base o parecer de recomendação Nº 15/87 da CVM, que tem como finalidade auxiliar as companhias na divulgação dos principais fatos sociais e administrativos do exercício conforme determina a Lei 6404/76. O artigo trás aspectos teóricos relacionados aos relatórios da administração e panoramas históricos do controle que as sociedades anônimas se sujeitaram ao longo da história no Brasil, e tem o seu foco no esclarecimento das recomendações da CVM e na verificação do cumprimento das determinações desta pelas companhias. 1

2 1. INTRODUÇÃO As sociedades por ações são um importante instrumento do capitalismo, isto porque permitem à população participação em grandes investimentos e as empresas ampliarem consideravelmente os seus mecanismos de financiamento. Desse modo, essas empresas se inserem socialmente, e toda e qualquer ação por elas executadas são capazes de atingir as pessoas, causar instabilidade na economia e em governos. Estando o controle dessas empresas concentrados nas mãos de um pequeno grupo de acionistas é relevante à ampliação do debate sobre os mecanismos e documentos que permitem maior transparência empresarial. Recentemente, a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) desenvolveu um segmento de listagem que visa a negociação de ações de empresas, que evidenciam informações adicionais ao que é exigido pela legislação brasileira e que adotam praticas de governança corporativa. Com esta listagem, chamada de Novo Mercado, espera-se que as empresas que aderirem a este segmento possam capitar um maior volume de recursos e com um menor custo e que seja ampliada a segurança dos investidores. O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) também tem atuado na ampliação do mercado de capitais no Brasil, o que somente será possível segundo alguns analistas com a adesão dos pequenos investidores ao mercado de capitais. Porém estes ainda não se sentem seguros o bastante para aumentarem consideravelmente o volume de investimentos. A ampliação das divulgações de informações relevantes aos acionistas na sua avaliação sobre onde investir é fundamental para que a Bolsa de Valores de São Paulo e o BNDES consigam atingir seus objetivos. Em meio a inúmeros elementos de evidenciação (disclosure), o presente trabalho tem como objetivo analisar, com base nas recomendações da Comissão de Valores Mobiliários, os relatórios da administração referentes ao exercício de 2003, dos quatros maiores conglomerados bancários do país: Banco Bradesco S.A., Banco Itaú S.A., Banco do Brasil S.A., Banco Unibanco S.A. O estudo do relatório da administração do grupo de empresas selecionadas é essencial para a promoção do debate quanto a transparência da administração no sistema financeiro nacional, já que mesmo havendo obrigatoriedade e recomendações para sua elaboração e divulgação, o relatório da administração apresentado por um grande número de empresa em diversos setores, não tem sido divulgado explorando todo o seu potencial, sendo apresentada muitas vezes por mera formalidade. É possível encontrarmos também, relatórios que indicam tendências contrarias àquelas presentes nas demonstrações financeiras. Espera-se verificar neste trabalho se os relatórios citados, permitem a evidenciação da situação atual e futura da empresa, e se os mesmos expressam os principais fatos sociais e administrativos do exercício e se complementam as demonstrações contábeis com dados e informações adicionais úteis aos usuários na tomada de decisão, ou seja, se os mesmo estão de acordo com as recomendações da CVM para sua elaboração. 2

