coisas que aprendi sobre o Mundo 2.0

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1 1 50 coisas que aprendi sobre o Mundo 2.0 Carlos Nepomuceno 2011 Versão 1.1 1

2 2 Conteúdo Papo inicial coisas que aprendi sobre Internet coisas que aprendi sobre Empresas coisas que aprendi sobre Governo coisas que aprendi sobre debates coisas que aprendi sobre política

3 3 Apoios de divulgação: 3

4 4 Papo inicial Ok, tem o blog ( que é meu espaço de tentar transformar sustos e surtos em textos. Aquilo lá é minha academia de ginástica mental. Meu exercício aeróbico cognitivo. Os textos são longos e servem principalmente para mim. No blog, tem uma pessoal que me lê, que comenta, mas são poucos, pois não posso querer muito de um mundo que está correndo perdido a mil por hora, com a roda da bicicleta furada e acha que não tem tempo para parar para trocá-la, mesmo que o esforço seja maior. O blog, na verdade é sempre a minha tentativa de pular o arame da fronteira da realidade sem visto, ou passaporte. Quem escreve o blog para os outros, a meu ver, não escreve para ninguém, pois a mídia de massa tem público alvo e dá a ele o que ele quer. Um blog, como o mundo que estamos entrando, é a tentativa da recuperação da autenticidade, dar ao mundo aquilo que ele não saber que quer ou precisa. Novas vozes, que não estão à procura de nicho. Algo off-mídia, mídia de missa, em que algumas pessoas próximas do meu aquário de conhecimento percebem a relevância das coisas que percebo. É algo para surtar e assustar mesmo, principalmente a mim, que vou alargando minhas fronteiras. Imagino que antigamente os pensadores, pesquisadores faziam dessa maneira, mas depois a Ciência foi se burocratizando e criando muitas normas, regras, padrões e foi perdendo a sua autenticidade, intuição, espontaneidade, que precisa ser 4

5 5 resgatada agora. Tudo em nome de uma pseudo-seriedade acadêmica. O problema é que acabaram por jogar o bebê, o sabonete, a água e tudo mais pela janela. Já andam revendo isso, com revistas eletrônicas colaborativas Os blogs, nesse processo, são um dos caminhos possíveis. Pois é, tudo isso para os meus 6 (seis) bravos leitores fixos e alguns itinerantes. :) Muitos foram ficando conhecidos, outros amigos. Mas e os outros? Pois é o blog ajuda a pensar, mas não é muito bom para representar e expandir minhas ideias. Está tudo muito disperso. Os blogs têm esse defeito temporal. Fiz um primeiro e-book, Civilização 2.0, na tentativa vã, porém válida, de estar totalmente livre de agrotóxicos 1.0. Coloquei na rede. Este agora é um aprofundamento daquela prática, mas amadurecendo. Consegui perceber que para cada tema podia tentar sintetizar meu aprendizado em 10 tópicos, que davam um post e formando de 10 em 10, muitas coisas que aprendi. Note, entretanto, que a expressão o aprendi é bem diferente do que é. Não se trata das coisas que são, como se a realidade pudesse ser apreendida, mas o que aprendi depois de milhares de horas pensando, conversando, debatendo, dialogando com todos que me cercam. 5

6 6 É uma batalha louca contra tudo que recebi do passado e a tentativa de ir adiante. É um retrato para tentar compartilhar algumas visões distintas de muita fumaça que anda por aí. Espero que gostem e ajudem a nepo.com.br cnepomu@gmail.com 6

7 7 10 coisas que aprendi sobre Internet Vivemos um daqueles momentos em que o risco maior talvez seja não apostar em nada - John Elkington; 1 A Internet forma um conjunto de tecnologias de informação e comunicação integradas, surgidas no final do século passado, que inaugura uma nova ecologia informacional na sociedade, tivemos algo similar com a chegada da fala, da escrita e da escrita impressa; 2 - A passagem de uma ecologia informacional para outra pode ser considerada uma revolução da informação e da comunicação. No passado tal fenômeno macro-histórico, com a chegada do papel impresso, passou por 4 fases distintas: difusão e massificação da tecnologia, surto filosófico, revoluções sociais e, por fim, consolidação. Estamos agora ainda na fase 1, nos cinco primeiros minutos do primeiro tempo; 7