3 2. REFERENCIAL TEÓRICO O tema relatório da administração é objeto de estudo constante de organizações, acadêmicos e autarquias preocupados com a relação entre as empresas e os acionistas. Os trabalhos da Organização das Nações Unidas (ONU) e do Security Exchange Commission (SEC) 1 podem ser considerados referencias neste tema. As orientações da ONU desenvolvida pela Comissão de Corporações Transnacionais através do Grupo Intergovernamental de Especialistas em Padrões Internacionais de Contabilidade e de Relatório, sobre o conteúdo do relatório da administração, abrangem a evidenciação corporativa, setorial, financeira de uma empresa e a divulgação de informações sobre os diretores, principais acionistas e também a opinião ou declaração do presidente da mesma; estas orientações são suficientes para que a administração de uma empresa exponha seus principais atos e informe aos usuários do relatório com informações complementares as demonstrações contábeis. Já a SEC além de divulgar as recomendações básicas que o Management Discussion na Analysis - MD&A, o equivalente ao relatório administração deveria trazer, estudou em 1988 o atendimento das empresas às suas recomendações, analisando 359 empresas de 24 setores industriais dos Estados Unidos da América. Este estudo foi fundamental para que a SEC editasse um complemento às suas normas, ampliando ainda mais o poder informativo do MD&A, que se tornou obrigatório no ano de No Brasil é destaque a contribuição dada pela equipe coordenada por Iudícibus, Martins e Gelbcke, que ampliou consideravelmente o debate a respeito do relatório da administração no Brasil ao expor a problemática do mesmo. O Trabalho de Mário Mafra que disserta sobre a conformidade do relatório da administração no Brasil aos critérios da CVM e da ONU, nos apresenta em suas conclusões a existência de uma forte correlação positiva entre o tamanho do ativo total e do patrimônio liquido das companhias abertas e os graus de adequação aos critérios da CVM e da ONU. O trabalho desenvolvido com uma amostra de 100 empresas analisou os relatórios entregues por estas a CVM referentes ao exercício de 1998 e demonstra principalmente o quanto os itens recomendados pela CVM para elaboração do relatório tem baixa grau de evidenciação. 1 Comissão de Segurança e Permuta. Órgão norte-americano responsável em proteger investidores e manter a segurança e integridade do mercado de capitais. 3

4 3. BREVE PANORAMA Diversas leis regularam as sociedades por ações brasileiras desde o seu início. Além do Código Comercial, outros textos podem ser destacados como o Decreto nº 434, de 4 de julho de 1891, que consolidou as disposições legislativas e regulamentares que vigeu até 1940 quando foi revogado pelo Decreto-lei nº 2687, de 26 de setembro de 1940 que disciplinava as sociedades por ações dando estrutura jurídica ao anonimato; em 1965, a lei nº 4728, de 14 de julho disciplinou o mercado introduzindo diversas modificações aperfeiçoando as sociedades anônimas. Houve ainda uma série de melhorias como a reforma das Bolsas de Valores que buscava adotar uma estrutura moderna promovida pela resolução nº 39, do Banco Central do Brasil, criado pela Lei da Reforma Bancaria de A Lei nº 4728, de 14 de julho de 1965 possuía em seu bojo reformas parciais das sociedades por ações como a criação de novos institutos, tais como, a sociedade de capital aberto e o capital autorizado, as ações nominativas endossáveis, e vários outros dispositivos necessários para o desenvolvimento do mercado. Com essas novas medidas jurídicas o país possuía todas as ferramentas para o advento dos negócios bolsistas. Contudo, problemas no mercado acionário, causados principalmente pela especulação desenfreada, envolvendo todos setores da economia, inclusive as camadas mais modestas da população, levaram o governo a adequar a Lei das Sociedades por Ações a fim de dar uma maior segurança ao investidor e proteger principalmente a minoria acionária. Juristas foram nomeados para elaborarem a reforma e realizaram diversos estudos técnicos para adequar a sociedade por ações à nova realidade. Enfim, foi elaborada a Lei nº 6404, de 15 de dezembro de 1976 que criava uma estrutura legal para a sociedade anônima e tinha como principais objetivos a proteção dos acionistas minoritários e a fiscalização das sociedades, e trouxe a obrigatoriedade da divulgação do relatório da administração pelas Sociedades por Ações. Com a criação da Comissão de Valores Mobiliários constituída pela Lei nº 6385, de 7 de dezembro de 1976 e alterada pela Lei nº 9457, de 5 de maio de 1997, o Estado passou a ter um importante órgão de fiscalização exclusivo para sociedades anônimas, hoje por ações, ao qual compete a fiscalização na emissão e distribuição de valores mobiliários; a organização, o funcionamento e as operações das bolsas de valores; as atividades das auditorias das companhias abertas entre outras. É destaque na Lei que cria a CVM, a competência atribuída a esta, para estabelecer normas a respeito do relatório da administração. Porém somente em 1987 através do parecer n 15 a CVM expressa os procedimentos a serem seguidos na sua elaboração. Hoje mais do que nunca há uma grande preocupação com a governança corporativa, ou seja, quanto aos arranjos institucionais que regem as relações entre acionistas e demais interessados nas empresas tornando a relação mais transparente. 4

5 4. RECOMENDAÇÕES DA CVM Integrante do Documentos da administração que abrange ainda as demonstrações contábeis, as notas explicativas e os pareceres dos auditores independentes, o relatório da administração deve expressar os negócios sociais e os principais fatos administrativos do exercício findo, conforme determina a Lei n 6.404/76 em seu art.133 item I. Essa mesma Lei determina também que seja expresso: a) Art.55, 2º (aquisição de debêntures de emissão própria); b) Art.118, 5º (política de reinvestimento de lucros e dividendos, constantes de acordos de acionistas); c) Art.243 (modificações ocorridas no exercício nos investimentos em coligadas e controladas). Em 1987 a CVM fazendo uso de sua prerrogativa pronunciou-se através do Parecer de Orientação nº 15, recomendando a divulgação de alguns itens no citado relatório para que este cumpra a sua função de bem informar os usuários sobre os principais fatos sociais e administrativos do exercício, e são os seguintes: a) Descrição dos negócios, produtos e serviços b) Comentário sobre a conjuntura econômica geral c) Recursos Humanos d) Pesquisa e Desenvolvimento e) Investimentos f) Novos produtos e serviços g) Proteção ao meio ambiente h) Reformulações administrativas i) Investimentos em controladas e coligadas j) Direitos dos acionistas e dados do mercado k) Perspectivas e planos para o exercício em curso e os futuros l) Empresas investidoras Este parecer recomenda também que haja simplicidade na linguagem ao redigir o relatório, para que seja entendido por um maior número de leitores, que não seja apresentado a simples apresentação de percentuais, até por que se pretende neste relatório expor os fatores que influenciaram as mutações ocorridas. 5

6 É importante notar que o relatório da administração não é padronizado, e que a sua flexibilidade é fundamental para que este gere informações relevantes aos usuários conforme a característica peculiar de cada empresa. O relatório da administração não se confunde com uma simples citação da estrutura e dos atos da administração de uma companhia, pelo contrário, ela espelha os negócios sociais e os atos da administração de forma que os acionistas possam acompanhar a administração da companhia no desenvolvimento da sua função. Pode-se questionar se o relatório da administração não serviria apenas como uma referencia geral sobre a empresa. A resposta é negativa, porque a LEI e o Parecer de orientação da CVM número são claros e rigorosos ao definir as informações que devem constar no relatório da administração, para que este sirva de informação, como o restante das demonstrações financeiras, um quadro completo das posturas e do desempenho da administração, na gestão e alocação dos recursos a ela confiados. O relatório da administração deve ser, portanto,uma detalhada prestação de contas dos gestores para com os acionistas, minoritários e os de fora do bloco de controle.(mafra, 2001, p.5). E as notas explicativas mesmo tendo surgido como parte do esforço de ampliar a evidenciação, não se confundem com o relatório neste trabalho analisado, já que aquela evidencia práticas contábeis utilizadas pela companhia, esclarecimentos de contas, operações específicas e possuem natureza retrospectiva, enquanto que o relatório além de apresentar características retrospectivas, também apresenta fatos prospectivos mostrando projeções futuras e se dedicando a informar sobre a companhia e a inserção social desta e os atos da administração de uma forma mais descritiva e menos técnica podendo ser entendido por um maior número de usuários. 6