8 8 3 - Revoluções nestes dois campos são fenômenos raros na sociedade, tendo outro similar ocorrido há 500 anos com a chegada do papel impresso na Europa e têm como característica principal a descentralização da informação e da comunicação (o que não ocorreu com a chegada do rádio ou da tevê), impactando fortemente na forma de estruturação do poder, com variações nas diferentes regiões do globo; 4 - Tais revoluções, apesar de serem iniciadas com fenômenos tecnológicos, têm forte impacto na maneira em que a sociedade se organiza, criando condições sociais para um longo processo de mudanças culturais e filosóficas, alterando a forma que pensamos o mundo e gerimos a sociedade tantas alterações que pode-se afirmar que inauguramos uma nova civilização, a partir desse fenômeno; 5- Há fortes indícios que a Internet e suas consequências sejam motivadas pelo acentuado aumento da população ocorrido nos últimos 200 anos, quando passamos de 1 para 7 bilhões de habitantes, o que obriga a toda a sociedade a rever seus modelos de gestão, onde se inclui principalmente a forma de exercer o poder na políticas, nas empresas, nas escolas, etc; 8

9 9 6 - O novo ambiente informacional permite, de forma mais dinâmica, em função das novas e mais complexas demandas, resolver problemas produtivos, de informação, comunicação e de gestão social de forma menos burocrática, restabelecendo novas formas de trabalho mais colaborativas, que são mais econômicas e competitivas do que as anteriores e, por isso, tendem a ser adotadas em larga escala, apesar as resistências culturais vistas hoje em dia; 7- Todas as instituições da sociedade passam a ser influenciadas pelo novo ambiente informacional, tendendo a descentralização de poder, revisão de processos e procura de novas formas de gestão mais inovadoras e ágeis. São mudanças estratégicas de longo prazo. Para isso, alguns pilares conceituais começam a ser revistos, tais como: trabalho versus colaboração; lucro versus motivação; democracia atual x novo tipo de democracia; 9

10 A chegada desse novo ambiente informacional, entretanto, induz quase que naturalmente mudanças estruturais de gestão, pela nova forma de comunicação e informação, mas não garante que elas ocorram de forma mais humana, reduzindo sofrimentos, o que depende dos esforços que podem ser feitos por movimentos sociais e espirituais, certamente utilizando esse novo ambiente de troca; 9 - Mudanças em ecologias informacionais alteram a forma de funcionamento do cérebro de forma irreversível, tendo aspectos que reduzem e outros que ampliam sofrimentos humanos, no que podemos chamar de inevolução, parte resolve problemas, parte cria; 10 - A nova ecologia informacional por ser fenômeno raro e incomum questiona de forma radical nossas teorias sobre a sociedade, principalmente, a influência da demografia e a relação desta com a informação, comunicação e mudanças sociais. Assim, para compreender o fenômeno é preciso recorrer à filosofia e história, que ajudam a superar crises desse tipo. Tal fato, exige de todos nós grandeza de espírito, abertura ao novo, aprofundamento teórico e criação de espaços de diálogo aberto para superar de forma coletiva as dificuldades que já temos e teremos para participar e influenciar nesse processo irreversível. Que dizes? 10

11 11 10 coisas que aprendi sobre Empresas A atual revolução da Informação e da Comunicação inaugura um novo ambiente de troca, que irá impactar fortemente na maneira de se fazer negócios. Assim, não há a opção de entrar, ou não entrar nesse novo mundo, apenas como e de que forma. E disso dependerá o futuro da organização; 2 - Como ocorreu com a chegada do livro, do telégrafo, do telefone, do computador, pois quando um dos elementos do sistema adere a um novo ambiente informacional mais dinâmico, passa a ser mais competitivo que os demais e os obriga agora a aderir. A colaboração em rede é mais dinâmica do que o modelo hierárquico atual; 3 - De maneira geral, as empresas tratam a revolução da informação e da comunicação como mudanças tecnológicas e destacam setores específicos para lidar com elas, em geral, TI, Marketing, Comunicação e mais raramente Recursos Humanos, aumentando o risco de prejuízos e de perda de oportunidades, pois é uma visão parcial, limitada, com alto custo e resultados 11

12 12 muitas vezes até contrário ao pretendido; 4 - São poucas, muito poucas, as que percebem que estamos entrando em uma nova sociedade (civilização) e que é preciso incluir essa mudança no cenário informacional/comunicacional no planejamento estratégico, como um dos fatores principais de risco e oportunidade; 5 - As mudanças em curso são basicamente na forma de estrutura de poder e de gestão das empresas e da sociedade e, portanto, são muito mais complexas do que a chegada do computador, por exemplo, pois envolve fatores culturais, emocionais humanos profundos, como a nossa relação com figuras paternas e com nosso ego, o que se relaciona com a figura do chefe e das autoridades nas organizações; 6 - Que os ambientes informacionais/comunicacionais nas empresas serão muito próximos ao que hoje é o Facebook e de que a troca de arquivos (sistema de informação) terá todas as facilidades das redes sociais, não só um ambiente único compartilhado, bem como comentários, estrelas, curtir, repassar, alterar, histórico de alterações, mais baixados, mais relevantes para os mais experientes, etc; 12