7 5. O ESTUDO O objetivo deste trabalho é analisar os relatórios da administração do exercício de 2003 dos quatros maiores conglomerados bancários brasileiro. Para isso, levamos em consideração as recomendações da CVM para a elaboração do mesmo, estando estas presentes no parecer de orientação número quinze publicado no ano de A escolha da amostra foi feita com base no relatório 50 maiores bancos e o consolidado do sistema financeiro nacional publicado trimestralmente pelo banco central do Brasil. Para escolha das companhias que compõem a amostra selecionamos as que apresentavam os quatros maiores ativos, entre os conglomerados financeiros, ou seja, o conjunto de instituições que consolidam seus demonstrativos financeiros. DATA DO ATIVO EMPRESA Tabela 1 BALANCETE Em TOTAL R$ Mil Banco do Brasil 31/12/ Banco Bradesco 31/12/ Banco Itaú 31/12/ Unibanco 31/12/ Considerando-se as informações presentes nos relatórios da administração das companhias selecionadas é feito uma análise de conteúdo com a finalidade de identificar quais itens recomendados pela CVM são evidenciados pelas companhias que compõem a amostra e em qual proporção a amostra os apresenta. As recomendações da CVM referentes a reformulações administrativas e empresas investidoras não fazem parte dos critérios analisados, pois a sua apresentação deve ser realizada somente na ocorrência de algum fato gerador. O que provocaria distorções na apuração do grau de evidenciação. Cada quesito atendido pelo conjunto da amostra recebe quatro pontos, demonstrando que o item possui total atendimento pelas empresas cujos relatórios são analisados neste trabalho. Já se apenas três empresas o apresenta, o critério recebe 3 (três) pontos e assim segue sucessivamente de modo que o critério não atendido por nenhuma empresa recebe 0 (zero) pontos. Caso esteja em conformidade total com as recomendações da CVM a amostra terá recebido 40 (quarenta) pontos representando 100% (cem por cento) de atendimento. Para fins de conclusão sobre o grau de adequação dos relatórios analisados os resultados foram 7

8 agrupados em quartis de 25% (vinte e cinco por cento), 50% (cinqüenta por cento), 75% (setenta e cinco por cento) e 100% (cem por cento) representando respectivamente péssimo nível de adequação, baixo nível de adequação, razoável nível de adequação e excelente nível de adequação. O método se justifica, pois permite que dados sejam analisados de forma confiável mesmo estando de modo descritivo. Apresentamos também a análise crítica dos relatórios estudados, pois nos serve de complemento para a conclusão, bem como evidenciamos as principais informações presentes nos relatórios. 5.1 Apuração do grau de evidenciação dos critérios analisados, juntamente com a explicação de cada critério: Descrição dos negócios, produtos e serviços. Neste tópico, pode ser feito um resumo onde seja(m) mencionado(s) o(s) ramo(s) de atividade(s) da companhia, os principais produtos, área(s) de atuação, dados comparativos das vendas físicas dos períodos objeto do relatório e respectivos valores em moeda de poder aquisitivo da data do encerramento do ultimo exercício social. Podem, ainda, ser apresentadas descrição e analise por segmento ou linha de produto, quando importantes para melhor compreensão e avaliação.(iudícibus, Martins e Gelbcke, 2000, p.401). As companhias apresentaram informações referentes ao tópico 3 Comentários sobre a conjuntura econômica O principal relato a ser considerado refere-se à análise de fatores exógenos cuja contribuição para o desempenho da companhia tenha sido significativa. Entre esses fatores incluem-se atos governamentais tanto de efeito fiscal quanto de alteração no próprio contexto econômico como um todo, concorrências nos mercados, alterações climáticas etc. (idem) As companhias apresentaram informações referentes ao tópico 4 Recursos humanos Devem ser indicados: a quantidade de empregados no encerramento do exercício (o ideal é a quantidade média) e sua rotação (turnover) nos períodos reportados; divisão de mão de obra conforme a localização geográfica; nível educacional; investimentos em treinamentos; fundos de seguridade e outros 8