13 Implantar projetos 2.0 significará procurar um novo sentido para o conceito de trabalho e colaboração (colaborar=trabalhar junto). Objetiva-se transformar a empresa em um ambiente mais dinâmico, menos burro, sem retrabalho, valorizando o tempo de cada um, incorporando todas as cabeças brilhantes, inclusive dos clientes e fornecedores para produzir mais e melhor, de forma inovadora, com menor custo. Não adianta mais produzir e ver o que o mercado acha dos produtos e serviços, mas chamar fornecedores e clientes para fazer junto com eles; 8 - Ou seja, que não se trata de colocar as empresas nas redes sociais, mas transformar as empresas em grandes redes sociais de negócio para ganhar agilidade, tendo com um dos grandes desafios repensar o conceito do lucro, que deve deixar de ser um resultado apenas pelos acionistas e ser compartilhado com todos os membros da rede; 9 - De que não tivemos, desde que as organizações foram criadas nenhuma mudança de gestão tão radical como a que enfrentaremos nas próximas décadas, principalmente a disparidade entre as diferentes gerações; 10 E de que toda a nossa capacidade de pensar o mundo a curto prazo serviu muito bem no passado, mas agora é preciso ampliar os horizontes, alterar nossos paradigmas, se quiser ser competitivos. 13

14 14 10 coisas que aprendi sobre Governo Da mesma maneira que vai ocorrer com as empresas privadas, o mundo das organizações públicas também será abalado pela chegada da Internet de forma profunda nas próximas décadas; 2- Governos tratam a revolução da informação e da comunicação em curso como mudanças tecnológicas e destacam setores específicos para lidar com elas, em geral, TI, Marketing, Comunicação e mais raramente Recursos Humanos o que tem se mostrado ineficaz; 3 - São poucos, muito poucos, os que percebem que estamos entrando em uma nova sociedade (civilização) dentro de um ambiente informacional mais aberto e que é preciso incluir essa mudança no cenário informacional/comunicacional no planejamento estratégico do setor público e envolver todas as áreas da organização para a mudança. Não se trata, assim, de entrar em redes sociais, mas criar a sua junto com os cidadãos; 14

15 A primeira fase da Internet foi a de colocar os dados, depois vários serviços, no chamado Governo Eletrônico, mas não houve mudanças na relação com o cidadão. É ele lá e o Governo aqui e não os dois juntos criando juntos dentro de uma mesma plataforma; 5- Os planejamentos estratégicos devem prever esse novo ambiente de troca, disponibilizando plataformas online colaborativas, tanto para os colaboradores internos como para os externos. Tais plataformas visam modificar as estruturas atuais são centralizadas em redes hierárquicas, portanto, lentas e ineficazes, começam a migrar para estruturas abertas, com a participação intensa dos cidadãos; 6 - Este movimento não pode ser visto como algo simples, pois implica em mudança cultural profunda e altera diversos interesses atrelados a forma atual de estrutura das empresas públicas. Tais alterações são difíceis, pois envolvem fatores emocionais humanos profundos, como a nossa relação com figuras paternas e com nosso ego; 15

16 16 7- Que os ambientes informacionais/comunicacionais dos governos serão muito próximos ao que hoje é o Facebook, plataformas inteligentes, no qual toda a relação com a sociedade será definida em algoritmos inteligentes; 8 - Os serviços estarão todos cada vez mais on-line, os dados abertos e haverá a possibilidade do cidadão não só acessá-los, como os mais especializados, desenvolver aplicativos para facilitar ainda mais esse processo; 9 - De que teremos uma grande dificuldade no Brasil de implantar esse modelo, por se tratar de uma país muito centralizado, burocrático, no qual o Estado está voltado para os interesses de seus gestores e, muitas vezes para os que lá trabalham e muito pouco para o cidadão; 10 Que a forma de eleger os representantes irá se alterar e isso vai afetar também a estruturas das organizações públicas, ajudando o processo de migração do governo atual para o novo governo

17 17 10 coisas que aprendi sobre debates 2.0 Na sala de aula, nem sempre o senso incomum vem do professor Nepô da safra 2011; 1 - com a revolução da informação em curso o conhecimento passa por necessidade a ser produzido de forma mais dinâmica, o que torna inviável que os encontros de aprendizagem (presenciais ou a distância) continuem a ser feitos da mesma maneira; 2 atualmente os encontros se baseiam num modelo fechado de ensino, no qual o professor/coordenador chega com uma verdade pronta e acabada e transmite a mesma para os participantes, o que desperdiça o conhecimento/intuição/necessidades dos participantes. O professor sai como entrou, quase não aprende com a interação, o que vai tirando dele sua motivação e sua capacidade de 17