9 planos sociais. Em suma, devem ser divulgados os aspectos relevantes à área de pessoal para efeito de análise do desempenho da companhia. Cada vez mais são exigidas informações de natureza social da empresa no mundo todo. (idem) As companhias apresentaram informações referentes ao tópico 2 Investimentos Este item deve abranger a descrição dos principais investimentos realizados, objetivo, montantes e origens dos recursos alocados. Como investimentos, para efeito deste item, devem ser entendidas as inversões de recursos em bens do ativo imobilizado, aplicações no diferido, ou mesmo aquisições de bens (terrenos etc.) cuja utilização como imobilizado far-se-á mais adiante. (idem) As companhias apresentaram informações referentes ao tópico 2 Pesquisa e desenvolvimento Breve descrição e atual estagio dos projetos, recursos alocados e montantes aplicados. Evidentemente, o aspecto relativo ao sigilo nos casos de pesquisa e desenvolvimento é um fator relevante a ser considerado. A recomendação não prevê, porém, uma divulgação detalhada dos projetos, propiciando aos usuários apenas o conhecimento em relação à filosofia administrativa em termos de busca de novas tecnologias ou seu aperfeiçoamento. Essa informação é de grande importância em relação a previsões quanto à continuidade futura da empresa em comparação com outras do mesmo ramo de atividade. (idem) As companhias apresentaram informações referentes ao tópico 0 Novos produtos e serviços Devem ser mencionados os novos produtos e/ou serviços colocados à disposição do mercado durante o período, bem com as expectativas a eles relativas. Essas expectativas não devem ser puramente emocionais, mas baseadas em dados que as suportem, como estudos prévios de mercado, estratégia a ser implementada, testes de demanda/consumo etc. (idem) 9

10 As companhias apresentaram informações referentes ao tópico 1 Proteção ao meio ambiente Pelo fato de as discussões em torno da proteção à ecologia virem desenvolvendo-se de forma cada vez mais acelerada, este item passa a ser significativo em termos de divulgação. Para isto, deve ser feita uma descrição dos investimentos efetuados, mencionado-se o objetivo das inversões e respectivo valor dos gastos envolvidos para controle do meio ambiente (gastos com purificação de dejetos, gases etc.) e outros. (idem, p.402). As companhias apresentaram informações referentes ao tópico 0 Investimentos em controladas e coligada Devem ser indicados os investimentos efetuados e objetivos pretendidos com as inversões. Em geral, as companhias têm evidenciado os investimentos tão-somente nas notas explicativas, fazendo menção a isso no Relatório. Aparentemente, esse procedimento atende à legislação; entretanto, não seria a maneira mais adequada de divulgação, pois nas notas explicativas constam apenas a composição de valores apresentados no balanços e demonstração de resultados (equivalência patrimonial) e alguns outros itens definidos em lei, enquanto no Relatório da Administração a menção deve ser feita no sentido de justificar os objetivos pretendidos com a inversão de recursos ou mesmo as razões pelas quais a empresa desfez-se de determinado investimento. (idem, p.402) As companhias apresentaram informações referentes ao tópico 0 Direitos dos acionistas e dados do mercado Os principais aspectos a serem abordados são as políticas relativas a distribuição de direitos, desdobramento e grupamentos; valor patrimonial por ação, volume negociado no período e cotações das ações em bolsas de valores (média e no final do período). Essas informações são muito relevantes para o investidor na análise da relação entre a cotação em bolsa e o valor patrimonial das ações, bem como em termos de retorno sobre o capital investido ou a investir,em função das políticas adotadas pela administração na distribuição de dividendos etc.(idem, p.402). 10

11 As companhias apresentaram informações referentes ao tópico 3 Perspectivas e planos para o exercício em curso e os futuros Poderá ser divulgada a expectativas da administração quanto aos exercícios correntes e futuros,baseada em premissas e fundamentos explicitamente colocados. É conveniente esclarecer-se o fato de que neste tópico não precisam contar qualificações,daí não poderem ser confundidas as expectativas fundamentadas com as projeções qualificadas de resultados etc. Como fundamentação básica das expectativas, deverão constar os cenários nos quais se basearam. (idem, p.402) As companhias apresentaram informações referentes ao tópico 2 11

12 Verifica-se que a amostra recebeu 17 pontos dentre 40 pontos possíveis, o que a caracteriza como de baixa adequação aos critérios da CVM. Conforme evidencia a tabela a seguir: Tabela 2 Quartil 1º 2º 3º 4º Pontos Indicação Péssima adequação Baixa adequação Razoável Adequação Excelente Adequação 5.2 Gráfico comparativo dos resultados: A) Descrição dos negócios, produtos e serviços. B) Comentário sobre a conjuntura econômica geral. C) Recursos Humanos. D) Investimentos. E) Pesquisa e Desenvolvimento. Novos produtos e serviços. F) Proteção ao meio ambiente G) Investimentos em controladas e coligadas H) Direitos dos acionistas e dados do mercado. I) Perspectivas e planos para o exercício em curso e os futuros FREQUENCIA DE ATENDIMENTO A B C D E F G H I J FREQUENCIA DE ATENDIMENTO 12

13 6. DESCRIÇÃO E CRÍTICA DOS RELATÓRIOS. A respeito da flexibilização que marca os relatórios da administração notamos que a maioria das empresas analisadas o utiliza para evidenciar a mutação patrimonial e o resultado do exercício consolidado, permitindo que estas informações sejam entendidas por uma gama maior de usuário, havendo a preocupação em evidenciar a tendência que os números das empresas parecem convergir. Isto é feito com a divulgação de percentuais de exercícios anteriores. É destaque ainda no que se refere a evidenciação do resultado a utilização por uma das companhias de gráficos e tabelas. Ao fazer a evidenciação dos negócios, produtos e serviços fica claro que as empresas estão preocupadas em descrever seus negócios e serviços de forma detalhada e esclarecedora analisando e comentando seus negócios de forma segmentada e com profundidade, evidenciando deste, os negócios de crédito à população de baixa renda até transações corporativas de grandes volumes financeiros. Essa segmentação é de extrema importância, já que se trata de conglomerados financeiros extremamente complexos e proporciona uma maior simplificação para o entendimento do usuário. Todos os bancos da amostra se preocuparam em comentar a conjuntura econômica atual. Apesar do número máximo da amostra preencher tal item, os comentários se mostraram falhos, pois estes trazem informações que se aplicam a qualquer empresa da economia, não demonstrando de modo consistente como as políticas adotadas na economia brasileira interferiram em seus resultados. É importante notar que o ramo estudado nesse artigo é extremamente competitivo, mas mesmo assim nenhuma empresa citou possíveis interferências da concorrência em seus resultados. Infelizmente nem todas empresas analisadas trazem nos relatórios da administração informações sobre recursos humanos. Entre as empresas que a apresentam, destaque para a que trás dados referentes a investimentos em treinamento de pessoal, participação de mulheres nos quadros de funcionários e em cargos de direção dentro da companhia, política de estágio, convênios com universidades e benefícios sociais, pecando apenas no que se refere à apresentação de dados de exercícios anteriores sobre o setor de recursos humanos. O segmento financeiro ao contrário de outros setores da economia como o industrial, não tem a pesquisa e o desenvolvimento como prática comum no seu segmento. Assim sendo, é compreensível que nenhuma empresa da amostra atenda a evidenciação desta informação. Porém, neste caso e em outros é valida a recomendação de Iudícibus, Martins e Gelbck, pág 402. Em função de dificuldade de se concluir sobre a existência ou não de determinados itens, seria conveniente a declaração, no relatório, da não aplicabilidade à empresa dos itens específicos recomendados, visando dar maior clareza para seus acionistas e usuários. Assim sendo, a recomendação da CVM para a divulgação de informações referentes à proteção ao meio ambiente e dados sobre coligadas e controladas, que não foram divulgadas por nenhuma das empresas analisadas, poderiam ter sido evidenciadas, mesmo que as companhias não adotassem nenhum tipo de política ambiental, informando o seu não atendimento. 13