18 18 transmitir para os novos alunos a experiência dos diálogos anteriores; 3 - para ganhar agilidade, motivação, colaboração tais encontros devem admitir que o conhecimento é sempre algo em aberto e que todos podem contribuir para avançar o que não sabemos, de forma colaborativa, pois o conhecimento sempre foi líquido, dinâmico, nós é que não nos dávamos conta, pois a ecologia do papel impresso o aprisionava em um tempo e uma mídia demorada e lenta para sua publicação e troca; 4 - quando se organiza encontros abertos algumas regras de conduta são importantes, pois todos passam a ser alunos/professores e devem se guiar por um espírito de colaboração, tais como respeito, abertura, colocar os princípios acima das personalidades, argumentar procurando a lógica; 5 - é importante que haja, de comum acordo, a escolha ou a aceitação de que o coordenador do encontro é a pessoa do grupo que tem maior tempo de todos no tema escolhido para a discussão e está capacitado, ou se capacitando, para permitir que o debate aconteça, apontando atalhos em momentos em que a discussão chega a pontos, já presenciados. Não é mais o dono da verdade, mas o incentivador das dúvidas; 18

19 todos devem procurar argumentos lógicos para se posicionar, evitando, portanto, adjetivações do que é apresentado, pois quando se adjetiva, introduz-se questões subjetivas, morais, invalidadoras, depreciativas, o que estimula inseguranças de todos e se traz o ego individual (geralmente cego) de volta para um lugar onde deve prevalecer o coletivo. O grande inimigo deve ser a ignorância; 7 nos encontros presenciais, deve-se evitar que haja uso de tecnologias (que não seja a fala e a escuta), pois tais equipamentos dispersam os participantes na troca com o grupo, principalmente, quando é possível conexão na Internet com outras pessoas, fatos, informações que estão fora daquele espaço. Admite-se anotações digitais, porém sem conexão externa e, obviamente, computadores quando o tema é o aprendizado do seu próprio uso, o mesmo vale quando o tema é o uso da Internet; 19

20 é importante, entretanto, que quando o grupo não esteja reunido presencialmente, que todos possam ter todas as tecnologias digitais em rede para dar continuação ao encontro presencial, como listas de discussão, blogs coletivos, páginas em redes sociais; 9 - é preciso que cada membro, inclusive o coordenador, fale e dê espaço para os demais falarem e que haja o exercício atento da escuta; 10 por fim, é importante que os egos sejam recolocados de lugar, pois os conceitos devem ser vistos como ferramentas para vencer as ignorâncias e não como ferramentas de autoafirmação ou de depreciação dos demais. Cada pessoa é importante para a sua rede de conhecimento, pois levará algo para esta que a fará refletir sobre alguns pontos obscuros, em um movimento em cadeia. Que dizes? 20

21 21 10 coisas que aprendi sobre política 2.0 Você tem que ser a mudança que você quer para o mundo Gandhi; 1- com a revolução da informação em curso estamos diante de uma mudança radical na forma de se fazer política; 2 - estamos apenas começando a questionar a atual democracia, mas não se iluda com a solidez do modelo atual, muitos questionamentos estão em curso, tal como as demandas recentes da juventude na Espanha; 3 - basicamente, esta mudança tende a reduzir a importância ou mesmo a permanência dos atuais intermediários (parlamentares); 4 - a nova democracia será feita, através de plataformas colaborativas, nas quais os cidadãos/cidadãs tomarão suas decisões, de forma colaborativa, como começa a acontecer em várias partes do mundo; 21

22 toda a regulação destas plataformas será feita, através de algoritimos que definem como as relações serão estabelecidas, criando um espaço de embate político com forte carga tecnológica; 6 - neste novo ambiente se espera ampliar a democracia existente, tornando-se mais eficaz no tempo e nos custos, comparada com a de hoje; 7 - na nova democracia se ampliará, e muito, a transparência das ações daqueles que são escolhidos. Haverá uma redução da sombra, porém não o fim da hipocrisia, que será reciclada, porém não será esta atual, primitiva; 8 - haverá a necessidade de articulação de ações políticas globais, também em grandes plataformas, pois a divisão entre os países tende a serem cada vez mais invisíveis; 9 - por outro lado, haverá fortemente, a tendência de articulações globais ( acima dos governos dos países) e locais (nas questões específicas); 10 o objetivo geral do ajuste democrático será na direção de ajustar a gestão da sociedade ao novo tamanho da população (que saltou de 1 para 7 bilhões de habitantes;), mas nada garante que nesse novo cenário haverá solução para os problemas crônicos da humanidade: disparidades, guerras, 22

23 23 fome, miséria, violência, individualismo, etc. Seremos, com certeza mais eficientes, mas não se sabe se mais eficazes e humanos. 23