14 As informações referentes a investimentos, têm o predomínio da apresentação de políticas adotadas. Estas, segundo os relatórios que atentem a recomendação são voltadas para a área de tecnologia, principalmente no que se refere à internet e sistemas de informação. Na exposição são informados os montantes e objetivos investimentos. As empresas apresentaram uma abrangente evidenciação dos direitos dos acionistas e os dados do mercado, exceção de uma, que apenas se limitou a informar o valor patrimonial alcançado por lote de suas ações. As outras três companhias detalharam os valores patrimoniais das ações, a cotação média das ações no período, política de distribuição de direitos e volume negociado. Outras informações como políticas de recompra de ações e seus objetivos também foram divulgados. Todas essas informações são de extrema importância para os acionistas, já que os mesmos obtêm de forma simplificada o resumo de seu patrimônio e tendências em relação ao andamento dos seus negócios. A visão das expectativas que tem a administração em relação aos próximos exercícios e ao corrente, divulgada contemplando a recomendação Perspectivas e planos para o exercício em curso e os futuros, tem atendimento parcial pelas empresas da amostra. Uma das empresas cita dados quantitativos referentes aos resultados alcançados, enquanto a outra, fundamenta suas expectativas através de fatores macroeconômicos na qual a empresa está inserida. Outra recomendação importante para que os usuários tenham expectativas quanto ao futuro da companhia, é a que diz respeito a evidenciação de novos produtos e serviços, porém há um baixo atendimento a esta recomendação pela amostra. A única referência encontrada descreve os principais serviços colocados à disposição no exercício, salientando seus principais objetivos, área de atuação e o alvo dos serviços. A empresa peca por não demonstrar suas expectativas em relação ao novo serviço, que poderia ser feita através de pesquisas ou tendências de mercado. O relatório da administração é visto por muitos analistas, como um relatório promocional, pois podem conter exageros cometidos pelos elaboradores que dão uma grande importância a evidenciação de fatos de interesse somente da administração. Um outro problema encontrado nos diversos relatórios publicados é a divulgação de fotos. Isto é claramente identificado numa das empresas, fazendo com que o relatório da mesma se caracterize como um relatório escorregadio, já que fotos e exageros cometidos na diagramação tendem a influenciar a análise. 14

15 6. CONCLUSÃO Conclui-se com base nos métodos e estudos utilizados que a amostra não atende de forma satisfatória as recomendações da CVM, ou seja, que o conjunto de relatórios da administração analisados não permite que os usuários obtenham as informações básicas sobre os principais fatos sociais e administrativos das companhias. Para que cumpra sua função, os relatórios analisados têm muito a evoluir. Sendo fundamental para tanto um maior interesse das companhias em demonstrar de forma objetiva e com certa profundidade aspectos que complementam as demonstrações contábeis com informações úteis aos usuários na sua tomada de decisão. 7. BIBLIOGRAFIA: IUDÍCIBUS, Sérgio de; MARTINS, Eliseu; GELBECKE, Ernesto Rubens. Manual de contabilidade das sociedades por ações 5º Edição. São Paulo: Editora Atlas REQUIÃO, Rubens. Curso de direito comercial 2 o volume, 22 o Edição. São Paulo: Editora Saraiva. MAFRA, Mário A. F. O relatório da administração: Peça de informação ou de ficção? Dissertação (Mestrado), Pontifícia Universidade Católica, Rio de Janeiro, CVM, Comissão de Valores Imobiliários, disponível na internet em: BANCO CENTRAL DO BRASIL, disponível na internet em : BANCO BRADESCO, disponível na internet em: BANCO ITAÚ, disponível na internet em: BANCO UNIBANCO, disponível na internet em: BANCO DO BRASIL, disponível na internet em: BNDES, Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, disponível na internet em: BOVESPA, Bolsa de Valores de São Paulo, disponível na internet em: 15

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